Você está na página 1de 6

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E LETRAS


LICENCIATURA PLENA EM LETRAS PORTUGUÊS

JAQUELINE DA SILVA ASSUNÇÃO

ENSAIO SOBRE A VARIAÇÃO LINGUÍSTICA E O ENSINO DE


LÍNGUA MATERNA

TERESINA
2019
JAQUELINE DA SILVA ASSUNÇÃO

ENSAIO SOBRE A VARIAÇÃO LINGUÍSTICA E O ENSINO DE


LÍNGUA MATERNA

Ensaio apresentado ao curso de


Licenciatura Plena em Letras Português
como pré-requisitos da nota da disciplina
de Sociolinguística.

Teresina
2019
VARIAÇÃO LINGUÍSTICA E O ENSINO DE LÍNGUA MATERNA

Jaqueline da Silva Assunção

INTRODUÇÃO

A língua tem sido vista dentro da academia cada vez mais como um
fator social e heterogenia e muito tem se discutido sobre a importância de
abordamos as variações linguísticas nas aulas de ensino de língua materna.
As novas propostas de educação em língua materna, por exemplo,
têm adotado como objeto e como objetivo justamente a questão da variação
linguística. Os PCN apresentam como objetivos do ensino de língua
portuguesa o domínio da língua em seus diversos contextos. Todavia, não
apenas na escola, mas na sociedade de forma geral, o tratamento dado a esse
tema muito tem deixado a desejar, pois lhes faltam reflexões com
embasamento teórico, pautado na Sociolinguística.
Neste texto, apresentaremos algumas considerações acerca do
papel do professor de língua moderna, uma vez que este é o responsável por
criar indivíduos críticos-reflexivos mediante as diversas formas de uso da
língua, lhe garantido um ensino que vai além do conhecimento de gramática.
Buscamos apresentar também as contribuições que a sociolinguística traz para
esse ensino diversificado e amplo, e a necessidade dos conhecimentos
teóricos acerca dessa teoria para a inclusão social do indivíduo e combate ao
preconceito linguístico.

A SOCIOLINGUÍSTICA E O ENSINO DE LÍNGUA MATERNA

A variação linguística é uma decorrência das diversas possibilidades


de manifestação verbal que o sistema linguístico dispões a seus falantes. A
língua portuguesa, como todas as outras línguas, está sujeita a variações
resultantes de fatores históricos e geográficos. Entretanto, apesar dessa
variação está presente no dia-a-dia, tal fato não é compreendido pela grande
maioria dos brasileiros, os quais acreditam ainda em uma homogeneidade da
língua.
Essa ideia de homogeneidade está presente há muito tempo em
diversas escolas brasileiras, onde muitos professores ministram suas aulas
pautadas nas normas e regras da gramática normativa, apresentando uma
única maneiro de se utilizar a língua e desprezando as variações, talvez por
falta de preparo e embasamento teórico para lidar com tais variações.
A Sociolinguística – também conhecida como teoria variacionista – é
uma subárea da linguística que se propõe a estudar o fenômeno da variação e
suas consequências no meio social. Surgindo na década de 1960, essa teoria
tem por objetivo romper com os modelos teóricos que apresentam a língua
como um sistema homogêneo propondo, então, a heterogeneidade linguística.
Segundo Mattos e Silva (2004):

O grande avanço da sociolinguística se funda basicamente na sua


conceituação de língua como sistema intrinsecamente heterogêneo,
em que se entrecruzam e são correlacionáveis fatores intra e
extralinguísticos, ou seja, fatores estruturais e fatores sociais (como
classe, sexo, idade, etnia, escolaridade, estilo).

Portanto, para a sociolinguística, a língua deve ser vista como um


sistema heterogêneo com diversas possibilidades de realizações e essas
possíveis realizações correspondem justamente as variações linguísticas, que
podem correlacionar-se com fatores diversos como idade, sexo, grau de
instrução, lugar de origem, entre outros. Todavia, é valido ressaltar que essa
variação linguística não ocorre de forma aleatória, mas sim ordenada, havendo
uma certa regularidade nas formas linguísticas disponíveis para uso do falante
e para que o mesmo consiga estabelecer uma comunicação eficaz com os
demais.
Porém, apesar dos esforços da sociolinguística para apresentar a
heterogeneidade da língua, o que percebemos é que no seio escolar ainda
prevalece a prática pedagógica de ensinar a língua da cultura dominante, a
norma culta, e qualquer variação que se afaste dessa e colocada como um
código defeituoso. Como afirma Possenti (1998, p.17) “o objetivo da escola é
ensinar o português padrão”. O ensino continua voltado apenas para o que é
prescrito pelas gramáticas normativas, propagando, portanto, o mito de que é
preciso saber gramática para falar e escrever bem, como se a língua fosse
equivalente à gramática, apesar de essa norma padrão não corresponder ao
uso real da língua.
A Sociolinguística busca, por sua vez, conscientizar o professor de
língua materna a não desprezar as variações linguísticas, mas que busque
conscientizar seus alunos das suas diversas possibilidades de uso e que cada
possibilidade de uso vai ser recebida de forma diferente pela sociedade,
algumas impondo mais prestígio que outras. Mediante a isso, Faraco (2004)
afirma que:

cabe ao ensino ampliar a mobilidade sociolinguística do falante


(garantir-lhe um trânsito amplo e autônomo pela heterogeneidade
linguística em que vive) e não concentrar-se apenas no estudo de um
objeto autônomo e despregado das práticas socioverbais (o estrutural
em si).

É imprescindível que o aluno compreenda que é necessário


encontrar em cada situação comunicativa a forma adequada de se comunicar,
seja na modalidade oral ou escrita. Se o aluno está em uma situação formal,
como uma entrevista de emprego, ele deve estar preparado para utilizar uma
linguagem mais formal, sendo inaceitável, por exemplo, o uso de gírias.
Para que haja uma transformação nas metodologias adotadas para
o ensino de língua materna, é necessário que se compreenda a língua como
um instrumento de comunicação social sujeito as diversidades sociais, culturais
e geográficas. O professor precisa valer-se dos fundamentos teóricos da
Sociolinguística para suas práticas, demonstrando assim um compromisso com
a formação plena do indivíduo, desprendendo-se da concepção de língua e
gramática como sinônimos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em tempos em que tanto se fala em inclusão social, entre tantas


outras, está mais do que na hora de os educadores repensarem suas práticas
acerca do ensino de língua materna. Cabe ao professor utilizar as bases
teóricas da Sociolinguística para o tratamento da questão da variação
linguística com os alunos a fim de conscientizá-los acerca dessa temática. É
muito clara a noção de heterogeneidade linguística, mas ainda há muito que se
refletir acerca das atitudes que os falantes têm em relação às formas variantes
que não são imbuídas de prestígio social, pois quem as utiliza continua a
padecer estigmatização.

REFERENCIAS

IBIAPINA, Darkyana Francisca. VARIAÇÃO LINGUÍSTICA EM SALA DE AULA


DE LÍNGUA PORTUGUESA: uma abordagem etnográfica. ANAIS do SIELP,
vol. 2, nº 1, 2012.

CHAIBE, Maria Eduarda dos Santos. A VARIAÇÃO LINGUÍSTICA NA


EDUCAÇÃO CONTEMPORÂNEA: concepções e práticas pedagógicas.
Revista Exitus, vol. 8, nº 2, 2018.

Você também pode gostar