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WOLMER ALEXANDRE ALVES

A IMPORTÂNCIA DA GEOPOLÍTICA NO ENSINO MÉDIO PARA O


DESENVOLVIMENTO DO PENSAMENTO ESTRATÉGICO NO BRASIL

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO - ARTIGO


CIENTÍFICO - APRESENTADO À COMISSÃO DE
AVALIAÇÃO DE TCC DA ESCOLA SUPERIOR DE
GUERRA - CAMPUS BRASÍLIA, COMO EXIGÊNCIA
PARCIAL PARA OBTENÇÃO DO CERTIFICADO DE
ESPECIALISTA EM ALTOS ESTUDOS EM DEFESA.

ORIENTADORA: PROF.ª MÁRCIA MARQUES DE SOUSA

BRASÍLIA
2020
A IMPORTÂNCIA DA GEOPOLÍTICA NO ENSINO MÉDIO PARA O
DESENVOLVIMENTO DO PENSAMENTO ESTRATÉGICO NO BRASIL

WOLMER ALEXANDRE ALVES

RESUMO

Este trabalho foi desenvolvido com o objetivo de apresentar uma análise sobre o estudo
de Geopolítica no Ensino Médio como contribuição para o desenvolvimento do pensamento
estratégico no Brasil. Utilizando-se como metodologia a pesquisa bibliográfica, a abordagem
abrangeu três cenários: 1 - a geopolítica na atualidade, onde procurou-se definir a sua área de
estudo e mostrar a sua interação com outras áreas do conhecimento; 2 – o contexto escolar,
onde apresentou-se a situação atual da geopolítica no sistema educacional; e 3 – os benefícios
advindos com a introdução da geopolítica no ensino médio, onde foram demonstrados
diversos benefícios em áreas e contextos distintos. A intenção foi esclarecer quais os
benefícios seriam incorporados para a sociedade e o Estado brasileiro com a introdução do
ensino de Geopolítica no ensino médio. Ao final foram apresentados os diversos pontos
positivos que podem ser angariados para o desenvolvimento do pensamento estratégico no
Brasil.

Palavras-chave: Geopolítica. Pensamento Estratégico. Ensino Médio. Brasil


THE IMPORTANCE OF GEOPOLITICS IN HIGH SCHOOL FOR THE DEVELOPMENT
OF STRATEGIC THINKING IN BRAZIL

ABSTRACT

This work was developed with the objective of presenting an analysis on the study of
Geopolitics in High School as a contribution to the development of strategic thinking in
Brazil. Using bibliographic research as a methodology, the approach covered three scenarios:
1 - geopolitics today, where we sought to define its area of study and show its interaction with
other areas of knowledge; 2 - the school context, where the current situation of geopolitics in
the educational system was presented; and 3 - the benefits arising from the introduction of
geopolitics in high school, where several benefits were demonstrated in different areas and
contexts. The intention was to clarify which benefits would be incorporated for society and
the Brazilian State with the introduction of Geopolitics teaching in high school. At the end,
several positive points that could be raised for the development of strategic thinking in Brazil
were presented.

Keywords: Geopolitics. Benefits. High School.


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1. INTRODUÇÃO

O ambiente escolar é o espaço onde os futuros cidadãos são preparados para as exigências da
sociedade e para o desenvolvimento de suas percepções de mundo. Freitas (2020) em seus estudos
aborda que os países que detêm uma boa educação, respeitam, zelam para o cumprimento das leis,
condenam a corrupção, os privilégios e praticam a cidadania, como consequência, desenvolvem-se.
O autor afirma que a Educação é um dos principais fatores que propiciam o desenvolvimento das
nações, portanto deve ser o pilar de um país. Para Freire (1996) a educação é considerada uma das
alternativas para intervenção no mundo.
Zambon (2014) menciona que é tarefa da comunidade escolar contribuir para a formação de
cidadãos para atuar e tornar a sociedade mais democrática, fomentar-lhes a consciência dos seus
direitos e deveres, de forma que desenvolvam postura crítica diante dos problemas sociais e
engajamento na resolução de problemas complexos.
É na escolha dos conteúdos curriculares que é estabelecido o perfil do cidadão que o país
deseja. A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é um documento de caráter normativo que
define o conjunto orgânico e progressivo de aprendizagens essenciais que todos os alunos devem
desenvolver ao longo das etapas e modalidades da Educação Básica, de modo a que tenham
assegurados seus direitos de aprendizagem e desenvolvimento, em conformidade com o que
preceitua o Plano Nacional de Educação (PNE), sendo obrigatória a sua observância em todos os
currículos da educação básica no país.
Segundo Araujo (2017), a cidadania é a capacidade de membros de uma sociedade
participarem desta de modo universal em seus direitos e deveres, que a mesma é decorrência lógica
de um Estado democrático de direito. Para o autor, a cidadania se inicia com uma educação
emancipadora que promova o desenvolvimento de consciência crítica.
Ladeira (2018) afirma que as instituições escolares podem se tornar instâncias privilegiadas
para a formação de cidadãos críticos do seu tempo e de sua realidade, indivíduos pensantes,
questionadores e que se posicionam perante as questões que se apresentam. Neste sentido, é
necessário que os alunos desenvolvam capacidades intelectuais básicas para processar e refletir
sobre o que se lê e assiste nos principais veículos de comunicação, cabendo ao educador promover a
ressignificação do discurso midiático em sala de aula e orientar seus alunos no gerenciamento das
informações.
Atualmente, os estudos de geopolítica têm sido considerados ferramentas importantes para a
formação de cidadãos críticos, conscientes e capacitados a exercer plenamente seus direitos e
deveres perante a sociedade e, que ainda compreendem a origem, os jogos de poderes e as
consequências dos conflitos dentro de um país ou entre Estados.
7
Segundo Lacoste (2008, p.8),

Os raciocínios geopolíticos nos ajudam a compreender melhor as causas de


qualquer conflito, dentro de um país ou entre Estados, como também a considerar o
que pode ser, ao contrário, as consequências dessas lutas dentro de países mais ou
menos distantes e talvez mesmo em outras partes do mundo.

Possibilitar cidadãos histórica, cultural e politicamente situados é fator decisivo para o


desenvolvimento de um país e para a formação de cidadãos com autonomia intelectual e com
capacidade de crítica para a tomada de decisões sobre os destinos da nação, sendo a educação o
caminho para as mudanças necessárias.
Este trabalho pretende apresentar estudo referente a ampliação da Geopolítica no ensino
médio como uma das possíveis soluções para a formação do cidadão, de forma a desenvolver no
aluno a capacidade de análise, avaliação e interpretação da realidade do país, visando sua
transformação. Para tanto, tem como proposta o desenvolvimento do raciocínio geopolítico, do
pensamento estratégico.
A escolha deste tema é de interesse de toda a sociedade e pode configurar-se como fator de
desenvolvimento para a nação. A justificativa para a sua escolha tem a ver com a importância que a
Geopolítica volta a assumir no mundo moderno e, em especial, por seu potencial para contribuir
para a formação de cidadãos. Conforme afirma Costa (2017), possibilitando a influência direta ou
direta nos assuntos estratégicos do país, influenciando o desenvolvimento brasileiro.
Foi estabelecido como objetivo geral: Analisar a pertinência da ampliação dos estudos de
geopolítica no Ensino Médio, como contribuição para o desenvolvimento do pensamento
estratégico.
Os seguintes objetivos específicos foram delineados para possibilitar o alcançe do objetivo
geral:
 Descrever a Geopolítica na atualidade;
 Contextualizar o atual ensino de Geografia e Geopolítica no Ensino Médio; e
 Analisar as possíveis contribuições da Geopolítica para o desenvolvimento do
pensamento estratégico no Brasil.
A metodologia utilizada para o desenvolvimento do presente trabalho foi a pesquisa
bibliográfica, a qual possibilitou o levantamento de informações que possibilitaram as possíveis
respostas ao problema em estudo, qual seja: “Quais os benefícios que serão incorporados para a
sociedade e o Estado brasileiro com a ampliação dos estudos de Geopolítica no ensino médio?”
O intuito não é apresentar resposta fechada ao assunto, o que demandaria maior tempo e
aprofundamento sobre a temática, mas fomentar reflexões sobre a importância que a geopolítica tem
8
para propiciar uma formação voltada ao desenvolvimento do pensamento estratégico nos cidadãos
brasileiros.
Em razão do exposto, o presente trabalhado está organizado da seguinte forma: no primeiro
capítulo será apresentado o conceito de geopolítica na atualidade. O segundo capítulo pretende
contextualizar o atual ensino de Geografia e Geopolítica no Ensino Médio. E finalmente, o terceiro
capítulo, apresentará as possíveis contribuições da Geopolítica para o desenvolvimento do
pensamento estratégico no Brasil.
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2. GEOPOLÍTICA NO ENSINO MÉDIO

O mundo está cada vez mais dinâmico e complexo e a revolução das comunicações, da
informática e das centenas de mídias sociais aceleram cada vez mais esse processo. De acordo com
Chiavenatto (2003) nossa sociedade está inserida em um mundo globalizado e carregado de
mudanças e transformações.
De acordo com Silva e Ramalho (2008), em nossa atualidade, grande parte dos meios de
comunicação utilizam tanto de imagens quanto de textos como meio de transmitir o ponto de vista
que pretendem convencer o seu público alvo. Segundo os autores, esta informação pode ser melhor
visualizada em propagandas cotidianas que tem a intenção de incentivar as pessoas a consumirem
bens de consumo. Além disto, em situações específicas, a mídia utiliza-se das mesmas técnicas de
incentivo ao consumo, para tornarem verdadeiros certos discursos, situações ou posições
ideológicas.
Nesse sentido, vislumbra-se a importância de que disciplinas e conhecimentos não sejam
informações estanques em si mesmos. Mais importante do que possuir a informação, é ter a
capacidade de analisá-las e vislumbrar as possíveis consequências e ações decorrentes.
Observando essa dinamicidade e admitindo essa tendência, faz-se necessário que os
currículos escolares demandem atualizações e mudanças constantes buscando inserir informações
relevantes, significativas e úteis para o contexto do aprendiz. Bartz (2014, p. 23) a partir de suas
análises considera:
De forma geral, muitos elementos têm influenciado sobre a necessidade da
reestruturação do currículo escolar, em especial, a rapidez das mudanças em todos
os setores da sociedade atual (científico, cultural, tecnológico ou político-
econômico), o excesso de informação, as novas exigências do mercado de trabalho
e, principalmente, no campo da pesquisa, da gerência e da produção.

As instituições de ensino são, na maioria das sociedades, as instâncias responsáveis por


formar cidadãos que não se alienem de seu momento histórico, social, econômico e político e, ainda
mais importante, que tenham um olhar crítico sobre informações disponibilizadas nas redes e uma
visão atualizada e contextualizada sobre o mundo, dando-lhe condições de atuar como agente de
transformação.
Cortelazzo (2006) afirma que é na escola que os professores devem trabalhar com seus
alunos não só para ajudá-los a desenvolver competências, habilidades, estratégias para coletar e
selecionar informações, mas, sobretudo, para ajudá-los a desenvolver conceitos. Conceitos estes que
serão a base para a construção de seu conhecimento e para o seu protagonismo na sociedade.
Ferreira (2011) considera que o currículo escolar desempenha importante relação histórica
entre a escola e a sociedade. Em decorrência disso, os conhecimentos proporcionados nos bancos
10
escolares devem proporcionar a formação de cidadãos capazes de julgarem com espírito crítico o
meio social em que se integram e de se empenharem na sua transformação.
Vários são os componentes curriculares que devem ser contemplados nos currículos para
garantir essa formação cidadã. Para tanto, torna-se necessário explorar os atuais conceitos de
geopolítica e geografia.
Azevedo (1955) entende que a geografia política e a geopolítica possuem campos de atuação
semelhantes, porém esta última é encarada como um ramo das Ciências Políticas e não
simplesmente da Geografia.
De acordo com Fulgêncio (2007, p. 308),

Geopolítica é uma disciplina das Ciências Humanas que mescla a Teoria Política à
Geografia, considerando o papel político internacional que as nações desempenham
em função de suas características geográficas — como localização, território, posse
de recursos naturais, contingente populacional, etc. É o estudo da estratégia, da
manipulação, da ação. Estuda o Estado enquanto organismo geográfico, ou seja, é o
estudo da relação intrínseca entre a geografia e o poder. Método de análise que
utiliza os conhecimentos da geografia física e humana para orientar a ação política
do Estado.

Para o autor, a geopolítica não se prende ao caráter puramente físico ou se limita ao estudo de
uma imagem ou paisagem, ela abrange aspectos políticos, ações, estratégias e o jogo de poder entre
Estados.
Conforme Miyamoto (1995, p. 24-25),

A geopolítica não se satisfaz com a mera descrição física “fotografando” apenas


esses acidentes geográficos. Ela preocupa-se com os “movimentos” desses
elementos, e com a sua aplicação na formulação de uma política que visa a fins
estratégicos. Adquire, dessa forma, um caráter essencialmente dinâmico [...].

O autor considera que a geopolítica é retratada como uma área mais interativa e com visão
mais ampla. E que o olhar da Geopolítica não está limitado a um fato ou situação isolada, ele
conduz à análise do contexto envolvido, suas causas e impactos para a sociedade. Além disso, a
Geopolítica também se diferencia por ser uma área de estudo em constante atualização. Fatos hoje
relevantes podem não ter importância alguma amanhã, e vice-versa. Os cenários se alteram, os
interesses mudam, os objetivos migram para outros focos.
Ainda, segundo Miyamoto, outra particularidade finalística da Geopolítica é o seu teor
estratégico, o qual existe para possibilitar uma visão de futuro, para que seus utilizadores observem
o cenário de forma holística na interação de todos os elementos.
Segundo Lacoste (2009, p.117),
11

Inversamente, contrariando o que é dito o mais das vezes, as reflexões geopolíticas


não se situam somente a nível planetário ou em função de vastíssimos conjuntos
territoriais ou oceânicos, mas também no quadro de cada Estado, aí compreendidos
aqueles cuja unidade cultural é grande. Da mesma forma, o raciocínio geopolítico
não se aplica somente aos conflitos violentos e ele esclarece, de maneira nova e
bem útil, os problemas de regionalização e a geografia das tendências políticas e
isso, às vezes, no quadro dos conjuntos territoriais relativamente pouco extensos.

Para não ficar a impressão limitada de que a geopolítica se restringe a somente grandes
cenários mundiais, com o envolvimento de numerosos países, o autor nos apresenta a geopolítica
como um instrumento de aprendizado muito mais amplo. Ela desenvolve o raciocínio que pode ser
aplicado, do ponto de vista geográfico, em cenário regional, dentro de um país ou até mesmo uma
área delimitada; e, em relação ao seu conteúdo, os assuntos tratados envolvem diversas áreas do
conhecimento humano, sem muitas limitações.
De acordo com Ladeira (2018, p.43),
As novas hipóteses geopolíticas partem do pressuposto de que questões
econômicas, sociais, culturais e simbólicas são tão importantes quanto o poderio
militar como instrumentos de análise para compreender o equilíbrio de forças e a
busca por hegemonia em âmbito planetário. O relativo enfraquecimento do setor
público em detrimento do avanço de forças privadas e as inovações tecnológicas,
notadamente nos setores de comunicação e transporte, fizeram com que atores
como a mídia, o capital desterritorializado, os movimentos sociais globalizados, os
organismos supranacionais, os blocos regionais, as organizações não-
governamentais (ONGs) e as corporações transnacionais passassem a dividir
espaço com os tradicionais Estados-Nacionais no cenário geopolítico global.

Para Ladeira, o cenário geopolítico, que ficava restrito a apenas os Estados-Nacionais, com o
avanço de forças privadas e as inovações tecnológicas, passou a incorporar diversos outros atores (a
mídia, o capital desterritorializado, os movimentos sociais globalizados, os organismos
supranacionais, os blocos regionais, as organizações não-governamentais (ONGs) e as corporações
transnacionais).
Os estudos Geopolíticos ainda não integram o rol de componentes curriculares constantes na
BNCC. Os parâmetros curriculares não os abrangem. Sua ausência na BNCC gera o
desconhecimento de seu valor e uma visão destorcida de seu teor, ignorando o seu papel de maior
destaque: a construção do senso crítico do educando.
Riceto (2017) considera que o papel da geopolítica é de fundamental importância na formação
dos estudantes, em especial do ensino médio, Para o autor, compreender a organização estratégica
do espaço, a localização das estruturas produtivas, das bases e artefatos militares, o investimento no
desenvolvimento tecnológico para obtenção e difusão de informações estratégicas, são aspectos
inerentes à geopolítica e reforçam sua base intimamente geográfica. Além da relação de poder
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estabelecida entre os Estados, o sistema internacional contemporâneo tem apresentado significativas
mudanças em sua agenda internacional e entre seus protagonistas. Riceto, em seus estudos, aborda a
relevância do conteúdo da geopolítica no ensino médio, ressaltando a importância de trazer para o
cotidiano da sala de aula, de forma didática, as discussões de caráter geopolítico a fim de promover
a compreensão mais real das relações de força que moldam a construção do espaço vivido e
desenvolver a formação de uma consciência crítica.
Lembrando que a formação de uma consciência crítica nos bancos escolares encontra amparo
no Artigo 35, inciso III da LDB que preconiza o aprimoramento do educando como pessoa humana
incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico.
O Ensino Médio é o momento de ampliação das possibilidades de um conhecimento estruturado e
mediado pela escola que conduza à autonomia necessária para o cidadão do próximo milênio.
(BRASIL, 1997, p.31).
Compreendido o objeto de estudo e a importância da Geopolítica no Ensino médio, o próximo
passo é apresentar o contexto atual do ensino de Geografia e Geopolítica no Ensino Médio.

3. CONTEXTUALIZAÇÃO DO ATUAL ENSINO DE GEOGRAFIA E GEOPOLÍTICA NO


ENSINO MÉDIO.
A única constância na realidade é o ininterrupto processo de mudança. Governos mudam,
tecnologias se desenvolvem, pessoas se aposentam, novos atores surgem, e o mesmo tem que
ocorrer com os currículos escolares. A falta de evolução do que é ensinado faz com o vínculo com a
realidade seja perdido.
Conforme Schmelkes, (1994, p.96)
13

Alguns estudos são muito claros em dizer que a falta de relevância dos conteúdos
da aprendizagem que a escola oferece explicam boa parte de sua falta de qualidade.
Existe, inclusive, o temor de que a educação básica tenha sido convertida em um
ritual que não se relaciona com a vida do aluno ou da sociedade na qual ele vive.
No entanto, a relevância não pode ser entendida como a entrega de um conjunto de
dados "relevantes" aos alunos, no sentido de que são próximos ao que eles
experimentam na sua vida quotidiana fora da escola. O que é realmente relevante é
a habilidade para compreender a linguagem escrita e expressar-se por escrito, para
raciocinar, resolver problemas, analisar, avaliar opções e aproximar-se da
informação. Isto implica dar maior ênfase às habilidades que aos conhecimentos.

As análises de Schmelkes demonstram sua preocupação com a qualidade e a importância dos


conteúdos escolares e com o distanciamento do que é ensinado na educação básica com a realidade
dos alunos.
De acordo com Brasil, (2013, p.145),

É nesse contexto que o Ensino Médio tem ocupado, nos últimos anos, um papel de
destaque nas discussões sobre educação brasileira, pois sua estrutura, seus
conteúdos, bem como suas condições atuais, estão longe de atender às necessidades
dos estudantes, tanto nos aspectos da formação para a cidadania como para o
mundo do trabalho.

Como afirma Oliveira, Braga e Prado (2017), entende-se assim que depois de fase inicial de
aprendizado e entendimento do mundo, introduzidos pela família, a escola é a instituição que
desempenha o papel mais importante para o desenvolvimento cognitivo, intelectual e cultural dos
jovens. É neste ambiente que, desde os seus três anos de vida até o início da fase adulta, crianças e
jovens passam boa parte do dia e obtendo conhecimentos e experiências educacionais. O ambiente
escolar, pelos seus objetivos, pelas suas características e pelo tempo que os alunos o vivenciam, é o
local que mais influência e prepara nossos jovens para serem cidadãos de uma sociedade. Este fato
por si só revela como é importante e decisivo tudo o que é ensinado e aprendido nas escolas. Os
programas curriculares e a prática educativa têm o poder de definir a formação de um cidadão
autônomo e participativo ou não.
Segundo Ladeira (2018, p. 252 e 253) o desenvolvimento do pensamento crítico é
fundamental para o exercício da cidadania. Segundo o autor,

Nesse sentido, o pensamento crítico é importante para capacitar os alunos na


superação das simplificações e respostas prontas presentes no discurso midiático. É
fundamental que o aluno construa sua opinião a partir do conjunto de informações
e ressignificações que lhe são disponibilizados. Cabe ao professor incentivá-lo a
expressar suas opiniões e se posicionar diante dos fatos. Assim, a problematização
dialógica, ação pedagógica na qual o conhecimento colocado em movimento
ancora-se em saberes pré-existentes dos interlocutores, é um caminho para que uma
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formação adequada dos alunos seja colocada em prática, permitindo que estes
sejam capazes de ir além daquilo que é veiculado na mídia, produzindo um
posicionamento contextualizado e reflexivo sobre as questões que envolvem o
mundo contemporâneo.

Para compreender a atual proposta para o Ensino da Geografia é necessário conhecer o que os
atuais Parâmetros Curriculares preconizam para a área da Geografia no Ensino médio. São objetivos
específicos para o ensino dos conhecimentos sobre Geografia:
• compreender e interpretar os fenômenos considerando as dimensões local, regional,
nacional e mundial; dominar as linguagens gráfica, cartográfica, corporal e iconográfica; e
• reconhecer as referências e os conjuntos espaciais, ter uma compreensão do mundo
articulada ao lugar de vivência do aluno e ao seu cotidiano. (BRASIL, 2006)

Para possibilitar uma visão mais detalhada dos conhecimentos ministrados na Geografia, são
relacionados a seguir os conceitos básicos estruturantes, constantes dos PCN, a serem trabalhados
no ensino médio:
• ESPAÇO E TEMPO: Principais dimensões materiais da vida humana e Expressões
concretizadas da sociedade. Condicionam as formas e os processos de apropriação dos
territórios e expressam-se no cotidiano caracterizando os lugares e definindo e
redefinindo as localidades e regiões.
• SOCIEDADE: Consideradas as relações permeadas pelo poder, apropria-se dos
territórios (ou de espaços específicos) e define as organizações do espaço geográfico
em suas diferentes manifestações: território, região, lugar, etc., os processos sociais
redimensionam os fenômenos naturais, o espaço e o tempo.
• LUGAR: Manifestação das identidades dos grupos sociais e das pessoas, noção e
sentimento de pertencimento a certos territórios, concretização das relações sociais
vertical e horizontalmente.
• PAISAGEM: Expressão da concretização dos lugares, das diferentes dimensões
constituintes do espaço geográfico. Pelas mesmas razões já apontadas, não limitaria a
paisagem apenas ao lugar. Permite a caracterização de espaços regionais e territórios
considerando a horizontalidade dos fenômenos.
• REGIÃO: Região se articula com território, natureza e sociedade quando essas
dimensões são consideradas em diferentes escalas de análise. Permite a apreensão das
diferenças e particularidades no espaço geográfico.
• TERRITÓRIO: O território é o espaço apropriado. Base da região. Determinação
das localizações dos recursos naturais e das relações de poder. A constituição cotidiana
de territórios tem como base, as relações de poder e de identidade de diferentes grupos
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sociais que os integram, por isso eles estão inter-relacionados com conceitos de lugar e
região.
Sposito e Sposito (2019) ao estudarem os PCN de Geografia para o ensino médio fizeram o
seguinte questionamento: o espaço geográfico deve ser, realmente, o conceito central para o ensino
de Geografia?
De acordo com Girotto e Santos (2011, p.140),

pouco ou nada temos contribuído, como professores, para que nossos alunos
possam construir interpretações mais profundas e ricas em detalhes sobre tais
fenômenos. Na prática cotidiana em sala de aula, insensivelmente, acabamos por
naturalizar esses fenômenos que são, essencialmente, políticos. Em nosso caso
específico, como professores de geografia, isto se torna um equívoco ainda maior,
uma vez que a geopolítica se constitui enquanto um dos conhecimentos
fundamentais desta ciência.

Nesse retrato específico da realidade, o autor comenta sobre a desmotivação de professores


quanto à falta de possibilidade para que os alunos desenvolvam análises mais profundas e
importantes da realidade.
De acordo com Araújo (2012, p.286),

Parece haver uma distância em escala surreal entra as duas esferas, tanto que a
geografia escolar tornou-se obsoleta e desmotivadora, é aquela que não necessita
de tanta dedicação ou horas de estudo, pois basta decorar os rios de tal lugar, a
capital daquele país ou o relevo da cidade. Pronto! Comemoremos a aprovação.

Uma disciplina tem que ser visualizado pelos alunos de forma prática e significativa para
gerar motivação no seu aprendizado. O estudo não pode possuir o propósito exclusivo de aprovação
no ano escolar.
Citando a BNCC (2016, p.456),
a escola que acolhe as juventudes deve: ...garantir o protagonismo dos estudantes
em sua aprendizagem e o desenvolvimento de suas capacidades de abstração,
reflexão, interpretação, proposição e ação, essenciais à sua autonomia pessoal,
profissional, intelectual e política;

Uma das maiores aspirações e propósito dos professores é se possibilitar aos seus alunos se
tornarem pessoas mais qualificadas com o conteúdo que ele está ensinando.
Conforme Araújo (2012, p.286),

Não queremos dizer aqui que a geografia física não é importante, afinal ela também
é área do conhecimento desta disciplina. O que devemos é refletir até que ponto
nós podemos deixar de lado as discussões sociais, as possíveis atitudes que devem
ser tomadas para que as modificações de ordem local tomem proporções em âmbito
global, assim como o contrário,...
16

A análise anterior qualifica a geografia e realça a importância da necessidade de constante


evolução para que motive e atinja objetivos de aprendizado que sejam aplicados na realidade. De
acordo com BRASIL (2013, p.181),

Mais do que o acúmulo de informações e conhecimentos, há que se incluir no


currículo um conjunto de conceitos e categorias básicas. Não se pretende, então,
oferecer ao estudante um currículo enciclopédico, repleto de informações e de
conhecimentos, formado por disciplinas isoladas, com fronteiras demarcadas e
preservadas, sem relações entre si. A preferência, ao contrário, é que se estabeleça
um conjunto necessário de saberes integrados e significativos para o
prosseguimento dos estudos, para o entendimento e ação crítica acerca do mundo.

A geopolítica pode modificar esta situação. Para Rodrigues (2016, p.95),


É importante perceber que o alargamento analítico da Geopolítica debatido aqui
não exclui seus fundamentos ligados à figura do Estado e suas escalas de ação. Mas
hoje, não nos parece mais suficiente, sobretudo na escola, subestimar a potência do
pensamento geopolítico enquanto um conjunto de conteúdos já cristalizado no
horizonte dos currículos da Geografia Escolar. A Geopolítica possui diferentes
dimensões, e é preciso direcionar nosso olhar para este problema.

Enquanto o autor coloca que não se pode oferecer ao aluno conhecimentos enciclopédicos e
isolados, é trazida a geopolítica como a proposta de algo novo, integrador e com um potencial de
expansão e aplicação que ultrapassa o ambiente escolar. Desafios são motivadores e incentivam os
jovens a quebrar os limites antes traçados. Substitui-se a proposta de ler e decorar para passar pelo
objetivo é entender, pensar e interagir com outros conhecimentos, para a formação de um
pensamento mais complexo e útil.
Estudos de autores como Straforini (2008, p. 51) afirmam,

Não podemos mais negar a realidade ao aluno. A Geografia, necessariamente, deve


proporcionar a construção de conceitos que possibilitem ao aluno compreender o
seu presente e pensar o futuro com responsabilidade, ou ainda, se preocupar com o
futuro através do inconformismo do presente. Mas esse presente não pode ser visto
como algo parado, estático, mas sim em constante movimento.

A Geografia como disciplina escolar deve explorar situações físicas, causas e


consequência pelas quais conflitos ocorrem. Quais foram as consequências das baixas temperaturas
na União Soviética para os exércitos de Napoleão e Hitler? O que ocasionou a corrida do ouro no
desenvolvimento dos Estados Unidos? O que representa as produções brasileiras de soja, café e
ferro no cenário mundial? Por que diversos países se preocupam em manter estações com suas
bandeiras na Antártica? Cada questionamento suscita uma série de outras perguntas que remetem a
17
análise de interesses de outros países, entendimento da influência dos fatores climáticos e naturais
na economia, proteção da indústria nacional e aprimoramento da defesa nacional.
Citando a BNCC (2016, p.456),

a escola que acolhe as juventudes deve: ...


garantir o protagonismo dos estudantes em sua aprendizagem e o desenvolvimento
de suas capacidades de abstração, reflexão, interpretação, proposição e ação,
essenciais à sua autonomia pessoal, profissional, intelectual e política;

A Geopolítica é uma proposta curricular que possibilita ao aluno a visão


multidisciplinar de diversas áreas do conhecimento. A título de exemplo, para entender como a
China se tornou o país que é, leva-se em consideração sua população, a seu espaço territorial, onde
a mesma se localiza, sua trajetória histórica, sua forma de governo, sua cultura em relação ao
trabalho, entre outros fatores, assim pode-se montar esse quebra-cabeça de desenvolvimento e
utilizar este entendimento em mudanças na nossa própria sociedade.
Os estudos de geopolítica não estão contemplados tanto na BNCC quanto nos PCN, na
formação dos alunos do Ensino Médio. Tal implemento possibilitará com que todas as escolas do
país tenham a orientação de implementar e ampliar a geopolítica.

4. AS POSSÍVEIS CONTRIBUIÇÕES DA GEOPOLÍTICA PARA O


DESENVOLVIMENTO DO PENSAMENTO ESTRATÉGICO.
De acordo com Morin (1921, p.42)
Como nossa educação nos ensinou a separar, compartimentar, isolar e, não, a unir
os conhecimentos, o conjunto deles constitui um quebra-cabeças ininteligível. As
interações, as retroações, os contextos e as complexidades que se encontram na
man’s land entre as disciplinas se tornam invisíveis. Os grandes problemas
humanos desaparecem em benefício dos problemas técnicos particulares. A
incapacidade de organizar o saber disperso e compartimentado conduz à atrofia da
disposição mental natural de contextualizar e de globalizar.
A inteligência parcelada, compartimentada, mecanicista, disjuntiva e reducionista
rompe o complexo do mundo em fragmentos disjuntos, fraciona os problemas,
separa o que está unido, torna unidimensional o multidimensional. É uma
inteligência míope que acaba por ser normalmente cega. Destrói no embrião as
18
possibilidades de compreensão e de reflexão, reduz as possibilidades de julgamento
corretivo ou da visão a longo prazo.

Este é o principal problema da formação para a cidadania e para isto é necessário saber como
organizar as informações sobre o mundo e interpretá-las. Como perceber e conceber o contexto
onde se vive, o global, o multidimensional, o complexo? Para articular os conhecimentos e assim
reconhecer e conhecer os problemas do mundo e emitir respostas a esses problemas complexos, é
necessária a reforma do pensamento (MORIN, 1921, p.35).
De acordo com BRASIL (2013, p.145),

Tendo em vista que a função precípua da educação, de um modo geral, e do Ensino


Médio – última etapa da Educação Básica – em particular, vai além da formação
profissional, e atinge a construção da cidadania, é preciso oferecer aos nossos
jovens novas perspectivas culturais para que possam expandir seus horizontes e
dotá-los de autonomia intelectual, assegurando-lhes o acesso ao conhecimento
historicamente acumulado e à produção coletiva de novos conhecimentos, sem
perder de vista que a educação também é, em grande medida, uma chave para o
exercício dos demais direitos sociais.

Conforme consta na BNCC (2016, p.563), compreender o espaço em suas dimensões


históricas, culturais e geopolíticas possibilita o entendimento das movimentações de diferentes
povos e sociedades, nas quais ocorrem eventos, disputas, conflitos, ocupações (ordenadas ou
desordenadas) ou dominações, além da produção, distribuição e consumo de mercadorias e os
fluxos de pessoas e objetos.
De acordo com Riceto (2017, p.391),

Nesse sentido, merecem destaque as estratégias traçadas e as ações executadas


como instrumentos de defesa dos interesses do grande capital, que, normalmente
representados pelos grandes grupos empresariais/financeiros, se informam e se
articulam com o intuito de controlar espaços, conhecimentos e informações. Áreas
com localizações privilegiadas, favoráveis a rotas de transportes e detentoras de
reservas de recursos naturais estratégicos, potenciais mercados consumidores e
legislações frágeis que permitam redução de custos produtivos, dados estratégicos
sobre onde e quando investir, desenvolvimento tecnológico nos mais diferentes
segmentos, entre outros, estão entre os alvos de cobiça desses novos atores/entes
dentro da nova ordem mundial.

O Brasil é o quinto país em extensão territorial do mundo, detentor de inúmeras reservas


minerais de alto valor, possuidor de uma vasta biodiversidade tanto de flora como de fauna, além
de inúmeras riquezas relacionadas com o agronegócio e outras áreas. Pensar que esses fatores não
atraem a cobiça de outras nações e grandes empresas seria uma grande ingenuidade. Nossos jovens
têm que ser preparados para compreenderem as estratégias explícitas e implícitas que são criadas,
19
por elementos estranhos aos interesses do Brasil, com o intuito de apenas usufruir desses recursos,
sem nossa autorização. A Amazônia e nossas bacias hidrográficas são outros exemplos que
necessitam de nossa proteção. Não faltam ONGs (por extenso), empresas multinacionais e
governos estrangeiros interessados em se apropriar do patrimônio nacional sempre com alguma
justificativa falaciosa de tentativa de proteção a algo (RICETO, 2017). Compreensão e capacidade
de se proteger são bens inestimáveis.
Segundo Vesentini (2003, p.74),

Desconhece-se assim toda uma história do terceiro setor, no qual se inserem as


ONG’s, que não é “contra o Estado” e sim complementa (ou até o redefine) em
vários aspectos. E também a extrema pluralidade das ONG’s que nem sempre
atendem aos interesses populares: em alguns casos ela recebem financiamentos de
empresas multinacionais (e com frequência agem como espécie de “braço político”
destas), e, em outros casos, a pretexto de defender o meio ambiente original, elas
são contra a presença de camponeses, de populações ribeirinhas e até de indígenas
em determinadas áreas florestais.

Visualiza-se como os jogos de poder, na maioria dos casos, não são diretos. Dificilmente se
declara uma guerra ou se apropria de parte do patrimônio de uma nação de forma abrupta e visível.
Casos assim até acontecem, mas na maioria deles, a abordagem é sutil, ocorre de forma indireta ou
dissimulada, muitas vezes o terreno vem sendo preparado há anos atrás para se conseguir o
objetivo. Napoleão, Hitler, Alexandre e outros tentaram dominar o mundo pela força e foram bem
sucedidos apenas durante curto espaço de tempo. Os EUA, através de várias políticas sociais,
econômicas e militares, conseguiram uma hegemonia durante diversas décadas. E hoje, a China
cresce econômica, financeira e comercialmente mais do que qualquer nação, fazendo com que
quase todos os países do mundo a tenham como principal parceiro comercial, tudo isto sem disparar
um único tiro. Durante quanto tempo perdurará esta nova hegemonia da China? O que o Brasil pode
fazer para não ficar tão dependente? Podemos acreditar que a política chinesa vai sempre beneficiar
nossos interesses? Para esses, e outros questionamentos, a geopolítica pode fornecer ideias e
soluções na mente de nossos jovens.
Conforme Freire (1996, p.15),

O intelectual memorizador, que lê horas a fio, domesticando-se ao texto, temeroso


de arriscar-se, fala de suas leituras quase como se estivesse recitando-as de
memória – não percebe, quando realmente existe, nenhuma relação entre o que leu
e o que vem ocorrendo no seu país, na sua cidade, no seu bairro. Repete o lido com
precisão mas raramente ensaia algo pessoal. Fala bonito de dialética mas pensa
mecanicistamente. Pensa errado. É como se os livros todos a cuja leitura dedica
tempo farto nada devessem ter com a realidade de seu mundo. A realidade com que
eles têm que ver é a realidade idealizada de uma escola que vai virando cada vez
mais um dado aí, desconectado do concreto.

E ainda segundo Morin (1921, p.14),


20
➢ A supremacia do conhecimento fragmentado de acordo com as disciplinas
impede frequentemente de operar o vínculo entre as partes e a totalidade, e deve ser
substituída por um modo de conhecimento capaz de apreender os objetos em seu
contexto, sua complexidade, seu conjunto.
➢ É necessário desenvolver a aptidão natural do espírito humano para situar todas
essas informações em um contexto e um conjunto. É preciso ensinar os métodos
que permitam estabelecer as relações mútuas e as influências recíprocas entre as
partes e o todo em um mundo complexo.

Para Freire e Morin, a mudança nos currículos escolares pela introdução de disciplinas
integradoras trará benefícios, tais como: a consciência e compreensão do que está ocorrendo no
momento histórico do país, na cidade ou no bairro, conduzirá a um olhar mais crítico do que é a
realidade, e possibilitando entender o contexto, o conjunto e as relações mútuas e influências entre
as partes e o todo.
E como a geopolítica pode gerar benefícios na educação e formação de jovens do ensino
médio e qualificá-los a serem cidadãos mais conscientes e capazes de protegerem os melhores
interesses deste país?
De acordo com Lacoste (2009, p.128),

Para assegurar o progresso da reflexão geopolítica, é preciso, portanto, que se


estabeleçam relações regulares entre homens de mídia, homens de ação, militares e
pesquisadores científicos de diversas disciplinas, historiadores cujo papel é
essencial, políticos, etnólogos, juristas, sociólogos, economistas, demógrafos e,
bem entendido, geógrafos, de modo a comunicarem mutuamente suas experiências
e seus métodos.

Observa-se a complexa interatividade que é gerada entre diversos segmentos da sociedade.


Em uma primeira análise, parece então que a geopolítica é uma disciplina difícil de ser
compreendida e que demanda diversos conhecimentos específicos, diferentemente de um
conhecimento pronto e que só necessita “ser decorado”, a geopolítica induz ao raciocínio, à
capacidade de analisar e pensar. Nosso país deseja formar jovens que aceitem uma informação
imposta, que em diversas vezes não é benéfica para o Brasil ou deseja formar cidadãos críticos e
com capacidade de discernimento?
Na área do pensamento estratégico a contribuição da geopolítica é formidável. Em uma
situação de conflito estão envolvidos os mais altos interesses de uma nação. No conflito países
perdem sua soberania, mortes ocorrem de forma “legalizada”, interesses maiores de fronteiras ou
exploração são perdidos e nações têm que se submeterem a tratados desfavoráveis para seu povo. A
geopolítica pode fornecer uma contribuição rica preparando nossos jovens para que, no futuro,
tenham capacidade de evitar tais acontecimentos.
De acordo com Girotto e Santos (2011, p.146),
21

Os conhecimentos geopolíticos não servem apenas para a leitura de fenômenos


mundiais. O aluno deve compreender que as relações entre o poder e o território
estão presentes cotidianamente. Servem para explicar os conflitos entre grupos
rivais por um território com interesse econômico associado, assim como as relações
no interior da escola e dos diferentes territórios que nela existem. Para isso, as
categorias de estudos como “extensão territorial”, “população” e “posição
geográfica” correlacionado com a linguagem cartográfica são de extrema
importância para a materialização dos fenômenos. O mundo atual está aberto a
todo tipo de possibilidades de investigação e de explicação, mas nunca a dimensão
política dos fenômenos (seja ele local, regional ou global) teve tanta visibilidade e
nunca se precisou tanto do olhar geográfico para desvendar a complexidade dos
fatos em suas diferentes escalas.

O ensino de geopolítica prepara o aluno tanto no entendimento de um assunto de maior


envergadura, como um conflito, uma intervenção militar ou uma associação entre países, quanto em
situações cotidianas. Quando um estudante escutar que a empresa multinacional “X” está abrindo
negócios no Brasil, ou que o principal parceiro comercial da Argentina deixou de ser o Brasil e
passou a ser a China, ou que o partido político “Y” esta promovendo uma grande passeata contra o
governo, no mesmo instante vem a mente deste jovem diversos motivos porque aquele fato está
ocorrendo e outras tantas consequências. A geopolítica prepara, quem se dedica a ela, para varios
tipo de situação.
Reportando-nos novamente à BNCC (2016, p.463),

Para formar esses jovens como sujeitos críticos, criativos, autônomos e


responsáveis, cabe às escolas de Ensino Médio proporcionar experiências e
processos que lhes garantam as aprendizagens necessárias para a leitura da
realidade, o enfrentamento dos novos desafios da contemporaneidade (sociais,
econômicos e ambientais) e a tomada de decisões éticas e fundamentadas. O
mundo deve lhes ser apresentado como campo aberto para investigação e
intervenção quanto a seus aspectos políticos, sociais, produtivos, ambientais e
culturais, de modo que se sintam estimulados a equacionar e resolver questões
legadas pelas gerações anteriores – e que se refletem nos contextos atuais –,
abrindo-se criativamente para o novo.

Conclui-se assim que fatores como: desenvolvimento de mentalidade crítica, formação


cidadã, associação de ideias na compreensão da realidade, criação de um pensamento de defesa,
conscientização de toda sociedade que faz parte da defesa nacional, entendimento que projetos na
área de defesa desenvolvem tecnologias e se revertem em investimentos, entre outros, são as
contribuições da Geopolítica para o desenvolvimento do pensamento estratégico inicial no Ensino
médio.
22

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O desenvolvimento do presente estudo possibilitou uma análise de como a geopolítica pode
ser útil no aperfeiçoamento de alunos do ensino médio.
O trabalho buscou como foco o questionamento de quais seriam os benefícios a longo e médio
prazo que seriam incorporados para a sociedade e o Estado brasileiro com a introdução do ensino de
Geopolítica no ensino médio. E para esclarecer esta pergunta, o trabalho foi dividido em três seções.
A primeira seção foi intitulada de geopolítica na atualidade, nela foram apresentadas diversas linhas
de entendimento da definição de geopolítica; a segunda seção, contexto escolar, se restringiu a
apresentar a situação do aprendizado de geopolítica, e disciplinas correlacionadas, no contexto
escolar, mostrando as deficiências e limitações presentes neste ambiente; e na terceira seção foram
demonstrados os benefícios e importância na implantação da geopolítica na escola.
O tema apresentado é de grande relevância para o estado brasileiro porque influência em toda
a formação das gerações futuras. Esse assunto não afeta apenas um grupo, ou uma região, ou
alguma classe social, ele afeta todos os cidadãos que formam nossa sociedade.
23
Entende-se que com os ganhos na capacitação de análise de cenários, na criação de uma
mentalidade de defesa e proteção dos interesses nacionais, na visualização de interesses adversos,
na solução de problemas, e na qualificação multifacetada de interpretação de situações,
apresentados ao longo do trabalho, conseguiu-se atender ao objetivo principal de analisar a
pertinência da inclusão da Geopolítica, como fator de desenvolvimento do pensamento estratégico
no ensino médio.
Uma das possíveis sugestões para ser implementar uma prática mais consistente do ensino,
seria a implementação de “clubes de geopolítica” no ensino médio.
Os objetivos específicos de descrever a Geopolítica na atualidade foi elucidado na primeira
seção; o objetivo específico de analisar o cenário atual, bastante restrito de conhecimento e análise
crítica de alunos, do ensino médio foi alcançado na segunda seção; e o objetivo específico de
relacionar os benefícios da adoção da geopolítica no ensino médio foi demonstrado na terceira
seção. Todas as seções esclareceram um dos objetivos específicos e contribuíram coletivamente na
concretização do objetivo principal.

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