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Gramática normativa e variação linguística no ensino de língua portuguesa:

uma análise de dois livros didáticos das escolas de Oeiras-PI

Ana Paula Silva Rodrigues


Daniele Neiva dos Santos
Erika Rodrigues de Melo
Neiliane Coelho Gomes
Rafaela Pereira Ozório

Resumo: Este trabalho foi realizado por meio da análise de dois livros didáticos, a saber, um
livro de uma escola privada e outro de uma pública de 2° série de ensino médio, da cidade de
Oeiras - Piauí. Desse modo, a pesquisa foi feita com o propósito de mostrar como são operados
os ensino da Gramática Normativa e Variação Linguística dentro das escolas, e a abordagem
dessas duas temáticas dentro das redes de ensino, tendo em vista ser indispensável o
conhecimento de cada uma delas para uma boa formação, pessoal e profissional. Os resultados
sugerem que os livros didáticos analisados dispõem de pequeno espaço para a variação
linguística, apresentado-as por meio de charges humorísticas, o que contribui ainda mais para o
preconceito já enraizado. Portanto, ao que tange o ensino da variação linguística e gramática,
cabe aos profissionais abordarem em sala de aula os contextos sociais que influenciam o modo
de falar, assim como, evitar associar a noção de variação linguística a erro linguístico.

Palavras-chave: Gramática normativa; Variação linguística; Livro didático.

Introdução

O desenvolvimento da Linguística como ciência possibilitou que se estudasse as


línguas em suas diferentes vertentes. Com o surgimento da Sociolinguística e as ideias de
William Labov (2008), foi possível observar a relação entre linguagem e sociedade. O estudo
da Gramática normativa e da variação linguística vem ganhando, nos dias atuais, grande
relevância, principalmente, quando o processo de ensino e aprendizagem volta-se para o
contexto de sala de aula. A variação é algo característico das línguas humanas. Pensar o ensino
da variação linguística nas aulas de Língua Portuguesa se faz necessário, considerando o grau
de informalidade expresso na fala de cada um.
No entanto, como afirma (BECHARA, 2012) o ensino de gramática normativa
também ocupa um dos pilares no ensino, pois não existe língua sem gramática. Mesmo que a
todo momento estejamos fazendo uso das variações, quando vamos escrever um texto são as
regras gramaticais que prevalecem. Fala e escrita possuem divergências e devem ser discutidas
em sala de aula. Portanto, gramática e variação são conteúdos complementares e não opostos.
Contudo, o que vemos no ensino é o equívoco de que apenas a gramática é essencial,
a ideia de que a língua é homogênea não existindo variações é propagada por vários
professores, que pautam seu ensino apenas na gramática. Para eles “o conhecimento da
gramática é suficiente para se conseguir ler e escrever com sucesso os mais diferentes gêneros
de texto, conforme as exigências da escrita formal e socialmente privilegiadas” (ANTUNES,
2009, p. 53).
Presenciamos a maneira como as comunidades de fala fazem uso das variações. Esse
ato não acontece somente no ambiente escolar, acontece também no meio social. Outrossim,
há aqueles que consideram serem formados na ótica da “norma culta” e julgam aqueles que ao
seu ver , falam “errado” e os consideram como problema da língua passível de mudança,
acerca disso, Bagno pontua:
O verdadeiro problema é considerar que existe uma língua perfeita, correta, bem-
acabada e fixada em bases sólidas, e que todas as inúmeras manifestações orais e
escritas que se distanciam dessa língua ideal são como ervas daninhas que precisam
ser arrancadas do jardim para que as flores continuem lindas e coloridas! (BAGNO,
2007, p. 37)

Percebe-se através da citação sobredita que a maioria da população persiste em


desconhecer a riqueza das variedades. Tem-se, assim, a visão distorcida de que há falas
consideradas erradas, gerando, então, o preconceito linguístico. A Sociolinguística proporciona
ao estudo das variedades linguísticas grande relevância ao relacionar a heterogeneidade da
língua com a social, e cabe ao professor utilizar essa corrente como meio de conscientização
das múltiplas variações linguísticas presentes na sociedade.
A partir dos pressupostos teóricos apresentados, este artigo tem como objetivo analisar
como a variação linguística está desenvolvida em dois livros didáticos do ensino básico na
cidade de Oeiras no Piauí. Com esse propósito, foram analisados os livros da educação pública
e privada. A pesquisa foi desenvolvida em perspectiva qualitativa observando imagens e
atividades presentes nos dois livros didáticos. Na pesquisa qualitativa, o pesquisador o assume
papel de sujeito e objeto de suas pesquisas. O desenvolvimento do estudo torna-se assim
imprevisível. O conhecimento do pesquisador não deve ser capaz de contaminar a análise. O
objetivo da amostra é produzir informações aprofundadas e ilustrativas: seja ela pequena ou
grande, o que importa é que ela seja capaz de produzir novas informações (DESLAURIERS,
1991, p. 58 apud GERHARDT; SILVEIRA, 2009, p .32). Neste prisma, os livros analisados
foram um da rede privada da 2º série de autoria de Fernanda Baccaro, Kelly Naiara da Silva
Rosário e Regina Braz Rocha - Coleção Lumen - e outro da rede pública, Novas Palavras
também da 2º série de autoria de Emília Amaral, Mauro Ferreira, Ricardo Leite, Severino
Antônio.

1. Variação linguística

Para que seja possível compreender variação linguística (VL), é necessário a


conceituação da área ao qual está inserida. Desse modo, a linguística, segundo Bagno (2014, p.
61), “é a ciência que estuda a linguagem humana em geral e as línguas humanas particulares”.
Com essa ponderação sobre o funcionamento da linguística, pode-se então adentrar na análise
que será destrinchada neste trabalho. Em vista disso, infere-se que ainda hoje este tema sofre
um visível preconceito, fazendo-se necessário um grande esforço por parte dos educadores em
mudar a visão errônea que muitos possuem acerca da VL, o que ocorre, muitas vezes, pela falta
de compreensão de sua real dimensão e relevância.
O preconceito se dá pelo fato de boa parte da sociedade estar “presa” ao que é
considerado norma-padrão e não se atentar ao desenvolvimento natural da linguagem. Nesse
sentido, Bagno pontua que:

Por outro lado, como os diferentes grupos


humanos vivem em ambientes ecológicos
diferentes, em climas diferentes, tendo de se
valer de recursos naturais diferentes e,
principalmente, constituem culturas diferentes,
cada língua humana deve apresentar
características próprias, específicas, peculiares -
e de fato apresentam. (2014. p.61)

A discussão sobre a existência de variações e suas implicações na sociedade abre


precedente para um olhar sobre a norma-padrão, que é aquela estudada na escola, ponto de
partida para a propagação do que considera-se certo ou errado. Tal crença, enraizada no meio
social, não abrange como um todo a heterogeneidade existente na língua, e que varia não
somente de região para região, assim, como Fiorin mesmo ressalta em seu livro, Introdução à
linguística 1. Objetos teóricos, quando diz que “Numa mesma língua, um mesmo vocábulo
pode ser pronunciado de formas diferentes, seja conforme o lugar - variação
diatópica.”(2020.p,122), assim, pode-se inferir que diferentes contextos influenciam a variação
linguística.
Exemplos de variação podem ser encontradas em larga escala no Piauí, onde existem
muitas gírias que variam de sentido por todo o estado. Assim, compreendemos que a variação
linguística é algo que se transforma no meio social e é o oposto da norma-padrão inserida
dentro da gramática normativa. Porém, todo esse leque de variedade linguística é inerente ao
falante e à sociedade, ou seja, é algo gradativo e o que nos constitui. Para (BAGNO, 1999) faz-
se necessário compreender os diferentes contextos e diminuir preconceitos linguísticos. O que
falta, em muitos casos, é ter um domínio das diferentes formas tomadas pela linguagem.
Melhorar o entendimento em relação à variação linguística e gramática normativa abre acesso
necessário para se conhecer a língua e compreender a origem do preconceito linguístico.

2. Gramática normativa

A gramática normativa consiste em ditar as regras da língua, impondo como cada


vocábulo deve ser utilizado. Há normas de concordância, regência verbal e nominal, até
estabelecer flexões de gêneros, número e pessoa, ordem das palavras nas orações, pronúncia e
acentuação. Além de ser muito utilizada em sala de aula pelo professor e aluno, a gramática
também é essencial para fins didáticos, ou seja, instruir de forma que facilite o ensino e
consequentemente a aprendizagem, como enfatiza o professor e linguista Evanildo Bechara ao
afirmar que:
Cabe à gramática normativa, que não é uma disciplina com finalidade científica e sim
pedagógica, elencar os fatos recomendados como modelares da exemplaridade
idiomática para serem utilizados em circunstâncias especiais do convívio social. A
gramática normativa recomenda como se deve falar e escrever segundo o uso e
autoridade dos escritores corretos e dos gramáticos e dicionaristas esclarecidos.
(BECHARA, 2012,p.37)

A BNCC, indica os conteúdos que precisam ser abordados ano após ano, e ressalta que o
funcionamento das regras deve ser consequência da compreensão sobre seu desenvolvimento e
não apenas decorado, pois é exigência da própria base, que o aluno seja capaz de fazer
produções coerentes: "Utilizar, ao produzir textos, os conhecimentos dos aspectos notacionais
– ortografia padrão, pontuação adequada, mecanismos de concordância nominal e verbal,
regência verbal etc., sempre que o contexto exigir o uso da norma-padrão.”(BRASIL, p.80)
Contudo, é sempre importante relembrar que por mais que a escola seja o meio mais
importante para o ensino da gramática normativa, atualmente, não está somente ligada a esse
âmbito, mas também em sites que são construídos por professores aptos a escrever sobre essa
temática. Dessa forma, Bagno aponta que:
Os comandos paragramaticais (CP) representam um fenômeno que, embora antigo na
história da cultura brasileira, começou a exibir, de alguns anos para cá, um vigor e um
poder de fascínio (junto a um determinado público) até então inéditos, que se pode
atribuir, quem sabe, a surpreendente facilidade de divulgação oferecida pelas
tecnologias de comunicação mais avançadas, como a televisão, a internet e o CD-
Rom. (2010, p. 117-118)

As regras da gramática normativa são fundamentais e, portanto, servem de guia para


grandes escritores, pois muitas vezes lhes é cobrado perfeição na escrita, como cita Rocha
Lima importante linguista:“Fundamentam-se as regras da gramática normativa nas obras dos
grandes escritores, em cuja linguagem as classes ilustradas põem o seu ideal de perfeição,
porque nela é que se espelha o que o uso idiomático estabilizou e consagrou.” (LIMA, 2011,
p.38)
Apesar de conhecerem as inúmeras variações linguísticas existentes, a gramática
normativa afirma que a escrita deve seguir a norma padrão, como por exemplo, por mais que
utilize-se a linguagem informal e/ou popular “entertido”, entende-se que na escrita deve ser
redigido seguindo a norma padrão “entretido”, como cita Bagno:
A gramática tradicional foi avançando, conquistando terreno, impondo seu domínio: a
partir de um pequeno setor do universo total da língua, a gramática tradicional saiu
“colonizando” todo o resto, criando um império de ideias, noções e preconceitos sobre
o que é ou não é “língua”, que perdura quase inalterado até hoje no senso comum.
(BAGNO. 2001, p.17)

3. Gramática normativa e variação linguística dentro do ensino de língua portuguesa

Entende-se que a gramática normativa dita a forma como o português deve ser falado,
estabelecem-se normas de concordância e regência verbal e nominal, ou seja, engloba todas as
regras gramaticais para que o português siga a “norma culta”. De acordo com os PCNs o estudo
da língua não deve ser dividido, pois considera que a gramática, literatura e redação estão
relacionadas entre si:
A divisão repercutiu na organização curricular: a separação entre gramática, estudos
literários e redação. Os livros didáticos, em geral, e mesmo os vestibulares,
reproduziram o modelo de divisão. Muitas escolas mantêm professores especialistas
para cada tema e há até mesmo aulas específicas como se leitura/literatura, estudos
gramaticais e produção de texto não tivessem relação entre si. Presenciamos situações
em que o caderno do aluno era assim dividido. (PCN, 2000, p.16 )
Portanto, devemos fazer o uso da gramática na literatura e na produção textual e vice
versa, podendo citar, como exemplo, o Enem (Exame Nacional da Educação) e qualquer outro
tipo de prova que exija produção textual, para que o aluno atinja nota satisfatória é necessário
que conheça as normas.
Segundo os Planos Curriculares Nacionais o estudo gramatical está presente no
documento desde as séries iniciais, porém, nota-se que não é trabalhado de forma que os alunos
a compreendam, pois não é visto como aprimoramento, mas sim como algo obrigatório, como é
citado nos PCNs: “A confusão entre norma e gramaticalidade é o grande problema da
gramática ensinada pela escola. O que deveria ser um exercício para o falar/escrever/ler melhor
se transforma em uma camisa de força incompreensível.” (PCN, 2000, p.16)
Levando em consideração que o ensino médio é a preparação para os alunos enquanto
futuros vestibulandos, é de suma importância que tenham conhecimento das normas e que
acima de tudo saibam como utilizá-las.
Paralelamente, a variação linguística é a diversificação de uma mesma língua. No
Brasil, por exemplo, existem inúmeras variantes tendo em vista que temos um vasto número de
dialetos, inclusive presentes em uma mesma região. A variação linguística situa-se em todos os
lugares, como nas músicas, livros, dentre muitos outros e é papel da escola fazer com que haja
entendimento, visto que, é necessário que o aluno seja capaz de se adaptar a determinado uso
da linguagem de acordo com a situação, e que existem muitas variantes além de sua língua
materna, que é o primeiro idioma que o indivíduo aprende e pode ser chamada também de
língua nativa ou primeira língua, que é aquela falada no país em que o indivíduo nasceu.
(BAGNO, 2014)
A sala de aula pode se tornar um ambiente propício à existência de alunos que
produzem textos transferindo para o papel as palavras da mesma maneira com as pronunciam.
Isso representa um desafio para o professor que precisa lidar com estudantes de variadas
culturas e backgrounds. Considera-se o fato de que muitos alunos, ainda que estejam cursando
o ensino médio, que é considerado um nível de escolaridade mais avançada, ainda não
consigam escrever na norma padrão ou culta. É preciso que os alunos tenham chance de falar,
que os professores estejam abertos ao diálogo, para que assim ao chegar no nível superior não
sejam alunos incapazes de opinar e/ou se posicionar, por nunca ter tido a chance de fazê-lo,
como consta nos Parâmetros Curriculares Nacionais:
No Ensino Superior, sentimos a ausência desse exercício, quando propomos aos
alunos que debatam idéias ou formulem opiniões pessoais. Quietos, os alunos baixam
a cabeça. Quando e onde tiveram oportunidade de falar? Algumas famílias propiciam
essa situação. Na escola, o modo autoritário de ser não permite o diálogo. Como
posso dizer, se não sei o que nem como dizer? A situação formal da fala/escrita na
sala de aula deve servir para o exercício da fala/escrita na vida social. Caso contrário,
não há razão para as aulas de Língua Portuguesa. (PCN, 2000, p.22)

Em vista disso, os profissionais da educação devem se encarregar para que os alunos


não se sintam coagidos a interpretar sua fala como algo que seja considerado errôneo e instruí-
los para que sejam capazes adequarem-se a qualquer que seja a situação, e não fazê-los
acreditar que sua maneira de falar/comunicar está errada, afinal, não é errado se há
comunicação e entendimento (BAGNO, 2014)
Assim, para dar seguimento ao tema abordado no presente artigo, tendo em vista que o
livro didático (LD) tem sido um norteador para o ensino básico ao longo dos anos, será feita
uma breve análise de dois livros da educação básica de Oeiras- Pi, em específico da 2º série do
ensino médio, com o intuito de que se tenha uma percepção de como é o ensino na formação
de, não somente estudantes, mas também de pessoas que convivem em sociedade e fazem uso
da norma gramatical e a variação linguística para se comunicarem entre si, seja no dia a dia ou
no seu ambiente de trabalho. A análise foi feita em livros pertencentes à rede privada e pública
da cidade de Oeiras - Piauí, para que se tenha um comparativo na formação dos estudantes das
diversas classes sociais.
A saber, o livro analisado da escola privada é de autoria de Fernanda Baccaro, Kelly
Naiara da Silva Rosário e Regina Braz Rocha - Coleção Lumen -, e o da rede pública de autoria
de Emília Amaral, Mauro Ferreira, Ricardo Leite, Severino Antônio - Novas Palavras.

3.1 Análise do livro da escola pública

O livro analisado apresenta as habilidades fundamentais associadas ao desenvolvimento


da linguagem: falar, ler e escrever. Há uma unidade inteira dedicada à gramática, iniciando
cada capítulo com uma breve introdução do que será abordado. Os capítulos estão divididos da
seguinte maneira; capítulo 1 ao 6, apresentando os seguintes temas: Pronome; Verbo; Palavras
invariáveis; A sintaxe- conceitos gerais, sujeito e predicado; verbos no predicado; termos
associados ao verbo e termos associados a nomes vocativos. O livro possui também inúmeras
tabelas facilitando assim a compreensão do referido assunto. Todos os capítulos explanam seus
respectivos assuntos de maneira para que haja compreensão e entendimento, havendo também
muitos exemplos e explicações simplificadas.

3.1.1 Atividades com focos gramaticais


A seguir, algumas imagens dos exemplos encontrados no livro didático. As charges
trazem foco total para gramática, enfatiza-se, sobretudo, o estudo dos pronomes pessoais.

Fonte: (AMARAL et al.,2016, p.156)

Fonte: (AMARAL et al.,2016,p.163)

As charges vêm com a função de demonstrar a importância do uso dos pronomes


pessoais. Posteriormente à algumas atividades de pesquisa para os alunos, com objetivo de
analisar o aprendizado dos mesmos.

Já a variação linguística não foi encontrada em nenhum capítulo e/ou unidade deste livro
didático.

3.2 Análise do livro da escola particular

O livro utilizado na escola particular é composto por 4 unidades, em que a unidade 2 é


dedicada totalmente a gramática, do capítulo 7 ao 11 com os seguintes temas: Orações
subordinadas adverbiais; Coesão e articulação textual; Pontuação: emprego e efeitos de
sentido; Ambiguidade e construção textual e Morfossintaxe do “que” e do “se”. Os capítulos
estão todos muito bem contextualizados, com inúmeras tabelas contendo exemplos para uma
melhor compreensão, possui também questões resolvidas do Exame Nacional do Ensino Médio
(ENEM), questões e inúmeras universidades como Unifesp, CPS-SP, Unesp, FMP-RJ, dentre
muitas outras.

3.2.1 Exemplo de variação linguística no LD


Fonte: (BACCARO et al , 2020, p. 40)

Fonte: (BACCARO et al, 2020, p. 94)

Por fim, fazendo um comparativo entre ambos os livros didáticos pode-se notar o quanto
a variação linguística é pouco abordada em ambos os livros. Foram encontrados apenas dois
exemplos no LD da escola privada e já na escola pública não foi encontrado nenhum exemplo.
Enquanto que a somente a gramática é amplamente explorada.

Considerações Finais

A língua, sendo instrumento social de comunicação humana, é exposta a diversas


modificações e transformações ao longo da história. Compreende-se a indispensável
importância e necessidade do aprimoramento do estudo sobre a Gramática Normativa, pois é
através dela que será possível o acesso às regras gramaticais que irão auxiliar os estudantes de
Língua Portuguesa a terem completo conhecimento e domínio da norma culta que é essencial
para o pleno desenvolvimento na educação básica e, posteriormente, alcançar o sucesso na
carreira profissional e poderem ser cidadãos autônomos e ativos na sociedade.
Percebe-se carência, falta de aprofundamento e seriedade quando é abordada a
Variação linguística no ensino básico. A maior parte das manifestações são feitas através de
charges humorísticas que podem contribuir para a continuidade do preconceito que existe em
relação a algumas variações da língua, em especial a variação do Nordeste do país, que não são
sequer abordadas na maioria dos casos. Esse preconceito nasce da ideia de que para se falar e
escrever da maneira “correta” é necessário seguir à risca as normas da gramática tradicional.
Essa visão é extremamente exclusiva e ditatória, como pontua Marcos Bagno ao
colocar que "é essa aplicação autoritária, intolerante e repressiva que impera na ideologia
geradora do preconceito linguístico" (BAGNO, 2007,p.10). É sabido que para redigir um texto
é imprescindível que as regras da língua sejam aplicadas, entretanto, na fala é necessário
considerar todas as diversas formas de pronúncias e variações que surgiram com o
desenvolvimento da língua.
Os estudantes precisam ter a oportunidade de conhecer as variações da Língua
Portuguesa. E é papel da escola propiciar os materiais e as condições necessárias para que essa
ação ocorra. Em sala de aula, os professores têm o dever de colocá-los em prática e assegurar-
se acerca do estímulo do senso crítico dos estudantes e suas próprias reflexões sobre as diversas
manifestações da língua, que a todo momento evolui e se modifica através do processo natural
que é inerente a ela.

REFERÊNCIA:

AMARAL et al. Novas palavras. 3° ed. São Paulo: FTD, 2016

ANTUNES, Irandé. Muito além da gramática: por um ensino de línguas sem pedras no
caminho. 4. ed. São Paulo: Parábola, 2009.

BACCARO, Fernanda; ROSÁRIO, S. N. K; ROCHA, Regina Braz. Coleção Lumen . São


Paulo: Editora Poliedro, 2020.

BAGNO, Marcos. Língua, linguagem, linguística: pondo pingo nos ii. 1 ed. São Paulo:
Parábola Editorial, 2014.

_________. Preconceito Lingüístico: o que é, como se faz. São Paulo: edições Loyola, 1999.

________. Nada da língua é por acaso: por uma pedagogia da variação linguística. São
Paulo: Parábola Editorial, 2007.

BECHARA, Evanildo. Moderna gramática portuguesa. Nova Fronteira, 2012

BRASIL, Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio. Brasília: MEC, 2000.


FIORIN, José Luiz (org.) Introdução à linguística Vol. 1 Objetos teóricos. 6. ed. São Paulo:
Contexto, 2020.

GERHARDT, Tatiana; SILVEIRA, Denise (org). Métodos de pesquisa. 1. ed. Rio Grande do
Sul: Editora da UFRGS, 2009. 120 p. ISBN 978-85-386-0071-8.

LABOV, William. Padrões sociolingüísticos / William Labov; tradução Marcos Bagno,Maria


Marta Pereira Scherre, Caroline Rodrigues Cardoso. -São Paulo,Parábola Editorial, 2008.

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