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Nesta cadeira vamo-nos focar no sentido orgânico. Os entes públicos irão gerir os recursos
económicos de acordo com a priorização das necessidades coletivas. Esta priorização irá depender de
vários fatores.
Há atividade financeira motivada por outras finalidades que não só o funcionamento eficiente
do mercado?
Sim! – Não se conformando com as distribuições feitas pelo mercado, o Estado, em muitos casos,
procura corrigir as mesmas, promovendo uma redistribuição de rendimentos.
Face a isto, podemos apontar a igualdade, a equidade e os critérios utilitaristas como exemplos de
subcritérios que nortear a atuação do Estado. Juntamente com estes princípios estão a eficiência e
a justiça. Como tal, conseguimos sintetizar as principais funções do Estado:
• Função de alocação: esta relaciona-se com o fornecimento à sociedade de bens que são
sentidas pela comunidade em geral.
• Função de estabilização: é uma herança do modelo de Keynes. Explora a ação do efeito
multiplicador, ou seja, a despesa pública é utiliza com meio para o aumento do consumo,
funcionado como um ciclo ajudando na crise, numa situação de depressão económica.
• Função de redistribuição: prende-se com a transferência de rendimentos de uns grupos para
outros, provendo valores de Justiça, assumidas segundo o processo democrático
Em Portugal também houve um Estado Pós Social em que houve uma política de privatizações
agressiva, afirmou-se a ideia de subsidiariedade, da descentralização e do aprofundamento do
dever de boa administração. O Ministério das Finanças deixou de controlar e instalou-se um sistema
de metas que são avaliados periodicamente. Isto foi até 2001, depois de 2001 observou-se um
fenómeno de reformas financeiras para cumprimento do Pacto de Estabilidade e Crescimento da UE.
O Estado é chamado para responder às seguintes falhas de mercado: Artigo 81º f) CRP
1. A existência de necessidades coletivas que exigem a produção de bens de mercado a que
o Estado é chamado a dar resposta: Os bens coletivos são bens de satisfação passiva, ou seja,
a sua apropriação não depende de nenhum esforço por parte do consumidor, não são exclusivos
logo não é possível privar ninguém da sua utilização e por fim são não emulativos, ou seja, os
utilizadores não entram em concorrência para conseguir a sua utilização.
2. A existência de falhas na concorrência ou concorrência imperfeita: O Estado tem a
obrigação de intervir face à existência de Monopólios porquê? Pois são negócios de grande
escala, sendo natural que haja uma empresa à frente. A eficiência dos mercados é deficiente.
o Como se resolve situações de monopólio? Ou o Estado assume a concorrência, ou deixa
para a iniciativa privada sobre sua regulação
o A existência de uma Autoridade para a Concorrência prende-se com a necessidade do
suprimento desta falha de mercado.
3. A verificação de exterioridades/externalidades positivas e negativas: As exterioridades
correspondem aos efeitos externos dos comportamentos económicos. O Estado tem de garantir
mais externalidades positivas (estradas) e menos externalidades negativas (poluição)
4. A Assimetria de Informação: O Estado tem de garantir que não há assimetria de informação.
Impede a eficiência do mercado visto que dá uma desconfiança ao comprador (Ex: Para garantir
que não haja esta assimetria dos consumidores, o Governo criou o selo safe and clean). O
Estado por exemplo, tem um serviço de previsão meteorológica para garantir uma simetria de
informação visto que existe atividades económicas que dependem do tempo.
5. A Incompletude dos mercados: “Um mercado completo providenciaria todos os bens e
serviços para os quais o custo da provisão é menor do que os indivíduos estão dispostos a
pagar”. Porém como não vivemos num mundo ideal, nem sempre o mercado provê todas as
necessidades sentida pelo consumidor.
6. Incerteza e Risco: Não seria viável haver um seguro de desemprego, visto que apenas as
pessoas que têm mais risco em cair no desemprego é que iriam subscrever.
Para além destas cinco falhas de mercado, há ainda autores que defendem que a verificação de elevadas
taxas de desemprego e inflação corresponde a um funcionamento deficiente do mercado.
Esta distinção entre património duradouro e não duradouro é muito importante por três razões:
É sobre esta distinção que assenta a classificação económica utilizada nos nossos mapas
orçamentais: receitas correntes e de capital
• Receitas correntes: São as que não alteram a situação ativa ou passiva do património
duradouro do Estado
• Receitas de capital: São as que alteram essa situação
É esta distinção que permite distinguir a dívida flutuante da dívida fundada, consoante os
ativos/passivos que lhe correspondem vão ou não para além do período orçamental
É esta distinção que permite autonomizar o património de Tesouraria do património do Estado
• Património de Tesouraria: Corresponde aos meios monetários do Estado e aos meios de
liquidez de curto prazo (património não duradouro)
Receitas Creditícias: são aquelas em que o Estado passa a ser o devedor. Pode ser em duas
situações. São as resultantes de uma situação de dilatação temporal entre duas prestações ou quando
falamos em dívidas públicas quer principal (o Estado é o devedor) ou acessória (o Estado não é o
devedor, mas pode ser o devedor se por exemplo este dá uma fiança a uma empresa e a empresa não
paga).
Receitas Tributárias: são as mais importantes. Dentro deste conceito temos 3 realidades:
impostos, taxas e contribuições financeiras (artigo 165º nº1 a) i)).
• As taxas são coercivamente cobradas, mas têm uma contrapartida, ao contrário dos impostos.
Esta contrapartida à partida será proporcional.
• As contribuições financeiras, são aquelas que são pagas para na expectativa de
hipoteticamente pagar a minha reforma.
Nas Receitas Tributárias há outra receitas, como as multas, coimas, penalidades e pagamentos feitos
por particulares ao Estado.
Dívida Pública: conjunto de todas as situações passivas de que o Estado é titular – esta, pode ser
encarada em sentido amplo ou em sentido estrito:
• Dívida Pública em Sentido Amplo: considera-se não só o recurso ao empréstimo público,
mas também outras operações de crédito. É neste sentido amplo que se referem por exemplo:
o Dívida Administrativa: em que o Estado é devedor por força de uma espera forçada ou
voluntária de alguns dos seus credores.
o Dívida Vitalícia: em que o Estado se coloca numa posição devedora em virtude da
prática de serviços considerados excecionais, relevantes ou distintos (pensões em
serviços relevantes na defesa da democracia por exemplo)
o Dívida Empresarial: que resulta da participação social que o Estado tem em empresas
o Dívida Aquitativa: resulta da aquisição de bens recorrendo aos meios de financiamento
privado (ex: PPP)
• Dívida Pública em Sentido Estrito: fala-se de uma situação bem específica, na qual o Estado
(ou outra entidade pública) é devedor em virtude de uma operação financeira, pela qual lhe
foram prestados ativos financeiros, devendo reembolsá-los e /ou pagar em juros ou rendas.
Estamos aqui perante o crédito e a dívida pública financeira.
o Dívida Pública principal flutuante: se a divida for paga no mesmo ano económico
(curto prazo)
o Dívida Pública principal fundada: se a divida ultrapassa o ano económico (longo
prazo) sujeita a autorização da AR Artigo 161º h) CRP
Dívida Perpétua ou Consolidada: corresponde a dívida fundada em que o
Estado não é obrigado a reembolso, mas apenas ao pagamento de um certo juro
anual.
a) Remíveis: o Estado tem a faculdade de reembolsar quando quiser
b) Irremíveis: o Estado não goza da faculdade de realizar o reembolso,
ficando obrigado apenas o pagamento de juros.
Dívida Temporária: corresponde a dívida fundada com prazo de reembolso.
o Dívida Acessória: o Estado responde subsidiariamente, em caso de incumprimento do
devedor principal. A lei coloca barreiras muito rígidas para a sua contração Lei
112/97 artigo 9º
• Dívida Interna: é contraída dentro do próprio país
• Dívida Externa: é contraída no estrangeiro
• Dívida Efetiva: quando o Estado é devedor a uma entidade estranha ao setor público
• Dívida Fictícia: quando o Estado é devedor do próprio Estado (sem que haja confusão) ou de
uma entidade do setor público.
Esta distinção entre dívida fundada e flutuante é relevante, por exemplo, para se perceber o limite da
necessidade de intervenção da AR para autorização de contrato de dívida (esta só autoriza dívida
fundada) e para se entender a capacidade de endividamento das Autarquias Locais: as freguesias
apenas podem recorrer a dívida flutuante os municípios podem recorrer a dívida fundada.
3. Investimentos – Todo o conjunto de despesas com efeitos na formação de capital fixo, que
perduram no tempo, estendendo-se os seus efeitos para além do período orçamental a que
dizem respeito. São a única forma de despesa pública que geram contrapartidas da diminuição
do ativo líquido do Estado.
OS SFA gozam de uma maior liberdade no gasto da sua receita. Em vez de uma apenas autonomia
administrativa têm uma autonomia administrativa e financeira devido ao facto de terem receitas
próprias em termos significativos que financiem 2/3 das suas despesas podendo assim beneficiar de
uma maior autonomia. As universidades públicas mesmo que possam não ter receitas próprias, gozam
de autonomia administrativa e financeira Porquê? Para gozar uma autonomia científica, tecnologia
e liberdade de ensino (Artigo 76º CRP). Existe um regime de Cativações sobre as verbas que vêm do
OE.
• Cativações: Uma cativação corresponde a uma retenção de parte dos montantes orçamentados
no lado da despesa, que se traduz numa redução da dotação disponível dos serviços e
organismos. A libertação dessas verbas (descativação) é, regra geral, sujeita à autorização do
Ministro das Finanças. O objetivo fundamental das cativações é permitir ao ministro das
Finanças ter mais controlo sobre a execução do orçamento do Estado. E isto pode ter uma
interpretação positiva, de boa gestão orçamental, ou negativa, de excessivo poder do ministro
das Finanças.
A SS é composta pelos SI e SFA que gerem os vários sistemas. Faz-se o destaca da SS devido ao
facto de esta ter uma despesa muito grande com as suas prestações sociais. A SS tem algumas
contribuições ao Sistema Previdencial e ao Sistema Complementar. O Sistema da Proteção Social da
Cidadania é exclusivamente financiado pelo OE, este serviço é um sistema não contributivo, visto que
mesmo que eu não pague nada enquanto criança já estou a beneficiar da SS.
• Sistema previdencial: sistema que protege os trabalhadores, dando subsídios substitutivos de
rendimento de trabalho (doença, maternidade, paternidade). Este sistema é quase na totalidade
financiado pelo trabalho dos trabalhadores.
• Sistema complementar: sistema introduzido na última lei da SS. Pretende retirar pressão da
SS, promovendo mecanismos por parte das empresas e dos trabalhadores de complemento à
sua reforma. Em vez de apostarem na SS, são convidados a estabelecer mecanismos para
financiar trabalhadores na sua reforma (seguros ).
• Sistema de proteção social da cidadania: tem por objetivos, por um lado, a garantia de
direitos básicos e igualdade e por outro lado, o bem-estar e coesão social.
As Autarquias Locais e as Regiões Autónomas também estão fora do âmbito orçamental estatal
ainda que beneficiem de receitas do OE. Apesar desta benesse, estas estão fora do OE por imposição
constitucional pois ao serem comunidades locais com legitimidade democrática própria têm autonomia
suficiente para executar o próprio orçamento. Regem-se pelo seu próprio orçamento, as suas próprias
leis de orçamento, têm, portanto, um regime financeiro à parte.
Sistemas de financiamento da SS
1. Sistema de capitalização (investir em fundos de pensões):
Sistema em que as prestações dão origem a reservas financeiras, cuja aplicação e rendimentos
garantem o financiamento dos encargos Para garantir que temos reforma ou direito a receber aquilo
que contribuímos
2. Sistema de Repartição:
Método de financiamento em que as despesas correntes de pensões atribuídas aos beneficiários são
suportadas pelas receitas correspondentes, oriundas de uma contribuição social resultante da aplicação
de uma certa taxa sobre os rendimentos de trabalho.
Independência Orçamental:
O que é?
Assenta em 4 ideias cumulativa:
1) Total Separação Jurídica de Orçamentos entre entidade considerada e Orçamento do Estado
2) Existência de Processos Próprios de elaboração e aprovação do Orçamento
3) Administração Financeira Própria e Formas Próprias de execução de controlo
4) Existência de formas de responsabilidade próprias
Quem tem Independência Orçamental?
• Autarquias Locais
• Regiões autónomas
• Associações Públicas
• Empresas Públicas
Empresas Públicas: são organizações económicas de fim lucrativo, criadas e controladas por
entidades jurídicas públicas. Nos termos do DL 558/99, este conceito engloba 2 espécies de entidades
empresariais:
• Entidades Publicas Empresariais, EPE’s: correspondem às antigas EP’s em sentido jurídico-
administrativo, dotadas de personalidade jurídica pública e criadas por DL (centros
hospitalares)
• Sociedades de capitais públicos ou sociedades de interesse coletivo: desprovidas de
personalidade jurídica pública e criadas como sociedades constituídas nos termos da lei
comercial (EP’s s.s.), formando o setor empresarial do Estado. Estas empresas estão em
princípio fora do perímetro orçamental.
Introduz-se também a tese personalista, que se opõe a uma relação com o Estado que não seja
favorecedora da liberdade e da autonomia dos cidadãos.
• Recusa a pura estatização dos direitos económicos, sociais e culturais
• Reconhece universalmente os direitos, liberdades e garantias como direitos da pessoa e não
como privilégios de classe
• A solidariedade deve existir entre os cidadãos, começando pela família e estendendo-se à
comunidade política em círculos sucessivos
Será que em 1976, a letra da Constituição ainda correspondia ao espírito da época em 1980?
• Paulo Otero chama a atenção para o facto de à luz da versão originária da CRP ser já feita uma
leitura dos direitos de matriz ocidental, “reduzindo ao mínimo a vertente socialista-marxista da
letra do texto oficial da Constituição”
• Esta contradição entre um texto constitucional ainda com uma visão socializante e uma prática
de economia mercado mais liberalizante foi assumida na década de 80, pelo Tribunal
Constitucional. Este foi defendendo um entendimento “muito liberal a este respeito,
considerando como conformes à Constituição as sucessivas leis que o Governo publicou,
sempre restringindo o número de setores reservados ou liberalizando o tipo de reserva”
• A irreversibilidade das nacionalizações era já “matéria muito controversa no momento da
revisão constitucional de 1982”. Todavia, só foi alterada em 1989 por só aí se ter formado a
maioria de dois terços necessários para a revisão constitucional. Em 1982, apesar de já haver
uma maioria favorável à sua alteração (PSD/CDS), ela não foi suficiente para chegar à maioria
qualificada necessária (Sousa Franco e Oliveira Martins)
1997:
• Apagamento do vocabulário revolucionário
• Flexibilização das reservas a favor de um setor público (artigo 86º nº3)
Apesar disto estar previsto no Tratado de Maastricht, o controlo feito pelas instituições comunitárias
baseava-se essencialmente no défice orçamental. O Pacto Orçamental (Tratado sobre a Estabilidade,
Coordenação e Governação na União Económica e Monetária) (2012) veio corrigir isto:
Direitos Liberdades e Garantias: São tidos como direitos de abstenção ou direitos que não
implicariam custos significativos. São direitos estabelecidos contra o Estado, sendo que a lei serve
apenas em relação a estes direitos para dar corpo a restrições. É-lhes, portanto concedida aplicabilidade
direta e portanto de determinabilidade.
Reserva do Financiamento Possível: Esclarece que ao nível dos direitos fundamentais, ancorados
na cláusula do Estado Social, só se podiam fazer valer contra o Estado prestações que razoavelmente
pudessem dele ser exigidas. Corresponde, portanto, esta reserva a uma ideia de que em cada momento
o Estado – atendendo às suas possibilidades – tem um limite máximo, o qual não pode transcender, no
que toca à concretização dos direitos sociais. Introduz-se assim, por força desse conceito, uma certa
conceção de igualdade que impede uma interpretação que conduza ao absurdo a aplicação dos direitos
sociais.
Nestes casos, os direitos só seriam invocáveis na medida da previsão legal e da previsão orçamental
(ex: direito à habitação e direito à saúde). Impedindo assim, um juiz de procurar adiantar-se ao
legislador e ao decisor orçamental.
A sujeição dos direitos sociais à reserva do financeiramente possível tem consequências que não
podem ser ignoradas:
• Coloca estes direitos à mercê do legislador
• Fazendo-os incorrer no risco de ser negada a sua fundamentalidade
Proibição do Retrocesso: Este princípio está associado a uma ideia de defesa dos próprios direitos
sociais. Isto porque o facto de estarem dependentes de uma atuação conformadora do legislador,
poderia colocá-los, sem mais proteção, à mercê das opções orçamentais, como se fossem meras
liberalidades ou concessões graciosas, livremente decididas pelas maiorias que ocupam o poder. A
proibição do retrocesso destina-se, portanto, a cristalizar juízos de oportunidade e juízos sobre a
disponibilidade de recursos, impedindo o legislador de retornar sobre os seus próprios passos. À luz
deste princípio o TC sentiu-se habilitado a passar por cima da reserva do possível implicada nas normas
de direitos sociais, controlando a inconstitucionalidade de normas que violassem os direitos sociais,
tal como reconhecidos na Constituição, nomeadamente, por violação do mínimo de proteção ou por
voltarem atrás na concretização dos direitos, mesmo que esta fosse feita por direito ordinário.
• O Professor Reis Novais fala de um abandono sobre a proibição do retrocesso por parte da
jurisprudência do TC, dando lugar à deia de que o legislador tem sempre liberdade
conformadora só estando impedido de destruir a cobertura constitucional que já fazia parte do
acervo constitucional.
Visão Contemporânea Todos os direitos valem o mesmo? - Para entender o valor dos direitos é
preciso olhar ao que a doutrina constitucional clássica chama elementos determináveis e
indetermináveis
• Devem valer mais os elementos determináveis e é verdade que os direitos, liberdades e
garantias têm mais elementos determináveis.
Tese de Doutoramento da Professora Maria d’Oliveira Martins: as Finanças Públicas têm por trás
juízos de justiça distributiva. Questão ética, não envolve apenas contas, estas são meramente
instrumentais.
• Visão substancialista – à medida que a justiça social se vai realizando e desenvolvendo, alguns
elementos têm que ficar cristalizados (ex.: ensino obrigatório, a Constituição só fala de ensino
básico obrigatório, hoje é dos 4 aos 18. O legislador hoje não pode voltar a fixar o ensino
obrigatório é até à 4ª classe, a nossa consciência jurídica tem enraizada o ensino obrigatório
até ao 12º ano)
o Sempre que vemos um elemento de justiça social que começa a ficar enraizado, aí deixa
de ser possível voltar atrás. Há certas conquistas que damos como irreversíveis.
• Não há direitos de primeira e de segunda, deve-se olhar para a sua concretização e às conquistas
que já foram alcançadas e exigir ao Estado que não volte atrás nisso
• Para além dos direitos e da despesa que implicam, destaca uma despesa prioritária do Estado
que decorre de uma visão da dignidade da pessoa humana. A despesa que devia ser prioritária
e às vezes não é, é a despesa do mínimo de subsistência.
Princípio da Justiça: O Estado é limitado poe este princípio pois obrigará a acorrer a certas
prioridades antes de optar por outras intervenções possíveis. Podemos encontrar estas prioridades
ditadas pelo princípio da justiça nos limites à reserva do financeiramente possíveis:
1. Diz respeito ao direito a um mínimo de existência condigna atende a situações de pobreza
extrema
2. Dignidade da Pessoa Humana – aqui estipula-se que os gastos do Estado incluem a despesa
pública relativa ao mínimo vital, já reconhecido, pelo TC.
3. Tem de estabelecer um conteúdo mínimo tanto dos Direitos Liberdades e Garantias bem
como dos Direitos Sociais.
Tal como prescrito pela Constituição, o dever de eficiência está intimamente ligado com o dever de
racionalização de meios previstos no artigo 267º nº5. Ideias Chave do artigo:
1. Os meios públicos são escassos
2. Os meios públicos devem ser alocados de acordo com uma escala de prioridades
3. Os meios utilizados devem ter cabimento orçamental
4. Os meios utilizados devem ser usados de acordo com o interesse público e nunca fora dele
5. Os meios públicos não devem ser utilizados sem que satisfaçam os requisitos da economia,
eficiência e eficácia.
Atualmente, o princípio da solidariedade entre gerações consubstancia-se sobretudo num controlo das
despesas que se prolonguem no tempo, as despesas plurianuais. É o que se retira do artigo 13º da Lei
de Enquadramento Orçamental.
Visão da Professora Maria D’Oliveira Martins: Visão Minimalista da Solidariedade entre Gerações
– assenta na defesa não de uma proteção de interesses hipotéticos ou de um certo nível de vida
desejável, mas tão-só à defesa da tomada de decisões que evitem os desastres futuros que se advinham
desde já.
A Atividade administrativa é responsável por quase toda a realização da despesa pública, esta
realiza-se através de regulamentos, atos e contratos, no entanto há normas financeiras
escondidas em diplomas que não associaríamos a normas financeiras:
• Código dos Contratos Públicos
• Código do Procedimento Administrativo Nestes regimes estão inseridos:
- Regimes de autonomia financeira que
Aqui vamos ter normas que vão ter impacto financeiro. deverão respeitar
- Conhecem as limitações à ordenação de
Normas sobre a legalidade financeira: despesa:
1. Lei de Bases da Contabilidade Pública • Qualitativas: limitação à prática de
2. Regime da Administração Financeira do Estado atos de gestão corrente
• Quantitativas: limite de despesa
3. Normas ainda em vigor do DL nº 197/99
As despesas com seguros, carecem de autorização prévia do respetivo Ministro e do Ministro das
Finanças.
No que toca a aquisição de bens e serviços e autorização de despesas com locação, os presidentes
de câmara e os conselhos de administração dos serviços municipalizados podem autorizar despesa até
149.639.37€. Acima deste limite, podem autorizar despesa as câmaras municipais e as juntas de
freguesias – Por força do artigo 18ºnº1 alínea h) da Lei nº75/2013, de 12 de Setembro e, tanto os
presidentes das juntas de freguesia como os presidentes da câmara, podem ser autorizados, por
delegação da junta de freguesia ou da câmara municipal a realizar despesas até um limite que
extravase os limites da lei.
Artigo 58.º RAFE: “O regime estabelecido no presente diploma bem como as bases gerais definidas
pela Lei n.º 8/90, de 20 de fevereiro, aplicam-se à administração financeira das Regiões Autónomas
dos Açores e da Madeira, sem prejuízo das competências próprias dos órgãos de governo regional”.
Atuação Administrativa:
Forma jurídica das decisões administrativas:
Atos e Contratos Administrativos: São usados quando por exemplo, estão em causa despesas para
anos económicos seguintes, no entanto estas só podem ser praticadas or meio de ato administrativo ou
contrato se forem precedidas de portaria do Ministro das Finanças e do Ministro da Tutela ou deplano
plurianual legalmente aprovado.
Validade: aptidão intrínseca do ato administrativo para produzir efeitos jurídicos correspondentes
ao tipo legal que pertence, em consequência da sua conformidade com a ordem jurídica.
Eficácia: efetiva produção de efeitos jurídicos do ato e projeção da realidade da vida dos efeitos
jurídicos que integram o conteúdo de um ato.
O Tribunal de Contas faz primeiro um controlo da validade, mas para além disso, verifica se
cumpre outras condições de legalidade que possam afetar financeiramente estes atos.
A LEO estabelece como requisito de realização de qualquer despesa a verificação dos três “e”s:
economia, eficiência e eficácia
- O Tribunal de Contas não faz só um mero controlo da legalidade, faz também e entra muitas vezes
no controlo de eficiência (no fundo faz um controlo de legalidade mais largo
• Este controlo da eficiência é mais evidente e comum nas auditorias, não há tanto problema que
o Tribunal de Contas faça isto, pois são atos não-jurisdicionais, faz uma espécie de relatório
(permitem à Assembleia da República fazer um melhor controlo político), não atua
propriamente como um tribunal, por isso sente-se mais livre.
Natureza jurídica do Visto: O visto é um ato judicial esquisito, pois os atos judiciais normalmente
produzem casos julgados (não pode ser julgado de novo), o visto pode ser reapreciado, o caso julgado
não é eficaz para sempre.
Alguns autores têm vindo a dizer que não é um ato judicial, tendo natureza administrativa, então poderá
ser reapreciado pelos Tribunais Administrativos
• Guiar por esta via é no fundo enfraquecer ou procurar enfraquecer aquilo que é o controlo
financeiro, reduzir o Tribunal de Contas a um mero verificador da regularidade financeira, mas
que a sua palavra pode ser ultrapassada pelos Tribunais Administrativos
• A Professora Maria D’Oliveira Martins entende que é um ato jurisdicional.
o Não está certo, pois é o único garante da legalidade dos dinheiros públicos
A UE pode pedir crédito, mas não pode financiar o seu Orçamento com recurso a receitas
creditícias. Assim, o orçamento da UE nunca tem défice está sempre equilibrado.
Argumentos a favor e contra novos impostos da união europeia agora:
A favor:
- O presente quadro plurianual prevê um Contra:
acréscimo de despesa em relação ao anterior - O Orçamento da EU deve continuar a ser
(cerca de 700 mil milhões de euros) financiado por contribuições dos Estados.
- Metade desse aumento será financiado através - Estas contribuições, ao exigirem mais aos
da emissão de dívida nos mercados financeiros, Estados mais ricos e menos aos menos
num esquema de mutualização de dívida. abastados são permitem criar um esquema de
- Se este acréscimo não for financiado por redistribuição de riqueza.
novos impostos, a EU terá de exigir mais - Os novos impostos que se propõem
contribuições aos Estados-membros após 2027 beneficiam os países mais rico
Execução do Orçamento pela Comissão: pretende dar cumprimento às regras de gasto comunitário
em vigor, observar estritamente o quadro plurianual de despesa em vigor e pautar a sua atuação
promovendo uma boa gestão financeira. No exercício da execução a Comissão pode atuar de duas
formas:
Aos Controlos Comunitários, soma-se o controlo exercido pelas autoridades dos Estados cujos
organismos promovem execução orçamental comunitário. Os organismos públicos que executam
orçamento comunitário (normalmente em regime de cofinanciamento) estão sujeitos aos controlos
orçamentais nacionais (administrativos, políticos e jurisdicionais).
Entre os controlos nacionais, destaca-se o controlo interno, que se soma àquele que é feito de
acordo com os parâmetros definidos pela Comissão. Destaca-se ainda, no seio do controlo externo,
aquele que é feito pela entidade nacional de auditoria, o qual também se soma ao que é feito pelo
Tribunal de Contas Europeu.
Desde muito cedo que a UE se apercebeu que para evitar pressões inflacionistas ou grandes
taxas de juros, teria de haver um rigor nos orçamentos do Estados Membros para que estes
fossem executados de forma correta. Foi necessário adorar constrições orçamentais e Critérios
de Convergência tais como:
• De acordo com o Protocolo 20 sobre o procedimento relativo aos défices excessivos, anexo ao
Tratado, os valores de referência seriam de
3 % para a relação entre o défice orçamental programado ou verificado e o produto interno
bruto, a preços de mercado
60% para a relação entre a dívida pública e o produto interno bruto a preços de mercado.
Entre 2008 e 2009 houve um grande aumento dos défices orçamentais em vários países que teve
como efeito o aumento das taxas de juros e consequentemente degradação da notação financeira.
Nessas alturas, foi repensado o procedimento por défices excessivos exigindo-se aos Estados que
elaborassem os seus orçamentos de acordo com as regras estatísticas e contabilísticas europeias.
Em 2010, a União Europeia, deparou-se pela primeira vez com défices e dívidas que
ultrapassavam largamente os limites impostos ao défice e dívida. Foi necessário um
aprofundamento da política de solidariedade que se consubstanciou num auxílio aos países mais
endividados da zona euro. Deu-se através da criação de um Fundo Europeu de Estabilização
Financeira – este fundo deu lugar a um instrumento permanente, o Mecanismo Europeu de
Estabilização. Este Mecanismo complementa hoje a supervisão que as instâncias comunitárias
fazem sobre a situação orçamental dos seus Estados-Membros de forma a evitarem futuras
crises.
Desde 2011, foi criado o “Six Pack”. Isto é, regulamentos aprovados em 2011 que tiveram como
objetivo a introdução de uma governação económica mais rigorosa e de uma supervisão mais ampla
das políticas económicas e orçamentais dos Estados-Membros, em particular, dos pertencentes ao
Euro. Ficam sujeitos a uma fiscalização reforçada os “Estados-Membros que se encontrem afetados
ou ameaçados por graves dificuldades no que respeita à sua estabilidade financeira com potenciais
efeitos de contágio negativos sobre outros Estados-Membros da área do euro.
Em 2013, estas regras foram reforçadas pelos regulamentos “Two Pack”. O primeiro pack refere-
se ao reforço da supervisão económica e orçamental dos Estados-Membros da área do euro afetados
ou ameaçados por graves dificuldades no que diz respeito à estabilidade financeira, aprofundando o
caminho iniciado em 2011. Desde esta data, os Estados-Membros são obrigados a entregar as suas
propostas de Orçamento para o ano seguinte até ao 15 de outubro.
O segundo pack estabelece disposições comuns para o acompanhamento e a avaliação dos projetos de
planos orçamentais e para a correção do défice excessivo dos Estados-Membros da área do euro,
desenvolvendo disposições orçamentais comuns, incluindo o Calendário Comum, o acompanhamento
dos planos orçamentais dos Estados-Membros e a correção dos défices excessivos.
Segunda Fase: Se o Estado nada fizer na 1ª fase, o Conselho tornará públicas as suas recomendações.
Terceira Fase: Se o Estado nada fizer depos da publicação das recomendações, o Conselho pode
notificar o Estado para tomar medidas destinadas a reduzir o défice para um nível que considere
adequado no prazo de dois meses.
Quarta Fase: Se o Estado não cumprir a última fase, o Conselho pode decidir aplicar uma das
seguintes medidas:
1. Exigir que o Estado divulgue informações complementares antes de o próprio conselho emitir
obrigações e títulos.
2. Convidar o Banco Europeu de Investimento a reconsiderar a sua política de empréstimos em
relação ao Estado-Membro em causa
3. Exigir que o Estado constitua junto da Comunidade, um depósito não remunerado de montante
apropriado até que o défice excessivo tenha sido corrigido
4. Impor Multas de importância apropriada
A decisão de aplicação destas sanções deve fazer-se no prazo máximo de quatro meses a contar da
notificação para o Estado tomar as medidas da terceira fase.
Artigo 62º e 63º da Lei de Enquadramento Orçamental: O Estado organiza uma contabilidade
orçamental para todas as suas receitas e despesas, uma contabilidade orçamental para todos os seus
ativos, passivos, rendimentos e gastos e prepara demonstrações orçamentais e financeira individuais e
consolidadas, que proporcionem uma imagem verdadeira e apropriada da execução orçamental, da
posição financeira, das alterações na posição financeira, do desempenho e dos fluxos de caixa.
• O sistema contabilístico compreende uma contabilidade orçamental, uma contabilidade
financeira e uma contabilidade de gestão, nos termos da normalização contabilística em vigor.
• A contabilidade financeira regista as operações que afetam a posição financeira, o desempenho
financeiro e os fluxos de caixa.
• A contabilidade orçamental proporciona um registo da execução do orçamento e de eventuais
alterações.
• A contabilidade de gestão permite avaliar o resultado das ações que contribuam para a
realização das políticas públicas e o cumprimento dos objetivos em termos de serviços a prestar
aos cidadãos
Enquanto este novo sistema contabilístico não é implementado, os serviços vão continuando a
aplicar o sistema de contabilidade pública constante do Decreto-Lei nº232/97 o POCP. O
POCP assenta na junção ao sistema de mero registo de caixa, de um novo regime de contabilidade
orçamental, o ade acréscimo corresponderá à contabilidade financeira, patrimonial e analítica.
Os sistemas contabilísticos internos, como é o caso do SNC-AP, não são desenhados livremente
pelos Estados. Eles são influenciados pelas normas interpretacionais de contabilidade pública, pelas
normas adotadas pela UE e pelas normas emitidas pela Internacional Accounting Standards Board. O
sistema europeu em vigor é o Sistema Europeu de Contas (SEC 2010):
• O SEC 2010 integra as receitas e as despesas em setores institucionais: Sociedades não
financeiras (S.11); Sociedades financeiras (S.12); Administrações Públicas (S.13); Famílias
(S.14); Instituições sem fins lucrativos ao serviço das famílias (S.15); Resto do mundo (S.2),
incluindo aqui as unidades institucionais não residentes que efetuem transações com as
unidades residentes, como os Estados-membros da UE e as suas instituições.
Nota Final: É seguro dizer quem em Portugal coexistem dois sistemas contabilísticos – o Nacional e o
Europeu. Esta coexistência nem sempre é pacífica de problemas.
Princípio da Sustentabilidade das Finanças Públicas – Artigo 11º LEO: Pretende garantir que
todos os orçamentos são feitos de acordo com a capacidade respetiva de financiar todos os
compromissos com respeito pela regra de saldo orçamental estrutural e da dívida pública. Ou seja,
trata-se de exigir um maior rigor na elaboração dos orçamentos públicos, acautelando todas as
circunstâncias de que possam surgir compromissos incomportáveis, em termos orçamentais:
suborçamentação, despesa oculta, empolamento de receitas etc
Princípio da Solidariedade Recíproca – Artigo 12º LEO: É necessário assegurar que todos os
subsetores contribuem “proporcionalmente para a realização da estabilidade orçamental”. Como?
• O TC reconhece que não lhe cabe a determinação em abstrato de um limite mínimo de
endividamento a prever na LEO, acaba por defender que enquanto o défice do setor público
administrativo não for nulo, “são de rejeitar constrições totais, desmesuradas ou arbitrárias em
matéria financeira regional, uma vez que tenderão a conduzir a uma situação de desrespeito do
princípio da solidariedade.
• Isto significa que para ser cumprido o princípio da solidariedade recíproca, têm de se comparar
os esforços financeiros feitos por cada um dos subsetores para o princípio da estabilidade
orçamental, de forma a que nenhum deles seja sobrecarregado excessivamente, de forma
desmesurada ou arbitrária.
Princípio da Anualidade – Artigo 14º LEO: O Orçamento deve ser votado anualmente pela
assembleia respetiva e executados nesse ano civil (1 Jan – 31 Dez). Este princípio justifica-se pois:
• Há necessidade de atualizar o consentimento dos cidadãos em relação aos impostos a cobrar.
• Há necessidade de haver um controlo regular da ação governativa e da administração pública
no gasto e gestão da receita pública.
• Há necessidade de avaliação das opções orçamentais de cada momento, de acordo com um
juízo de atualidade (permitindo-se, em determinados anos, a tomada de medidas excecionais,
atendendo às especiais circunstâncias do momento).
Apesar da vigência deste princípio, o ordenamento jurídico português, também adota o Princípio da
Plurianualidade: a lei prevê a existência de mapas plurianuais, as verbas neles incluídas devem ser
inscritas no OE de cada ano, sob pena de não poderem ser realizadas por falta de cabimento orçamental.
• Lei das Grandes Opções- artigo 125º CRP: estão definidas as principais medidas em matéria
económica e financeira. É uma programação plurianual que passou, com a LEO 2015, a estar
incluída nesta lei – artigo 35º LEO – É vinculativo quanto ao ano económico seguinte. A
Professora considera que as prioridades deveriam ser definidas em vários anos e não apenas
nos seguintes de forma a que os meios sejam mais racionados. No entanto o legislador foi mais
“suave”, não limitando tanto o legislador orçamental. Há limites quanto à despesa, esta lei só
englobam despesas gerais, por exemplo as despesas dos vários serviços e as despesas da
segurança social.
O desrespeito da discriminação das receitas e despesas pode gerar vícios jurídicos – a económica
gera ilegalidade, a funcional e a orgânica geram inconstitucionalidade por violação no disposto do
artigo 105º CRP.
Apesar de ser o Governo a fazer o OE, a AR não tem um papel passivo. Esta aprovar o OE, bem como
pode aprová-lo com alterações, dispondo daquilo que se designa Direito de Emenda Parlamentar.
Direito de Emenda Parlamentar: faz com o que o OE seja fruto de uma colaboração e não de um
trabalho exclusivo ao Governo. Este direito, concede a possibilidade de aumento/redução de despesa
ou de receita, por parte da AR. Ou seja, ele confere a possibilidade de mexer na proposta do Governo.
É, aliás, a própria Constituição que parece reconhecer um papel ativo ao Parlamento: tanto no sei artigo
167º nº2, que parece abrir caminho a que durante a discussão da proposta de OE se introduzam
alterações implicando ou um aumento de despesas ou uma diminuição de receitas.
Nas Regiões Autónomas e nas autarquias locais também os seus orçamentos resultam de uma
colaboração muito semelhante. No caso dos orçamentos regionais é o Governo Regional que apresenta
a proposta e as Assembleias Legislativas das Regiões Autónomas que as discutem e votam. Nos
orçamentos locais, a junta de freguesia ou a câmara municipal apresentam a proposta; a assembleia de
freguesia ou municipais discutem-nos e votam-nos.
- Aos casos de aumento de despesa ou redução de receita operada pela AR, o Tribunal
Constitucional tem aplicado o conceito de inconstitucionalidade parcial – “Declarando a
inconstitucionalidade das referida normas (apenas) durante o ano económico em curso”.
Processo Orçamental:
1. O Governo inicia o ano orçamental com a preparação do Programa de Estabilidade (artigo 33º
LEO) e Crescimento, e a Lei das Grandes Opções de forma a submete-los a apreciação da AR
até ao dia 15 de Abril.
a) Programa de Estabilidade: é um instrumento exigido pelas instituições comunitárias que
corresponde, a um reforço da supervisão das situações orçamentais dos Estados-membros
da UE e da coordenação das suas políticas económicas, no âmbito da zona Euro. Antes de
ser apresentado ao Conselho Europeu, este deve ser sujeito a apreciação na AR (o Governo
tem 90 dias). É com base neste programa que os órgãos comunitários avaliam o Orçamento
do Estado a aprovar para o ano seguinte e a sua execução, aferindo do cumprimento dos
limites de défice e endividamento previstos nos Tratados Europeus. Existe monotorização
do Conselho Europeu na aplicação do Programa de Estabilidade e Crescimento. Se o Estado
se desviar, o Conselho emite recomendações para este seguir, se o Estado continuar a não
seguir, o Conselho poderá tornar a sua recomendação pública (pressão).
b) Lei das Grandes Opções: consiste num quadro plurianual associada à ideia de contenção
da despesa num determinado tempo. É aqui que se entende o limite da despesa total. Esta
lei será revista todos os anos. É de sublinhar que as RA e as AL também têm os seus quadros
plurianuais.
5. Para além da Elaboração da Proposta de OE, o Governo é também responsável pela sua
execução durante todo o ano económico.
6. O Governo não é limitado pela ação da AR no que toca ao Orçamento, nem pode ser fiscalizado
por ele nessa ação. O prazo para a discussão e votação é de 45 dias – durante estes 45 dias, a
AR ouve o Tribunal de Contas relativamente às recomendações constantes de pareceres sobre
a Conta Geral do Estado.
Artigo 105º nº4 – única exceção admitida à inalterabilidade do Orçamento (sem prejuízo de se permitir
que a AR possa aprovar alterações à Lei do OE, mediante iniciativa do Governo).
• A CRP neste artigo dá competência própria ao Governo para introduzir durante a
execução orçamental, alterações nas rubricas de classificação orgânica de despesa, no
âmbito de cada programa orçamental aprovado pela AR, tendo em vista a sua plena
realização.
Nota: Tendo havido eleições em Portugal e tendo o novo Governo tomado posse no dia 26 de
outubro, teria o Governo, ainda em funções no dia 15 de outubro, de ter apresentado proposta
de orçamento para 2020? Há um regime excecional nestes casos, artigo 39º LEO
Leis Anteriores, Contratos e Sentenças são fontes de despesa que devem ser acomodadas no
OE:
Artigo 105º nº2: Este artigo identifica as fontes primárias ou mediatas das despesas públicas.
Este preceito impõe:
1. A inscrição orçamental de todas as despesas decorrentes de lei – princípio de legalidade
orçamental das despesas – em certos casos até se pode falar de uma dupla legalidade, já que
mesmo aquelas despesas que são criadas por meio de lei, para anos futuros devem ser sempre
confirmadas pela Lei do Orçamento do Estado.
2. Todas as despesas do sector público administrativo devem estar orçamentadas – princípio da
unidade – o mesmo se retira para a necessidade de inscrição orçamental das despesas
decorrentes de contratos
3. Este dever de inscrição das despesas está ligado com a preocupação de evitar défices ocultos
bem com o respeito das obrigações assumidas pelo Estado, a proteção da confiança e dos
direitos ou expectativas legítimas geradas pelos atos de autoridade pública.
a) Se este dever for incumprido, estas despesas poderão ser invocadas pelos particulares em
juízo, podendo dar lugar a pagamentos orçamentais – mas apenas em sede de execução as
sentença, pois a sua não inscrição orçamental corresponde, na prática, a uma
desorçamentação inconstitucional e ilegal e não pode deixar de ser censurada pelos
tribunais.
Apesar de o artigo 105º nº2 apenas fazer referência a leis e a contratos, é possível identificar mais
fontes mediatas de despesa que não podem deixar de ser cabimentadas. É o que sucede em relação às
despesas derivadas de convenção internacionais e de sentenças judiciais.
Equilíbrio Orçamental:
Até 1928 adotava-se o critério do ativo de tesouraria do Estado para definir equilíbrio
orçamental:
• Critério do Ativo de Tesouraria do Estado: assenta na distinção entre a despesa e a receita
efetiva e não efetiva. A distinção, à sua luz, está no facto de se verificar ou não a redução
património de tesouraria do Estado. De acordo com este critério, para o Orçamento estar
equilibrado as despesas efetivas teriam de ser pagas pelas receitas efetivas e as despesas não
efetivas só poderiam ser pagas ou pelo remanescente das receitas efetivas ou pelas não efetivas.
Impossibilidade de não vigorar um Orçamento: Ainda que, por qualquer razão, não seja possível
a aprovação em tempo útil do OE (entrar em vigor a 1 de Janeiro), prevê-se na LEO a prorrogação
automática do OE do ano anterior. A necessidade desta automaticidade sere para que não haja um
período de vazio legal e que o Estado não estivesse simplesmente parado.
Tribunal de Contas:
O OE vai estar sujeito a um controlo jurisdicional do Tribunal de Contas. O Tribunal de Contas,
é o órgão que audita e fiscaliza a legalidade e regularidade de receitas e despesas públicas. As
formas de fiscalização do Tribunal de Contas serão estudadas mais a baixo.
Desde a Reforma da Lei do Tribunal de Contas de 2006, que a atividade de controlo interno saiu
reforçada pelo papel de colaboração que passou a ter com o Tribunal de Contas:
1. Por um lado, os relatórios referentes às suas ações podem servir – sem prévia aprovação do TC
– de base para processos de responsabilidade financeira que venham a correr nesse mesmo
órgão jurisdicional.
2. Estes órgãos passam a ter legitimidade processual subsidiária em relação ao Ministério Público
– artigo 57º LOPTC.
Autocontenção no que toca à assunção de dívida pública: O rigor exigido no seu papel de
coordenador dos demais subsetores do setor público administrativo, faz com que o Orçamento
seja também escrupuloso no seu papel de controlo da dívida pública assumida no próprio
Orçamento do Estado. Como se assegura uma autocontenção da dívida pública? Ao se fazer uma
fixação conjunta dos limites de endividamento.
Nota: A violação do equilíbrio orçamental e ultrapassagem dos limites de dívida regional podem ainda
dar origem a uma retenção das transferências do Estado que sejam devidas é essa RA. Para além disto,
se a região se encontrar numa situação de dificuldade económica ou financeira poderá solicitar ao
Governo central assistência económica é financeira. Esta assistência pressupõe a apresentação, por
parte do Governo Regional e é prévia avaliação positiva pelo Governo da República de um conjunto
de políticas de ajustamento.
• Contas Trimestrais e Anuais das RA – artigo 68º LEO: Devem ser aprovadas pelas
Assembleias Legislativas das RA – artigo 232º nº1 CRP. Também as leis de enquadramento
regionais contêm referências é essas contas regionais (artigo 24º das Leis nº79/98 e 28/92). A
secção regional respectiva do Tribunal de Contas deverá realizar parecer, de forma a habilitar
uma apreciação política esclarecida do ponto de vista financeiro. Nos termos dos artigos 75º e
76º da Lei nº73/2013, as contas compreendem o relatório de gestão, o balanço consolidado, a
demonstração consolidada dos resultados, o mapa de fluxos de caixa consolidados de
operações orçamentais, e o anexo às demonstrações financeiras consolidadas. A Conta Anual
deve ser apreciada pelo órgão deliberativo autárquico.
• O Visto Prévio tem várias fases: Remessa do Processo, Verificação pela Direção Geral do
Tribunal de Contas, Apreciação em sede de sessão diária de visto e Apreciação em sede de
sessão plenária de visto.
1. Remessa do Processo: sempre que se trata de processos relativos e atos e contratos que
produzam efeitos antes do visto, estes processos devem ser remetidos ao tribunal no
prazo máximo de 20 dias a contar da data de início da produção de efeitos (artigo 81º
nº1). Em caso de incumprimento do prazo, os atos ou contratos a visão não poderão
beneficiar da declaração de conformidade, prevista no artigo 83º nº2.
Visto Tácito: No artigo 85º prevê-se um visto tácito quando ocorre 30 dias úteis após a entrada do
registo de entrada do processo no TC. Se, entretanto, não tiver sido proferida uma decisão de recusa
de visto, dá-se um visto tácito. Este prazo de 30 dias pode ser interrompido pelo pedido de diligências
instrutórias por parte do Tribunal.
Notas Importantes (independentes entre si):
Das decisões de recusa de concessão ou de isenção de visto, pode haver recurso para o plenário da
1ª Secção. Este recurso poderá ser solicitado ou pelo Ministério Público ou pelo autor do ato ou
entidade que tiver autorizado o contrato a que foi recusado o visto.
Tal como sucede nos casos de responsabilidade financeira, também as decisões de concessão ou
recusa de visto podem estar sujeitas a recurso extraordinário (artigo 101º). Assim sendo, se forem
proferidas duas decisões que assentem em soluções opostas, pode ser interposto um recurso
extraordinário para uniformizar a jurisprudência.
Nota: O Tribunal de Contas também atua em colaboração com o Tribunal de Contas Europeu
(artigo 248º nº3 do TFUE) e em cooperação com as instituições de fiscalização dos demais
Estados-Membros.
A responsabilidade financeira pode ser efetivada por meio de duas formas processuais: por meio
de processos de julgamento de contas, tornando efetivas as responsabilidades evidenciadas em
relatórios de verificação externa de contas – artigo 58º nº2; ou pelo meio de processos de julgamento
de responsabilidade financeira, tornando efetivas as responsabilidades evidenciadas em relatórios que
não sejam de verificação externa de contas. Todos estes processos são obviamente da competência
da 3ª Secção.
Notas:
Se em vez de dolo se mostrar negligência, o Tribunal poderá reduzir a responsabilidade financeira.
Para além deste caso, é também possível relevar a responsabilidade por infração financeira (apenas
passível de multa) quando:
- Não tiver havido antes recomendações do Tribunal de Contas ou de qualquer órgão de
controlo interno ao serviço auditado para correção de irregularidade do procedimento adotado.
- Tiver sido a primeira vez que o Tribunal de Contas ou um órgão de controlo interno tenham
censurado o seu autor pela sua prática.