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Ana Flávia Moraes Santos

Nayane do Nascimento Dias


Prof. Marcus Vinícius Martins
Universidade do Estado de Minas Gerais
UEMG – Unidade Ibirité

A essencialidade da sociolinguística no ensino da Língua Portuguesa no


Brasil: um ensaio crítico

A sociolinguística Educacional para a professora Bortoni (2014), é descrita


como a área que busca solucionar problemas educacionais a partir de resultados de
pesquisas sociolinguística. Ainda que pouco comentada, essa ciência tem seu
impacto e importância na educação, pois se trata de um estudo inclusivo da língua
aplicada em sociedade. Ela apresenta noções sobre sociedade e sua formação, um
destaque no campo de estudo e a variação linguística, que está interligada com os
grupos sociais e dessa forma mostrar em sala de aula, como lidar com o falar de
cada aluno.
A raiz da sociolinguística sendo ela a heterogeneidade é destacar a variação
diatópica, sendo por região e também a importância da variação diafásica que
depende do ambiente inserido, seja formal ou informal. Esse tópico da
sociolinguística fornece ao aluno lidar e interpretar que a língua natural fornece
sistematicamente uma organização e vai se variando para se adequar a
comunicação dos falantes, o entendimento da variação ajuda no desafio que é
imposto de se padronizar uma única fala, e mostrar que a oralidade e a escrita
trazem com si, formalidades diferentes.
Para Bortoni (2014), a ciência da sociolinguística é marcada sobre as práticas
linguísticas e suas perspectivas. Desta forma, a relação dos desafios no ensino de
língua portuguesa, pode levar a uma ajuda com os alunos para conscientizá-los das
diferenças das variações para que comecem a monitorar seu próprio estilo. A
linguista relata (2014) esta ciência como “o desempenho escolar de crianças
oriundas de grupos sociais ou étnicos de menor poder econômico e cultura
predominantemente oral. Seu desenvolvimento foi pautado por dois princípios: O
relativismo cultural e a heterogeneidade linguística inerente e sistemática"
Como supramencionado, sobre pessoas oriundas de suas vivências,
precisamos vencer o obstáculo de vícios linguísticos, e seus conceitos prévios
juntamente com as teorias linguísticas de que a diferença de uma fala não é uma
deficiência do aluno, mas sim mostrar que a sociolinguística estuda essas variações
da língua com rigor científico, e mostrar essa situação como uma diferença entre
duas raças sociais ou étnico. Ao tratar das questões de variação linguística,
voltamos à essência, o letramento e seus diferentes desenvolvimentos sociais, o
desenvolvimento das práticas de leitura e escrita, os que foram letrados em zona
urbana, em zona rural, e também os estudantes no âmbito rural que migraram para
o urbano.
Em vivências do cotidiano, é possível perceber pagantes que foram educados
e alfabetizados no ambiente do campo e depois passaram necessidades para o
ambiente rural. Eles possuem um destaque do intelecto social, de compreensão e
paciência com o aprendizado ao próximo, mas sinto que se sentem intimados a falar
com o público da zona urbana e serem julgados. Experiências de convivência
mostram que eles são pessoas extremamente capazes, mas que foram rotulados e
forçados a acreditar que tinham um intelecto inferior e longe da forma padrão. Por
esse motivo, a importância de apresentar as diversidades da língua em sala de aula,
acompanhada do estudo da sociolinguística, pois essa ciência, vai transformar
alunos em estudantes da sua própria língua, despertando o interesse de serem
poliglotas do seu próprio idioma,

“Relacionar as dificuldades de hipossegmentação e de hipersegmentação


das palavras pelos alunos aos padrões acentuais
dos vocábulos fonológicos e grupos de força. O vocábulo fonológico é uma
sequência de palavras no interior de um grupo de forças pronunciadas sem
pausa. Os alfabetizandos percebem o vocábulo fonológico como uma
unidade e tendem a grafá-lo sem espaço entre as palavras, o que é
chamado de hipossegmentação (Ex: "maräcenteano"). Também pode
ocorrer a hipersegmentação, (Ex: Para que eu poça em sina outra
pessoa").”
(CÂMARA, 1978, p. 132)

A sociolinguística contribui diretamente para um ensino da Língua Portuguesa


menos engessado e normativo, permitindo a compreensão e valorização da
diversidade linguística no Brasil e contribuindo para a formação de falantes
empáticos e conscientes de sua língua. Perceber a diversidade de uma língua em
diferentes regiões, grupos e comunidades, é se sentir pertencentes a estes grupos,
e quando aprendido em sala de aula, se sentir valorizado por seu reconhecimento.
Lorenset afirma que
“A Língua Portuguesa e as práticas escolares no Brasil se encontram
historicamente marcadas por movimentos de permanência, rupturas,
deslocamentos, sedimentação, tensão nas escolhas curriculares de saberes
que ora se (res)significam, ora se (con)figuram, ora se (re)formulam. Na
posição de professores, refletindo acerca das mudanças e da evolução
contínua e inexorável no percurso histórico do ensino de Língua
Portuguesa, com nossas escolhas e silenciamentos, vamos mostrando a
língua e contribuindo para edificar a cidadania no Brasil.”
(Lorenset, 2014, p.160)

Ao analisar a história do português no Brasil, é possível entender o


silenciamento de outros dialetos e a imposição de um português rígido e excludente,
que considera variações da língua como erradas. Então, a sociolinguística permite
que os professores abordem a língua portuguesa em seu contexto social e cultural,
tornando o ensino mais relevante e significativo para os alunos. Uma vez que, ao
explorar as variedades regionais, os estudantes compreendem como a língua é
influenciada por diferentes fatores sociais, históricos e geográficos, enriquecendo
sua compreensão da língua e de sua própria identidade linguística.
Como estudantes, ao longo dos anos escolares foi possível ver olhares
diferentes a alunos que vieram de outras regiões do país, ou que vinham do interior
do estado, ou de grupos menos privilegiados. Mesmo que crianças, este olhar
parcial crescia junto, uma vez que durante toda a vida escolar e também em família,
muitas vezes crianças são ensinadas que o português correto é o culto. Como
estudantes de letras, esta parcialidade é ainda maior, visto que se formam
profissionais que irão ser os corretores desta variação linguística, muitas vezes não
aceitando outras formas de se falar a Língua Portuguesa. Ensinar não somente uma
única forma padrão da língua é dever dos professores, demonstrando os diferentes
momentos e situações que devem ser utilizados de uma forma ou outra.
Por fim, é necessário compreender que variações dentro de uma língua são
infindáveis e constantemente mutáveis, uma vez que
“[...] o ser humano sozinho não cria uma língua natural, ela é sempre
produto da criação coletiva espontânea, não sistemática, dialeticamente
produto e elemento constituinte das relações sociais. Nessa condição, a
língua, conquanto os seus falantes não percebam isso, está mudando
contínua e permanentemente, e esse processo ininterrupto de mudança
“corrompe” de tal maneira o seu funcionamento que não é possível
compreender como uma língua funciona, sem compreender como ela
muda.”
(Lucchesi, 2012, p. 803)
Por estarem em constantes mudanças, o ensino desta língua deve sim acompanhá-
las, para que assim seja mais inclusivo e justo.
Portanto, o papel da sociolinguística é essencial ao ensino da língua
portuguesa no Brasil, pois profissionais que compreendem esta necessidade,
reconhecem e valorizam a diversidade linguística e cultural emanadas no Brasil.
abordar estas variações, os professores promovem a inclusão, desenvolvem melhor
a comunicação dos estudantes e também combatem preconceitos linguísticos.
Assim, o ensino de um português menos engessado e normativo se torna mais
relevante, significativo e mais condizente à realidade linguística brasileira. Eis a
fundamentalidade da sociolinguística integrada às práticas pedagógicas, para que se
formem falantes competentes e, principalmente, conscientes das possíveis
variações linguísticas dentro da Língua Portuguesa.

Referências

BORTONI-RICARDO, Stella Maris (2014). Manual de sociolinguística. São Paulo: Contexto.

CAMARA JR., J. Mattoso. Contribuição à estilística portuguesa. 3ª ed. Rio de


Janeiro: Ao Livro Técnico, 1978

LORENSET, R. B. C. A historicidade do ensino de Língua Portuguesa no Brasil:


trilhando caminhos. v. 5, n. 2, 2014.

LUCCHESI, Dante. A Teoria da Variação Linguística: um balanço crítico. Estudos


Linguísticos, v. 41, n. 2, p. 793–805, 2012.

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