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Formação Econômica do Brasil

Unidade 1 / Aula 1
A estrutura da economia colonial

Introdução

A formação da economia brasileira possui uma íntima relação com o processo de

constituição do capitalismo europeu, bem como com a formação das Américas em geral.

Desse modo, compreender a herança colonial, seus impactos sobre a realidade brasileira

e as marcas deixadas pelo passado faz parte da formação de qualquer profissional que

queira entender melhor o país em que vive.

O eixo norteador da aula parte do “sentido de colonização”, conceito elaborado por

Prado Jr. (2011), um dos principais intérpretes da realidade brasileira. Dessa maneira, o

Brasil foi inserido no sistema de comércio mundial a partir de um certo sentido de

existência, ou seja, vinculado aos interesses comerciais metropolitanos. Partindo da

colonização e do escravismo até o momento da independência e transformação em

República, o passado imprimiu marcas que se mantêm vivas até os dias atuais, com

reflexos diretos e indiretos sobre a vida cotidiana.

As razões da colonização

A chegada dos povos europeus às Américas não se deu por mero acaso. A longa crise

do regime feudal como reflexo, entre outras razões, da ascensão comercial do velho

continente e das disputas pelas rotas do Mediterrâneo, impulsionou a aventura dos

homens de negócios pelos oceanos. A chegada de Portugal as terras brasileiras fazem

parte desse quadro mais amplo de transformações globais, que levaram à consolidação

do sistema capitalista a partir da dissolução das velhas relações que, paulatinamente,

foram sendo substituídas pela propriedade privada dos meios de produção e pelo

assalariamento da formação de trabalho.

Influenciados por um ambiente de crescente liberdade comercial, o pensamento

mercantilista lançou suas ideias de acúmulo de metais preciosos e superávit na balança


comercial sobre o continente “recém-descoberto”. Repletos de prata e ouro, como no

caso dos achados espanhóis, e de especiarias, como no caso dos portugueses,

rapidamente percebeu-se a potencial lucratividade dessas áreas e como se poderia fazer

a vida na Europa. Voltado aos interesses comerciais externos, o Brasil surgiu como

importante fornecedor de bens primários e iguarias diferenciadas, o que possibilitou o

enriquecimento da coroa portuguesa, principalmente após o estabelecimento da empresa

comercial açucareira, após 1530.

Foi dentro deste contexto que Prado Jr. (2011, p. 15) argumentou que “todo povo tem

na sua evolução, vista à distância, um certo ‘sentido’”. Antes, portanto, de entrar na

colonização, o autor se preocupa com os motivos que levaram a esta e daí a ideia de

sentido. Voltado aos interesses de comércio do colono europeu, a ocupação territorial se

deu apenas quando foi inevitável defender as terras de outras potências europeias

emergentes. O Brasil foi formado, nesse caso, com intuito exclusivo de ser fornecedor

de gêneros comercializáveis, um território voltado para fora, sem sentido de nação, a

partir de interesses internos comuns. O próprio trabalho utilizado, compulsório como se

sabe, sempre foi a primeira opção, nunca se arriscando o trabalhador branco e livre

europeu.

Dessa maneira, o que coloca Prado Jr. (2011) é que o Brasil não foi formado para ser

uma nação, onde povos se estabeleceriam com objetivos de desenvolvimento interno ou

como forma de extensão de suas vidas na Europa, como ocorreu com a América do

Norte. Aqui, fez-se do território mero entreposto comercial,

Se vamos à essência da nossa formação, veremos que na realidade nos constituímos

para fornecer açúcar, tabaco, alguns outros gêneros; mais tarde ouro e diamantes; depois

algodão, e em seguida café, para o comércio europeu. Nada mais que isso. É com tal

objetivo, objetivo exterior, voltado para fora do país e sem atenção a considerações que

não fossem o interesse daquele comércio que se organizarão a sociedade e economia

brasileiras. (PRADO Jr., 2011, p. 29)


Voltada para fora, isto é, conectada aos interesses do mercado internacional, a empresa

comercial se organizou a partir da seleção de produtos de alta lucratividade, como o

caso do açúcar no século XVI. Como não havia objetivo de expansão do mercado

interno, o país especializou-se na monocultura açucareira no início, concentrando boa

parte dos recursos nesse produto. Dois outros elementos importantes dão a característica

principal da empresa comercial: o trabalho escravo e o latifúndio. O primeiro, já de

domínio de Portugal a partir das feitorias estabelecidas na costa africana, proporcionou

um mercado lucrativo adicional. O segundo elemento, o latifúndio, consolidou-se como

forma de produção funcional, tanto à extensão territorial brasileira quanto ao modelo da

monocultura de exportação.

Em síntese, as mudanças vindas da Europa e o lugar do Brasil na divisão internacional

do trabalho explicam seu sentido de existência durante a colonização.


A inserção subordinada

O Brasil surgiu na história de maneira subordinada aos interesses comerciais europeus

e, por essa razão, o modelo de desenvolvimento foi organizado a partir do que se

chamou de “plantation”. Voltada aos interesses comerciais externos, a empresa

comercial foi organizada de modo a atender exclusivamente esses interesses,

abandonando por completo a formação e o desenvolvimento de um mercado interno, o

que seria necessário apenas, e tão somente, se houvesse alguma pretensão de tornar essa

colônia uma nação.

Assim, estruturou-se a plantation por meio do trabalho escravo, monocultura e

latifúndio. O trabalho compulsório, embora faça parte da história das civilizações

humanas em toda antiguidade, assumiu no capitalismo e, portanto, nos trópicos, uma

conotação particular. O escravo africano, além do seu valor de uso, ou seja, a

capacidade intrínseca de produzir valores de troca, ele mesmo possui valor de troca no

mercado, tornando-se peça fundamental do enriquecimento dos Estados Nacionais

Europeus. Portugueses, espanhóis, holandeses e, mais adiante, ingleses e franceses

foram fortemente beneficiados pelo mercado de escravos.


O segundo elemento, a monocultura, estruturou-se de maneira funcional ao modelo

exportador, pois o objetivo era atender à Europa com o gênero mais lucrativo possível e,

portanto, haveria poucas razões para diversificação. As necessidades incipientes de

alimentação de escravos e colonos eram satisfeitas sem a necessidade de grandes

extensões de terras. Esse processo se deu com o açúcar, com os minérios e depois com o

café, como será apresentado mais adiante.

O latifúndio, representado pela grande extensão territorial do país, é uma característica

marcante do Brasil, que permanece ainda atualmente. Dividido em Capitanias

Hereditárias inicialmente, o território passou a ser administrado com vistas ao

atendimento dos negócios da coroa portuguesa. Grandes extensões de terra repletas de

um único produto e pautadas na violência do trabalho escravo, dessa maneira o Brasil

foi formado e parte dessas características ainda se apresentam nos dias atuais, mesmo

que de maneira indireta.

Ainda no que diz respeito à conexão com o processo de expansão do comércio europeu,

pode-se dizer que a colonização fez parte do processo denominado por Marx (2008) de

“acumulação primitiva” de capital. Na fase inicial da constituição do capitalismo

europeu, o processo de cercamento das terras e expulsão do camponês caracterizou-se

pela separação dos trabalhadores dos meios de produção. Ao apropriar-se da terra e da

força de trabalho livre, a burguesia comercial emergente passou a acumular capital por

meio da exploração do trabalho livre, dando impulso à industrialização posterior. A

colonização das Américas, todavia, faz parte desse processo inicial de formação do

sistema capitalista, dando impulso a acumulação primitiva necessária à sua contínua

expansão.

Lacerda et al. (2010) identificam ao menos três diferentes vias de formação do

capitalismo: (i) a via clássica, constituída pelas longas transformações ocorridas na

Europa, ao longo dos séculos XVII e XVIII, particularmente na Inglaterra, na França e

nos EUA. De caráter “democrático” e liberal, esses países foram os pioneiros na


constituição do capitalismo; (ii) a via prussiana, seguida pelos países de industrialização

retardatária, da segunda metade do século XIX, cuja característica foi o autoritarismo,

embora tenham conquistado autonomia econômica. Fazem parte dessa via,

particularmente, Alemanha, Itália e Japão; (iii) por fim, tem-se a via colonial, onde

estão inseridos o Brasil e a maior parte das Américas, caracterizados pelo atraso

econômico e democrático, além da dependência estrutural em relação aos países

pioneiros.

A partir do conhecimento do tipo de capitalismo constituído no Brasil e do seu papel na

divisão internacional do trabalho, é possível compreender com maior precisão os

dilemas enfrentados pelo país, ainda que a industrialização tardia do século XX tenha

trazido mudanças estruturais fundamentais.


Uma economia voltada para fora

A economia brasileira atravessou os pouco mais de cinco séculos de existência com

uma característica fundamental, sua relação dependente com o setor externo. Pode-se

dizer que a industrialização por substituição de importações foi um período de rápido

crescimento e mudanças importantes, porém, efêmero na história brasileira. A partir da

crise desse modelo nos anos 1980, o Brasil voltou-se à pauta primária de exportações,

ganhando destaque internacional, como o grande ofertante de commodities mundial.

Na primeira década dos anos 2000, a economia brasileira passou por um processo de

crescimento intenso, mas dessa vez motivado pelo ciclo positivo de commodities

externas. As economias asiáticas, com destaque para China, passaram a demandar bens

primários, como minério de ferro, petróleo, soja e carnes.

O chamado “boom de commodities” elevou a economia brasileira ao patamar de grande

ofertante global de matérias-primas, além de importador dos bens mais complexos e

industrializados vindos da China, mas também dos EUA e países da Europa. Ou seja,

essa reprimarização da pauta comercial, embora positiva do ponto de vista da geração


de renda, aumentou a dependência do país em relação à demanda externa, tornando-o

ainda mais suscetível às oscilações dos ciclos externos.

Em linhas gerais, a globalização observada desde os anos 1990 mudou a relação entre

os países, provocando o que Sampaio Jr. (2007) chamou de “reversão neocolonial”. O

autor argumenta que os países da “periferia” do capitalismo, isto é, os

subdesenvolvidos, estiveram expostos ao menos a três processos integrados: (i) a

difusão desigual do progresso técnico, ampliando a diferença entre os países pobres e

ricos; (ii) a transnacionalização do capitalismo, ampliando as crises de balanço de

pagamentos e a dependência financeira; e (iii) as mudanças no padrão de

desenvolvimento, que intensificaram a dependência cultural (SAMPAIO Jr., 2007).

É nesse quadro geral e mais amplo da globalização que se insere a reprimarização da

pauta de exportações, ou seja, o retorno do Brasil ao seu lugar de formação, como

ofertante de matérias-primas para o mundo desenvolvido. Mais recentemente, esse

movimento foi intensificado, tendo em vista a ampliação da capacidade do país em

ofertar bens como soja, minério e petróleo, especialmente após a entrada do pré-sal em

funcionamento.

Em 2020, o Brasil se tornou o maior produtor de soja do mundo, com 126 milhões de

toneladas, segundo dados do IBGE. Com forte participação na região Centro-Oeste do

país, o grão se estende também às regiões Sul, Sudeste e vem ocupado a região Norte

recentemente, causando conflitos em torno da terra.

Além da produção agropecuária, típica do período colonial, outra característica persiste

nos dias atuais, a disputa pela terra. O Censo Agropecuário do IBGE de 2006

identificou que cerca de 45% da área rural do país está nas mãos de menos de 1% dos

proprietários agrícolas, o que faz do Brasil um dos poucos países de larga extensão sem

ter realizado uma reforma agrária. Tal concentração é motivo de disputas sangrentas,

como as observadas nas regiões da Amazônia e do Pará recentemente, fazendo do Brasil

o país com maior número de mortos em conflitos por terra. Em relatório de 2021, o
Centro de Documentação da Comissão Pastoral da Terra (CPT) informou aumento de

1,044% nas mortes em decorrência de conflitos no campo em comparação com 2020. A

maior parte das vítimas foi de indígenas Yanomamis, com 103 óbitos.

As informações aqui destacadas revelam que, a despeito de mudanças importantes

ocorridas na economia e sociedade brasileiras, parte da herança colonial ainda se

apresenta. Nesse sentido, conhecer a história contribui para a compreensão dos dilemas

e desafios ainda a serem superados.


Videoaula: A estrutura da economia colonial

Saiba mais

Para compreender com mais profundidade a história e os dilemas da economia

brasileira, leia a introdução e o primeiro capítulo da obra de Caio Prado Jr. Formação

do Brasil Contemporâneo: Colônia. Disponível nas referências.

Em complemento, a revista do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) traz na sua edição

de 1969 o artigo Considerações sobre o sentido da colonização do Prof. Dr. Fernando

Novais sobre o sentido da colonização em Caio Prado Jr. Destaca-se, todavia, que

Novais é um dos maiores especialistas em sistema colonial e também na obra de Caio

Prado Jr.

Acesse também a página do IEB, um centro multidisciplinar de pesquisas e

documentação sobre a história e as culturas do Brasil.


Referências

COMISSÃO PASTORAL DA TERRA. Conflitos no Campo: Brasil, 2021. Centro de

Documentação Dom Tomás Balduino – CPT. Goiânia: CPT Nacional, 2022. Disponível

em: https://www.cptnacional.org.br/publicacoes-2/destaque/6001-conflitos-no-campo-

brasil-2021. Acesso em: 18 ago. 2022.

IBGE. Censo Agropecuário: Brasil, Grandes Regiões e Unidades da Federação. Rio

de Janeiro: IBGE, 2006. Disponível


em: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/periodicos/51/agro_2006.pdf. Acesso

em: 18 ago. 2022.

LACERDA, A. C. et al. Economia brasileira. São Paulo: Editora Saraiva, 2010.

MARX, K. O Capital: crítica da economia política. Livro I, Volumes I e II. Rio de

Janeiro: Civilização Brasileira, 2008.

PRADO Jr., C. Formação do Brasil Contemporâneo: Colônia. Entrevista Fernando

Novais; posfácio Bernardo Ricupero. São Paulo: Companhia das Letras, 2011.

SAMPAIO Jr., P. A. Globalização e reversão neocolonial: o impasse brasileiro. En

publicación: Filosofía y teorías políticas entre la crítica y la utopía. Hoyos Vásquez,

Guillermo. CLACSO, Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales, Buenos

Aires, 2007. Disponível

em: http://bibliotecavirtual.clacso.org.ar/ar/libros/grupos/hoyos/11Sampaio.pdf. Acesso

em: 18 ago. 2022.

Unidade 1 / Aula 2

O desenvolvimento da economia colonial

Ciclos comerciais

A economia capitalista se caracteriza pela alternância de ciclos positivos e recessivos,

mas, nas colônias, esse ciclo se apresentou de maneira ainda mais intensa. Economias

dependentes, portanto, sem mercado interno no qual se apoiar, sempre estiveram

sujeitas às oscilações da demanda internacional. No acaso do Brasil, o produto que

assumiu destaque tão logo a colonização se estabeleceu, foi o açúcar, o “ouro branco”,

entre os séculos XVI e XVII. Escasso na Europa e tido como uma especiaria de alto

valor, o produto facilmente produzido nas colônias tropicais enriqueceu rapidamente

suas colônias na África, na América do Sul, nas Antilhas e até mesmo em regiões da

Ásia.
Na corrida comercial que alimentou as expansões ultramarinas, Portugal e Espanha

saíram na dianteira, no entanto, ao toparem com o continente inexplorado, tomaram

caminhos diferentes, fator que determinou o destino de cada metrópole. Ao encontrar os

metais preciosos na costa americana, os espanhóis, além de dizimarem civilizações

organizadas, como Astecas e Incas, por meio das chamadas “encomiendas”, extraíram

rapidamente o ouro e, principalmente, a prata encontrada.

Tal empreendimento balançou a Europa, atraindo interesses de coroas e mercenários,

acirrando a disputa sobre as novas terras. Portugal, por sua vez, estabeleceu-se

inicialmente em seus domínios pela necessidade de proteção deles contra outros

invasores, mas em seguida organizou sua empresa comercial lucrativa. Pela sorte ou

pelo azar de não encontrar metais preciosos em abundância no Brasil, os portugueses

foram impelidos a criar uma atividade lucrativa, fazendo da empresa açucareira uma das

mais importantes da época. Sobre os caminhos opostos tomados por ambas as

metrópoles,

A ocupação econômica das terras americanas constitui um episódio da expansão

comercial da Europa. [...] A descoberta das terras americanas é, basicamente, um

episódio dessa obra ingente. De início pareceu ser episódio secundário. E na verdade o

foi para os portugueses durante todo um meio século. [...]. Aos espanhóis revertem em

sua totalidade os primeiros frutos, que são também os mais fáceis de colher. O ouro

acumulado pelas velhas civilizações da meseta mexicana e do altiplano andino é a razão

de ser da América, como objetivo dos europeus, em sua primeira etapa de existência

histórica. (FURTADO, 2011, pp. 15-16)

No século XVI, a força da coroa espanhola se fazia perceber em qualquer lugar. A

União Ibérica, estabelecida entre os anos de 1580 e 1640, absorveu Portugal a seus

domínios e a força de Filipe II, rei da Espanha, foi sentida também nos Países Baixos,

onde seu poder católico perseguiu protestantes, num claro conflito entre a velha e a

nova sociedade. Tais eventos tornaram o Brasil alvo ideal, principalmente de holandeses
que, por meio da Companhia das Índias Ocidentais, se estabeleceram na região

Nordeste, dominando as técnicas de produção do açúcar e depois replicando-as nas

Antilhas.

A crise espanhola em meio a tantos gastos militares produziu sua rápida decadência no

século XVII, contrastada com a ascensão de países como Holanda, Inglaterra e França,

que logo assumiriam a dianteira na primeira onda da Revolução Industrial.

Enfraquecido, Portugal se apoiou nos ingleses, estabelecendo tratados pouco vantajosos

para si, mas muito benéficos para a industrialização da Inglaterra, como o Tratado de

Methuen, de 1703 (SAES; SAES, 2013).

Com o fim do ciclo açucareiro, particularmente no contexto de ampliação da

concorrência holandesa, a mineração se apresentou como saída. O processo de incursão

territorial, conhecido como “Bandeiras”, descortinou um novo país, agora rumo ao

interior. A descoberta das jazidas minerais nas Minas Gerais provocaram mudanças

importantes na economia e na demografia da colônia. De comportamento efêmero,

todavia, o ciclo mineral rapidamente se esgotou, cedendo espaço a um período de

renovação agrícola no país que, em seguida, faria riqueza a partir do café.


Mudanças internas

O ciclo mineral no Brasil produziu importantes mudanças na demografia e, portanto,

nas relações sociais. As notícias de ouro abundante no novo continente

atraíram indivíduos em busca do rápido enriquecimento, mais uma vez dentro da

dinâmica de uma colônia de exploração, ou seja, sujeitos nada preocupados com o

desenvolvimento do mercado interno, mas voltados à rápida extração de recursos, o que

o permitiria retornar à Europa. Além dos colonos apoiados por suas coroas, vieram

também piratas, mercenários e todos os tipos de indivíduos, ampliando a miscigenação

brasileira.

As jazidas minerais usavam pouca ou quase nula tecnologia, sendo, portanto, apoiada

no trabalho escravo, a essa altura um mercado altamente lucrativo. A exploração do


indígena na expansão territorial é outro fator importante para compreender o encontro

das três diferentes raças. De acordo com Lacerda et al. (2010, p. 27), “essas expedições

assumiam diversas formas, dentre as quais destacaram-se as bandeiras paulistas, que

tinham como objetivo a captura de índios”. A produção nas jazidas também introduziu

novas formas de trabalho; dada a menor exigência de capital em comparação ao

engenho de açúcar, tornou-se mais difundida a possibilidade de empreendimentos

individuais.

Além disso, alguns escravos passaram a ter uma posição diferente nesse contexto,

podendo inclusive comprar a própria liberdade (alforria) com recursos acumulados em

atividades comerciais ao redor da mineração. O trabalho no ciclo mineral, todavia,

continuava majoritariamente pautado na escravidão do africano e em menor medida do

indígena.

Prado Jr. (2011) chama atenção para as mudanças sociais ocorridas entre os séculos

XVII e XVIII a partir do que ele chamou de “encontro das três raças”. Segundo o autor,

no Brasil se deu ao acaso, motivado pelos interesses comerciais, o encontro entre três

grupos sem coesão, nas suas palavras, “sem nexo moral”. Em linhas gerais, de acordo

com Prado Jr. (2011, p. 362), “raças e indivíduos mal se unem; não se fundem num todo

coeso; justapõem-se uns aos outros, constituem-se unidades e grupos incoerentes que

apenas coexistem e se tocam”.

Nesse sentido, a ausência de conexão entre os grupos sociais impede vínculos mais

profundos de solidariedade, incluindo a noção de pertencimento a um mesmo país. Em

última análise, cabe destacar que o vínculo entre essas três raças se dá por meio do

trabalho compulsório e, por sua vez, constrangido, violento, o que não permite o sentido

de pertencimento a um povo.

O núcleo moral é a família, onde os filhos aprendem com seus pais sobre sexo

estuprando suas escravas; a prostituição torna-se, com isso, atividade


comum às mulheres sem meio de subsistência e que por não fazerem parte de camadas

ricas também não eram reconhecidas como moças “para casar” (PRADO Jr., 2011).

Com a abundância de metais preciosos, a coroa portuguesa passou a ampliar a

fiscalização, da presença do intendente à ampliação da tributação, de onde vem “o

quinto”, 20% de recolhimento de impostos sobre o ouro extraído, Portugal passou a

pressionar a colônia por maiores recursos. Nesse contexto, as conjurações, a começar

pela mineira, mas depois baiana e pernambucana, registravam o início do fim do regime

colonial. Inspiradas também pelas ideias iluministas que já circulavam pelas Américas,

as revoltas tomaram conta da região. Da independência dos EUA a independência do

Haiti, primeiro país a abolir a escravidão na região, a colônia estava com os dias

contados.

Foi nesse contexto, todavia, que o café despontou como produto de destaque. Apesar

das mudanças políticas e dos reflexos da revolução industrial inglesa, o Brasil adentrou

o século XIX como um país ainda voltado aos interesses comerciais estrangeiros e, por

meio da plantation, continuava a oferecer um gênero lucrativo.


A importância da história

Você já se perguntou por que os países são tão diferentes? Mesmo em casos de histórias

parecidas, como as do Brasil e dos EUA, os caminhos adotados contribuíram para a

formação de nações completamente diferentes.

Entre os séculos XVI e XVII, enquanto o Brasil passava de um ciclo a outro, mas

sempre voltado para fora, como foi visto na primeira aula, os países europeus

enfrentavam conflitos de diversas naturezas, principalmente políticos, mas alguns de

fundo religioso. Perseguidos pela Santa Inquisição da Igreja Católica, movimento de

contrarreforma Protestante, povos europeus se deslocaram para as Américas,

principalmente ao Norte, onde hoje são os EUA e o Canadá. Com objetivos de dar

continuidade a suas vidas longe das perseguições e podendo exercer sua liberdade, tanto

religiosa como política e comercial, o novo continente se tornou uma extensão da vida
europeia fora da Europa. Seguindo a abordagem de Prado Jr. (2011), o “sentido da

colonização” da América do Norte assumiu características diferentes das observadas ao

Sul, ou seja, com objetivos de dar seguimento à vida europeia, essas colônias fizeram do

povoamento uma ferramenta de exploração do território.

Ao contrário do latifúndio e da monocultura, contudo, a divisão de terras e a

diversificação da produção estimulou o mercado interno, o que tornou essas regiões

menos voláteis ao mercado exterior em comparação às colônias de exploração. Ao Sul

dos EUA, porém, em função do clima propício e dos interesses metropolitanos da

Inglaterra, plantations de algodão foram instaladas com base no trabalho escravo. As

duas regiões do país trabalharam simultaneamente como parte de um sistema mais

amplo, segundo Furtado (2011).

Enquanto as colônias ao Norte estavam voltadas para dentro, alimentando também o

mercado interno das regiões de exploração, estas forneciam bens primários à primeira.

Nessas condições, “uma economia desse tipo estava em flagrante contradição com os

princípios da política colonial e somente graças a um conjunto de circunstâncias

favoráveis pôde desenvolver-se” (FURTADO, 2011, p. 39).

Nesse caso, as razões de formação e desenvolvimento da América do Norte,

particularmente dos EUA, ajudam a compreender os caminhos tomados ao longo de sua

história. Voltada aos interesses internos e em flagrante contradição com os interesses

metropolitanos, a colônia não tardaria a se rebelar e promover uma guerra civil violenta

que acabaria por definir seu destino. Voltados para seu mercado interno, os EUA

passaram a se tornar um país com objetivos de desenvolvimento e ampliação de seus

mercados, o que contribuiu para a rápida industrialização ao longo do século XIX. O

protecionismo de Alexander Hamilton à frente da economia possibilitou o amplo e

decisivo apoio do Estado norte-americano à industrialização que, por meio do

protecionismo, conquistou mercados e garantiu matérias-primas a baixo custo.


Os caminhos adotados pelo Brasil, todavia, foram em direção oposto. Voltado aos

interesses estrangeiros e sem preocupação com um mercado interno mais robusto,

iniciou sua industrialização num contexto apenas quando foi inevitável, mas depois que

muitos outros já haviam feito.

Em linhas gerais, para compreender as diferenças entre os países e evitar comparações

superficiais, é de fundamental importância o retorno à história, para que se compreenda

quais foram as decisões que conformaram o presente. Outros aspectos como o sistema

tributário, a distribuição da propriedade e da riqueza, ganhos de produtividade por meio

da tecnologia, entre outros, podem ser compreendidos por meio da história.


Videoaula: O desenvolvimento da economia colonial

Saiba mais

 Sobre os ciclos econômicos, leia o Capítulo 2 de Lacerda et al. (2010),


disponível na bibliografia.
 Sobre o funcionamento dos engenhos, acesse o material disponível na página
oficial do governo do Rio de Janeiro.
 Sobre o ciclo da mineração ver “Ouro e diamantes” de FAUSTO, B.

Referências

FURTADO, C. Formação Econômica do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras,

2011.

LACERDA, A. C. et al. Economia brasileira. São Paulo: Editora Saraiva, 2010.

PRADO Jr., C. Formação do Brasil Contemporâneo: Colônia. Entrevista Fernando

Novais; posfácio Bernardo Ricupero. São Paulo: Companhia das Letras, 2011.

SAES, F. A. M.; SAES, A. M. História Econômica Geral. 1. ed. São Paulo: Saraiva,

2013.

Unidade 1 / Aula 3
A crise do sistema colonial e a independência do Brasil

Introdução

O século XIX foi marcado por intensas mudanças no mundo e no Brasil. A Revolução

Francesa e seus ideais de liberdade, igualdade e fraternidade inspiraram a burguesia


emergente em todos os cantos do mundo, inclusive nas Américas. Adicionalmente, o

salto produtivo dado pela Inglaterra na segunda onda da Revolução Industrial a partir da

generalização da máquina a vapor colocou esse país na dianteira do capitalismo global,

tido como “a oficina no mundo”.

O enfraquecimento de Portugal diante da Inglaterra e da força de Napoleão Bonaparte

impôs à coroa duas opções: ficar e lutar contra um dos mais poderosos exércitos da

Europa ou aceitar o apoio inglês em troca da abertura dos portos brasileiros, decretando

o fim do exclusivo metropolitano que, por sua vez, decretaria a crise do modelo

colonial. Nesse sentido, o período foi marcado no Brasil por grandes transformações, de

uma sociedade rural e colonial a uma sociedade que aos poucos ia se tornando urbana e

industrial.
A crise do modelo colonial

A crise vivida por Portugal com o fim da União Ibérica revelou sua fraqueza comercial,

política e financeira, beneficiando a Inglaterra com acordos que reforçaram o atraso

relativo entre ambos os Estados. As pressões da coroa portuguesa por mais impostos

frente às jazidas de ouro cada vez mais escassas contribuíram para a intensificação de

um clima de rebeldia no Brasil, inspirado também pelo iluminismo francês, que há

pouco havia guilhotinado a nobreza de seu país, acabando com os resquícios do antigo

regime e inaugurando uma nova ordem. Inspirada pelo liberalismo e seus ímpetos

comerciais e industriais, a burguesia inglesa avançou sobre o mundo generalizando a

divisão do trabalho e os novos métodos de produção, o que acelerou a produtividade

como nunca havia sido observado.

A crise colonial se aprofundou em meio a esse clima de rebelião, inclusive de homens e

mulheres escravizados, além de uma nascente classe média urbana, descontente com as

pressões impostas pela metrópole portuguesa e desejosa de tomar para si o controle

político. As pressões pela descentralização do poder ao longo do século XIX estavam

ligadas à ascensão de uma classe dominante na região Sudeste do país, ligada aos
interesses exportadores do café. Ainda que em oposição ao Império, a cafeicultura

manteve a estrutura da plantation, trazendo para si os ganhos derivados da empresa

mercantil colonial.

A transferência da corte portuguesa para o Brasil em 1808 registrou o prenúncio do fim

da era colonial, particularmente diante do fim do exclusivo metropolitano a partir da

abertura dos portos brasileiros. Sobre isso, resume Novais (1989, p. 123):

Assim, na segunda metade do século XVIII, convergem duas tendências no comércio

internacional e colonial, e essa convergência era de molde a pôr cada vez mais em

xeque o sistema colonial como um todo. De um lado, o desenvolvimento irreversível da

revolução industrial inglesa exigia cada vez mais a abertura dos mercados ultramarinos

consumidores de produtos manufaturados; por outro lado, a política de autonomização e

desenvolvimento econômicos dos países ibéricos ia cada vez mais dificultando a

penetração dos produtos ingleses no ultramar pelas vias metropolitanas. O resultado

dessa coincidência de tendências divergentes tinha necessariamente de fazer com que os

interesses do industrialismo inglês se orientassem no sentido de ruptura do pacto

colonial, removendo-se o intermediário das metrópoles.

A proibição do tráfico negreiro pela Inglaterra foi outro fator importante, fator

revelador de um novo tempo, menos em função de valores éticos e morais, ainda que

presentes em figuras à época, mas mais ligados às necessidades de expansão comercial,

o trabalho assalariado configura o mercado necessário ao consumo de manufaturados

ingleses.

A independência do Brasil, em 1822, invalidou o acordo entre portugueses e ingleses

acerca da proibição do tráfico, mas como condição ao reconhecimento da

independência, a Inglaterra exigiu o compromisso de manutenção de tal política.

Promulgada em 1831, a lei que deveria reprimir o tráfico de escravos serviu apenas

“para inglês ver”, diante da queda nos preços dos escravos na África e da crescente

demanda para as lavouras de café, o tráfico não apenas se manteve como acelerou.
Nesse contexto de contradições e profundas transformações, o Brasil se tornou nação

independente, ainda que mantendo a estrutura de funcionamento predominante na

colônia. A exigência de retorno de D. Pedro a Portugal desencadeou uma série de

reações que culminaram na independência formal do Brasil, mas diante da estrutura de

poder que se configurava, voltada aos interesses da elite cafeicultora, o país seguiu

atrelado aos interesses mercantis mundiais.


O papel do café no século XIX

A colônia de exploração viveu dos ciclos produzidos por produtos atraentes ao mercado

europeu. No século XIX essa dinâmica se manteve, inclusive por razões alheias ao

Brasil, como foi o caso da independência do Haiti. Colônia açucareira francesa, o país

entrou em ebulição política nos finais do século anterior, desorganizando a produção de

açúcar e café, o que abriu uma série de oportunidades ao Brasil. O açúcar, que já havia

perdido a predominância que um dia teve, mas nunca desaparecido, voltou a figurar

como importante produto. Mas foi o café, cultivado no país desde o início do século

XVIII, tendo vindo da Abissínia (Etiópia), que ganhou relevância no país já

independente. Segundo Furtado (2011, p. 115), “no primeiro decênio da independência

o café já contribuía com 18% do valor das exportações do Brasil, colocando-se em

terceiro lugar depois do açúcar e do algodão. E nos decênios seguintes já passa para o

primeiro lugar, representando mais de 40% das exportações”.

Um dos dilemas vividos pelo Brasil na primeira metade do século XIX foi, segundo

Furtado (2011), a escassez de mão de obra. Com contingente reduzido em função do

modo de vida do escravo brasileiro em comparação com o norte-americano, por

exemplo, a região cafeeira passou a rivalizar com as regiões produtoras de açúcar e

algodão por escravos. Já a mão de obra potencial alocada no setor de subsistência era

pouca e dispersa, caracterizada por baixos padrões produtivos, o que dificultava e

encarecia o recrutamento. Adicionalmente, a desorganização econômica produzida

pelos ciclos intensos da economia de exportação reunia em zonas urbanas uma força de
trabalho livre e potencial sem ocupação permanente, mas com dificuldades de adaptação

à disciplina do trabalho agrícola.

Como solução ao problema da mão de obra, passou-se a fomentar correntes migratórias

asiáticas e europeias ao Brasil. Segundo Furtado (2011, p. 126),

As colônias criadas em distintas partes do Brasil pelo governo imperial careciam

totalmente de fundamento econômico; tinham como razão de ser a crença na

superioridade inata do trabalhador europeu, particularmente daqueles cuja "raça" era

distinta da dos europeus que haviam colonizado o país. Era essa uma colonização

amplamente subsidiada. Pagavam-se transporte e gastos de instalação e promoviam-se

obras públicas artificiais para dar trabalho aos colonos, obras que se prolongavam

algumas vezes de forma absurda. E, quase sempre, quando, após os vultosos gastos, se

deixava a colônia entregue a suas próprias forças, ela tendia a definhar, involuindo em

simples economia de subsistência.

Inicialmente, os métodos e a força utilizados na política de imigração chegaram a

fomentar na Europa um clima contrário à saída de trabalhadores cujo destino fosse o

Brasil, como foi o caso da proibição alemã em 1859. Foi a partir de 1870, como uma

política de Estado, organizada e combinada com a elite cafeeira que o país passou a

atrair grande contingente de imigrantes às lavouras de café, especialmente italianos cujo

país passava por unificação territorial em fins do século XIX. Sobre tal política pode-se

resumir:

A imigração subvencionada se estendeu de 1870 a 1930 e visava a estimular a vinda de

imigrantes: as passagens eram financiadas por fazendeiros e pelo governo brasileiro,

bem como o alojamento e o trabalho inicial no campo ou na lavoura. Os imigrantes se

comprometiam com contratos que estabeleciam não só o local para onde se dirigiriam,

como igualmente as condições de trabalho a que se submeteriam. (IBGE, 2007)


O Brasil do século XIX, em linhas gerais, iniciou seu processo de transição de uma

sociedade rural e escravocrata para uma nação independente, de trabalho livre e

integrado ao processo global de industrialização.


As marcas da colonização

O Brasil de fins do século XIX e início do século XX era um país em profundas

transformações, inclusive no seu eixo político, do Nordeste açucareiro para o Sudeste

cafeeiro e com reflexo em diversas outras áreas. O café teve importância decisiva para a

economia e sociedade brasileiras, ainda hoje ocupando lugar de destaque nas

exportações. A industrialização, ocorrida na esteira da crise global desencadeada pela

quebra da Bolsa de Nova York, teve íntima relação com a cafeicultura, ora sendo

alimentada pelo capital acumulado nessa atividade, ora utilizando-se das relações

exteriores propiciadas pela cafeicultura. As elites da região Sudeste, particularmente de

São Paulo, formaram a burguesia industrial inicial, importante para a inserção do país

no capitalismo industrializado do século XX.

Esse fato explica, todavia, o papel que o estado de São Paulo teve na formação do país,

inclusive no aspecto cultural e intelectual. A centenária Semana de Arte Moderna, por

exemplo, que revelou e consolidou importantes artistas brasileiros, expressou um

momento de ebulição social e política do país. No mesmo ano era fundado no Rio de

Janeiro o Partido Comunista Brasileiro, agremiação mais antiga do país, reunindo as

demandas de uma recém-surgida classe operária urbana que, inspirada no socialismo

europeu, iniciava a agitação política pelos grandes centros urbanos do país. Nesse

contexto, Caio Prado Jr., membro de uma das famílias mais ricas e tradicionais

produtoras de café de São Paulo, iniciou seus estudos sobre o Brasil, rompendo com

suas origens e integrando as fileiras do PCB.

Sobre a formação da indústria, Lacerda et al. (2010, p. 52) destacam:

Em 1872, o Barão de Piracicaba construiu, na cidade de São Paulo, a primeira fábrica

têxtil de tipo moderno, que utilizava cerca de 30 teares adquiridos da firma inglesa John
Pratt & Sons e o trabalho de apenas 60 operários. Em 1877, o filho do Barão de

Piracicaba, que tinha sido educado na Inglaterra, construiu outra fábrica têxtil, ainda

maior, munida de 350 máquinas da mesma firma inglesa. No Estado de São Paulo, em

particular na zona algodoeira de Itu, foram abertas mais dez pequenas empresas de

fiação de algodão. No Brasil, como em muitos outros países, o setor têxtil foi durante

muito tempo o principal ramo industrial. Em 1881, nele estavam ocupados 3 mil

operários; em 1907, 53 mil; e em 1921, 109 mil.

São Paulo e depois os demais estados da região Sudeste tiveram papel de destaque na

industrialização brasileira que, aos poucos, passou a se concentrar de maneira acelerada.

A partir da chegada de Getúlio Vargas ao poder em 1930 e da consolidação do Estado

capitalista no país, São Paulo passou a concentrar boa parte dos investimentos internos e

também estrangeiros, tornando-se a região mais rica e poderosa da nação, junto com a

capital Rio de Janeiro.

No entanto, a concentração de renda e riqueza derivada da colônia manteve-se na era

industrial, com destaque para a concentração regional. Nesse sentido, cabe destacar

entre as mazelas da sociedade brasileira a intensa desigualdade regional, o que no século

XX obrigou o processo de migração em massa das regiões Norte e Nordeste para

Sudeste. Portanto, além dos dilemas herdados pela colonização, persistem problemas

derivados de um país já livre e independente, mas sempre voltado à concentração de

renda, riqueza e poder.

Videoaula: A crise do sistema colonial e a independência do Brasil


Saiba mais

 Sobre a crise do modelo colonial, veja Novais (1989), disponível nas


referências.
 A chegada da Família Real portuguesa ao Brasil é um episódio sui generis na
história mundial. Sobre o tema, o livro 1808, do jornalista Laurentino Gomes,
narra de maneira fluida e detalhada o episódio.
 Os Jacobinos Negros, de C.R.L. James, narra o teor e a importância da
revolução haitiana como a primeira a libertar os escravos nas Américas.
Sobre o domínio do café no estado de São Paulo no século XIX, leia:

 Domínios do café: ferrovias, exportações e mercado interno em São Paulo


(1888-1917).
 Para dados atuais sobre exportações de café e desempenho econômico, acesse
o portal Cecafe.

Referências

FURTADO, C. Formação Econômica do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras,

2011.

IBGE. Brasil 500 anos. Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística,

2007. Disponível em: https://brasil500anos.ibge.gov.br/territorio-brasileiro-e-

povoamento/italianos/razoes-da-emigracao-italiana.html#:~:text=Imigra

%C3%A7%C3%A3o%20subvencionada&text=se%20estendeu%20de

%201870%20a,no%20campo%20ou%20na%20lavoura. Acesso em: 19 de julho de

2022.

JAMES, C. R. L. Os Jacobinos Negros. São Paulo: Boitempo, 2000.

LACERDA, A. C. et al. Economia brasileira. São Paulo: Editora Saraiva, 2010.

NOVAIS, F. A. Portugal e Brasil na Crise do Antigo Sistema Colonial (1777-1808).

São Paulo: Hucitec, 1989.

Unidade 1 / Aula 4
Do escravismo até a Proclamação da República
Introdução
O que a escravidão tem a ver com meu dia a dia? Embora distante de nós no tempo,
historicamente a escravidão é recente no Brasil e contribuiu para formar e hierarquizar
nossas relações sociais, econômicas, jurídicas, políticas etc. Ainda que não sejamos
responsáveis pela maior barbárie cometida pela humanidade no período moderno,
certamente alguns se apropriam de privilégios gerados por ela, enquanto outros
assumem seus custos. Nesse caso, compreender a escravidão como parte estrutural do
modo de produção capitalista ajuda a entender também as particularidades do
capitalismo brasileiro e os desafios ainda a serem superados.
Escravidão

A escravidão marcou um dos períodos mais trágicos e violentos da história das

Américas, com destaque para o Brasil, o maior receptor de africanos escravizados entre

os séculos XVI e XIX. Embora a escravização de seres humanos fosse um episódio


presente na história da humanidade, inclusive na África colonizada por Portugal, é no

processo de formação do capitalismo mercantil que tal prática assume uma conotação

específica. O escravo torna-se uma mercadoria cujo valor de uso é produzir mercadorias

com valores de troca, mas ele mesmo em si se torna também uma mercadoria com valor

de troca.

Nesse sentido, o estabelecimento de feitorias portuguesas, ao longo da costa africana,

ainda no século XV, foi de fundamental importância para que esse país dominasse não

apenas as técnicas de produção de cana-de-açúcar, mas também o mercado de escravos,

o que viriam a ser utilizados no Brasil mais adiante.

Antes do africano, todavia, os colonos portugueses ensaiaram a utilização do trabalho

compulsório indígena, mas sem muito sucesso, dado um conjunto de fatores. Em

primeiro lugar, a noção de trabalho e produtividade do indígena era diferente do

europeu mercador, pois o nativo trabalhava o necessário para subsistência, sem

necessidade de acúmulo para o lucro. Além disso, conhecer o território e compartilhar

língua e cultura comuns contribuiu para a resistência, inclusive violenta do indígena.

Embora protegendo-os da escravidão violenta, a igreja não tinha nenhum apreço por sua

cultura e alguns chegavam até a duvidar da humanidade do indígena e utilizar a

catequese para transformá-los em “bons cristãos” (FAUSTO, 1996).

A chegada do africano, todavia, se deu também por um conjunto de fatores que, na

verdade, acabaram sendo funcionais para a plantation açucareira. Em primeiro lugar,

Portugal e outros países europeus não dispunham de amplo contingente de mão de obra

e disposta a atravessar o oceano para trabalhar em um ambiente de tamanha hostilidade,

física e humana. Em segundo lugar, o domínio português sobre a cana-de-açúcar e o

mercado de escravos foi funcional ao modelo de colônia de exploração organizado no

Brasil. Assim, estima-se que o Brasil tenha recebido cerca de 4 milhões dos

aproximadamente 12 milhões de africanos trazidos à força nos mais de trezentos anos

de escravidão.
Diferente do indígena, mais habituado às jornadas de trabalho extensas e com

habilidades de manipulação, por exemplo, do ferro e outros materiais, o africano era

visto como uma máquina, e não como um ser humano. A desumanização dessa

população foi de fundamental importância para as justificativas, tanto da escravidão em

si como da violência com a qual foi utilizada no Brasil.

[...] Vários argumentos foram utilizados para justificar a escravidão africana. Dizia-se

que se tratava de uma instituição já existente na África e assim apenas transportavam-se

cativos para o mundo cristão, onde seriam civilizados e salvos pelo conhecimento da

verdadeira religião. Além disso, o negro era considerado um ser racialmente inferior.

No decorrer do século XIX, teorias pretensamente científicas reforçaram o preconceito:

o tamanho e a forma do crânio dos negros, o peso de seu cérebro etc. ‘demonstravam’

que se estava diante de uma raça de baixa inteligência e emocionalmente instável,

destinada biologicamente à sujeição. (FAUSTO, 1996, p. 30)

Embora os dados possam ter divergências, estima-se que a expectativa de vida de um

escravo brasileiro era de 18,3 anos no século XIX, enquanto a da população em geral

era de 27,4 anos. Na mesma época, nos EUA, a expectativa era em torno de 35,5 anos

para um escravo, o que revela a intensidade da violência utilizada no Brasil (FAUSTO,

1996).
O liberalismo do século XIX

A Revolução Industrial do século XIX trouxe da Inglaterra para o Brasil uma ideologia

que, em parte, era antagônica ao modelo colonial. Em parte, pois a escravidão e a

exploração das colônias com o objetivo de extrair matérias-primas e metais preciosos

foram decisivas para o processo de ampliação dos mercados. Ao tratar sobre o direito

natural à propriedade em meio à Revolução Gloriosa (1688), John Locke, filósofo inglês

e tido como fundador do liberalismo clássico, não enxergou contradições em seu

discurso ao justificar a escravidão. Nas Américas do século XIX, entretanto, a indústria,

beneficiada pela queda do exclusivo metropolitano, viu a possibilidade de ampliar os


mercados consumidores de seus produtos. Apoiando a coroa portuguesa na travessia do

oceano Atlântico, o Estado inglês extraiu vantagens superiores à de qualquer outra

nação na abertura dos portos brasileiros.

A sociedade urbana e industrial europeia se chocava com o modelo colonial e o atraso

decorrente deste. Como consequência desse fato, a Inglaterra havia proibido Portugal de

traficar escravos desde o início do século XIX, acordo referendado pelo Brasil já

independente de 1831. A abolição, contudo, só viria a ocorrer cinco décadas depois e

por razões que são peculiares ao Brasil; enquanto o continente fervilhava em

revoluções, muitas das quais de caráter antiescravista, no Brasil optou pelo acordo entre

as elites. Independentes politicamente, mas apoiados no modelo exportador, os

cafeicultores mantiveram a plantation, traficando escravos contra o desejo da principal

potência econômica.

A abolição ocorreu apenas quando a questão do trabalho havia sido solucionada por

meio da imigração europeia, ou seja, quando os escravos já não mais se faziam

necessários. Embora a libertação tenha ocorrido sem uma revolução violenta, a

resistência negra foi sempre uma constante no país. Diferente dos indígenas, os

africanos foram apartados de seu território e separados de suas tribos e seus familiares,

inclusive como técnica para debelar resistências. Ainda assim, a formação dos

quilombos desde o século XVII foi uma importante forma de organização. Palmares, na

região do estado de Alagoas, reuniu milhares de indivíduos durante quase um século,

sendo destruída por tropas bandeirantes (FAUSTO, 1996).

Além da Independência e da Abolição, o século XIX foi marcado pelas pressões por

descentralização do poder, o que viria culminar na Proclamação da República de 1889.

O episódio reuniu uma série de insatisfações de uma sociedade cada vez mais

descontente com a monarquia e com a situação econômica e social. Os produtores de

café, principalmente no estado de São Paulo, exigiam maior participação nas decisões
sobre os rumos do país. Ademais, a insatisfação militar com o governo contribuiu para

que o assalto ao poder fosse dado em 15 de novembro de 1889.

A Primeira República, que durou até a crise de 1930, foi guiada por interesses regionais,

principalmente dos estados mais fortes e poderosos, como São Paulo, Minas Gerais e

Rio de Janeiro, com papel acessório de alguns estados do Nordeste e do Rio Grande do

Sul. A política de governadores, conhecida também pelo rótulo de “Café com Leite”,

impôs um governo voltado à manutenção dos seus interesses econômicos,

principalmente no que diz respeito às políticas de defesa do café, como o Convênio de

Taubaté, de 1906.

Entre o final do século XIX e início do século XX, o Brasil era uma economia agrário-

exportadora, fundada no latifúndio, na monocultura e nos resquícios da escravidão,

inclusive com ex-escravos trabalhando em troca de subsistência e moradia. A indústria,

no entanto, já começava a dar seus primeiros passos, mas apenas a partir da chegada de

Getúlio Vargas ao poder, num contexto de Grande Depressão Mundial, é que o país

realmente iniciou sua inserção no capitalismo industrial.


As chagas da escravidão

O Brasil tem pouco mais de 500 anos de história conhecida, dos quais cerca de 350

foram marcados pela violência do trabalho escravo. Derivado desse processo, o racismo

estrutural e institucional (ALMEIDA, 2019) impôs aos povos negros e seus descentes

uma chaga profunda, com efeitos diversos sobre suas vidas, mas nos restringiremos aqui

aos aspectos econômicos, principalmente no que diz ao mercado de trabalho.

A informalidade é um dos traços característicos do trabalho no Brasil que, de acordo

com a PNAD Contínua do IBGE, gira em torno de 40%, ou seja, 34,7 milhões de

pessoas em um universo de 86,7 milhões de ocupados no ano de 2021. Entre os

informais, cerca de 60% afirmam “viver de bico”; isso significa que, caso surja algum

trabalho esporádico, em geral, para alguns dias, essas pessoas conseguem auferir

alguma renda. Quando o recorte estatístico é feito por raça, constata-se que os negros
são a maioria dos desempregados (46%), com menor remuneração, pois a diferença

entre negros e brancos ultrapassa R$ 1.200,00 e os mais expostos às relações informais.

No que diz respeito ao tipo de trabalho executado, negros e pardos encontram-se, em

média, nas posições de menor comando e mais baixa remuneração. Segundo dados do

IBGE, as mulheres são 92% do contingente de trabalhadores domésticos no Brasil, das

quais 65% são negras, acima de 40 anos e com remuneração abaixo do salário mínimo.

De acordo com os dados compilados pelo Dieese, o rendimento médio mensal das

domésticas caiu de R$ 1.016, em 2019, para R$ 930 em 2020. As trabalhadoras sem

carteira ganharam 40% menos do que as com carteira e as mulheres negras no serviço

doméstico receberam 20% menos do que as não negras.

Dos postos ocupados às diferenças de remuneração que, por consequência, determinam

onde o indivíduo mora, o que veste, o que come e, em última análise, a forma como será

tratado pela sociedade e pelo Estado, seja nas mãos da polícia ou do sistema judiciário,

há infindáveis recortes possíveis que demonstrarão os impactos à estrutura racial

brasileira sobre a vida dos cidadãos. Mas o que cabe demonstrar aqui é a relação entre

um passado de escravidão secular e as marcas deixadas sobre o mercado de trabalho,

principalmente após um processo de abolição acordado entre as elites e sem nenhuma

forma de reparação histórica ou política de inclusão para essas populações. Ao

contrário, a legislação à época previa indenizações aos ex-proprietários de escravos, o

que revela o caráter da abolição no Brasil. Em linhas gerais,

O racismo, de acordo com esta posição, é uma manifestação das estruturas do

capitalismo, que foram forjadas pela escravidão. Isso significa dizer que a desigualdade

racial é um elemento constitutivo das relações mercantis e de classe, de tal sorte que a

modernização da economia e até seu desenvolvimento podem representar momentos de

adaptação dos parâmetros raciais a novas etapas da acumulação capitalista. Em suma:

para se renovar, o capitalismo precisa muitas vezes renovar o racismo, como, por
exemplo, substituir o racismo oficial e a segregação legalizada pela indiferença diante

da igualdade racial sob o manto da democracia. (ALMEIDA, 2019, p. 184)

O capitalismo brasileiro assume uma característica particular. Forjado na violência da

escravidão e na expropriação dos povos originários, o Brasil sempre esteve voltado a

interesses alheios aos seus. Nesse sentido, as marcas da violência passada e cotidiana

contribuem para refutar o mito da cordialidade brasileira, principalmente num país onde

uma pessoa negra é assassinada pela polícia a cada quatro horas, segundo dados da

pesquisa Pele-alvo: a cor da violência policial (RAMOS et al., 2021). Das 2.653 mortes

provocadas pela polícia no ano de 2020, 82,7% foram de pessoas negras.

Videoaula: Do escravismo até a Proclamação da República


Saiba mais

Sobre o racismo estrutural e institucional que marca as relações sociais no Brasil, veja

Almeida (2019), presente nas referências. Além disso, há vídeos disponíveis com aulas

do autor na internet.

 Para mais dados sobre segurança pública e violência policial, acesse o


portal Observatório de Segurança Pública.
 Sobre as condições de vida de brancos e negros no Brasil, acesse Síntese de
indicadores sociais: uma análise das condições de vida da população
brasileira.

Referências

ALMEIDA, S. L. Racismo Estrutural. São Paulo: Sueli Carneiro; Pólen, 2019.

FAUSTO, B. História do Brasil. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo,

1996.

FURTADO. C. Formação Econômica do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras,

2011.

IBGE. PNAD Contínua - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua

2020-21. Rio de Janeiro: IBGE, 2022. Disponível


em: https://www.ibge.gov.br/estatisticas/sociais/trabalho/17270-pnad-continua.html?

=&t=resultados. Acesso em: 25 jul. 2022.

RAMOS, Silvia et al. Pele-alvo: a cor da violência policial. Rio de Janeiro: CESeC,

dez. 2021.

NOVAIS, F. A. Portugal e Brasil na crise do antigo sistema colonial (1777-

1808). São Paulo: Hucitec, 1989.

Unidade 1 / Aula 5
Revisão da unidade

A colônia de exploração

A colônia surgiu como expressão de interesses comerciais e políticos expansionistas,

guiados pelo lucro e por ideias mercantilistas, cuja expressão síntese era o acúmulo de

metais preciosos. No caso do Brasil, um vasto e fértil território, ainda que hostil

geograficamente, serviu aos interesses de espoliação portugueses, sempre voltados para

fora, ideia sintetizada na expressão “sentido da colonização”, de Prado Jr. (2011). Em

outras palavras, nem por um instante o colono europeu planejou se estabelecer como

meio de vida, mas sempre esteve voltado à atividade de extração predatória e violenta,

onde a escravidão indígena, e depois africana, constituía os principais laços sociais.

Segundo Furtado (2011), a empresa comercial açucareira, bem-sucedida ao longo do

século XVI, revelou também o atraso relativo espanhol, pois este último, ao encontrar

ouro e prata na costa continental, concentrou esforços na extração e não na constituição

de negócios permanentes. O ouro branco, como ficou conhecido o açúcar, já estava sob

domínio português ao estabelecerem feitores na costa africana um século antes. O

mercado de escravos, todavia, também era dominado por portugueses que, diante das

dificuldades na escravização do indígena, optaram pelo sequestro de africanos, tornando

o Brasil o maior receptor de seres humanos escravizados em todas as Américas.

Com a concorrência antilhana na produção de açúcar, especialmente a comandada por

holandeses, a queda nos preços encerrou importante ciclo econômico da colônia, que
logo fora substituído pela mineração. A partir das operações Bandeirantes rumo ao

interior do território, o apresamento do indígena se tornou prática comum e lucrativa,

produzindo um dos maiores genocídios que se tem notícia na história. A chegada às

Minas Gerais, todavia, levou as notícias para o outro lado do Atlântico, atraindo intenso

fluxo migratório europeu, cujo objetivo era o enriquecimento rápido. Nesse contexto,

intensificou-se a miscigenação; negros, alguns alforriados, indígenas e brancos, três

raças cujo elemento comum era a ausência de nexo moral, segundo Prado Jr. (2011).

O ciclo efêmero da mineração logo foi substituído por um período de involução

econômica, como explica Furtado (2011), muito comum nas colônias de exploração. Ou

seja, a cada fim de ciclo expansivo voltado para fora, um processo de regressão

econômica para atividades de menor produtividade. É preciso destacar, no entanto, que

o início do século XVI foi marcado pelo renascimento agrícola, além do despontamento

de outras regiões do país, como o Sul e o Centro-Oeste e suas atividades de

subsistência.

O século XIX ficou marcado pelas intensas mudanças decorrentes de eventos internos e

externos. No plano internacional, a Revolução Industrial e a hegemonia inglesa

subordinaram Portugal que, enfraquecido desde a União Ibérica, se viu pressionado a

deslocar a metrópole para a colônia, entregando aos ingleses o acesso aos portos

brasileiros e decretando o fim do exclusivo metropolitano.

No plano interno, a ebulição política, influenciada pelo iluminismo, mas também pelo

abolicionismo e pela resistência negra contra a escravidão, contribuiu para reconfigurar

as forças internamente. A independência, em 1822, foi seguida da proibição do tráfico

negreiro, depois pela abolição e, por fim, pelo surgimento da República.

A plantation, organizada em torno da monocultura, do latifúndio e do trabalho escravo,

estruturou a economia brasileira por quase quatro séculos, deixando marcas presentes

até os dias atuais. Das vastas extensões territoriais concentradas nas mãos de poucos
proprietários às chagas da escravidão e o peso que exerce o racismo estrutural e

institucional, são alguns dos exemplos práticos da herança colonial.


Estudo de Caso

A sociedade contemporânea tem feito importantes discussões sobre temas que até pouco

tempo eram deixados de lado. Entre eles, o racismo se apresenta como um dos

principais, não apenas no Brasil, mas no mundo inteiro, como no caso dos EUA, onde a

violência policial inflamou movimentos de reação por todo o país. No Brasil, os

episódios de discriminação e ofensas são diários, do mercado de trabalho aos estádios

de futebol, o que tem provocado discussões calorosas, inclusive na esfera jurídica sobre

como tipificar os crimes e puni-los.

No que diz respeito à colonização e sua herança, foi visto ao longo do conteúdo como a

escravidão estruturou relações sociais por aproximadamente 400 anos. Portanto, os 134

anos de abolição ainda são insuficientes para apagar tais chagas, se é possível que isso

ocorra um dia.

Para contextualizar sua aprendizagem, imagine que você é o responsável pelas

contratações em uma empresa, cuja maioria dos empregados é branca e você foi

designado pela diretoria como responsável pela política de diversidade racial. Antes da

seleção, no entanto, você deve produzir um material explicativo, acompanhado de

palestras e atividades que contribuam para esclarecer aos colaboradores sobre as razões

de tal política, de modo a evitar a sensação de privilégios concedidos a grupos

específicos, o que poderia reduzir a motivação institucional.

Dessa maneira, como você abordará o tema?

______

Reflita

Pensando na construção da civilização humana e no processo de constituição da

racionalidade como elemento chave para explicação de como o mundo funciona, quão

bárbara é a escravidão?
Como vista em uma das aulas, a expectativa média de vida de um escravo brasileiro era

metade de um norte-americano no século XIX. Em que medida a extrema violência

explica a formação brasileira? Como lidamos com ela cotidianamente? O que dizem os

dados sobre violência praticada pelo próprio Estado?

No mercado de trabalho, negros e brancos possuem condições desiguais, especialmente

no tipo de trabalho executado e na remuneração, como vimos a partir dos dados do

IBGE. Em que medida a escravidão ajuda a compreender tal estrutura?

Você já refletiu sobre o trabalho doméstico? No Brasil, existem mais de 6 milhões de

pessoas nessa ocupação (o maior do mundo), em sua maioria mulheres negras e

moradoras de periferia. Com poucos ou quase sem direitos trabalhistas, muitas recebem

salários abaixo do mínimo constitucional e não tem sua jornada ou tarefa

regulamentadas. De que maneira é possível relacionar tal fato com os quatro séculos de

escravidão?

O ambiente de trabalho de muitas empresas ainda é pouco diverso. De um lado, as

exigências técnicas para determinadas funções atraem pessoas de maior nível

educacional e técnico, afastando de determinadas vagas os mais pobres e sem acesso à

educação formal de qualidade, em sua maioria pretos e pardos. Nesse caso, qual seriam

as medidas que as empresas realmente comprometidas com a questão poderiam adotar

frente ao poder público?


Videoaula: Revisão da unidade
A herança colonial brasileira exerce grande poder explicativo para as nossas
diversas mazelas. A concentração de riqueza, de renda, de poder, a informalidade
no mercado de trabalho e o precário nível de vida da maioria da população, em
boa medida podem ser explicados pela forma como foi estrutura a economia
brasileira. Voltadas aos interesses externos, a colônia sempre esteve a serviço da
espoliação, do saque e tendo a violência, principalmente da escravidão, como
elementos estruturantes das relações sociais.

Videoaula: Resolução do Estudo de Caso

Caro estudante, a resolução de problemas complexos, em geral, oferece mais do que

uma opção e a dicotomia entre certo e errado, verdadeiro e falso, acaba encobrindo a

complexidade da situação. O racismo estrutural e institucional está vinculado aos


séculos de escravidão, cujas chagas se fazem presentes nas situações mais cotidianas

possíveis e dificilmente será resolvido. No entanto, medidas de equiparação, como as

propostas pela empresa em questão, são um caminho positivo, ao menos para clarear

para a sociedade questões que de tão importantes conseguem explicar nossas relações

mais profundas.

Como medida a ser executada, a educação é o caminho mais bem estruturado e a ciência

tem muito a contribuir. Há questões que são de cunho opinativo e devem ser

respeitadas, mas há outras, como o racismo, que não se trata de opinião sobre sua

existência, mas está amparada em evidências e documentada por especialistas em todo o

mundo, principalmente no Brasil. Livros, artigos, filmes, documentários etc., sem

dúvida são caminhos possíveis e muito importantes.

No entanto, pode-se adicionar à educação experiências cotidianas, transformando quem

não sofre com o problema em ouvintes, enquanto aqueles que sentem na pele darão suas

versões de como é ser negro em um país racista. Adicionalmente, caso o recorte seja

feito por gênero, a situação ganha novas nuances, pois o impacto do racismo sobre as

mulheres negras recebe outras camadas de violência e de objetificação do corpo.

É verdade, no entanto, que no século XXI ninguém é responsável pela escravidão, nem

mesmo os brancos. Mas certamente estes colhem os privilégios de serem brancos nessa

sociedade, bem como negros colhem as chagas de serem negros. Portanto, o racismo e a

desigualdade derivada dele não são apenas problemas para negros resolverem, mas para

toda a sociedade. Por essa razão, empresas importantes têm se engajado na equiparação

racial de seus quadros, ampliando um debate tão importante para o país.

Cabe ainda destacar, em última análise, o papel do poder público nessa questão. Por

meio de uma política educacional de qualidade que reflita esses valores, o Estado tem

capacidade de amplificar o combate ao racismo e oferecer a negros e pobres condições

de competir no mercado de trabalho em condições menos desiguais.

Resumo Visual
A dinâmica colonial. Fonte: elaborada pelo autor.
Referências

FURTADO, C. Formação Econômica do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras,

2011.

LACERDA, A. C. et al. Economia brasileira. São Paulo: Editora Saraiva, 2010.

NOVAIS, F. A. Portugal e Brasil na crise do antigo sistema colonial (1777-1808).

São Paulo: Editora Hucitec, 1989.

PRADO Jr., C. Formação do Brasil Contemporâneo: Colônia. Entrevista Fernando

Novais; posfácio Bernardo Ricupero. São Paulo: Companhia das Letras, 2011.

Unidade 2 / Aula 1

O declínio a longo prazo da renda

Introdução

Prezado estudante, seja bem-vindo a mais uma aula! Nesta etapa de aprendizagem,

vamos prosseguir com seus estudos acerca da formação econômica brasileira. Para isso,

analisaremos elementos importantes relacionados ao âmbito histórico da economia no

Brasil. Nesse sentido, vamos investigar o esgotamento do ciclo de exploração


mineiro, com a crescente escassez de ouro na região das Minas durante as décadas finais

do século XVIII.

Essa debilitação foi dramática, levando a uma estagnação econômica no país e a uma

redistribuição demográfica significativa. A região das Minas, antes rica e próspera,

regrediu para uma economia de subsistência, e, em razão de circunstâncias

que conheceremos mais a fundo no decorrer deste material de estudos, o esgotamento

aurífero não logrou investimento em outros setores. Considerando tal contexto,

vamos verificar algumas diferenças entre a economia brasileira e a

estadunidense, que, nesse mesmo período, começa seu bem-sucedido processo de

industrialização. Iniciamos, agora, mais uma etapa de sua formação.


A decadência do ciclo mineiro

No final do século XVIII, a economia mineira se viu em franca decadência. Mesmo

sendo considerada um dos centros de expansão demográfica desse século, responsável

pelo primeiro esboço de integração econômica nacional e formação de um mercado

interno, a economia mineira encontrou-se em colapso à medida que se esgotaram as

fontes de ouro. A empresa mineira se baseava na mão de obra escrava e não mobilizava

grande expediente técnico, de modo que o esgotamento da fonte aurífera era suficiente

para que o investimento de capital na sua exploração se perdesse. Além disso, os frutos

da época da exploração mineira foram levados até a Inglaterra a partir de um déficit

constante da balança comercial portuguesa com os ingleses.

A perspectiva de novas fontes de ouro não favorecia os investimentos da parte dos

colonizadores em outros setores. O resultado foi uma rápida dissolução da dinâmica

econômica da região, que se dissolveu em diversos centros pouco integrados, recaindo

numa economia de subsistência. Esse movimento levou a uma crise generalizada,

afetando a produção de gado no Sul e mobilizando novos fluxos migratórios internos.

Nesse contexto, chegavam ao Brasil elementos da doutrina liberal, fato que motivou

revoltas como a Conjuração Carioca de 1794. No que se refere à doutrina econômica, o

liberalismo acreditava que problemas como a escassez de divisas seriam resolvidos


automaticamente; cabia ao Estado intervir minimamente no comércio e na economia,

em contraste com o rígido controle do sistema colonial e mercantilista. No século XIX,

a doutrina liberal está relativamente consolidada no país, influenciando a nossa

independência e o início da vida econômica do Brasil como nação independente.

No entanto, ainda que a doutrina pregasse o livre comércio e que, desde a transferência

da corte portuguesa, em 1808, grande parte das restrições comerciais tenha sido retirada,

a proeminência inglesa e seu papel na nossa independência concederam à Inglaterra

uma série de privilégios, como a extraterritorialidade dos seus cidadãos e as tarifas

aduaneiras reduzidas. Contudo, os produtos brasileiros enfrentavam restrições no

mercado inglês, e a Inglaterra tomou medidas a fim de proteger a produção das suas

colônias, sobretudo nas Antilhas, da concorrência brasileira. Há, portanto, como aponta

Furtado (2005), um liberalismo unilateral.

Por causa desse panorama, o esgotamento do ciclo mineiro produziu um atraso

considerável no desenvolvimento nacional. Primeiro, vale mencionar que a escassez do

setor aurífero impediu que os capitais acumulados durante seu apogeu fossem investidos

em outras atividades econômicas. Em segundo lugar, é possível destacar a ausência de

uma base técnica e de imigrantes qualificados, fato que, junto dos esforços diretos da

Metrópole visando impedir a manufatura na colônia, tornava impossível o

desenvolvimento desse setor no período em questão.

Em terceiro lugar, não existia, em termos de doutrina econômica, uma orientação que

pretendesse desenvolver ativamente um setor manufatureiro no país. Igualmente, não

houve, em virtude da ausência de um aumento de demanda externa por produtos

primários, um crescimento do setor exportador capaz de disponibilizar capitais para

investimentos. Por fim, a utilização da mão de obra escravizada inibia o surgimento de

um mercado interno robusto no país.


Declínio da renda e a impossibilidade da industrialização
O desenvolvimento da região mineira se diferenciou do ciclo econômico anterior,

baseado na produção de açúcar, por alguns fatores; para começar, porque gerou o

primeiro esboço de integração econômica e mercado interno do país. O gado, produzido

nas regiões do sul do país, começa a ser exportado para a região que, para além da

alimentação de sua população, também precisava de mulas para o transporte do ouro em

direção à costa. A distância proporcional dessa região em relação aos portos contribuía

para diminuir o papel relativo das importações, já que elas em muito se encareciam no

transporte até as Minas. A formação de centros urbanos e o altíssimo fluxo migratório

de Portugal também cooperariam com o aparecimento de um mercado interno.

Entretanto, como nota Furtado (2005), mesmo que tais fatores pudessem ter estimulado

o surgimento de um setor manufatureiro capaz de responder à decadência da extração

aurífera, esse movimento não ocorreu.

A razão mais direta para isso é a proibição, por parte da administração portuguesa, da

produção de manufaturas na Colônia, em 1785. No entanto, para Furtado (2005), não foi

apenas esse fator que impediu a germinação desse setor no país. Mesmo diante de um

cenário favorável, a região carecia de uma base técnica apta a produzir um setor

manufatureiro. A mão de obra que chegava de Portugal não era qualificada, e esse país

encontrava-se em estagnação econômica, tendo sido incapaz de desenvolver, em si

mesmo, um setor manufatureiro robusto. O Tratado de Methuen, assinado entre

Inglaterra e Portugal, o qual vigorou de 1703 a 1836, ficou conhecido como Tratado de

Panos e Vinhos, pois referia-se às exportações de vinho para Inglaterra e à importação

de tecidos ingleses por parte dos portugueses. Haveria, nesse sentido, um déficit

constante da balança de pagamentos de Portugal, aportado pela incapacidade de pagar

com vinhos as importações de tecidos portugueses, se não tivesse ocorrido um imenso

afluxo de ouro da Colônia. Ainda assim, o Tratado conseguiu inibir o desenvolvimento

de uma base técnica manufatureira em Portugal, que era incapaz de concorrer com a
indústria inglesa. Sem essa base na Metrópole, os imigrantes que aqui chegavam não

tinham qualificação técnica para articular um setor manufatureiro (FURTADO, 2005).

A economia americana, que começa a se industrializar já em meados do século XVIII,

contrasta com a brasileira em múltiplos aspectos. Nesse contexto, é importante entender

por que no período em que os EUA se industrializavam (final do século XVIII e início

do século XIX), nós ainda estávamos muito longe de sair de uma economia primária. Os

Estados Unidos, para além de ter uma base técnica herdada da Inglaterra – base esta

ausente em Portugal –, mobilizaram medidas protecionistas e de estímulo à

industrialização. Furtado (2005) evidencia o contraste entre Hamilton e Visconde de

Cairu; se ambos eram seguidores de Adam Smith, o pai do liberalismo econômico,

Hamilton defende diretamente a intervenção estatal no desenvolvimento econômico, ao

passo que Cairu repete o lema do “deixar fazer, deixar viver”.

Por outro lado, diferentemente do caso brasileiro, no qual a Metrópole interveio

ativamente para frustrar o surgimento de um sistema manufatureiro, a Inglaterra havia

mobilizado esforços semelhantes nos Estados Unidos de forma muito mais limitada em

razão da impossibilidade, no norte desse país, de se obter ganhos econômicos com a

exportação de matérias-primas. Além disso, de acordo com Furtado (2005), seria

necessário um aumento significativo das nossas exportações na intenção de

disponibilizar os capitais para uma possível industrialização, o que não aconteceu no

período em questão, diferentemente do que se passou com as exportações norte-

americanas. Com base nesse cenário, pode-se notar um declínio da renda nacional que

só seria compensado a partir do ciclo econômico cafeeiro, o qual se consolida no século

XIX.
Apresentação na embaixada

Prezado estudante, para contextualizar sua aprendizagem, imagine-se na seguinte

situação: você, já formado, trabalha na Embaixada Brasileira nos Estados Unidos,

especificamente na assessoria de assuntos econômicos. A assessoria tem como objetivo

atrair investimentos para o país, apontando possibilidades de negócios a empresários


estrangeiros e promovendo oportunidades econômicas no Brasil para investidores.

Nesse sentido, considere que você foi convidado a apresentar um painel durante um

seminário para investidores americanos. Nesse projeto, você deverá descrever um

panorama da formação econômica brasileira, procurando contrastar o período de

industrialização americano com o mesmo período no Brasil. Como você desenvolveria

essa comparação? Como apresentaria as diferenças entre os Estados Unidos e o Brasil

durante a época em questão?

Você, como profissional competente, poderia começar seu discurso contextualizando a

situação brasileira no final do século XVIII, momento no qual os Estados Unidos

iniciavam seu respectivo processo de industrialização. Seria interessante demonstrar

como as circunstâncias relativamente favoráveis à manufatura presentes na região

mineira não foram suficientes para produzir um setor manufatureiro, como ocorria nos

Estados Unidos durante o mesmo período. Assim, você poderia apresentar os principais

motivos dessa impossibilidade. Em primeiro lugar, seria válido destacar que,

diferentemente do que acontecia nos Estados Unidos, a mão de obra que

chegou à região das Minas no Brasil não apresentava qualificação técnica.

Além disso, Portugal possuía uma estrutura manufatureira muito limitada – em franco

contraste com a Inglaterra, país onde se iniciou a Revolução Industrial. Por ter sido

colônia do primeiro país industrializado do mundo, era natural que parte da mão de obra

que emigrou da Europa para os Estados Unidos apresentasse capacidades técnicas que

ajudariam a impulsionar a manufatura no país. No Brasil, a ausência de base técnica

tornava impossível o desenvolvimento da região mineira e da nação como um todo. Por

outro lado, também é importante ressaltar que houve, nesse período, um esforço da

Metrópole para coibir o desenvolvimento manufatureiro na economia colonial, expresso

no Alvará de 1785. Nos Estados Unidos, os esforços ingleses de coibição da manufatura

foram muito mais limitados e não impactaram o crescimento do país.


Você poderia explicar, ainda, que as exportações durante a época em análise estavam

estagnadas, o que culminava na ausência de capital disponível para esse tipo de

investimento, novamente de forma contrária à situação americana no mesmo período.

Também valeria a pena mostrar a diferença do liberalismo estadunidense na época em

questão, que valorizava, já no início do século XIX, grandes estímulos públicos ao

desenvolvimento industrial, enquanto a vertente brasileira se orientava por um não

intervencionismo na economia. Por fim, seria válido falar sobre como a mão de obra

escravizada colocava empecilhos ao andamento de um mercado interno robusto e como

a classe dominante, representada por grandes senhores de terra escravocratas, era

refratária a esse tipo de esforço.

Desse modo, você teria feito uma excelente apresentação e mostrado para os

investidores americanos um pouco da nossa formação econômica. Sua ministração teria

sido bem-sucedida e, com certeza, você agradaria aos seus superiores na embaixada!
Videoaula: O declínio a longo prazo da renda

No vídeo a seguir, retomaremos os principais tópicos estudados nesta etapa de


aprendizagem. Vamos relembrar como se deu o esgotamento do ciclo mineiro e as suas
consequências para a economia nacional. Também recordaremos os fatores que
impediram a industrialização durante o período de formação econômica do Brasil e, por
fim, compararemos brevemente a experiência brasileira com a estadunidense. Esta é
mais uma oportunidade para que você consolide seus conhecimentos!

Saiba mais

O liberalismo é uma das mais importantes doutrinas econômicas, políticas e filosóficas


existentes. Sua relevância é monumental na história moderna e, até hoje, constitui-se
como uma das principais correntes de pensamento do mundo inteiro. Ficou interessado
em saber mais detalhes sobre o liberalismo no Brasil? O artigo O conceito de
liberalismo no Brasil (1750-1850) apresenta um bom panorama histórico sobre a
chegada dessa doutrina ao país

Referências

FURTADO, C. Formação econômica do Brasil. 32. ed. São Paulo: Companhia

Editora Nacional, 2005.


LYNCH, C. E. C. O conceito de liberalismo no Brasil (1750-1850). Araucaria –

Revista Iberoamericana de Filosofía, Política y Humanidades, v. 9, n. 17, p. 212-

234, 2017. Disponível em: https://www.redalyc.org/pdf/282/28291718.pdf. Acesso em:

18 jul. 2022.

PRADO JÚNIOR, C. História econômica do Brasil. São Paulo: Círculo do Livro,

1976.

Unidade 2 / Aula 2
A gestação da economia cafeeira

A gestação da economia cafeeira

O final do século XVII foi caracterizado por uma crise sem precedentes na Colônia. A

escassez do ciclo mineiro deu origem a uma baixa nos rendimentos jamais vista no

Brasil colonial. No entanto, numa parte do país, esse período foi de prosperidade. O

Maranhão apresentou um ciclo econômico virtuoso durante essa época, por mais que

não tenha se mostrado sustentável no longo prazo. As iniciativas do Marquês de

Pombal, dirigente do Estado português, favoreceram o desenvolvimento da região.

Perceberam-se as vantagens da produção de algodão e arroz, já que a exportação desses

dois itens sustentou, por um certo tempo, uma onda de prosperidade. O algodão é a

matéria-prima básica da produção têxtil que embalou a revolução industrial inglesa no

período em questão. Logo, a demanda por esse item trouxe abundância para a economia

maranhense (FURTADO, 2005).

Apesar da situação de depressão generalizada do final do século XVIII, os eventos

radicais do período impulsionaram relativamente a economia brasileira colonial para

além da região do Maranhão. As revoluções haitiana e francesa, seguidas pelas guerras

napoleônicas, tiveram o efeito de valorizar as matérias-primas. A independência do

Haiti diminuiu sensivelmente a oferta de açúcar no mercado mundial, e o preço desse

produto primário chegou a dobrar. A guerra de independência dos Estados Unidos, país
de grande expressão na produção de algodão, favoreceu ainda mais a economia

brasileira. Entretanto, esse ciclo de prosperidade não foi o bastante para reverter a

decadência geral, tendo ocorrido mais como resultado das circunstâncias vigentes do

que por razões estruturais. O fim do século XVIII, portanto, foi de ampla decadência

econômica. Apenas a extensão e o desenvolvimento da economia cafeeira no século

seguinte seriam capazes de modificar o quadro adverso (FURTADO, 2005).

A ascensão da economia cafeeira também marca o surgimento de um grupo empresarial

capaz de articular seu interesse de classe. A independência política de Portugal,

naturalmente, teve seu impacto, porém o mais relevante é a constituição de uma classe

capaz de pressionar o Estado e de ver a si mesma como dotada de motivações

específicas. Os ciclos anteriores, como o açucareiro, apresentavam uma distinção entre

os produtores e o setor comercial: uns faziam, outros vendiam, sendo os últimos,

geralmente, comerciantes portugueses ou holandeses. A economia cafeeira exibiu

elementos distintos: a comercialização, a produção, a expansão das plantações a partir

da aquisição de terras, a procura por mão de obra; tudo isso se concentrou nas mãos do

mesmo grupo de pessoas. Surge, assim, a classe dos poderosos produtores de café, que

se tornaria central na política do país. Essa oligarquia, que comandaria a nação, só

adquiriu seu verdadeiro prestígio a partir da coesão obtida por meio de seus interesses

econômicos (FURTADO, 2005).

Um importante aspecto a ser considerado nesse contexto é a proximidade das primeiras

plantações cafeeiras com a capital imperial. O fim das restrições comerciais de cunho

colonial, como na Abertura dos Portos de 1808 e, posteriormente, com a Independência,

permitiu que os produtores de café controlassem não somente a geração dos seus

gêneros primários, mas também o escoamento dessa produção para o exterior. O cultivo

de café começa no entorno do Rio de Janeiro (capital do Império), o principal porto do

país, o que também cooperou com um movimento de subordinação política do aparelho

de Estado que chegaria ao ápice com a descentralização do período republicano. Ainda


que haja a distância de um século entre um momento e outro, os empresários

cafeicultores se constituem enquanto classe já no início do Império. Mesmo que

posteriormente a produção de café tenha se deslocado para o Vale do Paraíba por

questões climáticas e geográficas, a proximidade dos primeiros produtores com a capital

do Império lhes deu grande poder comercial e político.

O período de ascensão da classe cafeeira é marcado pela introdução de concepções

liberais no país e por uma série de revoltas. Os ideais da revolução francesa inspiraram

não somente a nossa Independência, como também revoltas célebres, como a

Inconfidência Mineira. Durante as primeiras décadas do Império, articularam-se

revoltas de peso, como a Revolução Farroupilha, a Sabinada, a Revolta dos Malês, entre

outras.
Por que o café?

O café se tornará, a partir da primeira metade do século XIX, o principal produto

exportado do Brasil – e sua hegemonia econômica durará até os anos 30 do século XX.

Dentre as principais razões para a ascensão do café, podemos citar, em primeiro lugar, o

fato de que a estrutura produtiva anterior, tanto açucareira quanto mineira, não

apresentava grandes dificuldades diante da transição para o café. Ainda que a produção

cafeeira tenha sofrido complicações em relação à aquisição de mão de obra durante seu

desenvolvimento, o trabalho escravizado lhe serviu bem nos primeiros anos de

existência. Em segundo lugar, o cultivo cafeeiro se deparou com muitas terras

disponíveis.

Inicialmente, no entorno da capital imperial, o cultivo se espalharia pela região Sudeste,

tornando-se central em São Paulo e em partes de Minas Gerais. Em terceiro lugar, os

capitalistas brasileiros precisavam mudar os seus investimentos frente à diminuição do

preço do açúcar no mercado internacional e ao esgotamento do ouro nas Minas – que se

desdobrou em uma crise generalizada pelo país, afetando a produção de gado no Sul e

Nordeste. Nesse aspecto, o início da produção de açúcar a partir da beterraba foi um


grande baque no setor açucareiro nacional. Agora, os europeus tinham outra opção além

da cana, possibilidade que se tornou cada vez mais interessante para que os produtores

brasileiros apostassem em outro gênero (FURTADO, 2005).

O café, enquanto produto de consumo, adquiria uma importância crescente no mercado

mundial, em contraste com os outros produtos agrários. O fumo perdia relevância à

medida que se tornava mais difícil a sua comercialização em troca de mão de obra

escravizada na África. O algodão, apesar do seu ciclo virtuoso, começou a enfrentar

forte concorrência dos produtores americanos, e a produção de couro, gênero relevante,

tinha que lidar com a competição argentina. Diante desse cenário, o café se torna muito

promissor. Por outro lado, a produção cafeeira não requeria uma base tecnológica

robusta, adaptando-se bem ao regime anterior, apoiado nos engenhos de açúcar. Como

nota Furtado (2005), a produção de café realmente exige menos investimento do que a

de açúcar. A técnica utilizada é mais simples, a terra ocupa maior peso na produção e a

reposição das ferramentas é passível de ser atendida localmente. Muito importante nesse

âmbito é a disponibilidade de mão de obra subocupada em razão da desagregação da

economia mineira.

A geografia sudestina, no que se refere a solo e clima, também favorecia o cultivo do

café. Apesar de no início do XIX o preço do café estar desvalorizado, a sua rápida

valorização nos anos seguintes concedeu o estímulo necessário para que esse cultivo se

espalhasse. Nesse sentido, os preços internacionais do açúcar mantiveram-se

deprimidos, enquanto os do café ascendiam – direcionando o fluxo de trabalhadores e

capitais do Norte para o Sudeste do país.


Capacitação profissional

Prezado estudante, para contextualizar a sua aprendizagem, imagine a seguinte

situação: você é recém-formado e vem tentando ingressar profissionalmente no mercado

de trabalho. Além disso, você chega à conclusão de que precisa dar prosseguimento aos

seus estudos, matriculando-se numa pós-graduação. O mercado de trabalho, na


atualidade, é altamente competitivo, de forma que a conclusão de um

mestrado é entendido como pré-requisito em muitos processos seletivos de grandes

empresas. Com essa informação em mente, você decide que cursará o mestrado após a

graduação, com o objetivo de ampliar seus conhecimentos e de se tornar um profissional

mais capacitado.

A escolha da instituição de nível superior na qual você cursará a pós-graduação é muito

importante. Seja pública ou privada, é fundamental que ela tenha uma ótima nota na

avaliação feita pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

(Capes) e, preferencialmente, apresente uma boa articulação ou parceria com empresas,

a fim de facilitar sua inserção na esfera profissional. Muitas vezes é necessário que o

curso de pós-graduação conceda bolsas de estudo para financiar seus respectivos

estudantes. Nesse sentido, uma nota alta na avaliação da Capes significa um maior

número de bolsas disponíveis. Com esses critérios em mente, você resolve concorrer a

uma vaga de mestrado numa renomada universidade privada. O processo seletivo

consiste na redação de um texto dissertativo a partir de um tema a ser sorteado.

Objetiva-se avaliar a solidez dos conhecimentos econômicos do candidato e sua

capacidade de expressão acadêmica. O tema sorteado por você é “O surgimento da

economia cafeeira no Brasil”. Como você, nessa situação, elaboraria o seu texto?

Você poderia começar sua redação mostrando como o Brasil, no final do século XVIII,

enfrentava uma ampla crise econômica aportada pelo esgotamento das reservas de ouro

em Minas Gerais. As exportações mantiveram-se estagnadas, excetuando-se o algodão,

produzido no Maranhão, que obteve um sucesso de curto prazo, capaz de trazer certa

prosperidade à região. Em seguida, seria interessante mostrar, em seu texto, como o

esgotamento mineiro disponibilizou a mão de obra que seria utilizada nas fazendas de

café no entorno do Rio de Janeiro durante o início do século XIX. Valeria e pena

explicar, ainda, como a transição para o plantio de café foi facilitado pela estrutura já
existente de cultivo de cana-de-açúcar, produto que, por sua vez, sofria uma crise no

mercado mundial.

Em seu cultivo, o café inclusive dependia de menos investimentos que o açúcar, e os

recursos técnicos mobilizados eram menores. A ascensão do preço e da demanda por

café no mercado mundial oitocentista certamente impulsionou a expansão do seu

cultivo, conforme os lucros dos produtores cresciam. Central, nesse aspecto, era a

disponibilidade de terras e sua adequação ao plantio do café. Também seria válido

mostrar como a situação econômica e política em questão levou à criação de uma classe

consciente de seus interesses, a qual conseguiria, ao longo do século, dominar a política

nacional.

Desse modo, você teria produzido um excelente texto, com o qual seria possível garantir

a sua aprovação.
Videoaula: A gestação da economia cafeeira
Prezado estudante, que tal aprofundar os seus conhecimentos sobre a gestação da
economia cafeeira no Brasil? No vídeo a seguir, vamos retornar às causas que
levaram esse gênero a se firmar na economia nacional, tornando-se o carro-chefe das
exportações por mais de um século. Vamos entender melhor como ocorreu o surgimento
da classe dos cafeicultores e sua grande importância para a história do Brasil.

Saiba mais

Estudamos, durante esta etapa de aprendizagem, sobre o surgimento da classe


empresarial dos cafeicultores e sua diferença em relação à classe de senhores de
engenho anterior. Essa nova classe era, sobretudo, mineira, paulista e carioca, e a
proximidade com a capital do Império teve um importante papel em seu
desenvolvimento. Ficou interessado em saber mais sobre o assunto? O artigo O
empresário brasileiro: um estudo comparativo descreve o surgimento dessa classe e
a compara com os empresários de outra região do Brasil
Referências

BIRCHAL, S. de O. O empresário brasileiro: um estudo comparativo. Revista de

Economia Política, v. 18, n. 3, 71, p. 381-404, jul./set. 1998. Disponível

em: https://www.scielo.br/j/rep/a/tnF5qkCbrcf75QSRkcJDwvk/?lang=pt. Acesso em:

25 jul. 2022.

FURTADO, C. Formação econômica do Brasil. 32. ed. São Paulo: Companhia

Editora Nacional, 2005.


PRADO JÚNIOR, C. História econômica do Brasil. São Paulo: Círculo do Livro,

1976.

Unidade 2 / Aula 3
O problema da mão de obra
Introdução
Prezado estudante, seja bem-vindo a mais uma aula! Nesta etapa de aprendizagem,
vamos analisar um problema importantíssimo, o qual se manifestou logo que a expansão
cafeeira teve início, no século XIX: a escassez de mão de
obra. Vamos entender como esse problema poderia comprometer a expansão do ciclo do
café e quais medidas foram mobilizadas pelos fazendeiros e pelo governo imperial
para resolvê-lo. Também analisaremos como a escassez de mão de obra se apresentou
no norte do país diante da necessidade de explorar a borracha, que, no final do século
XIX, experimentou uma valorização ímpar no mercado mundial. Vamos lá?

A escassez de mão de obra

A expansão cafeeira se viu diante de um problema imediato: a falta de mão de

obra. Havia, no Brasil, uma população subocupada num regime de subsistência de baixa

produtividade. Esse grupo poderia ter sido completamente absorvido no novo ciclo,

como parcialmente foi. No entanto, a relação de dependência política com os grandes

proprietários e a ausência de uma política estatal nesse sentido, somadas à dispersão

e à baixa densidade populacional, tornaram difícil tal absorção. Assim, revela-se ao

grande proprietário e ao governo imperial o problema de como adquirir os braços

necessários à expansão da lavoura cafeeira.

A mão de obra escravizada também apresentava graves problemas. O crescimento

vegetativo dessa população era baixo, dadas as condições insalubres às quais os

proprietários de escravos submetiam os seus cativos. A taxa de mortalidade superava a

de natalidade nessa comunidade. O trabalho exaustivo e a má alimentação, assim como

a crueldade que imperava nas grandes fazendas, eram fatores que impossibilitavam o

crescimento orgânico do trabalho escravizado, tornando necessária a manutenção do

tráfico negreiro para repor a mão de obra. No século XIX, porém, por pressão da

Inglaterra – potência hegemônica na época –, o tráfico mostra-se crescentemente

custoso e inviável.
A imigração europeia foi vista, já no século XIX, como uma possível solução para o

problema da mão de obra. Os primeiros esforços nesse sentido fracassaram. O Império

procurou estabelecer colônias de trabalhadores europeus, mobilizados por concepções

racistas sobre a superioridade destes em relação aos trabalhadores nativos, sem que

houvesse, de fato, uma base econômica para o desenvolvimento das colônias, que

regrediam para a mera subsistência. Conforme se valorizava o café, outras tentativas

foram sendo realizadas nessa direção, à procura de europeus para trabalharem na grande

lavoura. Um dos primeiros sistemas formulados também falhou: o trabalhador teria a

sua vinda para o país financiada e, em troca, pagaria essa dívida com seu serviço.

O Estado financiaria a vinda parcialmente, favorecendo o proprietário de terras, e o

colono estaria numa situação de grande vulnerabilidade, facilmente transformada num

regime de servidão. Essa dinâmica, inclusive, provocou a forte reação dos países

europeus, que queriam coibir a possível escravização dos seus cidadãos. Apenas na

segunda metade do século XIX, o governo imperial e os latifundiários conseguiram

estabelecer um sistema viável de emigração, que levaria centenas de milhares de

europeus a se transferirem para as plantações de café no Sudeste brasileiro.

Para além da demanda de mão de obra na região cafeicultora, o problema da escassez

mostrou-se particularmente agudo na área amazônica durante o boom da borracha nos

anos finais do século XIX e início do XX. Essa vasta região havia apresentado pouco

peso na economia nacional até então. A exploração econômica do local se deu durante a

colonização, a partir da utilização de mão de obra indígena por parte dos jesuítas,

essencialmente voltada à extração de especiarias da floresta. O cacau teve certa

importância, mas sua exportação sempre foi muito limitada e jamais chegou ao patamar

do açúcar ou do café.

Uma razão central para o pouco prestígio era justamente a baixa disponibilidade de mão

de obra. Esse problema torna-se particularmente agudo no fim do século XIX, à medida

que a borracha aumenta muito o seu valor no mercado internacional. Por se tratar de um
produto de cultivo favorável na região amazônica e disponível na floresta, a borracha

apresentava grandes oportunidades de lucro, faltando apenas quem pudesse trabalhar na

sua extração.
A questão da imigração

Ao longo do século XIX, a utilização de mão de obra escravizada tornou-se cada vez

mais complicada. Em 1831, o governo imperial, em resposta à pressão britânica, proíbe

o tráfico de escravizados no país – sem grande efetividade, no entanto. Em 1845, o

parlamento britânico aprovou uma medida autorizando a marinha inglesa – a maior e

mais poderosa do mundo – a apreender navios envolvidos no tráfico de escravizados.

Apesar disso, houve a manutenção do tráfico clandestino externo e interno no Brasil,

com um visível deslocamento de mão de obra escravizada das regiões decadentes do

Nordeste para o novo centro dinâmico no entorno do café.

Posteriormente, legislações como a Lei Eusébio de Queiroz e a do Ventre Livre

passariam a pavimentar a gradual abolição da escravatura, que culminaria na Lei Áurea.

Nesse contexto, é importante notar que houve uma forte pressão interna, tanto de

revoltas de escravizados quanto do movimento abolicionista, para o fim da escravidão.

Após a abolição, no entanto, a população de ex-escravizados não foi imediatamente

incorporada, em virtude da ausência de estímulos governamentais para tal – o grupo foi

largado à própria sorte, o que influencia até hoje a desigualdade social brasileira.

A imigração europeia, para além dos problemas enfrentados nas primeiras tentativas de

sua consolidação, conseguiria se firmar. O sistema implantado a partir de 1870 foi capaz

de mobilizar uma imensa onda migratória europeia para as lavouras de café,

principalmente para aquelas localizadas no Estado de São Paulo. O governo financiaria

a passagem do imigrante, o qual teria direito a um salário anual, com acréscimos de

acordo com o resultado da colheita. Também caberia a esse trabalhador uma terra para o

cultivo dos produtos necessários à sua própria subsistência, e o empresário do café

deveria assumir a obrigação de mantê-lo pelo primeiro ano dos seus serviços.
Houve, assim, um regime relativamente favorável, que tornou a imigração atraente,

especialmente diante de um cenário de instabilidade econômica em certas regiões da

Europa, como a Itália, que vivenciava um processo de unificação política. Desse modo,

segundo Furtado (2005, p. 99), “O número de imigrantes europeus que entram nesse

estado sobe de 13 mil, nos anos 70, para 184 mil no decênio seguinte e 609 mil no

último decênio do século. O total para o último quartel do século XIX foi 803 mil,

sendo 577 mil provenientes da Itália”.

Na região amazônica, a solução para o problema da mão de obra foi a massiva migração

de nordestinos, sobretudo após a terrível seca de 1877-1880 – responsável pela morte de

cerca de duzentos mil nordestinos. Entretanto, diferentemente da migração europeia, o

nordestino migrava em circunstâncias muito mais precárias – era cobrado pelos seus

custos migratórios e não tinha direito a uma terra para a produção dos gêneros

necessários à sua subsistência. Encontrava-se, portanto, num regime de servidão e

estava totalmente dependente do empresário da borracha, trabalhando em jornadas

longas e exaustivas.
Palestra no museu

Prezado estudante, para contextualizar a sua aprendizagem, imagine a seguinte situação:

você, já formado, é contratado pelo Museu da Imigração do Estado de São Paulo como

gestor e consultor na área econômica. O Museu é uma instituição de pesquisa e

disseminação do conhecimento que procura manter viva a memória da imigração para a

região de São Paulo. A identidade cultural paulista é tributária dos fluxos migratórios

italianos e também japoneses, que deram ao Estado a sua feição contemporânea. Nesse

sentido, num evento público, você, como consultor da entidade, é convidado a ministrar

uma palestra, na qual deve apresentar, sob o ponto de vista econômico, as razões da

imigração para o Estado de São Paulo. Como você desenvolveria a sua apresentação?

Você poderia começar seu discurso contextualizando, nos âmbitos histórico e

econômico, a imigração de europeus para o Brasil no fim do século XIX e início do


século XX. Seria interessante demonstrar como a expansão da economia do café teve

que lidar com dificuldades na aquisição de mão de obra, sobretudo após as iniciativas de

erradicação da escravatura tomadas ao longo do século XIX em resposta às pressões

britânicas. O Brasil, com seu vasto território, não era povoado o bastante, e requeria-se

mão de obra para a lavoura cafeeira em grande expansão. Nesse contexto, você poderia

explicar como as primeiras tentativas de estabelecimento de núcleos coloniais,

ativamente promovidas pelo governo imperial, fracassaram no início do XIX, além de

mencionar como tais projetos tinham uma franca motivação racista. Em seguida, valeria

a pena mostrar como, ao longo do período em análise, modelos de imigração foram

testados sem que obtivessem sucesso, enfrentando, inclusive, resistência de países

europeus temerosos de que seus cidadãos fossem escravizados no Brasil.

Por fim, você poderia relatar como no final do XIX um modelo de imigração

subvencionada pelo Estado finalmente deu certo, levando milhares de imigrantes

europeus, principalmente italianos, a migrarem para o Brasil. Nesse caso, o Estado

arcaria com a passagem dos imigrantes e eles teriam a garantia de um salário anual e de

um pedaço de terra para produzir seus alimentos de consumo básico. Favoreceu essa

onda migratória a situação política conturbada da Itália, que encontrava-se em processo

de unificação. O Estado de São Paulo, principal núcleo de produção do café no período,

foi o destino central dos imigrantes por conta de sua pungência econômica e

necessidade de mão de obra. Além disso, na sua palestra, você poderia fazer uma

comparação entre a vinda do imigrante europeu e a migração interna dos nordestinos

para a região amazônica.

Nesse sentido, seria válido mostrar como o boom da borracha, decorrente da produção

de veículos nos países industrializados, deu origem a uma onda migratória para a

Amazônia, que contrastou, em termos laborais, com a situação do europeu. O migrante

nordestino deveria arcar com todas as suas despesas de deslocamento, recaindo num
regime de servidão por dívida em relação ao seu empregador – diferentemente do

europeu, que tinha na subvenção estatal uma garantia de sua relativa independência.

Apresentando tais elementos em sua palestra, você teria feito um excelente trabalho.
Videoaula: O problema da mão de obra
Prezado estudante, na videoaula a seguir, vamos retomar os principais
conceitos trabalhados nesta etapa de aprendizagem. Recordaremos o problema da mão
de obra diante da expansão da produção de café no Brasil Império e no início
da República. Além disso, vamos estudar as razões econômicas para a imigração
europeia, que tanto marcou a nossa história e cultura. É uma boa oportunidade de você
fixar o que estudou até agora. Vamos lá?

Saiba mais

A opção pela imigração europeia, por parte do governo imperial e dos primeiros

governos republicanos, teve uma motivação que extrapolava o interesse econômico: o

racismo. A ideia era tornar a população brasileira mais branca a partir de teorias racistas

que afirmavam a superioridade dos caucasianos. Nesse sentido, a imigração asiática

suscitou muitos debates que ilustram a orientação racista da política imigratória.

Ficou interessado em saber mais sobre o assunto? O artigo O paradigma racista da

política de imigração brasileira e os debates sobre a “Questão Chinesa” nos

primeiros anos da República apresenta um bom panorama acerca dessa questão.

Referências

FULGÊNCIO, R. F. O paradigma racista da política de imigração brasileira e os debates

sobre a “Questão Chinesa” nos primeiros anos da República. Revista Informação

Legislativa, ano 51, n. 202, abr./jun. 2014. Disponível

em: https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/503045/RIL202.pdf?

sequence=8. Acesso em: 1 ago. 2022.

FURTADO, C. Formação econômica do Brasil. 32. ed. São Paulo: Companhia

Editora Nacional, 2005.

PRADO JÚNIOR, C. História econômica do Brasil. São Paulo: Círculo do Livro,

1976.
Unidade 2 / Aula 4

A descentralização republicana e a formação de novos grupos de poder

Introdução

Prezado estudante, seja bem-vindo a mais uma aula! Nesta etapa de aprendizagem,

vamos estudar os primórdios da indústria brasileira na República Velha (1889-

1930). Nosso setor industrial, nesse período, sofria grandes debilidades e era

significativamente menor do que o setor primário exportador. Tínhamos uma indústria

de baixa intensidade de capital, bastante dependente de um câmbio favorável, a

qual mobilizava pouca tecnologia e era incapaz de concorrer de igual para igual com os

produtos industrializados vindos do exterior.

No entanto, o setor industrial existia e serviria de base para a industrialização mais

robusta que teve lugar no século XX. Diante disso, vamos verificar, neste

material, quais eram as principais dificuldades encontradas na gênese do setor

industrial brasileiro e suas respectivas causas.

Os problemas do câmbio

O câmbio e a desordem nas finanças públicas caracterizaram os últimos anos de Império

e o início da República, com grandes prejuízos para a população, sobretudo para a

incipiente classe média urbana. A depreciação do câmbio, como aprendemos,

funcionava com um mecanismo de transferência de renda das elites exportadoras para a

coletividade nacional, uma vez que a depreciação da moeda compensava parcialmente,

na conversão para o meio circulante nacional, a perda em decorrência da desvalorização

do produto exportado no mercado mundial. Se o valor da saca de café caía 20% no

mercado internacional, por exemplo, e a nossa moeda se desvalorizava em 10%,

tínhamos, na conversão para a moeda nacional, a compensação de 10% da perda do

valor da saca. Entretanto, essa mesma depreciação acabava gerando um aumento dos

produtos importados – que eram consumidos pela população (FURTADO, 2005).


É preciso destacar, ainda, uma questão complementar que agravava o problema. A

depressão do valor dos itens de exportação levava a uma depreciação do câmbio, em

razão do desequilíbrio da balança de pagamentos. A arrecadação estatal era, em grande

parte, proveniente da taxação das importações. Contudo, o imposto sobre importações

operava a uma taxa de câmbio fixa, o que fazia com que a arrecadação se mantivesse a

mesma em detrimento do aumento nos preços dos importados. A taxa de importação

permanecia invariável, mesmo que o produto se tornasse mais caro por causa do

câmbio. Desse modo, a taxa se mostrava relativamente menor em comparação ao valor

do produto. Isso certamente afetava de maneira mais intensa os importados de preço

elevado, consumidos pela classe mais abastada.

Nesse sentido, a manutenção de uma arrecadação estacionária diante de um aumento no

valor dos importados gerava problemas para o financiamento estatal, já que o Estado

pagava em moeda corrente as despesas relativas ao seu próprio funcionamento. Por

outro lado, com a depreciação cambial, o governo brasileiro teve mais dificuldades para

pagar os empréstimos contraídos no exterior. A dívida pública aumentava conforme a

moeda se depreciava, e o país, assim, se via obrigado a comprometer uma parte cada

vez maior de sua arrecadação no serviço da dívida. Nesse contexto, a fim de controlar o

câmbio, o governo contraía mais e mais empréstimos no exterior, escalonando o

problema.

A dificuldade de pagar a dívida em moeda estrangeira, por sua vez, levava o Estado a

emitir papel-moeda para financiar seus custos mais fundamentais, provocando uma

pressão inflacionária agravada pelo encarecimento das importações. A emissão de

papel-moeda ainda apresentava complicações substanciais, dada a ineficiência dos

mecanismos estatais para a execução desse processo. Tal problema afetava

singularmente as classes urbanas assalariadas no período, que eram as mais diretamente

prejudicadas pela inflação, sofrendo depreciações no seu salário real (FURTADO,

2005). Essas classes médias urbanas alimentariam tumultos e revoltas nos primeiros
anos da República, dando origem aos elementos civis e militares que apoiaram a queda

do Império.
A descentralização republicana

A Proclamação da República, em 1889, se deu num contexto no qual o café já era o

principal produto de exportação brasileiro e os cafeicultores, a classe mais poderosa. As

elites do café apoiaram a Proclamação da República e se aliaram aos militares na

deposição do Imperador em razão de uma grande insatisfação com o fim da escravidão,

que, diferentemente do que eles esperavam, não veio junto de nenhuma compensação

financeira pela perda daquilo que consideravam como “seu patrimônio”. Com a

Proclamação, para além da mudança de uma monarquia para uma república, há um

processo de descentralização política. O Império tinha uma estrutura político-

administrativa relativamente centralizada na figura do Imperador e na corte, o que gerou

diversos conflitos com as elites agrárias de outras regiões do país, como a Guerra dos

Farrapos (1835-1845). Com a República, as antigas províncias, agora Estados, tornam-

se muito mais independentes do poder central, inclusive com a possibilidade de emitir

crédito a partir de bancos regionais. Bastante ilustrativa desse processo foi a

inexistência de um partido nacional durante a República Velha – a política passou a ser

dominada pelo Partido Republicano Paulista e o Partido Republicano Mineiro, sem que

se conseguisse formar um partido verdadeiramente nacional.

Os Estados eram controlados pelas elites agrárias, que regiam as eleições a partir de

mecanismos clientelistas, como o voto de cabresto, fraudes eleitorais e mesmo por meio

da violência contra opositores. No nível nacional, desenvolveu-se, a partir do governo

de Campos Sales (1898), a política dos governadores, um regime de acomodação entre

as elites locais e o governo federal. A maior pungência econômica das elites sudestinas

levaram a um arranjo de revezamento acordado no poder, no qual as oligarquias paulista

e mineira se alternavam na presidência da República. Controlavam, igualmente, o

Legislativo, por intermédio da Comissão de Verificação de Poderes, que impedia a


posse de candidatos opositores às oligarquias. Esse cenário se manteve até a Revolução

de 1930.

No Brasil republicano, havia uma classe média urbana, por mais que o país ainda fosse,

em sua maior parte, agrário. Era uma classe composta de profissionais liberais,

comerciantes, militares e funcionários públicos, como o renomado escritor Machado de

Assis. Esse setor da população se concentrava principalmente na capital – o Rio de

Janeiro – e em São Paulo. Os problemas cambiais que estudamos acabavam afetando

profundamente a vida dessa classe, gerando ampla insatisfação.

A população agrícola tirava boa parte dos bens necessários ao seu sustento da própria

lavoura, porém as classes médias urbanas dependiam muito mais das importações,

mesmo para alimentos. Nesse último aspecto, é curioso que um país essencialmente

agrário dependesse da importação de gêneros alimentícios; como nota Prado Júnior

(1976), esses itens chegaram a representar 30% das importações nacionais. A razão para

tal fenômeno era a predominância da exportação, que levava o produtor agrário a

produzir para o mercado externo em detrimento do interno. O problema maior é que,

diante de uma desvalorização do câmbio, os produtos importados tornavam-se muito

mais caros, diminuindo o poder de compra da classe média urbana.

Se os trabalhadores rurais tinham na própria terra a produção dos seus gêneros e os

latifundiários contavam com uma ampla renda, capaz de compensar essa flutuação no

seu consumo, o mesmo não se passava com as classes médias urbanas. Por tal motivo,

é nesse grupo que encontraremos o surgimento de movimentos e correntes intelectuais

importantes no Brasil, como o positivismo – muito disseminado entre os militares.

Desse modo, a classe média desempenhou um papel cada vez mais relevante na política

nacional.
Apresentação no banco

Prezado estudante, para contextualizar a sua aprendizagem, imagine a seguinte situação:

você, já formado, atua profissionalmente num grande banco nacional. Você trabalha
como gerente e se vê diante de uma circunstância sem precedentes. O setor no qual você

desenvolve suas atividades abriu recentemente um investimento de Previdência Privada

e está à procura de parcerias na captação de clientes. Esse tipo de investimento tem

crescido nos últimos anos, sobretudo por causa do decréscimo no número das categorias

profissionais com direito à aposentadoria integral. Sua função de assegurar uma

aposentadoria para além da garantida pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS)

também pode ajudar a preservar fundos monetários num cenário de alta inflação,

geralmente oferecendo rendimentos superiores à poupança.

Imagine, então, que seu gestor convoca você para ajudá-lo na realização de uma

importante parceria. O objetivo é fechar um acordo com sindicatos e outras entidades

representantes de docentes de História no nível nacional. O seu gestor organiza, assim,

uma apresentação técnica, na intenção de explicar as principais vantagens do fundo,

assim como detalhes sobre os seus investimentos. Ele pede que você complemente o seu

discurso com uma fala voltada especialmente para os possíveis clientes. Confia que

você mobilizará a sua sólida formação em Economia para mostrar aos representantes

dos professores a vantagem de fechar a parceria. Sabendo da importância, em termos de

vendas, de se aproximar da realidade e dos interesses dos clientes, como você prepararia

a sua fala?

Você, tendo em mente que o público-alvo de sua apresentação é formado por

professores de História, poderia se utilizar dos seus conhecimentos de Histórica

Econômica para criar uma conexão com os possíveis clientes. Seria interessante, por

exemplo, elencar argumentos históricos capazes de despertar o interesse pelo fundo.

Nesse sentido, valeria a pena falar sobre a situação da classe média na República Velha

e as dificuldades que essa parte da população enfrentou diante do câmbio. O Brasil era

um país agrário e, mesmo nos dias atuais, ainda tem uma economia fortemente agrário-

exportadora. Você também poderia mostrar como, apesar de a nossa economia ter se

desenvolvido bastante no último século, ainda não temos o nível de um país como os da
União Europeia e os Estados Unidos, de modo que estamos sempre sujeitos, em maior

ou menor grau, às flutuações cambiais.

Tal como na República Velha, um aumento do câmbio e da inflação prejudica de forma

significativa a classe média, que sofre perdas no que se refere a salários reais e poder de

compra. Você poderia destacar como a inflação é um problema histórico e tem o poder

de corroer as reservas das classes médias no país, de maneira que é sempre importante,

principalmente no que diz respeito à aposentadoria, protegê-las da inflação. Nesse

ponto, em consonância com a apresentação do seu gestor, seria válido exibir dados

sobre as vantagens da previdência privada na preservação do patrimônio diante da

inflação, ajudando a convencer os representantes dos professores das vantagens de

aderir a proposta em questão.


Videoaula: A descentralização republicana e a formação de novos grupos de poder

Prezado estudante, no vídeo a seguir, vamos retomar os principais assuntos


estudados nesta etapa de aprendizagem. É sempre bom rever o que já aprendemos, pois
isso ajuda a fixar os conteúdos trabalhados. Além disso, recordaremos a situação do
câmbio e seus impactos na classe média durante a República Velha, como também a
descentralização republicana. Vamos lá?

Saiba mais

A República Velha, para além das dimensões que já estudamos, também constituiu um
período de fermentação do direito das mulheres no Brasil. As mulheres operárias, nessa
época, tiveram muito importância. Nas décadas seguintes, elas teriam seus direitos de se
eleger e votar reconhecidos. Ficou interessado em saber mais sobre o tema? Então faça
a leitura do artigo Nem no convento, nem no cabaré, na imprensa operária: a
ampliação das esferas discursivas da mulher trabalhadora na República Velha.

Referências

BOENAVIDES, D. L. V. Nem no convento, nem no cabaré, na imprensa operária: a

ampliação das esferas discursivas da mulher trabalhadora na República

Velha. Linguagem em (Dis)curso, Tubarão, SC, v. 17, n. 3, p. 297-313, set./dez. 2017.

Disponível em: https://www.scielo.br/j/ld/a/ddSDQpYZDpgrGPnrfSHCPWt/?

format=html. Acesso em: 9 ago. 2022.


FURTADO, C. Formação econômica do Brasil. 32. ed. São Paulo: Companhia

Editora Nacional, 2005.

PRADO JÚNIOR, C. História econômica do Brasil. São Paulo: Círculo do Livro,

1976.

Unidade 2 / Aula 5
Revisão da unidade

A economia de transição para o trabalho assalariado e o ciclo do café

No final do século XVIII, a economia brasileira estava em crise. O esgotamento das

fontes de ouro na região das Minas levava a região a regredir para diversas unidades

econômicas de subsistência, o que comprometia o funcionamento da economia do país.

O açúcar também enfrentava certo declínio, com a queda do seu preço no mercado

internacional. Um breve ciclo virtuoso no Maranhão, baseado na produção de algodão,

teve vida curta e não se firmou a longo prazo. O século XIX, assim, começa

necessitando de uma nova fonte de riqueza (FURTADO, 2005).

O café ocuparia o lugar do ouro e do açúcar, criando um novo ciclo econômico. As

razões para esse processo são as seguintes: houve uma expansão da demanda

internacional pelo café e um aumento do seu valor no mercado internacional; o cultivo

do café dependia basicamente da disponibilidade de terras, e esse produto podia ser

implantando sem dificuldades a partir da estrutura da produção de açúcar anterior; e a

geografia e o clima do país favoreciam o cultivo desse item.

O problema central, durante a expansão do café, foi a mão de obra. A utilização da mão

de obra escravizada tornou-se cada vez mais difícil ao longo do século XIX. A pressão

inglesa fez surgir diversas medidas na intenção de coibir o tráfico, e os escravizados que

já estavam no país apresentavam baixo crescimento demográfico vegetativo, em razão

da violência e da alimentação a que eram submetidos. Esse problema também se

manifestou quando, na segunda metade do século XIX, ocorreu um boom da borracha,


produto típico da região amazônica e que, na sua exploração, enfrentava a carência de

mão de obra.

A solução encontrada foi a imigração de trabalhadores europeus, no caso do café, e a

migração de trabalhadores nordestinos, no caso da borracha. No primeiro cenário, o

governo se comprometeu a financiar a vinda do imigrante e, por pressão internacional,

tomou providências que lhe asseguravam a impossibilidade de viver sob um regime de

servidão. É importante notar que o racismo, dominante no período, impulsionou o

projeto de imigração europeia, pois se identificava uma necessidade de “embranquecer

o Brasil”. Na segunda circunstância, não houve o mesmo tipo de garantia, e o migrante

nordestino, em geral, se via na condição de servidão ao chegar na região amazônica.

A produção de café cresceu ao longo do século XIX, dominando nossa economia. Era o

principal produto das nossas exportações e, por causa dessa imensa importância, os

produtores de café se consolidaram como uma oligarquia capaz de determinar os rumos

do país. Após a queda do Império, há uma descentralização política, na qual os Estados

ganham grande autonomia. Totalmente controlados por meio de fraudes eleitorais, elites

cafeicultoras e pela política dos governadores, os Estados também controlariam o

governo federal.

O período da nossa primeira República, comandado pelos cafeicultores, apresentou

problemas cambiais significativos. As flutuações do câmbio levavam a um cenário de

inflação que prejudicava principalmente as classes médias urbanas, enquanto tendia a

favorecer os produtores de café, os quais tinham na depreciação cambial um mecanismo

compensatório para as eventuais perdas no valor internacional da saca de café. A

República Velha, até seu fim, em 1930, seria inteiramente controlada pelos grandes

produtores do café (FURTADO, 2005).

Videoaula: Revisão da unidade

Prezado estudante, que tal revisar os principais conteúdos e conceitos estudados nesta
unidade de aprendizagem? No vídeo a seguir, vamos retomar, de forma sintética
e objetiva, tudo o que vimos nesta etapa de estudos. É uma oportunidade de você fixar e
rememorar aquilo que aprendeu, bem como de sanar eventuais dúvidas. Vamos lá?

Estudo de Caso

Prezado estudante, para contextualizar a sua aprendizagem, imagine a seguinte situação:

você, um profissional já formado, trabalha num instituto de pesquisa econômica que

opera como think tank (instituição que promove ideias políticas e econômicas). Esse

tipo de entidade tem importância pública e, muitas vezes, consegue pautar o debate

nacional e internacional. Trabalhar numa instituição do gênero é uma opção viável para

um profissional versado em economia. No Brasil, o Instituto Mises, voltado à

disseminação da ideologia neoliberal, é uma entidade com grande poder de influência

sobre a opinião pública, por exemplo. Em geral, os think tanks se alinham a ideologias

conservadoras e de direita, mas não necessariamente.

Imagine que o instituto no qual você trabalha tenha o objetivo de analisar e estudar o

subdesenvolvimento brasileiro, sob uma matriz histórica e também contemporânea. A

instituição procura, portanto, informar a população e gestores públicos dos desafios que

a economia brasileira sempre enfrentou e ainda enfrenta no seu processo de

desenvolvimento. Uma das missões do instituto é a conscientização para o problema da

dependência excessiva da exportação de produtos agrários para a economia nacional. De

acordo com as análises da instituição, o Brasil, no século XXI, estaria caminhando para

uma situação análoga ao início do século XX, na qual éramos essencialmente uma

economia voltada para o mercado externo, com pouca indústria e excessivamente

dependente das exportações de matéria-prima e gêneros primários, como o petróleo e a

soja.

Diante disso, imagine que você tenha recebido como uma de suas atividades no instituto

a seguinte incumbência: a fim de conscientizar a opinião pública sobre os perigos de

uma regressão à economia agrário-exportadora, o instituto está organizando um livro a

ser distribuído gratuitamente em escolas, bibliotecas, universidades e vendido em


livrarias. O seu gestor, no escopo desse projeto, solicita que você escreva um

capítulo do livro em questão, apresentando os problemas vivenciados pelo Brasil

na época em que não havia um setor industrial robusto e o país era dependente da

exportação de produtos primários, principalmente o café. Nessa situação, como

você escreveria o seu capítulo no livro?

______

Reflita

Aprendemos, ao longo desta unidade de aprendizagem, que o Brasil, na República

Velha, era uma oligarquia, um país governado por uma elite econômica que controlava

o Estado e o colocava a serviço dos seus interesses. Mais de um século depois, em que

medida a nossa democracia ainda não seria comprometida pelo poder econômico da

elite? Temos uma democracia e instituições que devem servir ao povo, mas a imensa

concentração de poder econômico numa faixa muito pequena da população

não afetaria a qualidade dessa democracia e de suas instituições?


Videoaula: Resolução do Estudo de Caso

Prezado estudante, no período de produção do seu capítulo, você precisaria ter em

mente os objetivos institucionais do livro em questão. Deveria, também, se preocupar

com a clareza e a concisão do texto, já que se trata de um material voltado ao público

em geral, independentemente do nível de escolaridade.

Você, com o propósito de mostrar os problemas da dependência da exportação de

matérias-primas no Brasil regido pelo café, poderia iniciar sua redação contextualizando

esse ciclo econômico. Seria interessante escrever que a economia cafeeira se desenvolve

a partir da falência da mineração, apontando como a produção do café foi facilitada pela

disponibilidade de terras num clima favorável sob um contexto de expansão da demanda

internacional pelo produto.

Você também poderia destacar o problema da mão de obra, principal obstáculo para a

expansão cafeeira no século XIX. Nesse sentido, seria válido descrever as pressões
internacionais que dificultaram a obtenção de mão de obra escravizada, bem como as

tentativas de se conseguir trabalhadores europeus, opção esta motivada pelo racismo,

para além da necessidade econômica. Também seria fundamental escrever como, ainda

durante o Império, o café já era o principal produto de exportação do Brasil, o que

concedia às elites produtoras imenso poder político e econômico. Em seguida, valeria a

pena demonstrar como a mesma elite se beneficiou da descentralização do período

republicano, controlando as eleições estaduais e, por consequência, o governo federal

(FURTADO, 2005).

Posteriormente, seria interessante mostrar os problemas que a dependência do café

gerava na economia brasileira. O equilíbrio da balança de pagamento era

particularmente importante. A partir da utilização de mão de obra assalariada, a

dependência do café levava a um constante déficit. As flutuações do mercado

internacional de café também representavam um grande impasse, já que o país dependia

da exportação desse item. Quando o valor do café baixava no mercado internacional, a

nossa economia sofria um baque. Você poderia explicar, ainda, como a depreciação

cambial, no caso de baixa do valor da saca de café, conduzia a um aumento da dívida

pública e, desse modo, à emissão de papel-moeda, o que, junto do aumento do valor dos

importados, produzia uma pressão inflacionária que afetava sobremaneira as classes

médias urbanas.

O direcionamento da produção econômica para o mercado externo deixava o Brasil em

uma posição de dependência, que inibia a formação de um mercado interno robusto e da

nossa industrialização, elemento característico de economias agrário-exportadoras em

geral. Em um cenário de retrocesso a uma economia exclusivamente agrário-

exportadora, você poderia destacar a plena possibilidade de que os problemas descritos

assumam o mesmo grau de gravidade que apresentavam no século XIX e no início do

XX. Inserindo tais elementos, você teria elaborado um excelente texto.

Resumo Visual
Síntese. Fonte: elaborada pelo autor.

Referências

FURTADO, C. Formação econômica do Brasil. 32. ed. São Paulo: Companhia

Editora Nacional, 2005.

PRADO JÚNIOR, C. História econômica do Brasil. São Paulo: Círculo do Livro,

1976.

Unidade 3 / Aula 1
A expansão cafeeira

A expansão cafeeira e a superprodução

O café, a partir da década de 1830, já era o principal produto de exportação do Brasil

(FURTADO, 1964). Nos anos seguintes, seu prestígio só aumentou na economia

nacional e, no início do período republicano, tornou-se absolutamente dominante. O

país chegou, nos primórdios do século XX, a deter 70% da produção mundial de café

(PRADO JÚNIOR, 1976). O desenvolvimento da economia cafeeira se deu, segundo

Furtado (1964), pelas seguintes razões:


1. Em primeiro lugar, pelo esgotamento dos ciclos anteriores, com base na
mineração, no algodão maranhense e na produção açucareira.
2. Por uma adequação ecológica da produção cafeeira à geografia da região
Sudeste, num primeiro momento, no entorno da capital do Império.
3. Pela presença de uma estrutura produtiva favorável herdada dos ciclos
anteriores, sobretudo em relação à abundância de terras.
4. Por um aumento dos preços do café no mercado internacional a partir de meados
do século XIX.

No início do último século, a depreciação cambial, aliada ao crédito fácil e barato

impulsionado pelo primeiro governo republicano, levou a uma expansão ímpar da

produção cafeeira. Entretanto, tal expansão culminou numa crise de superprodução que

pressionou o preço do produto para baixo. A economia brasileira inundou o mercado

mundial com café sem que isso tenha conduzido a um aumento da demanda externa,

provocando, assim, uma depreciação dos preços, que comprometeu o lucro dos

cafeicultores. Por outro lado, o Brasil possuía uma situação privilegiada no que diz

respeito ao café: detínhamos 3/4 da produção mundial de café, o que dava aos

produtores nacionais bastante poder na manipulação do mercado. Quando começou a

ficar evidente que a elevação da produção não gerava um aumento do consumo, os

grandes proprietários de terra passaram a procurar uma solução política para o problema

(FURTADO, 1964).

O governo federal e os governos estaduais, controlados pelos interesses dos

cafeicultores, estabeleceram, no início do século XX, uma política de intervenção no

mercado de café, a fim de compensar a queda do preço desse produto, ocasionada pela

superprodução. As diretrizes desse tipo de interferência foram definidas pela primeira

vez no Convênio de Taubaté, de 1906. Firmado pelos governadores do Rio de Janeiro,

Minas Gerais e São Paulo, o Convênio deu as bases para a política de valorização do

café que imperariam nas décadas seguintes. Os governos estaduais comprariam

excedentes da produção cafeeira, objetivando subir artificialmente o preço do produto

no mercado. O financiamento dessa compra aconteceria a partir de empréstimos

externos (PRADO JÚNIOR, 1976). Tal mecanismo garantiu que, mesmo diante do
crescimento da oferta sem elevação da demanda internacional, os cafeicultores

continuassem lucrando.

No entanto, como aponta Furtado (1964), essa política apresentava uma grave

contradição que explodiria no final da década de 1930. A crise de superprodução levou

à intervenção governamental, que comprava os estoques excedentes, garantindo a

lucratividade do produtor. Contudo, a renda aportada por esse mecanismo, diante da

manutenção dos lucros do café, teve como efeito uma expansão ainda mais aguda das

plantações de café. Mantendo-se os lucros por meio de um mecanismo artificial, os

capitais dos empresários do café foram investidos no aumento da produção. De acordo

com Furtado (1964), não havia, inclusive, outra opção tão lucrativa e viável para o

investimento desses capitais, dada a situação especial da produção de café no cenário

nacional. Assim, a política de valorização do café, implementada frente à superprodução

desse produto, motivou uma expansão ainda maior dessa mesma superprodução, o que

configurou um cenário insustentável

O café e seus problemas

A economia cafeeira se deparou com diversos problemas. Primeiro, surgiu a

necessidade de mão de obra, uma vez que a escravidão passou a ser limitada, o que

motivou ondas migratórias vindas da Europa com subsídio governamental (FURTADO,

1964). Em segundo lugar, a dependência do mercado externo gerava dificuldades fiscais

e cambiais, já que o país exportava matéria-prima e importava produtos

industrializados, caracterizando uma situação de déficit – importávamos mais do que

exportávamos. A economia do café era muito dependente do cenário global e, por isso,

bastante suscetível a crises externas. Nesse sentido, a orientação exportadora dominante

na economia não levou ao desenvolvimento de um mercado interno robusto,

aumentando a debilidade geral da nossa economia. Soma-se a esse cenário a

concentração de renda e poder nas elites cafeeiras, que dominavam o aparelho de Estado
e o utilizavam para a preservação dos seus interesses – o que o Convênio de Taubaté

demonstra claramente.

A política de valorização do café, permeada por compra estatal de sacas excedentes com

financiamento estrangeiro, era uma forma de transmitir à coletividade o ônus do

decréscimo da rentabilidade do produto. Nesse sentido, a taxa de câmbio também foi

utilizada para transmitir o ônus do produtor privado para a sociedade. Em que medida?

A queda dos lucros, em geral, se dava a partir da retração das exportações ou da redução

do valor da saca de café no mercado internacional – característica central de economias

dependentes. A depreciação da taxa de câmbio, nesse contexto, impedia que a queda se

revertesse em prejuízo para os produtores, conforme a queda nas exportações era

compensada pelo maior valor em moeda nacional em comparação aos meios de troca

internacionais. Um exportador de café poderia vender sua saca por 5 dólares, por

exemplo, e esse valor em moeda nacional equivaleria a 10 mil-réis, sendo cada dólar

proporcional a 2 mil-réis. Se o valor da saca de café cai para 2,5 dólares e a taxa de

conversão do dólar muda para 1 dólar valendo 4 mil-réis, ao vender a sua saca de café, o

produtor estaria recebendo no fim, em mil-réis, o mesmo valor de 10 mil-réis. Esse

exemplo é uma simplificação, e o prejuízo em razão da queda do valor da saca nem

sempre era integralmente compensado. No entanto, esse mecanismo foi amplamente

utilizado (FURTADO, 1964).

Tal medida representava uma forma de transmitir o prejuízo do setor cafeeiro para a

coletividade, uma vez que a depreciação cambial aumentava o valor dos produtos

importados – que eram consumidos, em maior ou menor grau, pela população, por causa

da nossa dependência desses produtos. As classes médias incipientes e urbanas eram as

mais afetadas, com a perda do poder de compra e inflação dos importados. De todo

modo, o controle do aparelho de Estado pelas elites cafeeiras, que seria modificado

apenas a partir dos anos 1930, garantia a manutenção de políticas de transmissão do


ônus privado dos produtores para a coletividade. A política de câmbio e a valorização

do café são exemplos nítidos dessa orientação política na economia.

O café em sua história e importância presente

Prezado estudante, para contextualizar sua aprendizagem, imagine a seguinte situação:

você está formado e atua no setor financeiro, trabalhando como executivo de um grande

fundo de investimento que aplica capitais significativos no agronegócio. O setor

cafeeiro ainda é muito importante no Brasil, e somos o maior exportador desse produto,

uma posição que detemos há 150 anos. Logo, trata-se de um cultivo importante na nossa

economia contemporânea e que teve papel de destaque na formação econômica

brasileira desde os tempos da Independência.

Considere, então, que seu gestor tenha lhe dado a responsabilidade de explicar, para um

segmento de investidores estrangeiros, a importância do café na economia nacional e na

história do nosso país. O objetivo é apresentar a centralidade do cultivo desse produto

na trajetória econômica brasileira, na intenção de que tais investidores se familiarizem

com o tema. Desse modo, baseando-se numa perspectiva mais ampla, será possível

convencê-los a investirem no fundo em que você trabalha. Como você apresentaria o

tema? Quais elementos da longa história da cafeicultura no Brasil você traria?

Você poderia mostrar para os investidores como a expansão cafeeira começa já em

meados do século XIX e se torna dominante na economia brasileira durante esse

período. Nesse sentido, seria interessante destacar a longa experiência nacional no

cultivo desse produto, uma expertise herdada dessa história secular. Também valeria a

pena mencionar a expansão cafeeira vivenciada a partir do século XIX, inicialmente no

Rio de Janeiro, frisando o fato de termos condições ecológicas muito favoráveis para o

cultivo de café. Historicamente, tal aspecto colocou o Brasil numa posição muito

competitiva na produção cafeeira, de modo que o país chegou a deter 70% do mercado

mundial desse setor.


O café, seria válido dizer, foi o que motivou a vinda de milhões de imigrantes

estrangeiros para o Brasil, no contexto da passagem da mão de obra escravizada para a

assalariada. Essa imigração, estimulada pelas necessidades do setor cafeeiro, moldou a

cultura brasileira de forma inegável e aproximou nosso país de nações europeias para

além da portuguesa, como a italiana e a alemã. Sem o café, seríamos um país muito

diferente, tanto em termos de economia quanto de cultura. Você, nesse aspecto, poderia

apresentar exemplos do impacto da migração europeia no ciclo cafeeiro, falando sobre

as comunidades italianas em São Paulo, e até mesmo das japonesas.

Além disso, seria válido explicar como a expansão da cafeicultura, apesar de sua

importância, também apresentou crises, sobretudo as de superprodução no início do

século XX. Nesse aspecto, é importante sempre ressaltar que tal fenômeno ocorreu por

conta de questões específicas do contexto histórico e do aparelhamento do Estado pelos

produtores. Em seguida, você poderia mostrar como o fato de o café não ser mais a

nossa principal exportação em nada nega a sua importância e as possibilidades de lucro

a partir do seu cultivo.

Desse modo, você teria feito uma excelente exposição, contribuindo com seus

conhecimentos de formação econômica brasileira para a captação de capitais

direcionados ao seu fundo de investimento.

Videoaula: A expansão cafeeira

Prezado estudante, no vídeo a seguir, vamos rever, desta vez de modo mais
aprofundado, o que estudamos ao longo desta seção de aprendizagem. Continuaremos
analisando a expansão do café, a natureza das crises de superprodução e as intervenções
governamentais na tentativa de contorná-las. Você terá acesso, portanto, a mais um
recurso na sua jornada de aprendizagem, o qual lhe ajudará a fixar os conteúdos que
estudamos e a consolidar a sua formação como economista.

Saiba mais

O café teve importância central para a economia brasileira. A nossa primeira República,

como aprendemos, foi dominada pelos oligarcas do café, que conseguiram utilizar o

Estado na persecução dos seus interesses. O impacto da política de valorização do café


foi imenso nesse período. Ficou interessado em saber mais sobre o tema? Então faça a

leitura do artigo sugerido:

BEZERRA, L. M. Café, câmbio e indústria na primeira década republicana. In:

CONGRESSO BRASILEIRO DE HISTÓRIA ECONÔMICA, 11; CONFERÊNCIA

INTERNACIONAL DE HISTÓRIA DE EMPRESAS, 12, 2015, Vitória,

ES. Anais... Vitória, ES: ABPHE, 2015.


Referências

BEZERRA, L. M. Café, câmbio e indústria na primeira década republicana. In:

CONGRESSO BRASILEIRO DE HISTÓRIA ECONÔMICA, 11; CONFERÊNCIA

INTERNACIONAL DE HISTÓRIA DE EMPRESAS, 12, 2015, Vitória,

ES. Anais... Vitória, ES: ABPHE, 2015. Disponível

em: https://www.abphe.org.br/arquivos/2015_lohana_monaco_bezerra_cafe-cambio-e-

industria-na-primeira-decada-republicana.pdf. Acesso em: 6 jul. 2022.

FURTADO, C. Formação econômica do brasil. São Paulo: Fundo de Cultura, 1964.

PRADO JÚNIOR, C. História econômica do Brasil. São Paulo: Círculo do Livro,

1976.

Referências

BEZERRA, L. M. Café, câmbio e indústria na primeira década republicana. In:

CONGRESSO BRASILEIRO DE HISTÓRIA ECONÔMICA, 11; CONFERÊNCIA

INTERNACIONAL DE HISTÓRIA DE EMPRESAS, 12, 2015, Vitória,

ES. Anais... Vitória, ES: ABPHE, 2015. Disponível

em: https://www.abphe.org.br/arquivos/2015_lohana_monaco_bezerra_cafe-cambio-e-

industria-na-primeira-decada-republicana.pdf. Acesso em: 6 jul. 2022.

FURTADO, C. Formação econômica do brasil. São Paulo: Fundo de Cultura, 1964.

PRADO JÚNIOR, C. História econômica do Brasil. São Paulo: Círculo do Livro,

1976.

Unidade 3 / Aula 2
A produção primária e o mercado externo
Introdução

Prezado estudante, seja bem-vindo a mais uma aula! Nesta etapa de aprendizagem,

vamos estudar a economia do café, dominante no Brasil por mais de um século.

Analisaremos os problemas que esse setor gerava na balança de pagamentos nacional,

sempre tendendo ao desequilíbrio por conta de uma assimetria entre exportações e

importações. Nesse sentido, estudaremos as fragilidades da nossa economia durante o

período de formação econômica do país e a Crise de 1929, que desencadeou uma

transformação significativa nos rumos econômicos do Brasil. Essa crise, motivada tanto

pela depressão global como pela superabundância do café produzido, daria as bases para

o desenvolvimento de uma indústria e para o fortalecimento do nosso mercado interno.

Você, como futuro profissional, precisa dominar os principais elementos e conceitos

relacionados à história econômica nacional. Para se nortear na economia brasileira de

hoje, é necessário conhecer as suas origens. Iniciaremos, agora, mais uma etapa de sua

formação. Vamos lá?

Desequilíbrio na balança de pagamentos

A economia cafeeira no Brasil dos séculos XIX e XX era completamente dependente do

mercado mundial. A produção de café estava voltada para a exportação, sobretudo para

os Estados Unidos. A utilização massiva de mão de obra escravizada até o fim do XIX,

para além do horror que a escravidão trazia a milhões pessoas, inibiu a formação de um

mercado interno robusto – os escravizados nada consumiam e grande parte da mão de

obra livre vivia num regime de economia de subsistência. Na ausência de um mercado

interno robusto, em que os produtos produzidos em território brasileiro seriam

consumidos no próprio país, a economia tornava-se inteiramente dependente do

mercado externo. Com o fim da escravidão, houve uma expansão do mercado interno,

que se consolidará ao longo do século XX, fortalecendo relativamente a nossa economia

perante as flutuações internacionais e estimulando a industrialização, que se

desenvolveu a partir da década de 1930. Essa industrialização foi possível pela


convergência de uma série de fatores, dentre os quais se destaca a própria política de

defesa dos interesses dos produtores de café (PRADO JÚNIOR, 1976).

Um problema central da economia brasileira, dada a sua dependência do mercado

externo, era a manutenção do equilíbrio da balança de pagamentos e a dificuldade de

adequação da nossa economia ao padrão-ouro. A balança de pagamentos tendia ao

desequilibro por causa de um coeficiente maior de importações do que de exportações.

Esse empecilho se consolida a partir da transição para a mão de obra assalariada, uma

vez que esta era dependente da renda das exportações e consumidora de bens

importados – dependente porque a renda do café exportado era parcialmente transmitida

para os trabalhadores sob a forma de salários e para os pequenos produtores sob a forma

de compras. Estes, por sua vez, a utilizavam no consumo de diversos produtos, o que

provocava um efeito multiplicador que reforçava a dependência que a economia em

geral tinha em reação ao setor exportador. Igualmente, a renda dos cafeicultores tem um

papel importante no consumo direto de bens importados. A partir desse cenário,

constante durante a República Velha (1889-1930), a economia encontra dificuldades

para manter mais reserva metálica saindo do país do que entrando nele, a fim de cobrir o

déficit da balança de pagamentos. As reservas que lastreavam a moeda nacional eram

mobilizadas para matizar o desequilíbrio estrutural. Inclusive, como nota Furtado

(2005), a percepção desse problema era difícil ao estadista do período, uma vez que ele

estava preso aos dogmas da teoria quantitativa da moeda, inadequada para países como

o nosso. O padrão-ouro, portanto, se mostrava problemático para uma economia

dependente da renda de exportações e de um alto nível de importação, e não havia

previsão de um ajuste automático, presente nessa teoria (FURTADO, 2005).

A Crise de 1929 e o germinar da industrialização

A Crise de 1929 constituiu um dos maiores colapsos do capitalismo e suas

consequências foram dramáticas. A crise no Brasil suscitou uma liquidação das reservas

metálicas, principalmente por conta da fuga de capitais externos, que produziu um


imenso déficit na balança de pagamentos. Por outro lado, a política de valorização do

café conseguiu produzir uma expansão contínua da produção, e o problema da

superabundância permaneceria. Havia, assim, uma dupla crise do café, tanto pela oferta

quanto pela demanda: uma redução do valor da saca de café por causa da crise mundial

e uma oferta superabundante. A depreciação cambial compensou parcialmente a queda

da lucratividade do setor cafeeiro, mas não foi suficiente. Somava-se a esse cenário o

problema causado pela indeterminação de como seria possível financiar as colheitas

diante da indisponibilidade de crédito internacional e estatal. O que ocorre, então, são as

queimas de sacas de café e a acumulação dos estoques, medidas que procuravam manter

os lucros dos produtores e estabilizar o valor do produto no mercado externo. Essa

política aconteceu por causa dos interesses dos cafeicultores e do seu poder sobre o

Estado, que se manteve forte apesar da Revolução de 1930 – era necessário defender os

seus lucros e, mesmo diante da crise, as providências governamentais foram tomadas

apenas com o objetivo de proteger suas ambições (FURTADO, 2005).

No entanto, tal situação produziu uma conjuntura inédita na história econômica nacional

que impulsionaria a nossa industrialização. Primeiro, é importante considerar que o

Brasil já apresentava uma indústria, por mais que fosse muito limitada em sua

participação nacional. Em segundo lugar, as políticas de defesa do café nos anos 1930

favoreceram a expansão do setor industrial. Em que medida? A depreciação cambial,

resultante da evaporação das reservas metálicas, impulsionou a produção interna, visto

que os produtos importados ficavam mais caros. Por outro lado, houve a manutenção do

nível do emprego, justamente pela proteção dada aos cafeicultores, que não precisaram

reduzir as suas plantações e os empregos nelas gerados. Uma queda brusca no setor em

questão poderia retrair abruptamente o emprego, provocando uma diminuição geral da

demanda interna, fato que prejudicaria a produção voltada ao mercado interno. Como tal

movimento não ocorreu, tornou-se interessante o investimento em produtos voltados

para esse mercado, substituindo lentamente parte dos manufaturados exportados. Soma-
se a esse contexto uma disponibilidade de máquinas para a importação em virtude da

crise nos países industrializados, que vivenciaram o fechamento massivo de indústrias.

Da mesma forma, o Estado, sob o regime de Getúlio Vargas, estimularia a

industrialização e a integração da economia nacional. Como afirma Furtado (2005, p.

157), “Ao manter-se a procura interna com maior firmeza que a externa, o setor que

produzia para o mercado interno passa a oferecer melhores oportunidades de inversão

que o setor exportador”.

A década de 1930, portanto, marca o começo da industrialização do Brasil, que trará a

queda relativa do peso das exportações primárias e um aumento substancial da indústria.

É o fim da era cafeeira, por mais que até hoje o café seja um item importante na nossa

economia.
Pesquisa econômica e mercado de trabalho

Prezado estudante, para contextualizar sua aprendizagem, imagine a seguinte situação:

você é um economista formado e está à procura de uma posição no mercado de trabalho.

O economista tem uma extensa gama de possibilidades profissionais: pode atuar em

bancos, fundos de investimento, institutos de pesquisa, entre outras ocupações

disponíveis. Nesse contexto, imagine que você esteja concorrendo a uma vaga num

importante centro de pesquisa econômica, muito influente na opinião pública e até

mesmo nas decisões de política fiscal. Para além da análise curricular, o processo

seletivo envolve uma prova oral sobre diversos assuntos, com o propósito de verificar a

solidez dos conhecimentos econômicos do candidato. Procura-se verificar o quanto o

concorrente domina os principais tópicos da economia nacional e sua história, para que

seja possível dimensionar suas respectivas habilidades acadêmicas e intelectuais.

No decorrer do processo seletivo, você chega à etapa da prova oral e é confrontado com

a seguinte pergunta: em que medida podemos compreender o impacto da proteção

estatal sobre o setor cafeeiro na industrialização brasileira durante a década de 1930?

Como você responderia a esse questionamento?


Você, nessa situação, poderia responder que a proteção do setor cafeeiro tinha a

intenção de responder ao problema da superabundância de café e à fuga de capitais da

Crise de 1929. O Estado queimou sacas de café, com o objetivo de preservar a

estabilidade do preço desse produto e impedir prejuízos para os empresários – o que só

foi possível a partir do controle que esse grupo exercia sobre o valor do café. Como

efeito impensado, tal mecanismo desencadeou um estímulo à produção industrial

nacional. Pelo fato de manter o nível de emprego, o episódio em questão incentivou

uma demanda interna num momento de contração internacional, motivando

investimentos na produção de manufaturados. Seria interessante mostrar que, se o

prejuízo dos cafeicultores não tivesse sido compensado por ações estatais (como a

queima dos excedentes), o produtor de café dispensaria seus trabalhadores por conta dos

mesmos danos, diminuindo, por consequência, o consumo nacional. Uma crise de

desemprego teria sucedido à crise no valor do café, aumentando a gravidade dos seus

efeitos. Por mais que o objetivo tenha sido salvaguardar os lucros dos cafeicultores, a

manutenção do nível de emprego foi importante e minimizou os efeitos da crise global

no país. Além disso, você poderia responder que a proteção do café, ao preservar o

emprego, também preservou a demanda interna, gerando um estímulo à substituição de

importações que, em razão do câmbio, estavam mais caras para o consumidor nacional.

Tornou-se interessante aos detentores de capital investir na indústria, voltando sua

produção para o consumo interno – que se manteve estável enquanto consequência

inconsciente da proteção do café. É importante mencionar que, com a Crise de 1929,

muitas indústrias nos países centrais do capitalismo fecharam as portas, de forma que as

máquinas usadas nessas fábricas ficaram disponíveis para a aquisição do produtor

nacional.

Desse modo, você teria respondido corretamente e com boa desenvoltura a pergunta

proposta, garantindo a aprovação no processo seletivo.


Videoaula: A produção primária e o mercado externo
Prezado estudante, no vídeo a seguir, vamos revisitar os principais conteúdos estudados
nesta aula dedicada à economia do café e às suas respectivas consequências. É uma boa
oportunidade de você fixar bem o que aprendeu e de entender melhor os problemas da
economia cafeeira e da grande Crise de 1929, entendendo o impacto que esse período
teve na industrialização nacional. Não perca!

Saiba mais

Estudos sobre a formação econômica brasileira tendem a ser muito abstratos e voltados

a um panorama mais geral. Que tal ver como a economia do café operava numa escala

local? O artigo sugerido para leitura apresenta o funcionamento de uma casa

exportadora de café em Santos no final do século XIX. Esta pode ser uma oportunidade

de você entender concretamente como atuava a economia cafeeira.

SILVA, G. P. da. As brechas ao capital nacional: a liderança da casa J. F. de Lacerda &

Cia. sobre a exportação cafeeira em Santos na década de 1880. Economia e Sociedade,

Campinas, v. 24, n. 3, p. 541-571, dez. 2015.


Referências

FURTADO, C. Formação econômica do Brasil. 32. ed. São Paulo: Companhia

Editora Nacional, 2005.

PRADO JÚNIOR, C. História econômica do Brasil. São Paulo: Círculo do Livro,

1976.

SILVA, G. P. da. As brechas ao capital nacional: a liderança da casa J. F. de Lacerda &

Cia. sobre a exportação cafeeira em Santos na década de 1880. Economia e Sociedade,

Campinas, v. 24, n. 3, p. 541-571, dez. 2015. Disponível

em: https://www.scielo.br/j/ecos/a/X5t8CcqC4R9XTSW8v9rjKtN/?lang=pt. Acesso

em: 15 jul. 2022.

Unidade 3 / Aula 3

As características da indústria na primeira república


Introdução

Prezado estudante! Estamos iniciando mais uma aula! Vamos estudar as principais

características da indústria brasileira na Primeira República (1889-1930), um período

importante na formação econômica do Brasil por ser o princípio de um desenvolvimento


industrial. Nessa época, o setor industrial do país era pequeno e permeado de

importantes fragilidades, era bastante dependente do câmbio e sofria pela falta

generalizada de infraestrutura de transportes hábil para subsidiar todas as regiões do

país. Mas, mesmo com essas fragilidades, tal setor seria a base para o desenvolvimento

da industrialização no Brasil do século XX. Portanto, vamos conhecer as origens e as

dificuldades encontradas nesse início da indústria brasileira.


A indústria na Primeira República

Durante a Primeira República, o Brasil apresentou o princípio de um desenvolvimento

industrial. Estávamos longe de ser um país verdadeiramente industrializado, como

Estados Unidos e Japão na época, mas já tínhamos um setor industrial que se

aprimoraria nos anos posteriores, principalmente a partir da década de 1930. Mesmo no

Império, o Brasil exibiu os primórdios do que seria um setor industrial, por mais que

este fosse bastante diminuto e de pouca relevância na economia nacional. Nas primeiras

décadas da República, surgia uma indústria incipiente, a qual era permeada por algumas

fragilidades relevantes (PRADO JÚNIOR, 1976).

Em primeiro lugar, a indústria nacional dependia excessivamente do câmbio. O câmbio

depreciado provocava um encarecimento dos produtos importados, favorecendo, assim,

o produtor nacional. Entretanto, quando o câmbio recebia uma valorização súbita, o

produtor nacional se via incapaz de concorrer com o produto estrangeiro, geralmente

mais diversificado e barato. Em segundo lugar, a indústria nacional padecia pela falta

generalizada de uma infraestrutura de transportes apta para integrar as diversas regiões

do nosso vasto país. A precariedade do transporte encarecia os custos, além de dificultar

a própria produção. Tínhamos, assim, um setor industrial muito localizado, direcionado

ao seu entorno imediato, sem articulação com o país como um todo. Em terceiro lugar,

havia um problema significativo: o mercado interno. A situação brasileira, mesmo após

a abolição da escravatura, era de um mercado interno muito tíbio e precário. Os salários

eram baixos e, no início do século XX, a nossa população não era muito numerosa. O
Brasil não tinha muitos habitantes e, além disso, a densidade populacional pouco

elevada fazia com que o povo se distribuísse de forma rarefeita por um imenso território

– dificultando o escoamento e o consumo da indústria nacional (PRADO JÚNIOR,

1976).

Outro grave empecilho era o atraso tecnológico. As nossas primeiras indústrias não

contavam com grandes aparelhos tecnológicos, de modo que muitas dessas fábricas

simplesmente “montavam” produtos a partir de peças produzidas em outros lugares. A

própria industrialização requer o desenvolvimento de novas tecnologias no processo de

produção; na ausência delas, o setor industrial se torna dependente e limitado. Muitos

fatores podem ser utilizados para explicar esse déficit, dentre os quais se destacam:

A primazia do setor exportador cafeeiro, que não requer grandes tecnologias no seu

processo produtivo.

 A precariedade da educação nacional e do sistema universitário nos primeiros


anos de República.
 A ausência de um setor manufatureiro forte em Portugal, nossa antiga
metrópole, que tivesse sido capaz de transmitir ao país uma base técnica.

As indústrias brasileiras, por tais razões, eram mais indústrias intensivas em trabalho do

que em capital. A mão de obra barata, fator que favorece o industrial, era prioritária em

comparação ao investimento em capital fixo sobre a forma de maquinaria. Também não

havia no Brasil um mercado de capitais significativo; a pobreza geral do país agravava a

dificuldade de se criar uma poupança capaz de irrigar esse setor. No mesmo sentido, o

Estado, sempre carente de recursos, oferecia melhores e mais seguras oportunidades de

investimento para os parcos capitais acumulados do que o setor industrial nascente. Por

esse motivo, as primeiras indústrias surgiram a partir do capital familiar ou individual.

Lentamente, passou-se a construir uma burguesia nacional para além do setor agrário

(PRADO JÚNIOR, 1976).


Fatores favoráveis à indústria na Primeira República
O desenvolvimento industrial do Brasil se deparou, ainda, com outras dificuldades. Por

mais rico que nosso território seja em recursos naturais, faltou à indústria incipiente o

carvão de pedra necessário para a maquinaria – esse recurso, fundamental para as

indústrias do período, não era abundante no país. Por outro lado, a siderurgia, setor

essencial para a indústria, poderia ter prosperado a partir da imensa abundância de

minério de ferro do Brasil. No entanto, mesmo com essa abundância de materiais, as

jazidas eram de difícil acesso e distantes dos centros mais densamente povoados, o que

criava complicações para a sua exploração. Além disso, grande parte dessas jazidas

estava sob controle de firmas estrangeiras, fato que as tornava indisponíveis para o

aproveitamento dos capitalistas nacionais (PRADO JÚNIOR, 1976).

Mesmo com todos os impasses, alguns fatores favoreceram o surgimento de um setor

industrial a partir da segunda metade do XIX e, sobretudo, nos primeiros anos da

República. A mão de obra, ainda que pouco qualificada, era barata e relativamente

abundante. O câmbio depreciado pelo constante desequilíbrio na balança de pagamentos

também serviu de estímulo ao setor industrial nascente. Por razões semelhantes, as taxas

alfandegárias promoveram o mesmo efeito. O Estado, sempre carente de recursos, tinha

nas taxas sobre importados uma fonte relevante de receitas e acabava as deixando

elevadas, na intenção de beneficiar, em termos de competividade, o produto nacional.

Por fim, tínhamos a fartura de um produto primário importantíssimo para a indústria: o

algodão. A produção têxtil – a mãe da própria Revolução Industrial – depende desse

item básico, e nós produzíamos algodão em profusão (PRADO JÚNIOR, 1976).

Favorecido por tais circunstâncias, mesmo diante das dificuldades que estudamos

anteriormente, o setor industrial começa a crescer a partir dos anos finais do Império e

no início da República. Na última década do século XIX, experimentou-se um câmbio

depreciado e de altas taxas alfandegárias que impulsionou a produção interna. No início

do século XX, a Primeira Guerra Mundial (1914-1918) favoreceu significativamente a

indústria brasileira. A razão para tal fenômeno é simples: o esforço de guerra nos países
industrializados do centro do capitalismo encareceu ou tornou indisponíveis produtos

que importávamos, estimulando a sua substituição pelo produto nacional. O conflito

também provocou uma desvalorização cambial robusta que auxiliou a indústria no

Brasil.

As indústrias brasileiras, nesse período, apresentavam grande dispersão, como

aprendemos. Faltava uma estrutura de transportes eficaz, capaz de integrar o país. Nesse

sentido, o Estado de São Paulo despontou no processo de industrialização, concentrando

a maior parte das indústrias do setor e, por isso, até hoje é o Estado mais rico da

Federação. Isso se deu por algumas razões. Em primeiro lugar, São Paulo progrediu

consideravelmente no ciclo cafeeiro, formando uma burguesia agrária que se

converteria parcialmente em burguesia industrial. Em segundo lugar, o fluxo migratório

europeu trazia trabalhadores mais qualificados, beneficiando a indústria. A maior

densidade populacional também foi um fator relevante, tanto em termos de mercado

consumidor como de trabalho. Por fim, como nota Prado Júnior (1976), São Paulo

possui fontes de energia hidráulica potentes e próximas dos núcleos urbanos produtivos.
Apresentação na Fiesp

Prezado estudante, para contextualizar sua aprendizagem, imagine a seguinte

situação: você, já formado, trabalha para a Federação das Indústrias do Estado de São

Paulo (Fiesp). A Fiesp, hoje, representa cerca de 130 mil indústrias de diversos portes e

setores produtivos (FIESP, [s. d.]). Sua origem data da década de 1920. Inicialmente,

surge como a Associação Comercial de São Paulo, órgão que tinha o propósito de

retratar institucionalmente os interesses dos produtores industriais do Estado (FIESP,

s/p). Posteriormente, durante a Era Vargas (1930-1945), transformou-se em Fiesp.

Dentre os objetivos institucionais da entidade estão a promoção da competividade da

indústria brasileira, o desenvolvimento sustentável, a inovação tecnológica e a

promoção da cultura. A instituição tem um valor muito significativo na economia e


política nacionais, sendo capaz de influenciar substancialmente a orientação

macroeconômica do país.

Imagine-se, então, trabalhando nessa importante instituição. Como parte da

comemoração do aniversário de fundação da Fiesp, você é convidado pelo seu gestor a

apresentar um painel sobre a história da indústria no Brasil. Como você desenvolveria

sua apresentação? Quais informações destacaria, principalmente levando em

consideração que seu discurso será feito na Fiesp?

Você, nessa situação, poderia explicar sobre os primórdios da indústria no final do

século XIX e início do século XX. Seria interessante mostrar como já tínhamos um

setor industrial durante o Império, mesmo que muitíssimo limitado. Em seguida, você

poderia apontar como esse setor se expandiu nos primeiros anos do período republicano,

ainda que fosse inferior quando comparado ao setor agrário-exportador. Nesse contexto,

seria válido elencar as dificuldades enfrentadas pelo grupo de industriais brasileiros

durante a época em questão. Em primeiro lugar, havia uma dependência excessiva em

relação ao câmbio; era necessário que a moeda fosse depreciada para que os industriais

conseguissem competir com os produtos importados. Também existia uma deficiência

técnica que desfavorecia a competividade do produtor nacional em comparação com o

estrangeiro; logo, precisava-se que o câmbio beneficiasse o industrial nacional. Em

segundo lugar, a população brasileira no período em questão era pouco densa e muito

dispersa, o que dificultava a integração do mercado interno. Problemas de transporte e a

ausência de uma boa infraestrutura eram entraves para o escoamento do setor industrial.

Ainda nessa direção, você poderia dar destaque aos impasses causados pela ausência de

um mercado de capitais robusto no país, capaz de financiar a indústria.

Por fim, você poderia mostrar como, mesmo diante dos problemas mencionados, houve

o surgimento de um setor industrial. Existiam, junto a essas dificuldades, alguns

elementos favoráveis, como a disponibilidade de algodão para a indústria têxtil. O baixo

custo da mão de obra na época analisada também era um aspecto positivo, assim como a
depreciação do câmbio durante os primórdios da República. O Estado de São Paulo,

você poderia dizer, foi pioneiro na industrialização nacional. As razões para isso são os

capitais excedentes da produção de café, a densidade populacional e a facilidade na

obtenção de fontes energéticas. Desse modo, com base nos aspectos descritos, você teria

feito uma excelente apresentação.


Videoaula: As características da indústria na primeira república
Prezado estudante, que tal rever os principais temas estudados nesta aula? No
vídeo a seguir, vamos retomar as dificuldades enfrentadas pelo processo de
industrialização no início da República. Além disso, entenderemos como a
indústria se desenvolveu, mesmo diante de diversos empecilhos. Por fim,
estudaremos os pontos fortes e fracos do setor industrial no período em questão.
Esta é uma excelente oportunidade de fixar os conteúdos analisados e de caminhar
com mais segurança na sua trajetória acadêmica. Vamos lá?

Saiba mais

A industrialização brasileira suscita diversos debates entre historiadores e economistas.

Discute-se sobre a importância do protecionismo frente à necessidade de um livre

mercado, entre outros elementos. O artigo recomendado para leitura, além de apresentar

um bom panorama histórico, põe tais questões em perspectiva. Confira:

HEES, F. A industrialização brasileira em perspectiva histórica (1808-1956). Em

Tempo de Histórias, Brasília, n. 18, p. 100-132, jan./jul. 2011.


Referências

FURTADO, C. Formação econômica do Brasil. 32. ed. São Paulo: Companhia

Editora Nacional, 2005.

FIESP. Sobre nós. [s. d.]. Disponível em: https://www.fiesp.com.br/sobre-a-

fiesp/. Acesso em: 8 set. 2022.

HEES, F. A industrialização brasileira em perspectiva histórica (1808-1956). Em

Tempo de Histórias, Brasília, n. 18, p. 100-132, jan./jul. 2011. Disponível

em: https://periodicos.unb.br/index.php/emtempos/article/view/19892. Acesso em: 21

jul. 2022.

PRADO JÚNIOR, C. História econômica do Brasil. São Paulo: Círculo do Livro,

1976.
Referências
FURTADO, C. Formação econômica do Brasil. 32. ed. São Paulo: Companhia

Editora Nacional, 2005.

FIESP. Sobre nós. [s. d.]. Disponível em: https://www.fiesp.com.br/sobre-a-

fiesp/. Acesso em: 8 set. 2022.

HEES, F. A industrialização brasileira em perspectiva histórica (1808-1956). Em

Tempo de Histórias, Brasília, n. 18, p. 100-132, jan./jul. 2011. Disponível

em: https://periodicos.unb.br/index.php/emtempos/article/view/19892. Acesso em: 21

jul. 2022.

PRADO JÚNIOR, C. História econômica do Brasil. São Paulo: Círculo do Livro,

1976.

Unidade 3 / Aula 4

A intervenção no mercado de café e declinio da produção

Introdução
Prezado estudante, seja bem-vindo a mais uma aula! Nesta etapa de aprendizagem,
vamos estudar o colapso do ciclo cafeeiro em sua relação com a Crise de 1929. Esse
episódio, que representou um dos maiores declínios de toda a história do
capitalismo, promoveu profundas mudanças no Brasil e no mundo. No território
brasileiro, deu fim à República Velha (1889-1930), encerrando o controle absoluto
dos oligarcas sobre o Estado – por mais que estes tenham mantido um grau
consideravelmente elevado de influência nos anos que se seguiram. Mesmo que a
crise tenha sido terrível, conseguimos sair dela antes da maioria dos outros países.
Vamos entender, nesta seção de estudos, como essa evasão se tornou possível e qual
impacto a resposta à crise deixou na história do Brasil.

A Crise de 1929 e o café

A Grande Depressão de 1929 foi uma das maiores crises do modo de produção

capitalista e suas motivações são discutidas até hoje. Partidários da tradição liberal

afirmam que a culpa foi da intervenção estatal logo após o crash da Bolsa de Nova

York; partidários da tradição keynesiana, por sua vez, argumentam que a recessão foi

resultado da política de irrestrita desregulação econômica. No Brasil, a crise se revelou

numa súbita evasão de divisas; os capitalistas retiraram seus investimentos nacionais,

gerando um déficit na balança de pagamentos que liquidou as reservas metálicas do


Brasil. O país ainda se encontrava no ciclo cafeeiro, de modo que o café era o carro-

chefe da economia brasileira.

Em termos políticos, a Crise de 1929 conduz ao fim da República Velha e ao domínio

completo do aparelho de Estado pelas elites agrárias. Em 1930, Getúlio Vargas chega ao

poder, iniciando um período de 15 anos no qual ele governaria o país de forma absoluta.

O seu governo, no entanto, não foi indiferente aos interesses dos cafeicultores, e Vargas

preservou a política de valorização do café, que vigorava desde o início do século XX.

A Crise de 1929 eliminou as possibilidades de financiamento da produção cafeeira e fez

com que os credores que financiavam as safras resolvessem liquidar suas dívidas.

Capitais deixaram o país e as dívidas explodiram no colo dos produtores de café. Para

além disso, tínhamos um problema estrutural em circulação. A valorização do café a

partir da compra de estoques excedentes, em curso desde o início do século XX, criava

um ciclo vicioso que irrompeu com a crise. Se o excesso de produção de café, com a

consequente redução do valor da saca causada pela superoferta, não conseguia diminuir

os lucros dos cafeicultores por causa da intervenção estatal, havia um estímulo

econômico artificial ao aumento dessa mesma produção. Sem que a ampliação da oferta

(mantendo-se a mesma demanda) levasse a uma queda do preço, o empresário do café

continuava a expandir as suas safras. Desse modo, no início da década de 1930, com o

câmbio depreciado por conta da liquidação das nossas reservas metálicas na crise,

tínhamos um cenário de ampla oferta de café no mercado mundial, sem elevação da

demanda – mesmo a depreciação cambial não impediu que importantes prejuízos se

anunciassem no horizonte. Para piorar, os preços desabaram no mercado mundial e, nos

anos seguintes, a concorrência com produtores na Ásia e até mesmo na América

inviabilizou uma rápida recuperação do valor da saca (FURTADO, 2005).

A solução foi uma postura governamental radical de valorização do café, fato que

motivou a queima de sacas que não teriam como ser absorvidas pelo mercado. O

Estado, portanto, ainda se ligava aos interesses dos cafeicultores, por mais que, nos anos
seguintes, o café perdesse importância na economia nacional diante da indústria. Apesar

de as políticas de queima de estoques excedentes terem como fim a defesa das ambições

dos grandes empresários do café, tais medidas acabaram causando outro efeito,

insuspeito, sobre a economia nacional: permitiram que o Brasil saísse da crise antes dos

países industrializados, ao articular o que Furtado (2005) classifica como mecanismo de

defesa.
Os mecanismos de defesa diante da crise

O mecanismo de defesa da renda interna colocado em voga em resposta à crise teve um

efeito positivo. Vamos supor que o governo tivesse direcionado aos cafeicultores o

prejuízo diante da impossibilidade de absorção no mercado mundial das sacas de café.

Eles teriam, por consequência, diminuído a sua produção, interrompendo o mecanismo

cíclico que analisamos há pouco. No entanto, esse movimento teria desdobramentos

graves na economia nacional. Os cafeicultores, ao reduzir a sua produção, demitiriam

funcionários e minimizariam o seu papel na renda nacional, fosse por meio da redução

de seu próprio consumo, fosse pelo pagamento daquilo que é necessário para a produção

e o escoamento do café. Considerando que os empresários do café estavam diante de um

cenário de escassez de crédito e de forte cobrança dos seus credores, o impacto teria

sido ainda maior. A redução na produção teria se espalhado pela economia nacional. O

desemprego diminuiria o consumo interno, e a baixa aquisição dos produtos requeridos

para a produção faria com que seus produtores e comerciantes sofressem um decréscimo

na renda e, por consequência, no seu próprio consumo. O prejuízo dos empresários do

café teria escalonado, gerando um abalo sísmico em diversos setores da economia

nacional – que era, nesse sentido, completamente dependente da renda de exportação do

café.

Nos Estados Unidos e na Europa, os efeitos da Crise de 1929 foram precisamente os

seguintes: diversas empresas fecharam as portas, fato que provocou uma explosão de

desemprego que comprometeu o consumo e, por consequência, as possíveis vendas


dessas mesmas corporações. Trata-se de um efeito em cadeia sem precedentes, que

lançou milhões na penúria e fermentou eventos tão dramáticos como a ascensão do

nazismo na Alemanha. No Brasil, a defesa do café impediu o escalonamento do colapso,

mantendo estável o nível de renda e permitindo, assim, uma recuperação econômica

mais rápida. Nos Estados Unidos, o New Deal de Roosevelt, inspirado nas ideias

econômicas do inglês John Maynard Keynes, ajudou o país a sair da crise a partir de

1933, operando de forma relativamente parecida com as concepções propostas pelo

economista britânico. O programa investiu milhões de dólares na economia, na intenção

de gerar emprego, ajudar os desempregados e auxiliar empresas em dificuldades,

procurando, de igual modo, estimular o consumo e a manutenção do nível de renda.

Furtado (2005) explica que a queima das sacas de café teve resultado semelhante ao

manter o nível de emprego e irrigar a economia nacional, fazendo com que o nosso

sistema se recuperasse antes do americano.

Além disso, com a depreciação cambial e a manutenção do emprego, houve um

incentivo para que aqueles que dispunham de capital investissem no setor industrial. Os

importados estavam caros, de maneira que os produtores nacionais tinham uma boa

oportunidade de competir com eles. Nesse sentido, também é importante destacar que a

preservação da renda garantiu a continuidade de uma demanda interna. Os efeitos

mencionados não foram previstos, mas se mostraram extremamente benéficos,

contribuindo para que, nos anos seguintes, a nossa economia se diversificasse e se

expandisse para além da produção cafeeira (FURTADO, 2005).


Concurso público

Prezado estudante, para contextualizar a sua aprendizagem, imagine a seguinte situação:

você, um profissional recém-formado, descobre que o Banco Nacional de

Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) está com inscrições abertas para um

concurso de analista econômico. O Banco foi fundado por Getúlio Vargas durante seu

segundo governo, no ano de 1952, e figura como um importante mecanismo no fomento


econômico do país. Para além da estabilidade garantida pela Constituição ao

funcionalismo público, o BNDES costuma pagar salários bem competitivos, o que torna

essa oportunidade muito atraente para um recém-formado. No entanto, os certames da

instituição são altamente competitivos, levando milhares de candidatos a prestarem o

concurso.

Imagine, então, que você tenha sido aprovado na primeira etapa do concurso, avançado

para a próxima fase do processo e, agora, precise realizar uma prova discursiva sobre a

economia nacional. A questão a ser respondida por você é a seguinte: “Qual foi o papel

do mecanismo de defesa do café na década de 1930 em relação ao desenvolvimento

econômico desse período?”. Nesse caso hipotético, como você responderia à pergunta

proposta?

Você poderia começar o seu texto contextualizando o panorama econômico brasileiro

nos anos anteriores à década de 1930 e à Crise de 1929. Seria interessante mostrar como

a política de valorização do café mobilizava uma situação paradoxal, na qual o

financiamento público da superabundância de café levava a uma expansão da produção

que só aumentava o mesmo excesso de oferta. Com a Crise de 1929, as fontes de

financiamento para esse movimento secaram, numa circunstância em que a oferta

excedia em muito a demanda – além disso, você poderia destacar que o valor da saca de

café sofreu uma queda brusca por causa da crise. A solução foi a queima de sacas do

produto, na intenção de intervir artificialmente no mercado e impedir o colapso dos

cafeicultores. Nesse sentido, seria válido argumentar que as medidas tomadas em defesa

do café e de seus produtores acabaram favorecendo o desenvolvimento nacional. Essas

medidas, tais como o New Deal norte-americano, injetaram capitais na economia,

impossibilitando que o decréscimo dos lucros dos cafeicultores gerasse um efeito em

cadeia por meio do crescimento de desempregados e do colapso de consumo.

Preservou-se, assim, uma renda relativamente estável em termos nacionais,


inviabilizando a explosão do desemprego, que assolou as economias desenvolvidas no

norte global.

Em um cenário de depreciação cambial, essa estratégia de manutenção estimulou os

investimentos no setor industrial e na produção para o mercado interno, constituindo as

bases para uma transição parcial de uma economia de exportação para uma economia

direcionada ao próprio país. É o fim da economia cafeeira em seu papel hegemônico no

cenário nacional e o início de um processo de desenvolvimento que se manteria, entre

idas e vindas, pelas próximas décadas do século XX.

Ao elencar os elementos mencionados nessa análise na elaboração da sua resposta, você

teria garantido uma excelente nota e assegurado a sua aprovação.

Videoaula: A intervenção no mercado de café e declinio da produção

Prezado estudante, no vídeo a seguir, vamos rever os principais temas estudados


nesta aula. Recordaremos a relação existente entre a Crise de 1929 e a economia
cafeicultora, entendendo como a resposta a esse colapso impulsionou o Brasil em
direção a outra estrutura econômica. É uma oportunidade para que você fixe os
conteúdos trabalhados e esclareça possíveis dúvidas. Vamos lá?

Saiba mais

A Revolução de 1930 alterou profundamente o nosso país e economia. Trata-se de uma

revolução polêmica, que não se situa facilmente dentro do espectro da esquerda ou da

direita. O artigo recomendado para leitura apresenta um panorama interessante sobre as

mudanças econômicas e de políticas públicas do Estado brasileiro durante a Era Vargas.

Confira:

LASSANCE, A. Revolução nas políticas públicas: a institucionalização das mudanças

na economia, de 1930 a 1945. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, v. 33, n. 71, p. 511-

538, set./dez. 2020.

Referências

FURTADO, C. Formação econômica do Brasil. 32. ed. São Paulo: Companhia

Editora Nacional, 2005.


LASSANCE, A. Revolução nas políticas públicas: a institucionalização das mudanças

na economia, de 1930 a 1945. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, v. 33, n. 71, p. 511-

538, set./dez. 2020. Disponível

em: https://www.scielo.br/j/eh/a/7x8kDcnT7CpHfYg4NBH8kwc/?

format=pdf&lang=pt. Acesso em: 23 jul. 2022.

PRADO JÚNIOR, C. História econômica do Brasil. São Paulo: Círculo do Livro,

1976.

Unidade 3 / Aula 5

Resumo da unidade

Ascensão e queda da economia cafeeira

A expansão do café no Brasil se deu ao longo do século XIX, de modo que o produto

alcançou, já nesse período, a condição de nosso principal item de exportação.

Permaneceria apresentando esse importante peso até meados do século XX, quando a

produção cafeeira entra em crise, abrindo as portas para o processo de consolidação da

industrialização. Por consequência da hegemonia econômica do café, os produtores

desse gênero se firmaram como uma oligarquia que controlou os rumos do Estado

brasileiro até meados do século XX.

No início do século XX, a produção de café inundava o mercado mundial com uma

oferta maior que a procura, de modo que havia uma pressão para a queda dos preços.

Diante desse cenário, os cafeicultores, em consonância com os governadores dos

Estados e o governo federal, estabeleceram a política de valorização do café por meio

do Convênio de Taubaté, de 1906. Os Estados comprariam as sacas excedentes com

empréstimos estrangeiros, a fim de poupar os cafeicultores dos prejuízos com a

depreciação do café. Tratava-se de uma forma de transferir para a coletividade o ônus

dos produtores do café, num sistema que funcionava de forma semelhante ao papel da
taxa cambial no período em questão. Essa política de valorização, no entanto, teria

como consequência um agravamento da crise de oferta, uma vez que manter a produção

cafeeira lucrativa, mesmo num cenário de desvalorização do valor da saca, estimulava

os produtores a expandirem ainda mais a lavoura. Esse cenário explodiria na década de

1930, provocando uma mudança profunda na economia nacional (FURTADO, 2005).

Durante o apogeu do café, o Brasil apresentou um setor industrial tíbio. As indústrias,

na República Velha (1889-1930), portavam as seguintes características: pouca

integração em nível nacional na ausência de uma infraestrutura de transportes; pouco

uso de tecnologia; mão de obra barata e pouco qualificada; voltava-se para o mercado

interno, próximo da produção, e tinha dificuldades de obter financiamento na falta de

um mercado de capitais. Dependia de um câmbio depreciado para competir com

produtos estrangeiros e se limitava a atender às necessidades do seu entorno imediato.

Valia-se de uma mão de obra barata, por mais que pouco qualificada, do câmbio

desvalorizado durante períodos da República Velha e de taxas alfandegárias elevadas

(PRADO JÚNIOR, 1976).

A Crise de 1929 levou a uma rápida fuga de capitais que produziu a liquidação das

reservas metálicas nacionais e uma depreciação cambial. As safras excessivas, aliadas à

desvalorização do preço do café, fizeram com que o Estado comprasse e queimasse

sacas que não poderiam ser absorvidas pelo mercado. Tal medida teve o efeito colateral

de preservar o índice de emprego, estimulando uma recuperação mais rápida diante da

crise. Além disso, o contexto favoreceu a industrialização pelas seguintes razões: com o

câmbio depreciado, os produtos importados estavam mais caros, o que beneficiava a

indústria local; a manutenção do nível de emprego permitiu que o mercado interno

continuasse consumindo, de modo que houve um incentivo significativo à

industrialização (FURTADO, 2005).


Videoaula: Resumo da unidade
Prezado estudante, no vídeo a seguir, retomaremos os principais conceitos estudados ao

longo desta unidade de aprendizagem. Vamos relembrar como se deu a ascensão e crise

da economia do café, assim como sua passagem para uma economia mais

industrializada. É uma oportunidade de você fixar os conhecimentos adquiridos e

aprofundar seu entendimento sobre a formação econômica do Brasil.

Estudo de caso

Prezado estudante, para contextualizar a sua aprendizagem, imagine a seguinte situação:

você, um profissional já formado, está participando de um processo seletivo para um

importante banco de investimentos. A vaga em questão é para a função de analista

júnior, e a remuneração é particularmente convidativa. De acordo com as diretrizes do

processo seletivo, as atividades a serem desempenhadas requerem capacidade analítica,

conhecimentos de economia e história, além de imaginação e criatividade. Habilidades

como pensamento crítico e criatividade são cada vez mais exigidas pelo mercado de

trabalho, para além da simples memorização de informações pertinentes a diversas

profissões. Cenários de alta competividade transformam tais competências num

verdadeiro diferencial na hora de conseguir uma boa posição profissional.

Durante o processo seletivo, propõe-se uma avaliação aos candidatos, a fim de medir as

suas respectivas competências nesse sentido. O avaliador apresenta o cenário hipotético

de um país imaginário “X” durante o período da Revolução Industrial (século XIX).

Esse país depende da exportação de um gênero primário, que responde pela maior parte

do seu Produto Interno Bruto (PIB), e tem uma população pouca densa. O país

hipotético possui um setor industrial incipiente, que corresponde a uma pequeníssima

parte de sua atividade econômica. Em nível internacional, o avaliador aponta uma crise

global do capitalismo e um cenário de guerra nas principais economias do mundo.

Ainda nesse sentido, ele sugere que há em X um governo recém-eleito, que procura

desenvolver o país em questão, tornando sua economia mais robusta e ampliando as


suas capacidades econômicas. Depois de apresentar esse cenário, o avaliador propõe as

seguintes questões:

1. Com quais problemas o país X se depara por causa de sua dependência quase
integral de um setor agrário-exportador?
2. Quais medidas os gestores poderiam tomar para o desenvolver o país,
aproveitando o cenário de crise internacional?

Como você, diante dessa avaliação, responderia às perguntas apresentadas com

embasamento econômico e histórico?

_______

Reflita

Muitos analistas, como o professor Wilson Cano (2012), alertam que o Brasil vem

passando por um processo de desindustrialização nas últimas décadas. Nesse sentido,

estaríamos voltando a ser um país agroexportador, e essa preocupação se manifesta, por

exemplo, no objetivo da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp) de combater a

desindustrialização. Com base nos conhecimentos que você adquiriu sobre a economia

brasileira, o que você poderia propor diante do cenário de retração da indústria

nacional?
Resumo visual
Referências

CANO, W. A desindustrialização no Brasil. Economia e Sociedade, Campinas, v. 21,

n. esp., p. 831-851, dez. 2012. Disponível

em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/ecos/article/view/8642273/9748.

Acesso em: 29 ago. 2022.

FURTADO, C. Formação econômica do Brasil. 32. ed. São Paulo: Companhia

Editora Nacional, 2005.

PRADO JÚNIOR, C. História econômica do Brasil. São Paulo: Círculo do Livro,

1976.

Unidade 4 / Aula 1

A revolução de 1930

Introdução

Quando direcionamos nosso pensamento a refletir sobre Economia, é bem provável que

haja dúvidas, questionamentos, o que desperta um desejo de entender com mais clareza

o que é Economia e como ela se apresenta no nosso cotidiano. É fato que inúmeras

situações que vivemos no nosso dia a dia nos remetem a ocorrências que estão

fundamentadas em algum eixo da Economia, sem ao menos sabermos ou percebermos

seu significado.

É nesse contexto que desenvolveremos esta aula e, para isso, é fundamental você saber

como os fatos aconteceram ao longo da história do nosso país, bem como os fatos

apresentados a partir da Revolução de 1930 impactaram a economia. De posse desses

conhecimentos, tenho certeza de que você estará apto a entender, e por que não discutir

o tema tanto no ambiente acadêmico quanto no social? Vamos lá!


A Revolução de 1930 e a economia brasileira

Inicialmente é preciso se questionar sobre o que foi a Revolução de 1930 e quais suas

consequências e seus impactos na economia do Brasil. Sabe-se que alguns


sistemas/movimentos políticos, como o Tenentismo, o Fascismo, o Comunismo, o

Clientelismo e o Capitalismo estiveram presentes em vários momentos da história

econômica brasileira, mas como eles influenciaram ou não todo esse contexto?

Pois bem, é possível afirmar que a política econômica e as principais mudanças na

economia brasileira na década 1930 exerceram grande influência quanto ao desempenho

das principais variáveis que fundamentaram as mudanças políticas e institucionais

advindas com a Revolução de 1930.

Considera-se que essa revolução foi um acontecimento histórico e que deu fim ao que

conhecemos como República Velha, culminando também na extinção das articulações

políticas que havia entre as oligarquias regionais do Brasil, as quais sobrepunham os

interesses particulares dos governantes aos interesses do Estado e da Nação como um

todo.

Vale lembrar que a oligarquia é a forma de governo na qual grandes proprietários de

terra utilizavam de sua influência política e econômica para determinar os destinos da

nação.

Nesse cenário, temos como protagonista Getúlio Dorneles Vargas, até então presidente

do estado do Rio Grande do Sul.

Figura 1 | Café - Fonte: Pixabay.


O cenário político da época tinha a economia cafeeira paulista como protagonista, haja

vista que apenas ela movimentava uma grande parcela da economia brasileira. No

entanto, ela sofreu um grande impacto negativo em razão de fatores externos, como a

Grande Depressão Americana, provocada pelo “crash” ocorrido na Bolsa de Nova York.

Nesse sentido, a oligarquia que dominava esse setor da economia brasileira e que

detinha o controle do poder político da época se preocupava em traçar um futuro que

reconduzisse o país à estabilidade econômica, sendo necessário haver uma sucessão

presidencial no país. Lacerda et al. (2018, p. 91) apontam que:

Devido à extraordinária importância que a produção e a exportação de café haviam

assumido na economia brasileira desde 1840, as consequências da crise do café nos anos

1930 foram gravíssimas. No final do século XIX, o Brasil já era o principal produtor de

café, responsável por três quartos das exportações mundiais.

No entanto, havia uma grande desavença política entre governantes dos diversos estados

brasileiros e, a partir daí, as oligarquias de São Paulo e Minas Gerais foram

acompanhadas da organização de uma outra frente, formada por políticos de outros

estados, como Rio Grande do Sul, Pernambuco, Paraíba e Rio de Janeiro, essa frente

ficou conhecida como Aliança Liberal.

O fato é que a Revolução de 1930 foi uma revolta armada organizada pelas oligarquias

de Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Paraíba contra o governo vigente.

Mas como tudo isso impactou na economia do Brasil, até então centrada na cafeicultura,

porém conduzida a um processo de industrialização maior no país?

Pois bem, tudo isso provocou o deslocamento do centro dinâmico da economia para a

indústria e o mercado interno, com o investimento privado e os gastos governamentais

assumindo preeminência na demanda agregada do país. Isso porque o centro dinâmico

da economia em direção à indústria não poderia ser comprometido em razão da crise

econômica internacional, já que se observava de um lado que a economia cafeeira

estava estruturalmente apresentando problemas recorrentes desde o final do século XIX,


exigindo intervenções governamentais. Portanto, a crise internacional apenas aguçou e

escancarou o estrangulamento externo e os gargalos de longo prazo do modelo

exportador, como o endividamento externo e os desequilíbrios recorrentes no balanço de

pagamentos.
Sistemas e movimentos políticos

Agora que você possui fundamentação teórica que embasa seu conhecimento acerca do

que representou a Revolução de 1930 no cenário político brasileiro, você vai conhecer e

ter condições de analisar os Sistemas e Movimentos Políticos, identificando como isso

impacta o cenário econômico de um país.

Como já foi apresentado, a oligarquia dominava toda a estrutura econômica do Brasil no

período Republicano, certo? Isso foi negativo? Há que se refletir! No entanto, vale

destacar que apesar ser um sistema muito representativo na época, a troca de favores, a

corrupção do processo eleitoral e outros métodos coercitivos impediam a ascensão dos

demais grupos políticos que defendiam outros interesses.

Vale destacar que apesar de estarmos vivendo numa democracia, ainda é possível notar

a ação de práticas oligárquicas promovendo ações administrativas de um representante

político, mostrando-se vinculadas ao benefício de uma parcela reduzida da população, e

como consequência, observa-se algumas parcelas da população tendo que experimentar

as mais diversas situações de exclusão.

Partindo do pressuposto de que por trás de toda mudança há fatos e situações que a

provocam, destacamos inicialmente o Tenentismo, que foi considerado um fenômeno

sociopolítico do início da década de 1920, que a partir de um movimento político-

militar sediado em quartéis espalhados por território brasileiro, provocavam rebeliões

promovidas por jovens oficiais de baixa e média patentes do Exército Brasileiro. Tudo

foi provocado pelo descontentamento com a situação política brasileira, onde imperava

as oligarquias rurais que dominavam o país e constituíam o pilar fundamental das

tradições da República Velha.


No entanto, é possível relacionar esse sistema oligárquico ao Fascismo, visto se tratar de

um regime autoritário com concentração total do poder nas mãos do líder do governo.

Esse líder era cultuado e poderia tomar qualquer decisão sem consultar previamente os

representantes da sociedade.

Daí a comparação entre o poder de decisão dos grandes cafeicultores da época que

imperava a oligarquia com a pessoa do líder de governo no caso de o Fascismo ter poder

único de decisão. Você conseguiu compreender a relação e como ambas as situações

impactam a economia do país?

Por outro lado, há que se destacar o Comunismo, considerado um tipo de ordenação

social, política e econômica que presa por abolir as desigualdades, partindo de um

pressuposto comum no qual a desigualdade social gera problemas que se desdobram em

questões como a violência, a miséria e as guerras. A intenção de banir as diferenças

entre os homens acaba fazendo com que muitos enxerguem o comunismo como uma

utopia dificilmente alcançada.

Novamente podemos relacionar o Comunismo com as questões relativas a todo

processo que envolve a Revolução de 1930, na qual interesses e padrões econômicos e

políticos estavam presentes nos líderes e demais detentores de poder e decisão.

No entanto, toda movimentação histórica política e econômica trouxe à tona um novo

modo de pensar e agir, o Socialismo, que promovia uma transformação pautada na luta

de classes e no materialismo histórico, até então considerados meios racionais de

mudança.

Nesse cenário, as desigualdades seriam suprimidas no momento em que as classes

subordinadas tomassem o controle do Estado. Controlando essa instituição, teriam a

missão histórica de promover mudanças favoráveis ao fim das desigualdades sociais e

econômicas.

Não obstante a tudo o que foi apresentado, concluímos esse bloco apresentando uma

breve noção do Clientelismo. Você sabe no que consiste?


O Clientelismo foi um subsistema de relação política no qual uma pessoa recebia de

outra a proteção em troca do apoio político.

Tudo a ver com o cenário apresentado, não acha?

A burguesia industrial brasileira

Observar o desenvolvimento industrial brasileiro, bem como todos os fatores e

consequências presentes no processo foi um trabalho extremamente complexo,

justamente porque o desenvolvimento industrial, bem como o próprio sistema capitalista

possuem certas especificidades, as quais o diferenciam dos demais processos analisados

em países centrais e os distanciam dos modelos teóricos definidos por conta de uma

visão do que seria ideal.

Inicialmente, a inserção do Brasil no contexto da economia capitalista mundial se dá a

partir de um vasto processo de colonização e exploração mercantilista. A partir daí, há a

expansão do setor industrial que ocorreu em condições históricas distintas das

vivenciadas pelos países pioneiros. Observa-se, então, que todas essas ocorrências

remetem a fatores condicionantes que influenciaram e ainda influenciam a dinâmica

econômica do Brasil.

Ao longo dos anos, é possível observar que a economia do país vem tentando interpretar

o processo de desenvolvimento do capital industrial desde a década de 1930, justamente

a partir do surto que o setor observou no período, bem como as modificações ocorridas

na política econômica brasileira. Percebe-se que a indústria no país começou a se

destacar repercutindo positivamente e com maior intensidade.

Diante disso, teve início uma intensa discussão sobre as origens do processo e também

suas ramificações, entendendo-se até os dias atuais. Porém, outro aspecto a ser

analisado e que possibilita a compreensão do desenvolvimento capitalista brasileiro tem

despertado pouco interesse até o momento. E do que estamos falando? Trata-se das
origens da burguesia industrial e do papel que ela desenvolveu diante da transformação

econômica e social nacional e sua relação com as demais classes e o Estado.

As análises iniciais sustentaram a proposição que, tal qual a própria indústria nacional

teria sua origem a partir do capital excedente e dos enlaces derivados do setor cafeeiro,

a burguesia industrial é fruto da burguesia agrária, especificamente da economia girada

em torno do café. Seja por conta da diversidade de investimentos amenizando a crise da

superprodução do café, seja por conta das atividades que sustentam a produção agrícola,

os senhores do café ilustravam o início da burguesia industrial brasileira.

Você conseguiu perceber a dinâmica de todo esse processo? Sendo assim, fica fácil

observar o governo brasileiro como grande impulsionador da economia nacional, dando

origem à industrialização que se instalava no país.

E mais! Foi por conta da atuação do governo que se delineou toda trajetória dos fatos.

Isso porque foi executada uma política anticíclica, ou seja, caracterizada por ações que

visam impedir, conter ou minimizar os efeitos dos ciclos econômicos, contrapondo com

argumentos diziam se houvesse algum crescimento, este seria fruto dos mecanismos de

mercado. A recuperação da economia brasileira, manifestada a partir do ano de 1933,

não tem origem em nenhum fator externo, mas sim na política de fomento seguida

inconscientemente no país e que era subproduto da defesa dos interesses cafeeiros.

Videoaula: A revolução de 1930

Nesta aula aprendemos como ocorreu a Revolução de 1930 e como ela surtiu efeitos na

economia do Brasil. Vimos a relação que existe entre Economia e os Sistemas e

Movimentos Políticos, provocando a mudança de paradigmas no contexto da evolução

histórica da economia e da política nacional. Neste vídeo, proponho te situar no

contexto da Revolução de 1930 afetando a economia, saindo de um sistema oligárquico

em torno da produção e comercialização do café para um sistema onde a

industrialização também teve seu lugar na história política e econômica. Vamos lá?
Saiba mais

Nesta aula você aprendeu que o Brasil é um país onde o sistema político de cada época

exerceu grande influência na economia e na política do país. Mas como isso ocorreu na

prática e quais as condições que provocaram a Revolução de 1930? Entenda melhor

esses fatos lendo o texto indicado a seguir:

PACCOLA, M. A. B. A burguesia industrial brasileira e suas relações com o Estado no

contexto do desenvolvimento econômico periférico do Capitalismo Nacional. In: XI

SEMINÁRIO DE PESQUISA EM CIÊNCIAS HUMANAS – SEPECH. Humanidades,

Estado e desafios didático-científicos. Anais. Londrina, 2016.


Referências

GIAMBIAGI, F. et al. Economia brasileira contemporânea. 3. ed. Rio de Janeiro:

GEN Grupo Editorial Nacional. Publicado pelo selo Editora Atlas, 2021.

GREMAUD, A. P.; VASCONCELLOS, M. A. S.; TONETO, R. Jr. Economia

brasileira contemporânea. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2017.

KUPFER, D.; HASENCLEVER, L. Economia industrial: fundamentos teóricos e

práticas no Brasil. 3. ed. rev. e ampl. São Paulo: Atlas, 2020.

LACERDA, A. C. et al. Economia brasileira. 6. ed. São Paulo: Saraiva Educação,

2018.

Unidade 4 / Aula 2

O deslocamento do centro dinâmico da economia

Introdução

A história da economia brasileira dos anos 1930 e o que significou a Revolução de 1930

nos mostra que ela foi muito significativa em relação à dinâmica da produção, bem

como da igualdade da população que vivia no país daquela época. A partir desse

contexto, é possível levantar algumas questões como: existiu uma consciência relativa à
industrialização por parte do governo Vargas? A Política Econômica da época seguia à

risca o que ditavam as regras ou não?

Podemos garantir que os anos 1930 representaram um ponto de afastamento para o

desenvolvimento econômico do país? Responder essas questões é extremamente

relevante no sentido de aprofundar o entendimento sobre as transformações da

economia brasileira naquela década, bem como para tentar entender o que significou a

industrialização por substituição de importações.


O processo de substituição de importações e o Estado indutor do desenvolvimento

Ao iniciar esta aula, vale a pena fazer uma reflexão acerca do que vem a ser o processo

de substituição de importações, concorda? Como a industrialização impulsionou esse

processo e como impactou a economia até então centrada na produção de café?

Pois bem, ao analisarmos o Processo de Substituição de Importações simplesmente

como um processo, devemos refletir sobre um fenômeno da história que ocorreu no

Brasil do século XX, estando, portanto, sujeito a oscilações (avanços, recuos e crises),

geradas articulações políticas e decisões humanas, governamentais ou de mercado.

Mas o mesmo fenômeno pode ser analisado como modelo, em suas determinações mais

gerais e abstratas, procurando reter o essencial de sua configuração e apreendendo suas

características definidoras básicas para tentar entender sua lógica de desenvolvimento,

sua dinâmica.

Nesse caso, o modelo, sendo construído com alto grau de abstração é capaz de abarcar

várias situações históricas distintas e servir como alicerce para o entendimento do PSI

em qualquer país latino-americano, ou mesmo em outras partes do mundo que tenham

se industrializado pelo Processo de Substituição de Importações (PSI).

Nesse contexto, é sabido que a indústria brasileira teve sua origem a partir das últimas

décadas do século XIX, sendo preservada durante todo o período denominado

República Velha. No entanto, foi especificamente na década de 1930 que o processo

industrial teve significativo crescimento, sendo diversificado e iniciando o chamado

Processo de Substituição de Importações (PSI).


Vale destacar que entende-se por Substituição de Importações o fato de o Brasil iniciar a

produção interna de itens que até então eram importados, mais um fator positivo em

relação à política da República Velha (FURTADO, 1977).

O Processo de Substituição de Importações (PSI), no entanto, significa muito mais do

que um simples processo. Nele repousa a liderança do crescimento econômico do setor

industrial, sendo responsável por toda uma dinâmica econômica, ou seja, responsável

por determinar os níveis de renda e de emprego. Dessa forma, o setor industrial teve

uma ascensão em razão da diversificação do setor exportador promovido pela República

Velha. Assim, a partir da metade da década de 1930 houve a retomada da economia, o

que perpetuou por aproximadamente 50 anos, ou seja, até o final da década de 1970.

Originalmente, duas grandes teses polarizaram o debate sobre o início do Processo de

Substituição de Importações, as quais podemos denominar, com certa licenciosidade,

teoria dos choques adversos e industrialização induzida pelas exportações.

Mas qual a relação existente entre tudo isso até então apresentado com o

Keynesianismo, representando uma teoria econômica consolidada pelo economista

inglês John Maynard Keynes? Vamos entender?

No século XIX, o cenário econômico mundial vivia sob a ótica de duas teorias

econômicas, a Teoria Liberal e a Teoria Marxista. A Teoria Marxista foi orquestrada

pelo filósofo, economista, historiador, sociólogo, teórico, político, jornalista e

revolucionário socialista alemão Karl Marx. Na sua concepção, um Estado forte deveria

controlar os meios de produções e toda a economia de um país. Contradizendo suas

ideias, temos o economista e filósofo Adam Smith, que defendia o funcionamento do

livre mercado, em que o Estado seria responsável por garantir somente o direito à

propriedade privada.

Por outro lado, temos a doutrina Keynesiana, conhecida por ser vista como a revisão da

Teoria Liberal. Mas o que dizia essa teoria? Pois bem, por ela o Estado deveria intervir
na economia sempre que fosse necessário, a fim de evitar a retração econômica e

garantir o pleno emprego.


A expansão da renda interna e a expansão do mercado nacional

Vamos primeiramente situar o período a ser explorado nesta aula. Refiro-me ao período

que sucedeu a Segunda Guerra Mundial. Como países em guerra enfrentaram os

desafios não apenas humanos, mas também da economia?

Durante a Segunda Guerra Mundial, as economias dos países apresentaram grandes

distinções. A economia norte-americana fornecendo incessantemente produtos bélicos,

pôde recuperar rapidamente os níveis de produção presentes no país antes da crise de

1929.

Por outro lado, os países europeus que serviram de palco para as operações de guerra

apresentavam uma situação totalmente oposta, pois além da grande perda humana,

muitas instalações industriais foram destruídas, colocando grande parte da população

numa efetiva situação de privação no pós-guerra. Essa dicotomia entre as economias

americana e europeias acenava para problemas distintos enfrentados pelos seus

governos.

O pós-guerra apresentou um alto índice de crescimento não apenas na economia

américa, mas também na economia mundial, já que o clima propunha uma certa

estabilidade. Por conta desse ambiente de estável e próspero, esse período ficou

conhecido como a Era de Ouro ou Anos Dourados do Capitalismo.

E o Brasil nesse contexto, como se apresentava?

Não apenas o Brasil, mas todos os países do chamado Terceiro Mundo passaram por

grandes transformações, em particular o Brasil, que nos anos 1950 e 1960 teve uma

grande expansão em sua industrialização, refletindo diretamente na nossa economia. Na

época, o PIB (Produto Interno Bruto) de alguns países apontava um contraste entre o

período Pós-Segunda Guerra Mundial e os anteriores. Lacerda et al. (2018, p. 104)

dizem que:
O período compreendido entre o pós-guerra e meados dos anos 1970 é conhecido como

os trinta anos gloriosos da economia capitalista. Nos anos 1950, tiveram início os

milagres econômicos alemão e japonês; nos anos 1960, foi a vez de Espanha e Formosa,

entre outros.

Mas qual o motivo? Teria havido uma volta às antigas condições vigentes no país no

período anterior à guerra, promovendo um crescimento acelerado? É claro que não, já

que o período pós-guerra, nos mais diversos cenários, apresentou condições totalmente

diferentes de antes da Primeira Guerra, destacando a nítida tendência a alguma restrição

por parte das instituições liberais que regiam à economia até 1913.

Nesse sentido, ao serem liberadas as importações no período do pós-guerra, bem como a

regularização da oferta excessiva, foi possível observar um crescimento no coeficiente

de importações, atingindo um percentual aproximado de 15%.

Para os analistas da época, esse crescimento nas importações refletia a visão do que

ocorria nos anos anteriores, pois tratava-se de um fenômeno mais acentuado, pois ao

nivelar novamente os preços aos praticados em 1929, a população pôde voltar a

consumir e os gastos com os produtos importados foram recuperados.

Fato interessante de se analisar é que, apesar de a capacidade de consumir tenha se

igualado à de 1929, a renda nacional havia crescido cerca de 50% em relação ao mesmo

período. Dessa forma, era natural que o desejo de importação apresentado pelos

consumidores e investidores superassem em escala considerável as possibilidades de

pagamento no exterior. Havia, portanto, um desequilíbrio aparente que deveria ser

corrigido.

As soluções encontradas para isso foram desvalorizar consideravelmente a moeda ou

introduzir um controle que freasse as importações. Fato foi que, ao adotar a segunda

solução, gerou uma intensa significação num futuro imediato, pois foi uma resolução

básica quanto a intensificar o processo de industrialização no Brasil.


Embora o setor industrial estivesse mais preocupado com a concorrência imediata dos

fornecedores estrangeiros, foi suposto que a decisão tomada teria refletido

negativamente nos interesses da indústria.

No entanto, o rumo que tomavam as exportações conduziu as autoridades brasileiras

temer que a medida pudesse agravar a alta de preços, pois ao se elevar os preços nas

importações a partir da desvalorização da moeda, aumentaria a preocupação social que

vinha se manifestando de maneira crescente.

As empresas estatais e o contexto entreguerras

O cenário econômico mundial vivia em grande ebulição. Era necessário criar

mecanismos que promovessem o desenvolvimento no país. Mas como isso foi possível?

Qual o papel das empresas estatais nesse contexto? Inicialmente é necessário situar a

economia no cenário global.

Um grande marco na história compreende o período que vai desde o final da Primeira

Guerra Mundial, em 1918, até o início da Segunda Guerra Mundial, em 1939, era o

período conhecido como Período Entreguerras.

Durante esse período tivemos vários acontecimentos. Foi nesse período que os ideais

nazifascistas floresceram na Alemanha, ocasionando uma crise econômica e social. A

inflação atingiu um patamar exorbitante e a moeda foi extremamente desvalorizada,

provocando um índice de pobreza altíssimo, dando margem ao surgimento do Nazismo.

Outro acontecimento de extrema importância no cenário social e econômico mundial foi

a Europa Ocidental ter criado um plano para se reconstruir, conhecido como Plano

Marshall. Esse plano foi aderido pelos Estados Unidos, que concediam empréstimos

para esses países, até então com uma economia arrasada por conta da Primeira Guerra

Mundial.

Nesse mesmo período, a alta produção e o consumo da população americana estava

extremamente acessível, caracterizando o país como muito próspero. No entanto, apesar


das condições do momento, o futuro impôs uma condição muito distinta aos

americanos, que enfrentaram uma grave crise econômica, conhecida como a Crise de

29, o Grande Crash ou a Grande Depressão, provocada pela queda da Bolsa de Nova

York (SAES, 2013).

Avançando um pouco no tempo e analisando a situação do Brasil, é possível observar

um movimento que visava promover e acelerar o processo de industrialização,

superando assim a condição de país subdesenvolvido. Essa estratégia política de

desenvolvimento adotada durante o governo de Juscelino Kubitschek foi chamada de

Desenvolvimentismo. Esse modelo pregava que o crescimento do país dependia

diretamente da quantidade de investimentos e da produtividade marginal do capital.

O Programa de Metas consubstanciou a orientação política a ser dada ao

desenvolvimento brasileiro, baseada na maior intervenção do Estado na economia, no

aumento da participação do

capital privado nacional no processo de industrialização e na incorporação do capital

estrangeiro.

Esse desenvolvimentismo fez com que o Brasil ultrapassasse a condição de

subdesenvolvido, passando a ocupar uma posição de destaque no mundo devido à sua

riqueza natural e sua extensão territorial privilegiada. Com isso, o desenvolvimentismo

foi retomado enquanto modelo econômico.

Entre os anos 1945 e 1964 houve a criação de várias estatais. Mas o que são estatais e

como elas se inserem nesse cenário político e econômico?

Empresas estatais são aquelas das quais o governo detém parte ou todo do Capital

Social. No Brasil, as estatais são classificadas como empresas públicas, pertencendo

100% do capital ao Poder Público ou quando parte do capital é negociado por entes

privados na forma de ações. Essas empresas são, provavelmente, a forma mais direta de

intervenção do Estado na economia, tomando assim o lugar do investidor privado

(RATTNER, 1984).
Elas controlam grande parte dos setores de produção de bens, como aço, petróleo,

geração de energia elétrica, telecomunicações, mineração etc., sendo um indicativo das

limitações de um desenvolvimento industrial pleno, baseado na iniciativa privada

dependente e periférica.

Como exemplo de empresas estatais brasileiras temos: Banco do Brasil, BNDES, Caixa

Econômica Federal, Eletrobras, Petrobras e Tesouro Nacional.

É isso. Acredito que você tenha conseguido acompanhar a evolução da economia no

contexto histórico e como alguns fatos econômicos, sociais e políticos interferem

diretamente na situação da população e do país como um todo.


Videoaula: O deslocamento do centro dinâmico da economia
Nesta aula você viu que o Estado pode provocar mudanças no cenário econômico,
político e social de um país. O período analisado provocou um crescimento do Produto
Interno Bruto (PIB) e na produção industrial. A economia brasileira beneficiou-se do
grande crescimento do comércio mundial e dos fluxos financeiros internacionais para
aumentar sua abertura comercial e financeira em relação ao exterior. Neste vídeo,
pretendo apresentar como as empresas estatais se inserem no contexto e provocam
alterações na economia.

Saiba mais

Nesta aula você aprendeu, dentre outros assuntos, como a economia é

significativamente influenciada por determinados fatores históricos. Como assim?

Entenda melhor lendo o texto indicado a seguir:

RATTNER, H. As empresas estatais brasileiras e o desenvolvimento tecnológico

nacional. Revista de Administração de Empresas. v. 24, n. 2, 1984.


Referências

FURTADO, C. Formação econômica do Brasil. 15. ed. São Paulo: Nacional, 1977.

GIAMBIAGI, F. et al. Economia brasileira contemporânea. 3. ed. Rio de Janeiro:

GEN Grupo Editorial Nacional. Publicado pelo selo Editora Atlas, 2021.

GREMAUD, A. P.; VASCONCELLOS, M. A. S.; TONETO, R. Jr. Economia

brasileira contemporânea. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2017.


KUPFER, D.; HASENCLEVER, L. Economia industrial: fundamentos teóricos e

práticas no Brasil. 3. ed. rev. e ampl. São Paulo: Atlas, 2020.

LACERDA, A. C. et al. Economia brasileira. 6. ed. São Paulo: Saraiva Educação,

2018.

RATTNER, H. As empresas estatais brasileiras e o desenvolvimento tecnológico

nacional. Revista de Administração de Empresas. v. 24, n. 2, 1984. Disponível

em: https://www.scielo.br/j/rae/a/SFc3rNgTKYXtqKdWKQzKbDC/?lang=pt. Acesso

em: 6 set. 2022.

REGO, J. M.; MARQUES, R. M. Formação econômica do Brasil. 2. ed. São Paulo:

Saraiva, 2011.

SAES, F. A. M. História econômica geral. 1. ed. São Paulo: Saraiva, 2013.

Unidade 4 / Aula 3
Principais marcos políticos até 1964

Introdução

Nesta aula será possível você perceber o quão significante são os acontecimentos

políticos para a economia de um país. Você compreenderá o motivo de tantas manobras

políticas e como elas impactaram no contexto econômico e social do Brasil. Você pode

se perguntar: como isso é possível? Quais fatos políticos se destacaram no período da

República Populista e quais os reflexos na vida dos cidadãos brasileiros?

Historicamente falando, a Quarta República se caracterizou pelo retorno do

pluripartidarismo, ou seja, pela existência de diversos partidos políticos com seus

representantes exercendo suas funções no país, algo até então proibido. Tudo isso

ocorreu no final do governo de Getúlio Vargas, citado na aula anterior, que, como

presidente do Brasil na época, estabeleceu reformas objetivando manter-se no poder, já

que estava sofrendo pressões significativas que o induziam à renúncia do cargo.

Mas esse é só o começo do que você verá nesta aula, vamos lá?
A criação da CEPAL e sua influência no contexto da industrialização dos países da
América Latina
Contextualizando o período, destaca-se que a República Populista foi o nome utilizado

para referenciar o período histórico brasileiro que compreende os anos entre 1945 e

1964, conhecido como Quarta República. Sua principal característica foi apresentar uma

democracia que havia sido suprimida entre dois períodos ditatoriais, o Estado Novo e a

Ditadura Militar. Inúmeros fatos políticos puderam ser vivenciados, no entanto, o

principal objetivo era promover uma forte industrialização do nosso país, trazendo com

isso mais independência e crescimento para o Brasil e também para os países da

América Latina.

E como relacionar esses acontecimentos com o processo de industrialização, foco desta

Unidade? Pois bem, a Quarta República provocou um forte processo de industrialização

no Brasil, principalmente no governo de Juscelino Kubitschek. Lacerda et al. (2018, p.

82) apontam que:

A experiência brasileira de planejamento estatal, consubstanciada no Plano de Metas do

governo Juscelino Kubitschek, é considerada um caso bem-sucedido de formulação e

implementação de planejamento. Além dos amplos projetos estatais de infraestrutura, o

Estado conseguiu articular grandes somas de investimentos privados de origem externa

e interna, destinadas a áreas como indústria automobilística, construção naval e

construção aeronáutica, tomando como exemplo apenas os setores em que o

transbordamento dos efeitos interindustriais das cadeias produtivas, a montante e a

jusante, são extremamente importantes.

E mais! Nesse mesmo período, nosso país apresentava um crescimento populacional

urbano, resultado de fatos que fizeram com que a população rural migrasse para grandes

centros urbanos.

Nesse contexto, iniciou-se a atividade de planejamento no país. Entre 1951 e 1953,

ainda no governo Vargas, foi constituída a Comissão Mista Brasil-Estados Unidos

(CMBEU), com o objetivo de elaborar projetos que seriam financiados pelo Banco de

Exportação e Importação dos Estados Unidos (Eximbank) e pelo Banco Internacional de


Reconstrução e Desenvolvimento (Bird). Posteriormente, em 1953, foi constituído o

Grupo Misto do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Comissão

Econômica para a América Latina (BNDE - CEPAL), que, sem sombra de dúvidas,

constituiu a base do Plano de Metas (LACERDA et al., 2018).

A CEPAL é um órgão regional da Organização das Nações Unidas, criado em 1948

com o objetivo de estudar e propor políticas de desenvolvimento aos países latino-

americanos. Está sediada em Santiago do Chile e tem sido um dos principais centros de

reflexão sobre a economia da região. Seu grande impulsionador foi o argentino Raúl

Prebisch, que produziu obras que marcaram profundamente o pensamento crítico sobre

a industrialização na América Latina. Prebisch (1986) analisou o relacionamento

econômico perverso entre os países exportadores de produtos primários e os países

desenvolvidos. Esse relacionamento era caracterizado historicamente pela deterioração

das relações de troca.

Mas o que isso significa? A deterioração dos termos de intercâmbio significa que se os

volumes exportados se mantiverem estáveis, a capacidade de compra de bens e serviços

do exterior, ou seja, a capacidade de importar, diminui com o decorrer do tempo.

Prebisch (1986, p. 195) entende que a hipótese da tendência secular à deterioração dos

termos de intercâmbio inspira atenção, já que:

Dada a especialização dos países em desenvolvimento na produção de matérias-primas

e alimentos, a tendência à deterioração dos preços desses produtos resultaria na

tendência à deterioração dos termos de intercâmbio desses países.

Ao estudar esses fatos, é possível observar a relação que existe entre fatos ocorridos no

Brasil que impactaram o seu desenvolvimento econômico e o cenário político,

econômico e social da América Latina.


Irradiação do setor exportador e início da industrialização brasileira

Todo processo de desenvolvimento e crescimento pelo qual o Brasil passava provocou

mudanças e trouxe à tona a força que exerce a industrialização no cenário econômico e

social de um país.
Historicamente, é possível observar que a industrialização e o processo de urbanização

são reflexos do período anterior ao vivido, onde a cafeicultura era dominante no Brasil.

Segundo Giambiagi et al. (2021, p. 373):

A urbanização e a industrialização do país tiveram parte de sua origem na irradiação do

setor cafeeiro, especialmente depois da transição para o trabalho assalariado, que é um

processo produtivo com um efeito multiplicador maior que a economia escrava. Esses

outros setores, porém, possuíam menor nível de produtividade e eram incapazes de

conferir dinamismo à economia brasileira, pelo menos até as primeiras décadas do

século XX.

Antes de 1930, as indústrias existentes tiveram como preposto a economia cafeeira, ou

seja, de acordo com as necessidades de atender um mercado consumidor incipiente,

originado com o processo de imigração e a renda dos trabalhadores ligados ao setor

agrário-exportador. Na historiografia brasileira, duas correntes procuraram explicar a

origem da indústria nesse período: a Teoria dos choques adversos e a Industrialização

induzida por exportações.

Vale destacar ainda que comparado a outros países agroexportadores da América

Latina, o desempenho do setor industrial do Brasil apresentou momentos em que a taxa

de crescimento muitas vezes foi superior à do setor agrícola exportador.

Desenvolvimento, industrialização e estratégia nacional desenvolvimentista, qual sua

relação? O Desenvolvimentismo é uma ideologia de transformação da nossa sociedade,

onde a industrialização integral é a via de superação da pobreza e do

subdesenvolvimento brasileiro, onde não há meios de alcançar uma industrialização

eficiente e racional através da espontaneidade das forças de mercado e por isso é

necessário que o Estado atue nesse cenário.

Fonseca (2014, p. 31) levanta um questionamento sobre o que é Desenvolvimentismo.

Segundo ele:
A resposta remete à conceituação de um termo de largo uso entre os economistas e já

incorporado pela mídia, mas que carece de definição mais precisa. Como outros termos

teóricos ou categorias utilizados pelos economistas (como “desenvolvimento”, “bem-

estar”, “equilíbrio” e “valor”), o sentido pode alterar-se total ou parcialmente de acordo

com a abordagem teórica em que está inserido ou mesmo com os objetivos do usuário.

Por fim, retomo as duas teorias tradicionais já citadas e que explicam a origem da

industrialização no Brasil, a Teoria dos choques adversos e a Teoria da industrialização

induzida por exportações.

A primeira pode ser bem descrita ao ver o que dizem alguns autores, como Raúl

Prebisch, entre outros. Segundo Prebisch (1986), a industrialização dos países latino-

americanos está vinculada às crises sofridas pelo setor da agroexportação, criando

condições para que a economia se voltasse para o mercado interno sob domínio do setor

industrial.

O Balanço de Pagamentos estava em crise, reduzindo o preço dos bens primários

exportados, tendo como consequência a desvalorização cambial. Dessa forma, os

importados ficaram mais caros, o que provocou uma reorganização da demanda para a

produção doméstica. Nesse cenário, surgem as indústrias como resposta às dificuldades

enfrentadas pelo setor comercial. Como exemplos disso, observamos o período da

Primeira Guerra Mundial e o período de depressão dos anos 1930.

Em se tratando da Teoria da industrialização induzida por exportações, propõe a

expansão das exportações de café como fator de origem à industrialização, já que está

associada à necessidade de diversificação da riqueza, principalmente do comércio

importador e exportador, setores mais lucrativos.


A CEPAL, o BNDE e a relação com o Plano de Metas do governo JK

Ao iniciar este bloco, é necessário contextualizar o período histórico e como um

planejamento bem elaborado pode obter êxito. Lacerda et al. (2018, p. 84) apontam que:
O Plano de Metas proposto por JK para o período 1956-1960 continha um conjunto de

31 metas, incluída a meta-síntese: a construção de Brasília. Tratava-se de um ambicioso

conjunto de objetivos setoriais.

[...] Os setores de energia, transporte, siderurgia e refino de petróleo receberiam a maior

parte dos investimentos do governo. Subsídios e estímulos seriam concedidos para

expansão e diversificação do setor secundário, produtor de equipamentos e insumos

com alta intensidade de capital.

A partir dessas colocações, é possível observar a aplicação de um planejamento na

busca de uma economia estável.

Mas efetivamente, o que foi o Plano de Metas? Qual sua relação com o crescimento, o

desenvolvimento e a organização dos trabalhos nos grandes centros urbanos?

O Plano de Metas foi um programa implementado durante o governo do então

presidente Juscelino Kubitschek (1956-1960) e tinha como principal objetivo melhorar a

infraestrutura do Brasil estimulando o desenvolvimento da indústria no país, atuando

especificamente em cinco setores da economia do país. Esse planejamento contemplava

30 objetivos, envolvendo diretamente os setores de alimentação, indústria, transporte,

energia e educação.

Tendo como lema a afirmativa “Cinquenta anos em cinco”, JK assumiu seu mandato em

janeiro de 1956 e já pondo em prática o Plano de Metas.

Como exemplo da efetiva aplicação do plano, ele propôs diversos incentivos fiscais que

favoreceram grandemente a instalação da indústria automobilística no Brasil. Nesse

cenário, é possível identificar a instalação das fábricas da General Motors, Mercedes

Benz, Volkswagen e Willys-Overland, destacando o início da produção dos automóveis

da Volkswagen inteiramente no país já em 1957.

Outro exemplo de aplicação se deu no setor energético, com a expansão das usinas

hidrelétricas, que inclui a construção das Usinas de Paulo Afonso em 1955 e o início das

obras de Furnas e Três Marias em Minas Gerais. Foi criada então a Fundação do
Conselho Nacional de Energia Nuclear, proporcionando, assim, o desenvolvimento

desse tipo de energia no Brasil, destacando que a tecnologia seria utilizada apenas para

fins pacíficos.
Figura 1 | Juscelino Kubitschek - Fonte: Wikimedia Commons.

Lacerda et al. (2018, p. 87) explicam: “O Brasil, pelo tamanho de seu mercado interno,

ampliado pelo próprio sucesso do processo de substituição de importações, tornou-se

um espaço privilegiado para a atuação das empresas multinacionais (EMN)”. As

empresas multinacionais passaram a dominar amplamente a produção industrial

brasileira, especialmente os setores mais dinâmicos da indústria de transformação.

O sucesso do plano foi possível graças à criação de órgãos de administração ligados

diretamente à Presidência da República, como: GEICON (Grupo Executivo de

Construção Naval), GEIA (Grupo Executivo da Indústria Automobilística) e GEIMAPE

(Grupo Executivo da Indústria da Maquinaria Pesada).

No entanto, nem todos os setores foram tratados da mesma maneira. No caso da

educação e da alimentação, os investimentos destinados ao Plano de Metas foram

reduzidos. Porém, o setor de transporte abocanhou 29,6%.

Por fim, vale algumas reflexões a respeito da efetiva aplicação do Plano de Metas

proposto. É possível afirmar que a implementação do Plano de Metas foi bem-sucedida?

O investimento de capital estrangeiro no Brasil a partir do Plano de Metas foi

importante? E as estatais, como ficam nesse contexto?

Videoaula: Principais marcos políticos até 1964

Nesta aula, foi possível identificar alguns fatos que ocorreram no Brasil e que foram

considerados marcos políticos no período que vai até o ano de 1964. Muitos desses fatos

foram significativos para o desenvolvimento do nosso país. Neste vídeo, você vai

observar com mais detalhes alguns desses fatos. Vamos lá?

Saiba mais
Nesta aula você aprendeu, dentre outros assuntos, como um bom planejamento pode

elevar o nível econômico de um país. Como assim? Entenda melhor lendo o texto

indicado a seguir:

AGÊNCIA SENADO. Crescimento econômico na era JK atingiu 7,8% ao ano, diz

Valmir Amaral. Senado Notícias. Brasília: Senado Federal, 2002.


Referências

FONSECA, P. C. D. Desenvolvimentismo: a construção do conceito. In: PRESENTE E

FUTURO DO DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO. Brasília: IPEA, 2014. p. 29-78.

FURTADO, C. Formação econômica do Brasil. 15. ed. São Paulo: Nacional, 1977.

GIAMBIAGI, F. et al. Economia brasileira contemporânea. 3. ed. Rio de Janeiro:

GEN Grupo Editorial Nacional. Publicado pelo selo Editora Atlas, 2021.

GREMAUD, A. P.; VASCONCELLOS, M. A. S.; TONETO, R. Jr. Economia

brasileira contemporânea. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2017.

KUPFER, D.; HASENCLEVER, L. Economia industrial: fundamentos teóricos e

práticas no Brasil. 3. ed. rev. e ampl. São Paulo: Atlas, 2020.

LACERDA, A. C. et al. Economia brasileira. 6. ed. São Paulo: Saraiva Educação,

2018.

PREBISCH, R. Notas sobre el intercambio desde el punto de vista periférico. Revista

de la CEPAL, Latin America, ed. 28, p. 195-206, 1986. Disponível

em: https://biblioguias.cepal.org/prebisch_pt/sigloXXI/termos-intercambio#:~:text=A

%20deteriora%C3%A7%C3%A3o%20dos%20termos%20de,com%20o%20decorrer

%20do%20tempo. Acesso em: 19 jul. 2022.

REGO, J. M.; MARQUES, R. M. Formação econômica do Brasil. 2. ed. São Paulo:

Saraiva, 2011.

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Referências
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GREMAUD, A. P.; VASCONCELLOS, M. A. S.; TONETO, R. Jr. Economia

brasileira contemporânea. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2017.

KUPFER, D.; HASENCLEVER, L. Economia industrial: fundamentos teóricos e

práticas no Brasil. 3. ed. rev. e ampl. São Paulo: Atlas, 2020.

LACERDA, A. C. et al. Economia brasileira. 6. ed. São Paulo: Saraiva Educação,

2018.

RATTNER, H. As empresas estatais brasileiras e o desenvolvimento tecnológico

nacional. Revista de Administração de Empresas. v. 24, n. 2, 1984. Disponível

em: https://www.scielo.br/j/rae/a/SFc3rNgTKYXtqKdWKQzKbDC/?lang=pt. Acesso

em: 6 set. 2022.

REGO, J. M.; MARQUES, R. M. Formação econômica do Brasil. 2. ed. São Paulo:

Saraiva, 2011.

SAES, F. A. M. História econômica geral. 1. ed. São Paulo: Saraiva, 2013.

Unidade 4 / Aula 4
A ação do governo e o Estado populista

Introdução

Nesta aula você vai entender como alguns movimentos políticos e sociais que ocorreram

no Brasil no período estudado na aula anterior foram significativos e buscavam

promover uma igualdade social, econômica e financeira entre a população. Nesse

contexto, encontramos as chamadas Reformas de Base que, num sentido bem amplo,

consistiam em disponibilizar medidas com o objetivo de reestruturar as instituições

econômicas, jurídicas e políticas do país, amenizando assim as desigualdades sociais do

Brasil.
No entanto, outros fatores tão significantes quanto essas reformas fizeram parte da

história do Brasil, promovendo, com isso, inúmeras mudanças no cenário social,

econômico e político brasileiro. Nesse cenário, observa-se a questão do patrimonialismo

como sendo um modo específico de dominação, de poder que atinge as esferas

econômica e sociopolítica.

Enfim, esse é só o início do que você aprenderá nesta aula, vamos lá?
Reformas de Base e seus impactos políticos, sociais e econômicos

Para contextualizar este bloco, inicialmente você verá no que consiste a expressão

Reformas de Base, tão discutida e, por vezes, criticada. Essas reformas propunham

mudanças até então consideradas necessárias para que houvesse uma renovação em

relação às instituições socioeconômicas e político-jurídicas brasileiras da época.

Visavam extrair os obstáculos que impediam o processo de desenvolvimento brasileiro.

Tais propostas se tornaram a base, a sustentação do programa de governo do então

presidente João Goulart (1961-1964), caracterizando a fase presidencialista daquela

gestão. Algumas reformas eram priorizadas, dentre elas destacam-se a educacional, a

tributária, a constitucional, a agrária, a eleitoral, a administrativa e a bancária.

Lacerda et al. (2018, p. 92) entendem que:

No início da década de 1960, a economia ainda mantinha sua trajetória de crescimento,

mas, já em 1962, os dados sobre o nível de investimentos e sobre o ritmo de

crescimento industrial apontavam para a recessão de 1963. A sociedade brasileira

atravessou, a partir da posse e da precoce renúncia do presidente Jânio Quadros, um

período de grande instabilidade, que resultou na interrupção do processo político

democrático e na instauração da ditadura militar, em 1964.

[...] A partir de 1964, com o regime militar, as políticas de estabilização e de

transformações institucionais da economia brasileira teriam êxito com o Programa de

Ação Econômica do Governo (Paeg).

A expressão Reforma de Base foi usada formalmente pela primeira vez no governo

Kubitschek, mais precisamente em março de 1958, quando o Partido Trabalhista


Brasileiro apresentou um documento que sugeria reformas (agrária, urbana e

constitucional) a serem implementas pelo governo, destacando também o fato do capital

estrangeiro investido no Brasil, que demandava uma nova regulamentação, a Lei de

Remessa de Lucros.

Gremaud (2017) aponta que foi nesse cenário que o populismo se manifestou com mais

intensidade. No Brasil, a expressão é utilizada como forma de explicar as características

dos governantes brasileiros do período (1930 e 1964).

A definição populismo fez com que o período ficasse conhecido como “República

Populista”. Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek, João Goulart e Jânio Quadros foram

exemplos práticos de políticos populistas brasileiros. Segundo Gremaud (2017, p. 410):

Aspectos políticos mais estruturais podem ser agregados à explicação. Se observarem os

compromissos básicos assumidos pelos governos populistas depois da revolução de

1930, percebe-se que estes se deterioraram com o tempo e estão em xeque no início da

década de 60.

[...] Nesse sentido, boa parte da elite brasileira passa a ter dúvidas sobre a real

capacidade dos governantes em manter esses compromissos; desse modo configura-se a

chamada crise do populismo, que está na raiz da própria instabilidade política do país,

da crise econômica, além de explicar também o golpe militar de março de 1964.

O período Getulista foi marcado por intensas greves de trabalhadores e pela crescente

luta sindical. Nos anos 1940, o movimento ganha forças mesmo em meio a restritivas

leis impostas por Vargas, vigentes mesmo após o fim do Estado Novo. Durante os anos

1960, a luta sindical atinge seu ápice, com imensas manifestações grevistas e a

realização do III Congresso Sindical Nacional, quando foi criado o Comando Geral dos

Trabalhadores. No campo, as lutas também se intensificaram com a criação das ligas

camponesas, onde aos poucos cresciam os sindicatos rurais.

No entanto, o crescimento do movimento sindical é interrompido com o golpe militar

em 1964, quando o movimento dos trabalhadores volta a ser perseguido e a existir sob
total controle do Estado. Após isso, o sindicalismo volta a ganhar forças somente no

final dos anos 1970, quando retomam as greves em diversas fábricas no estado de São

Paulo.

Interessante toda essa contextualização, não acha?


O protecionismo e sua relação com um Estado Patrimonialista

Ao iniciar mais este bloco, é necessário entender certos conceitos, os quais servirão de

base para o entendimento do que se pretende estudar nesta aula. Inicialmente você deve

saber o que é um Sistema Político.

Pois bem! O Sistema Político consiste num conjunto de instituições políticas destinadas

a constituir o poder, organizar administrativamente o país propondo ações quanto à

tomada de decisão.

Um sistema protecionista advém principalmente de uma política paternalista e

interventora, já que o protecionismo visa resguardar a indústria, produtores ou

vendedores internos dos concorrentes externos, onde o Estado visa privilegiar o

mercado interno em detrimento ao mercado externo.

Fonseca, Rallo e Roque (2017) afirmam que é possível relacionar protecionismo com

nacionalismo quando o assunto é economia. Por exemplo, ao impor barreiras que

limitam o acesso de empresas estrangeiras no país, o Estado protege, indiretamente, as

empresas nacionais do efeito negativo que o processo gera no mercado manufatureiro

nacional.
Figura 1 | Moeda - Fonte: Freepik.

No entanto, mesmo que o objetivo do governo seja proteger o mercado local, acaba

reduzindo a concorrência e protegendo as indústrias e demais produtores, já que

possuirão “carta branca” para disponibilizar no mercado produtos e serviços muitas

vezes de qualidade inferior aos importados, apenas porque o Estado legitima a criação

de monopólio local.

Se num cenário onde a concorrência faz com que as empresas produzam mercadorias

com qualidade para serem aceitas e obter êxito nos negócios, com o protecionismo isso
não é necessário, pois o governo dá a proteção e a garantia de que empresas

internacionais não comprometerão seus negócios.

Você consegue identificar a relação entre o protecionismo e o Estado Patrimonialista?

Observe a seguir!

Quando o Brasil conquistou a independência capitaneada por Dom Pedro I, o Estado

brasileiro herdou estruturas de um Estado Patrimonialista português. Nesse contexto, o

patrimonialismo carrega a ideia de um Estado condutor e formador de um determinado

tipo de sociedade, uma sociedade ideal, moderna e desejável. Sendo assim, nossa

sociedade é produto de uma elite que toma conta da estrutura de um Estado

Patrimonialista.

Poderíamos afirmar que o protecionismo, como apresentado, pode ser visto uma forma

de exercer o patrimonialismo?

Faoro (1996) procura explicar as raízes históricas do patrimonialismo no Brasil,

sobretudo herdadas de Portugal. Ele interpreta a formação do Estado brasileiro de modo

original, retomando, de diversos pontos de vista, sua construção a partir da colonização

portuguesa e suas principais características. Dessa maneira, entende que:

Ao redor do Estado português, esse aparelhamento político elitizado comanda e governa

junto ao rei em nome próprio. Dessa estrutura jurídico-institucional configura-se o

conceito de patrimonialismo.

[...] sistema entendido como uma ordem burocrática, com o soberano sobreposto ao

cidadão, na qualidade de chefe para funcionário. (FAORO, 1996, p. 18)

Em relação ao desenvolvimentismo, observa-se que pela composição do Estado, dos

elementos ideológicos nacionalistas aos institucionais, se prediz a definição de pontos

estratégicos para a intervenção econômica, justamente onde se percebe a incapacidade

setorial da iniciativa privada em promover o crescimento econômico, relegando o bem-

estar social ao colocá-lo como objetivo secundário e estruturando o território de acordo

com os ímpetos patrimonialistas que permeiam o estamento burocrático.


O Estado populista e suas facetas

Iniciamos este bloco caracterizando “Estado”. Ao defini-lo, percebe-se um conceito

muito mais amplo, sendo necessário relacionar a outros termos, como país, nação e

pátria.

Dallari (2011, p. 59) procura definir Estado como sendo uma “ordem jurídica soberana

que tem por fim o bem comum de um povo situado num determinado território”.

Na verdade, existe uma diferença fundamental, que qualifica a finalidade do Estado:

este busca o bem comum de um certo povo, situado em determinado território. Assim,

pois, o desenvolvimento integral da personalidade dos integrantes desse povo é que

deve ser o seu objetivo, o que determina uma concepção particular de bem comum para

cada Estado, em função das peculiaridades de cada povo. (DALLARI, 2011, p. 112)

Partindo desse pressuposto, percebe-se, portanto, que o Estado deve manter um governo

próprio instituindo uma Pessoa Jurídica de direito público internacionalmente

reconhecida.

Em se tratando de formas de se governar, um dos períodos da história do Brasil

conhecido como República Populista ou Quarta República foi marcado por uma

maneira bem própria de governar, denominada populismo. Os principais governantes

desse período foram Getúlio Vargas, Juscelino Kubistchek e João Goulart. Mas qual

motivo fez serem tão populares?

A resposta está no cerne da palavra, eles caíam na simpatia da população das classes

sociais mais baixas, mostrando-se cada vez mais como um governo que exerce políticas

assistencialistas e paternalistas. Na verdade, o populismo apresenta características muito

particulares, dentre elas a possibilidade de haver uma relação direta do governante com

a população.

Outras características, como o forte nacionalismo econômico, a liderança no

clientelismo e um frágil sistema partidário, podem ser observadas num governo

populista. Porém, há contradições ao analisar criteriosamente o populismo em relação


ao carisma populista que trazia a população junto a seus governantes. Isso porque, ao

definir mecanismo de controle, impossibilitava o surgimento de políticos com ideais

diferentes. Sendo assim, pode-se afirmar que a desarticulação das oposições políticas e a

troca de favores pelo apoio incondicional ao governante marcaram o governo populista.

Câmara (2021) aponta que atualmente incorpora-se o adjetivo autoritário como forma

de qualificar um governo populista, já que apresenta um viés de implosão democrática e

liberal.

Quando o conceito é usado como sinônimo de autoritarismo a situação fica ainda mais

nublada, pois apaga as demandas legítimas de maior participação popular e equipara

situações em tudo distintas. Assim, aprofundar a democracia passa por reconhecer o que

o populismo explicita: que há disputas sobre o papel de povo na política, de maneira que

muitos não se consideram participantes efetivos dos jogos políticos. (CÂMARA, 2021,

[s. p.])

Partindo do contexto em que o Estado governa e que um governo populista prevê

mecanismos que viabilizam um padrão de vida digno à população, como é possível

entender a questão inflacionária em relação às políticas públicas?

Uma forma de explicar essa relação está no conceito de espiral inflacionária. Mas no

que consiste efetivamente esse conceito?

Pois bem! É sabido que as decisões de política econômica do Estado afetam sempre a

população, positiva ou negativamente. É a partir dessa afirmação que definimos espiral

inflacionária, como um fenômeno econômico que provoca uma série de aumento nos

preços dos fatores produtivos, afetando os índices de preços e os salários, gerando uma

espiral da qual é muito difícil sair.

E você, acredita que o mundo está passando por uma onda populista? O que é um

político populista para você? Qual a relação entre todos esses cenários apresentados?

Vale a pena refletir!


Videoaula: A ação do governo e o Estado populista
Nesta aula foi possível entender como o carisma, sendo um dom extraordinário que
fascina um grupo de pessoas, pode impactar no governo de um país. Isso é facilmente
identificado ao apresentarmos os conceitos de Estado populista, concorda? E não apenas
esses conceitos, mas os demais apresentados formam um conjunto deles, que você deve
observar ao estudar a histórica econômica de um país. Neste vídeo, você poderá
percebê-los claramente.

Saiba mais

Ao estudar esta aula, muitos fatos relevantes foram apresentados, mas sugiro que você

leia a matéria a seguir para entender melhor sobre o assunto.

DEPARTAMENTO INTERSINDICAL DE ASSESSORIA PARLAMENTAR. O que é

e como é constituído o sistema político brasileiro? DIAP, 2016.

Saiba mais

Ao estudar esta aula, muitos fatos relevantes foram apresentados, mas sugiro que você

leia a matéria a seguir para entender melhor sobre o assunto.

DEPARTAMENTO INTERSINDICAL DE ASSESSORIA PARLAMENTAR. O que é

e como é constituído o sistema político brasileiro? DIAP, 2016.


Referências

BRESSER PEREIRA, L. C. Uma interpretação da América Latina: a crise do

Estado. Novos Estudos, n. 37, p. 37-57, nov. 1993.

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2011.

FAORO, R. Os donos do poder: formação do patronato político brasileiro. 10. ed. São

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FONSECA, P. C. D. Desenvolvimentismo: a construção do conceito. In: PRESENTE E

FUTURO DO DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO. Brasília: IPEA, 2014. p. 29-78.


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antiéticas só prosperam em mercados protegidos e regulados. Mises Brasil, 2017.

Disponível em: https://mises.org.br/Article.aspx?id=2652. Acesso em: 25 jul. 2022.

FURTADO, C. Formação econômica do Brasil. 15. ed. São Paulo: Nacional, 1977.

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GEN Grupo Editorial Nacional. Publicado pelo selo Editora Atlas, 2021.

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de la CEPAL, Latin America, ed. 28, p. 195-206, 1986. Disponível

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%20deteriora%C3%A7%C3%A3o%20dos%20termos%20de,com%20o%20decorrer

%20do%20tempo. Acesso em: 19 jul. 2022.

REGO, J. M.; MARQUES, R. M. Formação econômica do Brasil. 2. ed. São Paulo:

Saraiva, 2011.

SAES, F. A. M. História econômica geral. 1. ed. São Paulo: Saraiva, 2013

Unidade 4 / Aula 5
Resumo da unidade

Ações governamentais e seus reflexos na economia de um país

Prezado estudante! Nesta unidade, você aprendeu que para entender o funcionamento da

economia num contexto geral, é necessário rever alguns fatos históricos que ocorreram

no país e que impactaram diretamente ações que foram adotadas para, por exemplo,
conter o processo de importação, ou mesmo a criação de um plano que impulsionasse a

industrialização como forma de movimentar a economia nacional.

Você deve lembrar que comentamos sobre vários conceitos da história política do

Brasil, correto? Discussões sobre o Fascismo, o Comunismo e o Capitalismo estiveram

presentes em vários momentos da história brasileira e influenciaram decisões ao longo

do tempo.

Nesse sentido, é possível entender que a política econômica e as principais mudanças na

economia brasileira na década de 1930 exerceram grande influência quanto ao

desempenho das principais variáveis que fundamentaram as mudanças políticas e

institucionais advindas com a Revolução de 1930, fato estudado no início desta unidade.

Para entender a contextualização desse cenário, basta perceber a influência que a

economia cafeeira paulista exerceu no contexto político. Devido à extraordinária

importância que a produção e a exportação de café haviam assumido na economia

brasileira desde 1840, as consequências da crise do café nos anos 1930 foram

gravíssimas. No final do século XIX, o Brasil já era o principal produtor de café,

responsável por três quartos das exportações mundiais. (LACERDA et al., 2018).

A Revolução de 1930 foi uma revolta armada organizada pelas oligarquias de Minas

Gerais, Rio Grande do Sul e Paraíba contra o governo daquela época. A história da

economia brasileira dos anos 1930 e o que significou a Revolução de 1930 nos mostra

que ela foi muito importante em relação à dinâmica da produção, bem como da

igualdade da população brasileira.

Vamos refletir! Será que o governo de Getúlio Vargas tinha consciência do quanto a

industrialização seria importante para o país? Óbvio que sim, pois foi implantado o

Processo de Substituição de Importações, no sentido de impulsionar a economia até

então centrada na produção do café. Entende-se por Substituição de Importações o fato

de o Brasil iniciar a produção interna de itens que até então eram importados, mais um

fator positivo em relação à política da República Velha (FURTADO, 1977).


Caminhando mais alguns passos na história do Brasil e seus reflexos na economia, você

pode aprender que o Brasil nos anos 50 e 60 teve uma grande expansão em sua

industrialização, o que exerceu reflexos diretos na nossa economia. Foi possível

observar que naquela época o PIB (Produto Interno Bruto) de alguns países apontava

um contraste entre o período Pós-Segunda Guerra Mundial e os anteriores

(LACERDA et al., 2018).

Lembre-se que entre os anos de 1945 e 1964 houve a criação de várias estatais. Mas

como elas estão inseridas nesse cenário político e econômico? Perceba que, pelo

governo deter parte ou todo o Capital Social, as estatais são classificadas como

empresas públicas. Essas empresas são, provavelmente, a forma mais direta de

intervenção do Estado na economia, tomando assim o lugar do investidor privado.

Mais uma vez entende-se que ações governamentais impactam diretamente na economia

do país, concorda?

Outro fato importante nesse contexto histórico foi a chamada República Populista (1945

e 1964), também conhecida por Quarta República. Sua principal característica foi

apresentar uma democracia até então suprimida entre dois períodos ditatoriais. Inúmeros

fatos políticos puderam ser vivenciados, dos quais o principal objetivo era promover

forte industrialização, trazendo assim mais independência e crescimento para o Brasil e

demais países da América Latina.

Dessa forma, vemos que a Quarta República provocou um forte processo de

industrialização no Brasil, principalmente no governo de Juscelino Kubitschek

(LACERDA et al., 2018).


Videoaula: Resumo da unidade

Neste vídeo, vamos refletir sobre como se comportou a economia do Brasil no


período que compreende os anos 30, culminando com o fato de que, a partir de
ações adotadas pelos governantes dos anos seguintes a essa década,
proporcionaram um crescimento na economia do país. No entanto, nem tudo são
flores, mesmo porque alguns fatos provocaram consequências não tão esperadas.
Dessa forma, convido você a assistir a este vídeo e, assim, revisar fatos e conceitos
tão importantes para o Brasil.
Estudo de caso

Uma questão que provoca muita discussão é a intervenção ou não do Estado nas

questões econômicas políticas. De um lado, existe um grupo argumentando que o

Estado atrapalha o processo de decisão econômica eficiente, já que muitas vezes

defende interesse próprio, terminando em corrupção. Por outro lado, há um grupo

argumentando que o livre mercado sem o apoio do Estado não pode existir. Isso coloca

o agente público como um elemento relevante para o funcionamento da economia.

A globalização financeira dos últimos quarenta anos acelerou o fluxo de capitais e

mercadorias entre os países, principalmente após o fim das barreiras impostas pelos

Estados após a Segunda Guerra Mundial. Como consequência, porém, as crises

financeiras se apresentaram de maneira mais frequente na década de 1990 em diante.

Dessa forma, embora a queda dos regulamentos e a abertura dos balanços de

pagamentos possibilitaram a aceleração dos fluxos de capitais e mercadorias, a criação

de uma engenharia financeira complexa no mercado de derivativos reduziu o poder de

fiscalização dos Estados. Como consequência, os agentes privados venderam títulos

“podres” nos mercados globais, o que acabou contaminando todo o sistema e levando o

mundo a uma grande recessão.

Diante dos lucros privados, os prejuízos se tornaram coletivos, pois o Estado foi

chamado para resgatar o sistema financeiro antes que o colapso se tornasse ainda maior.

Passada a tempestade, a ideologia neoliberal passou a responsabilizar os estados pelo

excesso de gastos, exigindo uma maior austeridade quanto ao corte de despesas

públicas.

Essa breve contextualização serve como apoio para demonstrar o papel do Estado na

economia nos dias atuais. Em outras palavras, mesmo que de maneiras diferentes, o

Estado sempre esteve presente, o que nos faz concluir que não há e nem nunca houve

uma economia de mercado sem a participação do Estado, pelo menos num aspecto

neoliberal.
Suponha que você dirige uma grande empresa industrial e percebe que a ausência de

infraestrutura adequada no país é um dos grandes desafios que impedem o melhor

desempenho dos seus negócios. Em ano eleitoral, dois candidatos à presidência com

chances reais de ganhar apresentam programas opostos no que diz respeito à

intervenção do Estado na economia.

Pensando nos impactos sobre os negócios que você dirige, qual das duas opções poderia

contribuir para a melhora do ambiente de negócios, mais Estado ou mais mercado?

Levante os prós e os contras e apresente as razões da sua escolha por um dos

candidatos.

_______

Reflita

Ao longo do século XX, a economia brasileira se transformou de agroexportadora em

economia industrial mais complexa da América do Sul, num período que vai de 1930 a

1980. Com a crise fiscal do Estado desenvolvimentista, o país passou a ter taxas de

crescimento menores, principalmente no período de hegemonia neoliberal. O que

explica tal comportamento?

Videoaula: Resolução do estudo de caso

Prezado aluno, a resolução de problemas complexos, em geral, oferece mais do que uma

opção e a dicotomia entre certo e errado, verdadeiro e falso acaba encobrindo a

complexidade da situação.

Nesse caso, como um investidor ligado ao setor produtivo e, portanto, que demanda

logística e infraestrutura eficientes, deve-se priorizar aquele que propõe soluções para o

problema, mas soluções que sejam coerentes com o que se demanda.

Sabemos que o setor de infraestrutura demanda investimentos vultosos e de longa

maturação. O BNDES, no caso do Brasil, foi criado nos anos 1950 com objetivo de

financiar projetos de longo prazo em que, em geral, os bancos privados não costumam
investir, seja pelo risco envolvido em operações que modificam a estrutura do país,

inclusive riscos ambientais. Por essa razão, empresas como Petrobras, CSN, Embraer e

tantas outras foram constituídas, para o Estado assumir o risco que o setor privado não

está disposto a assumir. Imagine quantos anos de estudos geológicos e investimentos em

perfuração de solo até que fosse encontrado petróleo.

Por outro lado, empresas estatais costumam carregar problemas de origem que, por

maior que seja a governança, dificilmente podem ser resolvidos. A corrupção em torno

de interesses políticos costuma prejudicar o desempenho de empresas grandes e

poderosas, como ocorreu recentemente com a Petrobras. Nesse caso, a

profissionalização do setor privado e seus objetivos de lucro podem trazer ganhos

importantes a setores-chave, cuja presença do Estado é grande.

De volta aos candidatos que oferecem soluções para o problema da infraestrutura, agora

fica clara a profundidade da questão. Mais do que Estado ou mercado, pois

provavelmente a solução ideal seja uma mescla entre os dois. No entanto, o mais

importante é que sejam apresentadas as várias dimensões do problema.

Você como dirigente empresarial pouco deve se importar se as contas do governo estão

equilibradas ou se a empresa X vai ser privatizada, mas importa saber se quem propõe

soluções compreende a natureza dos problemas.

Supondo que sua empresa tenha influência perante o governo, certamente agora você

tem condições de elevar o nível do debate nacional, propondo soluções eficientes e

coerentes para o país.


Resumo visual
Referências

BRESSER PEREIRA, L. C. Uma interpretação da América Latina: a crise do

Estado. Novos Estudos, n. 37, p. 37-57, nov. 1993.

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FUTURO DO DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO. Brasília: IPEA, 2014. p. 29-78.

FONSECA, J. P.; RALLO, J. R.; ROQUE, L. Empresas grandes, ineficientes e

antiéticas só prosperam em mercados protegidos e regulados. Mises Brasil, 2017.

Disponível em: https://mises.org.br/Article.aspx?id=2652. Acesso em: 25 jul. 2022.

FURTADO, C. Formação econômica do Brasil. 15. ed. São Paulo: Nacional, 1977.

GIAMBIAGI, F. et al. Economia brasileira contemporânea. 3. ed. Rio de Janeiro:

GEN Grupo Editorial Nacional. Publicado pelo selo Editora Atlas, 2021.
GREMAUD, A. P.; VASCONCELLOS, M. A. S.; TONETO, R. Jr. Economia

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KUPFER, D.; HASENCLEVER, L. Economia industrial: fundamentos teóricos e

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LACERDA, A. C. et al. Economia brasileira. 6. ed. São Paulo: Saraiva Educação,

2018.

PREBISCH, R. Notas sobre el intercambio desde el punto de vista periférico. Revista

de la CEPAL, Latin America, ed. 28, p. 195-206, 1986. Disponível

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Saraiva, 2011.

SAES, F. A. M. História econômica geral. 1. ed. São Paulo: Saraiva, 2013.

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