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UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO - UFMA

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS - CCH


DEPARTAMENTO DE LETRAS - DELER
DISCIPLINA: SEMÂNTICA
PROF. DRA. MÔNICA SILVA CRUZ
ALUNOS: ANA BEATRIZ BARROS DE LIMA; ANA LUIZE PINHEIRO COSTA;
EDNAN MOREIRA PEREIRA E THALIA SILVA OLIVEIRA.

ENSAIO ACADÊMICO
TEMA: A SEMÂNTICA NO ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA
TÍTULO: Como a semântica está figurada/presente dentro dos livros didáticos de
Língua Portuguesa na Educação Básica?

A abordagem predominante no ensino de Língua Portuguesa frequentemente favorece


a visão prescritiva, deixando em segundo plano outras perspectivas, como aquelas que se
dedicam às habilidades interpretativas e complexidades cognitivas. Nesse contexto, a
Semântica é tratada de forma secundária, figurando apenas como um elemento de apoio nos
apêndices dos manuais didáticos. Essa prática, portanto, aponta para uma possível
desvalorização do estudo aprofundado do significado, o que evidencia a necessidade de uma
abordagem mais equilibrada e abrangente no ensino da língua materna. Por conseguinte, este
ensaio busca examinar a relevância do ensino de Semântica na educação básica, especialmente
dos aspectos da ambiguidade lexical, destacando o seu papel na promoção da competência
comunicativa e na consolidação das bases linguísticas necessárias para o sucesso acadêmico
dos alunos enquanto estudantes.
Inicialmente, percebe-se que a problemática não está somente nos manuais didáticos,
mas também na formação acadêmica dos próprios professores. Muitas vezes, a Semântica é
apresentada de forma simplista, isolada, restrita à estudos puramente acadêmicos e sem as
implicações reais da área no cotidiano, o que influencia, principalmente, no ensino. Em
oposição a essa realidade, podemos nos ater às contribuições de Guiraud (1986, p. 8): “É
Semântica tudo o que se refere ao sentido de um sinal de comunicação”. Essa visão poderia
nos proporcionar, enquanto professores em formação, perspectivas menos engessadas da
Semântica, que atrelariam seus conteúdos à situações de comunicação e usos reais.
Ferrarezi (2019), diz que a Semântica é uma das áreas menos estudadas na Educação
Básica do nosso país. É a partir desta abordagem inicial que se torna possível compreender o
grande motivo pelo qual este ensino ainda é pouco discutido nas escolas e, especialmente, os
fatores pelos quais a ambiguidade e os seus aspectos (fenômenos recorrentes da múltiplas
interpretações) são, ainda, quando repassados, ministrados de forma estrutural, tradicionais e
com uma abordagem mais sistemáticas e roteirizada (o que não favorece uma aprendizagem
tão significativa dos alunos e tampouco desperta a visão crítica deles).
Cançado (2012, p. 70) observa que “a ambiguidade é, geralmente, um fenômeno
semântico que aparece quando uma simples palavra ou grupo de palavras é associado a mais
de um significado”. Esta paráfrase, portanto, justifica a pauta do parágrafo anterior, uma vez
que, neste enunciado de Cançado (2012) e nos próprios livros didáticos de Língua Portuguesa
da Educação Básica (como poderemos observar nas imagens figurativas abaixo), cujos
deveriam trazer uma análise mais eficiente dos diferentes tipos de ambiguidades aos estudantes,
para que assim eles pudessem se desconstruir das abordagens mais conceituais, existe, ainda,
uma roteirização de concepções que refletem, infelizmente, não apenas em quem os escreveu,
mas em quem está passando o conteúdo (professores) e em quem está aprendendo (alunos).
Observemos as duas figuras abaixo retiradas de um livro didático de Língua Portuguesa
do ensino fundamental maior, às quais contribuem com as análises sobre a ausência de termos
e de concepções semânticas discorridas até aqui.
Figura retirada de um livro de Português da Educação Básica (EB)

Disponível em:https://editorarealize.com.br/editora/anais/conedu/2021/TRABALHO_EV151_MD1_SA108_ID1972_29072021170437.pdf

“Na propaganda há duas interpretações para a expressão “morrer de raiva”: o já


explicitado sentido relacionado à doença, que altera a aparência e o comportamento
dos cães, e o sentido ligado ao descontrole emocional, estendendo-se a ambiguidade
para a palavra “morrer”. Observa-se que na segunda ocorrência da palavra “raiva”, a
leitura associada à doença canina é favorecida devido ao contexto linguístico
oferecido ao leitor: há uma sentença mencionando uma campanha de vacinação para
cães e gatos e elementos gráficos que direcionam quem lê a propaganda a esse campo
semântico.” (HENRIQUES, 2011, p. 90).
Figura retirada de um livro de Português da EB

Disponível em: https://editorarealize.com.br/editora/anais/conedu/2021/TRABALHO_EV151_MD1_SA108_ID1972_29072021170437.pdf

“No caso acima, a ambiguidade se dá devido a estrutura do sintagma na sentença: “o


pai do namorado de Diana, que também morreu no acidente em Paris, em 1997”.
Logo, como a própria sugestão de resposta no Manual do Professor apresenta, torna-
se ambíguo pelo fato de o leitor tanto achar que o namorado da Princesa Diana faleceu
como também achar que foi o pai dele, o que pode causar alguma confusão por parte
do leitor.” (DELMATO E CARVALHO, 2018, p.182).

Pode-se perceber, primeiramente, que o livro didático do professor (figura I), é


reflexo de uma abordagem estruturalista e sem possibilidades de maior compreensão e/ou
pensamentos (uma vez que são dadas respostas muito conceituais e simplistas e estas devem,
em discussões posteriores com os alunos, ser passadas pelo professor como apontamento
final dos diálogos abordados e como consequência de respostas e consensos atribuídos como
“corretos”).
A figura I de uma das questões do livro didático de Língua Portuguesa, aborda uma
propaganda da ambiguidade lexical, a qual ocorre por meio da polissemia: “polissemia ocorre
quando os possíveis sentidos da palavra ambígua têm alguma relação entre si:” (op. cit., p.
63). No entanto, como contra-argumento da abordagem inicial do parágrafo anterior, o livro
não desperta nem ao professor, tampouco aos alunos, a possibilidade de uma discussão que
partisse, inicialmente, da compreensão do conceito de léxico e a sua referência para, depois, a
introdução do conceito tradicional de que a ambiguidade parte de “um e/ou mais significados
na palavra.
Posteriormente, como observado na figura II do mesmo livro didático, o tópico frasal
da questão inicia de forma conceitual e totalmente tradicional em sua estrutura, não que isso
seja incorreto. A leitura aponta que existe ambiguidade presente no enunciado, mas não traz
nenhuma referência e/ou detalhamento para que o aluno tenha uma visão crítica acerca do
conteúdo ministrado. Visa-se que esse tipo de questão quer que o aluno identifique qual o
termo e/ou palavra que traz uma dupla interpretação, entretanto, é possível que esse mesmo
aluno não compreenda nem o sentido e nem o significado do próprio termo na oração e o
porquê ele obedece uma análise mais semântica do que estrutural. Logo, aí está o problema
dessa não abordagem dos livros didáticos atualmente, os quais deveriam partir, inicialmente,
dos conceitos semânticos para que, depois, fossem feitas abordagens mais tradicionais.
Ademais, Antunes (2012, p. 14) afirma que “[...] para conseguirmos a tão apregoada
competência em falar, ler, compreender e escrever, é necessário conhecer, ampliar e explorar
o território das palavras, tão bem ou melhor do que o território da gramática”, a afirmação de
Antunes sugere que a competência linguística vai além das regras gramaticais, enfatizando a
necessidade de um estudo profundo do significado das palavras e sua utilização contextual. Ao
afirmar que é necessário conhecer, ampliar e explorar o território das palavras, Antunes (2012)
está, de certa forma, enfatizando a importância da semântica lexical. Compreender as nuances
de significado, os diferentes usos e os contextos nos quais as palavras são aplicadas é
fundamental para uma comunicação eficaz e para a interpretação correta de textos.
Diante desse cenário, torna-se essencial explorar outras abordagens e estratégias para o
ensino da semântica, com ênfase na ambiguidade lexical, a qual representa um desafio
considerável, sobretudo no âmbito da Educação Básica. Visando lidar eficazmente com essa
complexidade, sugere-se a incorporação de atividades interativas no contexto do ensino
fundamental. Essas atividades têm como propósito oferecer aos estudantes uma compreensão
mais profunda e aplicada da ambiguidade lexical, promovendo, assim, uma aprendizagem mais
significativa.
Uma estratégia central na proposta é a incorporação de jogos de palavras no ambiente
educacional. Por meio de jogos como palavras cruzadas, caça-palavras temáticos e quebra-
cabeças, os alunos podem explorar e identificar diferentes significados de palavras em
contextos específicos. Essa abordagem lúdica não apenas torna o aprendizado mais envolvente,
mas também desenvolve a habilidade dos alunos em lidar com a ambiguidade lexical de
maneira prática. A leitura dirigida é outra proposta de atividade para abordar a ambiguidade
lexical. A seleção de textos que contenham exemplos claros de palavras com múltiplos
significados permite que os alunos destaquem e discutam, em grupo, as interpretações
possíveis. Essa atividade não apenas reforça a análise contextual, mas também incentiva a troca
de ideias e perspectivas entre os alunos.
Como última proposta, sugere-se a construção de histórias coletivas que é uma
atividade que visa promover a criatividade dos alunos enquanto exploram a ambiguidade
lexical. Trabalhando em grupos, os alunos criam narrativas que incorporam palavras com
múltiplos significados de maneira consciente. Essa abordagem não apenas desafia os alunos a
pensar de forma crítica sobre a escolha vocabular, mas também estimula a expressão criativa
deles.
Em síntese, com o fim das abordagens realizadas ao longo deste ensaio acadêmico sobre
o ensino de Semântica na Língua Portuguesa e como ela está inserida na Educação Básica,
conclui-se que, infelizmente, a problemática da prevalência de uma abordagem que, muitas
vezes, predominantemente se torna prescritiva no ensino de Língua Portuguesa, a qual relega
à Semântica um papel secundário e a trata de maneira simplista, tanto nos manuais didáticos
quanto na formação acadêmica dos professores, é o que torna um ensino ainda não tão
significativo e muito conceitual. Essa prática reflete não apenas em uma lacuna nos recursos
educacionais, mas também na compreensão da relevância da Semântica na vida cotidiana e no
desenvolvimento das habilidades interpretativas e cognitivas dos alunos, o que evidencia um
detrimento de tais competências. A ambiguidade lexical, discorrida aqui como um fenômeno
semântico crucial, é subestimada e apresentada de forma estrutural e tradicional, prejudicando
a compreensão profunda do significado e a capacidade crítica dos estudantes.
Além disso, como destacado ao longo deste ensaio, vale ressaltar que a falta de ênfase
da Semântica na Educação Básica, é o que contribui para a escassez de discussões sobre o tema
nas escolas. Diante desse cenário, argumenta-se em favor de uma abordagem que seja mais
equilibrada e abrangente no ensino da língua materna, especialmente destacando a importância
da Semântica. Vale salientar, também, que explorar estratégias e abordagens às quais possam
promover um ensino mais eficaz da Semântica, especialmente no que diz respeito à
ambiguidade lexical, é o que irá proporcionar aos alunos uma aprendizagem mais significativa.
Essas abordagens não apenas tornam o aprendizado mais envolvente, mas também
proporcionam uma compreensão mais profunda e aplicada da ambiguidade lexical.
Em suma, acredita-se que a adoção dessas práticas no ensino da Semântica, sobretudo
aos estudos da ambiguidade, pode contribuir significativamente para a formação de alunos mais
competentes comunicativamente e mais capazes de enfrentar os desafios linguísticos que a vida
acadêmica e profissional lhes apresentará. Portanto, é urgente repensar e revitalizar as
estratégias pedagógicas, garantindo que o ensino de Língua Portuguesa abranja de maneira
equilibrada os aspectos prescritivos e interpretativos, promovendo uma compreensão profunda
e contextualizada da Semântica. Não procuramos, aqui, encontrar culpados por essa
manipulação acerca do ensino de Semântica na educação, mas procuramos analisar o porquê
de uma abordagem ainda tão roteirizada (o que reflete, infelizmente, na construção de formação
de professores e nos apontamentos críticos de alguns alunos) e nada atual.
Referências
ANTUNES, Irandé. O território das palavras: estudo do léxico em sala de aula. – São Paulo:
Parábola Editorial, 2012.

CANÇADO, M. Manual de semântica: noções básicas e exercícios. São Paulo: Contexto,


2012.

DELMATO, Dileta; CARVALHO, Laiz B. de. Português: conexão e uso, 9° ano - manual
do professor. São Paulo: Saraiva, 2018.

DE OLIVEIRA, Fernanda Alvim; JUNIOR, Celso Ferrarezi. ANÁLISE SEMÂNTICA: OS


PROCESSOS DE RESSIGNIFICAÇÃO EM LIVROS DIDÁTICOS. Revista (Entre
Parênteses), v. 4, n. 1, 2015.

GUIRAUD, Pierre. A semântica, (trad. Maria Elisa Mascarenhas et al.) São Paulo: DIFEL,
1986.

HENRIQUES, Marcílio Dias. Um estudo sobre a produção de significados de estudantes


do ensino fundamental para área e perímetro. 2011. Tese de Doutorado. Dissertação
(Mestrado Profissional em Educação Matemática). Universidade Federal de Juiz de Fora. Juiz
de Fora, Minas Gerais: UFJF.

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