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ECONOMIA PLANEAMENTO II

TRABALHO

HUSI :

PELA :
NOME : MARIA SOARES
NRE : 20190502185
DEPARTAMENTO : CIÊNCIA ECONÔMIA
SEMESTRE : LIVRE TEORIA
TURMA : C
DISCIPLINA : PLANEAMENTO ECONOMIA

FACULDADE ECONOMIA E GESTÃO


UNIVESIDADE NACIONAL TIMOR LOROSA’E
(UNTL)
2024

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DIFINIÇÃO

O termo desenvolvimento tem sido usado, principalmente pelos

economistas, para designar o crescimento econômico de longa duração envolvendo

mudanças estruturais que ocorrem quando da transição de uma sociedade, de uma

base mais atrasada, para um estágio mais avançado. Os países, de acordo com suas

estruturas econômicas e sociais, são classificados pelos organismos internacionais

como desenvolvidos, em desenvolvimento e subdesenvolvidos. Já as regiões e os

locais, pelo contexto no qual estão inseridos e a multiplicidade de características,

apresentam maior dificuldade de classificação, visto que os parâmetros usados para

medição, como o IDH, renda per capita e outros têm fortes limitações, apesar de

serem referências altamente importantes. Portanto, para ampliar o entendimento, e

antes de explorar os elementos que envolvem o desenvolvimento local, cabe fazer

uma rápida reflexão sobre o seu significado nas diferentes vertentes que tratam do

assunto. No passado, o desenvolvimento era visto como o econômico e era

identificado basicamente como o crescimento das riquezas do país, do local ou da

região. Como exemplo dessa visão, Raimar Richers1 (1970) cita de Buchann e Ellis

a definição:

“Desenvolvimento significa incentivo às possibilidades do aumento das

rendas reais de regiões subdesenvolvidas, provocando mudanças através de

investimentos que levem à expansão dos recursos produtivos, na expectativa de

aumentar a renda per capita da população”. O desenvolvimento é essencialmente

um esforço para criar uma sociedade justa e próspera que é o ideal da nação

indonésia. O desenvolvimento também é visto como um crescimento económico

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crescente acompanhado por uma justiça social consciente. O desenvolvimento

geralmente adere a três paradigmas, nomeadamente crescimento, melhoria e

mudança. Como processo, o desenvolvimento comunitário não pode ser separado

do aspecto de gestão que o trata. Um processo de gestão geral incluirá aspectos de

planejamento, organização, atuação e controle.

O desenvolvimento económico é algo que não pode ser separado do incentivo ao

próprio crescimento económico. Por outro lado, o crescimento económico pode

ajudar a suavizar o processo de desenvolvimento económico.

COMPREENSÃO E QUESTÕES NAS ABORDAGENS DE PLANEJAMENTO

DE DESENVOLVIMENTO

 planejamento (planejamento) na perspectiva sistêmica segundo Chadwick

(1978) é um processo multinível que pode controlar um arranjo de

atividades nas quais a sequência de processos de trabalho deve ser realizada.

 Roberts et al (1984) no seu livro Planning and Ecology, definem o

planeamento como uma actividade relacionada com a alocação ou

exploração racional de recursos para benefício humano, tanto a curto como

a longo prazo.

 planeamento do desenvolvimento numa perspectiva ambiental segundo

Eagles (1984) tem duas componentes, nomeadamente: (1). um conjunto de

razões que olha para os objectivos de planeamento em termos de ecologia e

desenvolvimento humano; (2). um conjunto de critérios como referência na

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avaliação do desenvolvimento sob os aspectos da ética ecológica e da ética

social.

 As atitudes humanas irão variar de negativistas, utilitaristas, neutralistas,

humanistas, estéticas a ecológicas (naturalistas).

 Outra questão no processo de planeamento do desenvolvimento é entre “de

cima para baixo” e “de baixo para cima”, ou entre a “abordagem central” e

a “abordagem local”.

 Uma abordagem local no desenvolvimento é, em última análise, muito

necessária, por várias razões, nomeadamente: (1). a existência de

diversidade e condições regionais, (2) a importância da igualdade no

desenvolvimento e (3) a existência de incerteza nos conceitos de

desenvolvimento anteriores.

 As principais questões que emergem da experiência dos países em

desenvolvimento a este respeito são: (1) desenvolvimento da participação

comunitária, (2) grupos-alvo, (3) monitorização e avaliação e (4) pobreza,

tecnologia e produtividade.

 Os aspectos do desenvolvimento não são apenas económicos, mas também

sociais, políticos, jurídicos e administrativos. O desenvolvimento, neste

caso, é realizado de forma planejada e deliberada

A abordagem “de cima para baixo” ou “abordagem central” significa que o

planeamento do desenvolvimento provém principalmente do governo central, ou de

instituições governamentais, e não da sociedade mais baixa.

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O planeamento do desenvolvimento também não pode ser separado do conceito de

relação entre os sistemas sociais e o ambiente natural ou os sistemas ecológicos.

Desenvolvimento económico que possa fornecer uma visão geral dos esforços e

atividades realizadas para alcançar o crescimento económico e o bem-estar da

comunidade:

1. Desenvolvimento de infraestrutura

O governo pode investir fundos e recursos na construção de redes de transporte,

como estradas, pontes, portos e aeroportos. O desenvolvimento adequado de infra-

estruturas melhorará a conectividade entre regiões, facilitará o fluxo de bens e

serviços e incentivará o investimento e o crescimento em sectores relacionados.

2. Diversificação Económica

Os países ou regiões podem encorajar a diversificação dos sectores económicos

para reduzir a dependência de um sector que é vulnerável às flutuações nos preços

ou na procura globais. Por exemplo, desenvolver os sectores industrial, turístico,

agrícola, tecnológico ou de serviços financeiros como fonte de novo crescimento

económico.

3. Recursos Humanos Melhorados

A educação e a formação são investimentos importantes no desenvolvimento dos

recursos humanos. Melhorar o acesso e a qualidade da educação, bem como formar

a força de trabalho com competências relevantes para as necessidades do mercado,

aumentará a produtividade da força de trabalho e as capacidades de inovação.

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4. Promoção do Investimento e do Empreendedorismo

O governo pode criar um clima propício ao investimento através da melhoria da

regulamentação, da redução da burocracia, da garantia da estabilidade política e

jurídica, de incentivos fiscais e da protecção dos direitos de propriedade intelectual.

Além disso, a promoção do empreendedorismo e o apoio às pequenas e médias

empresas podem incentivar o crescimento económico.

5. Desenvolvimento de Pesquisa e Inovação

O incentivo à investigação e ao desenvolvimento, bem como à colaboração entre

universidades, instituições de investigação e o sector privado, pode aumentar a

inovação e a adopção de novas tecnologias. A inovação é a chave para aumentar a

produtividade, a eficiência e a competitividade económica.

6. Maior acesso financeiro

A melhoria do acesso aos serviços financeiros, como o microcrédito, a banca

inclusiva e o financiamento para pequenas e médias empresas, pode impulsionar o

crescimento do sector informal e o desenvolvimento empresarial.

Planejamento e Desenvolvimento Econômico aborda de forma abrangente

e tecnicamente precisa os principais tópicos relacionados a desenvolvimento e

planejamento: fontes e estágios do desenvolvimento econômico, crescimento e

inflação, poupança agregada e mercado de capitais, métodos quantitativos de

planejamento econômico e financeiro, entre outros. As ferramentas de análise

examinadas ao longo do texto também foram aplicadas à experiência histórica do

Brasil e dos Estados Unidos. O livro apresenta ainda uma abordagem empírica, uma

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vez que a maior parte do material incluído pode ser aplicada a dados econômicos e

financeiros no País e em outros países. A obra está dividida em quatro partes.

A Parte :

1. Examina o conceito de desenvolvimento econômico em seus enfoques mais

gerais. A Parte

2. Analisa em seus diversos aspectos o processo de crescimento e de

acumulação de capital, tanto a longo como a médio prazos. A Parte

3. Apresenta os fundamentos dos modelos intersetoriais e macroeconômicos,

que são a base do planejamento econômico e financeiro. Finalmente,

4. Investiga a trajetória de crescimento econômico do Brasil em uma

perspectiva de longo prazo.

Os objetivos eram extremamente contraditórios evidenciando o péssimo

planejamento: aumento dos impostos e tarifas, ignorando o efeito sobre os

investimentos privados, redução do desperdício público, mesmo assim,

aumentando os salários, captação de dinheiro do mercado de capitais, mas não se

criou nenhuma regra regulatória para tanto, e uma tentativa de conseguir recursos

externos mesmo com a crescente hostilidade ao capital estrangeiro.

Dentre os objetivos do mesmo, ainda podemos ressaltar:

1. Assegurar uma taxa de crescimento da renda nacional compatível com as

expectativas de melhoria de condições de vida que motiva-se o povo

brasileiro. Essa taxa foi estimada em 7%, correspondendo a 3,9% de

crescimento da renda per capita;

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2. Reduzir progressivamente a pressão inflacionária, para que o sistema

econômico recuperasse uma adequada estabilidade de nível de preços, cujo

incremento não deveria ser superior, em 1963, à metade do observado no

ano corrente. Em 1965, esse incremento deveria aproximar-se de 10%;

3. Criar condições para que os frutos do desenvolvimento se distribuam de

maneira cada vez mais ampla pela população, cujos salários reais deveriam

crescer com taxa idêntica ao aumento da produtividade do conjunto da

economia, demais dos ajustamentos decorrentes da elevação do custo de

vida;

4. Intensificar substancialmente a ação do Governo no campo educacional, da

pesquisa científica e tecnológica, e da saúde pública, a fim de assegurar

uma rápida melhoria do homem como fato de desenvolvimento e de

permitir o acesso de uma parte crescente da população aos frutos do

progresso cultural;

5. Orientar adequadamente o levantamento dos recursos naturais e a

localização da atividade econômica, visando desenvolver as distintas áreas

do país e a reduzir as disparidades regionais de níveis de vida, sem com isso

aumentar o custo social do desenvolvimento;

6. Eliminar progressivamente os entraves de ordem institucional responsáveis

pelo desgaste de fatores de produção e pela lenta assimilação de novas

técnicas em determinados setores produtivos. Dentre esses obstáculos de

ordem institucional, destacava-se a atual estrutura agrária brasileira, cuja

transformação deverá ser promovida com eficiência e rapidez;

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7. Encaminhar soluções visando a refinanciar adequadamente a dívida externa,

acumulada principalmente no último decênio, a qual, não sendo

propriamente grande, pesava desmesuradamente no balanço de pagamentos

por ser quase toda a curto e médio prazos. Também se trataria de evitar

agravação na posição de endividamento do país no exterior, durante o

próximo triênio;

8. Assegurar ao Governo uma crescente unidade de comando dentro de sua

própria esfera de ação, submetendo as distintas agências que o compunham

às diretrizes de um plano que visasse à consecução simultânea dos objetivos

anteriormente indicados.

A definição do desenvolvimento constitui um conceito complexo e elástico, e tanto

pode ser utilizado como um meio, quanto como um fim. Como meio, compreende

um processo guiado que objetiva alcançar um bem maior para a sociedade, seja ele

riqueza, prosperidade, progresso técnico, crescimento econômico, bem-estar,

sustentabilidade, liberdade etc. Ao configurar-se como um fim, o desenvolvimento

se transforma no objetivo do planejamento, das estratégias e ações utilizadas

para alcançá-lo – o desenvolvimento se traduziria em uma situação futura melhor

que a pretérita ou atual e pode ser percebido por vários enfoques.

Em verdade o conceito de desenvolvimento é ideológico estando repleto de

humanismo que se contrapõe ao quantitativíssimo positivista e funcional da escola

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neoclássica. Assim, enquanto o crescimento implica num processo de multiplicação

dos recursos o desenvolvimento incorpora a ideia de divisão que remete à questão

da distribuição da renda e subsequente justiça social.

Sendo o desenvolvimento um processo ou uma finalidade, seus resultados só

podem ser aquilatados quando são avaliados, ou seja, observados, mensurados,

monitorados e comparados. O grande problema está em como mensurar com

efetividade o desenvolvimento de uma sociedade? Antes medido basicamente pela

variação quantitativa da riqueza, atualmente se utiliza cada vez mais os indicadores

sociais.

Segundo Rua (2004) há um consenso que todo tipo de monitoramento e avaliação

se fundamenta no exame de indicadores e pontua que essa ideia surge inicialmente

nos Estados Unidos da América (EUA). Para Santagada (2007, p. 117) os

indicadores sociais surgem nos EUA, de forma oficial, na década de 1960, período

conturbado em que os sociólogos foram convocados a analisar as causas dos

conflitos sociais, pois “[...] a análise econômica não explicava a contento o

paradoxo entre o crescimento econômico e as reivindicações sociais não

atendidas.”. Visão corroborada por Jannuzzi (2003) que elata, que a área encorpou

cientificamente na década de 1960.

Indicadores

Os resultados das avaliações do desenvolvimento de uma região são

utilizados na formulação e implementação de políticas públicas e na tomada

de decisões de investimento na esfera privada. Além de influenciarem diretamente

a economia regional, impactam o bem-estar das pessoas que vivem naquela região.

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Um indicador é uma medida que captura dados importantes relacionados a uma

atividade, fenômeno ou situação e fornece informações que subsidiam o

processo de tomada de decisão e orientam a formulação de políticas públicas e o

planejamento. Os indicadores são utilizados com o objetivo de conhecer a realidade

econômica, social, ambiental, etc. de uma sociedade, monitorar o seu

desenvolvimento e subsidiar os gestores públicos e privados em suas

administrações. Os indicadores são, portanto, importante ferramenta de informação

para avaliar avanços, retrocessos ou estancamentos nos mais diversos aspectos e

setores da sociedade.

Quantitativas, que busca um esclarecimento sobre determinado aspecto

da vida social em que estamos interessados ou sobre mudanças em curso” (IBGE,

2014).

Ressalta que, do ponto de vista metodológico, as informações podem ser

subjetivas

e objetivas, e que nessa acepção, os indicadores servem aos propósitos da

pesquisa teórica, do conhecimento e, sobretudo, da ação. Afirma também que a

produção de indicadores sociais tem sido impulsionada pelo entendimento de que

indicadores puramente econômicos não são suficientes para a análise da situação

social dos países.

Neste ponto de vista os indicadores são instrumentos operacionais utilizados para

monitorar a realidade social, para a criação e reformulação de políticas

públicas, e como subsídio nas atividades de planejamento público e na criação de

políticas sociais. Na perspectiva acadêmica, os indicadores são pontos de contato

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entre os modelos explicativos da Teoria Social e a evidência empírica dos

fenômenos sociais observados, que possibilitam o aprofundamento das

investigações científicas sobre mudanças sociais e sobre as determinantes dos

diversos fenômenos sociais (JANNUZZI; 2003). Jannuzzi (2003) faz uma

diferenciação entre indicadores sociais, e os dados e informações advindas das

estatísticas públicas.

As estatísticas representam ocorrências ou eventos da realidade social,

dados sociais em sua forma bruta, não inteiramente contextualizados numa teoria

social ou numa finalidade programática e só parcialmente preparados para

utilização na interpretação empírica da realidade social, produzidos e

disseminados por instituições que compõem o Sistema Estatístico Nacional

(SEN).

O PIB e suas circunstâncias

O PIB é um índice de desempenho econômico, sua gênese precede a criação

dos indicadores sociais, sendo utilizado pela maioria dos países do mundo como

indicador do nível da produção de bens e serviços finais, ou seja, da geração de

riqueza de uma região geográfica num determinado período temporal. Ele mede o

crescimento econômico de uma região geográfica, seja ela Município, grupo

de municípios, Estado, conjunto de estados, País ou grupo de países.

A mensuração do PIB leva em consideração três grupos principais de

atividade: a agropecuária (extrativismo vegetal, agricultura e pecuária); a indústria

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(extrativismo mineral, transformação, serviços industriais de utilidade pública

e construção civil); e serviços (comércio, transporte, comunicação, serviços

da administração pública e outros serviços).

O PIB também pode ser mensurado pela perspectiva da renda e da despesa.

Sabe se que o ato de produzir tem como contrapartida a geração de renda, pois ao

se produzir, quaisquer produtos são pagos salários, aluguéis, juros e lucros

auferidos. Tem-se, portanto, a geração de um fluxo de renda em decorrência da

remuneração dos fatores de produção. O cálculo do PIB por meio da renda consiste

na soma dos salários, aluguéis, juros e lucros gerados na economia.

Outra forma de mensurar o PIB é pela contabilidade das despesas. Este

método consiste no somatório do consumo, dos investimentos, dos gastos

governamentais e das

exportações (excluindo as importações) realizados pelo país. A perspectiva da

despesa refere-se à destinação da renda. (BRASIL, 2012).

Em síntese, é possível perceber, considerando-se as óticas da produção, da

renda e da despesa, que mensurar o PIB de um país significa medir os fluxos

existentes no fluxo circular da renda (produto, renda e despesa) e que qualquer uma

das formas utilizada chegará ao mesmo resultado.

A despeito de ser o mais importante indicador da riqueza produzida por um

país e expressar seu crescimento econômico, o PIB não serve como uma medida de

bem-estar. Estabeleceu-se de longa data que o PIB era uma ferramenta inadequada

para avaliar o bem-estar ao longo do tempo, em particular em suas dimensões

econômica, ambiental e social, aspectos que são frequentemente designados pelo

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termo sustentabilidade. (STIGLITZ; SEN; FITOUSSI, 2012).

Em 2008, o Governo francês, insatisfeito com as informações

estatísticas referentes à economia e a sociedade convidou os economistas

Joseph Stiglitz, Amartya Sen e Jean-Paul Fitoussi para criar a Comissão sobre

a Medição do Desempenho Econômico e Progresso Social (CMDEPS). Essa

comissão teve como incumbência apontar as limitações do PIB enquanto

indicador do desempenho econômico e do progresso social, examinar os

problemas concernentes à sua medição, identificar as informações complementares

que poderiam ser necessárias na construção de indicadores de progresso social

mais apropriados, avaliar a factibilidade de novos instrumentos de mensuração

e discutir a apresentação adequada das informações estatísticas.

Em 2009, a comissão publicou o “Rapport de la Commission sur la mesure

des performances économiques et du progrès social.”. O relatório continha

uma série de recomendações. A primeira foi no sentido de adaptar o sistema de

medida da atividade econômica a fim de melhor refletir as mudanças

estruturais que caracterizam a evolução das economias modernas.

A economia e as localidades Neste capítulo objetiva-se ressaltar alguns dos

elementos relacionados com a economia e os problemas das localidades. Entende-

se localidade como sendo um município ou cidade, ou uma região de um certo

município, ou ainda, um conjunto de municípios ou uma região geográfica com

problemas semelhantes.

O Desenvolvimento e as localidades Quando se discute desenvolvimento

para as localidades, é interessante saber quais razões levariam os moradores de

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determinado local a se preocupar com isso. Apesar de parecer que as respostas

dadas serão carregadas de obviedades, elas poderão ajudar, num próximo passo, a

conceber, em cada caso, as ações apropriadas que levem ao desenvolvimento

desejado.

Será que a situação local piorou? Será que a situação atual não mais

satisfaz?

Será que, simplesmente, se gostaria de um futuro melhor? Será que se

precisa ter um futuro melhor?

A motivação das respostas pode ser uma, algumas, todas acima ou outras

não mencionadas. O importante é que exista na localidade uma preocupação em

relação a uma insuficiência sócio-econômica, presente ou futura, que é entendida,

pela comunidade, como um problema. Este problema faz com que, em algumas

localidades, a comunidade sinta a necessidade do desenvolvimento econômico,

como meio para atender a insatisfação com a 10 situação atual, reduzindo ou

eliminando, no tempo, os grandes descompassos entre o social, o econômico e o

tecnológico, ou os desequilíbrios gerados por fatores estruturais ou ocasionais, que

afetam a harmonia dos componentes do processo sócio-econômico, e que são

empecilhos para que atinja um nível desejável de qualidade de vida. Em outras

localidades, o que se busca é uma condição de qualidade de vida diferenciada, que

não depende da condição econômica, que de certo modo já satisfaz, mas busca,

simplesmente, uma nova prioridade na alocação dos recursos disponíveis. Ou seja,

o entendimento do que seja desenvolvimento pode ter significados diferentes para

cada localidade em função do nível de satisfação que cada comunidade desses locais

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sinta com relação às suas condições de vida. Na verdade, o que se procura é o

desenvolvimento que leve a um futuro melhor para a maioria da população e é aí

que surgem as dificuldades: a definição clara do que realmente se busca e os

caminhos e os meios para se chegar lá. Nesse processo é que começam aparecer os

problemas que deverão ser enfrentados pela comunidade.

As localidades e seus problemas Nenhum local hoje em dia está livre de

problemas econômicos e seus reflexos sociais, ainda que a natureza, a profundidade

e a extensão das perturbações variem muito. Pela ausência de planejamento e de

medidas para enfrentar os problemas ou, pior, por ações inadequadas, muitas

regiões, em todo planeta, têm sido afetadas pela falta de desenvolvimento. Algumas

vezes, as localidades perdem competitividade em suas atividades econômicas pela

ausência de desenvolvimento ou por estarem num estágio que é insuficiente para

dar suporte a operação das empresas instaladas em seus territórios. Isso pode levar

as empresas locais a se enfraquecerem diante das concorrentes, levando-as a

reduzirem seus quadros funcionais, para adequação de suas capacidades

competitivas, ou ainda, encerrando suas atividades no local, gerando desemprego,

perda de renda e de qualidade de vida para muitos moradores.

As localidades, regiões, nações, mesmo aquelas que atualmente estão em

situação privilegiada, poderão vir a ser afetadas se não se planejarem para o futuro

e permitirem suas atividades econômicas se tornarem ‘envelhecidas’. Elas poderão

ficar descompassadas com suas concorrentes, perdendo assim a capacidade

competitiva e prejudicando com isso a economia das localidades onde elas estão

instaladas. Segundo Kotler (1997) existe um conjunto de macroproblemas que afeta

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as nações: o baixo padrão de vida; os problemas demográficos; o problema da falta

de emprego e a gestão pública.

Estes são também problemas que afetam as localidades. Além desses fatores

cabe mencionar a qualidade da gestão pública local. O baixo padrão de vida Este é

o maior dos problemas, pois nele se concentra a resultante de quase todos os demais,

que não se traduz só pelo nível de renda per capita, mas principalmente, pela forma

como essa renda é distribuída. A situação de baixo padrão de vida pode ser original

ou decorrente de alguma transformação que provocou a perda de qualidade vida

anteriormente existente. Mas, se para as localidades médias e pequenas isso mostra

a origem do problema, para as cidades metropolitanas, já desenvolvidas

economicamente, a má distribuição de renda talvez seja o componente mais

relevante para explicar o baixo padrão de vida, demonstrando que o aumento da

riqueza ficou concentrado e não premiou a todos.

Os problemas demográficos Os problemas demográficos surgem em função

do desequilíbrio entre o número de habitantes, suas características e a atividade

econômica local ou da região. São várias as razões como segue abaixo: — A

explosão do crescimento. Este problema se verifica quando existe um forte

crescimento populacional, normalmente por correntes migratórias, devido a

aparentes ou reais oportunidades nessas localidades em relação aos locais de origem

da migração. A velocidade do desenvolvimento é insuficiente para atender a

demanda de empregos e outras necessidades humanas e sociais. O paradoxo dessa

situação é que quanto mais a localidade dá solução ao processo migratório, criando

trabalhos e empregos, buscando o atendimento social da população recém chegada,

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mais aumenta a migração até o ponto de romper o limite de capacidade que a 12

localidade tem de absorção dos migrantes e aí se amplia o desordenamento até

atingir situações socialmente incontroláveis.

A estagnação das cidades. A estagnação da atividade econômica provoca a

longo prazo reflexos no comportamento demográfico que reforça a tendência à

estagnação. Assim se uma localidade não crescer a ponto de não acompanhar o

crescimento vegetativo da população, provocando uma grande insatisfação,

principalmente para a população mais jovem, que não encontra possibilidade de

emprego ou oportunidades para se desenvolver e ganhar a vida. A conseqüência

dessa situação é que geralmente a população mais jovem migra para outras

localidades afetando, no futuro, inclusive o próprio crescimento vegetativo da

população.

A redução populacional. Essa situação pode ocorrer por surgimento de

melhores oportunidades em outros locais, fazendo com que grandes massas de

habitantes abandonem a região. Logicamente essas “melhores oportunidades” são

relativas em função do nível que se tem na localidade abandonada. São várias as

possibilidades, como as corridas na procura de minerais preciosos, onde os locais,

quando exauridos são praticamente abandonados. De certo modo o mesmo acontece

na exploração agrícola quando surgem áreas mais competitivas ou há mudança de

atividade, como da agricultura para a pecuária, e ainda na condição anteriormente

citada em que, pela estagnação da localidade, os habitantes se deslocam para outros

lugares.

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A concentração de faixa etária. Em determinadas localidades pode existir

forte concentração de pessoas idosas, assim como de habitantes muito jovens. Nesta

situação os habitantes dessa localidade tendem a consumir recursos e impor maiores

exigências em termos de saúde e serviços sociais e ter menos pessoas

economicamente ativas (PEA) para gerar rendas, provocando um desequilíbrio na

estrutura econômica local, que repercute sobre os demais fatores sociais do local.

Absurdamente, em muitas regiões de concentração de pobreza do interior brasileiro,

principalmente do Nordeste, o salário mínimo relativo à aposentadoria social dos

idosos da zona rural é a maior fonte de renda e de sobrevivência das comunidades

desses locais. O problema da falta de emprego Além das crises políticas e

econômicas que provocam desemprego, a tecnologia tem, em muitos casos,

aumentado a produtividade com forte impacto redutor no número de empregos. Isso

é visto em alguns países onde o crescimento do PIB e do desemprego ocorre 13

simultaneamente. A evolução tecnológica se por um lado pode criar novas

atividades e empregos, por outro, pode desmobilizar do trabalho uma quantidade

muito maior de pessoas, geralmente com mais idade e menos preparada para os

níveis de conhecimento necessários para os novos processos produtivos.

A gestão pública Apesar de não fazer parte da relação de Kotler (1994), dos

grandes problemas das nações, a forma de gerir a coisa pública não poderia ficar de

fora no caso das localidades, visto ser, talvez, um dos fatores mais importante de

causas e conseqüências dos problemas das cidades. No caso brasileiro, mais de 70%

dos municípios são pequenos, possuindo menos de 10 mil habitantes. Nesses

municípios existe uma carência natural de administradores públicos com

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competência e capacidade para administrar o poder público de forma mais eficiente.

Nas cidades maiores, apesar deste problema não existir, muitas vezes outras

deficiências, como a política, tornam a administração pública ainda mais temerária.

As localidades doentes e as localidades saudáveis A situação das várias

localidades se enquadra em uma escala contínua que as gradua em função da

dimensão de seus problemas. Se num extremo estão colocadas as localidades

saudáveis, no outro estão aquelas, em estado desesperador, que estão morrendo ou

cronicamente deprimidas, as localidades doentes. Portanto, em condições

extremadas podem ser de dois tipos: as das localidades doentes e das localidades

saudáveis. A condição de ser uma localidade “doente” É muito grande a quantidade

de locais – localidades, regiões e países – que se encontram “doentes” de tantos

problemas. Às vezes como causa, outra como conseqüência, sempre que a condição

econômica fica “doente”, a localidade apresenta problemas fiscais de desequilíbrio

orçamentário da administração pública, geralmente por queda de receitas ou

aumento descontrolado de despesas. É claro que isso agrava ainda mais o problema

podendo resultar na falta de recursos para investimento na infra-estrutura, ou na

necessidade de redução dos serviços públicos e, no extremo, num caso de “quase

falência pública”, até serviços essenciais são 14 suspensos por falta de recursos,

desestimulando ainda mais a economia local. Enfim, isso forma um círculo vicioso,

que parece não ter um fim. Exemplos não faltam. O município de São Paulo, nos

últimos anos, viveu, de certo modo, esse tipo de problema. Houve deslocamento de

indústrias e grandes prestadoras de serviços para outros locais, na busca de maiores

facilidades, gerando grande queda de receitas dos tributos produtivos, enquanto a

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localidade viveu um aumento da demanda de serviços sociais: apresentando trânsito

congestionado, acumulado com restrições de circulação de veículos, estado de

poluição crítica, racionamento de água, um aumento da violência e uma brutal crise

na administração pública municipal. Tudo isso, associado a um nível elevado de

desemprego, tornou a situação quase que explosiva. Logicamente a economia das

localidades, como dos países, passa por ciclos, positivos e negativos, às vezes

prolongados. As “doenças econômicas” podem ser medidas pelo alto índice de

desemprego, pela insignificância dos investimentos, pela queda das receitas

públicas e pela diminuição das rendas privadas decorrentes do que ocorre com

indústrias especificas ou dos conglomerados industriais, dos recursos e produtos do

local. Apesar de não existir ainda uma forma de medir, tecnicamente aceitável, a

percepção da queda duradoura da qualidade de vida, mesmo de forma subjetiva, é

um ótimo indicador, talvez o melhor, do estado de doença em que uma localidade

se encontra. A condição de ser localidade “saudável” Se as doenças das localidades

podem ser percebidas com certa facilidade, também é possível caracterizar as

localidades com “saúde”.

De certo modo, para isso bastaria levar-se em consideração exatamente o

contrário daquilo que foi caracterizado como doença, mas isso não é suficiente, uma

localidade saudável é mais que isto. Conforme Kotler (1994: 2) : — “a doença ou

saúde relativa de um local transcende as medidas fiscais e econômicas. Os locais

são mais do que orçamentos e negócios. Eles abrangem pessoas, culturas, herança

histórica, patrimônio físico e oportunidades” . 15 Uma localidade com saúde é

aquela que consegue atender os anseios da grande maioria de seus habitantes, nos

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vários estratos sociais, alcançando um nível de qualidade de vida satisfatório,

envolvendo boa estrutura educacional, bom atendimento à saúde, às necessidades

sociais, uma forte atividade econômica, baixo nível de desemprego, uma

ambientação agradável, atividade cultural adequada, um certo charme de atração,

bom astral e, principalmente, que procure constantemente o novo, na busca da

perspectiva de um futuro sempre melhor. Essa localidade precisa parecer e ser um

local desejável para se viver, investir, se visitar, tranqüila no modo de viver, mas

vibrante na sua intensidade, num esforço permanente para se afastar do triste e do

deprimido.

Os diversos fatores: culturais, econômicos, sociais, urbanos, se apóiam uns

nos outros, num círculo virtuoso, que conduz a estágios superiores de

desenvolvimento. Alcançar essa situação não é fácil, mas é o desejável, é o que se

busca. Quando se busca um futuro melhor, surgem problemas. Se a situação

existente não mais satisfaz, assim como os países, conforme exemplo mencionado

por Kotler (1994), os locais podem revitalizar-se, reverter o seu declínio através de

um planejamento estratégico adequado e eficaz. — “Os cinco tigres da Ásia

Oriental (Coréia do Sul, Taiwan, Hong Kong, Cingapura e Tailândia) são exemplos

de um ressurgimento em que os componentes – estratégia, marketing e

planejamento – são concentrados em países específicos” (Kotler, 1994: 3). Outro

fator importante a ser considerado é a perspectiva de futuro. Tão relevante, ou talvez

mais, quanto à situação presente, os investidores vêem com forte preocupação as

possibilidades e os problemas previsíveis para o futuro, nos locais onde fazem seus

empreendimentos. As condições e vantagens oferecidas hoje, por algumas

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localidades, podem não estar garantidas para um futuro próximo. As expansões dos

investimentos ou os investimentos novos são cada vez mais carregados dessa

preocupação por parte dos empreendedores. Em alguns casos ter uma perspectiva

semelhante à de hoje não é suficiente; há necessidade que exista a projeção de um

futuro melhor para a localidade. Ter ou não essa perspectiva de futuro pode,

independente de seu presente, em certos casos, traduzir o estado de ‘doente’ ou

‘saudável’ para a localidade. 16 É natural enquadrar a cidade de Curitiba na

categoria das cidades saudáveis. Se de forma absoluta ela ainda não alcançou todos

os indicadores desejáveis, relativamente, ela tem servido de referência para uma

série de ações na área pública de outras cidades , do Brasil e do exterior.

Os fatos econômicos e seus efeitos para as localidades Todas as localidades

têm dificuldades e estão sujeitas a ciclos de crescimento e declínio internos e

também a choques de forças externas, fora de seus controles, que atingem num

primeiro momento sua economia como um todo, ou um segmento importante dela

e, num estágio seguinte, toda localidade.

O comportamento da economia e suas conseqüências locais Algumas

localidades enfrentam problemas econômicos comuns, mas com conseqüências

diferentes em função de como cada uma delas reage diante dos obstáculos. Os

efeitos, apesar de serem diversos para cada localidade, apresentam algumas

ocorrências típicas desse processo como: as cidades que entram em declínio; as

localidades com problemas crônicos; as cidades com dinâmica cíclica; as cidades

que se organizam para renascer e as cidades privilegiadas. As cidades que entram

em declínio Alguns locais são pequenas cidades que sofreram redução significativa

23
de sua principal e, às vezes, da única atividade econômica ou que perderam suas

principais indústrias e estão contaminadas com o desemprego, lojas fechadas e

propriedades abandonadas. As pessoas e os negócios migram, o patrimônio privado

perde seu valor, reduzindo as receitas públicas, que ficam sem capacidade para

custear a educação, a saúde e outros serviços públicos. Na primeira metade da

década de 50, na Alta Noroeste, do interior do Estado de São Paulo, muitas cidades

que eram de base agrícola, principalmente de cultura do café, foram altamente

impactadas pela abertura da colonização do Norte do Estado do Paraná. Ocorreu

então um processo migratório de volume extraordinário, onde muitas cidades

perderam mais de 20% da população num período inferior a cinco anos.

Simultaneamente, as terras da Noroeste passaram a 17 ter aproveitamento para a

pecuária, o que reduziu ainda mais a população rural e, como conseqüência da

queda da atividade econômica, reduziu também a população urbana. A economia

de toda região se deprimiu em cadeia, chegando a um nível baixíssimo. As

localidades com problemas crônicos Algumas cidades atingem um estado de

depressão tão profunda, por alteração de seu meio econômico que, muitas vezes,

perdem a capacidade de reação, vivendo num verdadeiro estado de coma

econômico. Essas cidades são o extremo da escala de graduação econômica. No

Vale do Paraíba, em São Paulo, algumas cidades com expressão até as duas

primeiras décadas do século XX e cujas economias estavam centradas na cultura

primeiro da cana-deaçúcar e depois do café, com a transferência dessas culturas

para outros locais, não conseguiram até hoje encontrar um sucedâneo para aquela

atividade e se encontram na mesma situação depressiva. As cidades com dinâmica

24
cíclica Outras localidades são altamente sensíveis aos movimentos cíclicos dos

negócios como conseqüência de suas vinculações a algum segmento industrial, ou

do tipo de suas empresas, ou de negócios, mas ao mesmo tempo têm forte

capacidade de reagir e reviver quando o setor predominante reage. Como exemplo,

de cidade suscetível a um segmento econômico está à cidade de Franca, em São

Paulo, cuja economia é altamente dependente do que ocorre com a indústria

calçadista; quando ela vai bem, a cidade vive em euforia, quando vai mal, a cidade

cai em depressão. As cidades que se organizam para renascer Existem também os

locais que ao se defrontarem com um ciclo de depressão, por terem potencial,

buscam melhorar sua atratividade e renascem, mudando o enfoque e suas atividades

chaves, ou a partir de investimento em seus pontos fracos, de modo a sanar as

deficiências que os levaram à depressão. 18 Em São Paulo, na região do Alto-Médio

Tietê, algumas cidades de importância durante o período imperial, mesmo estando

próximas da cidade de São Paulo, não conseguiram acompanhar a modernização do

Estado e do Brasil e praticamente estagnaram, na situação em que se encontravam

naquela época. Dessa região, enquanto as cidades de Itu e Salto encontraram novos

caminhos, Pirapora do Bom Jesus, Santana do Parnaíba, Porto Feliz e Cabreúva

continuaram praticamente vivendo de uma agricultura limitada. Recentemente, a

partir de um projeto realizado pelo Instituto de Desenvolvimento Regional em

parceria com o SEBRAE, essas cidades começaram a se organizar em conjunto, na

tentativa de se tornarem pólos turísticos, aproveitando o potencial de recursos

naturais, culturais, históricos e de serviços, algumas daquelas cidades que estavam

em dormência poderão renascer economicamente. As cidades privilegiadas

25
Algumas poucas cidades, em todo país, conseguem manter-se permanentemente

com boa alternativa para viver, investir e se visitar. São cidades que sofrem seus

problemas, mas que, por uma forte capacidade reativa ou de inovação, pela infra-

estrutura, física ou humana, que possuem, se recuperam rapidamente, fazendo com

que os seus ciclos depressivos sejam curtos e, com isso, são vistas como cidades

privilegiadas. Se existem cidades que representam bem isso, essas são Curitiba no

Paraná, Goiânia em Goiás e Campinas em São Paulo. As três cidades têm tido a

capacidade de renascer, renovar e inovar frente a cada ciclo negativo. Rapidamente

se recuperam e se mantêm, há décadas, entre as melhores cidades do país.

Logicamente, mesmo essas cidades também enfrentam problemas: poluição,

congestionamento, violência, favelas, falta de água, má administração e outros

transtornos modernos. Enquanto a maioria das cidades tem dificuldade em

encontrar novas formas de crescer, muitas cidades médias e grandes não vivem esse

problema e sim um outro, que é impedir que o crescimento não-planejado destrua

a qualidade de vida já conquistada.

As causas do crescimento e do declínio das localidades A maioria dos locais

passa por ciclos de crescimento num período, seguido de uma fase de declínio em

outro, que podem se repetir várias vezes. Esta alternância decorre de causas que 19

muitas vezes estão dentro da própria localidade, porém em outras, as causas são

externas e onde muitas vezes pouco se pode fazer para evitar.

As causas internas Os fatores que levam a isso podem ser de várias formas

e Kotler (1994: 5) realça que eles nem sempre são econômicos: — “Os processos

básicos da dinâmica de crescimento e declínio podem ocorrer independentemente

26
do estado do ciclo dos negócios, embora possam ser acelerados por mudanças

repentinas no clima econômico”. Todo período de crescimento termina e em muitos

casos ele cria os mecanismos para a sua própria destruição. “Quando se trabalha

com o jogo SimCity, após algumas jogadas, pode-se concluir que, se existe uma

moral para esse jogo, ela será que: na administração das cidades, a solução de hoje

se torna o problema de amanhã”.4 Assim como o período de crescimento termina,

a fase de declínio também pode terminar, contudo por motivos diferentes. Kotler

(1994) apresenta uma dinâmica que com poucas variantes, pode também traduzir o

ciclo do crescimento e decadência que ocorre com as cidades brasileiras de médio

e grande porte. No processo dessa dinâmica, as etapas apresentam-se separadas

segundo os períodos de crescimento ou decadência.

Crescimento:

1. Etapa: O crescimento de uma cidade com uma atração inicial, que pode ser

indústrias em expansão, um clima ou beleza natural extraordinária ou

possuir uma história notável.

2. Etapa: Pressupondo-se que haja oportunidades de emprego e que a

qualidade de vida seja sedutora, essa cidade, com certeza, atrairá novos

moradores, visitantes, firmas e investimentos

3. Etapa: A migração interna de pessoas e recursos aumenta o preço da

moradia e dos imóveis e pressiona a infra-estrutura e as verbas existentes

para o serviço social.

4. etapa: A cidade eleva os impostos sobre os moradores e sobre os negócios

para custear a expansão exigida do transporte, da comunicação, da energia

27
e dos recursos sociais ou passa a prestar um serviço aquém do esperado pela

população. Decadência:

5. etapa: Alguns residentes começam a deixar os limites da cidade para reduzir

seus custos ou na procura de uma qualidade de vida melhor, diminuindo

assim a base de impostos.

6. etapa: Uma grande empresa pode falir ou sair de um determinado mercado

devido à má administração, a infra-estrutura comunitária decadente, ao

início de uma recessão geral ou em busca de custos menores em outro lugar.

7. etapa: Os lucros dos negócios e os empregos diminuem. O preço dos

imóveis cai. A infra-estrutura se deteriora.

8. etapa: Esses acontecimentos aceleram a saída dos moradores e das empresas

e ocasionam grande queda nos negócios e em setores como o de turismo.

9. tapa: Os bancos dificultam o crédito, provocando um aumento no número

de falências.

10. etapa: O desemprego intensifica a criminalidade e as necessidades sociais.

11. etapa: A imagem da cidade fica ainda mais maculada.

12. etapa: O governo aumenta os impostos para manter ou melhorar a infra-

estrutura e atender as necessidades sociais.

13. etapa: Os tributos mais altos apenas aceleram a migração de recursos para

fora.

As alterações da base legal

As alterações desordenadas nas regras do zoneamento urbanas têm trazido conflito

para a organização territorial das localidades com fortes repercussões econômicas.

28
Atualmente, um novo problema que vem se agravando é o conflito da disputa

territorial provocado pela invasão de atividades em zonas delimitadas para outras

finalidades. Antes eram as indústrias e as atividades comerciais que invadiam o

território restrito às residências, mas agora o inverso também acontece. Na busca

do lucro fácil produzido pelo parcelamento do solo, os planos diretores e as leis de

zoneamento têm sido alterados, muitas vezes irresponsavelmente, de forma a

permitir que áreas anteriormente reservadas às industrias passem a ser ocupadas por

loteamentos residenciais. Logo após a instalação das moradias, na zona

anteriormente industrial, surge o conflito de vizinhança gerado por questões de

poluição, barulho, movimentação etc, que a descaracterização do zoneamento

promove. Isto traz para as empresas uma pressão social, de imagem ou legal que as

leva a aumentar seus custos para se adaptar as exigências que o novo zoneamento

lhes impõe, diferentes da situação original quando se instalaram. Depois, se esses

custos se mostrarem excessivos de forma a tirar-lhes a competitividade, só restará

para as empresas as possibilidades de reduzirem, ou no extremo, encerrarem ou

transferirem suas atividades para outras localidades que não apresentem o

problema. Corroborando Kotler (1994) em sua formulação da dinâmica da

economia das cidades, quando a insustentabilidade ambiental ou legal atinge

determinado local, tende a fazer com as empresas transfiram as instalações para

outras localidades. Essas mudanças carregam consigo uma grande quantidade dos

moradores mais qualificados profissionalmente, de melhor poder aquisitivo e

deixam atrás de si uma enorme quantidade de galpões vazios e uma legião de

desempregados. Essas perdas, por encadeamento, afetam os fornecedores locais e

29
as atividades do comércio, dos serviços e por fim a arrecadação pública, exatamente

no momento quando ela 25 mais seria necessária, para atender as demandas sociais

geradas por aquela depressão econômica localizada. Às vezes essa depressão se

torna profunda, transformando a localidade numa cidade dormitório, sem

perspectiva, com desemprego crônico, com geração de riqueza e renda

insuficientes, o que provoca a desvalorização patrimonial das propriedades e dos

negócios e que tendem a levá-la a uma crise sócio-econômica de largo espectro.

As causas externas

Os locais também são afetados por forças importantes do ambiente externo que

estão fora de seu controle. Estas afetam o equilíbrio econômico das comunidades e

são provocadas por concorrência regional, nacional e mundial, por rápidas

mudanças tecnológicas ou ainda por mudanças nas políticas públicas. Em certos

casos, a situação econômica da localidade ou região está tão intimamente ligada à

operação de uma indústria ou de um ramo de atividade que fica sujeita aos mesmos

ciclos de altos e baixos dessas empresas. Muitas vezes, o declínio desse setor pode

estar ligado às mudanças na base tecnológica de produção ou no processo de

concorrência, às vezes nos dois, e, quando isso acontece, ele pode ser passageiro ou

definitivo, mas, de um modo ou de outro, a localidade a qual essas empresas estão

vinculadas sofre grande impacto econômico e social .

A cidade de Americana, no Estado de São Paulo, é um bom exemplo dessa

situação, pela forte concentração de indústrias têxteis, médias e pequenas,

instaladas no município. Quando da abertura do mercado à concorrência

internacional, no governo Collor, pela obsolescência de seus equipamentos, suas

30
empresas se mostraram não-capacitadas para enfrentar a concorrência internacional

e amargaram alguns anos de declínio com forte repercussão para a cidade e região.

O investimento em equipamentos mais modernos e uma certa proteção

governamental contra a concorrência predatória, especialmente de alguns países da

Ásia, estão permitindo uma lenta, porém firme recuperação. Num outro caso tem-

se a cidade de Sorocaba, também em São Paulo e também com forte concentração

de indústrias têxteis, aqui, entretanto, em sua maioria de grande porte. Pelo mesmo

fato, essas empresas praticamente sucumbiram na década de 90, remanescendo

apenas algumas 26 poucas e pequenas unidades.

A queda dessa atividade teve forte repercussão principalmente no nível de

emprego, visto que esse ramo industrial, até pela antigüidade de seus equipamentos,

era utilizador intenso de mão-de-obra. O município para se recuperar encontrou

outros caminhos, mas a cidade que teve a maior concentração de grandes empresas

têxteis do país, a ‘Manchester Paulista’ como era chamada, ficou para a história.

Esse segmento industrial não mais tem representatividade na atividade econômica

da cidade. Essas causas externas que afetam a economia local têm, entre outras,

duas representantes significativas: a concorrência globalizada e as mudanças

tecnológicas. A concorrência globalizada No aspecto externo, mas ainda nacional,

existe no cenário de atração de empresas uma verdadeira guerra fiscal e de

incentivos entre os Estados, que são os detentores de parte significativa da política

tributária de produção, e, dentro deles, entre as cidades. Cavalcanti e Prado (1998)

em trabalho para o IPEA, analisando a guerra fiscal citam que: “Desde então

[1993/1994], o tema vem assumindo importância crescente, juntamente com as

31
dimensões inusitadas e freqüentemente alarmantes dos benefícios que, em um

frenético e desordenado processo de disputa, grande parte dos Estados vem

concedendo a grandes empresas para que recebam investimentos em seus

territórios. Ao mesmo tempo em que crescem as críticas e questionamentos que

apontam o caráter extremamente perverso do processo, fica também evidente a

dificuldade em lograr uma solução imediata, politicamente viável, para eliminar ou

reduzir seus impactos negativos. (...) A elaboração de programas voltados para

atração de investimentos é uma pratica permanente na maior parte dos estados

brasileiros desde os anos 50, e, mais recentemente, também dos grandes municípios.

(...) A guerra fiscal, portanto, é um estado peculiar de acirramento do caráter

competitivo dessas políticas” (Cavalcanti e Prado, 1998: 5). Tratando da guerra

fiscal, Souza e Bacic (1998) observam que os programas de incentivos com objetivo

de ampliar as vantagens para atração de novas plantas industriais, reduzindo o custo

de implantação e operação dessas empresas na localidade, têm evidenciado o

reduzido poder de barganha dos governos locais, seja pelo peso das empresas

globais em relação ao que 27 elas podem traduzir: geração de riquezas, empregos

tributos etc, seja pela baixa capacidade de negociação, não valorizam as vantagens

sistêmicas e estruturais que a localidade dispõe, e que vem tornando a atração de

investimentos um fim em si mesma sem qualquer análise rigorosa da relação

custo/benefício para a comunidade. Ressaltam ainda que: — “a prática vem

mostrando que muitas vezes os governos sequer podem honrar as promessas com

que pretendem atrair investimentos para suas localidades. Em decorrência, gera-se

um processo de intensa disputa e rivalidade entre localidades que em longo prazo

32
pode ter um efeito perverso para as finanças públicas na medida em que se

aproxima, nos mecanismos e nos efeitos, da competição em preços entre empresas.

Uma localidade pode atrair novos investimentos sem que os resultados representem,

de fato, vantagens do mesmo porte para a comunidade, caracterizando uma situação

de assimetrias a favor das empresas entrantes” (Souza e Bacic,1998).

Como a “guerra” de incentivos fiscais e materiais generalizou-se, tornou-

se praticamente impossível utilizá-los como forma única de atração e de

manutenção de investimentos, mas associados a outros elementos, têm sido fator

relevante na transferência de grandes unidades industriais de um local para outro.

Mas, se de um lado esse processo de transferência premia a nova localidade, de

outro, deixa na localidade de origem galpões vazios, muito desemprego e

dependendo da importância, afetando toda cadeia econômica da localidade onde a

empresa anteriormente estava instalada. Para complicar ainda mais, alguns

governos estaduais não participam dessa guerra de incentivos fiscais e materiais,

dificultando sobremaneira, para as cidades localizadas nessas regiões, conquistar

ou manter os investimentos em seus territórios. recentemente tornou-se mais

universal. Mas não é só isso. Se no passado a concorrência era basicamente local e

regional, dado o estado precário dos transportes e das comunicações, atualmente,

como conseqüência da combinação das melhorias desses fatores e da

desregulamentação das finanças globais, mesmo nos locais menores e mais

remotos, a concorrência se tornou global e um fator predominante na vida de

qualquer comunidade. É o surgimento de uma economia mundial e suas

conseqüências para a economia e a qualidade de vida local. “Na nossa nova

33
economia mundial, todas as localidades precisam concorrer com outras para obter

vantagens econômicas” (Kotler, 1994:11). 28 Muitas cidades concorrem entre si em

projetos para atrair novos investimentos e, logicamente, cada vez que ocorre

transferência de alguma companhia, de um local para outro, significa que o local de

origem perdeu capital investido, perdeu empregos, perdeu receita tributária. As

localidades agora precisam, constantemente, ser “vendidas” para manter ou atrair

investimentos. Elas precisam se valorizar, promover as vantagens e potencialidades

que possuem sobre outras localidades concorrentes. Seus bens, serviços e produtos

precisam de promovidos e vendidos e ela se valorizar como um local com

qualidades. Mesmo as localidades com grandes potencialidades e vantagens correm

o risco de se estagnar ou caminhar para o declínio econômico se não souberem se

promover e aprofundar suas bases de competitividade. A complexidade aumentou

e se antigamente já havia forte preocupação com os ciclos dos negócios, hoje se

soma à pressão das concorrências global, nacional ou regional. Para enfrentar essa

situação, assim como os países, os estados, as regiões e cidades, precisam

estabelecer boas estratégias e executá-las com êxito, se quiserem alcançar o

desenvolvimento.

A concorrência que afeta as localidades pode estar próxima delas ou em

qualquer outro lugar do globo. Isso significa que, mesmo objetivando um mercado

para produtos, regional ou nacional, uma empresa poderá se deparar com uma

concorrência global no seu próprio mercado. Então, já que a concorrência

globalizada é certa, ela deve se preparar para o mercado globalizado, pensando em

exportação como ampliação de seu mercado ou no mínimo para defender o seu

34
“próprio” território comercial. Em vista disso tudo, as localidades precisam

estimular suas empresas a se envolverem com o processo de exportação, não só

como desenvolvimento, mas também como meio de proteção para os negócios

dessas empresas e das próprias comunidades onde elas estão instaladas.

As mudanças tecnológicas

A revolução tecnológica, em seus vários níveis, tem provocado forte

impacto nas localidades. Seus avanços desencadeiam as mudanças mais potentes

nas formas de aprender, trabalhar e se comunicar, enfim, na vida das pessoas e,

como conseqüência, nas cidades onde elas estão instaladas. 29 A automação e as

novas tecnologias associadas aos novos modelos gerenciais têm provocado uma

grande reestruturação no processo produtivo, gerando aumento da produtividade, e,

conseqüentemente, redução do volume de empregos. A mão-de-obra dispensada

nesse processo, principalmente a menos qualificada, tem tido grande dificuldade de

recolocação, visto que, o que ocorre é a eliminação de vagas. Os novos postos de

trabalho gerados por essa nova tecnologia, além de serem em menor volume do que

a dispensada, necessitam de um tipo de formação ou requalificação especial. Nessa

nova era econômica, os grandes empreendimentos têm se caracterizado muito mais

por processos de fusões e incorporações do que de novos investimentos. Os grandes

investimentos ainda ocorrem, mas numa escala muito menor do que no passado,

entretanto, houve um enorme crescimento de novos negócios calcados nas médias

e pequenas empresas e nas atividades individuais dos autônomos. Os pequenos

negócios têm apresentado maiores possibilidades de gerar mais empregos do que

aqueles que as empresas maiores estão perdendo. O emprego, em si, também está

35
sendo afetado pelas novas tecnologias, pelos novos mecanismos de gestão e pela

grande mobilidade dos negócios, sofrendo uma rotatividade e uma instabilidade

maior e perdendo espaço para outras formas de realização do trabalho. As mudanças

tecnológicas, as alterações nos processos gerenciais das organizações e a

globalização formam um conjunto que indica que estamos vivendo uma nova era

econômica. Esse novo mundo dos negócios é causa e conseqüência de uma nova

economia. Segundo Kotler (1994), os locais onde as indústrias e as firmas operam

segundo os conceitos da era antiga estão caminhando para o declínio. Aqueles

locais cujos produtos e serviços não utilizam as possibilidades oferecidas pelas

novas tecnologias acabam sofrendo o efeito competitivo de outras localidades que

fazem uso dos conceitos, produtos e serviços mais avançados. Isso se reflete até nas

pequenas localidades de base agropecuária ou de pequenas indústrias de

transformação. O quadro abaixo, adaptado de Kotler (1994), confronta as principais

características entre a antiga e essa nova era econômica.

A concorrência globalizada

No aspecto externo, mas ainda nacional, existe no cenário de atração de empresas

uma verdadeira guerra fiscal e de incentivos entre os Estados, que são os detentores

de parte significativa da política tributária de produção, e, dentro deles, entre as

cidades.

Desenvolvimento local e a ação pública

A ocorrência do desenvolvimento local é dependente de uma complexa

inter-relação de fatores. A administração pública tem papel importante na promoção

do desenvolvimento, por dispor de ferramentas, por exemplo, como de: agregação

36
da comunidade interessada, de ordenamento de ações públicas, imposição legal e

outras que nenhum outro agente possui. Por outro lado, uma série de interferências

pode impedir que as ações que deveriam ser emanadas do poder público ocorram,

ou pior, que sigam um caminho que não leve ao desenvolvimento. Neste capítulo

serão abordados alguns desses fatores de interferências e as formas de promover e

esboçar a organização dos primeiros elementos que conduzam a localidade ao

desenvolvimento.

Os fatores políticos locais

Uma infra-estrutura apropriada, uma boa qualidade de vida que a localidade ofereça

à população e a existência de uma interlocução adequada na área pública para o

atendimento empresarial tem-se mostrado muito mais importante, como forma de

manutenção ou atração de novos investimentos, do que a existência de possíveis

incentivos fiscais e materiais que as localidades possam oferecer. O fomento, o

ordenamento, a facilitação e o controle para que ocorra o desenvolvimento da

cidade de forma sustentada, deveriam ser a posição primordial dos governos locais,

no atendimento ao desenvolvimento econômico.

A falta de credibilidade

Dentre os vários fatores, a falta de credibilidade provocada pelas ações ou

inações do poder público local é muitas vezes vista pelos empreendedores como um

forte elemento de risco aos seus investimentos que pode marcar imagem da

localidade.

37
 Assumir compromissos para atração e manutenção de empresas na

cidade e não cumpri-los.

 Desequilíbrio financeiro das contas municipais que provoquem

atraso nos pagamentos de todos os tipos, passando por fornecedores,

empreiteiros e até aos funcionários, repercutindo na qualidade dos

serviços públicos prestados.

 As alterações das condições de postura e zoneamento urbano,

previamente estabelecidas, que venham prejudicar os investimentos

já efetuados.

Necessidade do planejamento economico

Nada mais pleonástico para os estudiosos da Administração PÚblica do que

demonstrar a necessidade ou utilidade do planejamento econômico. A ciência

administrativa somente atingiu a maturidade nos tempos modernos em que a

intervenção quase uni presente do Estado é um datllm sociológico indisputável. E

o planejamento é por assim dizer apenas um método racional de expressar a volição

coletiva, dada a impersonalidade da ação estatal, a substituição periódica dos

encarregados do comando e a necessidade de traduzir para uso coletivo as intenções

dos dirigentes. Para os economistas, entretanto, a necessidade do planejamento

econômico é muito menos óbvia. Haja vista a famosa controvérsia entre a Escola

Austríaca, com HAYEK e VON MISES à frente, e tôda a escola socialista, a

primeira negando, e a segunda afirmando, a possibilidade de um sistema econômico

racional, mesmo quando anulada, pelo planejamento e pela intervenção estatal, a

formação livre de preços no mercado c o contingenciamento dos fatôres de

38
produção através do mecanismo dos preços. As raZões são fàcilmente

compreensíveis. A ciência econômica, pelo menos no seu ramo mais avançado que

é indiscutivelmente o anglo-saxônico, atingiu a pubecda de científica com ADAM

SMITH e a maioridade com RICARDO. A influência smithiana é de sobejo

conhecida exercendo-se não s6 na Inglaterra mas também no Continente europeu.

De RICARDO bastareferir o dito de KEYNES, segund0 o qual havia RICARDO

dominado o pensamento econômico britânico tão completamente quanto a

Inquisição conquistara a Espanha. Assim em seus anos formativos. a ciência

econômica se imbuiu profundamente de duas premissas imo plícitas na doutrina

econômica clássica: a premissa do p"ovidencialismo (ou da harmonia

preestabelecida, conforme preferem dizer os agnósticos), segundo a qual as ações

econômicas dos indivíduos, ao promoverem sua prosperidade, convergem para uma

distribuição social ótima dos recursos e fatôres; e a premissa do autOmatismO do

mercado, segundo a qual fôrças imanentes tendem a corrigir sempre os

desequilíbrios econômicos resultantes da incoerência das decisões individuais das

unidades econômicas no mercado. À parte complicações incômodas criadas por

distorções monopolísticas, a maximização do bemestar coletivo poderia e deveria

ser deixada a cargo da livre iniciativa individual, sendo perigoso e imprudente para

o Estado interferir com o livre jôgo das fôrças no mercado.

Planejamento do desenvolvimento económico

Velocidade de desenvolvimento

Nunca é demasiado frisar que o desenvolvimento econômico é

essenClalmente um processo cumulativo, uma espécie de reação em cadeia. Um

39
investimento numa indústria básica, como por exemplo, a indústria pesada de aço,

provoca investimentos colaterais nas indústrias químicas à base de alcatrão de co

que, nas indústrias de cimento à base de escória, nas indústrias mecânicas etc. Para

que os benefícios do processo cumulativo sejam plenamente utilizados é preciso,

entretanto, uma determinada velocidade de desenvolvi· mento e, em particular, que

o crescimento da renda exceda o ritmo do crescimento da população por uma

margem suficiente para apressar a acumulação de capital (10).

Dada a escassez de recursos internos, características dos países

subdesenvolvidos, de um lado, e o parco volume da migração internacional de

capitais, de outro, o desenvolvimento econômico espontâneo tende a ser, em nossos

dias, demasiado lento. Unicamente através do planejamento se poderia lograr uma

disciplina de distribuição de fatôres capaz de evitar duplicação competitiva de

facilidades, desperdício de recursos, promover a intensificação dos "investimentos-

chave" que permitam ritmo mais rápido de capitalização, e, finalmente, distribuir

as tarefas proporcionais entre os setores público e privado.

Não há ainda, infelizmente, uma massa acumulada de experiência que

permita julgar até que ponto o planejamento governamental tem efetivamente

contribuído para apressar o ritmo do desenvolvimento econômico. A única

experiência em larga escala é a soviética. Se medido o desenvolvimento econômico

de maneira algo simplista, em têrmos de decréscimo de percentagem de população

ocupada em tarefas outras que a agricultura, em rcIação à população total, verifica-

se que palses como os Estados Unidos, a Suécia e a Dinamarca lograram num

período de aproximadamente 40 a 50 anos expandir êsse número de 70 para 50%

40
do total empregado; a expansão das indústrias manufatureiras e serviços permitiu,

assim, não apenas absorver a mão-de-obra liberada pelos melhoramentos

tecnológicos na agricultura, mas ainda absorver o incremento de população. Na

Rússia uma evolução comparável foi realizada, dentro de uma economia

planificada, num período de apenas 10 anos, por isso que a proporção de mão-de-

obra empregada na agricultura decresceu de &0% da população total, em 1928, para

58% em 1938 (11).

Escopo do planejamento economico

o primeiro fator determinante do escopo e âmbito do planejamento é

indisputàvelmente a estrutura das instituições estatais, agudamente complicada em

nossos dias por diferenças ideológicas. A compreensão do planejamento econômico

tem variado, em escala decrescente, do socialismo marxista para o socialismo

moderado e, finalmente, para os regimes de economia capitalista. No caso

específico dos países subdesenvolvidos, único que aqui nos interessa, as

experiências de planejamento até hoje verificadas, em escala apreciável, têm

ocorrido ou em países de economia marxista, como a Polônia e as Repúblicas

subdesenvolvidas da União Soviética, ou em países de feição predominantemente

capitalista, como a Jndia, o Chile ou o Brasil.

O planejamento efetuado nos países que, à falta de melhor nome,

poderíamos denominar de "s,ocialistas moderados", aplicou- -se sobretudo a

economias maduras como as da Grã-Bretanha ou Noruega, ou a economias em

avançado estado de desenvolvimento, como as da Nova Zelândia e Austrália. São

41
óbvias as razões institucionais pelas quais o planejamenro socialista abarca de

ordinário uma área mais ampla que a do planejamento capitalista.

No primeiro caso, o Estado detém o contrôle dos meios de produção e é o

principal, senão O único "entrepreneus"; a esfera d.e iniciativa privada é usualmente

confinada à pequena indústria e ao campesinato agricola.

Alguns principios e problemas do planejamento economico

Nas considerações que seguem afloraremos alguns dos problemas que

parece repontarem amiúde na experiência dos países subdesenvolvidos.

A. O PONTO DE PARTIDA

Muito freqüentemente o esfôrço inicial de planejamento nesses países se expressa,

conforme observou o Professor HANS SINGER, num levantamento das

necessidades de investimento dos diversos setores. Não raro o processo seguido é a

simples soma dos planos individuais dos departamentos governamentais. Quando

subseqüentemente se procede a um levantamento dos recursos monetários (fiscais,

cambiais ou creditícios) e físicos (mão-de-obra, ma· térias-primas, etc.), o resultado

melancólico usual é um grande defiát dos recursos em relação às necessidades. Essa

inadequação dos meios aos fins pode levar a três resultados igualmente

indesejáveis:

1) - redução mecânica dos planos individuais, sacrificando-se não raro o

equilíbrio do conjunto ou fixando-se escalas subeconômicas de produção;

2) - quando se tenta de qualquer forma a execução total do plano, sobrevém

a inflação, perturbando o cômputo de custos e benefícios e afetando

desfavoràvelmente a balança de pagamento;

42
3) - a exaustão dos recursos pode levar à paralisação a meio caminho das

obras encetadas, desenvolvimento

B. O CRITERIO DA PRODUTIVIDADE

A melhoria da produtividade é, a rigor, a essência mesma do

desenvolvimento econômico. O exame comparativo da contribuição dos

diversos projetos para o ato básico na seleção dos projetos prioritários.

Infelizmente, a aplicação prática do critério é mais difícil do que parece. Há

em primeiro lugar a distinção entre produtividade direta e indireta; em

segundo lugar, entre produtividade a curto prazo e a longo prazo. Ao

classificar prioritàriamente os diversos projetos, precisa o planificador

balancear cuidadosamente êsses aspectos. A grande maioria dos

investimentos básicos, particularmente os denominados "s0- cial overhead",

a saber, os investimentos em educação, saúde, assistência social, etc. são

apenas indiretamente produtivos. O mesmo se pode dizer de alguns tipos de

"economic overhed". Nem por isso são êles menos importantes, por isso que

usualmente indispensáveis para que possam ser executados outros projetos.

Em muitos casos, é difícil para o planejador evitar a tentação de economizar

investimentos básicos em benefício de investimentos cujos resultados

diretos sejam tangíveis. Isso pode, entretanto, retardar o ritmo do

desenvolvimento econômico. Acresce que é precisamente no que tange aos

investimentos de produtividade indireta que são maiores as

responsabilidades do financiamento público, dada a pouca atração que

exercem sôbre privado.

43
Questão correlata é a dos investimentos a curto prazo versus

investimento a longo prazo. Nos primeiros a produtividade se traduz em

benefícios imediatos; com os segundos logra-se, ordinàriamente, um

incremento maior de produtividade, o qual, porém, somente se manifesta

após um determinado compasso de espera. Em geral, dada a escassez

crônica de recursos, é preferível que os países subdesenvolvidos se

concentrem i"icialmente nos investimentos mais baratos, a curto ou médio

praz'J, cujos frutos possam ser colhidos prontamente e que gerem recursos

para ulterior acumulação. Isso evitaria, outrossim, a mania de grandiosidade

freqüentemente presente nos planos de desenvolyimento econômico.

C. CONCENTRAÇÃO VERSUS DISPERSÃO REGIONAL

Temos aqui um problema em que o economista tem que ceder o palco ao

administrador e aO político. O economista poderia, a rigor, dar ao problema

uma solução relativamente simples. Infelizmente. essa solução é quase sempre

politicamente inaceitável. Partindo de duas premissas básicas - ( a ) que os

recursos financeiros são escassos na maioria dos países subdesenvolvidos e -

(b) que em todos ou quase todos os países subdesenvolvidos há cectas áreas que

já atingiram um certo nível de desenvolvimento e já estão providas de alguns

serviço~ básicos (instalações hidrelétricas, portos, ferrovias, etc.) - o

economista recomendaria, prontamente, a concentração do maior volume

possível de recursos nestas últimas áreas. A probabilidade é de que os

investimentos ali feitos seriam mais baratos e imediatamente produtivos. Nessas

condições, um volume dado de investimento poderia presumivelmente resultar

44
num aumento mais rápido da renda nacional do que se os investimentos fôssem

feitos em áreas mais primitivas, gerando-se dessarte recursos maiores que

poderiam, em estágios subseqüentes, ser aplicados para ataque em larga escala

ao problema do desenvolvimento econômico global. Jj preciso não esquecer

que, a fim do desenvolvimento econômico se tornar cumulativo e automático,

são necessários investimentos maciços, os quais dificilmente ocorrerão se os

recurso.

sos disponíveis tiverem que ser dispersados por tôdas as regiões de um país

subdesenvolvido. Se abandonarmos, entretanto, o ponto de vista estritamente

econômico, a solução é muito menos simples. Há, de um lado, o fato de que na

maioria dos países subdesenvolvidos os programas de desenvolvimento têm de

refletir forçosamente a preocupação de fomentar a integração política do país,

trazendo à comunhão ecQ.. nômica as áreas menos desenvolvidas. Há, de outro

lado, o aspecto social e humano; seria difícil fazer compreender às regiões ou

estados menos desenvolvidos, a necessidade de concentrar maciçamente os

recursos precisamente nas regiões mais evoluídas, na esperança de que êsses

recursos se multipliquem mais ràpidamcnte para permitir ditribuição mais

abundante no futuro. O postulado de que, para serem mais econômicos e

imediatamente produtivos, os programas de desenvolvimen~o econômico

devem começar exatamente pelas áreas mais desenvolvidas, não pode deixar de

ser considerado pelos habitantes das regiões mais retardadas como um cruel

paradoxo. :Esses diversos fatôres têm com· pelido vários países

subdesenvolvidos, não excluído o Brasil} a uma f ragmentação excessiva de

45
recursos, com o resultado de que o critério de investimentos, segundo a maior

produtividade é freqüentemente deslocado pela necessidade de atender às

injunções políticas e sociais.

D. A TEORIA DOS "PONTOS DE GERMINAÇÃO

Uma controvérsia que sói repontar quando da formulação de programas de

desenvolvimento econômico é aquela entre os partidários do "desenvolvimento

integrado" e os que favorecem a seleção de "pontos de crescimento". :Esses

últimos asseveram que, levando em conta não sàmente a falta de recursoS

financeiros mas também a carência de informação técnica e estatística nos

países subdesenvolvidos} o planejamento dever-se-ia concentrar

exclusivamente nos "pontos de crescimento" como transporte, energia e

indústrias básicas. Para êsse tipo de investimentos se deveriam orienta.

E. A COORDENAÇÃO ENTRE OS SETORES PúBLICO E PRIVADO

Um dos problemas mais senos no planejamento dos países subdesenvolvidos,

de estrutura não socializada, deriva da dificuldade de assegurar a realização dos

programas de desenvolvimento pelo setor privado. Presume-se que nesse tipo de

economia não seja facultado ao Govêrno impor estatutàriamente a execução dos

planos. Restalhe o recurso de utilizar incentivos e desestímulos, mediante os quais

os recursos materiais financeiros e humanos podem ser orientados para Os setores

prioritários ou desviados de empregos menos essenciais. Além de incentivos e

desestímulos, a intervenção governamental no setor privado pode também ser

acompanhada de sanções formais, cujas principais modalidades são o

46
licenciamento, o sistema de cotas e os contratos específicos que vinculam as

emprêsas privadas à realização de programas de desenvolvimento.

F. BALANÇO DE CUSTOS E BENEFICIOS

O balanço de custos e benefícios é um indispensável passo no planejamento

econômico, devendo ser efetuado para cada um dos projetos individuais,

excetuados apenas aquêles cuja produtividade é por tal forma indireta que não seja

possível uma avaliação wÍicientemente concreta do vulto d')s be!;efícios. O cálculo

de custos e benefícios é necessário por três razões:

1) para verificação da rentabilidade financeira ou utilidade social do projeto;

2) para permitir a fixação da escala ótima de produção em cada projeto

individual, escala essa definida como sendo a que maximiza o excedente dos

benefícios sôbre os custos;

3) para permitir uma comparação entre a estrutura de custos e benefícios dos

diversos projetos, com o fito de se selecionar, entre as diversas alternativas, aquela

que aumenta os benefícios.

O pf(.'Cê~SO seguido nas análises de custo envolve, em geral, além da

distinção entre custos primários O diretos, e custos secundárIOS, ou indiretos, a

discriminação de

(a) custo de capital;

(b) cc n servaçãú e depreciação;

( c ) custes de operação;

(d) encargos e financeiros.

47
A análise dos benefícios compreende a determinação da rentabilidade direta do

projeto, bem como da sua rentabilidade indireta ou social. O primeiro tipo de

cômputo abrange primordialmente a mensuração dos benefícios prirrários, a saber,

o valor dos produtos ou serviços imediatamente originários de um projeto. Os

benefícios secundários, rr,enos suscet:veis de mensuração, são representados pelas

repercussões favoráveis do projeto em outros setores de economia. Feita a avaliação

em têrmos monetários, obtém-se a rehção entre custos e benefícios. De posse desta

última é fácil classificar prioritàriamente os diversos projetos.

G. ALGUNS VICIOS DO PLANEJAMENTO ECONOMICO

Não seria inoportuno lembrar aqui alguns dos vícios do planejamento, assaz

freqüentes na experiência dos países subdesenvolvidos. O primeiro consiste na

superestimação do capital real em relação ao capital incorpóreo ou intangível.

O desenvolvimento econômico repousa sôbre um suprimento invisível de

tecnologia, experiência administrativa, lastro cultural, etc. O professor SINGER usa

a imagem do "iceberg" para exemplificar que a parte submersa e invisível do

desenvolvimento econômico supera, de muito, em dimensões, o capital corpóreo ou

visível sob a forma de máquinas e instalações. E freqüente nos países

subdesenvolvidos negligenciarem-se investimentos em educação, pesquisa e

formação tecnológica, em benefício de capital tangível, o qual, subseqüentemente,

não pode ser eficazmente utilizado precisamente pela carência de desenvolvimento

educacional e tecnológico.

O segundo, contra o qual tem consistemente advertido o Professor PREBISCH,

é a mecanização prematura. O prestígio de produtjvidade mecânica dos países mais

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desenvolvidos leva os países subdesenvolvidos, não raro. à importação de

equipamentos economizadores de mão-de-obra, e exigindo vultosos recursos de

capital, quando o fator mais escasso nos países subdesenvolvidos não é mão-de- -

obra senão precisamente o capital. Para êsses países, portanto, uma melhoria de

produtividade através de equipamentos relativamente baratos, ainda que de menor

ficiência mecânica é mais importante do que o aumento de produtividade através

de equipamentos de alta densidade de capital e destinados à poupança de mão-de-

obra.

Dificuldades do planejamento econômico

A - ESCASSEZ DE TÉCNICOS

A escassez de técnicos constitui sério obstáculo à formulação de programas

de desenvolvimento econômico, ao mesmo tempo que a escassez de experiência

administrativa dificulta a transformação dos planos em realidade. O problema é

agravado pelo fato de que, ao passo que os conhecimentos tecnológicos no terreno

da engenharia e mecânica podem ser importados, o planejamento econômico geral

pressupõe técnicas administrativas e economlcas que não podem ser fàcilmente

transplantadas. É factível e diária a importação de patentes e métodos tecnológicos,

que independem de fatôres institucionais. As técnicas prevalecentes nas ciências

sociais, entretanto, imbuídas como são de um certo coeficiente institucional, não

têm a mesma facilidade de transplantação, conquanto seja de· sejável e útil o

intercâmbio internacional de experiência e conhecimentos (23). São de suma

importância, neste sentido, os programas de treinamento em Administração Pública

e em técnicas de planejamento, recentemente desenvolvidos pelas Nações Unidas e

49
suas Comissões Regionais e Agências especializadas. As deficiências de

organização administrativa, aliadas à escassez de estatísticos e economistas,

redundam ordinàriamente na falta de alguns elementos básicos de planejamento

como estatísticas de renda nacional, da balança de pagamento e índices de preços,

que tornam o planejamento global impossível.

B - A CAPRICHOSA MARGEM INTERNACIONAL

Subdesenvolvimento é sinônimo de carência de capital. Nestas condições,

o aceleramento do ritmo de desenvolvimento exige, quase sempre, uma

suplementação de capital doméstico por capital importado. Mesmo quando o

desenvolvimento econômico é financiado por recursos financeiros internos, há

necessidade de importação de maquinaria e equipamento, o que torna o

desenvolvimento econômico dependente da posição cambial, das relações d~ troca

e de tôda uma gama de influências internacionais. Isto introduz enorme grau de

incerteza no planejamento. Singularizaremos, para análise, os dois fatôres que nos

parecem mais relevantes, a saber: o influxo de capital e a evolução das relações de

troca, que constituem a "caprichosa margem internacional" .

C- O PERIGO DA INFLAÇÃO

Nenhuma das dificuldades com que defrontam os planejadores supera a da inflação.

O desenvolvimento econômico se assemelha a uma navegação perigosa entreScila

e Charibdes. Se se adota uma atitude demasiada cautel.osa para evitar .o Charibdes

da inflaçã.o, .o resultad.o mais provável é que .o barco se ch.ocará contra o Scila da

estagnação. Uma certa d.ose de pressã.o inflacionária é inevitável na execuçã.o de

qualquer plan.o de desenv.olviment.o, quase ex defini/iOrte, por iss.o que as

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necessidades de desenv.olviment.o excedem normalmente .os recursos para isso

disponíveis. O problema nã.o é portanto evitar a pressão inflacionária mas impedir

que ela se transf.orme em inflaçã.o aberta, e, na medida d.o p.ossível, que se evite

também a inflação reprimida. As razões por que a execução dos planos de

desenvolviment.o das nações subdesenv.olvidas tem se revelado particularmente

vulnerável à inflaçã.o sã.o as seguintes:

a) caráter parcial dos plan.os e freqüente falta de c.oordenação entre os plan.os

públic.os e privados, com resultante incompatibilidade entre o total dos recursos

financeiros e materiais e as iniciativas planejadas;

b) insuficiência d.o auxílio financeiro externo para .os países subdesenvolvidos, .o

que .os coloca na alternativa de .ou retardar .o ritm.o de desenvolvimento .ou tentar

apressar o ritmo de formação de capital por processos inflacionários, dadü o parco

volume da poupança voluntária interna;

c) baixa elasticidade de suprimento nas economias primárias; assim, uma expansão

da procura monetária somente lentamente provoca uma reação correspondente da

produção, a.o pass.o que nos países industrializados é freqüentemente a deficiência

da procura monetária que impede a plena utilização do aparelho produtivo.

A TRANSIÇÃO DO PLANEJAMENTO PARA A ADMINISTRAÇÃO

A execução dos planos de desenvolvimento econômico encerra dificuldades

intrínsecas mesmo pressupondo-se adequado suprimento de planejadores e

administradores. O primeiro problema que se apresenta é o de saber se as atividades

de planejamento devem ou n:io ser separadas das atividades executivas. Nos países

em que o trabalho de planejamento tem sido diviciado do trabalho de execução

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administrativa tem-se verificado conseélüências assaz desfavoráveis, amortecendo-

se o realismo, por parte dos órgãos phnejadores, e a fidelidade de execução, por

parte dos órgãos.

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