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ECONOMIA

PÚBLICA
ANO LECTIVO: 2015
DISCIPLINA CURRICULAR DO CURSO SUPERIOR DE
ECONOMIA DO CIS
4.º ANO – 2.º SEMESTRE
OBJECTIVOS, METODOLOGIA E
PROGRAMA
Objectivos
◦ A cadeira de Economia Pública tem como objectivo geral o aprofundamento
dos conhecimentos sobre a intervenção do Estado na economia numa
perspectiva predominantemente microeconómica.
◦ Os objectivos específicos da cadeira são:
◦ Analisar os argumentos justificativos para a intervenção do Estado na
Economia.
◦ Apresentar e discutir a importância das externalidades e dos bens públicos.
◦ Analisar os diferentes modelos de organização e financiamento do Estado e
as consequências para os agentes privados.
◦ Explicar a importância das políticas orçamentais

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OBJECTIVOS, METODOLOGIA E
PROGRAMA
Metodologia
◦ O regime de aulas é presencial, excepto disposições regulamentares
contrárias.
◦ As aulas teorias são feitas na base de seminários com exposição auxiliada
por projecção de slides em “power point”.
◦ As aulas práticas serão desenvolvidas numa base interactiva, em sala de
aula, com resolução de casos hipotéticos.
◦ A avaliação realizar-se-á de acordo com as regras definidas no Regulamento
de Ensino, Frequência e Avaliação de Conhecimentos do Instituto de
Ciências Sociais e Relações Internacionais.

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OBJECTIVOS, METODOLOGIA E
PROGRAMA
◦ Neste sentido, será tida em conta a avaliação contínua, nomeadamente a
assiduidade, a participação, bem como as frequências obrigatórias e os
exames finais.
◦ A avaliação contínua consiste em aulas teóricas e práticas, isto é, participação
dos estudantes nas sessões de aulas ministrada pelo professor, apresentação
dos trabalhos teóricos (debate) e realização das frequências e exames.
◦ Também concorre para a avaliação final do estudante o factor assiduidade às
aulas.
◦ Os métodos de avaliação são destinados a responder aos resultados esperados,
e assentam em apresentações individuais que proporcionam aos estudantes a
oportunidade de desenvolver técnicas e capacidade oratória, a produção de
trabalhos escritos que proporcionam ao estudante a capacidade de dominar as
ferramentas de investigação científica e concorrem para a elaboração de
trabalhos aceitáveis do ponto de vista académico.
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OBJECTIVOS, METODOLOGIA E
PROGRAMA
Nota Importante!

Para obterem resultados positivos os estudantes deverão ter em conta a sua


presença nas aulas teóricas (seminários) e nas aulas práticas (debates), as
intervenções pertinentes, claras e concisas durante os seminários e debates, a
realização de trabalhos escritos, individuais ou em grupos e o resultado da
prova de frequência.

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OBJECTIVOS, METODOLOGIA E
PROGRAMA
Programa:
◦ Introdução – Conceitos Fundamentais
◦ Objectivo da Economia Pública e Diferenciação das Finanças Públicas
◦ Análise Normativa e Positiva
◦ Equidade, Eficiência e Liberdade
◦ As Funções do Sector Público
◦ Actuação do Estado na Economia
◦ Coordenação e Conflito de Funções
◦ A Teoria dos Bens Públicos
◦ Os Bens Públicos e a falha do sistema de mercado
◦ Externalidades Positivas e Negativas
◦ Solução não-intervencionista: O modelo de Coase
◦ Solução de Intervenção estatal
◦ A Equidade e Correcção de Externalidades
◦ Bens de mérito

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OBJECTIVOS, METODOLOGIA E
PROGRAMA
◦ Análise Económica da Tributação
◦ Base Formal e Estrutura Tributária
◦ Receitas Patrimoniais: Taxas e Impostos
◦ Tipos de Impostos e Proporções
◦ Eficiência e Tributação
◦ Equidade Horizontal e Vertical
◦ Cumprimento e Evasão Fiscal
◦ Escolhas Colectivas Democráticas e Interesse Público
◦ Grupos de Interesse e Grupos de Pressão
◦ Escolhas Democráticas e Interesse Público
◦ Escolhas Democráticas, Deliberação e Interesse Público
◦ Desigualdade, Pobreza e Bem-Estar Social
◦ Índice de Gini
◦ Instrumentos e Recursos da Economia Pública

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INTRODUÇÃO
A regulamentação da actividade económica, em conjunto com as finanças
públicas, está entre os instrumentos de que o Estado se serve para
satisfazer as necessidades colectivas, sempre que o funcionamento dos
mercados – assentes na livre concorrência – sejam incapazes de, por si
só, promover o suprimento dos bens susceptíveis de as satisfazer, nas
quantidades e qualidade adequadas.
Segundo Musgrave (1959) existem três funções fundamentais do Estado:
1ª) Função de afectação – que visa a eficiente afectação dos recursos
económicos;
2ª) Função de redistribuição – voltada para a redistribuição do
rendimento entre os diferentes membros da comunidade;
3ª) Função de estabilização – que pretende o alcance e manutenção dos
equilíbrios macroeconómicos fundamentais.
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INTRODUÇÃO
A política orçamental, que consiste basicamente na cobrança de
receitas e realização de despesas pelo Estado, é um dos
instrumentos para a prossecução deste conjunto de objectivos.
Há, entretanto, outros mecanismos de intervenção estatal, directos e
indirectos, que podem servir esse desígnio, mas que se colocam fora
do domínio das finanças públicas:
◦ A política monetária, ao agir sobre a quantidade de moeda em circulação e
sobre as taxas de juro, dirige-se fundamentalmente à estabilização
macroeconómica.
◦ A acção legislativa costuma servir para delimitar o âmbito, os meios e os
processos económicos permitidos pela sociedade e, por esta via, actuar
sobre a afectação dos recursos produtivos e a distribuição do rendimento
nacional.
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INTRODUÇÃO
Objectivo da Economia Pública e Diferenciação das Finanças Públicas
◦ A economia pública ocupa-se do sector produtor de bens públicos e é frequentemente
considerado um ramo da economia cujo objecto é o fornecimento de bens
colectivos gratuitos cujos custos são financiados através de impostos.
◦ De forma mais geral, integra também a produção de bens de mercado por empresas públicas, estuda as
políticas que um Estado deve conduzir para promover o desenvolvimento económico e o bem-
estar da população e ainda os problemas de desigualdade social e redistribuição da riqueza.
◦ Finanças Públicas é o ramo da economia que lida com os gastos e receitas das entidades
do setor público, geralmente o Governo.
◦ Aborda questões como incidência fiscal (quem realmente paga um imposto), análise custo-benefício de
programas do Governo, efeitos na eficiência económica e distribuição de renda de diferentes tipos de
gastos e políticas fiscais. Essa última, um aspecto da teoria da escolha pública, modela o
comportamento do sector público de forma análoga à microeconomia, envolvendo interacções de eleitores,
políticos e burocratas interessados em si mesmos.

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INTRODUÇÃO
A base metodológica para a distinção entre a análise
normativa e a análise positiva tem as suas raízes
na distinção filosófica entre facto e valor sendo os principais
proponentes dessa distinção David Hume e G. E. Moore.
◦ A base lógica para tal relação ser considerada uma dicotomia tem sido
debatida na literatura filosófica.
◦ Tais debates reflectem-se nas discussões sobre ciência positiva e
especificamente em economia, onde críticos, como Gunnar
Myrdal, McCloskey, e Arida, discutem a ideia de que a economia pode ser
completamente neutra e livre de ideologias.

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INTRODUÇÃO
A análise normativa assenta na interpretação dos fenómenos tomando o juízo
de valor do seu observador, ou seja, não pretende explicar a essência do
fenómeno ou as suas relações de causa e feito, tenta, antes descrever o que
seria desejável, tornando-se, assim, prescritiva. Sob este paradigma de análise,
o economista é um político. 
Já a análise positiva busca a explicação da essência dos fenómenos, as leis que
os regem.
Tomemos o seguinte exemplo:
◦ Ao observarem o fenómeno do desemprego em determinado país, dois economistas fazem
comentários diferentes.
◦ O economista A afirma que a regulamentação estatal que obriga ao pagamento de um
salário mínimo é susceptível de gerar desemprego;
◦ O economista B afirma que o governo deveria aumentar o salário mínimo nacional.
◦ A primeira afirmação é, sem dúvida, resultado de uma análise positiva, enquanto a segunda
é, marcadamente, uma afirmação resultante de uma análise normativa.

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INTRODUÇÃO
A economia positiva é o ramo da economia que se preocupa
com a descrição e explicação dos fenómenos económicos
Ela focaliza os factos observáveis e as relações de causa e efeito
incluindo o desenvolvimento e teste das teoria económicas.
◦ Expressões mais antigas para designar a economia positiva eram
economia livre-de-valor (value-free economics) e o seu
equivalente germânico economia wertfrei. Essas expressões foram
desafiadas por serem persuasivas e não descritivas.
◦ A economia positiva como ciência preocupa-se com o comportamento
económico

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INTRODUÇÃO
Uma definição-padrão de economia positiva como uma colecção de teoremas imbuídos
de significado operacional pode ser encontrada em Paul Samuelson:
◦ A economia positiva, enquanto tal, evita juízos de valor económicos. Por exemplo,
uma teoria económica positiva pode descrever como o crescimento da oferta
monetária afecta a inflacção, mas não fornece nenhuma instrução quanto à
política que deveria ser adoptada.
Ainda assim, a economia positiva é comumente julgada necessária para a selecção de
políticas ou resultados económicos quanto à aceitabilidade o que constitui objecto
da economia normativa.
A economia positiva é algumas vezes definida como a economia "do que é", enquanto a
economia normativa discute o que "deveria ser". Esta distinção foi exposta por John
Neville Keynes e formalizada por Milton Friedman

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INTRODUÇÃO
Equidade, Eficiência e Liberdade
Eficiência, equidade e liberdade são critérios normativos aos quais os cientistas
sociais dão uma importância diferente.
Os juristas, ao tratarem do fenómeno financeiro dão primazia clara ao conceito
de justiça (ou equidade) em detrimento da eficiência e liberdade.
Os economistas dividem-se nas suas opiniões: uns dão primazia aos critérios de
eficiência e liberdade, outros dão maior importância aos critérios de equidade
e justiça social.
◦ Esta diferente hierarquização dos critérios normativos, assim como a percepção do
eventual conflito entre eles é, pois, uma das fontes de divergências entre os
economistas.

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INTRODUÇÃO
Equidade
◦ Equidade significa igualdade, simetria, rectidão, conformidade ou
imparcialidade. O conceito é usado para exprimir noções de justiça e
igualdade social com valorização da individualidade. No fundo, o objectivo
é proporcionar a cada sujeito aquilo que merece e de forma igual.
Normalmente este conceito confunde-se com justiça social ao pretender-
se que a distribuição da riqueza entre os membros de uma sociedade deve
ser justa.
◦ Em termos de economia pública a análise da equidade visa determinar os
efeitos da distribuição da carga fiscal sobre os membros de uma sociedade
e os benefícios que decorrem para o conjunto (bem estar social) e para
cada um deles (bem estar individual) em consequência da realização da
despesa pública.
◦ Embora não haja unanimidade conceptual relativamente ao que é o bem-
estar, ainda assim é possível analisar de forma muito objectiva as questões
que se suscitam no equacionamento da justiça social.

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INTRODUÇÃO
Eficiência
◦ Eficiência é um conceito que relaciona os recursos empregues para a realização de
determinada actividade e os resultados alcançados. No seu sentido económico mais
simplificado explicita-se pela afectação óptima de recursos, de tal modo que não seja
possível melhorar o bem-estar de um membro da sociedade sem ser através da diminuição
do bem-estar de outro. Isso passará por dar às pessoas aquilo que elas desejam obter
quando se confrontam com os custos privados e sociais das várias opções que têm à sua
disposição.
◦ Na óptica da afectação eficiente de recursos, a dimensão ideal do sector público, quando
comparada à do sector privado dependerá da importância relativa dada aos bens públicos
relativamente aos bens privados. Contudo, dadas as restrições de recursos materiais e
tecnológicos, a maior produção de uns andará associada a uma menor produção de outros.
◦ A maximização do nível de bem-estar das populações requer pois que os recursos económicos
que, por definição, são sempre escassos, sejam utilizados de forma eficiente. Todos os
factores de produção empregues podem, em maior ou menor medida, ser empregues em
aplicações alternativas.

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INTRODUÇÃO
Liberdade
Por liberdade (negativa) entende-se a manutenção pelos indivíduos de uma esfera de
autonomia imune à intervenção coerciva do Estado. Para a existência de liberdade é
necessário que se verifiquem limites à possibilidade de intervenção do Estado. Isto é
aplicável a domínios muito diversos, principalmente em relação aos chamados actos
privados.
Os bens primários consistem em diferentes condições sociais e meios polivalentes,
geralmente necessários para que os cidadãos possam desenvolver-se adequadamente
e exercer plenamente as suas faculdades morais, além de procurar realizar as suas
concepções do bem. Nessa perspectiva os “bens primários” são a liberdade e os
direitos fundamentais: liberdade de movimentos e livre escolha de ocupação; acesso
ao exercício de poderes e prerrogativas de cargos e posições de autoridade e
responsabilidade e renda e riqueza

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INTRODUÇÃO
Bem Comum
Bem comum é o conjunto benefícios que são compartilhados por todos os membros
(ou a maioria) de uma dada comunidade. Constitui a essência, ou o objectivo por
excelência, da acção do Estado e requer a inserção do direito fundamental dos
indivíduos na sociedade, ou seja, o direito de todos à oportunidade de livremente
moldar sua vida por acção responsável, em busca da máxima satisfação das suas
necessidades. 
Bens Privados
Bens privados são aqueles que não podem ser compartilhados por todos. Há
concorrência entre os indivíduos na sua apropriação e consumo. O direito de
propriedade não permite que todos tenham acesso ao bem. A sua principal
característica é o seu uso individual, ou seja, aqueles para os quais o consumo de uma
pessoa exclui o consumo da outra. Geralmente estes bens são oferecidos pela iniciativa
privada.

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Alguns Conceitos Fundamentais
Bens Públicos
◦ Bens públicos são aqueles que, sendo propriedade do Estado, podem ser utilizados
livremente por qualquer cidadão.
◦ São bens cujo consumo é efectuado por toda a colectividade, não se aplicando a
eles o princípio da exclusão, ou seja, não é necessário pagar para obtê-los.
◦ Além disso, eles são “não rivais”, isto é, o consumo de um, não impede o consumo
de outro.
◦ Na maioria das vezes, eles são oferecidos pelo poder público com o objetivo de
satisfazer as necessidades coletivas.
◦ Um bem público é, por exemplo, uma biblioteca municipal: todos os cidadãos pagaram a sua
construção e pagam a manutenção através dos impostos; em contrapartida todos são livres de a
usar.
◦ Como o fornecimento privado de bens-públicos é geralmente deficiente, o Estado tem que
intervir e estimular a sua produção.
Alguns Conceitos Fundamentais
Bens Semi Públicos
◦ Bem semi público é aquele que pode ser oferecido tanto pelo Estado como pelo
sector privado e que o governo o oferece para tentar reduzir as desigualdades de
acesso;
◦ São passíveis de apropriação individual ou colectiva e, embora possam ser
produzidos pela iniciativa privada, o Estado ajuda a prover (e a financiar)
subsidiando parte significativa desses bens e serviços.
◦ Normalmente a intervenção do Estado resulta da necessidade de garantir a
dignidade da pessoa humana e a qualidade de vida;
◦ Os bens semi públicos atendem ao princípio da exclusão porque podem ser
prestados por particulares (ex.: educação e saúde);
◦ Os bens semi públicos apresentam consumo rival e excludente mas apresentam
também externalidades.
Alguns Conceitos Fundamentais
Concepção Humanista do Estado
◦ Segundo a concepção humanista do Estado não existe uma “razão de Estado” acima
e independente dos indivíduos já que parte do princípio que só os indivíduos têm
sentimentos, têm emoções, preferências e necessidades.
◦ Aquilo que se pode designar por necessidades colectivas ou sociais (como a paz
social), não são necessidades abstractas de uma entidade supra individual
designada por Estado, mas sim necessidades que são sentidas pela totalidade ou,
pelo menos, pela grande maioria dos cidadãos.
◦ Neste sentido, o Estado, pode ser entendido como uma instituição criada pelos
cidadãos para prosseguir os seus interesses colectivos que não podem ser
alcançados através do mercado.
Alguns Conceitos Fundamentais
Concepção Orgânica do Estado
◦ A concepção orgânica do Estado corresponde ao entendimento do Estado como um
organismo, independente dos indivíduos que o compõem e, de certo modo, acima desses
indivíduos, com interesses próprios a satisfazer.
◦ Historicamente os regimes totalitários ou os autoritários partilham concepções orgânicas
do Estado, em que o “interesse da Nação” estava acima e era irredutível aos interesses
individuais.
◦ A “razão de Estado” sobrepõe-se às razões individuais.
◦ Um problema teórico e prático se revela com esta concepção de Estado: por que processos
são revelados os interesses do Estado, ou como se sabe qual é a vontade desse corpo
colectivo que é a sociedade?
◦ Na verdade, embora não se vislumbre uma resposta teórica e lógica para este problema, existe
uma resposta prática que é a de que o “interesse do Estado”, na concepção orgânica, acaba por
ser interpretado pelo indivíduo que detém o poder.
Alguns Conceitos Fundamentais
Externalidades
Em economia, externalidades são os efeitos colaterais de uma decisão sobre aqueles
que não participaram dela.
Existe uma externalidade quando há consequências para terceiros que não são
tomadas em conta por quem toma a decisão. Geralmente refere-se à produção ou
consumo de bens ou serviços por terceiros, que não estão diretamente envolvidos
com a atividade. 
Ela pode ter:
natureza negativa, quando gera custos para os demais agentes (poluição atmosférica, de
recursos hídricos, poluição sonora, sinistralidade rodoviária, congestionamento, etc.), ou
natureza positiva, quando os demais agentes, involuntariamente, se beneficiam,
(investimentos governamentais ou privados em infraestrutura e tecnologia, ou
investigação).
Alguns Conceitos Fundamentais
Governo Democrático
Um governo democrático é uma instituição dotada de poderes especiais, delimitados
por lei, composta por uma equipa de pessoas com um líder cuja legitimidade lhe
advém de um certo sucesso na competição política pelo voto popular.
Esses poderes especiais distinguem o governo, como instituição, de outras
instituições privadas.
No mercado as transacções são voluntárias, enquanto no sector público elas poderão
ser involuntárias. Isto decorre do poder coercivo do Governo sobre os indivíduos, ou
seja, a capacidade do governo impor aos membros da sociedade a realização de
acções que eles, voluntariamente não realizariam.
O exemplo mais evidente deste poder, desta coercibilidade, é o do pagamento dos
impostos.
Alguns Conceitos Fundamentais
Informação Assimétrica
Em economia, Informação assimétrica é um fenómeno que ocorre quando dois ou mais
agentes económicos estabelecem entre si uma transacção económica com uma das
partes envolvidas a deter, por algum
meio, informações qualitativa e/ou quantitativamente superiores aos da outra parte.
Essa assimetria gera o que se define em microeconomia como falhas de mercado.
Os fenómenos de informação assimétrica mais comuns são:
◦ 1) a seleção adversa;
◦ 2) o risco moral;
◦ 3) o herd behavior .
Alguns Conceitos Fundamentais
1) A seleção adversa - é um fenômeno de informação assimétrica que ocorre quando os
compradores "seleccionam" de maneira incorreta determinados bens e serviços no
mercado.
2) O risco moral - (do inglês, moral hazard) é um conceito que se refere à possibilidade
de um agente económico mudar o seu comportamento de acordo com os diferentes
contextos nos quais ocorre uma transacção económica. 
3) O herd behavior  (ou, traduzido literalmente para o português, comportamento de
rebanho) descreve como indivíduos de um grupo podem agir coletivamente sem
direcção centralizada.
◦ O termo refere-se, por exemplo, ao comportamento dos seres humanos em manifestações,
tumultos e greves gerais, eventos desportivos, reuniões religiosas, episódios de violência
e tomada de decisões cotidianas, ou o julgamento e formação de opiniões.
Alguns Conceitos Fundamentais
Interesse Público
O interesse público refere-se ao "bem geral". O interesse público é um conceito central para
a política, a democracia e a natureza do próprio governo.
Embora quase todos os indivíduos defendam que contribuir para o bem-estar geral é positivo,
existe pouco ou nenhum consenso sobre o que constitui exactamente o interesse público.
Há diferentes opiniões sobre quantos membros do público devem beneficiar de uma acção para
que a mesma seja declarada do interesse público: num extremo, uma acção deve beneficiar
todos os membros da sociedade para ser verdadeiramente do interesse público; no outro,
qualquer acção pode ser do interesse público desde que beneficie uma parte da população e
não prejudique ninguém.
O direito administrativo é construído sobre dois pilares básicos: a supremacia do interesse
público sobre o interesse privado, e a indisponibilidade do interesse público.
Alguns Conceitos Fundamentais
Mercados de Concorrência Imperfeita
Uma situação de concorrência imperfeita corresponde a uma estrutura de mercado em
que não se verifica a concorrência perfeita, ou seja, em que existe pelo menos uma
empresa ou consumidor com poder suficiente para influenciar o preço de mercado.
São exemplos de situações de concorrência imperfeita os monopólios, oligopólios e
concorrência monopolística.
O regime de concorrência perfeita é definido através das ideias de atomicidade e
fluidez. Quando uma dessas características desaparece, os mercados não são de
concorrência perfeita.
Alguns Conceitos Fundamentais
A característica da atomicidade deixa de verificar-se quando um, ou alguns vendedores,
ou compradores, se tornam suficientemente poderosos para, pelas variações da sua
oferta, ou da sua procura individuais, influírem na fixação do preço.
◦ Se, se tratar de alguns compradores, ou vendedores, a procura, ou a oferta, diz-se
molecular;
◦ Se, se tratar de um comprador ou um vendedor apenas, a procura diz-se monolítica.
A característica da fluidez deixa de verificar-se por falta de homogeneidade dos
produtos transaccionados, por falta de liberdade, por desconhecimento das condições
do mercado, por falta de tempo, por rotina, por incapacidade de reagir racionalmente
em relação às condições do mercado. Sempre que o mercado não é fluído, diz-se que
ele é viscoso.
◦ Num mercado viscoso ainda subsiste uma certa mobilidade de compradores e vendedores.
◦ Quando essa pouca mobilidade desaparece, o mercado torna-se rígido.
A Actuação do Estado na Economia
A principal justificação económica para a intervenção do Estado na
economia é a promoção da afectação óptima dos recursos produtivos.
Não obstante, mesmo os economistas liberais (pouco propensos a aceitar
a participação do Estado na economia) não põem em causa que, em
certas condições, o Estado pode e deve intervir.
O mercado nem sempre promove as soluções eficientes no que respeita à
afectação (óptima) dos factores de produção, justificando-se assim a
intervenção do Estado para corrigir essa ineficiência (as falhas do
mercado).
A Actuação do Estado na Economia
É o que acontece quando se regista a ocorrência de:
◦ Bens públicos;
◦ Bens comuns;
◦ Bens semi públicos;
◦ Externalidades;
◦ Mercados de concorrência imperfeita;
◦ Informação assimétrica (como os problemas associados de selecção
adversa e risco comportamental);
◦ Desemprego dos factores de produção.
A Actuação do Estado na Economia
A distorção na afectação de recursos económicos traduz-se na produção de
quantidades, ora excessivas, ora insuficientes, de certos bens e serviços.
Em última análise, quando o fracasso do mercado é total, os bens não são,
pura e simplesmente, produzidos.
Para além da circunstância das estruturas de mercado pode-se dizer que o
fracasso dos mercados privados assenta na incapacidade dos membros da
sociedade cooperarem entre si na satisfação das necessidades colectivas.
Em certos casos não existem sequer mercados como sucede com as
externalidades.
A Actuação do Estado na Economia
A incapacidade dos membros da sociedade cooperarem entre si na
satisfação das necessidades colectivas é consequência de:
◦ Comportamentos estratégicos na manifestação das verdadeiras preferências dos
indivíduos quanto ao consumo – caso dos bens públicos;
◦ Não incorporação nas escolhas individuais das preferências de terceiros –
externalidades;
◦ Não definição e respeito pelos direitos de propriedade – externalidades;
◦ Distribuição assimétrica entre os indivíduos dos custos e dos benefícios
associados à utilização de determinados bens ou recursos – caso dos bens
comuns;
◦ Distribuição assimétrica de informação entre compradores e vendedores de bens
e serviços.
A Actuação do Estado na Economia
Fundamentação Histórica da Economia Dirigida
As civilizações ocidentais da Antiguidade apresentam diversos exemplos
típicos de economia dirigida, destacando-se, por exemplo, a do Egito, da
Grécia e de Roma.
Nos Estados teocráticos das civilizações anteriores à era cristã, a
centralização dos poderes era corolário natural das economias ainda
incipientes, baseadas em sistemas com predominância do trabalho
escravo e do artesanato rudimentar, havendo proeminência da economia
rural.
Tudo era rigorosamente controlado pelos dirigentes governamentais das
antigas civilizações
A Actuação do Estado na Economia
Fundamentação Histórica da Economia Dirigida
No âmbito da filosofia grega, Aristóteles destaca-se como partidário da
intervenção dos governos na economia da pólis.
Tal sistema prevaleceu inclusive após a queda do Império Romano do Ocidente e
o retorno gradativo à economia urbana.
Com a reforma da Igreja Católica na Europa, o advento do Renascimento e com o
início das grandes navegações, também chamadas de “descobrimentos”,
ampliaram-se os limites do mundo feudal e das economias isoladas.
◦ A navegação de grande curso, juntamente com o desenvolvimento das instituições e
títulos de crédito, ampliou as relações comerciais entre os povos, viabilizando a
consolidação de grandes empresas comerciais e de navegação e criando as condições
para a revolução industrial e a elevação do capitalismo ao modo de produção
dominante.
A Actuação do Estado na Economia
Fundamentação Histórica da Economia Dirigida
No processo de desenvolvimento, o intervencionismo estatal atingiu o seu
auge no âmbito do mercantilismo, após a supressão das corporações de
artes e ofícios medievais.
Foi na era mercantilista que surgiram os primeiros monopólios do Estado
Burocrático.
◦ A produção, nesta fase, estava voltada para os interesses supremos do Estado absolutista.
◦ A relação entre a produção e o bem-estar individual perdia espaço para a expansão
monopolista do Estado moderno, presente na indústria da perfumaria, dos tecidos, da
cerâmica, dos cristais, da porcelana e da navegação, com a concentração em categorias
nobres minoritárias, o protecionismo no comércio mundial e a voracidade fiscal.
A Actuação do Estado na Economia
Fundamentação Histórica da Economia Dirigida
O advento da Revolução francesa de 1789 representou uma reacção das massas
contra as minorias burguesas na fase do predomínio dos Estados absolutistas e
o proteccionismo no comércio mundial, doutrina proveniente de filosofia
agnóstica, que relega para segundo plano os interesses e as garantias
individuais, sacrificados em prol do Estado soberano e autocrata.
Mas o Estado liberal, emanado da Revolução francesa e do pensamento
filosófico do século XVIII, no ponto mais alto do livre-cambismo e do
racionalismo económico, também pecou por excessos e erros.
◦ A supremacia dos grandes conglomerados industriais, comerciais e financeiros, induzida pela ânsia
incontida de lucros, separou o capital do trabalho, reduzindo grandes faixas da população a uma
condição de exploração desenfreada, ao proletarizá-las.
A Actuação do Estado na Economia
Fundamentação Histórica da Economia Dirigida
Era comum, no século XIX, a jornada de trabalho de 10, 12 e até 14 horas, e o
trabalho infantil, sem quaisquer garantias de férias anuais, remuneração
condigna e aposentação por velhice.
Esta situação germinou a insatisfação e a revolta das massas trabalhadoras,
fomentadas pelos ideais socializantes, moderados ou extremistas, a
caracterizarem as lutas sociais do século XIX, novamente pondo em risco as
liberdades individuais e o próprio direito de propriedade.
Após o fim da segunda guerra mundial os direitos dos economicamente
mais fracos, passaram a merecer mais atenção, com tentativas sempre mais
numerosas para atenuar as desigualdades provenientes da concentração de
rendas e abusos da concepção exclusivista da propriedade.
A Actuação do Estado na Economia
Fundamentação Histórica da Economia Dirigida
Para se opor às doutrinas socializantes e preservar o direito de propriedade e a
posse dos instrumentos de produção pelas empresas, ressurgiu um Estado
poderoso, escudado num neoproteccionismo.
A pretexto de subordinar o direito de propriedade ao bem social, o Estado
passou a intervir em todos os sectores da economia e das finanças, e, em vez
de abrandar,  acentuou mais as falhas estruturais da sociedade.
Exacerbou o uso das ferramentas de intervenção, para atingir o controlo e a
direção das finanças e da economia, embora apregoando as virtudes da livre
empresa e da economia de mercado, mas agindo de forma autoritária e
arbitrária.
A Actuação do Estado na Economia
Actuação no Domínio Económico
A intervenção do Estado no domínio económico é inerente à democracia
providencialista.
Tendo sido condenada pelo liberalismo clássico, a intervenção do Estado
no domínio económico é hoje admitida pelos próprios neoliberais.
Na realidade, raros são os que ainda discutem a sua legitimidade, embora
prevaleça a polémica sobre os seus limites.
Três orientações principais desenharam-se a propósito da intervenção
estatal no domínio económico, ainda que muitas vezes seja difícil
distingui-las na sua aplicação prática:
A Actuação do Estado na Economia
Actuação no Domínio Económico
A primeira delas é de cunho eminentemente neoliberal.
Considera inviolável o princípio de que a vida económica é regida por leis
naturais, cuja acção não deve ser atrapalhada pela intervenção do Estado.
Contudo, reconhece que os embaraços à acção dessas leis podem resultar da
acção de indivíduos ou grupos e não apenas do Estado.
Admite, pois, a conveniência de esses obstáculos serem eliminados,
considerando que não é antinatural a intervenção que o fizer.
Portanto, os neoliberais advogam a intervenção repressiva do Estado no
domínio económico desde que vise revolver barreiras que coloquem ao livre
jogo das leis naturais.
A Actuação do Estado na Economia
Actuação no Domínio Económico
A segunda é a Doutrina Social da Igreja.
Ela atribui outro caráter à intervenção do Estado no domínio económico
encarando-a em termos mais amplos.
Recomenda não só a intervenção para reprimir abusos, mas também a
intervenção para respaldar a iniciativa particular fraca ou insuficiente e,
sobretudo, considera-a lícita para assegurar a todos uma vida digna.
Admite, portanto, uma intervenção de cariz moralmente positivo:
◦ Admite a intervenção do Estado para prevenir que, em certos sectores-chave da vida económica,
tomem proeminência certos interesses particulares que ameacem o bem comum.
◦ A acção do Estado na promoção e incentivo à realização das actividades económicas, deve-se pautar
pelo princípio da subsidiariedade.
A Actuação do Estado na Economia
Actuação no Domínio Económico
Em terceiro lugar, a corrente socialista democrática.
Identifica-se no socialismo não marxista.
Entende que o Estado deve controlar toda a vida económica, planificando-
a e não tratando apenas de reparar erros ou corrigir abusos.
Para além disso,  deve ainda pertencer ao Estado o monopólio de certas
explorações – petróleo, energia eléctrica, etc. – essenciais para a vida
nacional, embora à iniciativa particular seja deixado um muito vasto
campo de actuação, debaixo de minuciosa regulamentação.
A Actuação do Estado na Economia
Actuação no Domínio Económico
Em oposição às três correntes já mencionadas ergue-se a corrente
marxista.
Esta corrente pretende a centralização de toda a economia sob o
comando político do Partido Comunista.
Refuta a propriedade privada dos meios de produção e só admite a
iniciativa privada em sectores residuais da actividade económica.
Ela tem bastantes adeptos nos países menos desenvolvidos, embora a
maioria destes melhor se inscreva numa quinta corrente – a estatizante.
A Actuação do Estado na Economia
Actuação no Domínio Económico
A corrente estatizante constitui, na verdade, uma variante não autenticamente
marxista, na medida em que encara o Estado como uma força sempre benfazeja.
O marxismo vê, no Estado, uma força opressora e advoga a sua extinção
No marxismo o Estado deve reger a economia, ignorando o mercado: o plano
económico e a orientação do Estado é que devem reger a economia de modo
racional e em benefício de todos, em particular, contra o capital estrangeiro
“espoliador”, contra o capitalismo explorador, etc.
◦ Contrariando todas as lições da ciência económica, o resultado da sua actuação, como
ficou largamente comprovado pela história, foi desastroso.
◦ Exigia uma máquina estatal imensa, bem paga e ineficiente, provocadora de inflação
galopante, o que conduziu a economia ao caos
A Actuação do Estado na Economia
Modalidades de Actuação Governamental
O Estado interfere no domínio económico de diversas formas.
◦ A influência na promoção, na regulação, no fomento e na fiscalização da
realização das actividades económicas dá-se por meio da disciplina, que é
determinada mediante a edição de leis, regulamentos e o exercício do
poder de polícia.
◦ O poder público faz especial proveito das suas competências legislativas,
emitindo normas decisivas para o desempenho das actividades económicas,
algumas com fundamento constitucional.
◦ Para além disso, o Estado exerce competências normativas de carácter
administrativo, emitindo decretos e demais espécies de diplomas
regulamentares, em diversos âmbitos, inclusive em matérias estratégicas
como a execução da política de crédito e de câmbios.
A Actuação do Estado na Economia
Modalidades de Actuação Governamental
O Estado desempenha também o denominado poder de polícia, ao restringir
direitos subjetivos (públicos e privados) e ao condicionar o exercício de
determinadas actividades económicas em favor do interesse colectivo, como
ocorre nos casos da fiscalização ambiental, da vigilância sanitária, da
fiscalização do trabalho, entre outros.
No âmbito da prestação indireta dos serviços públicos, por meio da realização
estatal de actividades económicas, abrem-se duas possibilidades:
◦ o Estado constitui pessoas jurídicas públicas (autarquias e institutos públicos),
◦ o Estado constitui pessoas jurídicas privadas (empresas mistas e empresas públicas) e outorga a esses
entes a prestação do serviço público, seja de educação, água, eletricidade ou qualquer outro

O Estado pode, ainda, delegar à iniciativa privada, mediante contrato ou outro


acto negocial, a concessão do serviço.
A Actuação do Estado na Economia
Modalidades de Actuação Governamental
Outro modo de prestação de serviços públicos encontra-se nos consórcios
públicos, para gestão de serviços de interesse comum dos consorciados.
◦ Nesse caso os integrantes do consórcio transferem para este a execução de alguns
serviços que lhes competem.
◦ Nesse sentido, o Estado, normalmente, faz uso da concessão, da permissão e da
autorização de serviço público, que constituem os modos clássicos pelos quais a
Administração Pública transfere aos particulares a prestação de serviços públicos.
Actualmente, novas formas jurídicas vêm sendo utilizadas, como o
arrendamento e a franquia.
◦ Todavia, o Estado mantém o vínculo com a actividade e, por isso, fixa normas para a
sua execução, fiscaliza o seu cumprimento sendo, enfim, responsável por ela.
A Actuação do Estado na Economia
Modalidades de Actuação Governamental
Mais recentemente, têm sido concebidas diferentes formas de delegação, identificadas
genericamente como terceirização, que incluem espécies negociais como a franquia (já
referida) e o contrato de gestão, entre outros.
É importante ressaltar que a exploração da actividade económica, não se confunde com a
prestação de serviços públicos, quer pelo seu caráter de subsidiariedade, quer pela existência
de regras próprias e diferenciadas.
Assim sendo, sobre a livre iniciativa – fundamento e princípio hierarquicamente superior no
âmbito da ordem económica – somente em hipóteses excepcionais e constitucionalmente
previstas poderá o Estado actuar diretamente.
Em conclusão, entende-se que na Administração Pública indireta, se encontram as autarquias, as
agências reguladoras, os institutos públicos, as empresas públicas e as empresas mistas.
A Actuação do Estado na Economia
Modalidades de Actuação Governamental
As autarquias são pessoas jurídicas que prestam serviço descentralizado,
são criadas por lei, e possuem património e receita próprios, assim como
natureza de direito público, na medida em que perseguem finalidades
públicas.
Os Institutos Públicos são entidades de direito público, dotadas de
personalidade jurídica, com autonomia administrativa, património
próprio e funcionamento custeado por recursos do Orçamento Geral do
Estado, que são criados para o desenvolvimento de actividades
específicas de carácter não económico.
A Actuação do Estado na Economia
Modalidades de Actuação Governamental
As agências reguladoras são uma qualidade especial de institutos
públicos.
Constituem-se em  pessoas colectivas de direito público, dotadas de perso­
nalidade jurídica e de autonomia administrativa e financeira, que devem
regu­lar, organizar e fiscalizar determinado segmento do mercado.
Integram, portanto, a Administração Pública indireta, mas vinculam-se ao
Executivo por via da superintendência e à tutela por via de um
departamento ministerial.
Os seus respectivos administradores são nomeados pelo Presidente da
República para cumprir mandato.
A Actuação do Estado na Economia
Modalidades de Actuação Governamental
As empresas públicas são pessoas jurídicas de direito privado, criadas por
lei, a qual indica a sua área de actuação, podendo destinar-se à prestação
de serviços públicos ou de actividades económicas propriamente ditas.
O regime jurídico das empresas públicas aproxima-as das empresas
privadas, inclusive quanto aos direitos e às obrigações civis, empresariais,
trabalhistas e tributários.
A igualdade tributária entre o Estado ou suas emanações e a empresa
pública decorre do próprio princípio da igualdade perante a lei.
A Actuação do Estado na Economia
Modalidades de Actuação Governamental
As empresas mistas são pessoas jurídicas de direito privado que possuem
capital público e privado, considerando-se aquelas em que é relevante a
maioria do capital público, ou seja, a maioria das acções com direito a
voto devem ser de propriedade do ente político respectivo.
São ainda pessoas jurídicas de direito privado que podem servir para
prestar serviço público ou para explorar actividade económica, desde que
para tal sejam instituídas por lei.
Em geral, quando tratam da realização de actividade económica, actuam
em áreas consideradas estratégicas pelo Estado.
A TEORIA DOS BENS PÚBLICOS
Um bem público pode ser definido quando o consumo de cada indivíduo de um
determinado bem não leva à subtração do consumo daquele bem por qualquer
outro indivíduo. Isto caracterizaria um bem econômico puro.
Partindo da premissa que os teóricos das finanças públicas davam muita atenção
ao lado da receita e muito pouca atenção à despesa, Samuelson assumiu duas
categorias de bens: os “bens de consumo privado” e os “bens de consumo
colectivo”.
Característica fundamental dos bens de consumo colectivo é o facto de o seu
consumo por um indivíduo não diminuir o seu consumo por outro indivíduo,
ainda que realizado simultaneamente.
A TEORIA DOS BENS PÚBLICOS
A partir da consideração da característica de não exclusividade e usando as
regras tradicionais de optimização da economia do bem-estar, Samuelson
chegou à conclusão que somente com a especificação de uma função de bem-
estar social seria possível encontrar um óptimo de Pareto.
A característica básica de um sistema de preços descentralizado está no facto da
procura e da oferta terem nos preços o mecanismo que optimiza a produção e
o consumo.
Esta característica de um sistema de preços descentralizado para os bens de
consumo colectivo pode gerar falsos “avisos à navegação”, requerendo, como
afirma Samuelson, novas estratégias de análise e abordagem do problema.
A TEORIA DOS BENS PÚBLICOS
Samuelson coloca nos seguintes termos a dificuldade gerada para os teóricos
das finanças públicas em função do que ele denominou de “bens públicos” ou
“bens colectivos”:
“a tributação, de acordo com a teoria dos benefícios da tributação, não pode em absoluto
resolver o problema computacional de forma descentralizada, possível para a primeira
categoria de ‘bens privados’ nas quais o preço ordinário de mercado se aplica e nos quais não
têm os ‘efeitos externos’ básicos para lhes conferir a noção de ‘bens de consumo colectivo’.
Claro que uma votação utópica e esquemas de sinalização podem ser imaginados ("consenso
escandinavo", “imperativo categórico de Kant" e outros "dispositivos significativos somente
sob condições de simetria", etc.). O fracasso do mercado cataláctico de modo algum nega a
seguinte verdade: dado o conhecimento suficiente das decisões óptimas, sempre pode ser
encontrado por verificação de todos os estados alcançáveis ​do mundo e selecionar aquele
que de acordo com a função de bem-estar ético postulado é o melhor. A solução ‘existe’ O
problema é como ‘encontrá-la’! “
A TEORIA DOS BENS PÚBLICOS
Na opinião de Head, o “bem público” definido por Samuelson tem as
seguintes implicações:
“Numa análise mais profunda, pode-se mostrar que o bem público de
Samuelson, de facto, expõe, num grau extremo, formas especiais de duas
características conceptualmente bastante distintas e independentes, ou
seja, fornecimento conjunto e economias externas. Assim, é comum que a
oferta só por si represente a mudança marcante nas condições familiares
Pareto-óptimas e a consequente necessidade de preços múltiplos
demonstrado pela sua análise. As economias externas são máximas
(completa impossibilidade de exclusão), no entanto, representam o
fracasso total da capacidade do mecanismo de mercado garantir a
revelação das verdadeiras preferências.”
A TEORIA DOS BENS PÚBLICOS
A abordagem de Samuelson na caracterização do “bem de consumo
colectivo” corresponde à continuação da tradição neoclássica, em
particular à abstração e à adequação dessa abstração ao mundo real.
Não é por outra razão que se atribui à sua formulação a qualificação de
“teoria pura” assimilável à “teoria pura de Walras”.
Os bens públicos inserem-se no conjunto de problemas teóricos que
também implicam problemas de ordem “prática” e é isto que impõe a
necessidade de definir o âmbito da intervenção do Estado na provisão de
bens e serviços.
A TEORIA DOS BENS PÚBLICOS
Como se pode perceber, pelos próprios comentários de Samuelson, a análise
institucional precisa de avaliar como esses problemas se manifestam e, por isso,
procura estender as possibilidades de explicação da economia para além das
“propriedades simples da economia tradicional”.
As dificuldades trazidas pelos “bens públicos” e as externalidades, no que toca à
possibilidade de utilização das ferramentas usuais disponibilizadas pela teoria
neoclássica fizeram com que muitos teóricos da ciência económica passassem a
concentrar a sua atenção em questões como direitos de propriedade, noções de
justiça e equidade, informação assimétrica, hábitos e costumes, comportamento
oportunista, etc.
Vários desses autores podem ser enquadrados naquilo que hoje, de uma forma
ainda pouco precisa, se costuma denominar Nova Economia Institucional
A TEORIA DOS BENS PÚBLICOS
A Nova Economia Institucional tem por característica uma proximidade com a
teoria neoclássica, ainda que de uma forma ou de outra os seus autores fujam
dos seus métodos usuais de análise.
O próprio Samuelson, enfatiza a necessidade de se ir além das “propriedades
simples da economia tradicional” para se tratar dos “bens colectivos”.
Os autores neoclássicos desenvolveram um conceito que exprime a abrangência
dos temas que a análise institucional busca compreender e esmiuçar, ou seja,
as externalidades:
“(...) quando a função de utilidade de um indivíduo (ou o custo da função de produção de uma
empresa) depende não só das variáveis ​sob o seu controlo , mas também de alguma variável sob o
controlo de outra pessoa , onde a dependência não é efectuada através de operação de mercado"
(Ng, 1979, p. 167).

A TEORIA DOS BENS PÚBLICOS
Para muitos autores os bens públicos não são mais que externalidades.
No entanto, essa abordagem diferenciada destacou-se somente a partir
da década de 1970 quando as questões sociais, relativas às organizações
e instituições, não puderam mais ser evitadas pelo paradigma
neoclássico, ainda que Samuelson, já em 1954, colocasse a necessidade
de uma abordagem institucional, devido às dificuldades levantadas pelos
bens públicos.
Estas dificuldades, em especial o papel do Estado, a capacidade das
pessoas da comunidade revelarem de facto a sua procura por bens
colectivos sem o comportamento oportunista ou “caronista”.
A TEORIA DOS BENS PÚBLICOS
A diferença fundamental entre o mecanismo de mercado tipo “laissez-faire” e a
provisão de bens colectivos via acção do Estado foram apontados por Samuelson,
como se pode perceber pela citação a seguir:
“Pode-se imaginar que cada pessoa na comunidade está a ser doutrinada para se comportar como
um burocrata paramétrico descentralizado, que revela as suas preferências sinalizando, em
resposta aos parâmetros de preços ou multiplicadores lagrangeanos, a questionários ou a outros
dispositivos. Mas ainda há uma diferença técnica fundamental atingindo o âmago de todo o
problema da economia social: a partir destas regras doutrinadoras, qualquer pessoa pode ter a
esperança de arrebanhar algum benefício egoísta de uma forma que não é possível no âmbito do
autopoliciamento de preços competitivos de bens privados e as "economias externas" ou "a não
articulação da procura" intrínseco ao próprio conceito de bens colectivos e actividades
governamentais tornam impossível, para grandes grupos, optimizar equações para ter esse
padrão especial de zeros que torna a concorrência do “laissez faire” possível, ainda que
teoricamente, como se fosse um computador analógico." Em matemática, em problemas
de optimização, o método dos multiplicadores de Lagrange permite encontrar extremos (máximos
e mínimos) de uma função de uma ou mais variáveis suscetíveis a uma ou mais restrições.
A TEORIA DOS BENS PÚBLICOS
Até aqui procuramos mostrar a complexidade do problema indicado
inicialmente por Samuelson, e o espaço criado para a actuação dos teóricos da
análise institucional.
Agora vamos revisitar os conceitos e classificação dos bens em análise:
◦ Uma característica comum a todos eles é que não respondem aos estímulos
de mercado como os bens privados.
◦ Existem, porém, diferenças entre eles e estas estão relacionadas com duas
características básicas dos bens privados:
a) a exclusividade
b) a rivalidade.
A TEORIA DOS BENS PÚBLICOS
A exclusividade é um conceito referente ao facto de o bem, quando consumido
por um indivíduo, não poder estar disponível para mais ninguém durante o acto
do seu consumo.
O exemplo didáctico mais corrente é a refeição:
◦ No acto do seu consumo, a refeição é exclusiva de quem a está consumindo.
Já a rivalidade é um conceito que se refere à escassez do bem, ou seja, quando
este bem é consumido, as suas “propriedades físicas” vão-se esgotando e, por
esse motivo, outros indivíduos não poderão consumi-lo.
◦ A refeição é rival, pois uma vez consumida não há mais para ninguém.
No entanto, nem todos os bens e serviços são assim.
A TEORIA DOS BENS PÚBLICOS
Para melhor caracterizar e compreender os bens públicos ou coletivos pode-se montar uma
matriz que, a partir dos critérios de exclusividade e rivalidade, nos forneça uma tipologia dos
bens:

Fonte: Lane ,1995, p. 23


O critério de não excludibilidade implica falhas de mercado por estar relacionado com o
conceito de não apropriação ou externalidade.
Isso significa que o mecanismo de mercado não pode ser empregue porque os custos ou
benefícios sociais não são devidamente apropriados pelos indivíduos.
A TEORIA DOS BENS PÚBLICOS
A não rivalidade (jointness) implica falhas de mercado por outras razões.
Se todos podem consumir o bem ou serviço, como estabelecer o preço se o custo marginal de um
indivíduo a mais a consumir esse bem ou serviço é zero?
Samuelson coloca o problema exatamente nestes termos:
"Eis aqui um exemplo contemporâneo: A Comissão Federal de Comunicações está agora a fazer a sua
avaliação sobre o licenciamento da televisão por subscrição. Você pode pensar, nos casos em que um
programa vai para o ar e a entrada na sintonia fica disponível para qualquer usuário, que se trata de um
exemplo perfeito de um bem público. E de certa forma até é. Mas seria errado pensar que a essência do
fenómeno decorre do facto de a estação emissora não ser capaz de recusar o serviço a quem bem queira e
entenda. Neste caso, através da utilização de redireccionadores de sinal, é tecnicamente viável limitar o
acesso de uma determinada transmissão a qualquer grupo específico de indivíduos. Pode, portanto, ser
tentado a dizer que um redireccionador de sinal permite converter um bem público num bem privado e,
permitindo o seu uso, pode-se contornar os inquietantes problemas de despesas colectivas confiando no
mecanismo de preços livres. Nada mais errado. Ser capaz de limitar o consumo de um bem público não
significa torna-lo num verdadeiro bem privado. Porque, em última instância, quais são os verdadeiros custos
marginais de ter na família uma sintonia extra no programa? Eles são literalmente zero. O que, impediria,
então, qualquer família que quisesse receber o prazer acrescido de sintonia do programa, de fazê-lo?”
A TEORIA DOS BENS PÚBLICOS
Assim, temos uma vantagem adicional na taxonomia fornecida pela tabela de tipologia dos bens.
A tabela fornece indicações sobre o lugar na sociedade reservado ao Estado.
Uma investigação da propriedade técnica e econômica dos bens permitiriam à sociedade saber
o tamanho necessário do orçamento público.
Segundo Lane:
"É uma espécie de teoria do Estado pela qual nós tentamos determinar em que
circunstâncias as pessoas numa economia acham que uma extensão da autoridade de seu
governo é requisito para a busca mais eficiente de seu próprio interesse económico.
O que já não é tão claro, na opinião de Lane, são os critérios para delimitar as classes de bens.
Em boa verdade seria necessário agregar outros critérios
A TEORIA DOS BENS PÚBLICOS
A propósito Lane argumenta:
“A dificuldade sobre a teoria dos bens públicos é que o seu conceito básico de não
apropriabilidade – não é muito preciso. Externalidades positivas ou negativas na
produção e consumo podem ser identificadas em quase todos os bens; não existe
nenhum conjunto de bens perfeitamente identificados que possam ser descritos
como não excludentes, onde, como todos os outros tipos de mercadorias seria
caracterizada pela possibilidade de exclusividade. Se a externalidade é uma
propriedade que ocorre em maior ou menor grau entre todos os tipos de bens,
então não haveria praticamente qualquer limite para quantidade de políticas
públicas em relação ao mercado. Precisamos de um critério independente que irá
informar-nos de que externalidade deve ser alvo de políticas públicas.”
A TEORIA DOS BENS PÚBLICOS
A taxonomia é uma ciência que busca classificar objectos organizando-os a partir
das suas características comuns.
Por outras palavras, as classes de objectos são o produto de operações de
observação e registo sistemáticas.
Ou seja, as definições seriam inerentes às classes de objectos e o pesquisador
“simplesmente” um organizador.
Não cabe ao pesquisador atribuir ao objecto as características que deveria ter e
sim sistematizá-las.
Esta seria uma abordagem realista do problema dos bens públicos, se o
problema fosse simplesmente o de classificar bens em públicos ou privados, ou em
qualquer outra categoria intermediária.
A TEORIA DOS BENS PÚBLICOS
Como a nossa intenção é tratar a questão segundo a tradição teórica neoclássica
para o problema dos bens não estritamente privados, usaremos a matriz
tipológica de bens de Lane e denominaremos indistintamente todos eles de
bens coletivos.
◦ Chamaremos de bens colectivos aos bens públicos, aos bens de uso comum e aos bens “sujeitos a
taxas”.
◦ Podemos estabelecer, então, a relação triangular que fundamenta todo o problema e tentar
encontrar a lógica por trás das linhas que ligam os bens colectivos.

BENS COLECTIVOS

EXTERNALIDADES INSTITUIÇÕES
A TEORIA DOS BENS PÚBLICOS
Esta relação triangular pode ajudar-nos a entender questões importantes como
no caso, por exemplo, de bens “sujeitos a taxas” como estradas e alguns tipos
de sistemas de comunicação.
Estes estão sujeitos a uma situação “paradoxal” e, portanto, a “solução” para o
seu equacionamento económico está no plano das instituições.
Em contraste com os bens públicos puros, para esses bens a excludibilidade não
é tecnicamente ou economicamente impossível, o que significa que os custos
da provisão desses bens podem ser cobertos por tarifas, taxas ou expedientes
dessa ordem.
Por outro lado, excluir o cidadão pode não ser vantajoso na medida em que o
custo marginal do consumo deste bem é muito pequeno.
A TEORIA DOS BENS PÚBLICOS
Aplicar o princípio da exclusão para os bens “sujeitos a taxas” pode acarretar a
redução de oferta desses bens uma vez que há aí o risco social de não se usufruir
dos ganhos de escala oriundos da produção e consumo de tais bens.
Esse é o “paradoxo”. As implicações institucionais, nas palavras de Lane, vão da
discriminação de preços ao comportamento “carona”:
"Além de um certo limite – para um certo grupo de cidadãos seria sem dúvida um forte
argumento para a ‘ordem pública’ ou a provisão pública de bens sujeitos a taxas – a alocação
de mercado destes bens por meio da discriminação de preços poderá resultar em custos sociais
consideráveis ​. Se o preço é variável para os grupos de cidadãos de modo a que não
corresponda às diferenças nas preferências dos cidadãos, então o custo privado pode ser
maior ou menor do que o custo social. Além disso, se o preço varia entre os grupos de cidadãos
que reflectem os seus diferentes graus de procura, em seguida, cada cidadão teria um
incentivo para distorcer as suas preferências. Enquanto o problema do carona cria problemas
fundamentais para a atribuição de bens públicos e bens comuns de mercado, o problema da
distorção de preferências está no cerne do fornecimento de bens sujeitos a taxas.”
A TEORIA DOS BENS PÚBLICOS
Pode a análise institucional, a Nova Economia Institucional por exemplo,
fornecer ferramentas para contornar essas dificuldades e fornecer caminhos
mais seguros para a definição e aplicação do conceito de bens colectivos?
De qualquer forma o que seguramente se pode adiantar é que esta não é uma
tarefa fácil, mas é absolutamente necessária. Samuelson expressa-se assim a
respeito da sua “criação”:
“Devemos deixar para outros tempos e outras estrelas a exploração desse
momento decisivo de coalizão da tomada de decisões que fazem parte da
essência do processo político. Para o teórico, a teoria das finanças públicas é
parte da teoria geral do governo. E, neste fronteira, as fórmulas simples da
economia clássica não vão iluminar longamente o nosso caminho”
A TEORIA DOS BENS PÚBLICOS
O desafio dos bens coletivos foi interpretado por Davis e Whinston no seu artigo
clássico, “On the Distinction Between Public and Private Goods”, de 1967, como
sendo a procura pelo arranjo institucional adequado para a provisão adequada
dos bens e serviços. A consideração central para estes autores é a seguinte:
“Em termos de comportamento, o problema parece ser muito mais complicado e rico do que o
indicado pela matemática simples. Em causa está o facto de que pagando o preço não dá um
controle do bem. Em vez disso, o acto de pagar o preço é, de alguma forma, separado do acto de
consumo.”
Para eles as falhas de mercado podem ser um produto de arranjos institucionais
inadequados.
As condições necessárias para que o mercado funcione seriam, em primeiro
lugar, algum tipo de propriedade e direitos de propriedade.
A TEORIA DOS BENS PÚBLICOS
A definição de direitos de propriedade afecta a maneira como as trocas
são feitas e como o mercado funciona.
O segundo ponto está diretamente relacionado com o primeiro, as
questões relativas aos direitos de propriedade especificam o “controlo”
sobre os bens e serviços.
O controlo é o que dá acesso ao consumo desse bem e serviço.
O terceiro ponto, dados os dois acima, diz respeito à possibilidade de
exclusão.
A TEORIA DOS BENS PÚBLICOS
Para esses autores o peso dado por Samuelson na caracterização do bem
colectivo recai principalmente sobre a natureza tecnológica do bem:
“O importante aqui é que as considerações tecnológicas podem determinar parcialmente
arranjos institucionais que são viáveis. A viabilidade de várias disposições institucionais
certamente têm influência na determinação do que é especial para ser selecionado como
o mais adequado. Desde que a tecnologia mude ao longo do tempo, pode-se esperar que
as instituições devam ser alteradas em conformidade.”

Nesse aspecto os autores estão de acordo. A divergência entre Davis e Whinston


em relação a Samuelson fica patente quando este ressalta a importância da
abordagem walrasiana e do critério paretiano de otimização.
A TEORIA DOS BENS PÚBLICOS
Davis & Whinston argumentam:
“A consequência da falta de arranjos institucionais viáveis ​para satisfazer ambas as condições
necessárias e suficientes para óptimo de Pareto em sistemas que incluem bens públicos é a
percepção de que a escolha institucional envolve a comparação de arranjos alternativos que
são necessariamente não-ótimos no sentido de Pareto. O problema não é escolher as
posições óptimas de Pareto que alguém considere eticamente desejável. Em vez disso, o
problema é escolher, a partir de um conjunto viável de arranjos institucionais, uma especial
que seja a melhor ou mais adequada alocação do bem em questão.”

Assim, a abordagem usual da teoria económica para identificar que bens e


serviços devem ser fornecidos pelo Estado e quais os que devem ser fornecidos
pela iniciativa privada está sujeito a uma “fluidez” que depende muito mais das
condições específicas dos arranjos institucionais envolvidos do que da natureza
específica dos bens e serviços.
A TEORIA DOS BENS PÚBLICOS
Postular o critério de optimização de Pareto, para a adequada provisão dos bens
de consumo colectivos, parece não ser adequado porque sempre que eles
estiverem presentes as condições de os atender não estarão.
O problema é, portanto, outro:
“Deve-se considerar as características reais de operação de todas as modalidades
alternativas. O problema da escolha institucional muitas vezes envolve a
comparação de problemas alternativos de segunda melhor opção, que
caracterizam as possibilidades disponíveis.”
Os autores, a partir dessas considerações, tentam mostrar que os bens
colectivos poderiam ser providos, dadas as suas características tecnológicas,
não necessariamente pelo Estado.
A TEORIA DOS BENS PÚBLICOS
A questão de fundo está relacionada com as possibilidades de construções
institucionais alternativas e da possibilidade dos agentes económicos escolherem
aquela que melhor defende os seus interesses.
Isto acaba por remeter a outra questão, que será desenvolvida noutro momento,
da “legitimidade” do arranjo institucional para com os agentes envolvidos:
◦ Por exemplo, um Estado não será reconhecido como tal se não for capaz de prover
a Defesa Nacional, mas, por outro lado, pode ter a sua “legitimidade”
questionada se não for capaz de manter uma estrada em condições de circulação.
No entanto, a provisão privada de uma rodovia pode ter a sua “legitimidade”
questionada se os cidadãos entenderem que o preço da portagem cobrada é
abusivo.
A TEORIA DOS BENS PÚBLICOS
Os Bens Públicos e as Falhas do Sistema de Mercado
Em economia, bem público é um bem não-rival e não-exclusivo
Há ainda, uma característica de indivisibilidade, o que faz com que todo
indivíduo tenha acesso à mesma disponibilidade do bem público
Um bem público não é necessariamente um bem provido pelo Estado
O fornecimento de bens públicos pelos entes privados é de difícil
implementação
◦ a análise do custo-benefício é complicada
◦ a dificuldade em restringir a utilização destes bens torna o seu financiamento quase
impossível
A TEORIA DOS BENS PÚBLICOS
Um bem público puro, é aquele cujo consumo não é rival e cuja exclusão não é
desejável (por oposição aos bens privados)
Um dos argumentos mais utilizados como tentativa de justificar o
intervencionismo do Estado no processo de mercado é a alegação de que se
tornam necessárias as correcções, por parte do poder público, das imperfeições
e falhas apresentadas pela economia de mercado livre
Os percursores do mercado livre tentam mostrar que o referido argumento peca
duplamente:
◦ primeiro, pela sua falaciosidade e,
◦ segundo, pela sua perigosidade
A TEORIA DOS BENS PÚBLICOS
A crítica da Escola Austríaca, a respeito da utilização da justificação das "falhas
de mercado" para a intervenção do Estado, fundamenta-se em duas
proposições básicas:
i. Que a maioria dessas falhas, quando estudadas criteriosamente, revelam-se
resultantes de defeitos extra mercados, de natureza institucional;
ii. Que, quando ocorrem de facto “falhas de mercado”, elas tendem a ser
amplificadas (e não eliminadas), em consequência da intervenção
estatal.
O uso da própria expressão "falhas de mercado", deixa subentendido que as leis
do mercado são meios a usar para a obtenção de certos fins
Esses fins costumam ser divididos em "técnicos" e "sociais".
A TEORIA DOS BENS PÚBLICOS
“Falhas Técnicas”
Externalidades:
◦ Bens públicos 
◦ Efeito-vizinhança
(donde resultam divergências entre os custos privados e os custos sociais)

“Falhas Sociais”
Críticas aos interesses individuais
Manipulação dos consumidores
Imoralidade dos lucros capitalistas
A TEORIA DOS BENS PÚBLICOS
Falhas Técnicas
Os bens públicos ou de consumo colectivo são definidos como aqueles que geram
benefícios para todos, mas cujos custos não podem ser distribuídos, porque não
se pode excluir do consumo os indivíduos que se recusam a pagar por eles.
A diferença mais importante entre os bens públicos e os demais é que os
benefícios que eles geram, ao não poderem ser alocados aos beneficiários de
acordo com algum princípio económico, devem ser objecto de decisões políticas,
o que significa que o Estado é quem os deve produzir, com financiamento por
via da tributação, do acréscimo da inflação ou da dívida interna ou externa.
A TEORIA DOS BENS PÚBLICOS
Limites à Definição de Bens Públicos
James Buchanan
Argumenta que o tratamento teórico convencional para o caso desses bens é
incorrecto, já que não dá a devida importância ao papel que a estrutura legal
pode desempenhar, relativamente à protecção aos direitos individuais e ao
cumprimento dos contratos.
Muitas das alegadas falhas de mercado podem ser melhor explicadas através da
actuação do Estado, devido à sua própria incapacidade de definir e proteger
eficientemente os direitos de propriedade.
Em muitos casos, a necessidade do Estado produzir e administrar a distribuição
de bens colectivos desapareceria.
A TEORIA DOS BENS PÚBLICOS
Von Hayek
Reconhece como exemplos óbvios de bens públicos a protecção contra a violência,
epidemias, enchentes e avalanches, por exemplo, mas não considera as estradas,
padrões de medidas, mapas, registos de  terras e certificados de qualidade, que podem
ser produzidos pelas forças de mercado
Assume a necessidade de alguma forma de coerção, no caso de bens realmente
colectivos, a qual emerge porque muitos indivíduos não desejariam contribuir
voluntariamente para a provisão  desses bens
Enfatiza que a alocação centralizada de recursos não deve ser conduzida de modo a
prejudicar o funcionamento da ordem espontânea de mercado
Sugere que a provisão de bens públicos, seja conduzida pelo sector privado.
A TEORIA DOS BENS PÚBLICOS
Rothbard
Questiona o próprio conceito de bem colectivo, qualificando-o como bastante
duvidoso
A conclusão de Rothbard é que apenas bens como o ar — em que,
indubitavelmente, não existe qualquer rivalidade no consumo — podem ser
classificados como públicos e para os quais a questão de quem deve conduzir a
sua produção e alocação — se o governo ou o mercado — simplesmente é fora
de propósito.
Para além disso, ele conclui que não existem argumentos sustentáveis a favor da
intervenção do Governo para corrigir "externalidades" de qualquer tipo.
A TEORIA DOS BENS PÚBLICOS
Fenómenos como a poluição de lagos e rios, praias, fumos expelidos por
chaminés, ruído, congestionamento de tráfego, bem como o caso de um
fazendeiro que vê parte da sua produção de frutas destruídas pelas abelhas
criadas na fazenda de um vizinho, constituem casos de externalidades,
geralmente denominadas de "efeito-vizinhança" ou "efeito-derramamento" a
que Mishan designou como "bads" (que pode ser traduzido como "incómodos").
Quando esses efeitos ocorrem, eles geram "custos sociais", o que tem levado
muitos críticos do livre mercado a argumentarem a favor da intervenção do
Estado, no sentido de punir os responsáveis pela produção de "bads", seja
proibindo a sua produção, seja tributando-os, de modo a compensar as vítimas,
ou criando legislação no sentido de que os custos gerados para terceiros sejam
"internalizados".
A TEORIA DOS BENS PÚBLICOS
No entanto, há que tomar cuidado com essas pretensas soluções.
A simples proibição da produção de bens cuja produção cause incómodos a
terceiros pode, além de exigir mais burocracia, impedir que bens necessários
(isto é, para os quais existe demanda) deixem de ser produzidos, o que
prejudicaria os consumidores.
A imposição de um imposto sobre a produção esbarra na dificuldade de se
calcular correctamente os custos, ou seja, os valores dos prejuízos gerados
sobre terceiros, além de, evidentemente, não se aplicar aos casos – bastante
frequentes – em que as externalidades são provocadas pelo próprio Governo
ou pelas suas empresas, ou por empresas privadas por ele contratadas.
A TEORIA DOS BENS PÚBLICOS
Por fim, a tentativa de obrigar os produtores de "bads" a internalizarem as
externalidades negativas por eles provocadas quando não faz com que a
produção desses bens desaparecer, tende a elevar os preços desses produtos,
colocando-os fora do alcance dos consumidores mais pobres.
Torna-se, assim, preferível uma quarta solução, que é o estabelecimento de
direitos de propriedade correctos.
A TEORIA DOS BENS PÚBLICOS
Na tradição da Escola Austríaca não se tem dedicado a mesma atenção ao
"efeito-vizinhança" como a que é dedicada aos "bens públicos:
◦ Isto é assim porque, segundo a sua perspectiva, os primeiros não devem ser encarados como
falhas de mercado, mas sim como problemas causados por falhas do Governo, uma vez
que, em última instância, resultam de invasões da propriedade privada, isto é, de algo que
o Estado tem o dever de impedir, na medida em que ele existe exactamente para garantir
os direitos individuais básicos, nos quais se incluem os direitos de propriedade.
Conforme observou Rothbard:
◦ "o remédio é a acção judicial para punir e proscrever os danos à pessoa e à propriedade
provocados pela poluição".
◦ A poluição do ar, portanto, não se constitui numa falha ou defeito do sistema absoluto de
propriedade privada – e, portanto, de livre mercado – mas numa demonstração de
incompetência por parte do Estado, ao não conseguir preservar os direitos de propriedade.
A TEORIA DOS BENS PÚBLICOS
Os intervencionistas costumam acreditar que as propaladas falhas de mercado
são corrigíveis mediante acções do poder público.
No entanto, ao fazer com que a alocação de recursos passe a depender mais de
forças políticas do que de factores económicos, o intervencionismo tende a
produzir resultados que, além de serem de dificílima previsão, devido à
imprevisibilidade dos custos associados às decisões burocráticas inerentes aos
processos de disputa política, tendem a ser irracionais, na justa medida em que
elevam os custos sem resolver os problemas.
Alguns críticos da liberdade económica contestam o postulado da teoria
económica segundo o qual os mercados espelham correctamente as
preferências dos consumidores, sugerindo que estas são criadas e manipuladas
pelas grandes empresas
A TEORIA DOS BENS PÚBLICOS
A resposta a este argumento pode ser dada com dois contra-
argumentos:
Se uma grande empresa lançou um novo produto e ele foi aceite
pelos consumidores, o que nos garante que, caso o produto não
tivesse sido lançado, os consumidores estariam em melhor
situação?
Além disso, se os dados de mercado não são suficientes para reflectir
as preferências dos consumidores, os desejos dos burocratas sê-lo-
ão?
A TEORIA DOS BENS PÚBLICOS
Outro argumento utilizado pelos inimigos do livre mercado, com o intuito de
tentar mostrar que um mecanismo movido pelos interesses individuais pode
ser autodestrutivo é o do "dilema do prisioneiro",
A partir de uma situação teórica, os intervencionistas concluem que os
indivíduos podem ser, de alguma forma, manipulados ou dirigidos por um
"policy-maker", que os direcionará para os seus "melhores" interesses próprios.
Trata-se, como vemos, de mais um exemplo do racionalismo construtivista que
caracteriza os intervencionistas: supor que os tecnocratas, sendo
obviamente mais racionais que todos os participantes do mercado, seriam
capazes de, mediante impostos e subsídios apropriados, direccionar as escolhas
dos agentes económicos, de modo que o "melhor" resultado colectivo seja
alcançado.
A TEORIA DOS BENS PÚBLICOS
A resposta da Escola Austríaca, baseada na subjetividade das
preferências individuais, é que não existe qualquer possibilidade de
alguém – um tecnocrata, especificamente – julgar que o
comportamento de outrem seja "irracional".
As escolhas subjectivas dos agentes económicos não podem ser
questionadas.
Isto, no entanto, não impede, como sugeriu Buchanan, que,
mediante mudanças institucionais convenientes, a comunicação e a
disseminação de conhecimento entre os participantes do mercado
sejam melhoradas.
A TEORIA DOS BENS PÚBLICOS
A Escola Austríaca contesta a chamada "economia do bem-estar",
derivada de Pareto, pelo facto de que as suas recomendações são
mais apropriadas para uma economia centralmente planificada ou
para um despotismo benevolente do que para uma ordem Nomos-
Cosmos, que caracteriza o liberalismo.
O conceito austríaco de "eficiência" difere do neoclássico, por
verificar a eficiência a partir de acções individuais, em que os
próprios indivíduos interessados são os melhores juízes para julgar o
que são falhas e o que não são.
A TEORIA DOS BENS PÚBLICOS
Falhas Sociais
Uma das críticas correntes contra o liberalismo é que o seu sistema económico
baseado na propriedade privada estimula o egoísmo.
A economia, no entanto, não tem relação com os fins já que, como a Escola
Austríaca releva, ela é uma ciência de meios e não de fins.
O problema é que os homens, ou a maioria deles, comporta-se de forma
egoísta, seja nos regimes livres, seja nos autoritários.
Nenhum autor liberal jamais exigiu, ao defender o livre mercado, que os
homens fossem egoístas: apenas, que eles não precisam ser altruístas para que
o mercado funcione com claras vantagens sobre o planeamento.
A TEORIA DOS BENS PÚBLICOS
Lucas, a esse respeito, observou que o mercado livre é o sistema no qual os
homens maus podem provocar menos mal.
O próprio Keynes, um dos principais mentores do intervencionismo económico,
escreveu, na sua "Teoria Geral", que "é melhor que um homem possa exercer
tirania sobre a sua conta bancária do que sobre seus próximos".
Alguns críticos, nomeadamente John Kenneth Galbraith — que se notabilizou
escrevendo livros e proferindo "palestras-shows" criticando o capitalismo –
disseminaram a estranha ideia que as preferências individuais não seriam
suficientes para permitir que os agentes económicos pudessem conhecer suas
"reais" necessidades, o que os levaria a serem "manipulados" pelas "grandes
empresas", ávidas de lucros.
A TEORIA DOS BENS PÚBLICOS
Von Hayek contra-argumenta que, se rejeitássemos todas as necessidades que
são "criadas" no mundo moderno, melhor seria vivermos à parte, como
eremitas, sem televisões, aparelhos de ar condicionado, videocassetes,
telefones e tudo aquilo que, há cerca  de cem anos, não existindo, não
representava de facto necessidades nossas: "Benditos manipuladores"!
Além disso, quem pode, em sã consciência, dizer-nos quais são as nossas "reais"
necessidades? Galbraith? Algum planeador genial (que, aliás, está para nascer)?
Ou cada um de nós, subjectivamente, de posse de nossa liberdade de escolha?
A TEORIA DOS BENS PÚBLICOS
A crítica de Rothbard a Galbraith é no sentido de que não há qualquer vantagem
nas intervenções governamentais com vista a mostrar-nos os nossos
verdadeiros interesses, uma vez que os resultados dessas tentativas não podem
passar pelos testes de mercado.
Assim, por exemplo, os "comerciais" divulgados na televisão pelo Governo,
embora não sejam considerados por Galbraith como criadores de necessidades
"novas", não deixam aos consumidores a alternativa de testar via mercado os
novos produtos, que serão produzidos, caso os consumidores desejem adquiri-
los ou não.
O ponto central da crítica de Rothbard é que Galbraith não conseguiu distinguir
entre satisfazer uma nova necessidade e induzir os consumidores a novas
necessidades.
A TEORIA DOS BENS PÚBLICOS
A imoralidade dos lucros capitalistas tem sido outro argumento bastante usado
para combater o capitalismo democrático.
As suas origens remontam a Aristóteles, passam por uma interpretação errada
das doutrinas dos escolásticos sobre o "preço justo", ganham corpo com Hegel
e Marx e atingem a mídia com diversos intelectuais do século XX, como Shaw,
Wells, Orwell, Russell, Sartre e tantos outros.
O que deve ser compreendido é que não há, numa economia de mercado, onde
não existam barreiras legais à competição, qualquer indício de imoralidade nos
lucros, desde que os empresários ofereçam aos consumidores algo que eles
desejam comprar; se isso não acontecer, eles incorrerão em prejuízo.
A TEORIA DOS BENS PÚBLICOS
De facto, numa economia de mercado, os lucros são obtidos pelos
empreendedores que, correndo riscos e através do processo de descoberta,
conseguem atender os consumidores, que são, em última instância, os que
comandam o processo.
Se, no entanto, os mercados, não sendo livres, são marcados pela existência de
"cartórios", devemos atribuir a imoralidade dos lucros resultante não aos
mecanismos de mercado, mas à ausência destes, isto é, à existência de
legislação impeditiva da competição, o que significa que devemos imputar a
imoralidade resultante não ao mercado, mas ao Estado, que é o responsável
pela legislação.
A TEORIA DOS BENS PÚBLICOS
“O liberalismo não pode dar certo porque os nossos mercados são de
concorrência imperfeita";
“Não adianta o Banco Nacional manipular a política monetária, porque os
oligopólios repassam para os preços os aumentos dos seus custos financeiros";
"o Governo não pode deixar de controlar os preços dos oligopólios", etc.
Dezenas de frases como estas têm sido largamente utilizadas para combater o
liberalismo.
No entanto, o subtítulo de uma secção de "A Constituição da Liberdade", de Von
Hayek, é, paradoxalmente, "Monopólio e Outros Problemas Menores“!
A TEORIA DOS BENS PÚBLICOS
À primeira vista, poderá perguntar-se se os liberais são pessoas ingénuas, na
medida em que constroem as suas teorias sobre bases irrealistas. Na verdade,
existe um grave equívoco na afirmação de que a Escola Austríaca "baseia" os seus
estudos de mercado no modelo de concorrência perfeita.
Foram os teóricos da Escola Austríaca os primeiros a afirmar que esse modelo não
corresponde ao mundo real, em decorrência do irrealismo das suas hipóteses:
◦ Nem a absoluta homogeneidade dos produtos, nem a informação perfeita por parte
dos consumidores são hipóteses plausíveis, se desejamos explicar o mundo real.
◦ Tampouco o é a suposição de que, existindo um grande número de vendedores, cada
um deles não tem capacidade de influir nos preços, pois isto equivale a afirmar que o
preço é formado sem a sua participação, o que é falso.
A TEORIA DOS BENS PÚBLICOS
O que a análise da Escola Austríaca utiliza como suporte para suas teses é o
corolário, deduzido da teoria do valor, de que os preços sobem e baixam de
acordo com a utilidade marginal do produto que está sendo negociado no
mercado.
Com efeito, isto basta-nos para deduzirmos que há uma tendência ao equilíbrio
entre oferta e a procura sem que tenhamos que recorrer a qualquer modelo
específico e fictício, como são os de concorrência perfeita, monopólio,
oligopólio e concorrência monopolística, analisados nos textos convencionais
de "microeconomia".
A existência de monopólio num mercado qualquer não acaba com o factor mais
importante desse mercado, que é o processo de descoberta.
A TEORIA DOS BENS PÚBLICOS
Uma das consequências da visão dos monopólios como uma
aberração do livre mercado é acreditar que eles podem ser
"corrigidos" ou "controlados" pelo Governo.
O que o governo deve fazer é, apenas:
1º) encorajar a competição e
2º) colocar ordem na sua própria casa, abstendo-se de
criar monopólios e favorecer oligopólios.
A TEORIA DOS BENS PÚBLICOS
Rothbard reduziu as diversas definições de monopólio a apenas três:
A primeira refere-se à existência de um só vendedor para um dado produto, que
esbarra no problema de ser exageradamente abrangente, induzindo à
consideração de monopolistas os produtores de todos os bens que apresentem
alguma diferenciação, o que, convenhamos, não é uma hipótese plausível.
A segunda procura sugerir que existem monopólios nos mercados em que se
praticam "preços de monopólio", estabelecidos quando o vendedor, percebendo
que a curva de demanda é inelástica no  ponto do preço competitivo, restringe as
vendas e aumenta o preço, para maximizar a receita.
A terceira, que estabelece que só se pode dizer que existem monopólios quando
são concedidos privilégios, directos ou indirectos: sendo o criador dos
monopólios, portanto, o Estado.
A TEORIA DOS BENS PÚBLICOS
O ponto curial é, então, que não existem monopólios invulneráveis, a
não ser que eles sejam protegidos pelo Estado.
As causas comumente apontadas como
geradoras de monopólios têm a
característica comum de serem
temporárias:
o que gera os monopólios não é o
capitalismo, nem a livre competição, mas
sim o Estado.
A TEORIA DOS BENS PÚBLICOS
Na verdade, há vários factores anti monopolísticos:
a) a elasticidade da procura, que tende a aumentar à medida que o livre
mercado se desenvolve e que surgem substitutos para os produtos;
b) a concorrência potencial, que se estabelece quando um negócio é bem
sucedido;
c) o factor competitivo permanente, isto é, o facto de que todos os produtores
(de todos os produtos) competirem ininterruptamente pelo dinheiro dos
consumidores;
A TEORIA DOS BENS PÚBLICOS
d) os limites existentes à expansão do tamanho das empresas, impostos pela
dificuldade de realização de todos os cálculos económicos inerentes aos
processos de mercado, que é tanto maior quanto mais extensos são esses
mercados;
e) a lei dos rendimentos decrescentes, que impõe uma dimensão óptima às
estruturas de custos das empresas, além da qual os rendimentos passam a ser
decrescentes à medida que as empresas se expandem, o que limita a formação
dos tão temidos "cartéis", pelas perdas que acarretariam e
f) a abertura económica, que se constitui em factor bastante limitativo à
formação de "preços de monopólio", dado que aumenta sensivelmente as
possibilidades de escolha dos consumidores, aumentando assim a elasticidade
da procura.
A TEORIA DOS BENS PÚBLICOS
Todos os factores limitativos à perpetuação dos monopólios nas economias de
mercado permanecem, por maioria de razão, quando falamos em oligopólios e
"cartéis".
Na verdade, só há duas possibilidades que podem tornar invulneráveis os
monopólios, oligopólios e "cartéis":
◦ A primeira, são as leis que os criam, as tarifas que os protegem e os subsídios que os
sustentam
◦ A segunda, é o socialismo que, conforme observou Rothbard, equivale a um cartel
enorme, organizado e controlado coercivamente pelo Estado.
Sob o ponto de vista da Escola Austríaca, portanto, não são os monopólios,
oligopólios e "cartéis" que devem ser combatidos, mas sim a legislação que
bloqueia a competição.

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