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1. Introdução
A cadeira de Finanças Públicas tem como objeto "o estudo da aquisição e utilização
de meios financeiros pelas coletividades públicas". Estuda-se a atividade financeira do
operador G, reconduzido habitualmente à designação de "Administrações Públicas" (Estado,
Regiões Autónomas, entes locais e entidades estaduais não territoriais). Nessas coletividades
públicas, sobressai grandemente o Estado e, por isso, vamos ocupar-nos sobretudo das
finanças dele. Ficando abrangido o estudo da atividade económica e financeira estadual,
abrange-se igualmente as transferências financeiras do setor público para o setor privado.
O Estado tem as suas finanças porque precisa de fazer despesas com a produção de
bens. Se o Estado tem as suas finanças, e se as tem em virtude de despesas com a produção de
bens, é porque as finanças se destinam a satisfazer necessidades. Simplesmente, as
necessidades que o Estado satisfaz não podem ser necessidades dele próprio (não as tem),
mas dos indivíduos. Daí que essas necessidades, apesar de satisfeitas pelo Estado, tenham de
ser necessidades de indivíduos. Mas o Estado não satisfaz todas as necessidades; só algumas
são satisfeitas através da sua atividade financeira.
O objeto das finanças públicas foca a atuação do Estado como um agente económico
e estuda a aquisição e utilização de meios financeiros pelas coletividades públicas dotadas
de poder de império, maxime o Estado. O Estado é o único sujeito económico que é uno, que
é unico, o que não acontece com os outros agentes (as famílias e as empresas). O Estado
constitui uma unidade estratégica, daí que se chama "macrodecisor irredutível" - não se
trata de um agregado. O Dr Teixeira Ribeiro separa as finanças públicas e as finanças
privadas segundo 3 critérios:
* fontes de financiamento - financia-se ou com recurso à banca ou através dos seus
sócios; e este valor é recuperado através dos preços que a empresa pratica. Já o Estado
cobra impostos aos cidadãos para se financiar - é a sua principal fonte de receita;
* determinação das despesas - nas finanças do Estado, não são as receitas que
determinam as despesas, porque no caso das empresas privadas, estas só podem avançar
para despesas depois de adquirirem as suas receitas - no fundo, o Estado determina as
despesas (a construção de uma ponte, uma estrada, um hospital) e, só depois, pensa no
financiamento;
Liliana Andrade 2º ano – 2ª turma – Ano letivo 2017/2018 Página 1
* o móbil da atividade - numa empresa privada, o móbil é a maximização do lucro;
por seu turno, em relação ao Estado, o que sucede é que estamos aqui perante o móbil de
satisfação de necessidades coletivas.
O papel do Estado na economia não foi constante ao longo dos tempos. Os autores
clássico-liberais consideram o Estado um intruso, é um "esbanjador". Assim, a sua
intervenção na economia é sempre nefasta. Eles dizem mesmo que o Estado é um
"consumidor improdutivo". Então, consideram que este deve cingir-se às suas tarefas
essenciais, que o privado não pode levar a cabo, designadamente a defesa nacional e a
justiça. Estes autores acreditavam no livre funcionamento do mercado - autoregulação do
mercado em que o mecanismo dos preços asseguraria a máxima eficiência e que a "mão
invisível" de Adam Smith garante o Bem Comum. Para os marginalistas, o Estado
encontra-se simplesmente excluído do obejto da Economia Politica - este objeto parte das
necessidades de indivíduos e da existência de bens escassos suscetíveis de usos alterantivos
para satisfação de necessidades de desigual importância. Tratam da análise das escolhas
racionais de um Homem abstrato e isolado. Crêm no funcionamento automático do mercado,
conduzindo este ao equilíbrio. Foi especialmente no séc XX, que teve lugar um
desenvolvimento inigualável do papel do Estado na economia. Especialmente a partir de
Keynes e da crise de 1929, começam a surgir mais vozes afirmando que o Estado deve
intervir na economia se necessário para complementar o mercado e que deve ser efetuada
Existe provisão pública de bens quando não é o mercado, mas o Estado a definir as
características dos bens e as condiçoes de acesso a esses mesmos bens. São bens financiados
total ou parcialmente através de receitas públicas (maioritariamente, impostos). O Estado,
gozando de poder de império, obriga os cidadãos a contribuir para o financiamento dos
bens que satisfazem necessidades coletivas. Este montante (o imposto) é exigido
unilateralmente (sem contraprestação) - por isso, não se trata de um preço, mas de uma
prestação imposta. O Estado, naturalmente, tem de se financiar para poder ter verbas para
poder satisfazer necessidades dos indivíduos. Mas quais são essas necessidades e porque
tem de ser o Estado a intervir? Justamente porque a este respeito impõe-se o conheciemnto
de dois tipos de necesidades: as chamadas necessidades de satisfação ativa e necessidades
de satisfação passiva. As necessidades de satisfação ativa ou individuais são aquelas que
exigem uma certa atividade do cidadão ou do consumidor, exigem uma ação - por exemplo,
não basta que os alimentos existam para que eu sinta a minha necessidade de fome fique
satisfeita. Já as necessidades de satisfação passiva ou coletivas satisfazem-se pela mera
existência dos bens ou dos serviços, não exigindo qualquer atividade por parte do
cidadão-consumidor - por exemplo, a defesa nacional: basta que o Exército tenha sido
criado pelo Estado para que a necessidade coletiva de proteção e defesa esteja satisfeita.
Desta circunstância de haver necessidades que se satisfazem ativamente e outras
passivamente, decorre o seguinte: apenas no primeiro caso há uma procura ativa e
individualizada do bem e, por isso, apenas nestes casos o produtor dos bens pode exigir um
preço pela satisfação da necessidade respetiva. E, por isso, vale aqui o princípio da exclusão
pelo preço, segundo o qual o preço colocado exclui os sujeitos que não querem ou que não
podem pagá-lo. É justamente com esse preço cobrado pelo produtor que ele vai cobrir as
despesas correspondentes ao custo de produção dos bens. Assim, a cobrança de um preço
pela utilização do bem funciona como um mecanismo de exclusão. Funciona, também, como
O facto de ser o Estado a prover certos bens justifica-se, em certas situações que se
prendem com falhas de mercado. Num mundo ideal, o mercado competitivo seria
suficientemente eficiente para não ser necessária uma intervenção estatal. Não é assim,
justamente porque existem imperfeições no mercado. O Estado existe, assim, para regular,
complementar e corrigir o mercado, no sentido de resolver as falhas existentes. Estamos a
falar de circunstancias que justificam a intervençao pública, designadamente ao nível da
regulação.
O primeiro caso das falhas de mercado são as
externalidades/exterioridades/externidades. Os agentes ecómicos fazem as suas escolhas,
comparando as vantagens e os custos que decorrem de uma conduta. Para que a escolha
seja eficiente, é necessário que o agente suporte todos os custos mas também beneficie de
O Estado é uma coletividade com interesses que não são seus. Por isso, é distinto dos
grupos, associações e famílias e até mesmo das empresas, porque o Estado não é um
agregado de entidades uniformes. É um agregado de entidades com interesses muito distintos
e, por vezes, opostos. Por isso, habitualmente, diz-se que o Estado nao tem necessidades.
Quando as satisfaz, satisfaz necessidades dos indivíduos (física ou pessoas jurídicas).
Se o Estado nao tem necessidades, a sua atividade vai destinar-se à satisfação das
necessidades dos cidadãos pelos quais se sente responsável, ainda que a forma e intensidade
de satisfação dessas necessidades possa variA provisão pública de bens tanto é compatível
com a produção pública, como com a produção privada. Uma coisa é prover (=financiar),
outra é produzir. A produção publica implica que o bem seja total ou parcialmente produzido
pelo Estado. Mas a provisão publica significa apenas que as caracteristicas dos bens e as
condições de acesso ao mesmo são definidas pelo Estado, assegurando este total ou
parcialmente o financiamento da sua produção.
Os bens de provisão publica podem ser de três tipos: bens públicos, bens de mérito e
bens semipúblicos. A decisão sobre a provisão publica de bens, ou seja, sobre o
financiamento de determinados bens e em determinadas condições, é, em ultima análise, uma
escolha política, mas nao deixa de ter por trás uma justificação alicerçada em argumentos
jurídicos e económicos. A provisão publica nao implica necessariamente gastar meios
financeiros. Implica, sim, uma intervenção do Estado.
A análise dos fundamentos económicos para a previsão (ou não) de certos bens pode
ajudar a compreender as escolhas coletivas ou mesmo auxiliar o decisor político na tomada
de decisão; mas nao constitui uma resposta definitiva, porque essa resposta apenas pode ser
encontrada nas concretas decisões políticas, que dependem de uma certa comunidade e
decorrem de determinadas circunstancias economicas, sociais e culturais ao longo dos
tempos.
Aqueles bens que o Estado produz porque substitui o seu juízo de valor sobre as
necessidades ao dos privados e porque considera que estes não são capazes de avaliar
corretamente o seu interesse são os chamados "bens de mérito". Tratam-se, em regra, de
intervenções paternalistas. O Estado avalia, em principio, melhor que nós as nossas
necessidades. Não falamos necessariamente em intervenções materiais. Por exemplo: a
obrigatoriedade do cinto de segurança, o agravamento do preço das bebidas açucaradas e do
tabaco, o ensino obrigatório e gratuito até aos 18 anos, etc. Os bens de mérito existem quando
Os bens semipúblicos são bens de uso rival ou excluíveis pelo preço. Estes bens vêm
a sua produção ser total ou parcialmente financiada pelo Estado sempre que exista uma
racionalidade económica que justifique a transferência do custo de produção dos utilizadores
para a comunidade coletiva. Isto é, em vez de se cobrar um preço, exige-se um financiamento
através de impostos. Sempre que estamos perante um bem semipúblico, em que nao é
cobrado qualquer quantia ao utilizador, falamos em "bens tecnicamente semipublicos"; nos
casos em que há provisao publica mas o beneficiário contribui com um valor para o seu
financiamento, estamos perante "bens tecnica e financeiramente semipublicos". Este valor
pode ser de três tipos: inferior ao custo, igual ou superior ao respetivo custo de produção, mas
sempre inferior ao custo de mercado. Olhemos o exemplo das consultas médicas no SNS, em
que são pagas as taxas moderadoras.
A provisão pública de bens semipúblicos tem por detrás uma racionalidade
económica que justifica a transferência do custo do utilizador para toda a comunidade.
Habitualmente, designam-se por "falhas de mercado". Podem ser corrigidas através de uma
intervenção legislativa para limitar certos comportamentos ou através de uma tributação
agravada. Também se justifica uma intervenção através do financiamento total ou parcial da
produção do bem (semipublico) pelo Estado.
Uma dessas falhas de mercado são as chamadas externalidades. Os agentes
económicos fazem as suas escolhas comparando as vantagens e as desvantagens das suas
opções. Naqueles casos em que os custos e as vantagens se verifiquem apenas para o
utilizador, essa escolha será racional. Mas isso nem sempre acontece. Em muitas situações de
escolha, resultam consequencias para terceiros. Consequencias essas negativas ou positivas.
Em regra, estes esfeitos não são tidos em conta na tomada de decisões. É por isso que,
nos casos em que existem externalidades, as decisoes dos agentes economicos nao sao
eficientes do ponto de vista social. As condutas que têm externalidades negativas sao
adotadas em quantidade superior à desejável; e as condutas com externalidades positivas sao
adotadas em quantidade inferior à desejável. Justifica-se, assim, a intervenção do Estado para
Pode acontecer também que haja Provisão publica de bens por razoes redistributivas.
A intervençao pública para diminuir as desigualdades decorrentes de uma economia de
mercado constitui uma obrigaçao decorrente do Estado de Direito Social, em que assentam a
generalidade das economias dos países ocidentais. No caso português, encontramos esta
consagração na alínea d) do artigo 9º, alínea b) do 81º, e no artigo CRP. Do lado da receita,
esta finalidade é levada a cabo sobretudo através de um sistema fiscal progressivo. Do lado
da despesa, pode fazer-se redistribuição de duas maneiras distintas: transferindo meios
financeiros para os mais pobres (apoio em certas despesas) ou ainda provisão pública de bens.
A provisão pública de bens justifica-se em determinadas situações para eliminar a exclusão
pelo preço: sendo o bem fornecido a título gratuito ou abaixo do custo e a diferença suportada
pela coletividade, através de receitas provenientes de impostos. A dificuldade existe na
seleção dos bens privados que vão ser de provisão pública, caso já em que a justificação
decorre de uma imposição do Estado para o consumo de um determinado bem. Exemplo:
ensino obrigatório - se o Estado impoe, nao pode alguem ser excluído por nao ter dinheiro
para pagar. Noutros casos, o Estado faz uma provisão abaixo do preço de mercado, podendo
ser uma provisão universal ou seletiva. Trata-se, sobretudo, de bens essenciais, em que
repugna ao nosso sentido étnico que alguém possa ser excluído por falta de rendimentos. É o
caso do Serviço nacional de saúde, política de habitação ou os programas de fornecimento
direto de bens alimentares. O efeito redistributivo verifica-se porque se atribui a certos
cidadãos uma vantagem que é total ou parcialmente suportada pela comunidade. Só por mero
acaso é que o valor dos bens semipúblicos de que cada um beneficia é igual ao valor dos
impostos que suporta. É por isso muito importante, numa politica redistributiva levada a cabo
através do fornecimento de bens e serviços, ter em atenção quem são os principais
benefeciários, ou seja, quem seriam os excluídos se o bem ou serviço não fosse de provisão
publica. Esta é a justificação por detrás de um valor tão elevado da propina do ensino
superior. Parte-se do pressuposto de que quem chega ao ensino superior é proveniente de
famílias com rendimentos superiores (justificação teórica).
A despesa pública vai ser classificada pelos efeitos económicos provocados e pelos
efeitos sobre o PIB.
De acordo com os efeitos económicos provocados distinguem-se as despesas
meramente produtivas e as despesas retributivas. As meramente produtivas satisfazem
necessidades publicas ou privadas, criando utilidades. Por exemplo, serviços de polícia. As
despesas retributivas, além de criarem utilidades, criam capacidade de produção. No fundo,
são despesas em investimento em bens de capital duradouro, por exemplo, contrução de
estradas e pontes.
Quanto aos efeitos provados sobre o PIB, temos as despesas-compra e as
despesas-transferência. As despesas-compra são feitas na aquisição de bens e serviços,
criam rendimento e geram um aumento do PIB do período em que se inserem (ex.: despesas
com o vencimento dos funcionários). Quanto às despesas-transferência, estas limitam-se a
transferir poderes de compra e, por isso, não criam rendimento. Os beneficiários é que
criarão rendimento ao dispender do montante da transferência. São todas as prestações do
Estado sem contrapartida atual dos beneficiários - as subvenções públicas (reforma por
velhice, subsidios de desemprego), os reembolsos e concessões de empréstimos. Neste caso,
há tão-somente uma mudança de mãos dos rendimentos (já criados) - passa das mãos dos
contribuintes para a dos beneficiários. Estes beneficiários, ao comprarem bens, estarão a
criar rendimentos.
* Séc. XX.-1870
Nesta fase, vigora uma conceção liberal do Estado mínimo. Até meados dos anos 70
do século XX, defendia-se a existência de um Estado mínimo, cuja atuação se deveria reduzir
à polícia, à defesa nacional e pouco mais. A despesa publica média dos países considerados
pelos autores em causa rondava os 10% do PIB. A maior parte das despesas são
despesas-compra, sendo as despesas mais represenatntiva aquelas realizadas em defesa,
seguidas das com educação e construção de infraestruturas.
* 1970 - 1ª Guerra
Este período é dominado de ideias liberais de autores clássicos e pela defesa
acérrima da política de "laissez faire". A despesa pública tem, neste período, um
crescimento lento. Cresceu mais ou menos 4%. Também se destaca nesta fase a influencia do
pensamentro marxista e a inserção da função redistribuição como uma das funções
estaduais típicas/normais. Daí que se observe na Alemanha, no final do séc XX, o primeiro
sistema de segurança social instituído. A corrida ao armamento pré-1ª Guerra leva ao
aumento considerável das despesas militares em países como a Alemanha, a Austria, França
e o Reino Unido. Trata-se de despesas publicas associadas, em grande medida, à guerra.
Ainda assim, a subida média da despesa publica é bastante ligeira se considerarmos que se
tratou de uma época marcada por obras públicas de fundo ligadas à industrialização (p.ex:
os caminhos de ferro). Esta pouca expressão do aumento da despesa parece desmentir a lei
de Wagner.
O comportamento da despesa pública ao longo dos tempos tem vindo a ser estudado
por vários autores. O primeiro autor, que em finais do século XIX, se dedicou ao estudo da
despesa publica e tentou encontrar uma justificação para o comportamento da despesa
publica, não só justificando o seu crescimento intensivo, mas também as alterações no tipo de
despesa, foi Adolph Wagner em 1890. Este autor constatou que, no período pós-revolução
industrial, se deu o aumento não só da indústria da manufatura, mas também dos transportes
e dos serviços de comunicação, da energia e dos serviços de tratamento do lixo, sendo os
Estados apontados como as entidades que melhor poderiam forncer estes serviços.
Adolph Wagner sustenta, então, que nas sociedades industrializadas se verifica uma
tendencia para o aumento qualitativo e quantitativo da despesa publica, justificando-se este
aumento diretamente pela industrialização e pelas consequências decorrentes dessa mesma
industrialização. Esta teoria viria a ser fortemente criticada pela generalidade dos autores,
por se tratar não de uma lei com validade científica, mas de uma mera constatação empírica,
porque Wagner se limitou a discorrer sobre os dados que recolheu, não tendo
verdadeiramente avançado com uma justificação.
* Primeiro periodo. No século XIX, teoria economica dominante era a teoria liberal,
em que ao Estado eram reconhecidas funções económicas mínimas e limitadas. Por essa
razão, a despesa publcia situa-se a níveis muito baixos e apenas em alguns países como a
Suiça, a Itália ou a Austrália se afastavam consideravelmente os 10% do PIB, atingindo 20%.
Note-se que não se reconhecia ao Estado qualquer função de provisão publica de bens para
além de julgar e combater. Com funções tao reduzidas e com a predominância do poder do
mercado, seria de esperar que a despesa publica fosse tao baixa. No período pré-Primeira
Guerra Mundial, a tensão levaria ao aumento das despesas militares e de guerra,
verificando-se já nesse periodo um ligeiro aumento da despesa publica.
* Segundo período. Com o fim da 1ª Guerra Mundial, surge também uma alteração
significativa na teoria economica. A guerra tinha deixado a descoberto algumas necessidades
que até entao nao eram visiveis, mas mais do que isso, tinha tornado evidente a necessidade
de intervençao publica em dominios relacionados com a proteção dos mais desfavorecidos.
Em modo conclusivo, pode então dizer-se que a evolução da despesa publica desde
1970 até à atulidade decorre de estar fortemente ligada às teorias económicas sobre o papel
do Estado na economia e aos efeitos que a intervenção pública com impacto económico
possa originar. Para além disso, na UE a despesa pública encontra-se atualmente muito
limitada pelas disposições do Direito da União que impõem que o défice orçamental se situe
dentro de determinados limites.
5. Orçamento de Estado
No Orçamento de Gerência de 2018 deve, então, inscrever-se o valor que terá de ser
pago pelo Estado naquele ano, ou seja, 50% do valor global (os 40% + os 10%) = 500.000€.
No Orçamento do Exercício de 2018 deve ser inscrito o valor global do débito que
nasceu naquele ano, ou seja, 1.000.000€.
Quanto à primeira função, o Estado tem de orçar as suas despesas e receitas a fim de
assegurar que as receitas bastam para cobrir as despesas.
A fixação das despesas traduz-se: se as receitas têm de cobrir as despesas, tem de se
determinar/fixar o montante das despesas. O total das despesas é o somatório de todas as
despesas de todos os serviços do Estado (ex.: Proteção Civil, SNS). A cada um destes
serviços são atribuídos valores, valores que podem ser gastos como despesas - cada serviço
tem autorização para gastar até x e, por isso, se chamam créditos. Assim, o Orçamento das
despesas é uma série de aberturas de créditos aos serviços. Os serviços têm, então, de
confinar as suas despesas aos créditos que lhes foram atribuídos (não podendo ultrapassar
esse montante). Isto mostra que a previsão das receitas não tem o mesmo significado que a
previsão das despesas. Isto porque o Orçamento das Receitas é, e tem de ser, uma mera
estimativa, uma previsão o mais próxima da realidade possível. Mas as cobranças são
Quanto à primeira, o Estado tem que enumerar/orçar as suas despesas e receitas, bem
como os respetivos valores para garantir que existem receitas suficientes para cobrir as
despesas que pretende efetuar. É precisamente nisto que consiste a relacionação das receitas
e das despesas. Do que se trata, no fundo, é de verificar a existência de uma igualdade global
entre receitas e despesas ou, então, um excesso de receitas totais. Em caso algum, o Estado
pode prever um montante de despesas superior ao das receitas que prevê arrecadar. Esta
função está subjacente à ideia de "equilíbrio formal", isto é, aquelas situações em que receita
total é igual a despesa total, igualdade esta que existe sempre. Expressão de Rocha Andrade
"Um Orçamento em que a receita total não seja igual à despesa total não é um Orçamento; é
um lixo que não serve para nada". Artigo 105º CRP. Esta relacionação permite uma gestão
mais racional e eficiente dos dinheiros públicos, na medida em que procura atingir a máxima
utilidade com o mínimo dispêndio de recursos. Nas palavras de Sousa Franco, "o improviso é
usualmente causa de desperdício", regra quer para públicos, quer para privados.
Quanto à segunda função - de fixação de despesas - a diferença entre a determinação
do montante das receitas e das despesas assume-se aqui como um fator preponderante Dada a
necessidade de previsão de receitas suficientes para cobrir as despesas apenas é possível
prever receitas suficientes se as despesas já estiverem fixadas. De nada serviria prever
receitas se as despesas pudessem variar. O total das despesas resulta do somatório das
despesas que cada serviço pode arrecadar. No OE são atribuídas a cada serviço verbas de
despesas que representam, em si mesmas, autorizações para gastar. E, por isso, se designam
por "créditos" ou "dotações" orçamentais. Como já vimos, o Orçamento das Despesas
constitui uma abertura de créditos aos serviços, falando-se a este propósito em "princípio da
tipicidade qualitativa (tipo de despesa) e quantitativa (montante da despesa)" (estudaremos
isto mais adiante). Já o Orçamento das Receitas contem uma discriminação das receitas, mas
o montante a arrecadar é incerto, porque também são incertas as cobranças que venham a ser
efetuadas. Não é correto dizer-se que o Orçamento das Receitas é uma mera previsão
A regra da unidade;
A regra da especificação;
A regra do Orçamento Bruto;não-compensação
A regra da universalidade, ou não-consignação.
A regra da não compensação está prevista no art 15º LEO. De acordo com esta regra,
as receitas e as despesas devem ser inscritas no orçamento sem qualquer dedução de despesas
de cobrança ou de outra natureza. Só deste modo se consegue verdadeiramente cumprir a
função de fixação das despesas, porque, se ao invés de prevermos receitas e despesas brutas,
estabelecessemos receitas e despesas líquidas, não conseguiríamos saber nem o valor das
receitas nem o valor das despesas. Suponhamos o seguinte exemplo: a UC pretende levar a
cabo uma obra de reconstrução de um edifício para instalação de uma biblioteca, estimando
que essa obra seja possível de realizar no prazo de um ano. Pressupõe ainda que, nessa obra
de reconstrução, vá ser possível e necessário demolir uma parte da construção; os materiais
resultantes da demolição, que serão também vendidos. Sabe-se de antemão que a diferença
entre o custo da obra e as receitas obtidas com a venda dos materiais resultantes da demolição
seja de 1 milhão de euros. Qual é o valor da receita e da despesa? Se fixarmos apenas o valor
da diferença, nunca conseguimos saber nem o valor da receita, nem o valor da despesa - o
milhão é a diferença entre 3 milhões e 2 milhões, como é a diferença entre 10 milhões e 9
milhões - um milhão é a diferença entre uma imensidade de números. E, por isso, não
estamos a fixar a despesa.
Este princípio tem várias exceções, todas elas elencadas no artigo 15º LEO. À época
das lições de Teixeira Ribeiro, esta regra era absoluta. Nas receitas provenientes dos tributos
(impostos, taxas e outros), o valor a inscrever no Orçamento corresponde à previsão do
montante a arrecadar do lado das receitas, mas este montante é subtraído do montante
relativo às receitas cessantes, aos benefícios tributários, reembolsos e restituições. Art. 15º/2.
No número 3 do mesmo artigo, encontramos as várias exceções à regra da não compensação
ou do orçamento bruto.
O Doutor Teixeira Ribeiro junta aqui vários nomes para esta regra: Orçamento
Bruto ou da não-compensação. Esta regra do Orçmaento Bruto implica que as receitas e as
despesas sejam previstas no OE pelo seu montante bruto, ou seja, sem qualquer
compensação ou desconto. E por isso se diz "regra da não-compensação". Concretizando
Além destas regras clássicas, há alguns princípios que têm sido adotados em Portugal,
previstos na nossa LEO.
Um deles assume uma maior importância - assume-a porque, no fundo, estava
subentendido nas finanças públicos e o Tribunal de Contas tem vindo a dar-lhe importância.
É o princípio da sustentabilidade das finanças públicas (art. 11º), que impõe aos serviços que
sejam considerados como vinculados pelas normas orçamentais a obrigação de apresentação
de orçamentos equilibrados ou excedentários. Este equilíbrio há-de ser determinado por
referência às normas constantes da LEO, mas também às normas de DUE em matéria
orçamental e ainda ao designado Tratado Orçamental. Remissão no artigo 11º - este princípio
só consegue ser cumprido verdadeiramente se o for também o princípio previsto no art. 10º -
o princípio da estabilidade orçamental.
O segundo princípio é o solidariedade recíproca, previsto no art. 12º LEO, e diz-nos
que todos os subsetores da AP, seus serviços e entidades, devem contribuir
O equilíbrio orçamental é uma das matérias que atualmente ocupa uma área de
discussão em termos mundiais, principalmente porque não é concebível pensar-se numa
situação em que o Estado preveja realizar despesas sem que preveja também cobrar receitas
suficientes para as pagar.
Por essa razão, dizemos sempre que o Orçamento está sempre equilibrado do ponto
de vista formal, tal como decorre do art. 105º/4 da Constituição e art. 10º LEO. Mas, nesse
caso do equilíbrio formal, contabilizamos como receitas todas as receitas estaduais, incluindo
as receitas provenientes dos empréstimos.
Compreende-se, assim, que quando se fala em equilíbrio orçamental se esteja a falar
de uma situação em que essa igualdade entre receitas e despesas não seja uma igualdade total,
mas apenas entre certas receitas e certas despesas. Vamos encontrar, assim, vários tipos de
equilíbrio em sentido material:
- Equilíbrio do orçamento efetivo;
A distinção entre cada um destes equilíbrios tem por base a diferente classificação de
receitas e despesas e, principalmente, o tratamento que é dado às receitas provenientes dos
empréstimos.
Em todos estes critérios, o recurso a financiamento da despesa pública através de
empréstimos deve ser evitado. Contudo, em alguns deles, há uma racionalidade própria por
detrás do financiamento da despesa pública com recurso a receitas provenientes do
endividamento público. "Declaração de voto" da Dra Matilde.
A opção por cada um destes critérios não é, também, imune ao pensamento
económico sobre a evolução da despesa pública, os efeitos da despesa pública quer no
crescimento económico, quer no desenvolvimento, quer na despesa privada, mas também na
possibilidade e nos impactos que estas políticas tenham à escala global. Só em áreas muito
restritas podemos atualmente delimitar as implicações decorrentes da despesa pública ao
território nacional.
Importa ainda considerar, no caso português, que a opção por um determinado
critério de equilíbrio em sentido material tem de ser compatibilizado com as normas de DUE
e outras normas de direito internacional a que o Estado Português se encontra vinculado.
Cada vez mais, as Finanças não são nacionais; tornam-se da União Europeia. Além
das regras nacionais, também tem de se atender às regras da UE, que está sempre muito
atenta à elaboração e execução dos Orçamentos dos vários países membros. Em rigor, até
1999, os défices dos orçamentos dos vários países não eram propriamente uma preocupação
para os demais países. Contudo, e cada vez mais, a preocupação com o sucesso económico
dos países da UE prende-se com os efeitos de contágio entre as várias economias. Esta
terceira e última fase da UEM está em decurso ainda em vários países e diz respeito à
adoção do euro como moeda única. Quase todos os países que fazem parte da UE, adotaram
o euro como moeda única. Os países da UE devem cumprir um conjunto de requisitos
económicos e jurídicos antes de puderes aderir a esta terceira fase. No nosso caso português,
O saldo estrutural encontra-se previsto no art 20º LEO e no 12ºC da VLEO (ainda
em vigor). A definição de saldo estrutral encontra-se plasmada no art 3º/3 do Tratado
Orçamental. Ninguém sabe calcular o saldo estrutural; várias entidades o calculam, mas
chegam a resultados diferentes. A definição, concretamente, no 12ºC/3 da VLEO e diz-nos
que «corresponde ao saldo orçamental das AP corrigido de efeitos cíclicos e das medidas
extraordina´rias e temporárias». Os efeitos ciclicos referem-se à conjuntura económica, que
influencia automaticamente o saldo orçamental apurado. Por exemplo, num período de
recessão, os impostos arrecadados tendem a diminuir e os subsidios de desemprego pagos a
aumentar. Estes efeitos são deduzidos/retirados. As medidas extraordinárias e temporárias
são aquelas que não podem ser utilizadas de forma recorrente. Por exemplo, a resolução do
BES e do BANIF - dinheiros públicos injetados em bancos. Em termos práticos, o que é o
saldo estrutural? Se ao saldo global retiramos estas medidas temporárias ou não
recorrentes e esta componente cíclica, temos o valor do saldo estrutural. Se o valor for
negativo, estamos perante um défice do saldo estrutural.
CASO PRÁTICO PARA RESOLVER P/ A PRÓXIMA AULA: se o saldo global foi
A fiscalização da execução orçamental pode ser feita por três vias: via administrativa,
via judicial e via política; sendo que todos os tipos de controlo são, do ponto de vista teórico,
passíveis de aplicação quer ao orçamento da receita, quer ao orçamento da despesa. Mas há
diferenças substanciais quanto ao controlo da execução do orçamento das receita e ao
controlo da execução do orçamento da despesa.
Quanto à execução do Orçamento da Receita, há que ter em consideração que existe
um controlo efetivo dos atos de execução orçamental, tendo por base o princípio da
legalidade financeira e, sobretudo, o princípio da tipicidade qualitativa, sem esquecer a
possibilidade de mobilização de outros princípios com este relacionados, nomeadamente o
princípio da especificação que concretiza precisamente o princípio da tipicidade qualitativa.
Para além disso, o Orçamento da Receita é sobretudo alvo de controlo ao nível da execução
no controlo jurisdicional.
Já o Orçamento das Despesas está sempre sujeito a um tríplice controlo.
A. Controlo Administrativo
O controlo administrativo da execução do orçamento da despesa é regulamentado
pela VLEO, pela Lei de Bases da Contabilidade Pública e pelo Regime da Administração
Financeira do Estado, existindo regimes diferenciados consoante estejamos perante serviços
com autonomia administrativa ou serviços com autonomia administrativa e financeira.
Remissão no 58º/4 » LBCP e RAFE.
B. Controlo jurisdicional
O controlo jurisdicional cabe aos orgãos que constituem e integram o leque de
tribunais. Apesar de no modelo continental de fiscalização da atividade financeira do Estado
caber, maioritariamente, ao Tribunal de Contas, pode também ser feito pelos demais
tribunais, dentro do âmbito das suas competências. E esta possibilidade, consagrada
expressamente no nº 7 do art 58º da LEO, é aquela que permite controlar de forma muito
próxima quer a execução do orçamento da receita, quer a execução do orçamento da despesa;
até porque as competências do Tribunal de Contas são exercidas nos termos da 'Lei de
Organização e Processo no Tribunal de Contas', lei nº 98/97 de 26 de agosto, não estando
prevista a possibilidade de os particulares requererem a intervenção deste Tribunal. Aliás, o
Tribunal de Contas é um verdadeiro Tribunal, mas a sua constituição e as suas competências
ultrapassam, em larga medida, aquelas que são reconhecidas aos tribunais judiciais e,
sobretudo, aos tribunais administrativos e financeiros, pois pode julgar o mérito da decisão
ou da solução proposta.
O Tribunal de Contas é o principal orgão com respoonsabilidade na fiscalização da
execução orçamental e realiza três tipos de controlo: fiscalização prévia, fiscalização
concomitante e fiscalização sucessiva. Para além disso, o TContas é ainda competente para
elaborar o parecer sobre a Conta Geral do Estado.
O Tcontas exerce ainda, nos termos do art 49º LOPTC, o controlo concomitante, isto
é, um controlo que é feito ao longo da execução orçamental. Trata-se de uma fiscalização
eventual, que é realizada através de auditorias ou de fiscalização, também através de
auditorias, de contratos com despesa de pessoal que nao tenham que ser remetidos para
fiscalização prévia.
Por fim, o Tcontas faz também um controlo financeiro sucessivo, nos termos dos art
50º e ss da LOPTC. Trata-se de uma fiscalização feita a posteriori e que, para além da
avalização da legalidade, verifica também a economia, eficiência e eficácia da boa gestão
financeira. É também aqui que o Tcontas verifica, mais uma vez, a execução do Orçamento
da Receita no que diz respeito ao endividamento, contando com o apoio do IGCP, EPE.
Na fiscalização sucessiva, o Tcontas volta a preocupar-se com a legalidade, mas
avalia o mérito dos atos de gestão orçamental, utilizando como referência o critério da
economia, eficiência e eficácia. Apesar de ser extremamente importante, esta atividade de
fiscalização sucessiva, os poderes do Tcontas são ainda bastante limitados, podendo
verificar-se situações em que há um procedimento por responsabilidade financeira dos
titulares dos orgãos ou dos agentes que praticaram o ato de gestaõ orçamental. O problema é
que se fica por aqui, porque o ato já produziu efeitos. Pode acontecer é que agora se detetem
irregularidades.
C. Controlo politico
O controlo político é exercido pela AR, nos termos do art 59º da VLEO e pode ser
feito quer concomitantemente, quer sucessivamente, atingindo a sua importância máxima na
verificação e análise da Conta Geral do Estado, que tem de ser apresentada pelo Governo até
30 de julho do ano seguinte àquele a que diz respeito, sendo depois junto um parecer do
Tribunal de Contas, ficando a Assembleia obrigada a pronunciar-se até 31 de dezembro.
A apreciação pela AR (...) – art 71º e ss »» remissão art 41º LOPTC