Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Resumo: O presente artigo tem por finalidade propor atividades para alunos do Ensino
Fundamental, valorizando a variação linguística. Para isso, duas crônicas de Luis Fernando
Verissimo, que com frequência apresentam usos de variedades distintas, são analisadas para
elaboração desta proposta. Para a abordagem do tema, são utilizados conceitos de William
Labov, Carlos Alberto Faraco e Marcos Bagno. Uma nova perspectiva de ensino da variação
linguística, em concordância com a disciplina de Língua Portuguesa, que deve propiciar aos
alunos o acesso a formas linguísticas mais prestigiadas, provocando no educando uma reflexão
crítica sobre o uso da língua nos diferentes contextos sociais. A escola deve orientar os
estudantes sobre as culturas dominantes e a prevalência da mesma em grupos sociais com maior
prestígio. Ao mesmo tempo, ponderar que as variedades linguísticas com menor conceito,
geralmente, estão associadas a reações sociais preconceituosas.
1. Introdução
social. O professor de Língua Portuguesa deve permitir aos educandos uma reflexão sobre
outras maneiras de falar e escrever. O aluno necessita perceber que, quando fala, deve
adequar o seu discurso ao público, isso é deveras importante para que desenvolvam sua
competência linguística. O ensino de Língua Portuguesa deve conduzir o aluno à
compreensão da sociedade, saber o que ela espera dele linguisticamente.
Este artigo tem como objetivo central propor atividades voltadas para alunos do
Ensino Fundamental, valorizando a variação linguística. Para tal finalidade, são abordadas
aspectos de teorias sobre Variação Linguística, Variação e ensino. O artigo também
apresenta uma análise de duas crônicas do escritor Luis Fernando Verissimo. Essas
crônicas tornam a leitura prazerosa, porque são espirituosas e trazem fatos do cotidiano,
assim especiais para abordagem de questões a respeito de variedade linguística na escola.
Por sua vez, Luis Fernando Verissimo é um escritor prolífero, possui vários livros de contos,
crônicas e romances. “Pronomes” e “Aí, Galera” foram escolhidas para essa apreciação,
considerando a variedade linguística nelas presentes e situações diárias que envolvem
fatores sociais de relevância para este estudo. Quanto à metodologia a ser empregada, a
proposta seria ler as crônicas em aula para os alunos, fazendo com que os estudantes
observem as distintas variedades da língua. O professor deve explicar o que é variedade
linguística, fazendo o aluno perceber a importância de usar uma ou outra variedade.
Também, mostrar para o estudante que a adequação de seu discurso ao contexto é
fundamental.
Uma comunidade pode desencadear um processo de mudança para marcar sua diferença
em relação a grupos falantes de outras.
William Labov é criador da teoria da variação. Na ilha de Martha’s Vineyard
(costa do Estado de Massachutes, EUA), Labov observou os falantes na utilização dos
ditongos /ay/ e /aw/, em especial falantes que têm uma atitude positiva em relação à ilha.
Nos anos 60, Labov mostrou a existência de uma clara correlação entre atitude positiva com
a ilha e a pronúncia centralizada dos ditongos: os jovens, por exemplo, com plano de
deixarem a ilha centralizavam menos que aqueles que planejam permanecer. Pode ser
observado que a mudança linguística está associada a valores sociais que podem bloquear
retardar ou acelerar sua expansão de uma para outra variedade da língua. A proposição de
Labov tem como finalidade descrever a língua e seus determinantes sociais e linguísticos,
observando o seu uso variável . Sua teoria opõe-se as dos linguistas estruturalistas e
gerativistas, que excluíam os aspectos variáveis e sociais da língua. Sua suposição básica
da teoria da variação linguística é que a heterogeneidade, ou variação, é inerente a todo
sistema linguístico e não é aleatória, mas ordenada por restrições linguísticas e
extralinguísticas. E são estas restrições que levam o falante a usar certas formas e não
outras quando faz uso da língua falada.
Segundo Faraco (2007), cada variedade é decorrência das particularidades
das experiências históricas e socioculturais do grupo que usa a língua: como ele se
constitui como é sua posição na estrutura socioeconômica, como esse grupo se constitui
socialmente, quais seus valores e visão de mundo, quais suas possibilidades de acesso à
escola, aos meios de informação, e assim por diante. A proposição da variação foca a
relação de língua e sociedade, analisando a variedade decorrente dos fatores internos,
próprios do sistema linguístico e dos fatores sociais que interagem no ato da comunicação.
A variação da língua constitui, portanto, um dado relevante da teoria e da descrição
sociolinguística. Faraco afirma que a diferença de valoração das variedades se cria
socialmente: algumas variedades, por razões políticas, sociais e culturais, adquirem uma
marca de maior prestígio que outras.
No Rio Grande do Sul, por exemplo, as variedades do interior do estado não
possuem prestígio social, sendo que somente algumas variedades urbanas é que têm valor.
As variedades bem-conceituadas representam um ideal cultivado pela elite intelectual.
Essas formas mais prestigiadas são cobradas na escrita, pois é um dever das escolas
ensinarem a norma culta da língua. O português que é falado no Norte do país não é o
mesmo falado no Sul, pois o princípio fundamental da língua é a comunicação, sendo
compreensível que o homem crie várias formas para estabelecer este diálogo em seu grupo
social. A linguística atual revela que a língua não é homogênea e deve ser entendida
justamente pela diversidade.
Levar a refletir sobre as diversidades linguísticas é papel do professor de Língua
Português. Para isto, o docente precisa ter formação adequada a respeito da concepção de
língua. Em suas aulas, deve incorporar a análise linguística e possibilitar ao aluno uma
XII Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação
SEPesq – 24 a 28 de outubro de 2016
XII Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação - SEPesq
Centro Universitário Ritter dos Reis
reflexão a propósito dos usos das diversas variedades. A escola deve orientar os
estudantes sobre as culturas dominantes e a prevalência da mesma em grupos sociais com
maior prestígio.
Os estudos sobre variação linguística e ensino são recentes, pois só a partir de 1997,
quando o Ministério da Educação publicou uma coleção de documentos intitulados
Parâmetros Curriculares Nacionais, é que algumas disciplinas foram contempladas e
começaram a surgir expressões que definiam essa mudança: letramento, gênero
discursivo, coesão e coerência, variação linguística, intertextualidade etc. Bagno(2002)
sustenta que são poucos os títulos que abordam especificamente a variação linguística no
ensino. O resultado disso é que a variedade linguística sempre fica em segundo plano na
prática docente ou é abordada de maneira insuficiente, superficial, quando não distorcida.
Então, para que a variação linguística seja valorizada em sala de aula, é preciso vencer a
resistência das pessoas apegadas às concepções antigas e às práticas convencionais de
ensino.
Os alunos, ao chegarem às escolas, já sabem a língua. Levando em consideração
esse pressuposto, a disciplina de Língua Portuguesa deve dar enfoque para o fator
comunicativo da língua, com atividades que utilizem suas formas orais e escritas,
despertando uma reflexão sobre o seu uso nos diferentes contextos sociais. Desta forma, o
professor de Língua Portuguesa deve levar o aluno a utilizar-se de formas com maior
prestígio da língua. Para isso, o docente precisa ter conhecimento das teorias da variação
linguística e do funcionamento da língua, com a finalidade de possibilitar aos estudantes um
discernimento sobre uso da língua, que vai além das regras gramaticais.
Segundo Faraco (2007), o estudante tem de acostumar-se a submeter à crítica
rigorosa e constante dos juízos sociais sobre a língua, procurando se livrar dos
preconceitos e respaldando sempre suas próprias afirmações com dados empíricos. Em
linguística, uma das maneiras de fazer isso é acostumar-se a ver a língua como um fato
heterogêneo, buscando compreender as bases dessa heterogeneidade, assim como é
justamente a variedade da língua no espaço geográfico, na estrutura social e no tempo uma
das realidades que mais reações sociais preconceituosas gera.
Ainda conforme Faraco (2007), os professores de português e pesquisadores da
língua têm feito críticas ao do ensino tradicional de português. Houve e continua havendo
esforços para construir alternativas a esse ensino. Não obstante, o quadro pedagógico tem
mudado pouco. Talvez porque ainda não tenhamos conseguido disseminar uma crítica
radical ao normativo e à gramatiquice. Essa não é uma tarefa fácil, porque o normativismo
e o gramatiques não são concepções e atitudes ligadas à língua e a seu ensino. Pelo seu
caráter conservador, impositivo e excludente, o normativismo e o gramatiques são parte
5. Considerações finais
Referências
BAGNO, Marcos. Nada na língua é por acaso: por uma pedagogia da variação linguística.
São Paulo: Parábola, 2007.
BAGNO, Marcos. Língua materna: letramento, variação & ensino. São Paulo: Parábola,
2002.
XII Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação
SEPesq – 24 a 28 de outubro de 2016
XII Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação - SEPesq
Centro Universitário Ritter dos Reis
BRASIL – SEMTEC. Parâmetros Curriculares de Língua Portuguesa: ensino médio. Parte II:
Linguagens, códigos e suas tecnologias. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de
Educação Média e Tecnológica, 1999.
FARACO, Carlos Alberto. Por Uma Pedagogia da Variação Linguística. São Paulo:
Parábola, 2007.
SARAMAGO, José. Filme vidas em português. Dirigido por Victor Lopes. Brasil, 2004
ANEXOS
Aí, galera
Jogadores de futebol podem ser vítimas de estereotipação. Por exemplo, você pode
imaginar um jogador de futebol dizendo “esteriotipação”?E, no entanto, por que não?
-Aí, campeão. Uma palavrinha pra galera.
-Minha saudação aos aficionados do clube e aos aficionados do clube e aos demais
esportistas, aqui presentes ou no recesso dos seus lares.
-Como é?
-Aí, galera.
-Quais são as instruções do técnico?
-Nosso treinador vaticinou que, com um trabalho de contenção coordenada, com
energia otimizada, na zona de preparação, aumentam as possibilidades de
recuperado o esférico, concatenarmos um contragolpe agudo com parcimônia de
maios e extrema objetividade, valendo-nos da desestruturação momentânea do
sistema oposto, surpreendido pela reversão inesperada do fluxo da ação.
-Ahn?
-E pra dividir no meio e ir pra cima pega eles sem calça.
-Certo. Você quer dizer mais alguma coisa?
-Posso dirigir uma mensagem de caráter sentimental, algo banal, talvez mesmo
previsível e piegas, a uma pessoa à qual sou ligado por razões, inclusive, genéticas?
-Pode.
-Uma saudação para a minha genitora.
-Como é?
-Alô, mamãe!
-Estou vendo você é um, um...
-Um jogador que confunde o entrevistador, pois corresponde à expectativa de que o
atleta seja um ser algo primitivo com dificuldade de expressão e assim sabota a
estereotipação?
-Estereoquê?
-Um chato?
-Isso.
Pronomes