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Roteiro 1

Língua portuguesa: Ensino médio

Este roteiro, destinado a professores coordenadores de núcleo pedagógico de todos os


componentes curriculares, sugere atividades que permitam ao PC e aos professores discutir
como apoiar os estudantes no desenvolvimento da habilidade “Estabelecer relação entre a
tese e os argumentos oferecidos para sustentá-la”, presente na Matriz de Avaliação Processual
da 2ª e 3ª séries do EM. O roteiro também guarda forte relação com a H19 do Saresp: “Inferir a
tese de um texto argumentativo com base na argumentação construída pelo autor”.

Considerando-se que os textos tipologicamente argumentativos requerem a capacidade de


organizar e expressar um raciocínio lógico, sob o ponto de vista do entendimento de uma tese
e de sua fundamentação ou elaboração, é importante auxiliar os estudantes no
desenvolvimento dessa capacidade, exigida não apenas nas aulas de Língua Portuguesa, mas
em todas as outras, uma vez que o desenvolvimento de pontos de vista é uma prática social
presente em inúmeros gêneros e situações comunicativas que os estudantes vão vivenciar no
dia a dia.

Objetivos

 Disponibilizar orientações didáticas para o trabalho docente no ensino de habilidades


presentes na Matriz de Avaliação Processual e relevantes para todas as áreas do
conhecimento.
 Discutir Situações de Aprendizagem presentes nos Cadernos e outras propostas, com
foco na mediação que pode ser feita pelos docentes, com o objetivo de apoiar os
estudantes no desenvolvimento da habilidade de “Estabelecer relação entre a tese e
os argumentos oferecidos para sustentá-la”.

Apoio às aprendizagens: uma abordagem interdisciplinar


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Atividades sugeridas

Para desenvolver o processo de aprendizagem da habilidade “Estabelecer relação entre a tese


e os argumentos oferecidos para sustentá-la”, são indicadas algumas atividades com sugestões
de mediação para o trabalho docente.

Atividade 1

A habilidade exige que o estudante seja capaz de estabelecer relações entre um dado ponto de
vista e os argumentos que o sustentam. Esse processo relacional deve ser realizado tanto na
perspectiva da competência leitora quanto da competência escritora. Assim, ao elaborar ou
reconhecer uma dada tese em um texto (uma tomada de posição ante um assunto posto), o
estudante precisa relacionar a ela argumentos, os quais podem ser compreendidos como todo
procedimento linguístico que visa a persuadir, fazer o outro aceitar o que lhe foi comunicado,
levá-lo a crer no que foi dito.

Ou seja, o argumento auxilia o autor a convencer o outro a respeito de um ponto de vista, pois
acrescenta algo que dá impacto positivo na ideia que se pretende defender, de forma mais ou
menos evidente. No caso específico dos textos reconhecidos socialmente como
argumentativos, há um compromisso explícito com o raciocínio lógico em sentido mais estrito.
Portanto, os argumentos apresentados têm (ou devem ter) caráter mais científico: são citações
de autores renomados que estudam determinado tema; dados quantitativos oriundos de
pesquisas que seguem metodologia científica; e fatos que podem ser retirados de fontes
históricas ou jornalísticas confiáveis, entre outros.

Nesse processo, enquanto leitor, o estudante está acompanhando um raciocínio autoral e


deve compreender como ele foi construído, procurando se isentar de suas próprias crenças em
busca do entendimento do pensamento do outro. Já na perspectiva de autor, o aluno deve ter
domínio da estrutura argumentativa para utilizá-la na construção de sua argumentação.

Alguns grandes desafios que se colocam para o estudante no desenvolvimento de sua


capacidade de estabelecer relação entre uma determinada tese e os argumentos oferecidos
para sustentá-la, esteja ele no papel de leitor ou escritor, são os seguintes:

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 propor ou reconhecer uma tese com base em dado tema;
 selecionar/reconhecer argumentos plausíveis e persuasivos que sustentam a tese e
são adequados ao gênero textual em que esse processo de leitura ou escrita se dá;
 ir além do senso comum na seleção/reconhecimento de argumentos;
 não ser incoerente na seleção/reconhecimento de argumentos.

Para mediar esse processo complexo de organização/compreensão da estrutura


argumentativa, o professor pode realizar as seguintes ações:

Ação introdutória

 Selecionar textos organizados em gêneros argumentativos mais familiares aos


estudantes, como debates e posts argumentativos publicados em mídias sociais, para,
progressivamente, aproximá-los de organizações da linguagem com funções sociais
mais complexas e menos familiares, como resenhas e artigos de opinião.

Ações principais

 Com foco nas práticas leitoras, é possível realizar leituras dirigidas para o
reconhecimento de teses presentes nesses textos argumentativos e analisar como essas
afirmações autorais, que implicam tomada de posição ante um dado assunto,
costumam ser linguisticamente organizadas, com base no gênero textual em que se
estruturam (por exemplo, em posts de redes sociais, é bastante comum as marcas
diretas de 1ª pessoa, como “eu acho”, “não concordo” etc.). Já em gêneros
socialmente mais complexos, esse posicionamento pode ser apresentado de forma
mais sutil, porém, em se tratando de gêneros comumente publicados em meios de
comunicação, o ponto de vista aparecerá ainda no início do texto, mesmo que a 1ª
pessoa não se manifeste explicitamente como pronome, mas em usos adjetivos da
linguagem com explícita tomada de posição, como se pode ver no exemplo a seguir.

Em resenha publicada no Estadão, lê-se o seguinte trecho introdutório: “Chico


(Buarque) volta atual nas letras e clássico nas canções. Ao falar da amada que talvez
não goste de meninos, ele polemiza, se revitaliza e cria um belo álbum”. Disponível
em: http://cultura.estadao.com.br/. Acesso em: 22 ago. 2017.

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Perguntas que podem ser propostas aos estudantes:

 Que marcas textuais indicam o posicionamento do autor do texto?


 Essas marcas indicam que o autor se posiciona de forma favorável ou desfavorável ao
tema em discussão?
 Que argumentos o autor usa para sua tomada de posição dentro do texto (citações de
autores de referência que estudam o tema; dados quantitativos extraídos de pesquisas
que seguem metodologia científica; e fatos que podem ser retirados de fontes
históricas ou jornalísticas confiáveis)?

Com foco nas práticas de escrita, também pode ser usada estratégia semelhante. Ou seja, os
estudantes deverão elaborar seus pontos de vista usando estruturas linguísticas semelhantes
às que foram discutidas durante a leitura de textos, de acordo com os gêneros em estudo.

Atividade 2

O conceito de tese está bastante associado a um tipo de organização textual denominada


“argumentação”. Nessa tipologia textual, manifestam-se relações de causa, condição,
concessão, contraste e conclusão, com intenso uso de conectivos que procuram organizar
sentenças, de modo a estabelecer uma relação lógica entre partes, que vão se encadeando na
defesa de um ponto de vista (tese), uma tomada de posição autoral em face de determinado
tema, com o objetivo de convencer o outro.

Como podemos notar, dizer que um texto é tipologicamente argumentativo significa dizer que
sua organização linguística segue os padrões acima mencionados. Não há muitos tipos de
textos: os mais comuns são os narrativos (como romances, contos etc.), os argumentativos
(como artigos de opinião, resenhas etc.), os descritivos (como catálogos, currículos etc.), os
injuntivos (como bulas de remédios, receitas etc.) e os associados aos relatos de experiência
(como notícias, reportagens etc.). Em cada um deles, a organização linguística é bastante
estável, de tal modo que, quando exercemos a função de leitores ou autores,
reconhecemos/organizamos alguma dessas estruturas em nossos textos, conforme nosso
objetivo comunicativo. Pode-se afirmar, portanto, que os tipos textuais são caracterizados por
propriedades linguísticas, como vocabulário, relações lógicas, tempos verbais, construções
frasais etc. bastante estáveis.

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É preciso ressaltar, por outro lado, que os textos se organizam em gêneros textuais, conceito
diferente do de tipo textual. Gêneros são os textos materializados com os quais entramos em
contato no dia a dia e que apresentam características relativamente estáveis, socialmente
constituídas e relativas à comunicação. Em cada um deles, há uma ou mais organizações
tipológicas. Tomemos como exemplo a tipologia narrativa. Romances, contos, crônicas,
fábulas, lendas etc. são gêneros. Cada um deles tem características próprias, socialmente
constituídas. Todos eles, no entanto, apresentam uma organização narrativa da linguagem,
que nos permite identificá-los como história de ficção.

Outro ponto importante é compreender que os textos tipologicamente argumentativos


apresentam um modo de organização linguística com ênfase na lógica articulada entre um
ponto de vista e os argumentos que o sustentam (os fatos, dados, citações etc. que reforçam
de forma explícita o ponto de vista defendido). Esse é o seu modo de construir a persuasão.

Um possibilidade para esse estudo é desenvolver a Situação de Aprendizagem (SA) 1, vol. 2, da


3ª série do EM: “Trabalho infantil: interessa a quem?”. A SA como um todo se propõe a
organizar uma produção textual argumentativa, com base no gênero dissertação escolar. São
propostas atividades de leitura reflexiva de textos argumentativos, bem como o
desenvolvimento processual de um projeto de texto argumentativo no qual o estudante
organizará um texto com base em tese e argumentos.

É possível usar a ficha a seguir para auxiliar na leitura de textos tipologicamente


argumentativos:

Qual o gênero do texto em estudo?

Qual o tema central abordado no texto?

Indique algumas marcas linguísticas que permitem


identificar a tese do autor ante o tema.

Sintetize a tese do autor com base no levantamento


anterior.
Indique os fatos, dados, citações etc. usados pelo autor
que reforçam de forma explícita o ponto de vista
defendido.

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Para a elaboração de textos tipologicamente argumentativos em qualquer disciplina, pode ser
usada a ficha a seguir.

Tema central

Tese
Termos que vou definir no texto

Argumento principal

Argumento secundário

Argumento terciário

Exemplo(s) que comprove(m) os argumentos

Outras ideias que desejo aproveita para o texto

Caderno de Língua Portuguesa – Situação de Aprendizagem 1, vol. 2, 3ª série do EM, p. 17.

Para saber mais!

KÖCHE, V. S.; MARINELLO, A. F. Gêneros textuais: práticas de leitura,


escrita e análise linguística. Rio de Janeiro: Vozes, 2015.

O livro é o resultado de uma pesquisa realizada na Universidade de Caxias


do Sul (RS) centrada na análise e na escrita de diferentes gêneros textuais,
inclusive os tipologicamente argumentativos.

MARCUSCHI, L. A. Produção textual, análise de gêneros e compreensão.


São Paulo: Parábola, 2008.

Nessa obra, as noções de texto, gênero e tipos textuais são aprofundadas e discutidas,
considerando-se o processo de ensino e aprendizagem.

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