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BIOLOGIA

HUMANA
AULA 5
Crescimento,
Desenvolvimento
e Maturação

ABERTURA

Olá!

Nas duas primeiras décadas de vida, o ser humano apresenta um processo de crescimento e
de desenvolvimento do seu corpo. Isso possibilita que diariamente as pessoas possam se
movimentar e executar suas atividades diárias, por meio de movimentos realizados em um
ambiente - em casa, na academia, no trabalho ou em qualquer outro espaço.
Toda pessoa se move com um propósito, especialmente para as atividades ou tarefas que
realiza. A forma como se movimenta muda bastante desde seu nascimento e seguirá se
modificando ao longo de sua vida por intermédio do processo de maturação. O crescimento, o
desenvolvimento e a maturação de um organismo incluem todas as mudanças morfológicas
e fisiológicas que contribuem para o curso de seu ciclo de vida.
Nesta aula, você irá ter a oportunidade de compreender e construir a definição de
crescimento corporal e de desenvolvimento, além de analisar a definição de maturação.

Bons estudos.
REFERENCIAL TEÓRICO

O crescimento, o desenvolvimento e a maturação são fenômenos que atravessam o ciclo


da vida de todo indivíduo. Ainda que possam ser comuns a todos nós, eles podem se apresentar
de formas variadas e em ritmos diferentes.
Na obra Crescimento e Desenvolvimento Humano e Aprendizagem Motora, leia o
capítulo "Conceitos de crescimento, desenvolvimento e maturação", base teórica desta aula.
Nele, você verá os conceitos de maturação, desenvolvimento e crescimento, assim
como aprofundará seus conhecimentos sobre cada um desses fenômenos.
Ao final deste estudo, você terá aprendido a:
• Definir crescimento corporal.
• Identificar desenvolvimento.
• Analisar maturação.

Boa leitura.
Conceitos de crescimento,
desenvolvimento
e maturação
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Definir crescimento corporal.


„„ Identificar desenvolvimento.
„„ Analisar maturação.

Introdução
Embora sejam comumente confundidos, crescimento, desenvolvimento
e maturação são processos distintos. De modo geral, todos os seres hu-
manos crescem, se desenvolvem e amadurecem à medida que o tempo
passa. No entanto, cada indivíduo e cada fase da vida podem apresentar
peculiaridades significativas.
Como profissional de educação física, você deve estar atento a esses
fatores. Como você vai ver, é por meio de avanços físicos, cognitivos,
afetivos e sociais que o ser humano se desenvolve e atinge a sua plenitude
na idade adulta. Neste capítulo, você vai estudar o crescimento corporal,
o desenvolvimento humano e a maturação.

Crescimento corporal
Como você sabe, os organismos nascem, crescem e morrem. É assim que
normalmente ocorre no ciclo de todos os animais, inclusive no dos seres
humanos. Logo, o termo “crescer” está associado ao tamanho que os corpos
dos organismos vivos atingem ao longo de suas existências. O crescimento
corporal humano, então, são as alterações que o corpo humano sofre quanto
ao seu tamanho. Tais alterações ocorrem basicamente pela multiplicação das
2 Conceitos de crescimento, desenvolvimento e maturação

células (GUEDES, 1997; TANI et al, 1988). Arruda (1993) explica que o cres-
cimento é uma variável que pode ser mensurada por instrumentos e protocolos
de avaliação, que conferem aos indivíduos medidas quantitativas. Há, por
exemplo, instrumentos que verificam as medidas antropométricas de estatura,
de massa corporal, de dobras cutâneas, de circunferências e de diâmetros.
Nesse mesmo sentido, Machado (2007) atribui ao crescimento a perspectiva
de ganhos de massa corporal e estatura em relação às medidas de tempo. Ou
seja, o crescimento tem relação com quantas gramas um indivíduo adquire
e com quantos centímetros ele cresce ao longo de dias, meses ou anos. Esses
processos de ganhos ao longo do tempo ocorrem devido às mudanças estru-
turais das células que compõem o corpo humano. Malina e Bouchard (2002)
explicam que esse fenômeno de aumento corporal ocorre a partir de três
processos distintos, como você pode ver a seguir.

„„ Hiperplasia: aumento de células a partir das divisões celulares. Ocorre


predominantemente nos processos de aumento de tecido adiposo.
„„ Hipertrofia: aumento dos tamanhos celulares a partir dos processos de
elevação funcional que ocorrem geralmente a partir das proteínas e dos
substratos. Como exemplo, você pode considerar os ganhos de massa
dos músculos esqueléticos que ocorrem após sessões de treinamento
físico sistematizado em fibras do tipo II.
„„ Agregação: aumento das substâncias intercelulares orgânicas e inor-
gânicas que agregam e agrupam as células. Por exemplo, a formação
de tendões e de ossos necessita de muitas dessas substâncias que ligam
uma célula a outra, geralmente fibras de colágeno.

É importante você notar que esses três fenômenos, apesar de serem fun-
damentais para o crescimento, variam de acordo com o tecido envolvido. Por
exemplo, o tecido adiposo apresenta uma hiperplasia maior em relação ao
tecido muscular. Este último está mais ligado aos processos de hipertrofia.
Além disso, Malina e Bouchard (2002) ainda atentam para um quarto processo
de crescimento, que ocorre a partir da destruição celular. O corpo humano
apresenta tanto processos em que células são geradas e/ou aumentam de ta-
manho quanto processos em que células morrem e/ou diminuem de tamanho.
Quando há equilíbrio entre os ganhos e as perdas celulares, o que acontece
geralmente na fase adulta, ocorre o crescimento estável. Quando ocorre um
desequilíbrio que pende para uma perda celular em demasia sobre os ganhos
Conceitos de crescimento, desenvolvimento e maturação 3

celulares, ocorre o crescimento negativo. Este último fenômeno normalmente


se origina de processos patológicos ou se relaciona ao envelhecimento.
Muitos aspectos relativos ao crescimento dependem do potencial genético de
cada indivíduo. Assim, cada sujeito apresenta um potencial de crescimento con-
forme seus condicionantes hereditários. No entanto, estudos apontam que tais
potenciais encontram impedimentos e possibilidades de se concretizarem em
algumas variáveis ambientais (GLANER, 2005; GUEDES, S. P.; GUEDES, J.,
1995). Isto é, o crescimento pode ser influenciado pelas qualidades sociais,
econômicas e políticas do contexto no qual um indivíduo vive. Glaner (2005) e
Nahas et al (1992) ainda apontam que medidas como peso e estatura, basilares
para se verificar o crescimento corporal, são utilizadas como indicadores de
qualidade do bem-estar social de muitos países. É o caso dos instrumentos
destinados a aferir as condições nutricionais de crianças, por exemplo.

O crescimento, além de ter características hereditárias, também é influenciado por


fatores ambientais, nutricionais e hormonais, que se relacionam ao sexo e às patologias,
como você pode ver na Figura 1, a seguir. Esses fatores ainda influenciam os processos
de desenvolvimento e maturação, que você vai estudar ao longo deste capítulo.

Hereditários Neuroendócrinos
Etnia Sexo

Endógeno
Crescimento,
Doença desenvolvimento
Exógeno
e maturação

Nutricionais Ambientais
Figura 1. Fatores que influenciam o crescimento, o desenvolvimento e a maturação.
Fonte: Adaptada de Fundação Vale (2013, p. 14).
4 Conceitos de crescimento, desenvolvimento e maturação

Fases e tipos de crescimento


O crescimento se caracteriza pelo aumento de massa ou pela divisão celular.
Ele pode ser mensurado quantitativamente, como em centímetros e quilo-
gramas, por exemplo. O crescimento humano ocorre com muita ênfase nos
primeiros anos de vida, em especial até cada indivíduo atingir a fase adulta.
No entanto, ele não acontece de maneira uniforme. Assim, Moreira (2011)
identifica quatro fases nitidamente distintas no crescimento humano, como
você pode ver a seguir.

„„ Primeira fase: ocorre da concepção até o nascimento. Nesse período,


a divisão celular é bastante potente, caracterizando os órgãos internos,
formando as estruturas corporais e dando início ao crescimento cerebral.
As influências ambientais, ou seja, aquelas alheias ao organismo do
embrião ou do feto, são bastante significativas.
„„ Segunda fase: também denominada primeira infância ou fase do lac-
tente. Inicia-se no nascimento e se estende até os dois anos, aproxima-
damente. No primeiro ano de vida, as crianças crescem, em média,
25 cm ao ano. No ano seguinte, essa média diminui para 15 cm. A
desaceleração vai ocorrendo gradualmente, até que o crescimento atinja
de 4 a 6 cm ao ano.
„„ Terceira fase: também denominada segunda infância, fase da infância
intermediária ou fase pré-puberal. Nessa fase, que se estende do terceiro
ano de vida até os 11 anos de idade, o crescimento apresenta certo
equilíbrio e certa uniformidade. A criança adquire cerca de 5 cm ao
ano e o peso tende a acompanhar a sua estatura.
„„ Quarta fase: mais conhecida como adolescência, mas também referida
como fase puberal. Nesse período, ocorre nova aceleração do cresci-
mento, que dura até os 15 anos de idade e ocorre devido às secreções
dos hormônios sexuais e do hormônio do crescimento (somatotrofina).
Após, ocorre uma rápida desaceleração até aproximadamente os 18 anos
de idade, quando a fase se encerra com a fusão das epífises.

Como você viu, o crescimento é desigual mesmo naqueles indivíduos que


possuem semelhanças genéticas e ambientais. Com isso, as idades de início e
término das fases podem ser distintas para cada ser humano.
Ao longo da vida de cada indivíduo, ocorrem fases que são denominadas
saltos de crescimento ou estirões do crescimento. São períodos em que o
crescimento é mais evidente. Na primeira infância, por exemplo, ocorrem
Conceitos de crescimento, desenvolvimento e maturação 5

vários saltos de crescimento. Neles, em um período que costuma durar de 1 a 6


semanas, as crianças apresentam crescimento acima da média. Geralmente, os
saltos de crescimento da infância não têm grandes distinções entre indivíduos
de sexos diferentes. As diferenças mais notáveis que ocorrem quanto ao sexo
se dão predominantemente no início da adolescência.
A velocidade e o ritmo do crescimento entre meninas e meninos começam
a se diferenciar na puberdade, quando o salto de crescimento varia entre 8 e
14 cm por ano. Comumente, a estatura de meninas avança mais cedo, entre 9 e
14,5 anos de idade, durando cerca de 2 a 3 anos. Em meninos, esse fenômeno
demora um pouco mais, ocorrendo geralmente entre os 11 e os 16 anos de
idade, durando o mesmo período. O fenômeno que marca o crescimento ace-
lerado durante o início da adolescência é chamado de surto do crescimento
adolescente (GALLAHUE; OZMUN, 2013; PAPALIA; OLDS; FELDMAN,
2013). Logo, não é incomum que crianças com 12 anos de idade, por exemplo,
tenham diferentes estaturas e que, passados alguns anos, essas diferenças se
atenuem.

As diferenças de crescimento durante a puberdade são cruciais para as habilidades


motoras. No início do surto do crescimento adolescente, é comum haver pouco
ou nenhum avanço na aquisição de habilidades motoras, o que está ligado ao pouco
domínio de um corpo que se mostra cada vez maior em comprimento e peso. Assim,
é fundamental o profissional de educação física motivar e encorajar os adolescentes
até a sua adaptação às novas proporções corporais.

Além de ter diferentes fases, o crescimento corporal pode ser classificado


quanto às mudanças específicas que ocorrem em cada célula, cada órgão e
cada tecido do organismo. Nesse sentido, Moreira (2011) identifica quatro tipos
de crescimento que ocorrem conforme cada estrutura corpórea. Veja a seguir.

„„ Crescimento geral somático: é a totalidade do crescimento corporal


humano, incluindo os ganhos em tecido muscular e ósseo, volume
sanguíneo, órgãos dos aparelhos respiratório, circulatório e digestivo,
rim e baço. É representado por uma curva crescente, mas de velocida-
6 Conceitos de crescimento, desenvolvimento e maturação

des diferentes devido às acelerações do crescimento que ocorrem na


primeira infância e na adolescência.
„„ Crescimento neural: apresenta maior velocidade nos primeiros anos
de vida, quando o crescimento do cérebro, do cerebelo e de estruturas
afins, como o aparelho ocular e o perímetro cefálico, é mais evidente.
„„ Crescimento linfoide: marcado pelo crescimento de estruturas como
o timo, os gânglios linfáticos, as amídalas, as adenoides e os folículos
linfoides intestinais. Geralmente, ocorre mais entre os 8 e os 10 anos
de idade.
„„ Crescimento genital: engloba o crescimento de estruturas como tes-
tículos, ovários, epidídimo, vesículas seminais, próstata, útero e seus
anexos. Nos primeiros 8 a 10 anos de vida, o crescimento dessas es-
truturas é bastante lento. Na chegada da puberdade, elas acompanham
a aceleração que marca essa fase.

Como você viu, o crescimento diz respeito às alterações pelas quais o corpo
humano passa ao longo dos anos. Essas modificações resultam de alterações
celulares e de substâncias que as agregam, podendo ser classificadas conforme
as fases em que ocorrem mudanças mais evidentes ou quanto aos tipos de
células, tecidos e órgãos envolvidos. Além disso, é importante você lembrar-
-se de que tais modificações não são uniformes em todos os indivíduos. Elas
podem ser influenciadas por fatores hereditários, pelo sexo, pelos contextos
ambientais (tais como os nutricionais, econômicos e sociais) e, ainda, por
patologias genéticas ou adquiridas.

Desenvolvimento humano
O desenvolvimento humano, além de ocorrer de acordo com o crescimento
corporal, ainda engloba as dimensões físicas, cognitivas, comportamentais,
afetivas e sociais. Desse modo, o ser humano apresenta características de
desenvolvimento específicas em cada fase da vida. Da mesma forma como
ocorre com o crescimento, o desenvolvimento é distinto para cada indivíduo.
Ou seja, se você comparar crianças em estágios de crescimento iguais, por
exemplo, tanto pode perceber diferenças significativas quanto ao seu desen-
volvimento quanto notar características muito semelhantes.
As mudanças nas diversas dimensões humanas envolvem novas possibili-
dades de relacionamento dos sujeitos consigo próprios e com o meio em que
estão inseridos. Gallahue e Ozmun (2013, p. 469) destacam que o desenvolvi-
Conceitos de crescimento, desenvolvimento e maturação 7

mento diz respeito às “mudanças no nível de funcionamento do indivíduo ao


longo do tempo”. O desenvolvimento humano, portanto, trata das mudanças
funcionais pelas quais os indivíduos passam ao longo dos anos, que podem
ser aferidas por métodos quantitativos e qualitativos.

Em determinados aspectos, o desenvolvimento pode apresentar avanços durante


todo o ciclo da vida. Mesmo em condições de envelhecimento, em que os aspectos
físicos podem enfrentar um rápido declínio, outras aptidões, como aquelas referentes
ao vocabulário, podem continuar se desenvolvendo.

Os estudos do desenvolvimento humano começaram entre o final do século


XIX e o início do século XX. Nesse período, alguns teóricos romperam com a
ideia de que as crianças seriam adultos em potencial, adquirindo ao longo da
vida apenas ganhos corporais e a habilidade de usar as novas estruturas que se
formavam. Assim, surgiram várias teorias sobre o desenvolvimento humano,
com perspectivas dimensionais específicas, que variam conforme os conhe-
cimentos e interesses de seus criadores. Por exemplo, a teoria psicanalítica,
criada por Sigmund Freud em meados do século XX, busca compreender o
desenvolvimento humano a partir de questões relativas à personalidade e ao
funcionamento psíquico considerado anormal.

Abordagens conceituais
A partir dos diferentes estudos sobre o desenvolvimento humano, surgiram
alguns conceitos importantes. Para Malina e Bouchard (2002), o desenvol-
vimento se caracteriza pelas alterações adaptativas que proporcionam deter-
minadas habilidades. Malina, Bouchard e Bar-or (2004) evidenciam que o
desenvolvimento ocorre a partir de processos de alteração e especialização
de células, tecidos e órgãos. Para Guedes, S. P. e Guedes, J. (1995), esse é
um processo que envolve a maturação e as experiências proporcionadas e
vivenciadas por cada indivíduo, se estendendo da concepção até a morte.
Baxter-Jones e Maffuli (2002) explicam que o desenvolvimento se materializa
à medida que os sujeitos adquirem habilidades motoras e as utilizam com
8 Conceitos de crescimento, desenvolvimento e maturação

base em competências. Palafox (2009) compreende que o desenvolvimento


depende dos comportamentos perceptivo-motores, que ocorrem por meio de
condicionantes como a exploração lúdica, o controle motor, a noção corporal,
espacial e temporal, entre outros fatores.
Evidentemente, há diferentes perspectivas teóricas sobre o desenvolvimento
humano. No entanto, existem várias semelhanças entre essas perspectivas. É
possível, então, agrupar as diferentes teorias do desenvolvimento em abor-
dagens conceituais. No Quadro 1, a seguir, você pode ver as abordagens
conceituais a partir das teorias que ganharam maior notoriedade no meio
científico ao longo dos anos.

Quadro 1. Abordagens conceituais ao desenvolvimento

Abordagem Teóricos
Foco de pesquisa
conceitual representativos

Teoria das fases/ Sigmund Freud Estudo do desenvolvimento


estágios psicossexual desde o nascimento
até o final da infância.

Erik Erikson Estudo do desenvolvimento


psicossocial ao longo da vida.

Arnold Gesell Estudo dos processos de maturação


no desenvolvimento do sistema
nervoso central desde o nascimento
até o final da infância (“a ontogenia
recapitula a filogenia”).

Teoria da tarefa Robert Estudo da interação entre biologia


desenvolvimental Havighurst e sociedade na maturidade
desenvolvimental desde a
infância até o fim da vida.

Teoria dos marcos Jean Piaget Estudo do desenvolvimento


desenvolvimentais cognitivo como um processo
interativo entre biologia e
ambiente desde a época de
bebê até o final da infância.

Teoria ecológica Nicholas Estudo do desenvolvimento


(ramo dos sistemas Bernstein; Kugler, como um processo transacional
dinâmicos) Kelso e Turvey descontínuo e auto-organizado
entre a tarefa, o indivíduo e o
ambiente ao longo de toda a vida.

(Continua)
Conceitos de crescimento, desenvolvimento e maturação 9

(Continuação)

Quadro 1. Abordagens conceituais ao desenvolvimento

Abordagem Teóricos
Foco de pesquisa
conceitual representativos

Teoria ecológica Roger Estudo do desenvolvimento


(ramo do Barker; Urie como função da interpretação
ambiente Bronfenbrenner individual de condições ambientais
comportamental) específicas em transação com o
momento sociocultural e histórico.

Teoria do Schmidt e Estudo do desenvolvimento


processamento Lee; Kephart como um processo perceptivo-
de informações motor e dos eventos que ocorrem
internamente entre o input
sensorial e o output motor.

Fonte: Adaptado de Gallahue e Ozmun (2013, p. 45).

A partir das diferentes abordagens teóricas, você pode perceber que, tal
qual o crescimento, o desenvolvimento pode ocorrer ao longo da vida de cada
indivíduo. Muitas teorias enfatizam as interações entre o organismo biológico
e o ambiente no qual cada sujeito se encontra. Ou seja, as condições culturais,
sociais e econômicas são fundamentais no desenvolvimento.
Ainda que crescimento e desenvolvimento sejam processos distintos, eles se
relacionam à medida que ocorrem as alterações celulares e de outras substâncias
inorgânicas e orgânicas que compõem o corpo humano. O desenvolvimento,
portanto, assume diferentes perspectivas dependendo da dimensão humana
considerada. Ele é um processo que muitas vezes envolve parâmetros não
numéricos, elaborados a partir de critérios qualitativos. O desenvolvimento
se modifica com o passar dos anos, especialmente na adolescência, quando se
intensificam os processos de maturação, que você vai ver na próxima seção.

Maturação
Além do crescimento e do desenvolvimento, um terceiro conceito é essencial
aqui: a maturação. Para Gallahue e Ozmun (2013, p. 474), a maturação é o
“processo de mudança desenvolvimental caracterizado por uma ordem fixa de
progressão, em que o ritmo pode variar, mas a sequência de surgimento das
10 Conceitos de crescimento, desenvolvimento e maturação

características é a mesma”. O amadurecimento, então, está ligado aos processos


de crescimento e desenvolvimento biológicos e também é, em síntese, muito
influenciado por características inatas.
Nesse mesmo sentido, Baxter-Jones, Eisenman e Sherar (2005) apontam
que esse processo não está relacionado ao tempo em um sentido cronológico.
Isto é, ainda que a ordem de maturação seja a mesma para muitos indivíduos,
ela pode se apresentar em momentos cronológicos diferentes. Por exemplo, se
você comparar o processo de maturação de diferenças crianças de 10 anos, vai
ver que determinadas estruturas corporais estão em um processo maturacional
mais avançado em alguns indivíduos. Assim, os mesmos autores afirmam que
há dois componentes a serem considerados durante o processo de maturação: o
tempo e o timing. O tempo diz respeito às velocidades em que cada indivíduo
progride para o estágio maduro. O timing diz respeito aos exatos momentos
em que os eventos demarcatórios da maturação acontecem, como a idade em
que a menarca é atingida.
Logo, embora a maturação seja abordada qualitativamente, os eventos que
marcam o amadurecimento do corpo humano ocorrem a partir de fenômenos
visíveis. Para verificar mudanças, geralmente são utilizados os indicadores
de maturação, que consideram diversas partes corporais. Os indicadores
mais utilizados são a avaliação da idade esquelética, das características se-
xuais secundárias, do status menarquiano e/ou das características somáticas
(BAXTER-JONES; EISENMAN; SHERAR, 2005).

Idade morfológica
A idade morfológica diz respeito à comparação entre o crescimento em altura
e peso. Esses índices são avaliados por padrões normativos. O primeiro deles,
explicam Gallahue e Ozmun (2013), surgiu em 1948, é chamado de escala de
Wetzel e foi usado por algumas décadas por pediatras mundiais. Atualmente,
a escala de Wetzel é pouco utilizada devido às mudanças morfológicas popu-
lacionais que ocorreram ao longo dos anos.
Atualmente, é muito comum os pediatras utilizarem os gráficos de desen-
volvimento físico construídos em 2006 pela Organização Mundial de Saúde
(WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2006). Essa representação gráfica
apresenta curvas em que os percentuais de idade classificam os indivíduos
dentro ou fora da média geral da população.
Conceitos de crescimento, desenvolvimento e maturação 11

As cadernetas da criança e do adolescente contêm inúme-


ras informações relacionadas ao crescimento, ao desen-
volvimento e à maturação, além de dados referentes aos
controles patológicos e epidemiológicos. No link ou código
a seguir, você pode realizar o download desses materiais.

https://goo.gl/o18qoC

Idade esquelética
A idade esquelética, ou idade óssea, fornece informações que possibilitam
identificar a idade biológica do esqueleto. Geralmente, ela é calculada por
meio de radiografias dos ossos carpais que integram a articulação do pulso.
Em termos de maturação biológica, esse método fornece informações bastante
acuradas (GALLAHUE; OZMUN, 2013).
Contudo, por necessitar de equipamentos laboratoriais, o acesso a essas
medidas é mais escasso. Além disso, a exposição constante à radiação pode
ser agressiva à saúde. Portanto, a mensuração da idade esquelética é pouco
utilizada devido à necessidade de um laboratório, aos custos que envolvem tal
exame, à inconveniência de deslocamento até os locais com os equipamentos
necessários e aos efeitos cumulativos da radiação.

Características sexuais secundárias


As características sexuais podem ser descritas como primárias e secundárias. As
características primárias são aquelas relacionadas aos órgãos sexuais e definem
a sexualidade biológica (em masculino e feminino). As características sexuais
secundárias são as alterações corporais — mais comuns na puberdade — que
acentuam as particularidades masculinas e femininas, como os pelos faciais, os
pelos auxiliares e o agravamento da voz (GALLAHUE; OZMIUN, 2013). Assim,
o surgimento e o amadurecimento de características sexuais secundárias, tam-
bém denominado idade sexual, é outro método de aferir a maturação biológica.
O método mais comum de avaliar a idade sexual é a escala da maturidade
de Tanner, desenvolvida em 1962. Esse método consiste em avaliar o cresci-
12 Conceitos de crescimento, desenvolvimento e maturação

mento dos órgãos genitais e das características sexuais secundárias por meio
de uma análise comparativa. Como tal método sugere que as partes íntimas
sejam vistas, o que põe em cena alguns dilemas culturais e sociais, é comum
que profissionais não se disponham a realizá-lo. No entanto, essa avaliação
pode ser feita sem a visualização direta do avaliador. É possível solicitar que
o indivíduo avaliado aponte a imagem que mais se aproxima de suas carac-
terísticas corporais. No entanto, ainda que essa forma seja mais confortável
tanto para o avaliado quanto para o avaliador, ela pode gerar erros. Afinal, a
inexperiência do avaliado ou a timidez em apontar um estágio pouco desen-
volvido pode fazê-lo indicar um nível de maturação que não condiz com o seu.

Para avaliar a maturação sexual de um menino, por exemplo, o avaliador deve ter o
consentimento institucional e dos responsáveis do sujeito avaliado. Respeitando todos
os aspectos éticos, ele apresenta as figuras a seguir e solicita que o menino aponte
aquela que melhor representa o seu estado maturacional (Figura 2).

Pênis, testículos e escroto de tamanho e proporção


G1 infantis.

Aumento inicial do volume testicular (>4ml). Pele


G2 escrotal muda de textura e torna-se avermelhada.
Aumento do pênis mínimo ou ausente.

Crescimento peniano, principalmente em compri-


G3 mento.
Maior crescimento dos testículos e escroto.

Continua o crescimento peniano, agora principalmen-


te diâmetro, e o maior desenvolvimento da glande.
G4 Maior crescimento dos testículos e do escroto, cuja
pele se torna mais pigmentada.

G5 Desenvolvimento completo da genitária.

Figura 2. Desenvolvimento da genitália masculina segundo a classificação de Tanner.


Fonte: Fernandes (2015, p. 13).
Conceitos de crescimento, desenvolvimento e maturação 13

Outras características maturacionais


Além da idade morfológica, da idade esquelética e do aparecimento das carac-
terísticas sexuais secundárias, outros fenômenos podem ser considerados para
se definir a maturação de determinados indivíduos. Entre esses fenômenos,
está a classificação das idades emocional, mental, autoconceitual e perceptiva
(GALLAHUE; OZMUN, 2013).
A idade emocional refere-se à medida da socialização e da habilidade
para se adequar e se desenvolver em um meio social. A idade mental é uma
medida atribuída ao potencial mental que determinado sujeito possui para as
funções referentes ao aprendizado. A idade do autoconceito remete ao valor e à
dignidade que um sujeito atribui a si mesmo. A idade perceptiva é a avaliação
do desenvolvimento perceptivo, ou seja, a capacidade que um indivíduo tem de
identificar e dar significados aos estímulos recebidos pelos sentidos visuais,
auditivos, olfativos, gustativos, táteis e cinestésicos — por exemplo, identificar
o rosto da mãe, uma palavra, um alimento e um movimento esportivo.
Como você pode notar, todas as possibilidades de avaliar a maturação são
variáveis. Ou seja, ainda que estejam relacionadas à idade cronológica, não
dependem estritamente dela. Nesse sentido, a classificação por faixa etária
cronológica nem sempre é a melhor opção, devido às variáveis que os diferentes
aspectos maturacionais podem oferecer.
Ao longo deste capítulo, você viu que existem diferenças entre o cresci-
mento, o desenvolvimento e a maturação. Compreender isso é fundamental
para profissionais que lidam com seres humanos. Cada indivíduo cresce,
amadurece e se desenvolve de forma específica. Ainda assim, para entender
melhor a complexidade do corpo humano, é necessário relacionar os ga-
nhos em tamanho e número de células, as substâncias corporais, os níveis de
funcionamento das estruturas e o aparecimento de caraterísticas sexuais às
diferentes idades e sexos dos indivíduos.

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Conceitos de crescimento, desenvolvimento e maturação 15

Leituras recomendadas
BEE, H.; BOYD, D. A criança em desenvolvimento. 12. ed. Porto Alegre: Artmed, 2011.
MARTORELL, G. O desenvolvimento da criança: da infância à adolescência. Porto Alegre:
AMGH, 2014.
SALLES, J.; HAASE, V.; MALLOY-DINIZ, L. Neuropsicologia do desenvolvimento: infância e
adolescência. Porto Alegre: Artmed, 2016.
PORTFÓLIO

As crianças manifestam características maturacionais e de crescimento diferentes, mesmo


quando apresentam idades muito próximas umas das outras. Nesse sentido, é fundamental
compreender as possibilidades e os desafios de lidar com a diversidade de características da
infância e adolescência.
Imagine que você começou a trabalhar em uma colônia de férias e reparou naquelas crianças
e adolescentes com idades semelhantes, já que existem diferenças bastante evidentes.
Durante a realização de uma reunião com as famílias delas, você ficou responsável
por explicar as diferenças no crescimento e desenvolvimento humano. A partir disso,
responda as seguintes questões:
a) Um dos pais reparou que seu filho de 12 anos apresenta uma altura muito menor do
que a de alguns colegas e maior do que a de outros. Ao verificar essas diferenças, ele lhe
questionou o porquê da ocorrência desse fenômeno. Quais seriam as causas a serem
explicadas?
b) Os pais de um adolescente de 12 anos solicitaram que ele fosse incluso nas atividades
de basquetebol, uma vez que é muito mais alto do que os demais colegas. No entendimento
deles, essa diferença de altura se estenderá por toda a vida do adolescente, ainda que ambos
os pais possuam cerca de 1,70 metros. Eles estão corretos? Justifique sua resposta.
c) Considerando que as crianças possuem características de crescimento e
desenvolvimento variadas, por que a formação de equipes por idades não é sempre
recomendável?
PESQUISA

Desenvolvimento Humano - Introdução Geral

Acesse https://www.youtube.com/watch?v=leYUITKiXmk

No vídeo selecionado, vamos fazer uma breve introdução ao conteúdo


desenvolvimento humano, abordando assuntos como: O que é a ciência do
desenvolvimento e suas aplicações, aspectos do desenvolvimento.

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