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ECONOMIA NO SETOR

PÚBLICO
AULA 2

Profª Pollyanna Gondin


CONVERSA INICIAL

Nesta aula, você se familiarizará com as funções econômicas principais


do governo e com as políticas econômicas realizadas por ele. Primeiro, você
conhecerá as funções clássicas do Estado: alocativa, distributiva e
estabilizadora. Na sequência, entenderá o que é uma política econômica e quais
são os seus diferentes tipos. Destacaremos aqui a política monetária, a política
cambial e a política fiscal, indicando seus principais instrumentos.

TEMA 1 – FUNÇÕES ECONÔMICAS DO ESTADO E FUNÇÃO ALOCATIVA

O governo atua de formas variadas na economia, podendo recolher


impostos; fazer compras governamentais; controlar o sistema bancário e o
mercado financeiro; construir estradas, pontes, aeroportos, escolas e hospitais;
regular a concorrência e os diferentes setores da economia por meio de suas
agências reguladoras; entre outras (Riani, 2014).
A forma como o Estado se organiza se modifica ao longo do tempo, e o
governo passa a receber novas atribuições. O crescimento do capitalismo
aumenta as responsabilidades do Estado, o que incrementa gastos e torna
necessário o aumento das receitas. Isso gera um debate sobre em quais
atividades o Estado deve ou não atuar.
O Estado participa da economia não somente recolhendo impostos e
gastando, mas por meio da política monetária, com a determinação de juros e a
emissão de moeda, ou, ainda, com o controle de preços e salários, a fiscalização
da concorrência nos mercados etc. Há um crescimento significativo das funções
do Estado, que podem ser divididas em: função alocativa, função distributiva,
e função estabilizadora (Riani, 2014).
A função alocativa é a mais importante delas, e vincula-se à necessidade
de oferta de bens que o setor privado não oferece, ou por serem caros ou por
apresentarem um retorno baixo, mas que a sociedade demanda, como saúde e
educação. O governo financia essa função por meio de tributos que recolhe e
gerando dívida pública. Em geral, esses bens e serviços expandem o bem-estar
da população (Machado, 2004).
O Estado busca corrigir as falhas de mercado complementando a
iniciativa privada em alguns setores. As falhas de mercado mais importantes que

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ocorrem são: as externalidades; as economias de escala; os bens públicos; as
falhas de informação; os mercados incompletos; o desemprego; e a inflação.

TEMA 2 – FUNÇÃO DISTRIBUTIVA E FUNÇÃO ESTABILIZADORA

A segunda função do Estado é a distributiva, que está vinculada à


atividade de “arrecadar impostos – reduzir a renda – de determinadas classes
sociais ou regiões, para transferi-la a outras” (Machado, 2004, p. 40). Essa é
uma função importante, tendo em conta que pode garantir que todos os cidadãos
possam ter atendidas suas necessidades básicas, já que o capitalismo é
concentrador e algumas pessoas não recebem nem o mínimo para sobreviver.
Em algumas economias com menos oportunidades, ocorre uma
desigualdade grande de renda, sendo o governo o responsável por minimizar os
efeitos dessa desigualdade, transferindo recursos das classes com mais
recursos para as classes mais necessitadas.
O governo realiza essa distribuição para promover justiça social e mais
equidade. Há muita polêmica a respeito dos programas de distribuição de renda,
pois pensa-se que desestimularão o trabalho. Porém, estudos comprovam que,
com os programas de renda mínima como o Bolsa Família e o de cotas, o Estado
gera um crescimento de renda que impede a ocorrência de recessão na
economia e desincentivo ao traballho (Machado, 2004).
A terceira função do Estado é a estabilizadora, que está relacionada a
atender os objetivos centrais da economia, que seriam o controle da inflação e o
crescimento econômico. Para tanto, o governo deve utilizar instrumentos de
política econômica. Ou seja, por meio da política macroeconômica (fiscal,
cambial e monetária) o Estado exerce sua função estabilizadora.
O governo busca manipular os indicadores macroeconômicos – gastos
públicos, juros, oferta de moeda e desemprego – utilizando políticas recessivas
ou expansionistas, dependendo da finalidade buscada. O orçamento público é
um mecanismo importante para garantir o impacto do Estado sobre a economia
(Riani, 2014).

TEMA 3 – POLÍTICA ECONÔMICA

A política econômica está inserida como uma política pública, que é vista
por Dye (citado por Clark, 2008, p. 206) como “o que o governo escolhe fazer ou

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não fazer”. A política econômica engloba as ações econômicas que o Estado
escolhe fazer para atingir seus objetivos econômicos. As políticas econômicas,
para Clark (2008, p. 207), “podem ser desenvolvidas tanto pelos poderes
públicos quanto pela iniciativa privada”. O Estado estabelece as diretrizes da
política, mas os atores privados, como os bancos, auxiliam na execução dessa
política.
Existem entendimentos diversos sobre o que vem a ser a política
econômica; na concepção clássica, trata-se somente de políticas
macroeconômicas, isto é, de políticas monetária, cambial e fiscal. Todavia,
existem autores que defendem que existem outras ações do Estado, que são
setoriais, como a política industrial, agrícola, de regulação, de comércio exterior,
entre outras (Morais; Saad Filho, 2011).
As políticas setoriais são as seguintes: agrícola, industrial, de transportes
(rodovias, ferrovias, aéreo ou hidrovias), de infraestrutura (energia,
telecomunicações e portos), de comércio (interno ou externo), de educação, de
turismo, de construção civil e de habitação. Nessas áreas, o governo escolhe o
que fará com base nas necessidades de cada setor.
Já as políticas macroeconômicas são as seguintes: monetária, fiscal,
cambial, de regime de trabalho, de controles, de regulação e institucional. As três
primeiras são as mais conhecidas e serão estudadas nos próximos temas.
A política macroeconômica é uma ferramenta central para o planejamento
econômico, pois permite que o Estado atinja suas metas. A política econômica é
direcionada aos objetivos econômicos do governo, que são inúmeros, mas os
mais importantes são: crescimento econômico (combate ao desemprego) e
controle de preços (combate à inflação). Para atingir essas metas, o governo
elege quais políticas aplicará, podendo utilizar as expansionistas (para
crescimento) ou as restritivas (para controle da inflação).

TEMA 4 – POLÍTICA MONETÁRIA

A política monetária, associada à moeda e à concessão de crédito, é uma


das mais centrais, determinada no Brasil pelo Conselho Monetário Nacional
(CMN) e pelo Comitê de Política Monetária (COPOM). Executam a política
monetária o Banco Central e o Ministério da Fazenda (Vasconcellos, 2008).
A oferta de moeda da economia corresponde à soma da moeda manual,
o papel-moeda e as moedas metálicas, assim como a moeda escritural, que são
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os depósitos realizados à vista (conta corrente) nos bancos comerciais. Já a
base monetária da economia engloba toda a moeda manual e escritural,
somadas aos ativos monetários que estão nos caixas dos bancos comerciais,
como poupanças, previdências, ações, bem como depósitos voluntários e
obrigatórios que os bancos precisam fazer às autoridades monetárias.
Esses conceitos são centrais para que você compreenda de que forma o
governo pode impactar a economia, modificando a oferta de moeda à disposição
das pessoas, diminuindo a liquidez da economia (que é a capacidade de compra
das pessoas) ou aumentando a liquidez, se for necessário (Vasconcellos, 2008).
Os instrumentos de política monetária são muitos, sendo que os mais
importantes são a emissão de moeda e a definição da taxa de juros. Os juros
são o valor da moeda, isto é, quanto alguém que empresta uma quantidade de
moeda deve pagar para o proprietário desse ativo.
Outros mecanismos importantes são:

 o compulsório bancário: recolhimento de depósitos que o Banco Central


faz dos bancos comerciais para garantir a solvência dos bancos;
 o mercado aberto: compra e venda de títulos públicos que o governo
utiliza para expandir ou diminuir a moeda na economia;
 a taxa de redesconto bancário: taxa de juros que o Banco Central cobra
para emprestar dinheiro aos bancos comerciais;
 financiamento e crédito a pessoas jurídicas, que o governo pode
aumentar ou diminuir;
 vendas a prazo a pessoas físicas, as quais o Estado pode facilitar ou
dificultar;
 o cartão de crédito, que pode ter seus limites alterados;
 os empréstimos ao exterior, que podem ser controlados pelo governo.

TEMA 5 – POLÍTICA CAMBIAL E POLÍTICA FISCAL

A política cambial vincula-se ao controle sobre as operações monetárias


com outros países. Seu mecanismo central é a administração das taxas de
câmbio, por meio da determinação, pelas autoridades monetárias, da cotação
cambial da moeda nacional em relação a moedas do exterior. A taxa de câmbio
representa o preço da moeda estrangeira em moeda nacional.

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O governo decide se a moeda será valorizada (ficará mais forte em
relação ao dólar) ou desvalorizada (ficará mais fraca em relação dólar) a partir
das necessidades do país e das pressões dos exportadores e importadores. A
Esse processo ainda depende do padrão cambial vigente no país, que pode ser
fixo (definido pelo governo), flutuante (que flutua a partir da oferta e da demanda
de moeda estrangeira/divisas no mercado) e flutuante sujo (o câmbio depende
do mercado, mas o governo pode alterá-lo se necessário).
Além da determinação da taxa de câmbio, o governo também controla o
estoque de divisas, comprando ou vendendo moeda ou títulos públicos e
limitando a liberação de divisas para alguns setores. A terceira medida de política
cambial é o controle sobre as operações de câmbio para evitar ataques
especulativos (Vasconcellos, 2009).
A política fiscal será tratada em uma aula específica e, portanto, temos
apresentadas neste momento apenas as linhas gerais. A política fiscal é uma
das políticas econômicas mais utilizadas pelos diferentes níveis do governo. A
política fiscal relaciona-se aos gastos (despesas) e receitas do governo.
As políticas fiscais podem ser (Vasconcellos, 2008):

 restritivas, buscando o controle dos preços por meio do aumento dos


impostos e da redução das despesas públicas;
 expansionistas, para incentivar o crescimento com a diminuição dos
tributos e o aumento dos gastos do governo.

Os mecanismos centrais de política fiscal são:

 a diminuição da carga tributária (uma política expansionista) ou a


expansão dos impostos (uma política restritiva);
 o aumento do prazo de recolhimento dos impostos (política expansionista)
ou a diminuição do prazo de recolhimento (política restritiva);
 o incremento dos gastos públicos (política expansionista) ou a contração
ou adiamento dos gastos (política restritiva);
 o aumento dos subsídios (política expansionista) ou a redução dos
subsídios (política restritiva).

NA PRÁTICA

MARINHO, E.; LINHARES, F.; CAMPELLO, G. Os programas de transferência


de renda do governo impactam a pobreza no Brasil? Revista Brasileira de
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Economia, Rio de Janeiro, v. 65, n. 3, p. 267-288, jul./set. 2011. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-
71402011000300003&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 16 jul. 2018.
Leia o artigo e identifique se esses programas promovem um efeito
distributivo na economia brasileira.

FINALIZANDO

Nesta aula, você conheceu as principais funções econômicas do Estado,


que explicam a participação desse ator na economia. Você pôde entender que a
função alocativa é uma das mais centrais, e refere-se à necessidade de o Estado
ofertar certos bens e serviços, os quais não são produzidos pelo mercado.
Depois você pôde conhecer a função distributiva, que está vinculada à
capacidade do Estado de garantir uma distribuição de renda mais justa. Na
sequência, explicamos a função estabilizadora do governo, que é a ideia de o
Estado alcançar certos objetivos, como o controle de preços na economia e o
aumento do nível de emprego.
Também apresentamos o conceito de política econômica, que é uma
política pública e está relacionada a atividades como emissão de moeda,
controle de crédito, entre outras. Para finalizar, discriminamos as três políticas
macroeconômicas mais centrais: a política monetária, associada à moeda e ao
crédito na economia; a política cambial, relacionada à oferta de moeda
estrangeira e à taxa de câmbio; e a política fiscal, referente a gastos e receitas
do governo.

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REFERÊNCIAS

CLARK, G. Política econômica e Estado. Estudos Avançados, São Paulo, n.


22, v. 62, jan./abr. 2008. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-
40142008000100014>. Acesso em: 16 jul. 2018.

DI TONI, J. Economia do setor público: texto de apoio. Maio, 2008.

MACHADO, M. F. A introdução da Lei de responsabilidade fiscal no


contexto da reforma do Estado: uma análise dos resultados dos governos
estaduais. Dissertação (Mestrado em Economia) – Universidade Federal de
Santa Catarina (UFSC), Florianópolis, 2004. Disponível em:
<https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/87268/210278.pdf?seq
uence=1>. Acesso em: 16 jul. 2018.

MARINHO, E.; LINHARES, F.; CAMPELLO, G. Os programas de transferência


de renda do governo impactam a pobreza no Brasil? Revista Brasileira de
Economia, Rio de Janeiro, v. 65, n. 3, p. 267-288, jul./set. 2011. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-
71402011000300003&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 16 jul. 2018.

MORAIS, L.; SAAD FILHO, A. Da economia política à política econômica: o novo-


desenvolvimentismo e o governo Lula. Revista de Economia Política, v. 31, n.
4, p. 507-527, out./dez, 2011. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/rep/v31n4/01.pdf>. Acesso em: 16 jul. 2018.

RIANI, F. Economia do setor público: uma abordagem introdutória. Rio de


Janeiro: LTC, 2014.

SOUZA, C. Políticas Públicas: uma revisão da literatura. Sociologias, Porto


Alegre, v. 8, n. 16, p. 20-45, jul./dez. 2006. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-
45222006000200003&lng=en&nrm=iso&tlng=pt>. Acesso em: 16 jul. 2018.

VASCONCELLOS, M. A. S. Fundamentos de economia. São Paulo: Saraiva,


2008.

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