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Universidade Eduardo Mondlane

Faculdade de Letras e Ciências Sociais

Departamento de Administração Publica e Ciência Politica

GESTÃO DE FINANÇAS PÚBLICA

Eduardo Jossias Nguenha


Fernando Tomé Jone
Ibraimo Achimo Anly

2014

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ÍNDICE

UNIDADE 1: INTRODUÇÃO À GESTÃO DE FINANÇAS PÚBLICAS

1.1 Breve Historial sobre Finanças Públicas


1.2 Conceito de Finanças Públicas
1.3 Objectivos e Objecto de Estudo de Finanças Públicas
1.4 Interdisciplinaridade

UNIDADE 2: RECEITA PÚBLICA

2.1 Conceito e Classificação da Receita Pública


2.2 Tributação: Conceitos e Princípios Teóricos
2.3 Aspectos Económicos e Sociais da Tributação
2.4 Sistema tributário Moçambicano

UNIDADE 3: DESPESA PÚBLICA

3.1 Conceito e Classificação da Despesa Pública


3.2 A Função Económica e Social da Despesa Pública
3.3 Determinantes da Despesa Pública

UNIDADE 4: ORÇAMENTO DO ESTADO

4.1 Conceito, Objectivos e Funções do Orçamento


4.2 Princípios e Regras Orçamentais
4.3 Tipologias do Orçamento Público
4.4 Estrutura do Orçamento Público
4.5 O Ciclo do Processo Orçamental

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INTRODUÇÃO AO MÓDULO
As finanças públicas constituem uma parte fundamental de qualquer estado e sistema governativo, e da sua
administração pública. Através das finanças públicas, ou seja, dos tributos e despesas, cada estado transforma riqueza
privada em riqueza pública ou colectiva, e em bens e serviços para a população. Esta disciplina examina os princípios da
gestão financeira quando aplicados ao sector público, com um enfoque particular nos ciclos, instituições e processos de
orçamentação, das receitas e despesas públicas, políticas e sistemas de planeamento e monitoria das finanças públicas,
e dos seus efeitos sobre a economia e o desenvolvimento socioeconómico. Usando uma abordagem comparativa, a
disciplina proporciona uma análise crítica dos sistemas de gestão das finanças públicas em Moçambique.

Objectivos do Módulo
Objectivo Geral
A disciplina de Gestão de Finanças Públicas e Procurement pretende transmitir
conhecimentos teóricos e práticos sobre a actividade econômica e financeira do Estado,
bem como ferramentas de análise das Finanças Públicas e da prática de Procurement
público.

Objectivos Específicos
No final da disciplina o estudante o estudante deverá ser capaz de:

Compreender os fundamentos da intervenção do Estado na Economia, seus


objectivos e funções;
Identificar e explicar a forma e os instrumentos de intervenção do Estado na
Economia;
Compreender e explicar os argumentos e os factores determinantes do tamanho
do sector público;
Identificar, compreender e explicar as fontes de recursos;
Identificar, compreender e explicar a despesa pública e os mecanismos da sua
efectivação, particularmente o procurement público;
Compreender, analisar e interpretar a estrutura e o processo de elaboração do
Orçamento Público (Orçamento do Estado), particularmente o de Moçambique;
Compreender o sistema fiscal moçambicano; e
Entender aspectos da descentralização financeira e da reforma fiscal de
Moçambique.

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Recomendações para o estudo
Inclua aqui alguns parágrafos curtos
para aconselhar os alunos a planear o
seu tempo, dê dicas sobre tomada de
notas, como estudar em regime à
distância, etc.

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Unidade nº I

INTRODUÇÃO À GESTÃO DE FINANÇAS PÚBLICAS

1.1 Breve Historial sobre Finanças Públicas


Depois de longos períodos de argumentos a desfavor da intervenção do Estado na economia e que caberia ao Estado um
papel modesto de prestação de apenas alguns serviços essenciais à colectividade, tais como a justiça e a segurança, o
papel do Estado evoluiu a partir dos anos 30 do século XX. A grande crise económica que se verificou na década de 30
demonstrou que ao Estado cabe, e muitas das vezes só a ele cabe, muitos papéis na economia. Assim, o papel do Estado
na economia modificou-se substancialmente, passando, por exemplo para esfera do combate da inflação ou do desemprego.

Por outro lado, as “injustiças” do mercado consubstanciadas na desigual distribuição de recursos e de oportunidades de
acesso à riqueza ou mesmo de exclusão social, entre outras formas, fundamentam o consenso sobre o vital papel do Estado
na economia.

As atribuições do Estado na economia são estruturadas em três grandes categorias, segundo Musgrave (1989):

Promover a eficiência na afectação de recursos;


Promover a equidade através da redistribuição da renda; e
Manter a estabilidade económica.

Para o Estado realizar aquelas três funções precisa de recursos financeiros. Portanto, o papel do Estado na economia para
promover a alocação de recursos, promover o bem-estar social e manter a estabilidade económica, fundamenta a cobrança
de impostos às pessoas singulares (pessoas físicas) e às empresas (pessoas jurídicas/colectivas).

1.2 Conceito de Finanças Públicas

Designa-se por Finanças Públicas ao exercício de obtenção e aplicação de recursos económicos e financeiros pelo Estado
para realizar actividades com a finalidade de satisfazer as necessidades colectivas.

A expressão finanças públicas envolve três acepções, designadamente (Waty, 2004):

(a) Orgânica. Neste sentido, a expressão finanças públicas significa instituição do Estado competente para captar e/ou
gerir recursos financeiros do Estado.
(b) Objectiva. A expressão significa actividade de obtenção e afectação de recursos públicos para satisfação das
necessidades colectivas.
(c) Subjectiva. Referindo-se à disciplina ou ramo de conhecimento económico que estuda os princípios e leis que
regem a actividade do Estado. É esta acepção que corresponde o nosso enfoque no estudo de Finanças Públicas.

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1.3 Objectivos de Estudo de Finanças Públicas

O objectivo das Finanças Públicas é o estudo de aspectos que envolvem a obtenção e utilização, pelo Estado, de recursos
económicos tendo em vista promover a eficiência na afectação e equidade no benefício da despesa.

1.4 Interdisciplinaridade

As Finanças Públicas têm natureza interdisciplinar pois situam-se na confluência das abordagens da ciência económica, da
ciência política e do direito. Com efeito:

O seu objecto de estudo é comum ao da economia na medida em que considera, no âmbito do sector público, as
questões fundamentais: o que produzir, como produzir, para quem produzir e onde produzir;
A resposta às questões económicas acima, envolve um processo político relativamente complexo. Neste âmbito, a
ciência política é importante pois ajuda a compreender as escolhas colectivas em regime democrático;
A actividade financeira do Estado, que envolve a obtenção e afectação de recursos é tipicamente delimitada por
uma lei.
A resposta que uma sociedade democrática dá aos problemas acima referidos por vezes está imbuída duma racionalidade
predominantemente económica, outras vezes uma racionalidade puramente política e frequentemente existe uma mistura de
razões de natureza económica e política.

Objectivos da Unidade
Quando terminar o estudo desta unidade você será capaz de:
Conhecer a origem das Finanças Públicas;
Distinguir as três acepções das Finanças Públicas
Estabelecer relações entre as Finanças Públicas e outras áreas de
conhecimento

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Saber mais
Para mais informações consulte:
- MUSGRAVE, R.; MUSGRAVE, P. (1989). Public Finance in Theory and
Practice, 5a ed. McGraw-Hill, New York – sobre os objectivos das Finanças
Públicas.

WATY, T. A. (2004). Direito Financeiro e Finanças Públicas, Maputo – sobre as


várias acepções e a interdisciplinaridade de Finanças Públicas.

- PEREIRA, T.; AFONSO, A.; ARCANJO, M.; SANTOS,


J. C. (2005). Economia e Finanças Públicas. Editora Escolar. Lisboa – sobre a
origem das Finanças Públicas.

Reflexão
Por quê se considera que a actividade financeira do Estado, consubstanciada na
cobrança de receitas para a satisfação das necessidades colectivas é uma forma
de intervenção do Estado na economia?

Resumo
As Finanças Públicas são uma área de conhecimento dedicada ao estudo da
actividade financeira do Estado. Esta consiste da mobilização de recursos para
financiar os grandes objectivos de promoção da eficiência económica, da
equidade através da redistribuição da riqueza e a estabilidade macroeconómica.

As Finanças Públicas têm profundas relações com a economia, ciência política e


direito, no entanto outras relações se mantêm entre as Finanças Públicas e outras
ciências sociais como por exemplo sociologia e antropologia.

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Tarefas
Atente as afirmações que se seguem e indique a que refere a cada uma das
acepções das Finanças Públicas, se se trata de Finanças Públicas no sentido (a)
orgânico; (b) objectivo; ou (c) subjectivo:

1. Este mês o Carlos Eduardo iniciou as lições de Finanças Públicas.

2. A filha da Professora Ana Maria de Fátima trabalha nas Finanças.

3. Este semestre o João Carlos não se inscreveu ao módulo devido à


problemas de Finanças.

Auto-avaliação
Se as pessoas individualmente possuem recursos que as possibilitam satisfazer as
suas necessidades por quê, então, se justifica a actividade financeira do Estado?

Chave de correcção
1. (c) Finanças Públicas na acepção subjectiva, como ramo de
conhecimento.

2. (a) Finanças na acepção de órgão, de sector cujas atribuições são de


gerir os recursos institucionais ou do Estado.

3. (b) Finanças no sentido objectivo, de recurso financeiro.

Bibliografia Complementar
RIBEIRO, J. (1995). Lições de Finanças Públicas, 5ª ed. Coimbra Editora.
Coimbra

- SOUSA-FRANCO, A. (1999). Finanças Publicas e Direito Financeiro, vol. I & II.


Coimbra: Almedina.
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Unidade nº 2

RECEITA PÚBLICA

2.1 Conceito e Classificação da Receita Pública


Conceito

A receita pública representa, de modo geral, todos os ingressos de recursos nos cofres públicos. Mas nem todo ingresso
poderá ser utilizado pelo Estado para atender às despesas públicas. É o caso das cauções, garantias, depósitos etc.,
chamados de RECEITA PÚBLICA EXTRAORÇAMENTÁRIA, pois tem carácter devolutivo e são de carácter transitório.
Assim, em sentido amplo, receitas públicas são ingressos de recursos financeiros nos cofres do Estado, que se
desdobram em receitas orçamentárias, quando representam disponibilidades de recursos financeiros para o erário, e em
ingressos extra orçamentários, quando representam apenas entradas compensatórias. Em sentido estrito, são públicas
apenas as receitas orçamentárias.
2.1 Conceito, Classificação e Estrutura da Receita Pública

Constituem receitas públicas, todos os recursos monetários ou em espécie, seja qual for a sua fonte ou natureza, postos à
disposição do Estado, com ressalva daquelas em que o Estado seja mero depositário. A receita do Estado é constituída
essencialmente pelas receitas fiscais, receitas não fiscais incluindo receitas próprias, receitas consignadas e as receitas de
capital (MOÇAMBIQUE, Lei nº 9/2002 de 12 de Fevereiro)1.

Classificação e Estrutura da Receita Pública

A classificação a seguir enfoca aspectos referentes aos ingressos da Receita no património do Estado.

a) Quanto à Inclusão no Orçamento ou Natureza


Orçamentária:
Compreende os ingressos financeiros nos cofres públicos sem restituição. As receitas orçamentárias são previstas
no orçamento compreendendo tudo que o ente pretende arrecadar no próximo ano (impostos, taxas,
contribuições).
Extra orçamentário:
Compreende os ingressos financeiros nos cofres públicos com restituição futura. As receitas extra orçamentárias
não são incluídas no orçamento pois além de imprevisíveis têm carácter transitório, extemporâneo, não podendo
ser utilizados pelo Estado na sua programação normal de despesas (garantias, cauções etc.).
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b) Quanto à Origem ou Coercibilidade
Originárias
Também chamadas de patrimoniais, de economia privada ou de direito privado, surgem da exploração do
património pública. Elas não dependem de autorização legal e podem ocorrer a qualquer momento e, por
serem contratuais, fica o Estado em “pé de igualdade com o particular”. São receitas oriundas da exploração
do património mobiliário ou imobiliário, ou do exercício de actividade económica, industrial, comercial ou de
serviços, pelo Estado ou suas entidades, como as de alugueres, de juros (resultante da aplicação financeira de
recurso público), dividendos etc. Na obtenção destas receitas não é utilizado força, coerção ou o poder de
império do Estado pois são arrecadadas em função de negociações realizadas com o particular.

Derivadas
Também chamadas de não patrimoniais, de economia pública ou de direito público, são cobradas pelo Estado
por força do seu poder de império ou coação, sobre relações económicas das pessoas físicas ou Jurídicas ou
sobre seus bens. Por serem obrigatórias não há negócios, contratos ou ajustes. O cidadão deve pagar
simplesmente porque tem capacidade contributiva. Já o Estado, ao arrecadar, o faz em nome da colectividade,
consubstanciando a supremacia do interesse público sobre o particular.

c) Quanto à Regularidade ou Periodicidade

Ordinárias
Apresentam certa regularidade na sua arrecadação, sendo transformadas como norma pela Constituição ou
por leis específicas o que lhes dá um carácter permanente. Exemplos: arrecadação de impostos,
transferências recebidas do Fundo de Participação dos Estados e do Distrito Federal etc.

Extraordinárias
São aquelas que representam ingressos acidentais, transitórios e, às vezes, até de carácter excepcional, como
os impostos por motivo de guerra, heranças etc.

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d) Quanto à forma de sua realização
Receitas Próprias
Quando seu ingresso é promovido pela própria entidade, directamente, ou através de agentes arrecadadores
autorizados. Exemplo: tributos, alugueres, rendimentos de aplicações financeiras, multas e juros de mora, alienação
de bens etc.

Receitas de Transferências
Quando a arrecadação se processa através de outras entidades, em virtude de dispositivos constitucionais ou
legais, ou mediante acordos ou convénios. Exemplo: quota-parte de Tributos Federais aos Estados e Municípios
(Fundo de Participação dos Estados - FPE e Fundo de Participação dos Municípios - FPM), Quota-parte de Tributos
Estaduais aos Municípios (ICMS e IPV A), convénios etc.

Receitas de Financiamentos
São as operações de crédito realizadas com destinação específica, vinculadas à comprovação da aplicação dos
recursos. São exemplos os financiamentos para implantação de parques industriais, aquisição de bens de consumo
durável, obras de saneamento básico etc.

e) Quanto à Repercussão Patrimonial

Efectivas
São aquelas em que os ingressos de disponibilidades de recursos não foram precedidos de registo de
reconhecimento do direito e não constituem obrigações correspondentes. Por isso, aumentam a situação líquida
patrimonial, ou seja, aumentam o património do Estado e, por isso, enquadrados como fatos contábeis modificativos
aumentativos. Exemplos: Receita Tributária, Receita Patrimonial, Receita de Serviços etc.

Não - Efectivas
São aquelas em que os ingressos de disponibilidades de recursos foram precedidos de registo de reconhecimento
do direito. Visam anular ou compensar a inclusão de uma despesa de capital na Demonstração das Variações
Patrimoniais. Por isso, não alteram a situação líquida patrimonial. Exemplos: alienação de bens, operações de
crédito, amortização de empréstimo concedido no passado, cobrança de dívida activa etc.

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f) Segundo a Categoria Económica
1. Receitas Correntes

Receitas Orçamentárias Correntes são arrecadadas dentro do exercício financeiro, aumentam as disponibilidades
financeiras do Estado, em geral com efeito positivo sobre o Património Líquido e Constituem instrumento para
financiar os objectivos definidos nos programas e acções orçamentários, com vistas a satisfazer finalidades
públicas.

Classificam-se nessa categoria aquelas receitas oriundas do poder impositivo do Estado -

Receitas Tributárias - resultante da cobrança de tributos. Pode ser definida como sendo a receita derivada que
o Estado arrecada mediante o emprego de sua soberania, nos termos fixados em lei, sem contraprestação
directamente equivalente, e cujo produto se destina ao custeio das actividades gerais ou específicas que lhe são
próprias.
Receita Patrimonial – Oriunda da exploração económica do património da instituição, são receitas provenientes
do resultado financeiro da fruição do património de ente público, decorrente da propriedade de bens mobiliários
ou imobiliários, ou, ainda, bens intangíveis e participações societárias. Exemplos: especialmente juros,
alugueres, dividendos, compensações financeiras/royalties, concessões, permissões, receita oriunda de
aplicação financeira, entre outras.
Receitas Agropecuárias: trata-se de receita originária, auferida pelo Estado quando actua como empresário,
em posição de igualdade com o particular. Decorrem da exploração económica, por parte do ente público, de
actividades agropecuárias, tais como a venda de produtos agrícolas (grãos, tecnologias, insumos etc), pecuários
(semens, técnicas em inseminação, matrizes etc), para reflorestamentos etc.
Receitas Industriais: são provenientes de actividades ligadas à indústria de transformação exercidas pelo ente
público, como: indústria de extracção mineral, de transformação, de construção, e de serviços industriais de
utilidade pública (energia eléctrica, água, e esgoto, limpeza pública e remoção de lixo).
Receitas de Serviços: decorrem da prestação de serviços por parte do ente público, tais como comércio,
transporte, comunicação, serviços hospitalares, armazenagem, serviços recreativos, culturais etc. Tais serviços
são remunerados mediante preço público, também chamado de tarifa.

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Transferências Correntes: recursos financeiros recebidos de outras pessoas de direito público ou privado
destinados a atender despesas de manutenção ou funcionamento (despesas correntes), a fim de atender
finalidade pública específica que não seja contraprestação directa em bens e serviços a quem efectuou essa
transferência. Os recursos assim recebidos se vinculam à consecução da finalidade pública objecto da
transferência.

Outras Receitas Correntes: registam-se nesta origem outras receitas cujas características não permitam o
enquadramento nas demais classificações da receita corrente, como: multas, juros de mora, indemnizações,
restituições, receitas da dívida activa, e receitas diversas (rendas de lotarias, receitas de cemitérios, etc.).
Exemplos:
- Multa: receita de carácter não tributário, é penalidade pecuniária aplicada pela Administração Pública aos
administrados e depende, sempre, de prévia cominação em lei ou contrato. Podem decorrer do regular exercício do
poder de polícia por parte da Administração (multa por auto de infracção), do descumprimento de preceitos
específicos previstos na legislação, ou de mora pelo não pagamento das obrigações principais ou acessórias nos
prazos previstos;

- Dívida Activa: crédito da Fazenda Pública, de natureza tributária ou não tributária, exigíveis em virtude do
transcurso do prazo para pagamento. O crédito é cobrado por meio da emissão de certidão de dívida activa da
Fazenda Pública da União, inscrita na forma da lei, com validade de título executivo. Isso confere à certidão da
dívida activa carácter líquido e certo, embora se admita prova em contrário.

2. Receitas de Capital
Assim como as Receitas Correntes, as Receitas Orçamentárias de Capital também aumentam as disponibilidades
financeiras do Estado e são instrumentos de financiamento dos programas e acções orçamentários, a fim de se atingirem as
finalidades públicas. Porém, de forma diversa das Receitas Correntes, as Receitas de Capital em geral não provocam efeito
sobre o Património Líquido.
Operações de Crédito: financiamentos obtidos dentro e fora do País; recursos captados de terceiros para financiar
obras e serviços públicos. Exemplos: colocação de títulos públicos, contratação de empréstimos e financiamentos
etc;
Alienação de Bens: ingressos financeiros provenientes da alienação de bens móveis ou imóveis de propriedade do
ente público. Isto é - conversão em espécie de bens pertencentes ao património público.
Amortização de Empréstimos: provenientes do recebimento do principal mais correcção monetária, de
empréstimos efectuados a terceiros, ou seja, ingressos financeiros provenientes da amortização de financiamentos
ou de empréstimos que o ente público haja previamente concedido. Embora a amortização do empréstimo seja
origem da categoria económica Receitas de Capital, os juros recebidos associados ao empréstimo são classificados
em Receitas Correntes/ de Serviços/ Serviços Financeiros, pois os juros representam a remuneração do capital;

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Transferências de Capital: são os recursos financeiros recebidos de outras pessoas de direito público ou privado e
destinados a atender despesas com investimentos ou inversões financeiras, a fim de satisfazer finalidade pública
específica que não seja contraprestação directa a quem efectuou essa transferência. Os recursos assim recebidos
vinculam-se à consecução da finalidade pública objecto da transferência. As transferências ocorrem entre entidades
públicas (seja dentro de um mesmo ente federado, seja entre diferentes entes) ou entre entidade pública e
instituição privada. O recebimento desses recursos não gera nenhuma contraprestação directa em bens e serviços.

Outras Receitas de Capital: registaram-se nesta origem receitas cuja característica não permita o enquadramento
nas demais classificações da receita de capital, como: Resultado do Banco Central, Remuneração das
Disponibilidades do Tesouro Nacional, Integração do Capital Social, entre outras.

2.2 Tributação: Conceito e Princípios Teóricos

a) Conceito

De acordo com PERREIRA at al (2005), a tributação é o acto de previsão, lançamento, arrecadação e recolhimento das
obrigações fiscais pecuniárias devidas ao Estado, nomeadamente: impostos, taxas e contribuições de melhorias.

Imposto

O imposto designa os pagamentos que fazem as famílias e as empresas em benefício do orçamento do Estado e das
colectividades locais sem contrapartida de qualquer actividade estatal específica que beneficie exclusivamente ao
contribuinte; (CAPUL, s/d:213). No contexto Moçambicano, o imposto define-se como uma prestação pecuniária compulsiva
de carácter unilateral, cujo objectivo é gerar recursos orientados prioritariamente para o financiamento da prestação de
serviços que visem a satisfação de necessidades públicas. Exemplos; IRPS, IRPC e o IVA (Lei 9/2002, de 22 de Novembro,
SISTAFE). Os impostos podem ser:

Directos são aqueles que são suportados e pagos ao sujeito activo pelo próprio agente económico;
Indirectos são aqueles suportados por certos agentes e pagos ao fisco por outros agentes. Por exemplo, o imposto
sobre o valor acrescentado (IVA).

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Taxa

Relacionada directamente a um serviço prestado ou posto a disposição ao contribuinte, ou mesmo ao exercício do poder de
polícia;

As taxas são tributos incidentes sobre um facto gerador e que são aplicados em contrapartida a esse facto gerador. Uma
taxa só pode ser instituída por uma entidade tributadora da mesma competência. Por exemplo: taxas sobre iluminação
pública só podem ser cobradas pelos municípios. Não necessariamente o pagante da taxa vai usar o serviço, apenas terá o
serviço à disposição.

Segundo a Lei nº 9/2002 de 22 de Novembro, que cria o Sistema de Administração Financeira do Estado (SISTAFE), taxa é
uma prestação avaliável em dinheiro, exigida por uma entidade pública como contrapartida individualizada pela utilização de
um bem do domínio público, ou de um serviço público ou pela remoção de um limite jurídico a actividades particulares desde
que previstas na lei.

Segundo Mussanganhe at al (2011:36) taxas são prestações pecuniárias que pressupõem ou dão origem a uma contra-
prestação específica resultante de uma relação entre o contribuinte e um bem ou serviço público (v.g. portagens e imposto
de justiça). As taxas podem ser aplicadas na utilização de um bem de domínio público. As taxas visam, assim, facilitar ou
dificultar o acesso aos serviços públicos e proceder a justa distribuição dos encargos públicos. Exemplo de Taxas: taxa de
lixo, de rádio difusão e taxa de aterragem, taxa de mercados.

A Contribuição de Melhoria

É uma forma de contribuição exigida aos cidadãos para fazer face ao custo de obras públicas, como a construção de uma
praça próxima à residência do contribuinte. Portanto, as contribuições de melhoria são tributos que têm como facto gerador o
benefício decorrente das obras públicas. São cobradas somente na região beneficiada pela obra. Não necessariamente
essas contribuições reflectem em “melhoria”, uma vez que algumas obras públicas em determinadas regiões tendem a
desvalorizarem os imóveis locais. O fundamental para o facto gerador é o benefício decorrente da obra pública.

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Sistemas de Taxas ou Alíquotas de Tributação
Existem três sistemas de taxas de tributação a saber:
Tributação regressiva - que corresponde à aplicação da teoria de benefício ( pagam mais em proporção os
rendimentos mais baixos, mais dependentes do Estado) (MUSSANGANHE at all, 2011:38); isto é, retira uma maior
parcela de rendimento as familias pobres do que as familias ricas (SAMUELSON & NORDHAUS 1999:293).
Tributação proporcional - todos os contribuintes são afectados de forma idêntica; típica dos regimes liberais,
aplica uma mesma percentagem (v.g10%) a todos os rendimentos, o que é menos chocante do que no primeiro
caso, ainda que não permita uma redução das desigualdades;
Tributação progressiva - pretende redistribuir ou repartir sacrifícios ou recursos, seguindo as conclusões da escola
marginalista, já que o sacrifício imposto aos maiores rendimentos corresponde a diferenciação que existe no nível
de satisfação de necessidades consoante haja maiores ou menores rendimentos.
Por ex: o imposto sobre o rendimento é um imposto progressivo, pago pelas pessoas físicas sobre o conjunto dos
rendimentos que recebem durante um ano. É um imposto progressivo porque a taxa de imposto não é única, mas
cresce com o aumento do rendimento colectável.

b) Princípios Teóricos da Tributação

Princípios Teóricos

Um sistema tributário é justo quando todos, do mais pobre ao mais rico, contribuem em proporção direta à sua capacidade
de pagar. O princípio da progressividade está implícito na definição – quem ganha mais deve contribuir com uma parcela
maior já que dispõe de maior renda disponível, renda que não está associada a seu sustento básico ou sobrevivência.

Na realidade contemporânea são quatro os principais preceitos norteadores da Teoria de tributação a saber:

a) Preceito de Equidade: Equitativo é o tributo que trata pessoas que se encontram em situação semelhante de
modo similar (equidade horizontal) e que trata pessoas que se encontram em situação diferente de maneira
diversa, de modo a encontrar e diminuir desigualidade (equidade veritical).
b) Preceito de Eficiência: Eficiente no seu viés de neutralidade é o tributo que influencia em menor grau o
comportamento dos indivíduos; eficiente no seu viés de desenvolvimento é o tributo que consegue fazer com que
recursos econômicos ociosos circulem na sociedade, estimulando o desenvolvimento nacional.
c) Preceito de Simplicidade: De acordo com Smith, num sistema tributário simples é relativamente fácil e barato para
o contribuinte calcular e pagar quanto deve. A mesma facilidade tem o governo para fiscalizar se o contribuinte
pagou o que devia. Isto é, o tributo que é de fácil administração por parte das autoridades fiscais e cumprimento (
compliance) por parte dos administrados.

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d) Preceito de Conveniente: é o tributo que retira recursos dos indivíduos no tempo e da maneira que lhes são mais
propícios.
e) Neutralidade: Neutralidade quer dizer que o sistema tributário não deve influenciar a evolução natural da economia.
Ou seja, não deve influir na competitividade e nas decisões das empresas nem no comportamento do
consumidor/contribuinte.

Objectivos da Unidade
Quando terminar o estudo desta unidade você será capaz de:
Conhecer as fontes de receita do estado;
Classificar as receitas do estado conforme as variadas categorias;
Saber diferenciar imposto de taxas;
Conhecer as características de um “bom” sistema tributário.

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Saber mais
Para mais informações consulte:
Andrade, J. – Introdução à Economia. Lisboa: Minerva. 1998.
Frank, R.; Bernanke, B. – Princípios de Economia. Lisboa: Mc Graw Hill. 2003.
Hindriks, J. and G.D. Myles, Intermediate Public Economics, The MIT Press,
2006.
Stiglitz, J.E., Economics of the Public Sector, third edition, W.W. Norton, 1999.
MUSSANGANHE, Jacob at all (2011) MANUAL DE FINANÇAS PUBLUCAS E
GESTÃO ORÇAMENTAL (Guia do Gestor Público Municipal 1ª ed. Heron
Dawson & Sawyer, London.

Moçambique, Lei nº 9/2002 de 22 de Novembro, Cria o Sistema de


Administração Financeira do Estado (SISTAFE). B.R, I SÉRIE – Número 7,
Maputo: Imprensa Nacional de Moçambique, 2002.

____________, Lei nº15/2002, de 26 de Junho, Estabelece os princípios de


organização do Sistema Tributário da República de Moçambique, define as
garantias e obrigações do contribuinte e da Administração tributária, e revoga a
Lei n3/87, de 19 de Janeiro e a Lei nº 8/88, de 21 de Dezembro. B.R, I SÉRIE -
Número 26, Suplemento; Maputo: Imprensa Nacional de Moçambique, 2002.

Reflexão
A tributação é um mal necessário para a sociedade e, a propósito disso, alguém já
afirmou o seguinte: “há duas realidades na vida, a morte e o pagamento do
imposto”. Reflicta sobre esta asserção.

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Resumo
Em resumo dissemos que os estados modernos usam a tributação como a forma
de transferência de recursos financeiros da esfera privada para a pública para a
satisfação das necessidades da colectividade. O uso da tributação para este fim
apresenta inúmeras vantagens, do ponto de vista económico, social e
administrativo, obedecidos os princípios básicos da equidade, eficiência, eficácia,
flexibilidade e transparência do sistema tributário. O desenho do sistema tributário
deve obedecer a um conjunto de princípios, são tais princípios que tornam um
sistema tributário “bom”. Finalmente, a receita ou as fontes da receita pública
podem ser classificadas de acordo com a natureza económica, a efectividade, a
coercividade e a captação.

Tarefas
a) “Um país conhecido por Manicalândia adoptou a tributação sobre a
renda sob a forma de alíquotas crescentes conforme o aumento do
nível de renda. Um outro país conhecido por Niassalândia fixou uma
única alíquota para a tributação sobre a renda. Comparando-se os dois
países, pode-se afirmar que a tributação sobre a renda no país de
Manicalândia adopta o conceito de”: (i) regressividade; (ii)
progressividade; (iii) simplicidade; (iv) indiferença; e (v) neutralidade.
Fundamente a sua resposta que der.
b) Distinga entre si as seguintes etapas de tributação: Arrecadação e
Recolhimento.

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Auto-avaliação
1. O Imposto sobre Valor Acrescentado (IVA) é um imposto sobre o consumo, ou
seja, um imposto indirecto. Considera-o progresso, regressivo ou neutro? Por
quê?

2. Faça um levantamento sobre o sistema tributário de Moçambique e indique os


impostos nacionais e impostos autárquicos.

Chave de correcção

20
Resposta da alínea a): alternativa “(ii)”. A progressividade consiste numa
forma de se tributar em que se estabelecem várias alíquotas, de forma
crescente, para incidir sobre diferentes bases de cálculo. À medida que a base
de cálculo vai se ampliando, aplica-se uma nova alíquota, de valor superior à
primeira alíquota aplicada, sobre uma nova faixa de valor. Para tanto,
estabelecem-se faixas de valores em que cada uma delas ficará sujeita à
incidência de uma alíquota determinada. Um bom exemplo do sistema
progressivo de tributação reside na tabela do imposto de renda, aplicada sobre
diversas faixas de rendimentos em Moçambique. O objectivo desse sistema é
tributar cada vez mais na medida em que se elevam os rendimentos. Desta
forma, pagará mais tributos quem auferir mais renda e vice-versa. Esse
sistema, todavia, apresenta alguns problemas sendo o estímulo à sonegação o
maior deles. Assim, para se ver livre de uma maior carga tributária o
contribuinte tende a sonegar impostos ou, ainda, trabalhar na informalidade.
Estimula-se, portanto, o contribuinte a omitir rendimentos. Em oposição a esse
sistema existe o sistema regressivo que funciona de maneira inversa ao
progressivo. Naquele sistema as alíquotas vão se reduzindo na medida em que
os rendimentos irão se elevando. Há países, inclusive, que adoptam a alíquota
“0” (zero) para faixas de rendimentos que atinjam determinados patamares.
São os conhecidos “paraísos fiscais”. Esse sistema, a nosso ver, é mais
inteligente na medida em que através dele os contribuintes são estimulados a
perseguirem maiores níveis de produtividade e rendimentos e ainda ofertarem
mais empregos na economia gerando, com efeito, crescimento e
desenvolvimento económico.

Resposta da alínea b): Arrecadação: é o momento em que os contribuintes


comparecem perante aos agentes arrecadadores a fim de liquidarem suas
obrigações para com o estado. Recolhimento: é a transferência dos valores
arrecadados à conta específica do Tesouro, responsável pela administração e
controle da arrecadação e programação financeira, ou seja, é o ato pelo qual
os agentes arrecadadores entregam diariamente ao Tesouro público o produto
da arrecadação.

21
Bibliografia Complementar
BARBOSA, António S. P. Economia Pública, Lisboa: McGran-Hill, 1997.

CAPUL, Jean-Yves. & GARNER, Olivier (s/d). DICIOÁRIO DE ECONOMIA E DE


CIÊNCIAS SOCIAS. Platão-Edições Técnicas.(S/L).

PEREIRA, Paulo T., at al. (2005). Economia e Finanças Públicas, Lisboa: Escolar
Editora. Lisboa.

PEREIRA, Paulo T., at al (2008) ECONOMIA E FINANÇAS PÚBLICAS EM


DEMOCRACIA.

SAMUELSON, Paul A. & NORDHAUS, William D. (1999). ECONOMIA. 16ª ed. Mac
Grow Hill, Lisboa.

22
Unidade nº 3

DESPESA PÚBLICA

3.1 Conceito e Classificação da Despesa Pública


Conceito

A despesa pública é considerada, em termos genéricos, como um dos factores importantes para a promoção do
crescimento económico e do bem-estar social. Um nível reduzido de despesa pública significa que serão necessárias
menos receitas públicas para obter equilíbrio das contas do Estado, o que significa também menos impostos e uma maior
contribuição para estimular o crescimento e emprego.

A despesa pública também é, naturalmente, uma variável chave no que diz respeito a sustentabilidade das finanças
públicas. Um controlo rigoroso e eventuais reduções da despesa pública, quando possível, são importantes para estabelecer
o equilíbrio adequado entre um menor endividamento público, menos impostos e o financiamento do investimento público em
áreas chaves de economia.

Havendo um controlo da despesa pública torna-se possível o redireccionamento dos recursos públicos para acumulação de
capital físico e humano e ainda apoiar a investigação, o desenvolvimento e a inovação. Com efeito existem estudos
empíricos que apontam o investimento público em infra-estruturas, na educação, na investigação e na inovação como base
sustentável para o crescimento económico.

Classificação

A classificação da despesa pública é estabelecida de forma a permitir identificar a natureza, a finalidade e a função da
despesa pública. Assim, a despesa pública pode ter a seguinte classificação:

a) Económica - A classificação económica da despesa pública atende apenas à natureza económica. Segundo esta
classificação as despesas podem ser:
despesas correntes – todas aquelas que revelam carácter permanente e afectam o património não
duradoiro do Estado, determinando a redução do activo líquido. Como exemplo de despesas correntes
encontram-se as efectuadas com o pagamento das remunerações e subsídios e na aquisição de bens não
duradouros e de serviços. De igual modo o pagamento de pensões de reforma. Ou seja, são todas as
despesas realizadas com bens ou serviços de consumo corrente, objecto de uma utilização final, incluindo
ainda os encargos da dívida e a atribuição de subsídios para utilização imediata. As despesas correntes
não modificam o património duradoiro do Estado. As despesas correntes abarcam cinco grupos agregados
principais: (i) as despesas com o pessoal; (ii) bens e serviços necessários ao funcionamento das
instituições; (iii) os encargos da dívida interna e externa; (iv) as transferências; (v) subsídios e; (vi) outras
despesas. Um grupo complementar, o sexto, compreende despesas referentes ao(s) exercício(s) findo(s).

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despesas de capital - todas as que alteram o património duradoiro do Estado, determinando o seu
crescimento na medida em que contribuem para a formação bruta de capital técnico ou fixo e para o bem-
estar colectivo. Como exemplo de despesas de capital aparecem as afectas a investimentos e à
amortização de empréstimos. Assim, são gastos de capital as despesas com edifícios públicos, estradas e
portos. O investimento nestas infra-estruturas significa alteração positiva (aumento) do activo patrimonial
do Estado. As despesas de capital dividem-se em três grupos desagregados: (i) bens de capital; (ii)
transferências de capital, e (iii) outras despesas de capital.
operações financeiras - as operações financeiras subdividem-se em activas e passivas. As operações
activas englobam operações como a concessão de empréstimos e adiantamentos a aquisição de títulos de
crédito (incluindo obrigações), acções e quotas. A aquisição de acções e quotas traduz-se no aumento da
participação do Estado no capital de empresas. As operações passivas cobrem a amortização de
empréstimos contraídos pelo Estado, a regularização de adiantamentos recebidos e a execução de vales
ou garantias. Estas operações compreendem as rubricas empréstimos externos, empréstimos internos
bancários e obrigações internas.

b) Funcional - este critério de classificação das despesas realça a natureza das funções exercidas pelo Estado.
Visa a especificação dos fins prosseguidos pelo Governo, isto é, permite julgar a orientação que o Governo dá
aos recursos de que dispõe para satisfazer as necessidades colectivas, comparar as opções tomadas em
momentos diferentes e efectuar comparações internacionais. Assim, a classificação funcional pode organizar a
despesas pública em despesa (1) serviços públicos gerais; (2) defesa; (3) segurança e ordem públicas; (4)
educação; (5) saúde; (6) segurança e acção social; (7) habitação e desenvolvimento colectivo; (8) recreação,
cultura e religião; (9) combustíveis e energia; (10) agricultura, silvicultura, pecuária, pesca e caça; (11) indústria
extractiva, transformadora e de construção; (12) transportes e comunicações; (13) outros serviços económicos.

c) Orgânica - a classificação orgânica de despesas evidencia as despesas públicas por órgão de Administração
Pública com responsabilidades na execução orçamental, por exemplo: presidência da república, gabinete do
primeiro-ministro, assembleia da república, ministério da defesa, ministério da saúde, ministério da mulher e
acção social, ministério de indústria e comércio, etc.

d) Territorial – a classificação territorial da despesa evidencia a afectação de recursos disponíveis segundo a


divisão territorial do país. Assume, por isso, um papel de relevo na avaliação ao nível do desenvolvimento das
diferentes regiões do país. A alocação de recursos públicos do ponto de vista regional tem subjacente a ideia
de equalização ou de redução de desequilíbrios regionais. A classificação territorial das despesas públicas em
Moçambique está estruturada em função das 10 províncias de Moçambique mas a cidade de Maputo e pelos
distritos.

b) Territorial.

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3.2 Determinantes da Despesa Pública

Algumas generalizações sobre o comportamento dinâmico da despesa pública têm sido formuladas. Entre essas destacam-
se as contribuições de Adolph WAGNER e de Alan PEACOCK e T. WISEMAN quanto ao estabelecimento de hipóteses
teóricas que expliquem o processo de evolução do sector público. Em ambos os casos enfatiza-se o problema da
identificação dos determinantes da expansão da despesa pública.

A Lei de Wagner: A contribuição de Wagner ao estudo do crescimento da despesa pública é sintetizada na chamada LEI
DE WAGNER que estabelece o seguinte:

“À medida que cresce o nível de renda em países industrializados, o sector público cresce
sempre a taxas mais elevadas, de tal forma que a participação relativa do governo na economia
cresce com o próprio ritmo de crescimento económico do país.”

Esta lei pressupõe a existência de uma tendência de longo prazo para o crescimento da despesa pública em relação ao
rendimento. Isto significa que a procura de bens e serviços fornecidos pelo Estado é elástica em relação ao rendimento.

São três os argumentos encontrados para justificar a formulação desta hipótese, designadamente:

(a) O crescimento das funções administrativas e de segurança acompanham o processo de industrialização, inclusive o
próprio crescimento do número de bens públicos em decorrência de maior complexidade da vida urbana.
(b) A demanda ou as necessidades relacionadas com o bem-estar social (educação e saúde) devem aumentar com o
crescimento económico do país.
(c) O crescimento económico cria condições para a criação de monopólios em virtude de modificações tecnológicas e
da crescente necessidade de vultosos investimentos para expansão de alguns sectores industriais, cujos efeitos
devem ser reduzidos pela intervenção directa ou indirecta do Estado no processo produtivo. Por outras palavras, o
aumento das falhas de mercado (bens públicos, externalidades, poder de mercado/monopólio e assimetria de
informação) justifica a intervenção do Estado e daqui o crescimento da despesa pública.

Por detrás destes argumentos compreende-se que a renda per capita, a população, a densidade demográfica, o grau de
urbanização são variáveis importantes na análise e determinação do crescimento da despesa pública nas diferentes funções
exercidas pelo Estado. À medida que outros factores, sobretudo os demográficos, evoluem juntamente com o próprio
crescimento do rendimento nacional, a demanda global de bens produzidos pelo governo apresenta-se, normalmente, com
elasticidade-renda superior a unidade.

Interpretação de Peacock e Wiseman: Peacock e Wiseman, por outro lado, abordaram o problema do crescimento da
despesa pública por um ângulo completamente diferente. Para eles, o crescimento da despesa total do Estado em
determinado país é muito mais uma função das possibilidades de obtenção de recursos do que da expansão dos factores
que explicam o crescimento da demanda de serviços produzidos pelo Estado. Isto é, o crescimento das actividades do
Estado é limitado pelas possibilidades de expansão da oferta, e estas, por seu turno, limitadas pelas possibilidades de
incremento na tributação.

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Objectivos da Unidade
Quando terminar o estudo desta unidade você será capaz de:
Conhecer a razão de ser da despesa pública;
Classificar a despesa pública;
Conhecer as teorias sobre determinantes da despesa pública.

Saber mais
Para mais informações consulte:
- MUSGRAVE, R.; MUSGRAVE, P. (1989). Public Finance in Theory and
Practice, 5a ed. McGraw-Hill, New York – sobre os objectivos das Finanças
Públicas.

WATY, T. A. (2004). Direito Financeiro e Finanças Públicas, Maputo – sobre as


várias acepções e a interdisciplinaridade de Finanças Públicas.

- PEREIRA, T.; AFONSO, A.; ARCANJO, M.; SANTOS,


J. C. (2005). Economia e Finanças Públicas. Editora Escolar. Lisboa – sobre a
origem das Finanças Públicas.

Reflexão
Anualmente o Orçamento do Estado Moçambicano apresenta crescimento da
despesa pública. O que estará por detrás desse crescimento permanente?

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Resumo
A despesa pública é considerada, em termos genéricos, como um dos factores
importantes para a promoção do crescimento económico e do bem-estar
social. Um nível reduzido de despesa pública significa que serão necessárias
menos receitas públicas para obter equilíbrio das contas do Estado, o que significa
também menos impostos e uma maior contribuição para estimular o crescimento e
emprego. A despesa pública pode ter a classificação económica, orgânica,
funcional e territorial. Duas principais teorias explicam o crescimento da despesa
pública: o princípio da lei de Wagner e de Peacock-Wiseman.

Tarefas
As teorias explicativas podem ser classificadas do ponto de vista de demanda e
da oferta, conforme se trate da lei de Wagner e de Peacock-Wiseman,
respectivamente. Fundamente.

Auto-avaliação
Localize o orçamento do estado moçambicano referente ao ano de 2014 no site
www.dno.gov.mz e com base nas classificações da despesa indique os valores da
despesa anual correspondentes.

Chave de correcção
Para Wagner, o crescimento económico materializado pelo crescimento da
renda vai impulsionar a demanda agregada pelos serviços e bens públicos. O
estado para responder a essa demanda amplia a estrutura da sua máquina
administrativa para fornecer mais serviços e bens públicos o que equivale a
aumentara a despesa pública. Do lado de Wiseman-Peacock, as possibilidades
ou expectativas que o estado possa ter de encontrar formas de financiar a sua
despesa, quer através de financiamento externo, quer seja por possibilidade de
mobilizar mais recursos internos, incentivam o crescimento da despesa
pública.

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Bibliografia Complementar
RIBEIRO, J. (1995). Lições de Finanças Públicas, 5ª ed. Coimbra Editora.
Coimbra

- SOUSA-FRANCO, A. (1999). Finanças Publicas e Direito Financeiro, vol. I & II.


Coimbra: Almedina.

Lei nº 9/2002, de 12 de Fevereiro, a Lei do SISTAFE.

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