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A perspectiva retórico-argumentativa na
redação do Enem
RESUMO
Flávia Cristina Candido de Este artigo discute os resultados de uma pesquisa sobre as redações do Enem, com foco
Oliveira
flavia_candido@uvanet.br nos estudos da argumentação, postulados por Perelman e Olbrechts-Tyteca ([1958] 2005),
Universidade Estadual Vale do Acaraú,
Sobral, Ceará, Brasil. a fim de analisar as dimensões retórico-argumentativas, considerando os tipos de acordo e
as técnicas argumentativas de maior incidência nas redações. Como corpus de análise, a
Edmar Peixoto de Lima
edmarpeixoto@uern.br pesquisa contempla dezesseis excertos retirados das redações que foram avaliadas e
Universidade do Estado do Rio Grande do
Norte, Mossoró, Rio Grande do Norte, obtiveram a nota 1.000 no ano de 2013. Os resultados evidenciam a presença das técnicas
Brasil. argumentativas vinculadas ao processo de ligação majoritariamente, com destaque para os
argumentos pelo vínculo causal, pertencentes aos argumentos baseados na estrutura do
real, com base no tipo de acordo relativo ao real que comporta os fatos. Em síntese, esta
investigação revela que o uso das técnicas argumentativas em consonância com os tipos de
acordo demonstra o caráter argumentativo da redação do Enem, considerando a situação
sociodiscursiva específica, cujo objetivo é o de influenciar o interlocutor sobre os
posicionamentos apresentados pelo candidato.

PALAVRAS-CHAVE: Tipos de acordo. Técnicas argumentativas. Redação do Enem.

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R. Letras, Curitiba, v. 23, n. 41, p. 27-52, jan./jun. 2021.


INTRODUÇÃO

Os estudos que permeiam a área da argumentação consistem nas análises


textuais sob as inúmeras vertentes teóricas e sob os mais diversos gêneros que
circulam na sociedade. Neste trabalho, delimitamos os aspectos teóricos da
argumentação de base retórica (LIMA, 2017) como orientação na observação dos
dados.

Com base nesse direcionamento, compreendemos que a argumentação se


configura em uma área de estudos que se interessa pela investigação dos aspectos
argumentativos presentes nos textos, contemplando, em seu acervo de análise,
desde temas polêmicos até àqueles em que há a defesa ou a refutação de uma
tese, como ocorre na redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Sobre
a redação, salientamos que ela se caracteriza por ser um texto exigido no exame,
como forma de avaliar os conhecimentos dos candidatos, e que, apesar de,
inicialmente, se caracterizar como um tipo textual dissertativo-argumentativo,
estudos apontam sua condição de gênero textual, conforme Oliveira (2016), que
circula no âmbito escolar.

A pesquisa que originou este artigo se constitui de um corpus composto por


100 redações do Enem, classificadas como redação nota 1.000 e produzidas por
candidatos que se submeteram ao exame no ano de 2013, com o tema “Efeitos da
implantação da Lei Seca no Brasil”. A motivação por esse tema se justifica pelo fato
de o artigo ser um recorte de uma pesquisa¹ mais ampla e ter sido o ano de 2013
o marco temporal da constituição do corpus. Assim, esse trabalho objetiva discutir
os resultados da pesquisa, destacando, sobretudo, os aspectos da estrutura
interna da redação, com foco nos pressupostos teóricos da argumentação,
especificamente, nas dimensões retórico-argumentativas do texto.

Estas abordagens se materializam nas análises por meio de quatro categorias


norteadoras, destacadas a seguir: i) aproximação dos gêneros elencados por
Aristóteles (judiciário ou forense; deliberativo ou político; epidítico, panegírico ou
cerimonial); ii) tipos de auditório (universal e particular); iii) tipos de acordo (real
e preferível); e, por fim, iv) técnicas de argumentação.

Em suma, respaldamo-nos sobre a noção de gêneros abordada por Bakhtin


(1997) e Miller (2009); com relação aos tipos de acordo, de auditório e sobre as
técnicas argumentativas, aludimos aos preceitos defendidos por Perelman e
Olbrechts-Tyteca ([1958] 2005). Apontamos ainda que os acordos evidenciados
pelos autores supracitados se relacionam tanto com o auditório a quem o orador
se dirige tanto com os valores que são acionados por ele no momento de defender
as teses. Por essa razão, a análise textual, neste artigo, configura-se em uma ação
que considera a interação dos elementos na observação dos dados.

Esclarecidos esses pontos, apresentamos, em seguida, os aspectos que


contemplam a redação do Enem como um gênero textual presente e necessário
nas práticas sociais escolares.

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1. A REDAÇÃO DO ENEM COMO GÊNERO DO DISCURSO E DE AÇÃO SOCIAL

A nossa discussão, primeiramente, consiste em elucidar o posicionamento de


que a redação do Enem é um gênero textual que circula no âmbito escolar.
Tomamos como base a concepção de gênero do discurso defendida por Bakhtin
(1997), uma vez que assumimos a visão de que uma abordagem do gênero não
pode desconsiderar os aspectos sociais e os discursivos do texto. Acrescentamos,
a tal percepção, a noção de gênero como ação social tipificada de Miller ([1984]²
2009), inserido em uma comunidade retórica.
O termo “gênero do discurso”, para Bakhtin (1997), é definido como tipos
relativamente estáveis de enunciados ou formas relativamente estáveis e
normativas do enunciado. Rodrigues (2007, p. 163), discutindo essas questões com
base na teoria bakhtiniana, afirma que o filósofo “olha os gêneros a partir da sua
historicidade (eles não são unidades convencionais) e lhe atribui a mesma natureza
dos enunciados (natureza social, discursiva e dialógica), ao tomá-los como seus
tipos históricos”. Segundo Bakhtin (1997, p. 279), “o enunciado reflete as
condições específicas e as finalidades de cada uma dessas esferas, não só por
conteúdo (temático) e por seu estilo verbal, [...] mas também, e sobretudo, por
sua construção composicional”.
Como gênero, a nosso ver, a redação do Enem apresenta uma temática
preestabelecida pelo exame e que deve ser desenvolvida em linguagem escrita na
modalidade padrão da língua. Com relação aos seus aspectos composicionais, é
um texto direcionado para a organização de uma sequência argumentativa e se
configura na seleção e na hierarquização de argumentos que comprovem um
ponto de vista central ou a defesa de uma tese. Logo, a superestrutura desse
gênero exige uma unidade que contenha uma proposta de intervenção como
solução plausível para os problemas discutidos ao longo do desenvolvimento
argumentativo. Sob esse viés, as categorias bakhtinianas definidas como tema,
composição e estilo podem ser, portanto, identificadas com facilidade no texto.
Fato que comprova a redação do Enem como um gênero do discurso nos preceitos
defendidos por Bakhtin.
De acordo com a noção suscitada por Miller (2009), sobre a concepção do
gênero como ação social, a redação do Enem, para nós, também reflete esse
aspecto. Assim, fundamentamo-nos na definição de situação que estabelece a
ação humana como baseada em significado e no processo de interpretação que se
encontra no centro da ação, envolvendo um contexto de situação e de motivos.
Acerca da definição de situação, essa redação adquire significado, pois uma de suas
finalidades é verificar a produção textual de estudantes que finalizaram o Ensino
Médio, instigando a elaboração de um texto com argumentos e posicionamentos
que versem sobre uma situação social, científica, cultural e política. Uma vez que
consiste em uma ação significante, a construção da redação é interpretável por
meio de regras, ou seja, há uma composição estrutural exigida, denominada de
dissertativo-argumentativa, mas também por níveis hierárquicos, tais como: a
ação para uma locução e a ação para o ato de fala. Esses níveis inserem a redação
num contexto social, redimensionando-a para outras ações que extrapolam as
duas citadas.
Miller (2009) estabelece conexões entre as novas concepções da retórica
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como ação simbólica e os estudos em crítica retórica e sociologia, enfocando a
tipificação retórica e social. Para a autora, o gênero é compreendido como uma

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“ação retórica tipificada”, ou seja, as situações são recorrentes, por essa razão,
podemos “tipificá-las” por analogias e semelhanças relevantes. Dessa forma, a
ação social da redação do Enem funde-se à forma e à substância, visto que a
substância mobiliza o sentido semântico e simbólico em um contexto social e
histórico.
Assim, da definição de gênero proposta por Miller, tomamos, dentre os cincos
aspectos tratados pela autora, apenas o primeiro que se refere “a uma categoria
convencional de discurso baseada na tipificação em grande escala da ação retórica;
como ação adquire significado da situação e do contexto social em que essa
situação se originou” (MILLER, 2009, p. 41). Por conseguinte, apropriamo-nos da
concepção de gênero defendida pela pesquisadora, porque compreendemos a
redação do Enem como um texto tipificado com ampla ação retórica e que adquire
significados tanto na situação sociodiscursiva como no contexto social em que está
inserida.
Com relação à perspectiva situacional, acrescentamos ser a redação um
gênero que se apresenta sob uma esfera ampla de circulação. Isso porque é um
texto que passa por um processo de correção, cujo objetivo consiste em
selecionar, hierarquicamente, por meio de uma avaliação que se compõe de cinco
competências³, as melhores redações. E, quando essas produções obtêm
excelência na classificação, algumas delas são divulgadas em sites como um padrão
a ser seguido, ou seja, são consideradas como “bons exemplares” de redação.
Em suma, as três características dos gêneros em Bakhtin – o conteúdo
temático, o estilo e a construção composicional –, que integram a forma de
organização do texto, atreladas à noção de gênero como ação social contribuem
significativamente para o desenvolvimento analítico das redações. Essas
contribuições se justificam por entendermos que Bakhtin e Miller compreendem
os gêneros como ações humanas que podem ser interpretadas quando lhes são
atribuídas intenções marcadas no tempo e no espaço. Para Miller, o importante
não é classificar ou nomear o gênero, mas entender como funciona; e, para nós,
seguindo o mesmo raciocínio, intentamos compreender como se caracteriza e
quais aspectos evidenciam o gênero redação do Enem.
Com a finalidade de compreender o comportamento do gênero textual em
estudo, seguimos nosso percurso teórico com as discussões sobre os elementos da
argumentação que servem de embasamento para se observar os aspectos
retórico-argumentativos presentes na construção do texto.

2. REVISITANDO OS TIPOS DE ACORDO PARA OS EFEITOS DA ARGUMENTAÇÃO

Com a publicação do Tratado da Argumentação: a Nova Retórica, Perelman e


Olbrechts-Tyteca ([1958] 2005) reavivaram a retórica dos clássicos, em especial, a
de Aristóteles ([384-322 a.C.] 2011), e deram um novo status a esses estudos em
diversas áreas, tais como: no direito, na linguística, no marketing e na propaganda.
Nessa obra, o estudo das premissas da argumentação trata da maneira como se
desenvolvem os raciocínios aristotélicos4 por meio de um conjunto de processos
de ligação e de dissociação. Os autores do tratado afirmam que o desenvolvimento
e o ponto de partida da argumentação pressupõem um acordo do auditório –
Página | 30 universal e particular – que tem por objeto ora premissas explícitas, ora ligações
particulares utilizadas, ora a forma de servir-se dessas ligações. Por essa razão, as

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técnicas por eles desenvolvidas contribuem para verificar, nas redações do Enem
que compõem este corpus, as escolhas que são realizadas pelo seu produtor.
Ainda sobre os aspectos da argumentação, os autores tratam dos tipos de
acordo que são agrupados em duas categorias: uma relativa ao real, que comporta
os fatos, as verdades e as presunções, ligada ao auditório universal; e outra relativa
ao preferível, que contém os valores, as hierarquias e os lugares do preferível,
relacionada ao auditório particular.
Os primeiros tipos de acordo pertencentes ao real são os fatos e as verdades.
No que se refere ao fato, não é possível mobilizar uma definição exata. Assim,
Perelman e Olbrechts-Tyteca ([1958] 2005) relacionam a acepção de fato com o
que eles mesmos denominam de acordo do auditório5 universal, ou seja, o
auditório corresponderia, nesse caso, a todos os seres humanos adultos. Do ponto
de vista argumentativo, só se considera um fato se puder postular a seu respeito
um acordo universal não controverso. Entretanto, há dois modos normais para que
um acontecimento perca o estatuto de fato: quando são levantadas dúvidas no
seio do auditório ao qual é apresentado e quando se amplia esse auditório. Dessa
forma, os fatos definem-se como objetos de acordo precisos e/ou limitados.
Já as verdades são sistemas complexos, relativos a ligações entre fatos, que
podem tratar de teorias científicas, de concepções filosóficas ou religiosas. Desse
modo, “quando uma primazia dos fatos ou das verdades resulta da maneira de
conceber-lhes as relações recíprocas, fatos e verdades não podem ser utilizados
exatamente da mesma forma como ponto de partida da argumentação”
(PERELMAN; OLBRECHTS-TYTECA 2005, p. 78). Nesse sentido, podemos
compreender a noção de verdade como um fato considerado possível ou real no
contexto social.
No caso das presunções, elas também tomam parte do acordo com o auditório
universal. A adesão às presunções não é máxima, pois se espera que essa adesão
seja reforçada por outros elementos acionados coletivamente e compartilhados
pelo orador e o auditório a quem os discursos se direcionam. Ou seja, uma
argumentação prévia tende a estabelecer que certas presunções existam, bem
como tende a mostrar que se está na presença de um fato. Consequentemente, a
presunção, por natureza, está sujeita a ser reforçada; já os fatos e as verdades
pautam-se pela realidade concreta ou por uma verdade aceita.
Perelman e Olbrechts-Tyteca (2005, p. 79) afirmam que “o uso das presunções
resulta em enunciados cuja verossimilhança não deriva de um cálculo aplicado a
dados de fato e não poderia derivar de semelhante cálculo, mesmo aperfeiçoado”.
Desta maneira, a presunção pode apresentar-se das seguintes formas: presunção
a partir da qualidade de um ato que manifesta a pessoa que o praticou; presunção
por credulidade natural, presunção de interesse, e presunção que se refere ao
caráter sensato de toda ação humana.
Enfim, compartilhamos do entendimento defendido por Haret (2009, p. 730)
de que a presunção “nasce de um consenso, de uma ideia da opinião comum”. E,
por essa razão, presumir está vinculado à noção de emitir um juízo de valor sobre
algo ou alguma coisa, portanto, não se relaciona a uma verdade de caráter
comprovativo, já que não se tem certeza sobre o dito.

Página | 31 Por outro lado, de acordo com os autores do tratado da argumentação, a


segunda categoria relativa ao preferível apresenta os valores, as hierarquias e os

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lugares do preferível direcionados ao auditório particular. Os valores são crenças,
compreendidas “como objetos de acordo que possibilitam uma comunhão sobre
modos particulares de agir” (PERELMAN; OLBRECHTS-TYTECA, 2005, p. 84). Por
vezes, eles intervêm em todas as argumentações, como, por exemplo, no
raciocínio de ordem científica, que se restringe à formação de conceitos e de
regras, constituindo o sistema em questão. E apresentam-se sob duas formas: uma
direcionada aos valores abstratos, que são expressos por analogia a uma relação
concreta e a outra forma relacionada aos valores concretos, que estão vinculados
a um ente vivo, a um grupo determinado ou a um objeto particular.
As hierarquias, por seu turno, estão diretamente ligadas aos valores e
admitem dois aspectos característicos: as hierarquias concretas, que se expressam
pela superioridade dos homens sobre os animais e as hierarquias abstratas, que
expressam a superioridade do justo sobre o útil. De acordo com Perelman e
Olbrechts-Tyteca (2005, p. 92), as hierarquias “são, decerto, mais importantes do
ponto de vista da estrutura de uma argumentação do que os próprios valores. [...]
O que caracteriza cada auditório é menos os valores que admite do que o modo
como os hierarquiza”.
Os lugares da argumentação, no que lhes concerne, remontam aos estudos
aristotélicos. Aristóteles (2011) já os classificava em lugares-comuns, que servem
indiferentemente a qualquer ciência, sem depender de nenhuma e os lugares
específicos, próprios de uma ciência particular ou de um gênero oratório bem
definido. Conforme Perelman e Olbrechts-Tyteca (2005, p. 95), “só chamaremos
de lugares as premissas de ordem geral que permitem fundar valores e hierarquias
e que Aristóteles estuda entre os lugares do acidente”. Assim, esses lugares
constituem as premissas mais gerais e justifica a maior parte das escolhas
realizadas pelos oradores, pois, a nosso ver, o que interessa é o aspecto pelo qual
os auditórios são instigados a considerar, quando se mencionam os lugares da
argumentação no processo de argumentação. Sob essa perspectiva, esses lugares
se subdividem em: quantidade, qualidade, ordem, existente, essência e pessoa.
Os lugares da quantidade referem-se aos lugares-comuns postulados por
Perelman e Olbrechts-Tyteca (2005, p. 97) “que afirmam que alguma coisa é
melhor do que outra por razões quantitativas”. Nesse caso, os autores revelam o
entendimento de que a preferência concedida ao provável sobre o improvável, ao
fácil sobre o difícil, é considerada como lugar da quantidade, uma vez que esse
lugar se constitui argumentativamente sob a concepção de uma premissa maior.
Ademais, para Perelman e Olbrechts-Tyteca (2005, p. 99), “o que se aparece mais
amiúde, o habitual, o normal, é objeto de um dos lugares utilizados com mais
frequência, a tal ponto que a passagem do que se faz ao que é preciso fazer, do
normal à norma, parece, para muitos, ser natural”. Outro agrupamento é o lugar
de qualidade, que aparece ao se contestar a virtude do número. Na argumentação,
o irreparável é um lugar do preferível pois, quando se refere a um objeto, a base
de sustentação ocorre na medida em que é mobilizada a noção de valor atribuída
ao objeto.
Os lugares da ordem objetivam afirmar a superioridade do anterior sobre o
posterior, como causa ou princípio e como fim ou objetivo. De acordo com essa
denominação, a superioridade dos princípios, das leis sobre os fatos, sobre o
concreto é admitida no pensamento não empirista. Já os lugares do existente
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afirmam a superioridade do que existe e a sua utilização pressupõe um acordo
sobre os elementos vinculados ao real. Enquanto o lugar da essência consiste no
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“fato de conceder um valor superior aos indivíduos enquanto representantes bem
representados dessa essência” (PERELMAN; OLBRECHTS-TYTECA, 2005, p. 106). Os
autores, assim, classificam como uma atribuição de um valor a um indivíduo
concreto, conforme o exemplo em que se confere de imediato um valor a um
coelho que apresenta todas as características próprias desse animal como um belo
exemplar. Por último, o lugar da pessoa confere aos argumentos valores morais,
que relacionam a pessoa a um ato realizado por ela, ressaltando o mérito, a
dignidade, a autonomia, a coragem e o seu senso de justiça.
Diante do exposto, compreendemos ser essa introdução, que trata dos
aspectos referentes aos tipos de acordo ao real e ao preferível, concernentes à
argumentação, um ponto importante no que se refere à base de sustentação das
nossas considerações a respeito das técnicas argumentativas. Tema da próxima
seção e que, a nosso ver, possibilita, entre outras informações, as possíveis
contribuições advindas desta pesquisa.

3. AS TÉCNICAS ARGUMENTATIVAS NA CONSTRUÇÃO DO TEXTO

As técnicas argumentativas são entendidas, de modo geral, como estruturas


que se baseiam nos lugares da argumentação e nos valores acionados nas
produções discursivas. Essas técnicas se configuram em processos de ligação e de
dissociação das noções.
Os processos de ligação se revelam pelo caráter de aproximação existente
entre elementos distintos, estabelecendo uma relação de interdependência. Em
outras palavras, as técnicas que se constituem com essas características são
definidas como os argumentos quase-lógicos, argumentos baseados na estrutura
do real e as ligações que fundamentam a estrutura do real. Já os esquemas por
dissociações se caracterizam pela ideia de separação entre os elementos, definidos
pelos autores da Nova Retórica como dissociação das noções.
Salientamos que, atendendo aos preceitos analíticos da pesquisa, restringimo-
nos a tratar neste artigo apenas dos argumentos identificados nas redações,
especificamente, dos argumentos quase-lógicos por definição e comparação; os
fundados na estrutura do real pelo vínculo causal, o argumento pragmático e o de
autoridade e na estrutura das ligações que fundamentam a estrutura do real, o
destaque está nos argumentos pela ilustração e modelo.
Os argumentos quase-lógicos apresentam tal denominação, porque
possibilitam a noção de uma aparência demonstrativa de natureza não formal.
Nesse sentido, Perelman e Olbrechts-Tyteca (2005, p. 219) evidenciam a ideia de
“primeiro, o esquema formal que serve de molde à construção do argumento,
depois, as operações de redução que permitem inserir os dados nesse esquema e
visam torná-los comparáveis, semelhantes, homogêneos”.
Esses argumentos depreendem sua força persuasiva da aproximação deles
com os modos de raciocínios incontestáveis. Assim, o que caracteriza essa
argumentação é o seu atributo não formal e o esforço mental pela necessidade de
reduzir seus aspectos de formalidade. Desse modo, o orador mobiliza os
raciocínios formais, prevalecendo-se do pensamento lógico.
Página | 33 Esses argumentos, em primeiro lugar, os que apelam para as estruturas quase-
lógicas são os seguintes: contradição, identidade total ou parcial, transitividade;

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em segundo, os que apelam para as relações matemáticas, tais como: a relação da
parte com o todo, do menor com o maior e a relação de frequência.
A identidade e a definição na argumentação revelam-se como uma das
técnicas essenciais, neste trabalho, pois é na identificação que diversos elementos
são considerados objetos do discurso. Posto isso, o procedimento mais
característico de identificação consiste no uso das definições, no entanto, quando
elas não pertencem a um sistema formal e pretendem identificar o definiens com
o definiendum são consideradas argumentação quase-lógica. Segundo Perelman e
Olbrechts-Tyteca (2005), há quatro espécies de definições que levam à
identificação do que é definido: normativas, descritivas, de condensação e
complexas. Essas definições têm o caráter ora de prescrições, ora de hipóteses
empíricas referentes ao definiendum e ao definiens. Para os autores, “a definição
utilizada é considerada expressão de uma identidade, até mesmo a única
satisfatória no caso, e os termos da equivalência [...] são considerados logicamente
substituíveis” (PERELMAN; OLBRECHTS-TYTECA, 2005, p. 243).
Já os argumentos de comparação, em geral, revelam características
semelhantes sobre os fatos, considerando a relação de igualdade ou de
desigualdade como uma pretensão do orador. As comparações podem apresentar-
se por oposição (o pesado e o leve), por ordenamento (o que é mais pesado que)
e por ordenação quantitativa (no caso, a pesagem por meio de unidades de peso).
O argumento de comparação possibilita também a manifestação da noção de
igualdade pelo uso do superlativo.
Ainda sobre esse tipo de argumento, os autores demonstram que há
diferenças de contrastes e valores “cujo lugar numa série ou num sistema teria
sido fixado de uma vez por todas; não obstante, é a aproximação deles com as
estruturas matemáticas que fornece grande parte de sua força persuasiva”
(PERELMAN; OLBRECHTS-TYTECA, 2005, p. 281). Com isso, enquanto os
argumentos quase-lógicos pretendem certa validade pelo seu aspecto racional
derivado da relação entre as fórmulas lógicas e matemáticas, “os argumentos
fundados na estrutura do real valem-se dela para estabelecer uma solidariedade
entre juízos admitidos e outros que se procura promover” (PERELMAN;
OLBRECHTS-TYTECA, 2005, p. 298).
A respeito desses argumentos, o orador presume que o auditório consiga
compreender a relação estabelecida entre conceitos, fatos, verdades ou
presunções. Dessa forma, essa técnica consiste em uma descrição do real,
possibilitando um encaminhamento argumentativo que, pelo princípio da
solidariedade, torna o argumento eficaz, servindo, assim, para que o agente
argumentador transponha possíveis resistências que o auditório possa manifestar
em relação à tese apresentada. Portanto, o vínculo causal, pertencente aos
argumentos baseados na estrutura do real, emerge sob a perspectiva da relação
de um fato e sua consequência ou de um meio e um fim. Sobre essa relação,
podemos afirmar que esse argumento é compreendido com base no
entendimento de que uma sucessão de fatos e acontecimentos podem apresentar
interpretações diferenciadas conforme os posicionamentos expostos pelo orador.
No tocante ao argumento pragmático, ele é “aquele que permite apreciar um
ato ou um acontecimento consoante suas consequências favoráveis ou
Página | 34 desfavoráveis” (PERELMAN; OLBRECHTS-TYTECA, 2005, p. 303) e desempenha
papel essencial na argumentação, pois é visto como um esquema baseado na

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lógica de juízo de valor que pode se desenvolver a partir do acordo valorativo
atribuído às consequências.
Já as estruturas argumentativas das ligações de coexistência referem-se à
forma como o orador põe em causa realidades de níveis desiguais. Uma das
realidades serve de base para a argumentação, sendo considerada fundamental
ou mais explicativa que a realidade com a qual o orador estabelece a relação.
Com relação à pessoa e seus atos, Perelman e Olbrechts-Tyteca (2005, p. 336)
afirmam que, no processo argumentativo, a figura da pessoa “considerada suporte
de uma série de qualidades, autora de uma série de atos e de juízos, objeto de uma
série de apreciações, é um ser duradouro a cuja volta se agrupa toda espécie de
fenômenos aos quais ela dá coesão e significado”. Assim, a relação estabelecida
entre a pessoa e seus atos é materializada, por parte do orador, com a mobilização
das atribuições ao uso do nome próprio, à designação da pessoa por certos traços
e ao impulsionamento da essência de certos sentimentos.
Dessa forma, as noções de responsabilidade, de mérito e de culpabilidade
referem-se à pessoa; já as de norma e de regra voltam-se para o ato. Ademais, a
concepção de pessoa pode ser modificada pela reação do ato sobre o agente,
enquanto a pessoa coincidiria com o conjunto de ações comuns praticado por ela.
Concern¬ente ao ato, consideramos esse um elemento que permite construir e
reconstruir a imagem da pessoa perante o auditório. Convém mencionar que essa
construção pode ocorrer discursivamente por meio do registro, por parte do
orador, de uma ação, de um modo de expressão, de uma reação emotiva, de um
cacoete involuntário ou de um juízo de valor.
O argumento da autoridade, por seu turno, “utiliza atos ou juízos de uma
pessoa ou de um grupo de pessoas como meio de prova a favor de uma tese”
(PERELMAN; OLBRECHTS-TYTECA, 2005, p. 348). Esse argumento revela a
necessidade que o orador percebe de mobilizar, em seu discurso, uma figura
importante considerada uma autoridade pelo auditório e, por essa razão, esse
auditório poderá aderir às teses defendidas, pelo orador, com mais convicção.
Nesse caso, quanto mais importante for a autoridade mencionada, mais
indiscutíveis serão as suas palavras, consequentemente, o posicionamento
defendido pelo orador. Já o argumento ad hominem é o argumento de autoridade
ao inverso, porque ele refuta uma proposição, recorrendo a uma personalidade
odiosa como, por exemplo, uma referência a Hitler, ou a ênfase de uma fraqueza
de quem enuncia.
Os argumentos, pertencentes à terceira técnica, denominada as ligações que
fundamentam a estrutura do real, partem de um dado, que o orador assegura a
defesa das teses baseadas em elementos da realidade, considerados por ele
possíveis de provocar no auditório a adesão. Nesse sentido, essa técnica se
configura na possibilidade de fundar ou propor uma nova perspectiva da realidade
por meio da comparação dos fatos.
Assim, como uma das suas subdivisões, o argumento pela ilustração tem por
função “reforçar a adesão por uma regra conhecida e aceita, fornecendo casos
particulares que esclarecem o enunciado geral” (PERELMAN; OLBRECHTS-TYTECA,
2005, p. 407). Dessa maneira, a ilustração objetiva aumentar a presença de um
acontecimento, por meio de um caso particular, que poderá concretizar, no
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auditório, a construção de uma regra sobre o assunto. Esse recurso argumentativo
facilita, a nosso ver, a compreensão da regra que está sendo proposta e pode se

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revelar em uma estrategia surpreendente, inesperada e prestigiosa na organização
das ideias expostas pelo orador.
Na argumentação por modelo e antimodelo, um comportamento particular
pode servir para fundamentar, ilustrar e estimular uma ação nele inspirada,
conforme Perelman e Olbrechts-Tyteca (2005). Esses autores defendem que a
imitação pode representar o modelo de pessoas ou grupos cujos atos são
valorizados pela condição de prestígio e ser capaz de se apresentar sob a forma de
modelos glorificados, por vezes, reservados a um pequeno número ou à própria
pessoa. Os estudiosos demonstram exemplos de alguns desses modelos, tais como
o comportamento de um bom pai de família ou o amor ao próximo como a si
mesmo. Esse modelo consiste em indicar uma conduta a ser seguida por outrem e
pode servir também para estabelecer a ideia de uma espécie de caução ou garantia
à conduta adotada.
Em suma, diante dos fundamentos teóricos da argumentação retórica, em que
apresentamos nossas considerações sobre os tipos de acordo, subdivididos em real
e preferível, para em seguida, expormos os comentários sobre as técnicas
argumentativas identificadas no corpus, delimitado para esta apresentação,
demonstramos, a seguir, nossos posicionamentos analíticos à respeito da presença
da concepção retórica nas redações do Enem.

4. REDAÇÃO DO ENEM: OS TIPOS DE ACORDOS E AS TÉCNICAS


ARGUMENTATIVAS

Antes de apresentarmos as análises propriamente ditas, esclarecemos o


percurso analítico delineado para esta etapa do trabalho. Assim, com base no
sistema retórico que, a nosso ver, compõe o gênero “redação do Enem”, é possível
afirmar que as produções analisadas se aproximam do gênero retórico deliberativo
(ou político), postulado pelos estudos aristotélicos. Essa afirmativa se justifica pelo
fato de que esse gênero apresenta como objetivo principal aconselhar ou
desaconselhar uma ação ou tomada de posição diante de uma assembleia votante.
Alicerçadas nos preceitos defendidos por Aristóteles (2011), que nos instigam
a refletir na fragilidade desta classificação, apreendemos desse autor a noção de
auditório como fator de aproximação e caracterização do gênero deliberativo. Ou
seja, o produtor da redação emprega argumentos e constrói propostas de
intervenção que intentem convencer o auditório a quem ele se direciona. Nesse
caso, o auditório se configura nos dois primeiros corretores da redação ou na
banca examinadora do concurso e, quando necessário, no caso de disparidade nas
notas, outros membros são mobilizados para auxiliar na resolução dessa questão.
Ainda sob esse viés, no desenvolvimento da produção da redação, os
argumentos são utilizados pelo autor para embasar a discussão de que trata o
texto; já a proposta de intervenção, peculiar da redação do Enem, é o momento
de aconselhar ou desaconselhar atitudes plausíveis que apresentem soluções para
a problemática discutida no texto. Sendo assim, a classificação apontada nos
estudos aristotélicos pode apresentar alguns traços de semelhanças com os
gêneros atuais e são esses traços que nos levam a concluir que a redação do Enem
apresenta características retórico-argumentativas, aproximando-a dos elementos
Página | 36 sobre os gêneros discutidos pelo referido autor. Em outras palavras, os traços, na

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perspectiva do gênero deliberativo, apresentam-se na atitude em resolver
problemas relacionados ao povo e à administração das cidades.
Além do mais, os temas da redação, por sua vez, são de ordem social,
científica, cultural e política. Em função disso, defendemos que essa composição
demonstra um traço de semelhança quanto à classificação do gênero deliberativo,
no que se refere a atitudes que possibilitem a resolução da problemática abordada
no tema, relacionada ao bem-estar da população. Conforme a perspectiva desse
gênero, o candidato com a redação nota 1.000 direciona seu texto, mesmo que de
forma artificial, a um coenunciador mais amplo.
Com relação aos tipos de acordo e às técnicas argumentativas presentes nas
redações, defendemos que, conforme o tipo de acordo, há uma tendência para a
escolha do argumento. Ou seja, o autor, ao manter uma relação dialógica com o
seu auditório, realiza escolhas que revelam a defesa de pontos de vista. Para tanto,
ele recorre ao tipo de acordo que melhor proporcione essa interação e,
consequentemente, lança mão das técnicas argumentativas que fundamentem as
escolhas realizadas por ele.
Assim, metodologicamente, iniciamos as análises com a identificação da
primeira categoria, definida como o tipo de acordo relativo ao real, que comporta
fatos, verdades e presunções. Convém acrescentar que, nesse tipo de acordo, a
noção da expressão “relativo ao real”, defendida por Perelman e Olbrechts-Tyteca
(2005), relaciona-se a uma ideia compartilhada entre a comunidade discursiva.
Dito de outro modo, o relativo ao real se especifica como fatos e verdades que
consistem em valores aceitos e que podem não ser contestados pelo auditório.
Como segunda categoria analítica, elegemos as técnicas de argumentação,
essas se agrupam em argumentos quase-lógicos, argumentos baseados na
estrutura do real e argumentos que fundam a estrutura do real. Não identificamos
em nenhuma redação o grupo das técnicas nomeadas de dissociações de noções.
Optamos, ainda, por utilizar os excertos das redações com a codificação T (texto),
seguido de um número para identificar a redação de onde o excerto foi retirado6.
Em suma, com base nesta investigação, já podemos antecipar que as técnicas
e os tipos de acordo presentes nas redações demonstram a produção de um texto
de caráter argumentativo, em uma situação sociodiscursiva específica, cujo
objetivo é a tentativa de convencer o interlocutor a quem o texto é direcionado.
Feitos os esclarecimentos, iniciamos nosso processo analítico.

4.1 TIPOS DE ACORDO RELATIVO AO REAL: AUDITÓRIO UNIVERSAL

Na redação (01), há um exemplo de argumentos baseados na estrutura do


real. Esse se classifica como ligações de sucessão de vínculo causal, enquadrado
como um acontecimento que tende a evidenciar o efeito que dele deve resultar.
Vejamos:

(01)

O Brasil é um dos países com o maior número de mortes por acidentes


de trânsito no mundo, ficando logo atrás de nações com maior área
Página | 37 territorial, como a Rússia e os Estados Unidos. 1[O álcool, em nosso
país, é responsável por 30% dos acidentes e 50% dos óbitos,

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decorrentes de motoristas alcoolizados.] Considerando tais dados, já
era esperado que surgissem, além de campanhas, métodos úteis de
combate às mortes no volante. A implementação da Lei Seca, então,
parecia uma solução eficiente para estes problemas.

2[E foi: ao vigorar no Brasil, a Lei Seca causou grande impacto. De


acordo com pesquisas, a aprovação popular quanto ao uso do
bafômetro foi de 97%, e a média nacional de vítimas fatais foi
reduzida em 6,2%.] 3[Inúmeras propagandas que incentivam a
precaução no trânsito e abominam a mistura de bebida e direção
passaram a ser veiculadas nos meios de comunicação; ainda assim, as
mortes no trânsito constituem um número preocupante.] 4[Mesmo
com a grande quantidade de informações, estatísticas, campanhas –
muitas delas são extremamente criativas – e dicas à disposição da
população, alguns motoristas continuam relutantes quando se trata
de preservar a própria vida, misturando álcool e volante e pondo em
risco todos à sua volta.] (T01)

Para corroborar a presença do argumento pelo vínculo causal, enquadrado


como um acontecimento, o texto revela o tipo de acordo relativo ao real,
comprovado por meio de fatos. A presença desse tipo de acordo se justifica pela
ideia de que, para o produtor da redação, a conduta de o motorista dirigir
alcoolizado é fator responsável pela ocorrência de acidentes e óbitos,
demonstrando, assim, o efeito da ação exercida pelo motorista. Convém
compartilhar a relação estabelecida pelo autor entre o tipo de acordo e a técnica
argumentativa utilizada na construção da redação.

No segundo trecho, enumerado 2, identificamos que a Lei Seca foi aprovada


pela população por meio da aceitação do bafômetro e, como efeito, houve a
redução no número de acidentes com vítimas fatais. Nesse sentido, embora a
população não tenha sido consultada com relação à aceitação da lei em questão,
o fato de ela aprovar o uso do bafômetro significa que a lei está sendo bem aceita
pela sociedade.

Já no terceiro trecho, o fato ocorre por meio da veiculação de propagandas


sobre a precaução no trânsito, mas o efeito, nesse caso, ainda não se concretiza
estatisticamente na diminuição de acidentes fatais. Em outras palavras, o texto
revela que mesmo o governo se utilizando de diversos alertas sobre a necessidade
de o motorista ser prudente no trânsito, como elemento que possa contribuir para
diminuir o número de acidentes, os dados estatísticos apontam que não se atingiu
o propósito desejado, a saber: reduzir significativamente a quantidade de
acidentes fatais.

No quarto trecho, o fato se materializa quando o autor menciona as


campanhas educativas e as informações disponibilizadas à população. No entanto,
a nosso ver, esse fato não cumpre realmente o seu propósito. Ou seja, a relutância
por parte dos motoristas em continuar dirigindo alcoolizado tem como
consequência pôr em risco a vida deles e a de outras pessoas. Assim, o efeito, que
poderia ser positivo por conta das ações educativas, recai sobre a conduta do
motorista, sendo, portanto, um efeito negativo.
Página | 38
Em síntese, o argumento pelo vínculo causal se apresenta ora com um efeito
positivo, ora com aspectos de negatividade. Assim, neste primeiro excerto,
R. Letras, Curitiba, v. 23, n. 41, p. 27-52, jan./jun. 2021.
detectamos que o produtor da redação recorre ao uso desse argumento para
expressar a defesa do posicionamento de que a ação de dirigir embriagado pode
ter como consequência o aumento de acidentes fatais no trânsito. A presença
dessa técnica na organização argumentativa da redação nos orienta a refletir sobre
os valores partilhados pela sociedade com relação às ações de beber e dirigir. Para
o produtor do texto, os fatos e as verdades sobre os efeitos do álcool não são
valores que possam ser contestados pelo auditório, logo é preciso desvincular os
atos de beber e de dirigir para que os acidentes no trânsito diminuam.

Em seguida, apresentamos nossas considerações sobre a segunda redação do


Enem analisada neste trabalho, a qual foi codificada como (T02). Na redação,
identificamos, no primeiro parágrafo, o tipo de acordo relativo ao real baseado em
fatos, com a presença do argumento de vínculo causal que, dado um
acontecimento, tende a descobrir a existência de uma causa que pode determiná-
lo. Vejamos, a seguir, os excertos analisados:

(02)

A implantação do sistema rodoviário no Brasil facilitou o fluxo de


mercadorias, pessoas e serviços. Porém, contrastando com esse
cenário próspero de desenvolvimento socioeconômico trouxe grande
sequelas para a sociedade. 1[A facilidade encontrada na compra dos
veículos (a partir da redução IPI) quando aliada à pouca fiscalização
rodoviária, intensificou os “excessos” sejam eles de velocidade ou do
consumo de álcool.] No entanto, um projeto de lei eficaz chamado
“Lei Seca” vem modificando esse cenário visto antes como
devastador.

2[O uso indiscriminado do álcool no trânsito é um fato pertinente,


que contribui diretamente para o aumento de mortes nas ruas e
rodovias.] 3[Estima-se que a utilização irregular de bebidas alcoólicas
é responsável por 30% de acidentes no trânsito.] 4[No entanto,
visando o controle e fiscalização desse cenário de devastação, o
projeto “Lei Seca” contribui significativamente para a redução de
mortes e de excessos de velocidade.] (T02)

No segundo excerto, o efeito de acidentes causados pelo álcool deve-se à


facilidade na aquisição de um veículo automotivo e a pouca fiscalização rodoviária.
Ou seja, o produtor da redação defende o posicionamento de que os acidentes no
trânsito podem se relacionar ao fato da sociedade ter poder aquisitivo para
adquirir um veículo com mais facilidade e também pela falta de fiscalização por
parte das instituições responsáveis pelo trânsito. Nesse caso, esses elementos
promovem ao motorista “maior liberdade” na ação de dirigir, o que pode levá-lo a
fazer uso de bebida alcoólica sem revelar muita preocupação com as
consequências desse ato.
Percebemos, ainda, que o desenvolvimento econômico, para o produtor da
redação, configura-se em um componente facilitador para a compra de veículos
automotores, sobretudo, pela redução dos impostos; no entanto, esse
desenvolvimento também provoca problemas para a sociedade, quando
motoristas usam indiscriminadamente a bebida alcoólica junto ao ato de dirigir.
Página | 39
De acordo com o texto em análise, o acesso do cidadão ao transporte
particular exige das instituições estatais uma maior fiscalização no trânsito,
R. Letras, Curitiba, v. 23, n. 41, p. 27-52, jan./jun. 2021.
principalmente, no comportamento adequado ao contexto e na educação
necessária à direção cuidadosa. Para o autor, essa fiscalização não acontece, como
consequência, torna-se mais fácil ao motorista o acesso ao álcool e, por
conseguinte, à direção do veículo. Essa ações não se complementam, podendo
provocar altos índices de acidentes fatais, conforme se fundamentam os dados.
No segundo parágrafo, há um trecho que apresenta o argumento pelo vínculo
causal em que dado um acontecimento tende a evidenciar o efeito que dele deve
resultar. Nesse trecho, o álcool associado ao ato de dirigir, número 2, é o fator
preponderante para o efeito, enumero 3, que é o aumento de mortes no trânsito
com dados estatísticos, sendo, conforme o locutor, a Lei Seca uma possível forma
de modificar essa problemática de ordem social, enumerado 4.
No próximo parágrafo, dedicamo-nos a observar o terceiro excerto, codificado
como (T03). Nessa redação, identificamos que a abrangência da Lei Seca ainda não
é suficiente, sendo necessária a participação do governo e da nação como uma
ação coletiva. O argumento pelo vínculo causal presente nesse excerto demonstra
uma argumentação com caráter, não necessariamente de defender uma tese, mas
de apresentar justificativas para a não eficácia da lei. Vejamos, a seguir, o excerto:

(03)

Um dos problemas da sociedade brasileira – acidentes causados por


motoristas alcoolizados – tem sido atenuado pela Lei Seca, reduzindo
seus casos, mas não de forma definitiva. Os efeitos positivos desta lei
são vistos em diversos aspectos, como no incentivo geral à segurança
no trânsito, por não dirigir após a ingestão de bebidas alcoólicas. [Sua
abrangência, porém, não é suficiente para que acidentes do gênero
deixem de matar milhares de brasileiros todos os anos, o que exige
(causa/consequência) uma participação conjunta do governo e da
nação em prol de um trânsito seguro, e em prol da vida.] (T03)

Notamos, na redação (03), que o produtor do texto recorre a outros


elementos para justificar a ineficácia da Lei Seca. Essa lei, na sua visão, não se
configura como totalmente eficiente no combate à segurança no trânsito, mesmo
com as diversas tentativas de atenuar as ações de beber e dirigir por parte dos
motoristas, cabendo ao governo e à nação a responsabilidade de assumirem uma
participação mais efetiva na resolução de tal problema.

Nessa parte do texto, enumerado 1, o autor esclarece que não basta a criação
de leis para que as questões sociais sejam amenizadas, é preciso que a sociedade
assuma a incumbência de também ser responsável pelos efeitos do silenciamento,
que muitos cidadãos vêm praticando por meio da lei implícita de não se “meter”
nos problemas alheios, assim, a fiscalização é considerada como uma ação
somente do governo ou das instituições de trânsito. Parece-nos, retomando às
construções textuais, que a ideia posta pelo produtor da redação é que a
população não pode se manter alheia aos acontecimentos, é necessário que ela
também se reconheça responsável e passe a denunciar situações que sejam ilegais
perante a lei seca.

Já no excerto seguinte, codificado (T04), identificamos o tipo de acordo


Página | 40 relativo ao real, também com comprovação de fato e ao real com a presunção, que

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se refere à qualidade ou ao ato, manifestando a pessoa que o praticou através da
credulidade e interesse. Vejamos:

(04)

a[Para Platão, o Estado existe como instrumento que age em prol da


proteção e de desenvolvimento da sociedade, portanto a criação da
Lei Seca pode ser vista como um exemplo prático desse modelo de
Estado que zela pelo bem-estar da sua população. Sem grande parte
do povo sofre com as consequências da combinação álcool e direção,
é dever do Estado intervir em prol da segurança da população.]

b[Há quem critique o processo de criminalização que surgiu a partir


da Lei Seca, argumentando que as punições adotadas seriam muito
“severas”. Contudo, medidas mais brandas dificilmente teriam o
efeito desejado, que é justamente preservar vidas. É em nome dessa
preservação que o Estado forte deve agir.] (T04)

No excerto 04, o autor mobiliza o argumento de autoridade ou argumentum


ad verecundiam, que tem como objetivo “levar a plateia a aceitar um ponto de
vista, baseando-se na autoridade de quem o enuncia, no seu conhecimento
especializado, na sua credibilidade ou na sua integridade pessoal” (FIORIN, 2015,
p. 176). Essa técnica, ao ser registrada pelo produtor do texto a fim de defender
sua tese, consiste em mobilizar o recurso da citação indireta para introduzir a voz
de Platão. A escolha por essa modalidade de registro nos instiga a inferir que o
autor tenta estabelecer uma relação dialógica com seu auditório, posto que, ao
citar o filósofo, ele revela uma imagem positiva de si, no sentido de demonstrar
conhecimentos outros que fundamentam seus posicionamentos.

Deparamo-nos, ainda, com o tipo de acordo relativo ao real com base na


presunção, que se apresenta na redação por meio de qualidades de um ato, de
credulidade e de interesse. O diferencial desse excerto se materializa pela
classificação do tipo de acordo presunção. Apesar de ser um argumento
pragmático, esse tipo de acordo orienta a situação sociodiscursiva para outra
possibilidade de convencimento, ou seja, o argumento, aparentemente,
demonstra uma crítica, mas respalda a justificativa e favorece a Lei Seca, apesar de
as medidas serem severas.

Sendo assim, no excerto 04, identificamos, primeiramente, o tipo de acordo


relativo ao real com base em fatos que ocorrem pela presença do argumento de
autoridade, materializados por meio da citação feita pelo produtor do texto,
quando recorre às palavras de Platão, para demonstrar que cabe ao estado zelar
pela segurança da sociedade.

No segundo momento da redação, deparamo-nos com o tipo de acordo


relativo ao real pela presunção que acontece por intermédio da defesa da ideia de
que quanto mais severas forem as leis maiores a possibilidade de elas serem
atendidas pela população. Sobre isso, Perelman e Olbrechts-Tyteca (2005, p. 81),
afirmam que

[...] se certos indivíduos se afastam em seu comportamento do que é


Página | 41
considerado normal, sua conduta pode modificar esse normal; [...]
mas se o indivíduo se afasta dele além de certos limites, será excluído

R. Letras, Curitiba, v. 23, n. 41, p. 27-52, jan./jun. 2021.


do grupo e, em consequência, o grupo de referência é que será
modificado.

Nesse sentido, inferimos que a presença do tipo de acordo relativo ao real


com base na presunção utilizado pelo produtor do texto nos orienta à
compreensão de que as leis são necessárias para que se tornem “normais”,
aceitáveis determinados tipos de conduta e podem influenciar positivamente o
comportamento do indivíduo. Caso contrário, se este cidadão se “afastar” dos
limites previstos em lei, sofrerá penalidades, no caso da lei seca, terá sua carteira
apreendida e pagará a multa referente à transgressão.
No próximo excerto, redação codificada como (T05), identificamos o tipo de
acordo relativo ao real fundado em fatos e com a presença do argumento pelo
modelo. Essa técnica se refere a casos particulares, podendo ser representado por
um personagem ou um grupo humano com quem se pode criar uma identificação
a ser imitada. Observemos o excerto 05:

(05)

[A psicologia explica que crianças tendem a tomar mais velhos como


modelos de copiar seus modos de agir e falar. Muitos adultos
reclamam perto das crianças e convence-as com argumentos que
parecem sólidos e simples para mentes em formação. Elas escutam,
repetem nas escolas e convencem seus colegas. Essa geração cresce
propensa a fazer o mesmo e acabará por servir de modelo para novos
jovens.] É um ciclo que também acontecerá com a recém-implantada
Lei Seca. (T05)

O excerto 05 demonstra que, por intermédio de uma mudança de atitude


por parte dos adultos, o cenário em tela poderia se modificar tornando-se melhor,
já que as crianças tendem a imitar as ações dos adultos. O argumento pelo modelo
é usado para confirmar a ideia de que pode haver uma influência no
comportamento das gerações, em desenvolver o hábito de não dirigir alcoolizado
por meio da imitação de um comportamento adequado, ou seja, um modelo a ser
seguido. Nesse contexto analítico, esse argumento é explicado pelo caráter
imitativo das ações. Ou seja, o produtor da redação parte de um princípio corrente
na psicologia de que os mais velhos podem influenciar o comportamento dos mais
novos pelas decisões tomadas no cotidiano, podendo ser positivas ou negativas.
Nesse sentido, se aqueles assumirem o comportamento de aceitar o que defende
a Lei Seca, consequentemente, pela convivência, estes serão influenciadas e
também assumirão as mesmas atitudes, acabando ainda “por servir de modelo”
para outros.

No excerto 06 (T06), identificamos o tipo de acordo relativo ao real com base


na verdade, que apresenta a referência sobre os sistemas complexos relativos a
ligações entre fatos com a presença do argumento pelo vínculo causal. Esse tipo
de acordo é materializado no texto por meio da expressão “é comprovado”,
imprimindo, portanto, um caráter de cientificidade à informação. Além disso, o
tipo de argumento mencionado se justifica pela ação de demonstrar a causa, por
meio da ingestão de álcool, associada à direção e do efeito provocado pela
Página | 42
alteração dos reflexos; um dado que, apesar de ser ignorado por muitos
motoristas, pode ocasionar acidentes fatais.
R. Letras, Curitiba, v. 23, n. 41, p. 27-52, jan./jun. 2021.
(06)

[Ao serem questionados, muitos motoristas afirmaram serem capazes


de dirigir com precisão mesmo após ingerir álcool, o que em geral não
corresponde à realidade. Sobretudo em grandes quantidades, é
comprovado que a bebida alcoólica aumenta as chances de
ocorrência de acidentes, fato que não deve ser ignorado.] Esse
aumento no perigo evidencia a necessidade da Lei, mas não
necessariamente no modelo em que foi criada. (T06)

Nesse excerto, o produtor do texto reconhece a importância da Lei Seca, mas


expressa não concordar com o modelo que foi adotado no Brasil, embora não
tenha revelado qual seria o mais adequado. Diante do exposto, destacamos que o
autor lança mão de dados para justificar a necessidade da lei e demonstrar a
associação entre dirigir embriagado e provocar acidentes no trânsito.
Nos excertos 07 (T07) e 08 (T08), identificamos o tipo de acordo relativo ao
real com base na verdade e o argumento de definição. Essa técnica “consiste em
declarar a essência de alguma coisa [...] orientada para convencer o interlocutor
de que um dado significado é aquele que deve ser levado em conta.” (FIORIN,
2015, p. 118). O autor demonstra uma definição de álcool como droga lícita e as
consequências de seu uso. Vejamos, a seguir, os dois excertos referentes ao texto
07 (T07):

(07)

A noção de que o uso de bebidas alcoólicas associado à condução de


automóveis tem resultado perigoso e, por diversas vezes, fatal, está
presente entre os brasileiros, de maneira geral. Entretanto, tal
consciência não estava sendo suficiente para que a ocorrência dessa
combinação fosse evitada, fazendo com que houvesse a necessidade
da criação de uma rígida intervenção legal, conhecida como Lei Seca.
Tal lei prevê a proibição de qualquer dosagem de álcool no organismo
do indivíduo que estiver conduzindo automóvel.

[O álcool é considerado como uma droga depressora do sistema


nervoso central, tendo como alguns resultados de seu consumo a
perda de reflexos, de atenção e de concentração, além de causar
sonolência.] Sendo assim, o indivíduo que ingere álcool está sujeito a
perder habilidades imprescindíveis para que possa dirigir sem
oferecer riscos. (T07)

Conforme Perelman e Olbrechts-Tyteca (2005, p. 239), as definições


descritivas “indicam qual o sentido conferido a uma palavra em certo meio, num
certo momento”. Consideramos que o produtor do texto, nesse excerto,
demonstra a definição descritiva da palavra “álcool” associado à situação
sociodiscursiva. No caso do excerto 08, identificamos uma definição mais precisa
e fundamentada no uso das informações sobre o composto químico do etanol com
informações mais enfáticas sobre as consequências do álcool no corpo humano.

(08)

Página | 43 O consumo de bebidas alcoólicas é uma prática comum ao homem


desde que a fermentação de frutas e cereais foi descoberta, há

R. Letras, Curitiba, v. 23, n. 41, p. 27-52, jan./jun. 2021.


milhares de anos, como meio de obtenção do etanol, ainda durante a
época das Civilizações Antigas. [Este composto químico, de fórmula
molecular C2H6O, tem seus efeitos no corpo humano – dificuldade de
concentração e aumento no tempo de resposta do cérebro a
estímulos externos entre outros – conhecidos, portanto, de forma
abrangente pela humanidade.](T08)

Nos dois textos, notamos a presença da definição como um argumento que


justifica o uso da Lei Seca no Brasil. No primeiro, ao recorrer ao termo droga, o
autor imprime em sua escolha lexical a ideia de que o álcool é uma substância
entorpecente e alucinógena, portanto, promove a perda dos reflexos, levando o
sujeito a provocar acidentes no trânsito. Já no excerto 08, embora também
tenhamos definição, o autor alude à fórmula química do álcool e a descreve como
uma prática pertencente à civilização antiga, mas que, de todo modo, é prejudicial
ao cidadão.
Em síntese, a seguir, o quadro com as constatações das redações classificadas
por tipos de acordo e argumentos:

Quadro 01: Classificação dos excertos em tipos de acordo e argumentos


Tipos de acordo Argumentos
Vínculo causal T01, T02, T03, T06

Fatos T01, T02, T03, T04 (04a), T05 Autoridade T04 (04a)
Verdades T06, T07, T08 Modelo T05
Presunção T04 (04b) Pragmático T04 (04b)
Definição T07, T08
Fonte: Autoria própria.

Diante das análises até então elencadas, detectamos que a escolha do tipo de
acordo não só orienta o auditório – universal e particular –, mas também a
construção do argumento. Observamos a incidência dos argumentos, com
destaque para os de ligação de sucessão, sobretudo, o argumento pelo vínculo
causal. A presença dessa técnica de argumentação, recorrente nas redações,
significa a tentativa de o produtor textual de provar a tese que ele propõe, uma
vez que esse argumento é utilizado com o objetivo de estabelecer relações entre
as razões e as consequências das ações de beber e de dirigir. Em continuidade às
análises, a seguir, tratamos do tipo de acordo relativo ao preferível.

4.2 TIPOS DE ACORDO RELATIVO AO PREFERÍVEL: AUDITÓRIO PARTICULAR

No tipo de acordo relativo ao preferível, encontramos a classificação de


valores e hierarquias, não houve nenhuma incidência de trechos sobre a
classificação de lugares da argumentação. Especificamente, nestas análises,
identificamos a recorrência de valores e hierarquias.
No excerto 09 (T09), apresentam-se, com o tipo de acordo relativo ao
preferível – valores, que correspondem às crenças e afirmações verossímeis com
Página | 44 o registro do argumento pelo vínculo causal. Deparamo-nos como evidente, a
crença de que a bebida faz parte da cultura do povo brasileiro, por isso, deve haver

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tolerância a pequenas quantidades de consumo. O argumento pelo vínculo causal
apresenta como razão a cultura de se beber socialmente, logo o efeito seria uma
taxa de tolerância mínima que se enquadrasse nessa situação de consumo social.

(09)

[Ainda que necessária a regulamentação dos casos de alcoolismo no


trânsito, deve-se considerar o quão comum é o consumo social de
bebidas. Levando em conta que é difícil para a maioria das pessoas
deixar de tomar ao menos uma pequena quantidade de álcool
durante uma reunião social, é aconselhado que seja discutida a
existência de uma taxa de tolerância sobre os níveis de álcool no
sangue.] (T09)

Conforme supracitado, no excerto 09, notamos que o autor da redação


recorre à ideia de consentimento a pequenas quantidades de álcool. A nosso ver,
há uma discordância da Lei Seca, que imprime à sociedade a noção de “tolerância
zero”. A defesa dessa concepção se justifica, para esse autor, pelo fato de a bebida
pertencer à cultura brasileira e não poder ser retirada totalmente das práticas
sociais de lazer. Assim, ele defende o posicionamento de que a ação de beber se
configura em um valor vinculado aos aspectos culturais do país e, por essa razão,
pode ser liberado o consumo em pequenas quantidades.
Já no excerto 10 (T10), identificamos o tipo de acordo relativo ao preferível –
valores – com a presença do argumento pelo vínculo causal. No primeiro
argumento, há a construção em torno da crença de que a bebida alcoólica já era
utilizada pelos gregos em suas festividades. Nesse contexto, a bebida é a causa e,
a dificuldade de abster-se dela, é o efeito. No segundo argumento, a associação
realizada entre bebida e direção (causa) pode provocar graves acidentes de
trânsito (efeito).

(10)

1[A ingestão de bebidas alcoólicas está presente na cultura dos povos


desde os tempos da mitologia, quando acreditava-se (sic) que deuses
festivos as utilizavam em abundância. Isso prova que é muito difícil
fazer com que as pessoas se abstenham de beber, já que é um
costume de bases históricas.] Com o passar do tempo, o advento da
tecnologia e a Revolução Industrial trouxeram ao mundo o
automóvel, e a partir do momento que foram combinados, o álcool e
o veículo passaram a causar muitas mortes.2[É cientificamente
provado que o consumo desse tipo de bebida reduz a capacidade do
motorista de ter reflexos rápidos; sendo esse o motivo de grande
parte dos acidentes de trânsito.] (T10)

Nos excertos 11 (T11) e 12 (T12), verificamos que o tipo de acordo relativo ao


preferível – valores – é registrado com o argumento da comparação. Para Fiorin
(2015, p. 122), esse argumento se caracteriza como “uma maneira de definir”, em
que o orador tenta estabelecer relações de aproximação ou de diferenciação entre
os elementos comparados. No excerto 11 (T11), o argumento se apresenta por
meio de uma comparação entre a arte literária barroca e a ingestão de álcool e
Página | 45
direção. Essa comparação se materializa por meio do paradoxo claro x escuro, que
ora remete a um comportamento adequado de não dirigir alcoolizado (claro), ora
a um comportamento inadequado de dirigir alcoolizado (escuro). A comparação é
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utilizada, nesse contexto, para chegar a uma relação de causalidade, no final das
contas. No excerto 12 (T12), há um argumento de comparação que destaca o país
como o mais violento, quando se trata de acidentes fatais no trânsito, o que
demonstra a ideia de um superlativo. Vejamos os excertos a seguir:

(11)

[Se comparada a uma arte literária, nossa sociedade se compararia à


arte Barroca, a qual apresenta uma face clara e outra escura.] Em se
tratando da questão do álcool e direção, por muito tempo deixamos
prevalecer a face escura. Agora, apoiados pela Lei Seca, caminhamos
rumo à claridade. (T11)

(12)

[O Brasil é um dos países mais violentos do mundo quando se fala em


mortes no trânsito.] Isso acontece devido à irresponsabilidade dos
motoristas que insistem em beber e dirigir. Além disso, a venda
descontrolada do álcool agrava o problema uma vez que limites para
o consumo poderiam minimizá-lo, ajudando no controle dos
infratores e amenizando posteriores consequências. (T12)

Como já salientado, no primeiro caso, o uso da comparação com a arte Barroca


revela o caráter de dualidade a que o produtor da redação recorre para ilustrar seu
posicionamento. Ideia materializada pelos elementos “claro” e “escuro”,
revelando ainda o percurso que se inicia com a aprovação da Lei Seca rumo à noção
de nitidez que o uso do termo “claridade” conduz. Ou seja, de acordo com o texto,
a sociedade está prestes a sair do momento de escuridão para vivenciar, com a lei,
momentos de lucidez no trânsito. Está implícita, nesse caso, a ideia de que a
aplicação da lei conduzirá o cidadão a uma diminuição dos acidentes fatais.
Já no segundo caso, o ponto fulcral está na irresponsabilidade do cidadão que
“teima” em dirigir embriagado. Esse caráter de culpabilidade, consoante ao
produtor do texto, pode se relacionar ao descontrole que há na venda de bebidas
alcoólicas. Para esse produtor, a nosso ver, se houvesse controle nas vendas de
bebidas, consequentemente, a quantidade de acidentes seria amenizada.
No excerto 13 (T13), identificamos o tipo de acordo relativo ao preferível –
valores – com o argumento sobre pessoa. Inicialmente, verificamos a crença de
que quantidades pequenas de bebidas alcoólicas não causam alterações
significativas na pessoa que consome e depois conduz o veículo. Nesse trecho, o
argumento sobre pessoa é reforçado no momento em que o ato de não beber e
dirigir deve ser respeitado por todos sem restrições. Esse argumento infere um
juízo de valor e se desenvolve a partir das características valorativas atribuídas às
consequências.

(13)

Outro aspecto de suma relevância para essa mudança foi a definição


de limites extremamente baixos para o nível de álcool no sangue,
próximos de zero. [Isso fez com que acabasse a crença de que um
copo não causaria qualquer diferença nos reflexos e nas reações do
Página | 46 indivíduo e que, portanto, não haveria problema em consumir doses
pequenas. A capacidade de julgamento de cada pessoa, outrora usada

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como teste, passou a não mais sê-lo e, logo, todos têm que respeitar
os mesmos índices independentemente do que consideram certo
para si.] (T13)

Percebemos nesse excerto um diálogo estabelecido com a primeira fase do


debate sobre a Lei Seca, que ainda não se constituía com a noção de tolerância
zero, podendo, naquele momento, ao motorista, consumir certa quantidade de
bebida alcoólica. O produtor da redação recorre a esse posicionamento para
demonstrar que, até a promulgação da lei com as características apresentadas na
atualidade, houve a preocupação em estabelecer os limites de consumo de álcool
para cada brasileiro. Sendo constatado, de acordo com o texto, que mesmo o
consumo baixo implicaria em mudanças comportamentais do usuário, portanto,
independentemente da quantidade haveria o comprometimento no
discernimento frente à ação de dirigir alcoolizado ou não. Em suma, o autor do
texto defende a aplicação da Lei Seca obrigatória para todos.
Enquanto no excerto 14 (T14), verificamos que o tipo de acordo relativo ao
preferível – valores – refere-se à crença de que as festas brasileiras se caracterizam
como comemorações com muita bebida alcoólica. O argumento pela ilustração,
utilizado no excerto, exprime uma dessas comemorações e as consequências
graves das pessoas que dirigem sob o efeito de álcool. Esse argumento é utilizado
com a finalidade de reforçar a tese defendida, atribuindo-lhe um caráter de
“concretude, para torná-la sensível, para aboná-la, apresentá-la como boa, válida
e verdadeira” (FIORIN, 2015, p. 188). Vejamos o excerto a seguir:

(14)

[O Brasil é um país caracterizado por suas festas, e estas são regadas,


muitas vezes, por bebida alcoólica, o que gera más consequências. O
carnaval, por exemplo, é uma comemoração em que a maioria das
pessoas entrega-se ao álcool e desrespeita as leis de trânsito,
dirigindo sob o efeito desse.] É comum, então, que o número de
acidentes durante esse período seja maior. Por isso, o surgimento da
Lei Seca foi fundamental para que os foliões pudessem aproveitar
esses dias com mais consciência. (T14)

Diante do excerto em tela, podemos notar a justificativa apresentada pelo


autor do texto para o consumo do álcool. O Brasil, segundo ele, é um país festivo
e a maioria das comemorações recorre ao uso da bebida alcoólica como algo já
consagrado socialmente. Nesse caso, entretanto, a implantação da Lei Seca
atenuará o número de acidentes, impondo mais respeito e consciência ao
motorista.
No excerto 15 (T15), verificamos o tipo de acordo relativo ao preferível –
hierarquia – com a presença do argumento de comparação. O produtor da
redação, ao enfatizar o carro como uma das invenções mais modernas da
humanidade, reforça seu argumento seguinte de que o transporte pode ferir as
pessoas se for usado de forma inadequada. Essa técnica consiste na superioridade
da vida em relação à ação de dirigir alcoolizado.

(15)
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[O carro é, sem dúvida, uma das maiores invenções da modernidade
e um dos meios de transporte mais usados no mundo
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contemporâneo, devido à sua agilidade e praticidade.] No entanto,
nota-se que, ao mesmo tempo em que aproxima as pessoas, este
meio de transporte também pode machucá-las ou mesmo levá-las a
óbito, se usado de maneiras impróprias como, por exemplo, dirigir
alcoolizado. Este problema é tão grave no Brasil, que estima-se que a
metade das mortes em acidentes de trânsito nas ruas do país
decorrente de inflações cometidas por motoristas alcoolizados. (T15)

Nesse excerto, consideramos alguns pontos interessantes. O primeiro deles se


relaciona com a importância do automóvel para o desenvolvimento da sociedade.
No entanto, nessa mesma dimensão de evolução e aproximação entre os cidadãos
que o veículo proporciona, o produtor do texto apresenta um elemento negativo,
para o caso de o transporte ser utilizado sem responsabilidade pelo motorista, a
saber: o poder de machucar as pessoas. Assim, entendemos que há uma
hierarquização de valores, embora seja atribuído à vida um valor maior do que a
representação do automóvel como elemento de evolução na sociedade.
A seguir, o quadro com a classificação das análises:

Quadro 02: Classificação dos excertos em tipos de acordo e argumentos


Tipos de acordo Argumentos

Valores T09, T10, T11, T12, T13, T14 Vínculo causal T09, T10

Hierarquias T15 Comparação T11, T12, T15


Sobre pessoa T13
Ilustração T14

Fonte: Autoria própria.

Convém destacar que, por meio das análises, observamos o registro de


diversas situações, envolvendo o tipo de acordo relativo ao preferível e as técnicas
argumentativas que se baseiam na estrutura do real. Essa relação nos permite
entender que o gênero “redação do Enem”, nesta edição em específico, por se
tratar de um assunto que envolve uma problemática social permite que os
candidatos mobilizem argumentos mais próximos de suas experiências de vida. Em
outras palavras, percebemos que há uma tendência do produtor do texto na
demonstração de exemplos, de comparações, estabelecendo vínculo causal e
recorrendo ao argumento sobre pessoa para justificar a tese inicial.
Sendo assim, conforme o tipo de acordo analisado no item anterior, os
argumentos podem se repetir, porém a orientação do tipo de acordo modifica a
construção do argumento na situação sociodiscursiva nas redações. A nosso ver, a
presença de tais argumentos, na construção do texto, é um indicativo de uma
orientação, possivelmente dada pela escola, que nos permite caracterizar como
argumentos mais recorrentes nas redações do Enem.

À GUISA DE CONCLUSÃO

Página | 48 No que se refere à estrutura retórica, consideramos que a redação do Enem


se aproxima do gênero retórico deliberativo, uma vez que se caracteriza pela

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necessidade de aconselhar ou de desaconselhar o interlocutor sobre a
problemática abordada no texto. O gênero redação do Enem assume essa
característica, se levarmos em consideração o auditório a quem o texto se
direciona, porque há o propósito comunicativo de orientar os autores a sugerirem
possíveis soluções e aconselhamentos para a resolução do problema que envolve
a sociedade. Diante disso, a nosso ver, os argumentos fomentam o
desenvolvimento da tese a ser defendida ou refutada, e a proposta de intervenção
estabelece o momento de aconselhar ou desaconselhar algo sobre o tema
desenvolvido.
Além disso, a análise retórica demonstra que há uma propensão para o tipo
de acordo relativo ao real e os argumentos baseados na estrutura do real pelo
vínculo causal, visto que essa técnica se presta muito bem à ideia de respaldar a
tese defendida com provas, demonstrando razões e consequências. Identificamos
também a recorrência de outros argumentos sobre esse tipo de acordo, tais como:
o argumento da ilustração, da contradição e o argumento pelo modelo. No tipo de
acordo relativo ao real e classificado como verdades, os argumentos mais
recorrentes são pertencentes ao vínculo causal e à definição. Na análise do tipo de
acordo relativo ao preferível, identificamos mais uma vez o argumento pelo
vínculo causal, pela ilustração e os argumentos de comparação e sobre pessoa.
Acrescentamos, ainda, que há uma relação direta entre os tipos de acordo e o
auditório a quem o produtor da redação pretende influenciar com o seu discurso.
Os autores recorrem, para isso, às técnicas argumentativas, para defender a tese
axial e expor os posicionamentos que embasam suas ideias.
Para finalizar, consideramos que os objetivos traçados nesta pesquisa foram
contemplados, embora saibamos que muitas outras abordagens investigativas
serão necessárias no que se referem aos estudos sobre a produção textual e,
sobretudo, com relação ao tratamento do gênero redação do Enem e os preceitos
da argumentação.

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A rhetorical-argumentative perspective in
the essay of Enem
ABSTRACT

This article discusses the results of a research on Enem essays, with focus on argumentation
discussions, postulated by Perelman and Olbrechts-Tyteca([1958] 2005), and it has the
objective to analyze the rhetorical-argumentative dimensions, recurring to the types of
agreement and to the argumentative techniques of greater incidence in the essays. We
delimited, as a corpus of analysis, sixteen excerpts taking from essays which were evaluated
and that obtained the score 1.000 in 2013. The results of this study have shown the
presence of the argumentative techniques entailed to the process of majority link, standing
out the arguments by the causal link which belong to the ones based on the type of
agreement concerning the real, that is, the ones which comprises the facts. In summary,
this investigation reveals that the use of argumentative techniques, according to the types
of agreement, has demonstrated the argumentative character of composition at Enem,
considering the specific socio-discursive situation, whose objective is to influence the
interlocutor about the positions presented by the candidate.

KEYWORDS: Types of agreement. Argumentative techniques. Enem writing.

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NOTAS
1
Oliveira (2016) ver referências.
2
A obra citada é de 2009, mas se refere ao original de 1984.
3
As competências são elencadas, conforme o Guia do Participante: 2013, no
capítulo seis sobre a abordagem metodológica.
4
Refere-se ao raciocínio de demonstração analítica e de argumentação dialética.
(ARISTÓTELES, [384-322 a.C.] 2011).
5
Segundo Perelman e Olbrechts-Tyteca (2005), o auditório pode ser definido como
o conjunto daqueles que o enunciador desejar influenciar com sua argumentação.
6
A numeração dos excertos das redações segue a ordem em que se apresentam
no artigo.

REFERÊNCIAS

ARISTÓTELES. Retórica. São Paulo: EDIPRO, [384-322 a. C.] 2011.

BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fonte.


1997.

FIORIN, J. L. Argumentação. São Paulo: Contexto, 2015.

FONSECA, Í. B. B. da. A Retórica na Grécia: o gênero judiciário. In:


MOSCA, L. do L. S. (Org.). Retóricas de ontem e de hoje. Humanitas
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Direito da Universidade de São Paulo (USP). v. 104, 2009, p. 725 – 744,
jan./dez.

LIMA, E. P. de. Abordagem terminológica nas veredas teóricas da


argumentação: uma investigação sob a perspectiva da variação
denominativa. 2017. 326f. Tese (Doutorado em Linguística Aplicada) –
Programa de Pós-graduação em Linguística Aplicada da Universidade
Estadual do Ceará, Fortaleza, CE, 2017.

MILLER, C. R. Gênero textual, agência e tecnologia. Recife: Editora


Página | 51 Universitária da UFPE, 2009.

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PERELMAN, C.; OLBRECHTS-TYTECA, L. Tratado de argumentação:
a nova retórica. Tradução Maria Ermantina de Almeida Prado Galvão. 2.
ed. São Paulo: Martins Fontes, [1958] 2005.

OLIVEIRA, F. C. C. de. Um estudo sobre a caracterização do gênero


redação do ENEM. 2016. 167 f. Tese (Doutorado em Linguística) –
Programa de Pós-graduação em Linguística da UFC, Fortaleza, CE, 2016.

RODRIGUES, R. H. Os gêneros do discurso na perspectiva dialógica da


linguagem: a abordagem de Bakhtin. In: MEURER, J. L.; BONINI, A.;
MOTTA-ROTH, D. (Org.). Gêneros: teorias, métodos, debates. 2. ed. São
Paulo: Parábola, 2007. p. 152-183.

Recebido: 03 ago. 2020


Aprovado: 02 fev. 2021
DOI: 10.3895/rl.v23n41.12933
Como citar: OLIVEIRA, Flávia Cristina Candido de; LIMA, Edmar Peixoto de. A perspectiva retórico-
argumentativa na redação do Enem. R. Letras, Curitiba, v. 23, n. 41 p. 27-52, jan./jun. 2021. Disponível em:
https://periodicos.utfpr.edu.br/rl. Acesso em: XXX.

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Internacional.

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