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Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC-SP

Faculdade de Ciências Sociais


Curso de Relações Internacionais

Disciplina: Inserção Internacional do Brasil

Professora: Drª. Elaini C. G. da Silva

Avaliação: Avaliação intermediária 1

Aluno: [preencher] RA: [preencher]

Data de entrega:
Orientações para a avaliação:

 Os alunos podem discutir coletivamente as perguntas e respostas, mas a redação e a entrega da


avaliação deve ser individual.

 Este formulário deve ser baixado, preenchido e devolvido em formato de texto no prazo indicado
na tarefa específica do Teams.

 Das três questões indicadas, duas devem ser escolhidas para resposta.

 No caso de preenchimento das três questões, apenas as duas primeiras serão corrigidas para fins de
avaliação.

 A referência aos autores deve seguir o padrão autor-data nas respostas e a indicação da referência
completa deve ser realizada no campo “referências bibliográficas” ao fim do arquivo.

 A compreensão do enunciado faz parte da própria avaliação.

 As questões são de níveis de dificuldades (em termos de interpretação de texto) diferentes.

 O limite de palavras para cada resposta é de 500 palavras.

 O prazo para entrega de suas respostas é: 21 de abril de 2020, às 8h


TEXTO PARA AS QUESTÕES 1 E 2:

GEOPOLÍTICA DA SUSTENTABILIDADE E AS NEGOCIAÇÕES BRASIL-EUA

É a Amazônia que coloca ou retira o Brasil do mundo contemporâneo

Por AUTORAS, 13/04/2021

Em 2021, a celebração do Dia da Terra acontecerá num ambiente de novas expectativas políticas. A Cúpula,
chamada pelo presidente Joe Biden e com a presença dos chefes de Estado e de líderes das principais economias do
mundo, orienta-se por um novo momento global de enfrentamento à crise das mudanças do clima.

A senha para ser parte dessa “elite climática” é composta pelos “algoritmos políticos” da contemporaneidade:
ambição de mitigação de emissões de gases de efeito estufa; transparência nos compromissos no âmbito do Acordo
de Paris; eficiência na governança climática e socioambiental; transição justa e empregos verdes; mercados sólidos
(compulsórios) de carbono; proteção da natureza e caminhos definitivos às novas economias verdes.

A combinação e o peso dados a cada um desses algoritmos são determinantes para o protagonismo político e
econômico de governos e de sociedades. O agir internacionalmente não se limita à conexão de temas e à
emergência de novas narrativas. Exige capacidade de entrega, credibilidade e relevância, além de liderança
orientada por resultados e visão geopolítica.

O tema ambiental tornou-se um pilar central na geopolítica internacional do mundo contemporâneo e tem, nas
agendas climática e de biodiversidade, os seus principais alicerces. Na iminente urgência desta agenda, não há
espaços para o negacionismo ou obscurantismo climático, nem tão pouco para argumentos falaciosos em
contradição com a ciência ou com a democracia. Estas agendas requerem centralidade, pragmatismo e racionalidade
por parte dos interlocutores/negociadores, além de civilidade política entre os líderes das nações.

O gesto do presidente Biden de convidar o Brasil para participar da Cúpula deve ser visto, inicialmente, como um
reconhecimento das sólidas e históricas relações bilaterais que unem os dois países. Também, deve ser percebido
como uma oportunidade de criação de espaço político de diálogo para uma necessária e urgente mobilização com
vistas a reverter os retrocessos observados nas políticas socioambientais e climática brasileiras nos últimos dois
anos. O Brasil foi um dos arquitetos do Acordo de Paris não somente pela excelência da sua diplomacia e da sua
ciência. Mas, também, por ter oferecido ao mundo, por imperativo moral e econômico, o mais expressivo esforço
de mitigação climática: a redução não episódica do desmatamento na Amazônia.

Então, o que se esperar do Brasil? Como lidar com os limites tênues que encerram o exercício diplomático em torno
dos interesses globais e os temas domésticos? Como lidar com os interesses das sociedades americana e brasileira
com a crise de imagem e de credibilidade que revela o Brasil de hoje ao mundo? Como construir este diálogo amplo
se limitando a conversas com interlocutores específicos que estão longe de representarem a envergadura política e a
diversidade deste debate no Brasil?

Por relatos da imprensa, sabe-se que as conversas bilaterais progridem entre os interlocutores oficiais. Mas como
construir confiança mútua sem que as sociedades envolvidas conheçam previamente os termos e as bases do
diálogo bilateral? É sempre bom lembrar que toda negociação internacional requer preparação adequada para o
passo que se pretende dar, confiança mútua e visão compartilhada de problemas e de soluções.

Cooperar internacionalmente não se limita à alocação de recursos financeiros ou de investimentos que possam
beneficiar alguns poucos. Ou tão pouco ao não bloqueio de negociações internacionais de interesse comum. No
enfrentamento à crise climática, é essencial ser assertivo nos compromissos, afirmativo e transparente quanto aos
objetivos e resultados pactuados e convergente nos interesses bilaterais comuns com co-benefícios globais. Só
assim, o mundo voltará a unir-se ao Brasil!

A segurança climática global é fortemente influenciada pela existência das florestas tropicais no mundo nas bacias
Amazônica, do Congo e do Mekong. Portanto, para os países amazônicos, particularmente o Brasil, a senha de
entrada em qualquer diálogo geopolítico nesta área envolve o fim do desmatamento ilegal e a garantia dos direitos
constitucionais dos povos tradicionais e indígenas. É muito mais do que conter os retrocessos ou vender soluções
antigas para problemas arquitetados e ressuscitados. O urgente realinhamento com a contemporaneidade requer que
o Brasil explicite os nossos interesses reais com o fim do desmatamento na Amazônia.

Além de combate ao crime ambiental na Amazônia, esse realinhamento significa lidar com as mudanças necessárias
para promover os avanços nas economias de baixo carbono, circular, bioeconomia, do conhecimento, da ciência e
da inovação. Requer a corresponsabilidade dos non-state actors e um robusto sistema de governança climática e
socioambiental envolvendo transparência, regulação, accountability, controle social e democracia.

Sem isso, como ter clareza sobre qual a visão de mundo que une os presidentes do Brasil e dos Estados Unidos
sobre a crise climática e os desafios da humanidade na relação entre a natureza? Ou sobre o projeto de país, se é que
existe, que está na base dos interesses brasileiros? Qual a clareza de ideias do governo brasileiro sobre os desafios
da Amazônia como floresta, território de integração nacional e regional e de desafios de desenvolvimento humano?
Qual é seu real comprometimento com nossos povos originários e seus territórios? Quais seus planos para acabar
com a pobreza na Amazônia?

A Amazônia é um pedaço grande do Brasil que desperta reações múltiplas e fortes e de diversas naturezas políticas.
A comunidade internacional a percebe com olhares próprios e com limitações sobre as suas realidades; os
brasileiros das outras regiões de uma maneira talvez distante ou desatenta, mas também com muito orgulho e
esperança; e os muitos e diversos amazônidas a percebem sob suas perspectivas próprias, diversas e legítimas de
quem vive sua realidade e respira seus sonhos no dia-a-dia. Entretanto, um aspecto político modela o debate que
norteia a Cúpula nos Estados Unidos: apesar da Amazônia não ser maior que o Brasil, é ela a senha que coloca ou
retira o Brasil do mundo contemporâneo, e que permite ou dificulta que o Brasil seja parte da liderança geopolítica
internacional.
QUESTÃO 1
Qual dos dois modelos de investigação de política externa é aplicado pelas autoras no texto indicado pela
leitura, levando em consideração os três elementos caracterizadores de cada escola? Justifique sua
resposta indicando exemplos para cada uma das características do modelo.

Resposta: O excerto de Autoras (2021) apresenta características do modelo pluralista de análise de


Limite de política externa (PEB) uma vez que apresenta traços distintivos quanto aos atores
palavras: 500 participantes da temática, aos interesses e motivações dos componentes da pauta
climática e ao rompimento de uma distinção, típica do Realismo Analítico, entre os
planos doméstico e internacional.
Em adição, o próprio entendimento de PEB é analisado, visto que é posta como
intermediária de interesses conflitantes diversos. Se incorpora, também, temas lidos
como “baixa política”, como ciência, conhecimento e mesmo empíricos, coma a
experiência de determinados cidadãos nativos da região amazônica.
Segundo Pinheiro e Milani (2013), atores estatais para além do executivo e não estatais
podem ter “participação relevante, podendo exercer forte influência sobre o conteúdo da
política e que, portanto, sua presença deve ser problematizada e incorporada à
investigação. No entanto, reafirmamos a premissa de que, em última instância, a
responsabilidade pelas políticas públicas, entre elas a política externa, é do governo que
as implementa.” (Pág. 21).
Portanto, nesse sentido, o excerto questiona “[...] como construir este diálogo amplo se
limitando a conversas com interlocutores específicos que estão longe de representarem a
envergadura política e a diversidade deste debate no Brasil?”; isto é: a ação internacional
não é centralizada, autônoma e descolada das “diversidades” e das conversa entre
“interlocutores/negociadores”. Porém, ainda que haja espaço de ação internacional, os
líderes oficiais são aqueles que detêm de força institucional para a tomada de decisão
efetiva.
Já em relação a motivação/interesse alocado na questão climática, não há uma
manutenção de uma visão de um interesse nacional brasileiro único e baseado num
cálculo racional, mas a reunião de “interesses concorrentes projetados externamente”
(HILL, 2003). Conforme exemplificado nos trecho: “É muito mais do que conter os
retrocessos ou vender soluções antigas para problemas arquitetados e ressuscitados. O
urgente realinhamento com a contemporaneidade requer que o Brasil explicite os nossos
interesses reais com o fim do desmatamento na Amazônia”.
Por isso, é perceptível a concepção de política pública nos termos de PEB, pois, a partir
da reflexão sobre os rumos do fazer político do governo vigente, Autoras mobiliza atores
como o próprio governo, a comunidade internacional, cidadãos amazônico e de outras
regiões para exemplificar o caráter intermediário e a própria classificação dos interesses
postos, divergindo do realismo quanto a um único interesse nacional determinado e
imutável.
Por último, é demonstrado que há um entrelaçamento entre os planos doméstico e
internacional, uma vez que perspectivas micro são tangibilizadas na questão posta em
matéria de formulação de PEB, quando, principalmente, a autora reflete a floresta
amazônica como território de integrações nacionais, regionais e mesmo questões de
desenvolvimento humana, de cidadãos e “amazônidas”, somadas às limitações
interpretativas da própria comunidade internacional.
Assim, a análise do texto é tipicamente pluralista, pois desafia concepções realistas do
fazer político a medida que faz um esforço para compreender a questão climática sobre a
ótica da diversidade de atores e interesses, enquanto critica as limitações do ambiente
internacional e traz reflexões sobre o posicionamento da Amazônia (território
doméstico) como campo de jogos políticos internacionais, que moldam a PEB.
QUESTÃO 2
Produza uma versão alternativa do texto com as características do outro modelo de política externa
discutido que vimos ao longo do curso.
Resposta: [preencher]
Limite de
palavras: 500
QUESTÃO 3
Relacione como o elemento “interesses” aparece no modelo realista-analítico e no modelo pluralista de
análise de política externa.

Resposta: O modelo realista-analítico e o modelo pluralista divergem quanto a caracterização das


Limite de motivações de seus respectivos atores, isto é: interpretam os interesses em matéria de
palavras: 500 política externa de modo diferente. Enquanto os teóricos realistas tecem argumentos que
orientem o interesse para uma perspectiva nacional, os pluralistas focam num modelo
descentralizado cujo espaço para ação conflituosa de interesses é presente.
Realizando um resgate histórico (PINHEIRO; MILANI. 2013), “o interesse nacional
surge como ideia política em oposição à de interesse do príncipe, acompanhando a
própria evolução do sentimento nacional e ganhando envergadura com o
desenvolvimento das instituições estatais democráticas” (Pág. 23).
Sabendo disso, é perceptível que há uma tentativa de construção de objetivos atrelados à
figura do Estado, de forma que divergências internas mapeadas no tempo e espaço sejam
suprimidas e qualquer resquício de traços individuais de cidadãos sejam apagados dessa
unidade atemporal, autônoma e independente. De maneira geral, essa noção “tende a
simplificar a dialética das relações sociais e a complexidade das negociações entre
interesses públicos e privados” (IDEM. Pág. 24)
Já o modelo pluralista rejeita essa percepção, uma vez que a análise leva em
consideração a multiplicidade e diversidade dos atores constituintes do Estado, os quais
tem diferentes capacidades decisórias e interações, que estabelecem dinâmicas de
resistência, conflito, consulta e participação.
Portanto, nessa análise, é incabível que o interesse seja nacional, único e estável, mas
sim uma reunião de interesses concorrentes e conflituosos que se sobrepõem. Logo há
uma politização e descentralização dos temas de política externa, assim como nos
interesses em jogo nesse âmbito.
Uma questão importante que exemplifica essa é o embate da política de Estado e a
política pública, pois essa última altera de acordo com os interesses e atores de cada
governo, divergindo da percepção realista que dita que aquilo que é básico do Estado
não deve mudar, ou seja, sua busca por segurança, sobrevivência, poder ou influência.
BIBLIOGRAFIA CITADA

AUTORAS. Geopolítica da sustentabilidade e as negociações Brasil-EUA, 2021


GUZZINI, S. e RYNNING, S. Realism and Foreign Policy Analysis, Presses Universitaires de France,
2002, p. 2-16.
MILANI, C.R.S. e PINHEIRO, L. “Política externa brasileira: os desafios de sua caracterização como
política pública”. Contexto Internacional, vol.35, n.1, 2013
HILLS, C. The Changing Politics of Foreign Policy; 2003.

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