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Redação UFPR

sem mistérios

Como elaborar textos dissertativo-


argumentativos no modelo UFPR
Textos nota máxima em diversos vestibulares
UFPR
Critérios de correção da UFPR

4 propostas de redação a serem enviadas para


correção

E MAIS: COMO VOCÊ PODE CHEGAR LÁ!


Repertório

Vestibular 2023
Sobre as organizadoras

Selma Mottin
Graduada em Letras e especialista em Língua
Portuguesa e Literatura Brasileira pela PUC-PR, atuou
como professora de Produção Textual por 28 anos em
curso pré-vestibular. Participa da correção de textos
de vestibulares de reconhecidas instituições de
Curitiba.

Solange Lucini
Graduada em Letras e especialista em Língua
Portuguesa e Literatura pela IFPR, leciona Produção
Textual em cursos pré-vestibulares há 19 anos.
Também integra a banca de correção de textos de
prestigiadas instituições curitibanas.

Suzelei Rosales
Graduada em Letras pela UFPR e especialista em
Interdisciplinaridade pela Universidade Espírita, atua
como professora de Produção Textual em curso pré-
vestibular há 27 anos e também como corretora de
textos de vestibulares de renomadas instituições.
Sumário

RESUMO 7

TEXTOS DE OPINIÃO 19

TIRAS E CHARGES 34

MAPAS, INFOGRÁFICOS E TABELAS 41

COMPARAÇÃO/CONFRONTO 49

NARRATIVA E RELATO 53

CARTA ARGUMENTATIVA 59

CONTINUIDADE DE TEXTO 63

TRANFORMAÇÃO DE DISCURSO DIRETO PARA INDIRETO 66

TEXTOS LITERÁRIOS 70
Redação UFPR sem mistérios

RESUMO
O resumo é um gênero que certamente cairá em sua prova deste ano. Junto com o opinativo, são
as certezas que se tem do que aparecerá ao você abrir o caderno de propostas. Isso porque, ao resumir,
além de já se mostrar apto a uma atividade acadêmica muito frequente, o aluno também comprova saber,
mais do que produzir textos, interpretá-los. Além desse poder de compreensão do que se lê, o resumo
também exige vocabulário, já que não se pode fazer cópias, e fidelidade ao que o texto traz, uma vez que
também não são permitidas ideias externas. Mais um ponto importante é que, em geral, o melhor é
manter a organização de ideias do original, além de estabelecer, com recursos coesivos (que estarão
abaixo), as relações de sentido que tais ideias apresentam. Ou seja, de modo geral o texto deve ser:

a) Autônomo – ou seja, trazer toda a referência para que o leitor, que não viu o texto, possa, caso
queira, encontrar o original. Sendo assim, cite fonte, data, autor do texto, profissão. Além disso, a
autonomia do resumo torna-o compreensível sem que se necessite recorrer ao texto-base. Nos últimos
anos, a UFPR não exigiu título, mas, havendo espaço, não há por que não colocá-lo. Além disso, para que
fique claro que todas as ideias colocadas são da mesma autoria, e não suas, retome constantemente o
autor. Colocaremos formas de fazer isso.

b) Fiel ao que o original traz – Lembre-se de que você não pode acrescentar ideias, expandir,
explicar melhor alguma informação do original.

c) Sem cópias – Certamente que a repetição de alguns termos será necessária no resumo, já que
algumas palavras-chave nem devem ser trocadas, mas você não pode copiar frases inteiras e, muito
menos, produzir um texto que simplesmente recorte trechos do original.

d) Coeso – Além de, como já sugerimos, ser melhor manter a ordem das ideias conforme o original
organizou, também é importante que você relacione tais informações, ligue-as adequadamente.

Vejamos agora como montar um bom resumo!

Quais perguntas devem ser respondidas?

 QUEM É O AUTOR? (LEMBRE-SE DE QUE EM CASO DE EDITORIAL A FONTE É O PRÓPRIO VEÍCULO


QUE DIVULGOU O TEXTO E QUE NOTÍCIAS NÃO TÊM DE FATO AUTORIA, APENAS MENCÃO AO
REPÓRTER QUE ESCREVEU O TEXTO. TAMBÉM LEMBRE QUE É NECESSÁRIO DESTACAR JÁ NA
PRIMEIRA MENÇÃO AO AUTOR A PROFISSÃO DELE, QUE DEPOIS SERÁ RETOMADA AO LONGO DO
TEXTO. TRATA-SE DE UMA FORMA DE EXPANSÃO LEXICAL.
 QUAL A FONTE? (SE FOR SITE, BASTA FALAR “PUBLICADA NO SITE DA UOL”)
 QUAL O TEMA? (PODE ESTAR EXPRESSO JÁ NO TÍTULO).
 QUAL A TESE OU A IDEIA SOBRE A QUAL SE DISCORRE? (ATENTE AO FATO DE QUE NOTÍCIAS NÃO
TÊM TESE, OK? PROCURE SE PERGUNTAR QUAL FOI A INTENÇÃO DO AUTOR AO ESCREVER
AQUELE TEXTO: FOI CRITICAR ALGO, DEFENDER UMA IDEIA, SUGERIR, EXPLICAR, ESCLARECER...)
 QUAIS ARGUMENTOS SÃO USADOS? (FATOS, DADOS, LEIS, AUTORIDADES, CAUSAS E
CONSEQUÊNCIAS)
 HÁ NO TEXTO OUTRAS VOZES ALÉM DA DO AUTOR? QUAIS EXATAMENTE SÃO AS VOZES POR
TRÁS DE CADA IDEIA?
 A QUE CONCLUSÃO O AUTOR CHEGA OU QUAL SUA INTENÇÃO FINAL? (CLARO QUE É PRECISO
OBSERVAR SE O TEXTO TEM CONCLUSÃO)

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Como iniciar – algumas ideias

 FULANO – PROFISSÃO – EM ARTIGO PUBLICADO EM TAL LUGAR (DATA) DISCORRE


SOBRE/DISSERTA ACERCA/DISCUTE /APRESENTA/DEFENDE/CRITICA... SEGUNDO SOBRENOME,
PARA SOBRENOME-----------------------------------------------------------. ------------------------------------------
--------------------------------------------------------------------------. CITA ENTÃO/ACRESCENTA ENTÃO,
EXPLICA ENTÃO, ARGUMENTA ENTÃO, ESCLARECE ENTÃO, --------------------------------------------------
------------------------------------------------------------------------. POR FIM, ALERTA, ACUSA,
SUGERE/DEFENDE.....
 TEMA. EIS O TEMA DISCUTIDO POR PROFISSÃO FULANO EM ARTIGO A .........(DATA).
 TESE. ESSA FOI A TESE (OU TÔNICA, OU ALVO DA CRÍTICA, OU SUGESTÃO, OU OPINIÃO
DEFENDIDA) DE FULANO EM TEXTO PARA .....
 “TÍTULO”. EIS O TÍTULO – E A TESE/TEMA- DO ARTIGO DE PROFISSÃO FULANO PUBLICADO EM
TAL LUGAR (DATA). (FAZER ESTE APENAS NA UFPR)

Alguns verbos e formas de fazer referência ao autor

Criticar, acusar, apontar, ressalvar, ressaltar, exemplificar, amparar-se, pautar-se, assegurar, avaliar,
demonstrar, ponderar, propor, ratificar, considerar, refutar, revelar, sustentar, expor; para o autor,
segundo o autor, de acordo com o autor...

Alguns elementos de coesão para o resumo

De início, para comprovar tal declaração, como justificativa, diante desse quadro, como causa de tal
quadro, como consequência, por um lado, por outro lado, rebate tal ideia, nesse viés, nesse contexto,
ainda, também, acrescenta, então, em seguida, explica tal questão, frente a isso, conclui seu raciocínio,
sugere por fim.....

Observações

 Prefira manter a ordem das ideias. Apenas altere quando, por exemplo, um mesmo autor é citado
em mais de um momento. O melhor nesse caso é condensar as ideias dessa pessoa citada em
apenas um momento do resumo.
 Você precisa retomar o autor ao longo do texto. Para isso, use o sobrenome – EVITE O PRIMEIRO
NOME, A MENOS QUE A PESSOA SEJA RECONHECIDA NA MÍDIA DESSA FORMA, CASO DE JÔ
SOARES, POR EXEMPLO – profissão, articulista, autor. Também é possível fazer elipse, colocando
apenas um verbo, sem referência explícita ao autor. Mas tome cuidado, só faça isso quando não
houver dúvidas de a quem o verbo em questão se refere.
 Se o texto resumido for notícia, essa menção será feita com: o texto, a matéria, a notícia.... Além
disso, não se esqueça de que todos os verbos que virão após referência à notícia serão
informativos: expõe, informa, traz, cita, acrescenta....
 Após fazer o seu rascunho, veja se os verbos que usou são de fato coerentes com a intenção do
autor no original. Se tiver tempo, também vale a pena verificar se a forma como você apresentou
a ideia é fidedigna ao que o texto- base apresenta. Por fim, lapide a coesão, a relação entre frases
(há exemplos de elementos de coesão).
 Não use primeira pessoa – isso inclui primeira pessoa do plural, como “devemos, nosso país”.

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Redação UFPR sem mistérios

 Use ao menos algum dos dados apresentados pelo texto quando eles são importantes para
comprovar a tese – não adianta apenas falar que aumentou ou diminuiu.
 Se cair resumo de entrevista, tome cuidado redobrado com o enunciado! É para resumir toda a
entrevista – o que inclui perguntas e respostas – ou apenas a opinião do entrevistado?
 Se o texto for editorial, você não pode colocar “Em editorial publicado na Folha de S Paulo”, mas
sim “A Folha de S. Paulo, em editorial publicado em tal dia, defende, discute, critica.” A forma de
fazer menção ao longo do texto será: o jornal, o editorial, a Folha, o veículo….
 Se o texto a ser resumido for científico, fique atento a estudos e pessoas citadas, bem como a
hipóteses e refutações. Essas informações certamente devem estar no seu resumo.

 Vestibular 2020/2021 - Campus Campo Real (prova elaborada pela UFPR)

Leia o seguinte texto:

Mais importa o que você faz com o cérebro que tem

Desde quando se descobriu que o cérebro serve para alguma coisa, a humanidade tem fixação
com o seu tamanho. Intuitivamente, faz sentido: quanto mais se tem de um recurso, mais se deve poder
fazer com aquele recurso, certo? E se o cérebro é o que nos torna inteligentes, flexíveis, não só prontos
para tudo, mas também capazes de pensar antes no que poderá ser preciso eventualmente e se preparar
para isso, então quanto mais cérebro, mais capaz deve ser uma espécie animal, e também um indivíduo,
não?

Mais ou menos. Há 15 anos que eu estudo de que são feitos diferentes cérebros e que diferença
isso faz. Entre espécies animais, me parece bastante claro que o tamanho do cérebro é irrelevante em
termos de capacidade cognitiva, necessidade de sono e tempo de vida. Muito mais importante é o número
de neurônios que compõem o cérebro e suas partes. É o número enorme de neurônios no córtice cerebral,
por exemplo, que nos distingue dos outros animais, mesmo elefantes e baleias – e de quebra também
explica nossa longa infância e longevidade. Se números enormes de neurônios custam tempo e energia,
é de esperar que eles "sirvam" para alguma coisa – quer dizer, ofereçam alguma vantagem imediata ao
portador. Afinal, é assim que boa parte dos biólogos espera que a evolução funcione: através da fixação
ao longo de gerações de pequenas vantagens de valor adaptativo. Como, por exemplo, mais neurônios
corticais.

Cinco anos atrás, descobrimos, para nossa surpresa, que mesmo camundongos criados em
laboratório, todos de uma mesma ninhada, são bastante diversos em tamanho e número de neurônios,
mas os animais com os maiores córtices não são necessariamente os que tem mais neurônios corticais.
Dois jovens aspirantes ao doutorado apareceram, nessa época, na minha sala para perguntar: "Mas, ainda
assim, os animais com mais neurônios poderiam ter alguma vantagem cognitiva, mesmo sem o cérebro
ser maior, não poderiam? Nós queremos testar isso".

Ah, que delícia é ter jovens inquisitivos no laboratório. Poucos anos e mais de 30 camundongos
cuidadosamente testados depois, em colaboração com o professor Rogério Panizzutti, da UFRJ, temos
uma resposta: não. Nem mesmo um pouquinho. O número exato de neurônios no cérebro de um
indivíduo não prediz quão bom será seu desempenho em um teste. O estudo acaba de sair na revista
Neuroscience Letters. É o tipo de resultado que revistas científicas não acham titilante, mas eu adorei. Soa
tão igualitário: mais importante não é o cérebro com que você nasceu, mas o que você faz com ele.
(Suzana Herculano-Houzel, bióloga e neurocientista. Folha de S. Paulo, 27.07.20. Adaptado.)

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Faça um resumo de 10 a 12 linhas desse texto, respeitando as características discursivo-formais do


gênero solicitado.

Texto produzido por nós

O que importa não é o tamanho cerebral ou quantidade de neurônios, mas o que se faz com o cérebro
ao longo da vida. Essa foi a constatação de uma pesquisa feita pela neurocientista Suzana Herculano
Houzel, que discutiu tais resultados em texto para a Folha de S. Paulo de 27 de fevereiro de 2020. A também
bióloga explicou que o estudo partiu de três hipóteses. Uma delas era de que o tamanho do cérebro explicaria
a maior capacidade cognitiva, o que foi negado quando se percebeu que tal tamanho era irrelevante entre
animais. Outra conjectura, continuou Houzel, foi de que o segredo era um maior córtice central, o que
representaria maior carga neuronal, ideia refutada por observações em camundongos. Por fim, a ideia de que
então seria o número de neurônios que tornaria alguém mais inteligente também se mostrou falha em testes
de laboratório. Frente a isso, a autora louvou o teor igualitário de ser possível, independente do cérebro com
que se nasceu, desenvolvê-lo.

 Vestibular 2019/2020 - UFPR

O texto abaixo é uma adaptação do texto original de Ricardo Abramovay, publicado em 2017, como
prefácio ao livro Uberização: a nova onda do trabalho precarizado, de Tom Slee.

Uber e Airbnb*, entre outros aplicativos da chamada sharing economy (economia do


compartilhamento), apregoam que as novas tecnologias estão nos levando a um mundo maravilhoso. Um
mundo de vizinhos ajudando vizinhos, com cidades onde todos se respeitam, com sistemas de transporte
eficientes, enfim, o retorno da confiança na boa-fé dos seres humanos, tudo isso possibilitado por um
smartphone com conexão à internet – uma verdadeira revolução na palma da mão. Será?

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A explosão da cultura digital durante o Século XXI revigorou os mais importantes ideais
emancipatórios, combalidos pela queda do muro de Berlim. As pessoas e as comunidades passariam a
dispor dos meios técnicos que lhes permitiriam estabelecer comunicação direta umas com as outras. A
informação, os bens e os serviços poderiam ser oferecidos de forma eficiente sem que as condições
objetivas de sua produção estivessem nas mãos de grandes empresas. Alguns autores chegaram a vincular
a abundância trazida pela revolução digital ao próprio fim do capitalismo. A sharing economy, cujas
expressões mais emblemáticas são a Wikipédia e os softwares livres, exprimiria a capacidade humana de
cooperação, não apenas entre pessoas que se conhecem, num círculo limitado por laços de parentesco e
amizade, mas de forma anônima, impessoal e massificada. As bases materiais para a transição do reino
da necessidade para o de liberdade pareciam asseguradas.

Não demorou muito para ficar claro que esta narrativa edificante subestimava a mais importante
transformação do capitalismo do Século XXI: a emergência da empresa-plataforma. O aumento na
capacidade de processar, coletar, armazenar e analisar dados foi de tal magnitude que seu custo, que era
de onze dólares por gigabyte em 2000 caiu para US$ 0,02 em 2016. Esta foi uma das bases objetivas não
só para que Google e Facebook estivessem entre as mais poderosas empresas do mundo, mas também
para que um conjunto cada vez mais amplo de bens e serviços fosse oferecido não mais por empresas ou
conglomerados especializados, mas por plataformas que, a custo quase zero, tinham o poder de conectar
imediatamente consumidores e varejistas, reduzindo os custos envolvidos em suas transações.

Mas a aura de esperança com que a sharing economy – que inclui gigantes digitais como Uber,
Lyft, Task Rabit – foi encarada em seus primórdios está sendo desmistificada: muito longe de exprimir a
cooperação direta entre indivíduos, o suposto compartilhamento deu lugar à formação de gigantes
corporativos cujo funcionamento é regido por algoritmos opacos que em nada se aproximam da utopia
cooperativista estampada em suas versões originais. Sob a retórica do compartilhamento, escondem-se
a acumulação de fortunas impressionantes, a erosão de muitas comunidades, a precarização do trabalho
e o consumismo.

O AirBnb, por exemplo, acabou por estimular que, em cidades turísticas importantes, como
Barcelona, Paris e Amsterdã, as pessoas vendessem seus domicílios a empresas que operavam como se
fossem indivíduos. Ao mesmo tempo, em muitas destas cidades o turismo se expandiu muito além dos
limites da rede hoteleira. O resultado é que as regiões centrais das cidades atingidas, cujo atrativo era
exatamente o de conciliar a beleza arquitetônica com o cotidiano de quem ali vivia, corriam o risco de
serem convertidas em cenários de Disneylândia.

A ideia de que se eu precisar de algo posso contar com a ajuda dos outros e que isso vai gerar
sentimentos e práticas de reciprocidade acabou se convertendo na oferta generalizada de trabalhos mal
pagos e sem qualquer segurança previdenciária. Num ambiente em que os sindicatos estão cada vez mais
fracos e os direitos trabalhistas sob aberta contestação, os resultados são devastadores. A utopia de que
a relação peer to peer ampliaria o bem-estar, reduziria o desperdício e traria significado humano para as
relações econômicas, tão fortemente cultivada pelo discurso do Vale do Silício, transformou-se no seu
contrário.

Uma das mais dramáticas consequências do capitalismo de plataforma é a drástica redução da


responsabilidade socioambiental corporativa. Embora as plataformas sejam as maiores beneficiárias das
operações comerciais que intermedeiam, elas renunciam a qualquer responsabilidade sobre suas
consequências. E os gigantes digitais que hoje aparecem como expressão emblemática do capitalismo de
plataforma insistem na narrativa de que são simples intermediários e que a responsabilidade pela relação
comercial entre os que oferecem os bens e os serviços e os que os demandam não lhes cabe.

É claro que o avanço cada vez maior da conectividade e dos meios para que ela chegue ao maior
número de pessoas pode ser benéfico. Mas a distância entre conexão e bem-estar social será tanto maior

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Redação UFPR sem mistérios

quanto mais poderosos forem os gigantes digitais que determinam as regras sob as quais o maior bem
comum criado pela inteligência humana, a internet, funciona. Contrariamente à crença dos protagonistas
dominantes da sharing economy, a revolução digital só vai melhorar a vida das sociedades
contemporâneas se ela se apoiar em real abertura, em participação transparente e em redução das
desigualdades.
* Serviço que permite que pessoas do mundo inteiro ofereçam suas casas para usuários que buscam acomodações
temporárias mais em conta em qualquer lugar do mundo.

Faça um resumo desse texto, que deverá:

 identificar a tese principal;


 identificar e explicitar as razões que fundamentam essa tese;
 ter no mínimo 8 e no máximo 12 linhas;
 respeitar as características discursivo-formais do gênero solicitado.

Critérios de correção

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Redação UFPR sem mistérios

Texto nota máxima produzido por vestibulando


A economia de compartilhamento gera a crença ilusória de que as pessoas estão, por meio da tecnologia,
desenvolvendo-se e interagindo diretamente umas com as outras, quando, na verdade, as empresas-plataformas
manipulam essa relação e lucram com isso. Eis o que acusa texto adaptado de Ricardo Abramovay, publicado em 2017
como prefácio do livro de Tom Slee “Uberização: a nova onda do trabalho precarizado”. Para Abramovay, as empresas
que dominam a sharyng economy, como Uber e AirBnb, utilizam um discurso utópico de cooperativismo enquanto
acumulam fortunas à custa da exploração dos seus funcionários.
Nesse viés, o escritor do prefácio explicou que, após a revolução digital do século XXI, várias gigantes corporativas
surgiram para intermediar, gratuitamente, relações individuais. De acordo com ele, essa nova expressão do capitalismo
atraiu o usuário com uma fala teórica de reciprocidade, mas, na prática, acabou com benefícios trabalhistas como o
pagamento de bons salários e direito previdenciário. Além disso, tais empresas não se responsabilizam pelos danos
ambientais que causam. Sendo assim, Ricardo Abramovay concluiu que, enquanto tais gigantes do novo mercado não
assumirem sua intermediação e suas responsabilidades, o bem estar social não será alcançado.

 Vestibular 2018/2019 - UFPR

Leia o texto a seguir, do jornalista francês Thomas Pietrois-Chabassier, traduzido pelo jornalista Inácio
Araújo e publicado no site UOL Cinema, acerca do personagem Harry Potter, de J. K. Rowling.

O insuportável Harry Potter

A revista francesa Les Inrockuptibles não está entre aquelas que fazem do último filme de “Harry
Potter” um sucesso. Em sua carta de 20/7, Thomas Pietrois-Chabassier expõe sua crítica ao personagem
de J. K. Rowling. Mesmo para os fãs do jovem aprendiz de feiticeiro, me parece que será interessante
conhecer o seu inverso.

Por isso, eu fiz a tradução da carta de Pietrois-Chabassier, ali, em cima da perna, mas acho que o
total está fiel ao sentido:

“Personagem inodoro, incolor e sem gosto, Harry Potter é um adolescente sem grande interesse,
um rapaz intelectualmente banal em um universo extraordinário. Seus únicos traços de caráter são
qualidades de idiota: bravura e suscetibilidade. Ele só não fica nervoso quando fala de seus pais. Suas
forças são inatas e tudo o que Harry Potter adquire deve a seus protetores, que são seus amigos ou seus
professores. O que o torna excepcional (sua vitória sobre Voldemort, quando bebê, sua cicatriz, seu lado
“eu sou o eleito”) ele deve apenas a sua mãe. E é aí que se situa toda a questão da criatura de J. K. Rowling.

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Redação UFPR sem mistérios

Em cada filme (muito fiel aos livros), os personagens que ele encontra pela primeira vez têm
sempre a mesma frase: “Então você é Harry Potter. Você parece com seu pai. Só os olhos que não, os
olhos são da sua mãe”.

Mas Harry Potter não apenas tem os olhos de sua mãe, como é os olhos de sua mãe. Ele é um
ponto de vista neutro, uma porta de entrada nesse mundo fabuloso, uma verdadeira câmera viva,
levando, como prova, essa capa de invisibilidade que ele veste todo o tempo ou esses óculos redondos
que se tornaram o símbolo do personagem, convertendo-o num par de olhos e lhe oferecendo o ponto
de vista onisciente do narrador.

Obra maternal, a saga Harry Potter é sobretudo maternalista, vampirisando a figura do filho até
em seus pesadelos, para não fazer dele senão um garotinho sabido, respeitador das regras, bom aluno,
bom em esportes. Ele só é subversivo quando tem autorização do diretor. Harry Potter é zeloso da
memória de sua mãe e virgem. Seu coração bate por uma garota tão enfadonha quanto ele, que ele beija
só no final do último episódio, com 18 anos, e com quem se casará. As peripécias que enfrenta surgem ao
acaso, para transformá-lo em herói, em líder apesar dele.

Harry Potter é o filho de plástico sonhado por J. K. Rowling, o filho sem paixão nem falhas, seu
orgulho, o antipunk, o bom filhinho de mamãe. É por isso que nós nunca gostaremos dele”.
Thomas Pietrois-Chabassier

(Texto disponível em https://inacio-a.blogosfera.uol.com.br/2011/07/22/o-insuportavel-harry-potter/. Acesso em


02/10/2018. Adaptado.)

Faça um resumo desse texto de no mínimo 8 e no máximo 12 linhas, respeitando as características do


gênero discursivo solicitado.

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Redação UFPR sem mistérios

Texto nota máxima produzido por vestibulando


No texto “O insuportável Harry Potter”, publicado no site UOL Cinema (22/07/2011), o jornalista Inácio Araújo
apresenta a tradução da carta do jornalista francês Thomas Pietrois-Chabassier que foi publicada na revista “Les
Inrockuptibles.” A carta estabelece uma crítica ao Harry Potter, o qual, segundo a análise de Peetrois-Chabassier, é um
personagem insípido; um adolescente com características comuns, em que traços singulares, como sua cicatriz na testa, são
resultado, unicamente, da ação de indivíduos externos a ele. A tradução também expõe que a criação de J.K. Rowling é
transformada no canal de visão e presença do narrador por meio de símbolos como a capa da invisibilidade e os seus óculos
redondos, permitindo que a personagem não seja percebida, mas consiga ver tudo o que está acontecendo. Ademais, o texto
pontua que a obra tem marcas maternalistas, retratando o aprendiz de feiticeiro como um menino obediente e respeitoso, o
qual vive aventura que o convertem, ao longo da saga, em um herói, o que resume Harry Potter a um típico adolescente que
faz tudo o que os outros mandam, motivo pelo qual o jornalista francês assume não gostar da personagem.

 Vestibular 2017/2018 - UFPR

Leia o texto abaixo.

Em final de 2014, uma aluna de pós-doutorado da Universidade de Yale-EUA, a astrônoma


americana Tabetha Boyajian, identificou flutuações inexplicáveis no brilho de uma estrela monitorada
pelo telescópio espacial caça-planetas Kepler, da Nasa. As flutuações em nada lembravam o que se vê
quando um planeta passa entre a estrela e o telescópio.

Das mais de 150 mil estrelas observadas pelo Kepler, apenas uma – a estrela de Boyajian (EdB) –
exibia uma curva de luz que desafia a lógica. O gráfico do brilho da estrela ao longo do tempo é chamado
de curva de luz. O que acontece é que a curva da EdB mostrava depressões similares a trânsitos
aparentemente aleatórios, sendo que algumas duravam horas e outras persistiam por dias ou semanas.

A EdB ainda guardaria mais surpresas. Outro astrônomo americano, Bradley Schaefer, afirmou
que o brilho do astro tinha diminuído em mais de 15% no último século. A afirmação gerou polêmica,
porque uma queda no brilho durante várias décadas parece quase impossível. O brilho das estrelas segue
quase constante por bilhões de anos depois de seu nascimento e só sofre mudanças rápidas pouco antes
de a estrela morrer. E as mudanças “rápidas” ocorrem numa escala temporal de milhões (ou bilhões) de
anos, sendo acompanhadas de marcadores claros que não se veem na EdB. Segundo várias outras
medidas, a estrela está na meia-idade. Não há evidências de que seja uma estrela variável, que pulsa num
ritmo regular.

Precisamos explicar então dois fenômenos incompreensíveis relacionados à EdB: depressões


profundas e irregulares com duração de dias ou semanas e um escurecimento ao longo de pelo menos
quatro anos (e possivelmente por todo o século passado). Embora os astrônomos prefiram uma única
explicação para os dois fenômenos, se cada um é difícil de explicar, imagine como é difícil explicar os dois
juntos. Alguns cenários propostos:

Disco de gás e poeira

As depressões irregulares e a redução de brilho da EdB por longos períodos são observadas em
outras situações – em estrelas muito jovens, com planetas ainda em formação. Elas são rodeadas por
discos de ar e poeira aquecidos pela luz da estrela que, no processo de formarem planetas, geram caroços,
anéis e arcos. Nos discos observados de lado, esses aspectos podem reduzir a luz da estrela por curtos
períodos, e discos ondulantes podem bloquear quantidades crescentes do brilho da estrela por décadas
e séculos. Mas a estrela é de meia-idade, não jovem, e não parece conter nenhum disco.

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Redação UFPR sem mistérios

Buracos negros

Alguns membros do projeto em Yale sugerem que um buraco negro poderia estar envolvido. Ou
seja, um buraco negro de uma massa estelar numa órbita próxima em torno da EdB poderia bloquear a
luz da estrela. Mas essa hipótese é falha, porque o buraco negro arrastaria a estrela para um lado e para
o outro, criando um movimento oscilante detectável, algo que a equipe buscou e não achou.

Megaestruturas alienígenas

Uma sociedade alienígena teria construído uma quantidade absurda de painéis coletores de
energia solar com uma grande variedade de tamanhos e órbitas em torno da estrela. O efeito combinado
dos painéis menores do enxame seria bloquear parte da luz da estrela como uma tela translúcida. [...] Até
que se obtenham mais medidas com outros equipamentos e mais análises de outras equipes, nossas
especulações sobre a EdB serão limitadas apenas por nossa imaginação e uma saudável dose de física.
Como acontece com os melhores quebracabeças da natureza, a jornada até chegarmos à verdade que
está por trás dessa estrela enigmática está longe de acabar.
(Kimberly Cartier e Jason Wright, Scientific American – Brasil, no. 174, junho 2017, p. 46 a 49. Adaptado)

Elabore um resumo do texto acima que contemple as peculiaridades da estrela EdB, as explicações
científicas para esse comportamento e o posicionamento da revista.

Seu texto deve:

 ter de 12 a 15 linhas;
 respeitar as características de um resumo;
 ser elaborado com suas próprias palavras.

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Redação UFPR sem mistérios

Texto produzido por nós


Kimberly Cartier e Jason Wright, em texto para a revista Scientific American (junho/2017), trataram
sobre as peculiaridades da estrela de Boyanjam, também chamada EdB. Segundo os autores, o corpo celeste em
questão apresentou, inexplicavelmente, depressões irregulares em seu brilho, além de uma diminuição dele em 15%,
características incomuns a uma estrela de meia idade e sem marcadores de luz visíveis. Cartier e Wright
explicitaram então as três hipóteses levantadas pelos cientistas para explicar o fenômeno.
Uma das conjecturas foi a de que haveria discos de gás e poeira que limitariam a expansão da luz, o que,
porém, foi refutado, já que é uma marca de estrelas muitos jovens, que não era o caso da EDB. Outra hipótese foi
a de que haveria um buraco negro próximo à estrela, bloqueando sua luz. Tal explicação também se mostrou
inválida, tendo em vista a estaticidade do corpo celeste, impossível nesse caso. Por fim, cientistas também
propuseram a existência de painéis alienígenas que estariam roubando a luz da EdB. Frente ao mistério, a revista
então concluiu que até então o que se tinha eram especulações, e a real explicação sobre o fenômeno seguia
distante.

 Vestibular 2016/2017 - UFPR

Considere o seguinte texto:

Uma janela para o mundo

Escrever é um ato não natural. Como observou Charles Darwin, “o homem tem uma tendência
instintiva para falar, basta ver o balbucio de nossas crianças pequenas, ao passo que criança alguma tem
tendência instintiva para cozinhar, preparar infusões ou escrever”.

A palavra falada é mais velha do que nossa espécie, e o instinto para a linguagem permite que as
crianças engatem em conversas articuladas anos antes de entrar numa escola. Mas a palavra escrita é
uma invenção recente que não deixou marcas em nosso genoma e precisa ser adquirida mediante esforço
ao longo da infância e depois. A fala e a escrita diferem em seus mecanismos, é claro, e essa é uma das
razões pelas quais as crianças precisam lutar com a escrita: reproduzir os sons da língua com um lápis ou
com o teclado requer prática. Mas a fala e a escrita diferem também de outra maneira, o que faz da
aquisição da escrita um desafio para toda uma vida, mesmo depois que seu funcionamento foi dominado.
Falar e escrever envolvem tipos diferentes de relacionamentos humanos, e somente o que diz respeito à
fala nos chega naturalmente. A conversação falada é instintiva porque a interação social é instintiva:
falamos às pessoas “com quem temos diálogo”. Quando começamos um diálogo com nossos
interlocutores, temos uma suposição de que já sabem e do que poderiam estar interessados em aprender,
e durante a conversa monitoramos seus olhares, expressões faciais e atitudes. Se eles precisam de
esclarecimentos, ou não conseguem aceitar uma afirmação, ou têm algo a acrescentar, podem
interromper ou replicar.

Não gozamos dessa troca de feedbacks quando lançamos ao vento um texto. Os destinatários são
invisíveis e imperscrutáveis, e temos que chegar até eles sem conhecê-los bem ou sem ver suas reações.
No momento em que escrevemos, o leitor existe somente em nossa imaginação. Escrever é, antes de
tudo, um ato de faz de conta. Temos que nos imaginar em algum tipo de conversa, ou correspondência,
ou discurso, ou solilóquio, e colocar palavras na boca do pequeno avatar que nos representa nesse mundo
simulado. [...]
(Pinker, Steven. Guia de escrita: como conceber um texto com clareza, precisão e elegância. São Paulo: Contexto,
2016, p. 41-2.)

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Redação UFPR sem mistérios

 Elabore um resumo desse texto, entre 10 e 15 linhas, respeitando as características do gênero


textual.
 Apresente as bases da comparação que o autor faz.
 Escreva com suas próprias palavras, sem copiar trechos do texto.

Critérios de correção

Texto produzido por nós

A artificialidade da escrita em oposição à naturalidade da fala. É nessa comparação


que Steven Spinker fundamenta seu texto “Uma janela para o mundo”, capítulo de sua obra
“Guia da escrita” (Contexto, 2016). Segundo Pinker, como o ato de escrever não é espontâneo
nem instintivo, além de ser invenção recente, ele não apenas exige mais prática que a fala como
requer mais esforço na transmissão do que se quer comunicar. Tal exigência de uma maior
prática para escrever do que falar também ocorre, acrescenta o autor, porque o diálogo possui
recursos de interação inexistentes na relação texto-receptor, como expressão facial e a
predisposição do interlocutor em compreender o que ouve. Já aquele que precisa se fazer
entender pela palavra escrita, conclui Pinker, tem que ser eficiente em simular sua relação com
o leitor.

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Redação UFPR sem mistérios

TEXTOS DE OPINIÃO
Eis aqui mais um gênero que estará com toda certeza presente no seu exame: o texto dissertativo
argumentativo. Em geral, a avalição seguirá as normas dessa modalidade textual, que são a presença de
uma tese – que na UFPR deve ser explícita – e de argumentos que a sustentem, a comprovem.

Todavia, há alguns detalhes importantes quando se pensa nessa banca:

a) CUIDADO COM O(s) TEXTO(s) BASE


A UFPR sempre traz uma coletânea que, além de servir como motivadora para a reflexão do aluno,
também é base de onde se deve partir para a construção do raciocínio. Ou seja, o aluno provavelmente
terá que citar, já de início, as principais ideias da coletânea, e acerca justamente dessas ideias opinar e
argumentar. Aliás, na grande maioria das vezes, o tema em si é a opinião exposta no texto-base. Sendo
assim, claro que é preciso apresentar tal opinião, citar sua autoria e fonte, para, depois de tal
apresentação – que a UFPR chamará de contextualização – colocar seu posicionamento e argumentos.

b) EXPLICITE SUA TESE – QUE NA VERDADE SERÁ UMA RESPOSTA


A proposta da UFPR costuma propor uma pergunta como tema. Claro que você irá ter a resposta
desse questionamento como sua tese. Há, porém, duas possibilidades para colocar sua “resposta”: já após
a explicação do tema, no início do texto, ou na última frase, já na conclusão, já que você pode lançar a
pergunta na sua introdução. O importante, seja como for, é você deixar bem explícito seu
posicionamento, e não apenas sugerido.

c) CASO SUA TESE SEJA CONTRÁRIA À DO AUTOR DA COLETÂNEA, REBATA TAMBÉM OS


ARGUMENTOS
É bem interessante quando você tem uma tese oposta à do autor do texto-base e irá, então,
trabalhar a contra-argumentação. Evite apenas falar que o autor está incorreto. Para fundamentar essa
oposição ao posicionamento dele, também rebata os argumentos que ele usa.

d) A IMPORTÂNCIA DA RESSALVA
Não é incomum que a UFPR peça que você se posicione sobre algo, mas apresente os dois lados
da questão. Ou seja, isso não quer dizer que você irá ficar “em cima do muro”, e sim que irá fazer ressalvas,
algo como “Embora haja tal ponto e tal ponto que dificultam X, o fato é de que sua legalidade suplanta
tais entraves”. Veja que a marca da ressalva geralmente é um "Embora”, ou um “Ainda que”, ou “A
despeito de”.

e) DIFERENTES TEXTOS COM A MESMA PROPOSTA: OPINAR


O texto-base pode ser de qualquer gênero, e é comum inclusive que haja textos não verbais sobre
os quais você deverá opinar. Então tome muito cuidado: mesmo que haja a proposição de textos de pura
análise de gráfico, ou apenas análise de tira, há propostas que não querem apenas descrição e
interpretação, mas sua opinião acerca dos números ou da crítica do cartunista. Sendo assim, claro que
você precisará de tese e argumentos para isso.

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Redação UFPR sem mistérios

TEXTO DE OPINIÃO COM BASE EM OUTROS DOIS TEXTOS


VERBAIS:

 Vestibular 2020/2021 - Campus Campo Real (prova elaborada pela UFPR)


Os excertos abaixo se referem a diferentes contextos e foram escritos sob perspectivas distintas, mas
tocam em um mesmo tema.

Texto 1.

Um estudo mostrou que depois que a pílula anticoncepcional passou a ser amplamente usada nos
EUA nos anos 1970, o número de mulheres na pós-graduação ou que investiam em carreiras profissionais
aumentou radicalmente. A proporção de advogadas e juízas, por exemplo, subiu de 5% em 1970 para
quase 30% em 2000. Apenas 9% dos médicos eram mulheres em 1970; o número era de quase 30% em
2000. O mesmo padrão existe para dentistas, arquitetas, engenheiras e economistas.

A pílula não fez isso tudo sozinha, mas teve um papel importante. Antes de sua aparição, o padrão
antigo que as mulheres norte-americanas seguiam era terminar o ensino médio e casar imediatamente
ou alguns anos mais tarde, adiando o casamento apenas tempo suficiente para obter um diploma de
graduação. Goldin e Katz descobriram em 2002 que, após o advento da pílula, a idade do primeiro
casamento das mulheres começou a subir, acompanhando a taxa de sua participação em programas de
pós-graduação.
(Adaptado de: HAGER, T. Dez drogas: as plantas, os pós e os comprimidos que mudaram a história da medicina.
Tradutor: A. Xexenesky. São Paulo: Todavia, 1. ed., 2020, p. 197.)

Texto 2.

Foi somente após a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira (LDB), de 1961, que as
mulheres brasileiras tiveram mais oportunidades de ingressar no ensino superior. Até o fim da década de
1960, as mulheres representavam apenas um quarto das pessoas com educação superior no Brasil [...]
Contudo, a situação mudou rapidamente. Em 1980, as mulheres somavam 45,5% das pessoas com
educação superior, mas, no ano 2010, elas correspondiam a 58,2% dos universitários brasileiros. [...] O
Brasil é um exemplo de país que conseguiu reverter o hiato de gênero na educação em geral e na educação
superior em particular. O caso brasileiro pode servir de exemplo na medida em que as políticas
universalistas adotadas no país – tais como o direito do voto feminino, a educação igualitária, os direitos
civis e de família da Constituição de 1988 – contribuíram para que as mulheres avançassem na conquista
de maiores níveis educacionais.
(Adaptado de: ALVES, J.E.D.; CAVENAGHI, S.M. et al. Meio Século de feminismo e o empoderamento das mulheres....
In: BLAY, E. A.; AVELAR, L. (orgs.). 50 anos de feminismo: Argentina, Brasil e Chile: a construção das mulheres como
atores políticos e democráticos. São Paulo: EDUSP, 2017. p. 15-54.)

Redija um texto de opinião que identifique o tema comum aos dois textos e analise os aspectos
trazidos por cada um deles.

Seu texto deve:

- ter entre 8 e 10 linhas;

- identificar o tema comum aos dois excertos;

- mencionar, de forma articulada, os principais argumentos de cada texto;

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Redação UFPR sem mistérios

- concluir com a defesa de um ponto de vista sobre o assunto, em diálogo com as análises
apresentadas.

Texto produzido por nós


Em 1970, médicas, dentistas e arquitetas, nos EUA, estavam numa proporção de menos de uma para 10 homens. No ano
2000, eram 3 a cada 10. Brasileiras graduadas, até o final da década de 60, eram apenas 1/4 do total; já em 2010, mais da metade dos
universitários do país. Essa conquista, por parte das mulheres, no século XX, de um maior nível educacional é o tema comum a dois
excertos, um adaptado de T. Hager, e outro, organizado por Alves e Cavenaghi, entre outros autores. O primeiro, ao analisar a situação
dos EUA a partir de 1970, atribui essa mudança sobretudo à Ciência, com a criação da pílula anticoncepcional. Já o segundo, ao tratar
do Brasil, aponta causas políticas e legislativas, como a Lei de Diretrizes e Bases, de 1961, e medidas globais adotadas no país, que
instituíam direitos como ao de uma educação igualitária. São irrefutáveis essas contribuições. Com um grande número de filhos e sem o
direito assegurado à educação em paridade com a recebida pelos homens, elas não teriam obtido tal êxito. Porém, não se pode desprezar
o importantíssimo papel desempenhado também pelos movimentos feministas por igualdade. Nomes como o da brasileira Pagu e o da
francesa Simone de Beauvoir criaram alicerçaram essa chegada feminina às universidades.

TEXTO DE OPINIÃO COM BASE EM OUTRO TEXTO VERBAL


QUE TERMINA EM PERGUNTA:

 Vestibular 2019/2020 - UFPR

Leia a crônica abaixo – “A sociedade líquida”, de 2015 –, escrita pelo filósofo italiano Umberto Eco, que
serve de introdução ao último livro do escritor, Pape Satan Aleppe: crônicas de uma sociedade líquida,
publicado postumamente.

A ideia de modernidade ou sociedade “líquida” deve-se, como todos sabem, a Zygmunt Bauman. A
sociedade líquida começou a delinear-se com a corrente conhecida como pós-moderno (aliás, um termo
“guarda-chuva” sobre o qual se amontoam diversos fenômenos, da arquitetura à filosofia e à literatura,
e nem sempre de modo coerente). O pós-modernismo assinalava a crise das “grandes narrativas” que se
consideravam capazes de impor ao mundo um modelo de ordem e fazia uma revisitação lúdica e irônica
do passado, entrecruzando-se em várias situações com pulsões niilistas. Mas para Bordoni, o pós-
modernismo também conheceu uma fase de declínio. [...] Servia para assinalar um acontecimento em
andamento e representou uma espécie de balsa que levava da modernidade a um presente ainda sem
nome. Para Bauman, entre as características deste presente nascente podemos incluir a crise do Estado

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Redação UFPR sem mistérios

(que liberdade de decisão ainda têm os Estados nacionais diante dos poderes das entidades
supranacionais?). Desaparece assim uma entidade que garantia aos indivíduos a possibilidade de resolver
de modo homogêneo vários problemas do nosso tempo, e, com sua crise, despontaram a crise das
ideologias, portanto, dos partidos e, em geral, de qualquer apelo a uma comunidade de valores que
permita que o indivíduo se sinta parte de algo capaz de interpretar suas necessidades. Com a crise do
conceito de comunidade, emerge um individualismo desenfreado, onde ninguém é mais companheiro de
viagem de ninguém, e sim seu antagonista, alguém contra quem é melhor se proteger. Esse
“subjetivismo” solapou as bases da modernidade, que se fragilizaram, dando origem a uma situação em
que, na falta de qualquer ponto de referência, tudo se dissolve numa espécie de liquidez. Perde-se a
certeza do direito (a justiça é percebida como inimiga) e as únicas soluções para o indivíduo sem pontos
de referência são o aparecer a qualquer custo, aparecer como valor [...], e o consumismo. Trata-se, porém,
de um consumismo que não visa a posse de objetos de desejo capazes de produzir satisfação, mas que
torna estes mesmos objetos imediatamente obsoletos, levando o indivíduo de um consumo a outro numa
espécie de bulimia sem escopo (o novo celular nos oferece pouquíssimo a mais em relação ao velho, mas
descarta-se o velho apenas para participar dessa orgia do desejo).

O que poderá substituir esta liquefação?

Elabore um texto a partir da pergunta que fecha o texto de U. Eco. Seu texto deverá:

 contextualizar a temática;
 identificar características relevantes da sociedade atual apontadas por U. Eco;
 dialogar com essa caracterização, apresentando uma reflexão na direção proposta pela
pergunta;
 apresentar as razões que embasam a reflexão que você está desenvolvendo;
 ter entre 10 e 15 linhas;
 respeitar as características discursivo-formais do gênero solicitado.

Critérios de correção

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Redação UFPR sem mistérios

Texto nota máxima produzido por vestibulando


Na crônica “A sociedade líquida” (2015), usada como introdução no livro “Pape Satan Aleppe”: crônicas de uma
sociedade líquida”, o filósofo italiano Umberto Eco, traz o conceito criado por Zigmund Bauman de modernidade ou
sociedade ‘líquida’. Eco cita que para Bauman as sociedades atuais sofrem uma crise de Estado, o que levou a outras crises
como a das ideologias e a dos partidos, além de fazer surgir um individualismo exagerado. E tudo isso, para o filósofo
italiano, culminou em uma perda na garantia do direito, que tirou a referência dos indivíduos e resultou em uma vontade
de aparecer e em um consumismo por parte deles. Assim, diante desse contexto, Eco questiona o que substituiria esta
liquefação, ou seja, o que poderia entrar no lugar de tudo o que se desfez ou mudou no mundo pós-moderno.
A resposta para essa pergunta encontra-se nas necessidades da sociedade atual. Se o individual prevalece sobre o
coletivo, por exemplo, que se crie meios para que cada indivíduo se desenvolva sem, no entanto, prejudicar o outro. A
sociedade não é estática, ela está em constante mudança, assim como suas necessidades. A uberização do trabalho no Brasil,
por exemplo, surgiu justamente por conta dessas mudanças, principalmente pelos desenvolvimentos de tecnologias e da
internet, e apesar de muitos terem uma visão pessimista por conta de sua consequente flexibilização dos direitos trabalhistas,
é inegável que emprega inúmeras pessoas, o que é bem-vindo em um contexto em que se tem taxa de desempregado maior que
10%. Portanto, essa não é a primeira vez que os valores e a sociedade mudam, e a substituição da liquefação observada,
procurada por Eco, não deve tentar suprimir essas mudanças, mas sim se adaptar a elas.

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Redação UFPR sem mistérios

TEXTO DE OPINIÃO COM BASE EM OUTRO TEXTO VERBAL


QUE PROPÕE UM QUESTIONAMENTO:

 Vestibular 2018/2019 - UFPR


Leia o texto abaixo.

A web já faz parte do cotidiano de pesquisadores, editoras e instituições científicas. Publicamos e


lemos periódicos on-line, e utilizamos plataformas da web social (Twitter, Facebook, blogues, YouTube
etc.) para divulgar nossos trabalhos, fazer contatos, encontrar novos colaboradores… Nossas produções
e resultados de pesquisa também circulam no ambiente on-line, recebendo curtidas e comentários,
sinalizando um interesse que, até pouco tempo atrás, era muito mais difícil de acompanhar. O padrão
ouro da avaliação dos artigos científicos até a década passada era a citação. Diante da possibilidade de se
ver e monitorar todo esse diálogo da ciência em ação na internet, não seria interessante considerar essa
uma nova forma de medir os impactos da ciência?

Quando olhamos para as citações que um artigo recebeu, estamos considerando um grupo
relativamente limitado de pessoas que o usaram: aquele grupo que se interessou, leu e utilizou aquele
texto para construir e publicar o seu próprio trabalho. Esse grupo com certeza é muito importante – afinal,
é assim que se faz ciência, com pesquisadores usando trabalhos de outros pesquisadores para construir
conhecimento novo. Mas a citação não é o único uso que um artigo científico pode ter. Estudantes leem
artigos como parte da sua formação profissional. Profissionais leem artigos para ficar em dia com novas
tendências da área e para resolver questões específicas, como definir um diagnóstico médico. Pacientes,
gestores, ativistas, amadores, wikipedistas, curiosos, muita gente pode se interessar pela literatura
científica, pelos mais diversos motivos.

Hoje, nas redes sociais, encontramos traços desses interesses por artigos científicos e pela ciência.
O biólogo compartilha seu artigo novo no Facebook. A astrônoma explica sua pesquisa em um vídeo no
YouTube. A cientista social escreve uma sequência no Twitter mostrando com o que a pesquisa acadêmica
pode contribuir para a sociedade... São atos que não necessariamente geram citações, mas demonstram
que a utilidade da ciência não se resume ao que é publicado formalmente em periódicos consagrados.

As métricas dessa disseminação de trabalhos científicos nas redes sociais, que chamamos
altmetrias (do inglês altmetrics, encurtamento da expressão alternative metrics – métricas alternativas,
em português), vão aos poucos se incorporando ao nosso cotidiano. Em alguns periódicos e repositórios,
encontramos, junto aos dados de download, informações sobre quantas vezes o arquivo foi
compartilhado. Para alguns, as altmetrias podem ser indicadores do impacto social da ciência, algo
importante para a sociedade que quer e deve acompanhar o que se faz com os recursos públicos
investidos em ciência.

Mas quais seriam essas métricas? Podemos lançar o olhar para a disseminação dos conteúdos em
tuítes e posts de divulgação, ver a interação dos usuários a partir desses posts (as tais curtidas e reações
do Facebook e corações do Twitter), os downloads dos artigos e sua incorporação em gestores de
referência como o Mendeley e a geração de conteúdo a partir do uso dos artigos em documentos como
blogues, sites e Wikipedia. Podemos avaliar quantitativamente as diferentes reações (no caso do
Facebook), redes de relações e compartilhamentos dos usuários, ler os comentários e respostas, enfim,
ver todo esse processo que vai da divulgação científica ao diálogo entre pares, em um olhar sobre a ciência
e sua disseminação e comunicação.

Outro ponto importante é reconhecer os diferentes níveis de engajamento representados por


cada ato nas redes sociais. Um clique no botão ‘curtir’, por exemplo, é um tipo de engajamento superficial,

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Redação UFPR sem mistérios

que pode ser uma demonstração de interesse mas demanda pouco esforço do usuário. Se queremos
transformar os tais polegares e corações em indicadores, eles precisam estar refletindo mais do que mera
repercussão viral e ir mais fundo.
(Fábio Castro Gouveia (Fundação Oswaldo Cruz) e Iara Vidal Pereira de Souza (UFRJ). Revista Ciência Hoje, edição
348, outubro de 2018. Disponível em: <http://cienciahoje.org.br/artigo/a-ciencia-compartilhada-na-rede>.
Adaptado.)

Com base nessa leitura, escreva um texto argumentativo sobre a relação entre ciência e redes sociais,
procurando dar uma resposta à questão que se levanta no primeiro parágrafo: não seria interessante
considerar a altmetria uma nova forma de medir os impactos da ciência?

Seu texto deverá:

 contextualizar o tema;
 conter um posicionamento, com as devidas justificativas, acerca do uso da altmetria para
avaliar os impactos da ciência;
 identificar e opor pontos positivos e pontos negativos do uso da altmetria;
 apresentar os elementos formais e discursivos característicos de um texto argumentativo;
 ter no mínimo 10 e no máximo 12 linhas.

Texto nota máxima produzido por vestibulando


A avaliação de artigos científicos, antes da era informacional, era medida por meio da quantidade de citações
que um artigo recebia, o que possibilitava identificar a relevância de determinados assuntos da ciência na sociedade.
No entanto, com o advento do mundo digital, em que artigos são compartilhados e recebem curtidas, esse método de
análise está sendo reavaliado. A altmetria seria a nova forma de medir os impactos da ciência na vida dos cidadãos,
em que todas as informações fornecidas por redes sociais sobre os artigos seriam utilizadas para esse fim.
Apesar de parecer ampliar o espaço amostral e garantir maior precisão na avaliação, na realidade, a altmetria
tornaria o diagnóstico inverossímil. Isso, porque o uso de dados coletados de redes, como o Facebook, não garante que
os indivíduos levam o artigo e, de fato, se interessam no tema científico, uma vez que o ato de curtir, por exemplo, se
tornou mecânico, ou seja, passou a ser uma ação realizada sem pensar. Além disso, muitos internautas demonstram

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Redação UFPR sem mistérios

um interesse falso por causa da influência de sua bolha ideológica, preferindo assuntos só pra se manter-se no grupo.
Portanto, embora o método da quantidade de citações pareça estar ultrapassado, ainda é o que assegura maior
credibilidade nos resultados, em comparação à altmetria.

TEXTO DE OPINIÃO COM BASE EM OUTRO TEXTO VERBAL E


EM UMA TIRA:

 Vestibular 2017/2018 - UFPR


Leia o excerto e a tirinha que seguem.

[...] agora habitamos, de modo sem precedentes, dois mundos diferentes – o ‘on-line’ e o off-line’ –, ainda
que sejamos capazes de passar de um para outro de forma tão suave, a ponto de isso ser, na maioria dos
casos, imperceptível, de vez que não há nem fronteiras demarcadas ou controles de imigração entre elas,
nem agentes de segurança para verificar nossa inocência ou funcionários da imigração checando nossos
vistos e passaportes. Com muita frequência conseguimos estar nos dois mundos ao mesmo tempo [...].
Pode-se fazer uma longa lista de diferenças entre os dois mundos, mas uma delas parece ter mais peso
sobre nossas reações aos desafios da ‘crise migratória’. Dentro do mundo off-line eu estou sob controle
– espera-se que me submeta ao controle de circunstâncias contingentes, voláteis, e muitas vezes sou
forçado a isso – para que obedeça, me ajuste, negocie meu lugar, meu papel, assim como o equilíbrio de
direitos e deveres – tudo isso vigiado e imposto pela sanção, explícita ou suposta, da exclusão e da
expulsão. Enquanto no mundo on-line, pelo contrário, eu sou responsável e estou no controle. On-line,
sinto que sou o administrador das circunstâncias, aquele que estabelece a agenda, recompensa a
obediência e pune a indisciplina, que detém a arma do banimento e da exclusão. Eu pertenço ao mundo
off-line, enquanto o mundo on-line pertence a mim.
(In: BAUMAN, Zygmunt. Estranhos à nossa porta. Rio de Janeiro: Zahar, 2007, p. 101/102.)

(Disponível: <http://assuperlistas.com/2017/02/21/os-melhores-cartunistas-do-brasil>. Acessado em 04/09/2017.)

Escreva um texto argumentativo no qual você concorde ou discorde da afirmação contida na última
frase do excerto, síntese do pensamento do autor, em face da tirinha de Dahmer.

Seu texto deve:

 ter de 12 a 15 linhas;
 apresentar seu posicionamento relativamente ao tema da afirmação;
 conter as justificativas de seu posicionamento.

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Redação UFPR sem mistérios

Texto produzido por nós


Crítico mordaz das redes sociais, Zygmunt Bauman externa, em “Estranhos à nossa porta”, preocupação
com a facilidade com que migramos do mundo on-line para o off-line. Segundo ele, não precisamos, para isso, de
atestados de bons antecedentes, como é próprio das fronteiras. Podemos, inclusive, estar simultaneamente nos
dois mundos, a despeito de serem muito diferentes: no real, sob leis e regras, sujeitos a punições; no virtual, no
comando, senhores do espaço. “Pertencemos ao mundo off-line, enquanto o mundo on-line nos pertence”, pontua.
Esse posicionamento de Bauman converge com o do cartunista Dahmer, que, em uma de suas tiras, exibe um
personagem com anseio de criticar o mundo, mas sem se empenhar em mudanças, e recebe, do poço dos desejos,
uma rede social.
Ácidas e pertinentes as duas críticas. Pertencemos de fato é ao mundo off-line, onde, inclusive,
vivenciamos sérios problemas: quase um bilhão de pessoas passa fome; a desigualdade social grassa pelos
continentes. É nesse ambiente concreto que deveríamos atuar em prol de mudanças. Porém, muito mais
interessante é viver como joga o dono da bola, sem regras ou preocupações. E só o mundo digital, sobre o qual
temos o controle, confere-nos essa prerrogativa. A enfrentarmos obstáculos verdadeiros, preferimos brigar
virtualmente, postar mentiras e jamais perder o acesso a nosso “soma” de cada dia, as redes sociais, droga da
alegria que torna admirável nosso mundo novo.

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Redação UFPR sem mistérios

TEXTO DE OPINIÃO COM BASE EM OUTRO TEXTO VERBAL:

 Vestibular 2016/2017 - UFPR


Considere o seguinte texto:

Esquerda, Direita ou Centro?

Vivemos, no Brasil de hoje, um momento curioso em que todos, de repente, resolveram politizar-
se. Até pouco tempo atrás, vigorava um senso comum de que não valeria a pena discutir a respeito de
política, porque, afinal de contas, políticos são todos corruptos. Opinião política era considerada uma
coisa tão pessoal, que não era de bom tom perguntar a respeito disso a ninguém, assim como não se
perguntaria quanto uma pessoa ganha ou qual seria a sua fé (ou ao menos assim ditavam os bons
costumes). Agora, em especial no que concerne à política, já não me parece que as coisas são assim. Um
maior acesso à informação, aliado à abertura de um novo canal de diálogo nas redes sociais, tem feito
com que as pessoas passem mais frequentemente a dar voz às suas opiniões, entrando, por isso mesmo,
muitas vezes em confronto com conhecidos e familiares. Nisso, há um agravante: justamente por não
termos prática de debater a respeito de política, há uma enorme confusão de conceitos dentro do que
hoje constitui o diálogo político médio no Brasil, o que em nada ajuda a mitigar a situação de confronto.

É notório que tenha havido, recentemente, um crescimento no número de pessoas que se


identificam como de direita (sabendo bem o que é isso ou não). Esse crescimento tem ocorrido não sem
um enorme esforço de desinformar essas mesmas pessoas a respeito do que é ser de esquerda e, por
extensão, também a respeito do que é ser de direita. Reitero o caráter pessoal deste texto por um motivo
simples: não há uma única acepção possível do que é ser de esquerda ou ser de direita. Isso ocorre
evidentemente porque existe um espectro de possibilidades entre o máximo da esquerda e o máximo da
direita.

Dentro de uma sociedade humana organizada, a vida política envolve questões atuantes em dois
eixos, o econômico e o social, que caracterizam, mediante leis (da parte do governo) e costumes (da parte
da sociedade), a existência humana em comum. Cada um desses eixos abrange uma pluralidade de
questões, as quais, por vezes, têm participação em ambos os eixos simultaneamente.

Há, basicamente, dois tipos de indivíduo no centro: os que têm de fato uma postura comedida e
apregoam um posicionamento moderado em todas as questões; e aqueles que simplesmente têm um
posicionamento misto, sem fortes inclinações nem para um lado nem para o outro. Alguns talvez não
tenham interesse em política; outros podem estar indiferentes com a situação atual, sem grandes
intenções de mudá-la nem de perpetuá-la; outros ainda podem apenas ser cautelosos e acreditar que é
preciso moderação para abordar questões complexas e polêmicas. A partir da definição do que é ser de
centro, podemos tentar identificar o que poderia significar ser de esquerda e ser de direita, ao menos em
uma definição inicial, por mais insuficiente que ela possa ser para um diálogo mais aprofundado.

Não é difícil ver que essas posições extremas são perigosíssimas. Entretanto, certamente há
ocasiões em que ambas têm seu valor: em uma situação de extrema injustiça e ausência de qualquer
outra solução, é compreensível que pessoas adotem uma posição revolucionária, da mesma forma como
é compreensível que, em uma situação de extremo contentamento geral, pessoas estejam prontas para
impedir, até por meios violentos, que se estrague o bom funcionamento da sociedade. O grande perigo
reside no erro de diagnose, tanto de se fazer a revolução quando ela não é necessária como de se
defender a manutenção de uma situação injusta.

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Redação UFPR sem mistérios

Mais do que isso: há enorme perigo em não perceber que essas posições extremas não são o
único caminho para se orientar a sociedade mais para a esquerda ou mais para a direita, isto é, operando
mudanças sociais a fim de buscar melhorias para a qualidade de vida da maioria (movimento à esquerda)
ou focando em coibir mudanças sociais a fim de preservar o funcionamento atual da sociedade
(movimento à direita). Há que se notar ainda que os dois movimentos podem ser feitos ao mesmo tempo,
para áreas diferentes de nossa sociedade, preservando as leis e tradições que são frutuosas, mas dando
espaço para mudanças nos pontos em que elas são necessárias.

Quando digo vida política, claro, não me refiro apenas à política como o exercício de cargos
governamentais; refiro-me à vidado ser humano como organismo político, isto é, um organismo partícipe
de uma πόλις (pólis), ou seja, um πολίτης (polítēs), um membro de uma sociedade humana organizada.

Por democracia próspera e saudável, defino uma sociedade não perfeita, mas em que há o
bastante para todos de forma mais ou menos semelhante, a ponto de não haver necessidade para uma
revolução, mas, ao mesmo tempo, a ponto de ainda haver (como talvez sempre haja) questões sociais
e/ou econômicas a serem resolvidas. Antes de estar pensando em um exemplo real, penso aqui em um
ideal do qual as diferentes sociedades humanas se aproximam mais ou menos.
(Adaptado de Leonardo Antunes. Disponível em: <http://www.jornalja.com.br/esquerda-direita-ou-centro/>.
Acesso em 06/07/2016.)

Segundo o autor, o maior acesso à informação modificou a participação das pessoas no debate a
respeito de política.

Escreva um texto explicitando como o autor caracteriza o cenário atual no tocante a essa participação
e, com base na distinção que ele faz entre os diferentes posicionamentos políticos, defina em qual deles
você se enquadra.

O seu texto deve:

 ter de 10 a 12 linhas;
 definir sua posição atendo-se aos elementos apresentados no texto-base;
 justificar a posição assumida por você.

IMPORTANTE: Você será avaliado pela consistência dos argumentos escolhidos e pela clareza e
organização de seu texto, NÃO pela posição que tomar

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Redação UFPR sem mistérios

Texto produzido por nós


Sou de esquerda. Defino-me assim com base nos conceitos apresentados por Leonardo Antunes em artigo no site
jornalja.com.br (acesso em 06/07/2016). Conforme o autor, manifestar-se politicamente aqui no Brasil é prática recente,
advinda do maior acesso a informações e da facilidade de externar posicionamentos conferida pelas redes sociais. E é a essa
falta de costume de dialogar sobre política e a equívocos conceituais que Antunes atribui os confrontos nos debates. Na
visão do autor, não existe definição única do que é ser de direita ou de esquerda. Para tentar esclarecer esses conceitos, ele
divide em dois tipos os indivíduos de centro: os que têm postura moderada em todas as questões; e os que têm inclinações
mistas, sem o desejo de ver mudanças ou permanências. Ser de direita, porém, significa, conforme o autor, posicionar-se a
favor da estrutura vigente e lutar para mantê-la, enquanto ser de esquerda representa uma tentativa de promoção de
alterações em benefício da coletividade. Diz respeito à não conformidade ao “status quo” nacional. Eis a razão por que me
afirmo de esquerda. Como aceitar que um país produza alimentos para 1 bilhão de pessoas e tenha mais de 10 milhões de
famintos? Como aceitar que um professor graduado receba, em média, 3 mil reais por mês, enquanto um deputado federal
sem formação alguma, 10 vezes mais? Tento usar minha voz e meu voto para alterar situações de desequilíbrio como essas.

TEXTO DE OPINIÃO A PARTIR DE OUTRO TEXTO VERBAL:

 Vestibular 2016/2017 - UFPR

Considere o texto abaixo:

A ascensão política de Donald Trump nos EUA, a decisão britânica de deixar a União Europeia e a
definição contrária ao acordo de paz na Colômbia têm sido elencados como exemplos de uma crise da
democracia global e dos sistemas de representação política. [...]

Para o filósofo norte-americano Jason Brennan, os três casos são símbolo de problemas na
tomada de decisões políticas. Esses impasses favorecem a participação das pessoas em detrimento do
conhecimento que elas têm sobre a realidade em questão – o que leva, segundo ele, a escolhas irracionais.

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Redação UFPR sem mistérios

Este é o caso específico do “brexit”, na visão de Brennan, em que as pessoas tomaram “uma
decisão estúpida” porque não tinham informações sobre a realidade britânica. E é o modelo que
aproximou Trump da Presidência dos EUA, apesar de fazer campanha com pouco apego a fatos reais e a
mentir em 71% das suas declarações, segundo o site PolitiFact, que checa discursos políticos. [...]

Em entrevista à Folha, por telefone, Brennan falou sobre suas críticas aos sistemas democráticos,
reunidas no recente livro “Against Democracy” (contra a democracia), em que sugere a implementação
de um sistema político diferente: a epistocracia. Ele defende que apenas uma elite com conhecimento
aprofundado sobre temas de relevância nacional possa tomar decisões.

Criticado por sua visão de mundo “elitista”, ele diz que a democracia ainda é o melhor sistema de
governo, mas que isso não significa que não precise evoluir.

Epistocracia (ou epistemocracia, como também aparece citado em trabalhos acadêmicos no Brasil),
é um conceito de sistema político baseado na ideia de epistem. O termo foi usado por Platão na
filosofia grega, no século 4º a.C., para se referir ao “conhecimento verdadeiro”, em oposição à opinião
infundada, sem reflexão.

Por esse sistema, o poder político não deveria ser distribuído igualmente a todos os cidadãos, em
contraposição à democracia, mas sim estas nas mãos das pessoas sábias.

(Fonte: <http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2016/11/1829957>)

Escreva um texto argumentativo posicionando-se em relação à proposta apresentada por Jason


Brennan.

O seu texto deve:

 ter de 10 a 12 linhas;
 explicitar em linhas gerais as ideias de Jason Brennan;
 assumir uma posição contra ou a favor dela, contrapondo argumentos se for contra, ou
reforçando os já apresentados se for a favor.

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Redação UFPR sem mistérios

Texto produzido por nós


A eleição de Donald Trump e a decisão do Reino Unido de abandonar a União Europeia são dois dos episódios elencados
pelo filósofo Jason Brennan (conforme matéria publicada por folha.uol.com.br, em11/2016), em defesa de um sistema denominado
epistocracia – forma de governo que consiste em concentrar o poder nas mãos das pessoas sábias. Nos dois casos, segundo Brennan,
teria faltado aos eleitores o conhecimento da realidade, o que os impeliu a uma decisão equivocada.
Um sistema epistocrático, entretanto, não apenas tiraria dos ignorantes o poder de decisão, como também os condenaria,
inequivocamente, junto a outras ditas minorias, à margem do sistema. Amplo é o conhecimento de que cidadãos com maiores
chances de estudar são também os de maior poder aquisitivo. O que os motivaria, então, a governar incluindo os desvalidos?
Brennan parece também partir da premissa de que sabedoria e boas intenções andam juntas, mas isso não é sempre verdade. Como
prova, podem-se citar os estudos genéticos desenvolvidos por Francis Galton, primo de Darwin, “para criar seres humanos
melhores”. Usados no início do século XX pelos EUA, para implementar a eugenia, teriam, segundo historiadores, motivado Hitler
a promover o Holocausto. Por razões como essas é que, apesar de todas as falhas, pode-se considerar, assim como o estadista
britânico Winston Churchill, “a democracia a pior forma de governo, com exceção de todas as demais. ”

TEXTO DE OPINIÃO A PARTIR DE CHARGE E DE OUTRO


TEXTO VERBAL:

 Vestibular 2015/2016 - UFPR


Considere a seguinte charge:

(Gazeta do Povo, 08 jul. 2015.)

Segundo a mitologia grega, Narciso era um belo rapaz, filho do deus do rio Céfiso e da ninfa
Liríope. Quando nasceu, o adivinho Tirésias profetizou que ele teria uma vida longa se não visse a própria
face. Depois de adulto, após uma caçada, ele se debruçou numa fonte para beber água. Nessa posição,
viu seu rosto refletido na água e se apaixonou pela própria imagem. Ali ficou, imóvel na contemplação de
seu rosto refletido, e assim morreu.
(Fonte: KURY, Mário da Gama. Dicionário de Mitologia. Rio de Janeiro: Zahar, 1990.)

A charge de Benett apropria-se do mito de Narciso para questionar um comportamento atual. Em um


texto de 8 a 10 linhas:

 explicite qual é o comportamento criticado na charge e a relação que o autor estabelece entre
essa tendência atual e o mito grego;
 posicione-se em relação à crítica de Benett e justifique o ponto de vista defendido por você.

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Redação UFPR sem mistérios

Texto produzido por nós


É ao mito grego de Narciso, jovem que morreu em decorrência de se apaixonar pela própria imagem e não
conseguir mais parar de contemplá-la, que Benett alude em charge publicada na Gazeta do Povo, em 08/07/2015.
O título, “Narciso”, orienta a leitura. No plano não verbal, o que se vê é um grande smartphone, sobre o qual se
debruça um rapaz – triste e só –, cuja imagem se projeta na tela. Ao exagerar nas proporções do aparelho, o
cartunista destaca a importância que essa tecnologia assumiu na vida das pessoas, a ponto de viciá-las e isolá-
las da convivência social, e ao comparar o jovem ao mito, lembra a necessidade contemporânea de se ver
permanentemente refletido na tela, por meio das chamadas selfies. Benett tem certa razão, pois os internautas
são mesmo Narcisos, porém “às avessas”: sentem a necessidade de observar, diversas vezes ao dia, a própria
imagem, mas não são apaixonados por si mesmos. Precisam da aprovação alheia, em forma de curtidas, para
terem amor próprio, que logo se esgota e impõe a necessidade da postagem de nova foto.

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Redação UFPR sem mistérios

TIRAS E CHARGES
Tiras e charges são textos que combinam elementos verbais e não verbais. É da soma desses
recursos com o conhecimento que o leitor possui da realidade que resulta a apreensão do significado e
do efeito de humor, sempre presente nessas publicações. Portanto, numa proposta de interpretação de
tiras ou charges, o processo de descrição dos elementos verbais (palavras) e dos não verbais (imagens)
é fundamental. A explanação do entendimento da crítica e do efeito de humor deve vir acompanhado da
exposição dos recursos que os produziram. Essa descrição junto com a menção ao autor e à fonte
promovem a autonomia do texto, ou seja, a possibilidade de que ele seja compreendido sem que o leitor
precise recorrer ao texto motivador – condição essencial para que a redação seja considerada adequada.
Como diferencio uma tira de uma charge? Além da distinção aparente, já que charges
normalmente são publicadas em um único quadro, enquanto tiras podem ocupar vários, há a diferença
temática.
Charges são vinculadas ao noticiário. Voltam-se quase sempre a fatos que acabaram de acontecer
e que estão sendo divulgados na mídia. Política, economia, meio ambiente, saúde e criminalidade estão
entre os temas recorrentes, já que também geram manchetes frequentes nos meios de comunicação.
Desse modo, ao interpretar uma charge, é necessário relacioná-la ao fato específico que a motivou.
As tiras, por outro lado, promovem reflexões sobre os costumes, a cultura, os hábitos, etc., não
estando diretamente ligadas a um fato, mas a práticas comuns nas diversas sociedades. São mais
atemporais e podem ser interpretadas sem a necessidade de “retorno” a um contexto específico.
Ao produzir um texto que envolva uma dessas duas modalidades, nomeie-as; deixe claro que
você sabe se é uma tira ou uma charge. Lembre-se também de que não há apenas uma interpretação
válida; porém, qualquer que seja o entendimento, precisa ser “autorizado” por elementos presentes na
tira ou na charge, que precisam ser descritos. Valorize todos os detalhes verbais (títulos, falas dos
personagens, eventuais inscrições...) e os não verbais (expressão dos personagens, vestimenta, lugares,
objetos). Lembre-se de tentar captar a crítica feita pelo autor e o efeito de humor alcançado. Só
manifeste opinião pessoal se for solicitada. Informações bibliográficas (autor, veículo e data de
publicação) são fundamentais.

TEXTO DE INTERPRETAÇÃO: TIRA

 Vestibular 2016/2017 - UFPR

Considere o texto abaixo, em que Neil Degrasse Tyson aborda a relação entre equilíbrio social e
desenvolvimento científico e tecnológico:

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Redação UFPR sem mistérios

Escreva um texto em que você explicite e desenvolva a linha de raciocínio do autor.

Seu texto deve:

 ter no mínimo 6 e no máximo 8 linhas;


 ser desenvolvido em dois parágrafos;
 citar, de forma contextualizada, pelo menos um dos cientistas apresentados no quadro.

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Redação UFPR sem mistérios

Texto produzido por nós


Um dos piores males contemporâneos, segundo o astrofísico e divulgador científico americano Neil Degrasse Tyson
(em tira divulgada por El Pais), é que poucos têm oportunidade de concretizar suas habilidades potenciais, que poderiam
promover melhorias mundiais nos mais diversos âmbitos. A desigualdade social, consequente da corrupção e da má
administração praticadas pelos governantes, conforme Tyson, é responsável por esse processo de castração.
Se o inglês Isaac Newton nascesse na África e tivesse que se preocupar em se manter vivo, não teria dado à Ciência
as conhecidas contribuições, exemplifica Tyson. De fato, ele poderia ser um dentre os 250 milhões que passam fome no
continente africano, conforme dados atuais da FAO (Organização para a Alimentação e Agricultura), e a humanidade seria,
por consequência, privada da Teoria da Gravitação Universal, conhecimento basilar para a conquista espacial.

TEXTO DE INTERPRETAÇÃO: TIRA

 Vestibular 2007/2008 - UFPR

(WATTERSON, Bill. O mundo é mágico: as aventuras de Calvin e Haroldo. São Paulo: Conrad Editora, 2007.)

Em um texto de 6 a 8 linhas, explique a lógica da afirmação do último quadro da tira: "Se quiséssemos
mais lazer, devíamos inventar máquinas menos eficientes."

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Redação UFPR sem mistérios

Texto de vestibulando, avaliado como bom pelas professoras da UFPR


Iara Bemquerer Costa e Maria José Foltran (organizadoras de “A
tessitura da escrita”, Editora Contexto, 2016)

O personagem da tira, visivelmente aborrecido, estabelece algo que beira o paradoxal:


embora as máquinas utilizadas no trabalho tenham se tornado mais eficientes, o tempo livre de
que ele dispõe é cada vez menor.
Com o advento de modens, faxes e celulares, criou-se a lógica do “just in time”, ou seja, a
demanda por serviços tornou-se assaz exigente, requerindo (sic) do trabalhador que ele produza
em maior quantidade e em menor tempo. Por isso, o pai de Calvin, vendo-se privado de lazer,
conclui que o progresso das máquinas é o responsável por sua situação – para ele, ironicamente,
máquinas mais desenvolvidas implicariam mais tempo livre.

Texto produzido por nós

O propalado direito ao ócio – tema inclusive de livro do sociólogo italiano Domenico De


Masi – parece sempre mais intangível. Com o intuito de alcançá-lo, criamos a tecnologia. Porém,
paradoxalmente, como, irritado, adverte o pai de Calvin, em uma das tiras de Bill Watterson, “se
quiséssemos mais lazer, devíamos ter inventado máquinas menos eficientes.” Como entender essa
contradição? Ocorre que grande parte das máquinas não opera sozinha e, como elas trabalham em
ritmo frenético, exigem o mesmo desempenho de quem as manipula. Além disso, a celeridade
prometida pelos aparatos tecnológicos cria uma urgência em todas as atividades: tudo para
ontem. Adia-se assim, portanto, sempre para amanhã o “dolce far niente”.

TEXTO DE INTERPRETAÇÃO: CHARGE

 Vestibular 2012/2013 – UFPR

Paixão. In: Gazeta do Povo, 13 jun. 2012. Marines hasteiam a bandeira dos Estados Unidos, após
batalha contra os japoneses e ocupação da ilha de Iwo
Jima/Japão, em 1945, durante a Segunda Guerra Mundial.

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Redação UFPR sem mistérios

Observe a charge de Paixão publicada durante a realização no Rio de Janeiro da Conferência das Nações
Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20. Considerando os elementos representados na
charge e sua relação com a foto ao lado, escreva um texto explicitando a opinião de Paixão sobre a
Rio+20.
Seu texto deve:
 ter de 10 a 12 linhas;
 indicar não apenas o ponto de vista do autor, mas também os elementos gráficos em que se
fundamenta sua interpretação.

Texto produzido por nós


Em território completamente devastado, onde tocos de árvore ainda fumegando lembram as incessantes
queimadas e o desmatamento, Paixão ambienta sua charge publicada em13/06/2012, no jornal Gazeta do Povo.
O cartunista completa o cenário com quatro pessoas, ligeiramente inclinadas, hasteando, sobre esse local, a
bandeira da Rio + 20, Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, que estava ocorrendo
no Rio de Janeiro.
Flagrante é a intertextualidade imagética, promovida por Paixão, com a cena capturada pelas lentes do
fotógrafo Joe Rosenthal na ilha de Iwo Jima, em 1945, durante a Segunda Guerra Mundial. Na fotografia, o
que se vê são quatro homens, em território igualmente destruído, inclinados, na posição reproduzida pelo
cartunista, hasteando a bandeira dos Estados Unidos após a ocupação da ilha. Com essa semelhança entre os
elementos não verbais, Paixão expõe sua crítica à inutilidade de conferências como essa, depois que a vida do meio
ambiente, como a de milhares de soldados na aludida batalha, está perdida.

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Redação UFPR sem mistérios

TEXTO DE INTERPRETAÇÃO: CHARGE

 Vestibular 2006/2007 - UFPR

AS ETERNAS DÚVIDAS DOS ADOLESCENTES

– Você fica se perguntando o que vai ser quando crescer?

– Se liga, mano! Não raciocino sobre hipóteses!


(ANGELI, www.charges.uol.com.br, acessado em 3 ago. 2006.)

Em um texto de 6 a 8 linhas, apresente sua interpretação da charge, explicitando os elementos verbais


e não-verbais que fundamentam as relações que você estabeleceu.

39
Redação UFPR sem mistérios

Texto produzido por nós


“As eternas dúvidas dos adolescentes” é o título de uma charge de Angeli em que estão, sobre a laje de um
barraco de favela, três jovens fortemente armados. Enquanto vigiam a área, um deles questiona: “Você fica se
perguntando o que vai ser quando crescer?”, e um outro responde que não raciocina sobre hipóteses. Nota-se, assim,
que o humor e a crítica da charge são alcançados com o irônico deslocamento de elementos verbais de um cenário de
classe média – dúvidas de adolescentes sobre a profissão que exercerão – para um periférico, marcado pela violência.
Explícita em alguns dos elementos não verbais, como as armas e a tarja preta sobre os olhos de dois dos garotos, é a
marginalidade que cria nos jovens das favelas a consciência de que estão fadados a uma vida breve. Projetos futuros
não pertencem, portanto, à realidade desses meninos, que pressupõem nem estar vivos quando esse tempo chegar.

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Redação UFPR sem mistérios

MAPAS, INFOGRÁFICOS E TABELAS

Como proceder a uma leitura eficiente de cada uma dessas representações textuais e à escrita de
um texto adequado?

1- A primeira recomendação vale para todo gênero textual proposto no vestibular, não apenas para
esses. Diz respeito à autonomia do texto. Lembre-se de que o leitor não está tendo acesso às
representações gráficas. Portanto, você precisa descrevê-las; não basta afirmar que aumentou ou que
reduziu determinado valor. É indispensável mencionar alguns dados numéricos como referência.

2- Preste muita atenção aos verbos presentes no comando da questão. Expor, citar, descrever e
informar são verbos que solicitam apenas a demonstração dos dados, sem avaliações. Por outro lado,
comentar, analisar, avaliar, opinar... propõem um maior aprofundamento e a apresentação de um
parecer de quem escreve o texto.

3- Mencione sempre a fonte, mas não confunda o órgão que fez a pesquisa (por exemplo, IBGE,
DATASUS, IBOPE, Datafolha) com o veículo que a publicou/divulgou (jornal, revista ou site).

4- Atente ao tema da representação (infográfico, mapa ou tabela) e explicite-o no texto. É comum,


inclusive, que o dado mais relevante venha em destaque.

5- Deixe claro no texto o período de abrangência do gráfico, do mapa ou da tabela. Trata-se de


informação muito relevante.

6- É imprescindível verificar, e expor no texto, se os dados estão expressos em porcentagem, em


milhares, em milhões. Não perceber esses detalhes pode comprometer toda a coerência do texto. E,
se você ainda não sabe a diferença entre porcentagem e ponto percentual, é importante entendê-la.
Por exemplo, se o Brasil tinha 46% de leitores em 2010 e passou a ter 48% em 2011, o incremento foi
de 2 pontos percentuais, não de 2 porcento.

7- Ao comparar dados, recorra a números fracionários (1/4, 1/10...), a números multiplicativos


(dobro, triplo...); enfim, evite repetir meramente os dados como eles aparecem. Mostre que, ao lê-los,
você os compreendeu de modo abrangente.

8- As legendas, que muitas vezes aparecem de forma bem discreta, são parte importante na
compreensão dessas representações textuais. Dê atenção a elas. Para uma perfeita leitura e
compreensão dos dados, é fundamental:
- avaliar se as escalas são crescentes ou decrescentes; se revelam aumento ou redução;
- comparar os dados procurando observar semelhanças e contrastes entre eles;
- observar os pontos extremos: como não há espaço no texto para todos os dados, é importante
selecionar os que revelam o ponto culminante de uma série (para mais ou para menos).

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Redação UFPR sem mistérios

TEXTO INFORMATIVO A PARTIR DE NOTÍCIA, GRÁFICO E


TABELA

 Vestibular 2017/2018 - UFPR

Leia as duas notícias abaixo.

63% das vítimas da violência em Fortaleza são jovens


Cartografia da Criminalidade e Violência mapeou todos os bairros da Capital entre os anos de 2007 e 2009
Mais de 2.300 homicídios, cerca de 74.800 roubos, além de 16.900 casos de lesão corporal em
apenas três anos na Capital. Os números parecem de uma cidade que vive em permanente guerra, mas
são dados da realidade da violência na Capital cearense, apresentados ontem pela Fundação da
Universidade Estadual do Ceará (FUNECE).
Um dado chamou mais a atenção dos pesquisadores: 63% das vítimas de homicídio são jovens,
todos entre 15 e 29 anos. Para a pesquisadora Rosemary de Oliveira, do Mestrado em Políticas Públicas e
Sociedade, o perfil dos mais vulneráveis ainda tem sido o mesmo: são jovens, solteiros, em idade
produtiva, negros e com baixa renda e escolaridade.
Em 2014, com 3.533.255 habitantes, Fortaleza continua com uma taxa alta de homicídios: 81,12
homicídios a cada 100 mil habitantes. Nesse mesmo ano, cidades como Coreaú, com 58.138 habitantes,
apresenta taxa de 10,32; e Sobral, com 400.799 habitantes, tem taxa de 41,17 homicídios a cada 100 mil
habitantes.

(Fontes: <http://www.uece.br/labvida/index.php/noticias/14-lista-de-noticias/137-63-das-vitimas-da-violencia-
em-fortaleza-sao-jovens>. Acessado em 23/06/2017.
<http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/nota_tecnica/160322_nt_17_atlas_da_violencia_2016_finali
zado.pdf>. Acessado em 10/11/2017>. Adaptado)

77 das 100 melhores escolas do País estão no Ceará, mostra Ideb


As 24 melhores escolas dos anos iniciais do ensino fundamental estão todas no Ceará. As escolas municipais São
Joaquim, em Coreaú, e Emílio Sendim, em Sobral, lideram o ranking, com nota 9,8.

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Redação UFPR sem mistérios

Fonte: <http://www20.opovo.com.br/app/opovo/cotidiano/2016/09/09/noticiasjornalcotidiano,3657675/77-das-
100-melhores-escolas-do-pais-estao-no-ceara-mostra-ideb.shtml>. Acessado em 23/06/2017.)

As duas notícias evidenciam um contraste social entre a capital e algumas das cidades do estado do
Ceará. Elabore um texto que exponha as duas situações, selecionando dados de cada uma delas.

Seu texto deve:

 ter de 12 a 15 linhas.
 Citar de forma contextualizada pelo menos dois dados selecionados de cada texto.

43
Redação UFPR sem mistérios

Texto produzido por nós

O contraste, no tocante à educação e à violência, entre Fortaleza e cidades do interior do


estado. Eis o que expuseram levantamentos realizados pela Fundação da Universidade do Ceará
(FUNECE) e dados do IDEB. Sem ter escola alguma na lista das melhores do IDEB, que
contabilizou 77 delas no Ceará, Fortaleza lidera o ranking quando se trata de violência: 81,2
assassinatos a cada 100 mil habitantes. Enquanto isso, cidades interioranas do estado, como
Coreaú e Sobral, têm, respectivamente, 23 e praticamente 50 homicídios a menos por 100 mil
habitantes. Essas mesmas localidades do interior, ainda em oposição à capital cearense, lideram
as listas de educação: ambas, por apenas dois décimos, não alcançaram nota máxima nas provas
que avaliam o aprendizado nas séries iniciais. Figuram, assim, como detentoras das melhores
escolas do país: EMEIF São Joaquim, em Coreaú, e Emilio Sendim, em Sobral, cidade que,
inclusive, teve escolas na lista das 10 melhores do país também no que diz respeito às notas do 6º
ao 9º ano, com médias acima de 7,5.

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Redação UFPR sem mistérios

TEXTO COMPARATIVO COM BASE EM MAPA

 Vestibular 2016/2017 - UFPR


O gráfico a seguir apresenta os resultados da 4ª edição da pesquisa nacional Retratos da Leitura no
Brasil, realizada pelo Ibope e encomendada pelo Instituto Pró-Livro. O país possui, atualmente, 104,7
milhões de leitores (56% da população), o que representa um crescimento de 6 pontos percentuais em
relação à última apuração, feita em 2011. Foram ouvidas, ao todo, 5.012 pessoas em todas as regiões
do Brasil, com uma população de 5 anos ou mais.

Fonte: <http://entretenimento.ne10.uol.com.br/literatura/noticia/2016/05/18/615476.php>.

Escreva um texto, com no mínimo 10 e no máximo 12 linhas, em que você apresente a um leitor as
informações do enunciado e do infográfico, explicitando as correlações possíveis entre os dados.

45
Redação UFPR sem mistérios

Critérios de correção

Texto produzido por nós


De uma população metade leitora, metade não leitora em 2011, evoluímos, em 2015, para 56% de
brasileiros que leem. É o que indicam os dados da 4ª edição da pesquisa nacional Retratos da Leitura no Brasil,
realizada pelo IBOPE. O Sudeste foi a região com o maior crescimento no número de leitores nesse período – de
11 pontos percentuais – e passou a ocupar, com 61%, a 1ª posição em porcentagem dos que se informam ou
entretêm por meio da leitura, em 2011 assegurada ao Centro-Oeste, agora em segundo, com 57%. O Norte, por
sua vez, que estava 3 p.p. abaixo da média nacional em 2011, manteve essa mesma distância, preservando também
a terceira colocação no percentual de leitores. No tocante à evolução, é válida uma comparação entre Nordeste e
Sul: em 2011, o primeiro tinha um percentual de 51% de leitores, enquanto o segundo, de apenas 43%. Passados
4 anos, porém, a região Sul, ainda que tenha alcançado um incremento de 7 p.p. no número dos que leem, preservou
a posição de menos leitora do Brasil. Já o Nordeste, embora se mantenha superior ao Sul em número de praticantes
da leitura (51%), permaneceu estagnado no percentual de 2011 e caiu da segunda colocação de região que mais lê
para a penúltima.

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Redação UFPR sem mistérios

TEXTO INFORMATIVO/COMPARATIVO, COM BASE EM


INFOGRÁFICO

 Vestibular 2015/2016 - UFPR


O infográfico a seguir faz uma comparação entre o espaço que três meios de transporte ocupam nas
ruas para transportar 30 pessoas, para convencer as pessoas a reduzir o uso do automóvel.

(Disponível em <http://planetasustentavel.abril.com.br/download/stand3-painel8-ocupacao-espaco.pdf>.
Acessado em 19 set. 2015. Adaptado.)

Escreva um texto informativo fazendo uma comparação entre os três meios de transporte
contemplados na imagem.

Seu texto deve:

 apresentar fatores positivos e negativos associados a cada um dos meios de transporte;


 usar informações do infográfico, apresentando-as com suas próprias palavras, sem copiar
trechos do texto;
 ter de 10 a 12 linhas.

47
Redação UFPR sem mistérios

Texto produzido por nós


Automóvel. Transporte coletivo. Bicicleta. Qual a melhor opção? O site planetasustentavel.abril.com.br
publicou um gráfico comparativo entre os três modais. A primeira característica destacada na imagem é o espaço
que exigem. Nesse caso, o ônibus sai-se vencedor. Trinta pessoas são transportadas por um único veículo, que
ocupa no trânsito um terço do espaço requerido por trinta automóveis – poluindo, portanto, muito menos o ar –
e três quartos do demandado por trinta bicicletas. Entretanto, no quesito conforto, o transporte coletivo brasileiro
não vai para o pódio. Além das trinta pessoas sentadas, há sempre um outro grande número equilibrando-se em
pé. Já, se a opção for por manter a si e ao planeta saudáveis, a bicicleta sagra-se a campeã. Não polui e demanda
do condutor exercício que, se praticado meia-hora por dia, pode prolongar a vida em até quatro anos. Contudo,
entre os três, é o modal que mais expõe a acidentes, além de exigir muito tempo a mais de trânsito para alcançar
o destino. Se há pressa e a decisão é pelo conforto, o automóvel fica com o troféu. Mas a grande quantidade deles
em circulação torna-se, nos horários de pico, um entrave, o que estressa os motoristas e pode torná-los propensos
à violência. Válido lembrar que o Brasil é o quinto país do mundo em mortes no trânsito, segundo a OMS.

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Redação UFPR sem mistérios

COMPARAÇÃO/CONFRONTO
Neste gênero textual, são considerados regulares, como você pode constatar nas redações de
alunos avaliados pela UFPR, os textos que apenas parafraseiam os pontos de vista e os colocam lado a
lado, unidos por um conectivo, como entretanto, por outro lado, em contrapartida. São redações que
não procedem de fato a uma comparação.
Para garantir que seu texto seja classificado como bom, agrupe modos de pensar semelhantes
e explicite que nesse ponto há convergência de opiniões. Agrupe, em seguida, os pontos de vista
divergentes e, do mesmo modo, esclareça textualmente que há ali diferenças na forma de pensar.
Certamente, o resumo e a paráfrase são necessários, porém não bastam. É necessário que a comparação
seja explícita.
Preocupe-se especialmente com a coesão e com a escolha vocabular: valha-se de verbos que
têm a clara função de opor, como discordar, divergir, ir de encontro a, opor-se...., e de outros que
estabeleçam concordância, como concordar, convergir, ir ao encontro de.... Utilize expressões que têm
a função de unir um período/ideia a outro/a, como além disso, ainda, ademais..., e as que têm função
de opor ideias/informações, como em contrapartida, em oposição, de modo divergente, entretanto,
contudo...

TEXTO QUE COMPARA PONTOS DE VISTA DE PERSONAGENS


DE CHARGES

 Vestibular 2008/2009 - UFPR

Toninho, chargeonline.com.br, acessado em


05/10/2008. Lila, chargeonline.com.br, acessado em 05/10/2008.

As duas charges foram publicadas no dia do primeiro turno das eleições de 2008. Compare os pontos
de vista veiculados pelos personagens. Seu texto deverá atender os seguintes requisitos:

 ter no mínimo 10 e no máximo 12 linhas;


 mencionar os autores das charges;
 discriminar os elementos simbólicos em que você se baseou para fazer sua interpretação.

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Redação UFPR sem mistérios

Texto produzido por nós


Duas charges publicadas em 05/10/2008, primeiro turno das eleições municipais aqui no Brasil, uma por Toninho
e outra por Lila (ambas em chargeonline.com.br), caracterizam o personagem eleitor como confiante no poder do voto. Apesar
dessa confiança em comum, os dois eleitores têm outros pontos de vista bastante distintos. O de Toninho, na charge
intitulada “5 de outubro Dia de Limpeza Pesada!”, enfurecido, dirige-se à urna ciente de que por trás dela há muita sujeira
e animais a ela associados, como o rato e a mosca, por isso está munido de vários aparatos de limpeza, como o sabão e a
vassoura. Já o de Lila, de roupa remendada, com expressão de tranquilidade, de olhos fechados, exibe o título e afirma que,
com ele, melhorará a vida de todos da cidade.
O primeiro personagem, aparentemente sagaz e revoltado com a corrupção existente, vê no voto uma forma de
bani-la do cenário nacional. Em contrapartida, o de Lila, caracterizado como ingênuo, parece ter se deixado iludir pelas
campanhas eleitorais, tanto que reverbera um dos slogans. Também em oposição àquele, este não aparece sozinho: uma
personagem feminina, igualmente simples, com vestes remendadas, porém mais astuta e descrente no voto, tenta adverti-lo
de que só um cartão de crédito poderá resolver a situação deles, não o título, como ele crê.

TEXTO QUE COMPARA PONTOS DE VISTA DE


ENTREVISTADOS

 Vestibular 2003/2004 - UFPR


Considere os seguintes trechos de entrevistas

Entrevista com a escritora Susan Sontag.

Veja – Exposição demais à violência por meio de fotos e imagens de televisão pode levar as
pessoas à indiferença e à passividade?

Susan – Essa foi uma ideia que comecei a discutir nos anos 70, quando escrevi meu primeiro
ensaio sobre fotografia, e que senti a necessidade retomar agora. Naquela época eu disse de maneira um
tanto forte que as imagens poderiam, sim, nos tornar passivos. Hoje eu acredito que isso não é
necessariamente verdade. As coisas só acontecem dessa maneira se a mensagem que acompanha a
imagem for a de que nada pode ser feito.

Se a mensagem subliminar for “sim, tudo é horrível, mas interferir está fora de nossas
possibilidades”, aí ela leva você à passividade. E é preciso estar alerta também para a compaixão e a
simpatia fácil que as imagens de sofrimento nos provocam. (...) Esse tipo de surpresa é uma espécie de
clamor de inocência, um álibi. Precisamos sempre questionar o papel da compaixão quando vemos algo

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terrível que está acontecendo longe de nós. Se não carregar consigo a ideia de que as coisas podem
mudar, talvez você se torne realmente passivo e comece a pensar na realidade como um espetáculo.
(Veja, ed. 1817, ago. 2003)

Entrevista com o cineasta Steven Spielberg.

Veja – O que o senhor acha da tese de que a violência no cinema e na televisão estimula o público
a agir da mesma forma?

Spielberg – Acho correta. Assistir à violência no cinema ou em programas de TV estimula muito


mais os espectadores a imitar o que veem do que assistir a ela ao vivo ou nos telejornais. No cinema, a
violência é filmada com iluminação perfeita, em cenas espetaculares, em câmera lenta, tornando-se até
romântica. Já no noticiário o público tem uma percepção muito melhor de como a violência pode ser
horrorosa e usada com finalidades que não existem no cinema.
(Veja, ed. 1821, set. 2003)

Em um texto de até 10 linhas, compare os pontos de vista de Susan Sontag e Steven Spielberg sobre os
efeitos da exposição do público a imagens de violência.

Exemplos de textos bons (nota máxima), divulgados pela UFPR

Texto 1:
Perguntas diferentes foram feitas pela revista Veja (ed. 1817 e ed. 1821, respectivamente) aos
entrevistados Susan Sontag e Steven Spielberg. A escritora respondeu a respeito da indiferença e passividade que
podemos desenvolver por meio de imagens e fotos referentes à violência. Já o cineasta concordou que o público
diante de cenas de violência da ficção se sente estimulado a agir violentamente sobretudo pelo fascínio que temos

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Redação UFPR sem mistérios

ao assistir a grandes produções. Porém, as duas entrevistas estão relacionadas à influência que os meios de
comunicação, especialmente a televisão, exercem em nossas ações e conceitos no quesito violência. Sontag e
Spielberg concordam no aspecto do deslumbramento com as imagens. Ela quando comenta que ao nos tornarmos
passivos, enxergamos a realidade como espetáculo, e ele quando menciona que as cenas de violência no cinema
muitas vezes tornam-se até românticas.
Texto 2:
As perspectivas da escritora Susan Sontag e do cineasta Steven Spielberg são divergentes quanto aos
efeitos decorrentes da exposição de imagens violentas ao público. A escritora afirma, em entrevista à revista Veja,
ed. 1817, que, se a mensagem embutida nas cenas trouxer ao espectador a sensação de que ele não pode fazer nada
para mudar o quadro de violência na sociedade, esta imagem será negativa e levará as pessoas à passividade. Além
disso, ela destaca que é preciso tomar cuidado com a compaixão que tais cenas provocam em nós. As pessoas devem
separar esse sentimento da realidade nua e crua, para que a violência do dia a dia não se torne um “espetáculo”.
Já Spielberg, ao contrário da escritora, pontua, também em entrevista à revista Veja, ed. 1821, que cenas violentas
no cinema induzem as pessoas a imitarem os mesmo atos, e não que isso as leve à indiferença. Isso porque as
imagens violentas no cinema são romantizadas, muito aquém da realidade e do horror que a violência cotidiana
realmente gera.

Exemplo de texto de nível regular, divulgado pela UFPR (como você


NÃO deve fazer)
Sobre os efeitos da exposição do público a imagens de violência, a escritora Susan Sontag, em entrevista
a Veja, disse que uma exposição em demasia pode levar as pessoas a uma passividade ante a desgraça, desde que
“por trás” da imagem esteja uma mensagem dizendo que nada pode ser feito a respeito de tal situação. Ela afirma,
também, que a passividade torna a violência um espetáculo na cabeça das pessoas. Já o cineasta Steven Spielberg,
também em entrevista a Veja, afirma que a violência veiculada em espetáculos de cinema torna as pessoas muito
mais propensas a praticá-la e torná-la real, uma vez que nos filmes ela aparece maquiada por efeitos de luz e
câmera, bastante diferente dos noticiários de televisão.

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Redação UFPR sem mistérios

NARRATIVA E RELATO
A narrativa e o relato são gêneros distintos. Enquanto a primeira pode ser inteiramente criada,
sem compromisso com o real, o segundo traz outra vez o acontecido, ou seja, é contado por alguém que
participou do ocorrido ou que teve notícia dele ou, ainda, testemunhou-o. É característico da linguagem
jornalística e de depoimentos pessoais. Na narrativa, realidade e ficção podem se mesclar, sem limites de
onde uma acaba e a outra se inicia, enquanto no relato, reproduz-se um evento real; trata-se de uma
cópia, que pode até ser inventada, como um depoimento forjado ou mentiroso, mas que sempre,
teoricamente, é a reprodução da realidade.
Feitas essas distinções, é preciso ficar atento ao que é solicitado. A proposta de 2018, por
exemplo, de continuidade do depoimento da surfista Maya Gabeira à revista Veja era um relato de um
episódio real. Ciente disso, o vestibulando não poderia acrescentar ao texto detalhes fantásticos, como o
surgimento de um herói com asas, por exemplo, pois fugiria totalmente das características do gênero.
Entretanto, na narrativa proposta em 2020, com base numa história de quadrinhos não concluída, havia
espaço para uma maior inventividade, até para o acréscimo de elementos fantásticos, se coerentemente
inseridos.

Como produzir boas narrativas?


Além do clássico conselho de que você precisa ficar muito atento ao que está sendo proposto,
ao foco narrativo solicitado (1ª ou 3ª pessoa), à verossimilhança (mesmo as situações mais esdrúxulas
devem parecer verdades, respeitando a coerência da situação criada), evite desfechos muito previsíveis,
que o leitor já pode supor desde o início. Também evite ser tudo um sonho, estratégia já bem
desgastada. Pense que o final pode ser inclusive mais aberto, deixando lacunas a serem preenchidas pelo
leitor. A adjetivação excessiva também é um defeito. Caracterize lugares e personagens apontando
detalhes e modos de agir, respectivamente, para que o leitor possa depreender como são.
Quanto à linguagem das personagens, evidentemente, dependerá de vários fatores a escolha. Se
seu personagem é uma pessoa pouco letrada, por exemplo, seja moderado na reprodução da variante
linguística que ele fala, para não cair nos estereótipos ou até incorrer em preconceito. Busque, também,
ao longo da narrativa, mesclar frases mais curtas e mais longas. Essa cadência deixa a leitura mais
agradável.

CONTINUAÇÃO DE RELATO

 Vestibular 2018/2019 - UFPR


O texto a seguir é um trecho do depoimento da surfista brasileira Maya Gabeira à revista Veja (ed. 2603,
de 10/10/2018), no qual ela conta episódios marcantes da sua trajetória profissional. Um trecho dessa
narrativa foi suprimido, resultando em duas partes.

Dê continuidade à narrativa a partir do ponto em que foi interrompida, garantindo a coerência entre o
trecho inicial e o trecho posterior à interrupção.

Seu texto deverá:

 ter no mínimo 8 e no máximo 10 linhas;

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 obedecer aos elementos formais necessários ao desenvolvimento do gênero discursivo


solicitado.

Sou surfista de ondas gigantes e passei muitos anos perseguindo a maior de todas. Cismei que ia
ter esse título, mais difícil ainda por eu ser uma mulher disputando em um mundo de homens, e fui
atrás dele com persistência. Quase morri em 2013 no mar de Nazaré, em Portugal, hoje o local onde se
formam as ondas mais altas do mundo, e mesmo assim não desisti. Neste ano, aconteceu: surfei uma
onda de mais de 20 metros, a maior da minha vida. Eu consegui, mas a conta não foi nada barata. Tive
meu primeiro contato com o oceano revolto de Nazaré há exatamente cinco anos. Era um mar ainda
pouco explorado, mas cheguei e pensei: se eu quiser ser reconhecida como surfista de onda grande, é
aqui que tenho de praticar.

Fui a primeira mulher a enfrentar as ondas de lá. Depois de vinte dias treinando, o mapa
meteorológico apontou uma ondulação enorme para o dia 28 de outubro daquele 2013.

Continuidade produzida por nós


O céu escuro prometia chuva. Mas o mar, lindo, com aquele tom azul esverdeado típico da região, parecia me
dar boas-vindas. As previstas ondas gigantes arrebentavam na praia com força tão intensa que era impossível não
ficar fascinada. Fui ao encontro delas com a mesma voracidade com que elas pareceram me receber. Éramos eu, o mar,
a prancha, a adrenalina e a equipe de apoio, que de longe filmava e me transmitia segurança.
Depois de conseguir ficar, vários segundos, na crista de uma onda de uns quinze metros, entusiasmei-me. Eu
conseguiria! Mas a força das ondulações logo foi se intensificando e me surpreendeu como se desse seguidamente vários
socos no meu peito. Caí e resisti o quanto pude, colocando em prática as táticas de apneia que havia treinado. Vi
então o colete salva-vidas indo embora. Lutei para impedir que a força da água me arrancasse também a prancha,
presa a meu pé direito. Quando ela se foi, senti uma dor tão violenta por toda a perna que tive certeza de que era o
fim.
Acho que foi ali que quebrei o tornozelo. Começaram naquele instante as cenas do afogamento
que ficaram famosas e até hoje podem ser vistas em vídeo na internet. Fiquei nove minutos tomando
ondas na cabeça e acabei apagando. Finalmente o Carlos Burle [surfista da mesma equipe] conseguiu
me resgatar de jet ski e me levou para a areia. Fizeram-se os procedimentos de ressuscitação, e eu
recuperei a consciência. Lembro-me de abrir os olhos e ver a praia extensa, o dia nublado, só areia e
céu. Entendi que estava viva e fiquei surpresa, porque eu já tinha me despedido. Morri e voltei.

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Redação UFPR sem mistérios

NARRATIVA A PARTIR DE HISTÓRIA EM QUADRINHOS


 Vestibular 2019/2020 – UFPR

Leia a história em quadrinhos a seguir, até o ponto disponibilizado para a leitura.

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Redação UFPR sem mistérios

Escreva um texto narrativo contando os fatos apresentados no excerto e elabore um desfecho para a
história.

Seu texto deverá:

 fazer a transposição da linguagem visual para a linguagem verbal, na forma de uma narrativa,
fornecendo elementos para que o leitor possa compreender o contexto narrado e o
comportamento e reações dos personagens sem precisar recorrer às imagens;
 propor um desfecho para a história, coerente com o enredo apresentado;
 ter entre 10 e 15 linhas;
 respeitar as características discursivo-formais do gênero solicitado.

Critérios de correção

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Redação UFPR sem mistérios

Texto nota máxima produzido por vestibulando


“Socorro!”. Lembro que isso ecoava repetidamente em minha cabeça naquela fria noite de dezembro. Voltando pra casa,
após uma festa e com muitos goles de cerveja no corpo, resolvi cortar o caminho e seguir por um bosque. Embriagado, perdi a
capacidade cognitiva de perceber que aquela não seria uma boa ideia. Segui em frente sentindo meus pés afundarem na neve
fofinha. Tropecei. Caí em frente a um corpo feminino desmaiado. Sua roupa denunciava que também estivera na festa. Não a
reconheci. Instintivamente, relei em sua pele gélida e senti seu pulso fraco. Voltei a realidade. Saí em busca, dentro da sua bolsa,
de um celular ou algo que denunciasse sua identidade. Em meio a confusão dos seus pertences, um grupo de 3 amigos surge atrás
de uma árvore. Um deles grita:
- O que está acontecendo?! – senti o frio na espinha.
- Eu...Eu estava tentando ajudá-la. Encontrei-a perdida por aqui – respondi.
Não acreditaram na minha explicação. Recebi uma forte pancada na cabeça. Desmaiei. Acordei, tempos depois, trancado
no porta-malas de um carro junto à menina encontrada. A claustrofobia que nunca tivera, me consumiu da cabeça aos pés. Senti
medo, pedi socorro. O carro parou. Estávamos no hospital da cidade. Socorreram a garota e me denunciaram para as autoridades.
Eu seria condenado se não descobrissem antes que ela era vítima de sequestro há 20 anos. Morava no porão da casa em que a
festa acontecia. Fugira naquela noite. Os olhos? Não eram os de ressaca, mas carregavam dor e o sofrimento de tantos anos de
cárcere. Ela não sabe quem sou, mas eu bem sei que nunca esquecerei aquela noite fria de dezembro.

Texto produzido por nós


Minha primeira rave foi bem além de todos os agitos de que já ouvira falar. Bebi e dancei sem parar como, eu já sabia,
eram o lema geral. Entrei no clima e nem me dei conta de que prometi a minha mãe voltar sóbrio pra casa. Só lá pelas tantas da
madrugada, decidi dar um rolê pro efeito do álcool passar.
Perturbador e ao mesmo tempo fascinante o bosque que havia próximo ao casarão em que estávamos concentrados.
Árvores enormes, secas, projetavam sombras misteriosas. O vento, solitário, uivava buscando encontrar eco. Encantado, fui
caminhando. Depois de algum tempo, garganta seca já, enquanto bebia um gole do energético que levara comigo, tropecei e a vi:
linda e loira, sentada sob uma árvore. Só mais uma projeção, pensei. Não era! Uma convidada da festa? Talvez! Aproximei-me:
“Tomou umas a mais, é?” Tamanho o susto ao notar, bem de perto, o real estado da moça, que tombei pra trás. Pobrezinha, toda
desconjuntada. “Tá bom, Relaxa, Ray, Relaxa.” Em novo impulso, voltei a ela, checar-lhe a respiração. Só comprovei o que o
aspecto horripilante já denunciara: mortinha da silva. Grrrr... E eu ali sozinho e sem celular. A bolsa dela? Achei-a e, não
encontrando o “bendito”, joguei tudo no chão. Desesperadamente comecei, então, a sacudir aquela porta-trecos. Foi nesse
momento que vi dois homens e uma mulher morena vindo em minha direção: “O que está acontecendo?”, gritou o mais forte deles.

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Redação UFPR sem mistérios

Tentei dizer algo em minha defesa, mas o rapaz que havia gritado me deu no peito um soco tão violento que apaguei.
Quando recobrei a consciência, o mais fraco e a mulher estavam dando tapinhas em meu rosto, buscando me reanimar. Ela então
se disse dona da bolsa que eu supostamente havia roubado, mas disposta a esquecer o ocorrido, já que nada havia desaparecido.
“E o corpo?”, pensei alto, olhando por todo lado e nada constatando. “Corpo?”, entreolharam-se cinicamente.

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Redação UFPR sem mistérios

CARTA ARGUMENTATIVA
A carta argumentativa é uma modalidade redacional que envolve narração, descrição e
dissertação. A instituição poderá pedir a você que escreva uma carta a um interlocutor específico
(autoridade, personalidade, amigo), ou para um interlocutor genérico (carta do leitor). Essa última
destina-se a ser publicada no veículo a que é endereçada (jornal, revista, site) e caracteriza-se por se
relacionar com publicações desse meio de comunicação. É útil para o remetente, que pode criticar, elogiar
comentar matérias, sugerir pautas, etc., e para o próprio veículo, que pode assim aferir a própria
popularidade e o engajamento com o público gerado por determinado conteúdo.

Atente para os seguintes itens indispensáveis em uma carta:

1 – Vocativo - Na carta do leitor, a própria Federal costuma colocar um “Sr. Editor”, para facilitar. Mas,
se não estiver escrito, você deve eleger o editor como seu interlocutor e manter a forma já sugerida pela
Universidade. Nesse caso, não repita o vocativo ao longo da carta. Já, na carta a um interlocutor definido
(uma autoridade, um amigo, um autor X....), há não só necessidade de colocar o vocativo no início do
texto – adotando um pronome de tratamento respeitoso, se for uma autoridade ou qualquer pessoa
com quem você não tem intimidade –, como também de reiterá-lo algumas vezes na carta.

2- Contexto – Crie um contexto em que você dê ao seu interlocutor as informações básicas para que ele
saiba do que você está falando. Por exemplo. “Com relação à matéria publicada neste jornal no dia
10/04/20...” (carta de leitor) ou “Com relação ao ponto de vista defendido pelo Senhor em...” (carta com
interlocutor específico). Cuidado para não incorrer num erro muito comum que é o de iniciar o texto
com “Esse é um problema muito sério...” Afinal, qual é o problema muito sério? Se não houver
contextualização, o leitor não saberá a que você se refere. Cuidado também para não escrever à revista
ou jornal como se estivesse se dirigindo a um outro veículo. Por exemplo, não escreva à Folha de S.
Paulo dizendo "Li na Folha de S. Paulo...”; diga “Li aqui na Folha...” ou “Li aqui neste jornal...”.

3 - Opinião- Note que você está escrevendo para esta pessoa ou jornal exatamente porque quer opinar
sobre algo. É preciso que a sua opinião apareça; do contrário, o seu texto não faz o mínimo sentido. Evite
um recurso muito usual que é o de simplesmente criticar opiniões contrárias sobre o tema em questão,
sem, no entanto, apresentar a sua opinião.

4 - Argumentação - Um texto de opinião sem argumentação é um texto oco, que não convence ninguém.
Procure ser convincente. Use, para isso, exemplos, dados, autoridades, comparações, discutindo as ideais,
questionando contradições. Valha-se da contra-argumentação. Para isso, tente ver falhas ou lacunas no
posicionamento a que você está se opondo. Aponte-as e busque refutar o ponto de vista em questão.

5 – Expansão lexical - Se você está escrevendo diretamente para um interlocutor, que tem nome,
profissão, cargo, procure explorar isso em sua carta, para evitar repetições. Vamos supor que você esteja
escrevendo uma carta ao diretor se sua escola, que também é professor e se chama Mário Ferreira. Você
pode chamá-lo num primeiro momento de diretor, num outro de professor e, ainda, de sr. Ferreira. Não
use o primeiro nome quando retoma o vocativo, a não ser que a carta seja a um amigo. .

6 - Uso do texto- base - Dependendo do modelo, pode-se pedir a você que responda determinada pessoa
que escreveu um texto a que você tem acesso. Nesse caso, para a sua argumentação, você deve
parafrasear trechos do texto-base. Por exemplo, “O senhor afirmou, em entrevista concedida à revista

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Redação UFPR sem mistérios

Veja (ed. 1732), que os juros não aumentariam neste ano. No entanto, o que percebemos, senhor
Ministro...”.

7 - Fuja das expressões surradas - Na produção de textos, devemos evitar frases feitas e expressões
desgastadas (os chamados clichês). Na carta, não é diferente. "Escrevo-lhe estas mal traçadas linhas" ou
"Espero que esta vá encontrá-lo gozando de saúde", ou” Venho através desta carta…”

8 – Despedida – evidentemente, depois de concluir a carta, há necessidade de se despedir do interlocutor.


Se a carta for para um veículo de comunicação, você pode agradecer a atenção ou simplesmente usar
um “Atenciosamente” ao final, mais nada, já que, no contexto de vestibular, marcas identificatórias são
proibidas. É preciso atentar a comandos específicos, como “Assine como Um leitor ou Uma leitora”, que
são raros, mas podem acontecer. Se a carta for para interlocutor específico, conclua-a e se despeça
formalmente, se o destinatário for uma autoridade - “Respeitosamente.” -, mas, se for um amigo, adote
o tratamento informal – “Um grande abraço”, por exemplo.

CARTA DIRIGIDA A REVISTA OU JORNAL

 Vestibular 2011/2012 - UFPR


Leia o texto e o infográfico sobre as implicações da meia-entrada.

Escreva uma carta dirigida à seção “Cartas” da revista Superinteressante, manifestando sua opinião
sobre a existência da meia-entrada. O seu texto deve, necessariamente:

a) manifestar um ponto de vista em relação à questão tratada;

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Redação UFPR sem mistérios

b) retomar argumentos do infográfico para dar sustentação a sua opinião (você poderá reafirmar esses
argumentos ou contrapor-se a eles);
c) ter de 12 a 15 linhas.

Obs. A sua carta NÃO deverá ser assinada. Qualquer sinal de identificação invalida sua prova.

Texto produzido por nós

Sr. Editor,
Ao ler a matéria sobre meia-entrada para estudantes (julho/2021) - como professora
de Literatura de escolas periféricas- não pude deixar de me manifestar. É sabido que a
cultura é elitista e chega aos nossos alunos de forma parca. A conquista da meia-entrada,
ao contrário de um fardo, como alguns alegam, é sem dúvidas um acesso, embora mínimo.
Eu sou da geração da UNE e usufruí dessa benesse. Triste saber que a mesma geração que
outrora lutou pela meia-entrada hoje engrossa a corrente dos que a criticam.
Embora os dados retratem que, de cada 100 pessoas, 80 pagam meia, encarecendo o
valor dos outros 20 ingressos integrais, é preciso levar em consideração que a venda do
ingresso pela metade do preço atrai mais pessoas e isso acaba aumentando o lucro. Sem
contar que o Brasil é um país desigual. Compará-lo com Estados Unidos, Reino Unido e
Chile, onde se aplica o desconto de 30%, não tem nexo. Por aqui ainda precisamos manter
os 50%.

 Vestibular 2006/2007 - UFPR


A partir das anotações abaixo, colhidas de fontes diversas, elabore uma carta, a ser encaminhada a um
jornal, em que você delimite as diferenças entre grafite e pichação, pedindo providências às
autoridades competentes sobre essas práticas em sua cidade. Use de 10 a 12 linhas.

 Atualmente, a pichação serve principalmente para a comunicação entre gangues e guetos e para a
marcação de seus territórios.
 Grafite é a designação para as pinturas feitas em muros e paredes na rua.
 A pichação é marcada pelo conteúdo político-social e pelo relaxamento estético.
 Muitos consideram o grafite um ato de vandalismo, que suja os muros e paredes.
 O grafite pretende registrar uma visão de mundo, ser uma forma de arte que põe em xeque os meios
de expressão convencionais.
 É preciso fazer a distinção entre grafiteiros e pichadores.

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Redação UFPR sem mistérios

 Pichar sinalizações, prédios públicos e monumentos com palavrões e mensagens tolas é uma atitude
inaceitável.
 Alguns grafiteiros usam moldes vazados de cartolina (técnica do estêncil), que são apoiados sobre os
muros e recebem jatos de spray para a transferência das figuras.
 O grafite já foi incorporado à paisagem dos grandes centros urbanos.

IMPORTANTE: NÃO ASSINE A CARTA NEM USE QUALQUER OUTRO SINAL DE IDENTIFICAÇÃO.

Texto produzido por nós


Sr. Editor,
Mais uma vez, chego a minha escola pela manhã e me deparo com a fachada toda pichada. Até quando?
Pichar, com inscrições tolas, prédios públicos e monumentos é uma atitude inadmissível. Foi-se o tempo em que esse
tipo de manifestação representava uma juventude engajada politicamente. Atualmente, a pichação serve
principalmente para a comunicação entre gangues e para a marcação de seus territórios, na esteira também enfeando
a cidade. Por outro lado, parece que poucos se deram conta de que o grafite – pintura feita em muros e paredes na rua
- já foi incorporado à paisagem dos grandes centros urbanos, embelezando-a. Com o objetivo de colocar em evidência
uma nova visão de mundo e subverter os meios de expressão convencionais, o grafite desponta como arte que, inclusive,
já consagrou, no exterior, artistas nossos como Os Gêmeos, que têm obras em vários países da Europa.
Em face a essas distinções e porque considero a arte um importante instrumento de integração social, solicito
às autoridades competentes, como nosso excelentíssimo prefeito e secretários municipais, que medidas sejam tomadas
no sentido de impedir manifestações grosseiras e desprovidas de caráter artístico, como a pichação, e de incentivar
formas legítimas de expressão – tão caras aos jovens desse município –, como é o caso do grafite. Grata!

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Redação UFPR sem mistérios

CONTINUIDADE DE TEXTO
A continuidade é uma tipologia textual que exige que você dê sequência a um texto, iniciado por
outra pessoa, mantendo a progressão do tema de forma coerente e coesa. Para tanto, você precisa estar
muito atento. Observe:

 Gênero – Mantenha o gênero a que o texto original pertence. Se o original é uma reportagem/
notícia, o correto é que não haja na sequência a manifestação de opiniões de quem está
escrevendo. O inverso também se aplica: quando o texto-base for um artigo, a sequência deverá
ser também opinativa e, nesse caso, pode apresentar informações se elas estiverem a serviço da
defesa do ponto de vista.
 Inserção de novas informações - Nesse item a pertinência e a progressão das ideias são avaliadas.
Evite a repetição, a circularidade. Num artigo, por exemplo, você precisa perceber a tese do autor
e buscar sustentá-la, de modo que o texto avance.
 Aspectos formais – Se o texto se inicia em 1ª pessoa, a sequência deve preservá-la; o mesmo
ocorre, quando em 3ª. Se a linguagem adotada no texto-base for formal, é assim que você deve
mantê-la; o mesmo se aplica à linguagem informal e à técnica. Observe ainda se o autor do texto
original adota períodos mais longos ou mais curtos ou se os alterna e tente manter o estilo. Fique
muito atento a aspas que ainda não foram fechadas, parênteses abertos e ao número de
parágrafos proposto na questão.

 Vestibular 2014/2015 - UFPR


Leia o trecho de Jr. Bellé (Revista Cultura, 02 jun.2014) e escreva um parágrafo que dê continuidade à
ideia explorada pelo autor, mantendo as características do gênero. O parágrafo deve ter no mínimo 5 e
no máximo 7 linhas.

Você já se perguntou o que é brasilidade? Inúmeros cientistas sociais, historiadores, escritores e


pensadores dedicaram-se a escavar esse termo, desmembrá-lo a fim de mapear e entender o que nos
constitui como brasileiros. Nascer em solo nacional é a resposta mais óbvia, mas também a mais rasa.
Afinal, todo território é volátil. O Acre nem sempre foi brasileiro, o Uruguai já foi nossa Província
Cisplatina, o Mato Grosso do Sul ganhou uns tantos hectares com a vitória da Tríplice Aliança na Guerra
do Paraguai. Além do mais, alguma vez passou por suas ideias o porquê de a América Portuguesa, ou seja,
nós, não termos nos dividido, nos recortado em pequenas nações, como aconteceu com a porção
espanhola? Há motivações para além do processo civilizatório e da falta de unidade administrativa por
parte dos Hermanos.

Texto produzido por nós

Para construir a identidade de um povo, é preciso considerar os elementos que importam para toda a nação em
conjunto, que a comovem em qualquer circunstância. No caso brasileiro, falando “macaxeira” ou “mandioca”, “uai” ou
“bah, tchê”, idolatramos Pelé, Ayrton Senna, Marta. Gostamos de criticar Maradona. Esporte é aqui fator de
agregação nacional. Ídolos também. Música e literatura certamente. Somos todos Luiz Gonzaga, Cazuza e
Pixinguinha. Somos o “samba, a voz do morro”. Sim, senhor! Somos os severinos, “iguais em tudo na vida”. Falamos
todos o português, não o de Fernando Pessoa, mas o de Machado de Assis, o de Clarice Lispector, o que nos permite
ser e estar. Nossa brasilidade resulta, sem dúvida, dessa pluralidade que nos é singular.

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Redação UFPR sem mistérios

 Vestibular 2012/2013 - UFPR


Leia abaixo os parágrafos iniciais de um texto de Rosely Sayão (Folha de S. Paulo, 01 maio 2012). Escreva
um ou dois parágrafos – 8 a 10 linhas – dando continuidade ao texto, sem necessariamente concluí-lo.
Uma continuação adequada deve:

 apresentar uma articulação clara com os parágrafos iniciais;


 introduzir informações novas, que garantam a progressão no tratamento do tema.

A família passou do singular ao plural. Antes, havia "a família". Quando nos referíamos a essa
instituição todos compartilhavam da mesma ideia: um homem e uma mulher unidos pelo casamento,
seus filhos e mais os parentes ascendentes, descendentes e horizontais. E, como os filhos eram vários, a
família era bem grande, constituída por adultos de todas as idades e mais novos também.

Pai, mãe, filhos, tios e tias, primos e primas, avós etc. eram palavras íntimas de todos, já que sempre
se pertence a uma família. Quando as palavras "madrasta" ou "padrasto" ou mesmo "enteado"
precisavam ser usadas para designar um papel em um grupo familiar, o fato sempre provocava um
sentimento de pena. É que na época da família no singular isso só podia ter um significado: a morte de
um dos progenitores.

Mas essa ideia de família só sobreviveu intacta até os anos 60.

Texto produzido por nós

Daí para frente muita coisa mudou. Com o advento da pílula anticoncepcional, a instituição do
divórcio e a consequente liberdade sexual conquistada pelas novas gerações, outros formatos familiares foram
se originando. Mulheres sozinhas com filhos, casais que já passaram pelo divórcio e se casaram de novo,
juntando sob o mesmo teto frutos de outros casamentos, casais homossexuais com ou sem filhos são exemplos
dessas configurações. Até mesmo o título de tio ou tia passou a ser utilizado não apenas para parentes mas
para proximidades afetivas, como pode ser o caso dos padrastos.
Sem dúvida, pluralizou-se a família e isso, ao contrário do que defendem os conservadores, é uma
amostra, em grande medida positiva, da flexibilização requerida pelo bem viver. Alterou-se o formato, que

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Redação UFPR sem mistérios

pode ser decidido conjuntamente entre os integrantes, e passou a ser o afeto – ou, se o leitor preferir, o amor
– não mais as convenções, a condição imprescindível para que essas uniões não se dissolvam.

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TRANSFORMAÇÃO DE DISCURSO DIRETO PARA


INDIRETO
O discurso direto é caracterizado pela fala dos personagens, sem a intermediação de um narrador,
geralmente travando um diálogo. É marcado por rubricas, aspas ou travessões. Em jornais e revistas é
frequentemente utilizado em entrevistas. Por outro lado, o discurso indireto caracteriza-se pela presença
de um narrador que se faz intérprete das falas das personagens e conta o que elas disseram.
Discurso direto:
– Como cientista, quero que todos tenham oportunidade de pensar em formas de melhorar nossa
civilização. (Neil Degrasse Tyson)

Discurso indireto:
Neil Degrasse Tyson afirmou que, na condição de cientista, deseja que todos tenham chances de
pensar em modos de aprimorar a civilização.

 Provavelmente será cobrado um texto sobre um fragmento de uma entrevista.


 Você deve citar a fonte completa da entrevista: veículo de publicação, data, nome do
entrevistado e autoridade (médico, advogado, escritor, deputado, etc.)
 Você deverá fazer a correspondência entre o discurso direto e o indireto, mantendo as
informações do texto original, sem acrescentar, sem opinar.
 Muita atenção à transposição. Não se deve repetir as estruturas do diálogo com a simples inserção
de expressões como: “ele perguntou se...”, “ela disse que...”, “ele respondeu que...”, ou “e ai ele
perguntou se...”, “e ela ainda disse que...”.
 Assim como no resumo, você deve parafrasear as ideias da entrevista, usando as próprias
palavras. Atente para a expansão lexical na hora de se referir ao entrevistado para que não fique
repetitivo seu texto.
 O discurso indireto vale-se de recursos textuais como verbos de elocução para indicar o discurso
de outro. Ex. salientar, ressaltar, afirmar, responder, argumentar, esclarecer etc., e de expressões
conformativas, como conforme, segundo, consoante, etc.
 O comando nesse tipo de texto pode aparecer de duas formas:

1) Exponha claramente, em discurso indireto, as perguntas e respostas. Nesse caso, evite o excesso de
verbos no particípio, como perguntado, questionado, indagado. Prefira construções como: sobre a
questão tal........ salientou que.... / Acerca de ....... deixou claro que.... / A respeito da..... destacou.... /
Em relação ao fato.... respondeu que......
2) Exponha, em discurso indireto, o ponto de vista do entrevistado. Nesse caso, as perguntas podem
ficar implícitas apenas, não havendo a obrigação de apontar-lhes o conteúdo, a menos que seja necessário
para o entendimento da resposta.

 Usar sempre a terceira pessoa.


 Não se valha de nenhuma marca do discurso direto como aspas e travessões.

 Vestibular 2015/2016 - UFPR


Leia abaixo um trecho da entrevista do físico Marcelo Gleiser ao jornal Zero Hora.

Zero Hora — O senhor veio a Porto Alegre para falar sobre “ética na ciência”. Curiosamente, uma
recente coluna sua sobre o tema está repleta de pontos de interrogação. O texto é uma sucessão de
perguntas difíceis. O senhor já chegou a alguma resposta?

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Redação UFPR sem mistérios

Gleiser — Nessa coluna, comecei tratando do romance Frankenstein, um dos símbolos mais poderosos
sobre a questão da ética na ciência. Esse romance, de força mítica profunda, diz que existem certas
questões científicas que estão além do que os humanos podem controlar. Mesmo que tecnologicamente
possamos fazer algo — caso do doutor Victor Frankenstein, ao ressuscitar um cadáver usando eletricidade
— não significa que moralmente estejamos prontos para fazê-lo. Você me pergunta se eu tenho respostas.
O que a gente está tentando é começar a fazer as perguntas certas. Porque só quando se faz as perguntas
certas é possível começar a encontrar algumas respostas.

ZH — E estamos prontos para chegar a essas respostas?

Gleiser — A questão em que você está interessado é se temos maturidade moral para decidir. E a resposta
é simplesmente a seguinte: não. Não temos maturidade moral para certas questões. Mas isso não significa
que a gente não deva fazer a pesquisa. Existe a ideia da Caixa de Pandora, onde estão guardados todos os
males do mundo, e se você abre a Caixa de Pandora tudo escapa. As pessoas veem a ciência como um
tipo de Caixa de Pandora: “Ah, esses cientistas ficam fuxicando, descobrem problemas sérios e depois a
sociedade fica à mercê de avanços sobre os quais não temos controle”. Na verdade, não é nada disso. A
ciência tem de ter total liberdade de pesquisa, contanto que certas questões sejam controladas ou pelo
menos monitoradas por corpos especiais. Por exemplo, a questão da clonagem humana. Para mim, essa
é uma das áreas que deveriam ser controladas com muito cuidado.

ZH — Quem deveria decidir as regras sobre o que se pode fazer?

Gleiser — Essa é a grande questão. Quem decide o que pode e o que não pode? Quem tem o direito de
decidir por todas as pessoas? Acho que deveria haver uma aliança entre o Judiciário e um corpo de
cientistas escolhido por órgãos do governo para estabelecer regras. Mas, infelizmente, qualquer
tecnologia que possa ser desenvolvida mais cedo ou mais tarde vai ser desenvolvida.
(Zero Hora. 13 out 2013.)

Exponha as principais ideias de Marcelo Gleiser num texto de 8 a 10 linhas, totalmente em discurso
indireto.

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Redação UFPR sem mistérios

Texto produzido por nós


A existência ou não de respostas relacionadas à ética na ciência, os limites das pesquisas científicas e a
quem caberia essa imposição de regras foram os temas discutidos pelo físico Marcelo Gleiser, em entrevista ao
jornal Zero Hora (13/10/13). Para esclarecer o papel da ética na ciência e ilustrar o surgimento de questões
científicas fora do controle humano, Gleiser cita o romance Frankenstein. Destaca então que, mesmo existindo
tecnologia suficiente, por exemplo, para trazer um cadáver à vida – caso que ocorre no citado livro –, pode haver
barreiras morais para isso. Porém, mesmo nessas circunstâncias, o físico defende o desenvolvimento das pesquisas,
com total liberdade de investigação, desde que certos temas – a clonagem humana, por exemplo – sejam regulados
por órgãos especiais, como uma junção do Judiciário e um corpo de cientistas escolhidos pelo governo. Finaliza
lamentando a certeza da criação de toda tecnologia que puder ser desenvolvida.

 Vestibular 2009/2010 - UFPR


Leia abaixo um trecho da entrevista do filósofo e escritor suíço Alain de Botton à revista Época. Na
entrevista, De Botton discute a relação do homem com o trabalho, questão abordada no seu livro mais
recente: Os Prazeres e Desprazeres do Trabalho (Ed. Rocco).

Época: É possível ser feliz no trabalho?

De Botton: Sim, assim como é possível ser feliz no amor. Todos nós conhecemos pessoas que têm
relacionamentos maravilhosos. Conhecemos também pessoas que têm trabalhos maravilhosos. Elas
amam o que fazem. Mas é uma minoria. Para a maior parte das pessoas algo está errado. Pode ser que,
em algum momento, as coisas tenham ido bem, mas depois elas acabaram perdendo o interesse no
trabalho. Pode ser que as coisas nunca tenham ido bem para elas. A ideia de que todos podemos ser
felizes no trabalho é bonita. Mas, no atual estado da economia, da política e até da psicologia, isso é
impossível.

Época: Por que é tão difícil ser feliz no trabalho?

De Botton: Por diversas razões. Pode ser muito difícil saber o que você quer fazer com sua vida. Existe
gente que diz “eu quero fazer algo para ajudar as outras pessoas”, mas não sabe exatamente o que fazer,
nem como fazer isso. Outras pessoas dizem “quero fazer algo criativo”, mas também não sabem como.
Há certo mistério para conseguir o que queremos. Há também muitos obstáculos. Qualquer
empreendedor, ao abrir seu negócio, terá de superar a inércia do mercado para se estabelecer. Um
indivíduo que entrou num novo emprego enfrenta um problema parecido para mostrar ao mundo que
ele existe. É uma tarefa difícil, em qualquer ramo de atividade. É sempre algo extraordinário quando
alguém ama o que faz – e é bonito ver isso acontecer.
(Época, 26 set. 2009, p. 114. Texto adaptado.)

Escreva um texto de 08 a 12 linhas, em discurso indireto, sintetizando essa entrevista. Seu texto deve:

 deixar claro que se trata de uma entrevista, indicando a fonte;


 explicitar a que perguntas o entrevistado respondeu.

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Redação UFPR sem mistérios

Texto produzido por nós


Em entrevista concedida à revista Época em 26 de set de 2009, o filósofo e escritor suíço Alain De
Botton, autor do livro “Os prazeres e desprazeres no trabalho”, reflete sobre a relação do homem com o labor e a
felicidade. Questionado se é possível ser feliz trabalhando, pondera que isso é passível de comparação com a
felicidade no amor, já que em ambos os casos uma minoria encontra-se totalmente satisfeita. Para De Botton, o
ideário de que todos podem ficar plenamente realizados na atividade laboral é bonito, mas não condiz com a atual
realidade da economia, da política e até da psicologia. Acerca de por que é tão raro chegar a essa plenitude, o
filósofo elenca algumas causas. Uma delas, pontua, é a dificuldade de escolha do que se quer fazer, que pode vir
associada à dúvida de como colocar em prática essa atividade. A outra diz respeito às dificuldades impostas pelo
próprio mercado de trabalho, quer seja para um funcionário se destacar, quer seja para um empreendedor se manter
em períodos de estagnação desse mercado. Por fim, De Botton enaltece a beleza que existe na extraordinariedade
do encontro entre completa realização e trabalho.

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Redação UFPR sem mistérios

TEXTOS LITERÁRIOS
Um dos gêneros mais improváveis da UFPR, o trabalho com textos literários de modo mais direto
caiu pela última vez no concurso de 2014/2015. Caso tal gênero seja solicitado, a UFPR pode ter os
seguintes comandos:

a) Transformação de linguagem conotativa para linguagem denotativa:

O trabalho aqui será você “desmetaforizar” o poema, ou seja, traduzir o que ele traz em forma
de versos para um texto em prosa, objetivo, sem metáforas ou outras figuras de linguagem. Claro que,
como qualquer outro texto da UFPR, você deverá, antes de fazer tal tradução, citar o poema, o poeta e
demais referências que existirem.

b) Análise de poema:

Aqui o que lhe será pedido é que analise algum ponto do poema, geralmente a visão do poeta
acerca de algum tema. Cuidado! A menos que se peça para você opinar sobre tal posicionamento, limite-
se a apresentá-lo e comprovar sua análise com alguns versos.

c) Criar uma narrativa ou redigir uma notícia a partir do poema ou da música:

A UFPR já pediu, com base em música e poema, que o aluno criasse uma narrativa assumindo a
voz de um dos personagens retratados e, no vestibular de 2015, fizesse uma notícia de jornal.

Veja, portanto, que a proposta baseada em texto literário pode pedir de narrativa a texto
opinativo. Aqui o mais importante é você comprovar para a banca que compreende poemas, músicas,
enfim, textos cuja interpretação exigirá de você o máximo de atenção e o poder de entender metáforas.

NOTÍCIA A PARTIR DE POEMA/CANÇÃO

 Vestibular 2014/2015 - UFPR

Adoniran Barbosa é um ícone do samba paulista. Os temas de suas composições giravam em torno dos
tipos humanos mais comuns e da realidade crua de uma metrópole que não para. Em suas músicas,
usou sempre a linguagem popular paulistana para dar vida a suas personagens. “Saudosa Maloca”
(1951) conta um fato, que é retratado a partir do ponto de vista de uma das personagens.

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Redação UFPR sem mistérios

Saudosa Maloca*

*Maloca: casa muito pobre e rústica; lar.

**Pegar uma palha ou puxar uma palha: dormir.

A partir da leitura dessa música, redija uma notícia de jornal que informe ao leitor os fatos narrados.
Seu texto deve:

 ser introduzido por um título (manchete);


 apresentar a narrativa do ponto de vista do veículo de comunicação;
 ser fiel aos fatos apresentados na letra da música, podendo haver acréscimo de detalhes,
inventados por você, que atualizem a narrativa e permitam adequá-la ao gênero “notícia de
jornal”;
 apresentar a linguagem e a estrutura próprias do gênero;
 ter de 7 a 10 linhas.

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Redação UFPR sem mistérios

Texto produzido por nós


Tumulto em reintegração de posse
Nesta segunda-feira (27), pela manhã, chamou a atenção de moradores e transeuntes a intensa movimentação
policial na Rua Domingos Alípio Carneiro, nas proximidades do supermercado Carrefour, centro da capital paulista.
“Era para ser apenas uma pacífica reintegração de posse”, declarou o tenente da PM Aparecido Reis. Porém,
segundo Reis, os policiais foram recebidos com forte hostilidade pelos três moradores que ocupavam o casarão situado no
terreno. Adoniran Barbosa (50), João Carlos dos Santos (46) e José Mato Grosso Pedroso (42) são catadores de recicláveis,
sem antecedentes criminais, e declararam morar no imóvel havia cerca de cinco anos. Contidos, já sem esboçar reação, os três
permaneceram no local durante a demolição do casarão. Alegaram que não teriam para onde ir, que só lhes restariam as ruas.
Benício Monteverde, proprietário da incorporadora que construirá no terreno um moderno edifício residencial, solidarizou-
se com os catadores e prometeu providenciar-lhes nova moradia.

INTERPRETAÇÃO DE POEMA

 Vestibular 2008/2009 - UFPR


Momento num café
Manuel Bandeira
Quando o enterro passou
Os homens que se achavam no café
Tiraram o chapéu maquinalmente
Saudavam o morto distraídos
Estavam todos voltados para a vida
Absortos na vida
Confiantes na vida.

Um no entanto se descobriu num gesto largo e demorado


Olhando o esquife longamente
Este sabia que a vida é uma agitação feroz e sem finalidade
Que a vida é traição
E saudava a matéria que passava
Liberta para sempre da alma extinta.
(BANDEIRA, Manuel.50 poemas escolhidos pelo autor. São Paulo: Cosac Naify, 2006, p. 42.)

O poema de Bandeira apresenta dois pontos de vista diferentes sobre a vida. A partir dessa leitura,
organize um texto observando os seguintes pontos:

 explicite os dois pontos de vista presentes no poema;


 avalie a possibilidade de se afirmar a adesão do poeta a uma ou outra das visões presentes no
poema;
 seu texto deverá ter de 8 a 10 linhas.

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Redação UFPR sem mistérios

Texto produzido por nós


As antagônicas formas de ver a vida. Essa é a base do poema “Momento num café”, de Manuel Bandeira, em que
o poeta modernista separa, em duas estrofes, a distinta reação que os homens que se achavam num café tiveram frente à
passagem de um enterro. Na primeira são retratados os otimistas, os que confiavam na vida e, assim, não refletiam de fato
sobre a morte que passava. Já na segunda estrofe é o pessimismo que toma os versos. Aqui é caracterizado um único homem
que, após longamente voltar o olhar – e a mente – para o esquife, percebe que a vida é “agitação feroz e sem finalidade”.
Pode-se dizer, tanto pela biografia de Bandeira quanto pela forma como o eu-lírico apresenta o pessimista, que
essa é a visão corroborada pelo poeta. Afinal, Bandeira teve a vida tomada pelo medo cotidiano de morrer, já que havia sido
diagnosticado com tuberculose ainda na juventude. Mais que isso, o eu lírico declara que aquele único homem “sabia” que a
vida era traição, o que garante autoridade a tal pensamento. A própria individualização desse modo de ver a vida, como
sendo de um único dos que se encontravam no café, também sugere a adesão de Bandeira.

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