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PONTÍFICA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO DE JANEIRO – PUC-RIO

INSTITUTO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS – IRI


CURSO DE DOUTORADO EM RELAÇÕES INTERNACIONAIS
DISCIPLINA: EVERYDAY POLITICAL ECONOMY
PROF.: ISABEL SIQUEIRA
ALUNO: MÁRIO A. SANTOS

ESSAY 2

UMA BREVE ANÁLISE SOBRE DESENVOLVIMENTO

Proponho, aqui, tecer algumas considerações importantes sobre o tema desenvolvimento,


questionando certas concepções nele inseridas que se fazem bastante presentes no everyday life de
países do Sul Global e abarcam o modelo de desenvolvimento, políticas de transferência de renda e
o meio ambiente. Resta claro, contudo, que devido ao escopo deste ensaio um aprofundamento em
torno deste debate não será possível, sendo o objetivo buscado apenas lançar luzes sobre tais
matérias, as quais já foram debatidas no Bloco 2 desta disciplina.

Em primeiro lugar, cabe ressaltar o questionamento do que se entende por desenvolvimento,


apontando a crítica acerca de uma estandardização do modelo de desenvolvimento em âmbito
global, sem se atentar a especificidades e interesses locais onde este é por vezes pensado e
implementado consoante padrões exógenos, os quais, na grande maioria das vezes, não atendem às
necessidades de certas regiões e/ou países. Neste sentido, mesmo a ajuda ao desenvolvimento
perpetrada por certos países pode vir a ser equivocada caso não se atenha à observância de
especificidades locais, haja vista que pensar o desenvolvimento apenas como uma mera construção,
ou seja, uma questão de planejamento e engenharia, não é algo que possa vir a ser considerado
produtivo (Ramalingam, 2013).

No que tange ao Brasil, os esforços visando a implantação de um desenvolvimento industrial


nos moldes estado-unidenses em Santarém resultou em um completo fracasso na região, dado que
foi pensado sem se atentar às especificidades locais. Aponta Ramalingam (2013):

Ford attempted to bring in US culture, requiring workers to live in American-style houses,


not drink alcohol, attend weekly line dancing, eat hamburgers, and, of course, drive Model
T cars on newly laid and tarmacked roads. In effect, the project was an attempt to import 50
square miles of American life into the Amazonian rainforest (2013, p. 123).

A charge abaixo ilustra de forma clara a crítica acerca da não observância dos
condicionantes e interesses locais no que tange a implementação de projetos de desenvolvimento.
Em uma perspectiva mais ampliada, pode-se pensar o mesmo com relação à opção feita pelo Brasil
no que concerne à implementação de um processo de industrialização em meados do século XX
tendo a indústria automobilística como peça-chave e a consequente adoção do modal rodoviário
como predominante, a despeito das grandes dimensões territoriais e dos inúmeros problemas
relacionados à adoção deste modal como predominante em um território de grandes dimensões e
dificuldades de interligação, de sorte que a opção pelo modal ferroviário atenderia bem melhor às
especificidades do país, além de representar uma opção mais barata e menos prejudicial ao meio
ambiente.

Fonte: Ramalingam (2013)

Por outro lado, deve-se ter em mente que grande parte dos esforços em prol de ajuda ao
desenvolvimento em regiões e/ou países além de serem embasados em modelos pré-concebidos e
próprios dos países do Norte Global ainda carregam em seu bojo objetivos implícitos e que visam
favorecer sobretudo a estes últimos, os quais acabam obtendo vantagens econômicas e/ou políticas
mediante tais iniciativas. Segundo o autor:

Slavery is conveniently combated through colonial expansion. Food is delivered because of


lobbying by subsidized domestic farmers, and to open up markets. Technology is provided
to ease the way to lucrative service contracts. Knowledge is imported through expensive
consultants (Ramalingam, 2013, p. 125).

Importante ressaltar, no que tange à condução do processo de desenvolvimento de um país, o


papel exercido pelo estado neste processo, que, na visão de Pieterse (2010), tem sido o lugar onde o
contrato político e social entre os interesses divergentes que se fazem presentes durante este
processo – capital, sindicatos e forças de mercado, por exemplo – vem se delineando, de forma a
equacionar visões por vezes opostas. Nesta dinâmica, observa-se, de um lado, a existência de uma
gama de interesses e perspectivas diversas, e de outro, a de uma perspectiva hegemônica, a qual
será a responsável pela condução do processo de desenvolvimento.

Ao se pensar que a diversidade de perspectivas existentes correspondem a visões acerca das


melhores e mais adequadas políticas públicas a serem adotadas pelo estado no sentido de
impulsionar o desenvolvimento/crescimento do país, assim como gerar melhores condições para
população em geral e diminuir as desigualdades sociais, pode-se considerar quais impactos uma
política distributiva implementada pelo estado teria sobre a população no que tange ao atendimento
de necessidades básicas como saúde, educação, saneamento básico e segurança. Neste sentido, fazer
uma breve análise sobre políticas distributivas no Brasil, sobretudo as chamadas políticas de
transferência de renda.

De acordo com Ballard (2012), programas de transferência de renda vêm emergindo no Sul
Global como um importante instrumento visando conduzir o desenvolvimento das classes mais
pobres e, juntamente com demais mecanismos distributivos, vem contribuindo no sentido de
fortalecer as ligações entre indivíduos e estados. Em adição, tais mecanismos também são
vislumbrados como medidas para melhorar os efeitos perversos da globalização e marginalização
econômica que toma de assalto as classes menos favorecidas da população nos mais diversos
aspectos.

Desta forma, destaca-se, no Brasil, um importante programa de transferência de renda


engendrado pelo estado: o Bolsa Família. Elaborado visando atuar de forma a reduzir desigualdades
sociais internas, o programa sofreu, ao longo dos anos, inúmeras críticas, algumas um tanto quanto
equivocadas, haja vista as inerentes limitações do programa. Neste sentido deve-se ter em mente
que, apesar de muitas vezes ter sido propagandeado como um instrumento de política social do
governo, que visava promover o acesso universal a direitos básicos previstos na Constituição –
educação, saúde, saneamento – e equalizar oportunidades, a função de um programa de renda
mínima como o Bolsa Família é gerar transferência de renda para pessoas mais pobres de forma a
que estas possam adquirir bens e serviços que antes não eram acessíveis (BBC, 2017).

No que diz respeito ao uso de uma política social como alavanca para o desenvolvimento do
país, romper o vínculo entre ter acesso à educação e saúde do fato de indivíduos terem renda para
pagar por esses serviços, ou seja, "desmercantilizar" o acesso a determinados bens e serviços que
são considerados direitos é a finalidade da política social. Contudo, aponta Lena Lavinas que a
política social no Brasil visou fortalecer a dimensão das transferências de renda 1, o que apesar de ter
gerado impactos positivos na redução da pobreza e no aumento do consumo das famílias, isso não
garantiu que essas famílias tivessem um maior acesso à saúde e saneamento básico, de sorte que
não se ampliou o grau de cobertura da proteção social dessas famílias (BBC, 2017).

1
Segundo Lavinas (BBC, 2017) a maior parte do gasto com assistência no Brasil foca essencialmente nas transferências
de renda, que correspondem mais ou menos a 68% de toda a despesa social. Por outro lado, a provisão
"desmercantilizada" de serviços é uma parcela equivalente a um terço do gasto social.
Observa-se, assim, que apenas uma política de transferência de renda cíclica 2 e
essencialmente voltada à incorporação dos pobres ao mercado não é o bastante para diminuir a
desigualdade de renda nem tampouco impulsionar o crescimento e desenvolvimento econômico ou
aumentar o grau de cobertura da proteção social das famílias.

Por último, mas não menos importante, cumpre registrar que, na atual conjuntura global,
abordar o desenvolvimento sem perpassar a temática ambiental se mostra inconcebível. Assim, a
temática desenvolvimento vem se mostrando cada vez ligada à temática ambiental. Neste sentido, a
Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, ocorrida em Estocolmo, em
1972, marcou o início da construção do modelo de desenvolvimento sustentável, que buscou aliar
crescimento econômico e preservação ambiental. Posteriormente, em 1987, o Relatório Brundtland
(Our Common Future) apresenta as bases do conceito e os meios pelos quais este deve ser obtido
(Tetreault, 2018).

Uma visão mais crítica acerca deste conceito é apontada por Najam (2005). Segundo ele:

Sustainable development as a concept (…) has been a direct consequence of Southern


unease with giving a primacy to environmental politics. Arguably bringing global
environmental politics closer to a presumed global politics of sustainable development,
even if only nominally, has been the price that needed to be paid for gaining the active
participation of developing countries. One needs to emphasize, for example, that, at the
Stockholm Conference of 1972, developing countries were not only uninterested in giving
policy priority to environmental concerns; they were actively resistant to this notion. The
World Commission on Environment and Development (WCED, 1987) offered the South
the concept of sustainable development as a means to add the development dimension to
the global environment project (2005, p. 117).

Identifica Najam que apenas a partir da Conferência de Joanesburgo de 2002, os países do


Sul Global passaram a ser engajar e a adotar uma postura mais assertiva no tocante ao meio
ambiente global, o que faz parte dos esforços destes países de buscar uma ordem internacional mais
justa e relações mais igualitárias com os países do Norte Global (Najam, 2005).

Não obstante o atual cenário é palco de um crescente despertar global no tocante à temática
ambiental, que não se concentra mais tão somente no modelo de desenvolvimento sustentável tal
como o pensando no século passado, mas um em modelo que seja capaz de equacionar justiça
social, preservação ambiental e desenvolvimento. Pensar o meio ambiente sem a observância
conjunta destes três elementos não mais atende às necessidades humanas no presente século.
Repensar práticas e padrões é preciso. E assim caminha a humanidade ...

7,2

Política cíclica é aquela que se amplia à medida em que há crescimento econômico e tende a se estabilizar nos
momentos de descenso do ciclo econômico.
Mario, infelizmente, o texto está um pouco sem rumo, mas acima de tudo, está sem densidade
teórica e analítica. Ele se apresenta mais como um rascunho de ideias próprias, mas faltam fontes
teóricas e empíricas e falta uma análise mais aprofundada dos temas. Note que, apesar do espaço
curto, é possível fazê-lo justamente adensando o texto, complexificando o pensamento, o que vem
da relação hábil entre conceitos e ideias, de modo que o texto caminhe com uma combinação de
argumentos o tempo todo. O ensaio acabou ficando muito superficial, não demonstrando bem uma
compreensão dos debates.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BALLARD, R. Geographies of Development II: Cash Transfers and The Reinvention of
Development for The Poor. Progress in Human Geography, 2012, 37(6), p. 811–821.
BBC NEWS BRASIL. Bolsa Família distribuiu renda, mas não reduziu abismo social. Publicado
em 15/09/2017. Disponível em Bolsa Família distribuiu renda, mas não reduziu abismo social, diz
economista - BBC News Brasil.
NAJAM, A. Why Environmental Politics Looks Different from The South. In DAUVERGNE, P.
(ed.) Handbook of Global Environmental Politics. Cheltenham, UK, Northampton, MA, USA:
Edward Elgar, 2005. Chapter 8.
PIETERSE, J. N. Development Theory. Deconstructions/Reconstructions. London: SAGE
Publications, 2010, p. 36-47.
RAMALINGAM, Ben. Aid on the Edge of Chaos. Rethinking International Cooperation in a
Complex World. Oxford: Oxford University Press, 2013. Chapter 6, p. 123-130.
TETREAULT, D. Capitalism Versus the Environment. In VELTMEYER, H.; PAUL B. (eds). The
Essential Guide To Critical Development Studies. New York: Routledge, 2018. Chapter 27, p. 341-
350.

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