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D17- Reconhecer o
Sentido das Relações
Lógico-discursivas
Marcadas por
Conjunções, Advérbios.
Caro(a) professor(a),
Equipe COADE
Secretaria da Educação do Estado do Ceará
Comentários referentes ao conteúdo abordado nesta unidade
desde o seu aparecimento até hoje [...] percorreu um longo caminho e vem ampliando
e modificando a cada passo seu espectro de preocupações. De uma disciplina de
inclinação primeiramente gramatical (análise transfática, gramáticas textuais), depois
pragmático discursiva, ela transformou-se em disciplina com forte tendência
sociocognitivista e interacional: as principais questões que ela se coloca, neste início
de milênio, são as relacionadas com o processamento sociocognitivo-interativo de
textos escritos e falados (KOCH, 2015, p. 159).
Desse modo, fica claro que até mesmo os estudos linguísticos passaram por
momentos de transição na percepção de como se devem deter os estudos da língua para
ser possível compreender e explicar a complexidade entre a interação social e a linguagem.
operadores [que] articulam dois atos de fala, em que o segundo toma o primeiro
como tema, com o fim de justificá-lo ou melhor explicá-lo; contrapor-lhe ou adicionar-
lhe argumentos; generalizar, especificar, concluir a partir dele; comprovar-lhe a
veracidade; convocar o interlocutor à concordância etc. (KOCH, 2015, p.131).
Para representar esses articuladores, Koch (2015) traz os conectivos ou, mas,
portanto, aliás, afinal, entre outros. Como afirma Antunes (2014), é essencial para a
construção de textos de opinião o uso adequado dos conectores, fazendo esse movimento
de argumentar, refutar, complementar as ideias que estão sendo defendidas.
Temos ainda os conectores que funcionam como organizadores textuais, como
pondera Maingueneau (1996), citado por Antunes (2015, p.131), eles têm a função de
“estruturar a linearidade do texto, organizá-lo em uma sucessão de fragmentos
complementares que facilitam o tratamento interpretativo”. Muitas vezes, é possível ver
algumas colocações acerca da funcionalidade dos conectores, atribuindo a eles uma
exclusiva função de organizadores, o que se pode contestar ao vermos os estudos de Koch
(2015).
Por fim, a autora traz os articuladores metadiscursivos que funcionam como
mecanismo para imprimir uma opinião de quem está formulando o enunciado ou ainda
tecer comentários acerca da própria enunciação. O exemplo a seguir elucida a
classificação da autora.
Na antiga Esparta, crianças com deficiência eram assassinadas, pois não poderiam
ser guerreiras, profissão mais valorizada na época. Na contemporaneidade, tal barbárie
não ocorre mais, porém há grandes dificuldades para garantir aos deficientes – em
especial os surdos – o acesso à educação, devido ao preconceito ainda existente na
sociedade e à falta de atenção do Estado à questão.
Inicialmente, um entrave é a mentalidade retrógrada de parte da população, que
age como se os deficientes auditivos fossem incapazes de estudar e, posteriormente,
exercer uma profissão. De fato, tal atitude se relaciona ao conceito de banalidade do mal,
trazido pela socióloga Hannah Arendt: quando uma atitude agressiva ocorre
constantemente, as pessoas param de vê-la como errada. Um exemplo disso é a
discriminação contra os surdos nas escolas e faculdades – seja por olhares maldosos ou
pela falta de recursos para garantir seu aprendizado. Nessa situação, o medo do
preconceito, que pode ser praticado mesmo pelos educadores, possivelmente leva à
desistência do estudo, mantendo o deficiente à margem dos seus direitos – fato que é tão
grave e excludente quanto os homicídios praticados em Esparta, apenas mais
dissimulado.
Outro desafio enfrentado pelos portadores de deficiência auditiva é a inobservância
estatal, uma vez que o governo nem sempre cobra das instituições de ensino a existência
de aulas especializadas para esse grupo – ministradas em Libras – além da avaliação do
português escrito como segunda língua. De acordo com Habermas, incluir não é só trazer
para perto, mas também respeitar e crescer junto com o outro. A frase do filósofo alemão
mostra que, enquanto o Estado e a escola não garantirem direitos iguais na educação dos
surdos – com respeito por parte dos professores e colegas – tal minoria ainda estará
sofrendo práticas discriminatórias. Destarte, para que as pessoas com deficiência na
audição consigam o acesso pleno ao sistema educacional, é preciso que o Ministério da
Educação, em parceria com as instituições de ensino, promova cursos de Libras para os
professores, por meio de oficinas de especialização à noite – horário livre para a maioria
dos profissionais – de maneira a garantir que as escolas e universidades possam ter
turmas para surdos, facilitando o acesso desse grupo ao estudo. Em adição, o Estado
deve divulgar propagandas institucionais ratificando a importância do respeito aos
deficientes auditivos, com postagens nas redes sociais, para que a discriminação dessa
minoria seja reduzida, levando à maior inclusão.
Mariana Camelier Mascarenhas.
Disponível em: <http://download.inep.gov.br/educacao_basica/enem/guia_participante/2018/manual_de_
redacao_do_enem_2018.pdf>. Acesso em: 11 jun. 2019.
No texto, escrito por uma estudante no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM),
aparecem outros articuladores dos demais marcadores textuais apresentados neste
material. Em “na contemporaneidade, tal barbárie não ocorre mais” tem-se um articulador
de conteúdo proposicional temporal; em “outro desafio enfrentado pelos portadores de
deficiência auditiva é a inobservância estatal, uma vez que o governo nem sempre cobra
das instituições de ensino a existência de aulas especializadas para esse grupo” aparece
um articulador discursivo-argumentativo. Já em “inicialmente, um entrave é a mentalidade
retrógrada de parte da população” mostra-se um organizador textual.
Fica claro que, em um único texto, podem ser usados diversos meios de articulação
dos enunciados, inclusive em diferentes formas gramaticais como a preposição, advérbios,
com suas devidas locuções, entre outras formas lexicais que podem assumir esse caráter
de conectores (ANTUNES, 2015), além das próprias conjunções, objeto de estudo neste
material.
Por tudo que foi mencionado, um ensino mecânico de classificação das conjunções
limita a possibilidade dos estudantes em perceberem como os conectores expressam um
sentido que pode se distanciar de suas formas usuais. É preciso aguçar a habilidade de
observar o comportamento dos articuladores textuais com suas relações lógico-discursivas.
Assim, Antunes (2015, p. 124) elenca pontos importantes que podem ser analisados pelos
estudantes:
Com uma reserva de 4,90 hm³, as cisternas se tornaram uma das principais fontes
de segurança hídrica do interior cearense. O volume distribuído em áreas rurais de 184
municípios cearenses é praticamente o mesmo da barragem do Rio Cocó (4,99 hm³), em
Fortaleza. Hoje, a principal riqueza do homem e da mulher do campo não está exposta a
céu aberto, sofrendo os danos do calor e da evaporação, mas enterrados alguns
centímetros abaixo da terra e guardados em estruturas de concreto armado.
b) Quais outras formas de reescrever a oração em destaque sem que se perca o sentido
original?
Neste caso, são muitas possibilidades como: hoje, a principal riqueza do homem e da
mulher do campo não está exposta a céu aberto, sofrendo os danos do calor e da
evaporação, porém enterrados alguns centímetros abaixo da terra e guardados em
estruturas de concreto armado”. Caso algum estudante utilize a conjunção e com valor
adversativo, utilize esta questão como exemplo quando for trabalhar o item 4, momento no
qual trataremos desse tema.
Comentário pedagógico da questão 1
A primeira questão dos exercícios tem por objetivo resgatar os conhecimentos
prévios dos estudantes acerca das relações lógico-discursivas dos conectores. Para isso,
utilizamos um trecho de uma reportagem com a presença da conjunção adversativa mas, o
estudante teria, então, que identificar a relação que existia entre as duas orações postas no
período composto. Dessa forma, na questão não é necessário haver um conhecimento
específico sobre o conteúdo, mas um exercício preliminar de interpretação da frase em
destaque. Este tipo de questão é voltado para aqueles estudantes que se encontram em
um nível crítico quanto ao descritor e precisam ainda consolidar esta habilidade. Outras
estratégias de caráter preliminar podem ser tomadas no início dos estudos, com o cuidado
de não nos limitarmos ao exercício de classificação conjuntiva e demais elementos que
foram pontuados na seção teórica deste material.
3. No trecho "... se as pessoas não pararem..." (linha 18), a palavra destacada indica
A) causa.
B) condição.
C) explicação.
D) tempo.
“A contaminação por raiva é avaliada constantemente nos animais, mas não é possível
garantir que o quati não tenha pego a doença recentemente, explica Liliane Milanelo, que
coordena o centro de recuperação de animais silvestres do parque”.
Se substituíssemos o termo destacado por e, você acha que isso acarretaria em alguma
mudança de sentido? Discuta em sala sobre essa questão e defina a maneira mais
adequada de se usar os conectores mas e e.
Espera-se que os estudantes percebam que, semanticamente, nesta situação, o sentido
não muda. Professor, é preciso mediar o debate. Instigue os estudantes a pensarem em
situações que essa troca é comum acontecer. Depois, induza-os a refletir que em contextos
informais e, principalmente, na oralidade a recorrência parece ser maior, haja vista que
nesses momentos os falantes têm uma menor preocupação com a norma padrão.
Nestas duas questões que seguem, podemos reforçar os aspectos principais dos
conectores, pois, nesta etapa do aprendizado, pretende-se entender a função que eles
possuem nos textos. Para que isso ocorra, é importante que nos exercícios possamos
analisar os textos e vermos que os conectores fazem parte de um todo, ao serem
analisados separadamente, vemos que podem pertencer a categorias diferentes, como no
poema. Originalmente, o porém, por exemplo, assume a posição de oposição na
articulação com outros vocábulos. No entanto, na frase “vivo meu porém”, a palavra em
destaque não funciona mais como articulador, mas possui no poema um sentido completo.
Ao analisar esses aspectos com os estudantes, estamos trabalhando com uma perspectiva
pautada na interpretação de textos. Já na questão 6, recorremos ao conhecimento do aluno
acerca das conjunções para que ele possa fazer as inferências necessárias para sua
adequada interpretação.
De acordo com Rui Tavares, “O ideal universitário é as ideias. As ideias sobre como são as
coisas, sobre como funcionam, sobre como deveriam funcionar, ideias sobre ideias”. Seu
desafio agora é refletir sobre uma das questões que mais têm preocupado estudiosos do
clima, cientistas sociais e governantes neste início de século: os efeitos da crescente
urbanização.
Considere, para essa reflexão, as ideias apresentadas nos textos I, II, e III.
TEXTO I
Lá vem a cidade Sobre o país ancestral
(Lenine) Sobre a folha do jornal
Eu vim plantar meu castelo Sobre a cama de casal onde eu venci.
Naquela serra de lá, Eu vim plantar meu castelo
Onde daqui a cem anos Naquela serra de lá,
Vai ser uma beira-mar... Onde daqui a cem anos
Vi a cidade passando, Vai ser uma beira-mar...
Rugindo, através de mim... A cidade
Cada vida Passou me lavrando todo…
Era uma batida A cidade
Dum imenso tamborim. Chegou me passou no rodo...
Eu era o lugar, ela era a viagem Passou como um caminhão
Cada um era real, cada outro era miragem. Passa através de um segundo
Eu era transparente, era gigante Quando desce a ladeira na banguela...
Eu era a cruza entre o sempre e o instante. Veio com luzes e sons.
Letras misturadas com metal Com sonhos maus, sonhos bons.
E a cidade crescia como um animal, Falava como um camões,
Em estruturas postiças, Gemia feito pantera.
Sobre areias movediças, Ela era...
Sobre ossadas e carniças, Bela... fera.
Sobre o pântano que cobre o sambaqui... Fonte: http://letras.mus.br/lenine/1338104/
TEXTO II
Poema de Circunstância Das suas goelas,
Onde estão os meus verdes? Só vemos o céu, estreitamente, através de suas
Os meus azuis? Empinadas gargantas ressecas.
O arranha-céu comeu! Para que lhes serviu beberem tanta luz?
E ainda falam nos mastodontes, nos De fronte
[brontossauros, nos tiranossauros, À janela aonde trabalho...
Que mais sei eu... Há uma grande árvore...
Os verdadeiros monstros, os papões, são eles, Mas já estão gestando um monstro de permeio!
os [arranha-céus! Sim, uma grande árvore muito verde... Ah,
Daqui Todos os meus olhares são de adeus
Do fundo Como o último olhar de um condenado!
QUINTANA, Mário. Prosa & Verso. p. 96.
TEXTO III
Problemas Ambientais Decorrentes da Urbanização
Sugestão 1
Escreva um texto argumentativo tratando de um problema ambiental que, na sua opinião,
afeta mais intensamente a vida dos moradores das grandes cidades. Discuta sobre os
desafios que se colocam para resolver esse problema.
Sugestão 2
Imagine como será o futuro de sua cidade. Escreva uma história de ficção que seja
ambientada nesse lugar e cuja trama se desenvolva entre personagens do século XXII.
8. Agora chegou o momento de revisar! Aproprie-se das observações feitas pelo professor
em seu texto e reescreva-o a fim de trazer melhorias para seu produto final.
Indicativa
Nesse tipo de correção, o professor indica, através de marcações no texto, onde
estariam os trechos que apresentam problemas de qualquer natureza.
Resolutiva
Na correção resolutiva, o professor reescreve palavras, frases e períodos completos
dos textos, refletindo a sua opinião diante da produção do estudante.
Classificatória
Por meio de indicações feitas no texto, o aluno visualiza quais as melhorias a serem
efetuadas. É importante, para esse tipo de correção, que haja uma categorização de
elementos, na qual o professor se baseará para a análise do texto. É preciso, ainda, que
esses elementos sejam previamente esclarecidos com a turma para evitar o surgimento de
qualquer tipo de ambiguidade na leitura das correções. Assim, um método indicado é a
criação de uma planilha de correção, na qual seja convencionado, juntamente com a sala,
os símbolos e expressões que, por ventura, aparecerão nos textos.
REFERÊNCIAS
ANTUNES, Irandé. Gramática Textual: limpando “o pó das ideias simples”. São Paulo:
Parábola, 2014.
KOCH, Ingedore Villaça. Introdução à Linguística: trajetória textual. São Paulo: Editora
Contexto, 2015.
VIEIRA, Iúta Lerche. Escrita, para que te quero?. Fortaleza: Edições Demócrito Rocha,
2005.