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ESSAY 2
A charge abaixo ilustra de forma clara a crítica acerca da não observância dos
condicionantes e interesses locais no que tange a implementação de projetos de desenvolvimento.
Em uma perspectiva mais ampliada, pode-se pensar o mesmo com relação à opção feita pelo Brasil
no que concerne à implementação de um processo de industrialização em meados do século XX
tendo a indústria automobilística como peça-chave e a consequente adoção do modal rodoviário
como predominante, a despeito das grandes dimensões territoriais e dos inúmeros problemas
relacionados à adoção deste modal como predominante em um território de grandes dimensões e
dificuldades de interligação, de sorte que a opção pelo modal ferroviário atenderia bem melhor às
especificidades do país, além de representar uma opção mais barata e menos prejudicial ao meio
ambiente.
Por outro lado, deve-se ter em mente que grande parte dos esforços em prol de ajuda ao
desenvolvimento em regiões e/ou países além de serem embasados em modelos pré-concebidos e
próprios dos países do Norte Global ainda carregam em seu bojo objetivos implícitos e que visam
favorecer sobretudo a estes últimos, os quais acabam obtendo vantagens econômicas e/ou políticas
mediante tais iniciativas. Segundo o autor:
De acordo com Ballard (2012), programas de transferência de renda vêm emergindo no Sul
Global como um importante instrumento visando conduzir o desenvolvimento das classes mais
pobres e, juntamente com demais mecanismos distributivos, vem contribuindo no sentido de
fortalecer as ligações entre indivíduos e estados. Em adição, tais mecanismos também são
vislumbrados como medidas para melhorar os efeitos perversos da globalização e marginalização
econômica que toma de assalto as classes menos favorecidas da população nos mais diversos
aspectos.
No que diz respeito ao uso de uma política social como alavanca para o desenvolvimento do
país, romper o vínculo entre ter acesso à educação e saúde do fato de indivíduos terem renda para
pagar por esses serviços, ou seja, "desmercantilizar" o acesso a determinados bens e serviços que
são considerados direitos é a finalidade da política social. Contudo, aponta Lena Lavinas que a
política social no Brasil visou fortalecer a dimensão das transferências de renda 1, o que apesar de ter
gerado impactos positivos na redução da pobreza e no aumento do consumo das famílias, isso não
garantiu que essas famílias tivessem um maior acesso à saúde e saneamento básico, de sorte que
não se ampliou o grau de cobertura da proteção social dessas famílias (BBC, 2017).
1
Segundo Lavinas (BBC, 2017) a maior parte do gasto com assistência no Brasil foca essencialmente nas transferências
de renda, que correspondem mais ou menos a 68% de toda a despesa social. Por outro lado, a provisão
"desmercantilizada" de serviços é uma parcela equivalente a um terço do gasto social.
Observa-se, assim, que apenas uma política de transferência de renda cíclica 2 e
essencialmente voltada à incorporação dos pobres ao mercado não é o bastante para diminuir a
desigualdade de renda nem tampouco impulsionar o crescimento e desenvolvimento econômico ou
aumentar o grau de cobertura da proteção social das famílias.
Por último, mas não menos importante, cumpre registrar que, na atual conjuntura global,
abordar o desenvolvimento sem perpassar a temática ambiental se mostra inconcebível. Assim, a
temática desenvolvimento vem se mostrando cada vez ligada à temática ambiental. Neste sentido, a
Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, ocorrida em Estocolmo, em
1972, marcou o início da construção do modelo de desenvolvimento sustentável, que buscou aliar
crescimento econômico e preservação ambiental. Posteriormente, em 1987, o Relatório Brundtland
(Our Common Future) apresenta as bases do conceito e os meios pelos quais este deve ser obtido
(Tetreault, 2018).
Uma visão mais crítica acerca deste conceito é apontada por Najam (2005). Segundo ele:
Não obstante o atual cenário é palco de um crescente despertar global no tocante à temática
ambiental, que não se concentra mais tão somente no modelo de desenvolvimento sustentável tal
como o pensando no século passado, mas um em modelo que seja capaz de equacionar justiça
social, preservação ambiental e desenvolvimento. Pensar o meio ambiente sem a observância
conjunta destes três elementos não mais atende às necessidades humanas no presente século.
Repensar práticas e padrões é preciso. E assim caminha a humanidade ...
7,2
Política cíclica é aquela que se amplia à medida em que há crescimento econômico e tende a se estabilizar nos
momentos de descenso do ciclo econômico.
Mario, infelizmente, o texto está um pouco sem rumo, mas acima de tudo, está sem densidade
teórica e analítica. Ele se apresenta mais como um rascunho de ideias próprias, mas faltam fontes
teóricas e empíricas e falta uma análise mais aprofundada dos temas. Note que, apesar do espaço
curto, é possível fazê-lo justamente adensando o texto, complexificando o pensamento, o que vem
da relação hábil entre conceitos e ideias, de modo que o texto caminhe com uma combinação de
argumentos o tempo todo. O ensaio acabou ficando muito superficial, não demonstrando bem uma
compreensão dos debates.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BALLARD, R. Geographies of Development II: Cash Transfers and The Reinvention of
Development for The Poor. Progress in Human Geography, 2012, 37(6), p. 811–821.
BBC NEWS BRASIL. Bolsa Família distribuiu renda, mas não reduziu abismo social. Publicado
em 15/09/2017. Disponível em Bolsa Família distribuiu renda, mas não reduziu abismo social, diz
economista - BBC News Brasil.
NAJAM, A. Why Environmental Politics Looks Different from The South. In DAUVERGNE, P.
(ed.) Handbook of Global Environmental Politics. Cheltenham, UK, Northampton, MA, USA:
Edward Elgar, 2005. Chapter 8.
PIETERSE, J. N. Development Theory. Deconstructions/Reconstructions. London: SAGE
Publications, 2010, p. 36-47.
RAMALINGAM, Ben. Aid on the Edge of Chaos. Rethinking International Cooperation in a
Complex World. Oxford: Oxford University Press, 2013. Chapter 6, p. 123-130.
TETREAULT, D. Capitalism Versus the Environment. In VELTMEYER, H.; PAUL B. (eds). The
Essential Guide To Critical Development Studies. New York: Routledge, 2018. Chapter 27, p. 341-
350.