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ART.º 43.º À 48.º DO C.F.

Sheila Damião 2022 1


EFEITOS PESSOAIS DO CASAMENTO
(ESTADO DE CASADO)
• Até aqui analisámos a instituição matrimonial como
negócio jurídico, isto é, como acto jurídico em que o
acordo dos nubentes se concretizou para criar entre eles
um vínculo que perdura.
• Mas agora é chegado o momento de estudar a situação
de facto, que se prolonga no tempo, que o acto do
casamento criou e vai dar origem ao estado de casado.

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O ESTADO DE CASADO

• Noção: é a situação jurídica dos cônjuges após a


celebração do casamento;
• Ela define-se em função dos efeitos que o matrimónio
produz relativamente às pessoas dos cônjuges e aos seus
bens.

Ex: O casamento da Paula e do Pedro dura há 7 anos.

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OS EFEITOS PESSOAIS

• São regidos por normas imperativas


– pois estão aqui em jogo interesses
de ordem públicas.

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Respeito
Fidelidade
Poderes e Deveres Coabitação
matrimoniais Cooperação
Assistência
Efeitos Pessoais do casamento

Estado de casado

- Prestações de
alimentos
Representação comum
- Contribuição para os
encargos da vida
familiar

Direito ao nome,
emancipação e
nacionalidade

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Outros efeitos
EVOLUÇÃO HISTÓRICA
• Pelo casamento cada um dos contraentes adquire, no plano
individual, a situação jurídica de casado;
• No plano institucional, o casamento constitui a fonte da
família, cujo o embrião é a sociedade conjugal.
•A posição jurídica do homem e da mulher, como membros
da sociedade conjugal, tem variado bastante ao longo dos
tempos.
• Ainda hoje existem diferenças profundas.
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EVOLUÇÃO HISTÓRICA

• Durante muitos anos o marido gozou de uma posição de


absoluta superioridade, não apenas em relação aos
filhos mas também em relação a mulher.
• Tanto no direito romano, como no período medieval,
depois em pleno séc. XIX, podemos constatar a sujeição
da mulher casada ao marido.

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EVOLUÇÃO HISTÓRICA

•A partir de meados do séc. XX, desencadeou-se uma tese


absurda e obsoleta da incapacidade da mulher casada.
• Sendo esta incapacidade uma situação jurídica que assenta
na falta das qualidades psíquicas de entendimento, ou do
poder de auto-determinação, necessárias para o indivíduo
reger a sua pessoa e gerir autonomamente os seus bens,
não fazia nenhum sentido considerar a mulher, pelo simples
facto de contrair matrimónio, como juridicamente incapaz.
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EVOLUÇÃO HISTÓRICA

• As modernas legislações vieram abolir essa ideia de


incapacidade da mulher casada.
•E mantiveram apenas, dentro da sociedade conjugal, uma
diferenciação de funções, correspondente à diversidade
biológica dos sexos.
• Atribui-se deste modo à mulher o governo doméstico – o
poder das chaves (de que fala os alemães) através da qual
lhe competia não só a direcção moral do lar, como também
a realização da generalidade dos actos jurídicos
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à
economia da casa;
EVOLUÇÃO HISTÓRICA

• A mulher já podia governar a cozinha, educar os filhos e


também ter a sua formação religiosa.
• Reconheceu-se em contrapartida ao marido:
• - a chefia da sociedade conjugal;
• - assegurar o sustento da mulher e dos filhos;
• - o poder de decisão nos assuntos de interesse comum;
• - a administração dos bens do casal;
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EVOLUÇÃO HISTÓRICA
• Alguns pontos importantes que levaram a igualdade de direitos
e obrigações dos cônjuges, depois da última guerra mundial:
• - crescente emancipação da mulher;
• - o trabalho desta fora do lar;
• - a igual preparação para a vida ministrada aos dois sexos
pelas escolas públicas e privadas;
• - a divulgação do uso das pílulas anti-concepcionais;
• - a força do eleitorado feminino na vida política;
• - a continua desagregação da família;
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EVOLUÇÃO HISTÓRICA

• Isso veio eliminar a ideia de chefia da sociedade conjugal,


que era atribuída ao marido;
• Também abandonou-se a concepção da entrega à mulher
do chamado governo doméstico, bem como a direcção
moral do lar.

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Efeitos Pessoais

Princípios
reguladores das
relações conjugais

Igualdade de Plena Comunhão


Direitos de de vida
Deveres
Decisão
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Comum 2022 13
PRINCÍPIOS REGULADORES
DAS RELAÇÕES CONJUGAIS
• 1 . Igualdade de direitos e deveres
• Já vimos que esse princípio se trata de um princípio
constitucionalmente consagrado, no que diz respeito ao
direito da família, art.º 35.º, n.º 3, da CRA.
• Este art.º 35.º, n.º 3 vem reforçar o corolário do princípio
geral do art.º 23.º, CRA que proíbe qualquer discriminação
em razão do sexo. O homem e a mulher são iguais perante
a lei e não o deixam de o ser pelo facto de serem casados
um com o outro.
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1 . IGUALDADE DE DIREITOS E
DEVERES
• Este princípio fundamental vem mencionado, no CF nos arts.º
3.º, n.º 1 e 21.º, segundo o qual o casamento se funda na
igualdade recíproca dos direitos e deveres dos cônjuges.
• Ao falar de deveres e não de obrigações quis a lei
focalizar o aspecto moral subjacente às condutas
estabelecidas na lei.
• As relações conjugais são baseadas em direitos e deveres
recíprocos de tal forma que a cada direito corresponde a
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assunção de um dever.
1 . IGUALDADE DE DIREITOS E
DEVERES
• Aos cônjuges também devem obediência ao princípio
consagrado no art.º 2 n.º 2 e 6.º do CF, isto é, as famílias
devem contribuir entre si para o seu desenvolvimento
harmonioso, por forma a que cada um possa realizar
plenamente a sua personalidade e as suas aptidões no
interesse de toda a sociedade.

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2 – PLENA COMUNHÃO DE
VIDA
• Embora a lei não o diga expressamente, a plena comunhão
de vida, envolve relações de carácter físico, afectivo e
intelectual entre marido e mulher.
• Em virtude do casamento, marido e mulher passam a estar
unidos entre si.

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2 – PLENA COMUNHÃO DE VIDA
• Do casamento advêm para os cônjuges efeitos pessoais directos:
• 1 – relacionamento físico (convivência sexual), que é designada
como débito conjugal;
• O casamento considera-se consumado depois de os cônjuges
terem relacionamento sexual, após a celebração do casamento;
• A recusa injustificada às relações sexuais por parte de um dos
cônjuges ou a impotência para a sua consumação constituem
factos que podem ser considerados como violação dos deveres
conjugais ou causa de anulacão do casamento, consoante o caso.
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2 – PLENA COMUNHÃO DE VIDA
• No entanto essa recusa, à prática de relações sexuais,
pode ser fundamentada em razões de saúde (ser um dos
cônjuges portador de doenças transmissíveis), ou com base
em razões de ordem moral (comportamento culposo de um
dos cônjuges em relação ao outro);
•A plena comunhão de vida, pressupõe que os cônjuges
devem viver em coabitação, isto é, terem uma residência
comum.
• A comunhão de vida implicará a comunhão de cama, mesa
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e habitação.
2 – PLENA COMUNHÃO DE VIDA
• Na legislação anterior, a mulher casada tinha
obrigatoriamente o domicílio do marido, com excepção das
situações em que o marido morava no estrangeiro.
• No actual código de família, art.º 44.º, dispõe que os
cônjuges devem viver juntos e ainda que devem de comum
acordo escolher a residência da família. Isto tendo em conta
as exigências da vida profissional de ambos e os interesses
dos filhos.

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2 – PLENA COMUNHÃO DE VIDA

• Sendo assim, podemos ver, que é concedido aos cônjuges


igual direito de intervir na decisão, afastando a situação
anterior, em que era só o marido a decidir.

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3 – DECISÃO COMUM, ART.º 48.º

• Um outro princípio fundamental, que resulta do princípio da


igualdade entre marido e mulher, é o da decisão comum
das questões da vida familiar.
• Os dois passam a ter iguais direitos e deveres, quer nas
relações entre si quer nas relações dos cônjuges com os
filhos menores, comuns art.º 127.º, n.º 1 CF. (no que tange
ao exercício do poder paternal).

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3 – DECISÃO COMUM, ART.º 48.º
• No que diz respeito a questões como:
• 1 – quantos filhos vamos ter, e quando? (planeamento familiar) ;
• 2 – trem da vida (gastamos tudo ou poupamos para comprar
uma casa?);
• 3 – uso de contraceptivos
• 4 – repartição de funções ou tarefas (trabalhamos os dois fora
de casa ou só um, ficando o outro com o governo doméstico e a
criação dos filhos?);
• 5 – a residência da família (vivemos com os pais ou sogros
Sheila Damião 2022
ou
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montamos casa, e neste caso, em que local?)


3 – DECISÃO COMUM, ART.º 48.º
• Devem ser decididos por ambos, não impondo a vontade de um
à outro, há que ter em atenção o interesse da própria família,
ponderando os benefícios ou não de cada decisão, e não um
interesse pessoal e egoísta.
• A vida pessoal e privada de cada um fica de fora, isto é, não
precisa ouvir o outro cônjuge, para:
• - vestir-se , pentear-se como quiser, escolher os seus amigos,
professar a religião que entender e mudar de religião de
acordo com as suas convicções, ser militante ou simpatizante do
partido político, do sindicato, do clube de futebol da sua
preferência.
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3 – DECISÃO COMUM, ART.º 48.º

• O casamento não limita os direitos de personalidade dos


cônjuges, salvo o direito à liberdade sexual, pois cada
um está obrigado em face do outro ao débito conjugal,
assim como a não ter relações sexuais com terceiros.
• Cada um dos cônjuges guarda intacta a sua liberdade
de pensamento e opinião, assim como a liberdade de os
manifestar pelo modo que achar adequado.

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3 – DECISÃO COMUM, ART.º 48.º

• Finalizando, a plena comunhão de vida exige a partilha


entre os cônjuges de uma vida em comum que tem de
assentar numa convivência matrimonial harmónica e
mutuamente frutuosa.

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PODERES E DEVERES MATRIMONIAIS, ART.º
43.º CF
• A partir do momento em que se casa, faz surgir um conjunto
de poderes, consequentemente deveres, que são específicos
das relações matrimoniais.
• Esses direito e deveres, são de natureza indisponível e
inderrogável, insusceptíveis de ser afastados pela vontade
das partes.
• Essas normas do art.º 43.º são normas de ordem público
• Esses poderes e deveres, consagrados no CF, vêm limitar
sem dúvida a liberdade pessoal de cada cônjuge.
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PODER/DEVER DE RESPEITO

• Estamos perante um dever residual. Porque quando


falamos de adultério, abandono da residência da
família, a falta de contribuição para encargos da vida
familiar, também estamos a falar de falta de respeito,
mas constituem violações autónomas dos deveres de
fidelidade, de coabitação e de assistência,
respectivamente.

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PODER/DEVER DE RESPEITO

• Assim, só são violações de dever de respeito actos ou


comportamentos que não constituam violações directas
de qualquer dos outros deveres mencionados no art.º
43.º.

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PODER/DEVER DE RESPEITO
•A partir do casamento cada cônjuge nunca está só e,
perante a opinião pública, tem sempre a seu lado o seu
consorte, daí o cuidado que deve haver de preservar o
património moral do casal.
• Cada um dos cônjuges, na sua vida futura, passa não só a
responder pela sua honra e pelo seu bom nome, mas
também pela imagem que a sua conduta projecta sobre a
pessoa do outro cônjuge.

Sheila Damião 2022 30


PODER/DEVER DE RESPEITO

•O dever de respeito é ainda o dever de cada um dos


cônjuges não se conduzir na vida de forma indigna,
desonrosa e que o faça desmerecer no conceito público.
•A relevância destas injúrias funda-se na ideia de que o
casal é uma “unidade moral”, de tal modo que a
dignidade, a honra e a reputação de um dos cônjuges
são ao mesmo tempo a dignidade, a honra e a
reputação do outro.
Sheila Damião 2022 31
PODER/DEVER DE RESPEITO

• O dever de respeito é um dever ao mesmo tempo negativo


e positivo.
• Dever de respeito negativo
• - é o dever que incumbe a cada um dos cônjuges de não
ofender a integridade física ou moral do outro

Todos os bens ou valores da


personalidade cuja violação constitua
injúria: - a honra; - a consideração social;
- o amor próprio; - a sensibilidade
Sheila Damião pessoal; 2022 32
PODER/DEVER DE RESPEITO

• Infringe o dever de respeito o cônjuge que:


• - maltrata ou injuria o outro;
• - que, reiteradamente, ridiculariza a religião que o outro pratica
ou a formação política de que ele é fervoroso militante;
• - sem o consentimento do outro, introduz no lar conjugal um filho
concebido fora do matrimónio;
• - a mulher que, estando grávida de filho do casal, interrompe
voluntariamente a gravidez, sem o consentimento do marido;
• O marido que fez uma doação de esperma sem o consentimento
Sheila Damião 2022 33
da mulher; etc
PODER/DEVER DE RESPEITO

• O dever de respeito é também um dever de não praticar


ou adoptar actos ou a comportamentos que constituam
“injurias indirectas”.
• Se um dos cônjuges se embriaga ou se droga com
frequência, ou comete um crime infame, está a violar o
seu dever de respeito ao outro cônjuge.

Sheila Damião 2022 34


PODER/DEVER DE RESPEITO

• Dever de respeito positivo


• A lei não obriga que os cônjuges ame o outro, nem pode
impor qualquer tipo de sentimento.
• Mas o cônjuge que não fala ao outro, que não mostra o
mínimo de interesse pela família que constituiu, que não
mantém com o outro qualquer comunhão espiritual, não
respeita a personalidade do outro cônjuge, infringe o
correspondente dever de respeito.
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PODER/DEVER DE FIDELIDADE

• Consistena lealdade que cada um dos cônjuges promete


ao outro, no momento do casamento, ficando
simultaneamente inibidos de manter relações sexuais com
terceira pessoa.
• Estamos perante o chamado adultério.
• Isto é, os cônjuges estão obrigados a não ter relações
sexuais consumadas (cópula, coito anal e oral, art.º 168.º,
al. C) do CP), com pessoa de outro sexo que não seja o seu
cônjuge.
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PODER/DEVER DE FIDELIDADE

• Quanto a relações com pessoas do mesmo sexo, (natureza


homossexual) não costumam ser abrangidos na noção de
adultério, mas é óbvio que constituem igualmente violação
do dever de fidelidade, ou quando assim não entenda, do
dever de respeito.
• A Dra. Medina entende que se trata da violação do dever
de fidelidade.

Sheila Damião 2022 37


PODER/DEVER DE FIDELIDADE

• O acto sexual praticado com terceiro tem que conter 2


elementos:
•1 – objectivo – constituído pela prática com terceira
pessoa de relações sexuais consumadas;
• 2 – subjectivo – tem que ser um acto voluntário,
consciente e livre. Pelo menos ter a consciência de violar
o dever de fidelidade.
Sheila Damião 2022 38
PODER/DEVER DE FIDELIDADE

• Sendoassim, não poderá pedir-se o divórcio por causa


de adultério se o cônjuge que teve relações com terceira
pessoa só o fez, p. ex.:
• - por erro, sob coacção, violência.

• O adultério vem consagrado no nosso cód. Penal, no art.º


401.º, sendo assim um ilícito penal. Mas também é um
ilícito
Sheila Damião civil. 2022 39
PODER/DEVER DE COABITAÇÃO
• A coabitação significa viver em comum, partilhar a mesma
habitação, ter o mesmo tecto e o mesmo lar. Art.º 44.º CF
. Cama (sexo)
• Tem que haver a comunhão de: . Mesa
. Habitação.

• Mas também abrange as relações íntimas de sexo (débito


conjugal), que representa o dever conjugal por excelência.
Sheila Damião 2022 40
PODER/DEVER DE COABITAÇÃO
• Esse dever, de coabitação, pode ser suspensa por diversas
razões:
• - de saúde, profissionais, interesse dos filhos etc.
• Isto, sem colocar em causa o fim do relacionamento conjugal.
• No caso de um dos cônjuges ou ambos resolverem por fim ao
relacionamento, ou viver em separado, é de suma importância
para as relações conjugais, a que o CF vai atender, como por
exemplo:
• - O exercício da autoridade paternal sobre os filhos menores do
casal;
Sheila Damião 2022 41

• - qual dos cônjuges vai ficar a residir no domicílio conjugal


PODER/DEVER DE COOPERAÇÃO
• Art.º 45.º CF
• Esse poder/dever acarreta para os cônjuges a
obrigação de cooperar e de participar em todos os
actos da vida familiar, prestando-se interajuda, quer nos
actos da vida doméstica quer na criação e educação dos
filhos.

Ana é médica e Tomás, o marido, é cantor.


Sempre que necessário ele ajuda na organização e funcionamento
do consultório médico e ela ajuda-o na organização e agenda dos
Sheila Damião 2022 42
espetáculos.
PODER/DEVER DE COOPERAÇÃO
• A participação nos trabalhos domésticos, vem permitir que
a mulher não seja sobrecarregada com tarefas domésticas .
• Permitindo assim, que a mulher tenha maior
disponibilidade para se dedicar a vida profissional e
social.
• As prestações podem não ser iguais mas sim proporcionais
à capacidade económica e profissional de cada cônjuge.

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PODER/DEVER DE COOPERAÇÃO
• Não se trata agora de cada um ajudar o outro.
• Trata-se de que a família é obra dos dois, e ambos devem
assumir em conjunto as inerentes responsabilidades.
• Assim, o cônjuge que mostra um absoluto desinteresse pela
saúde e pela educação dos filhos não infringe apenas um
dever em relação a estes, mas também um dever em
relação ao outro cônjuge, o dever de assumir em conjunto
com o outro as responsabilidades inerentes à vida familiar.
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PODER/DEVER DE ASSISTÊNCIA
• Art.º 45.º CF
• Esse dever é uma extensão do dever de cooperação.
• Implica que cada cônjuge deve contribuir para a
satisfação das necessidades materiais e espirituais da
família.
•É também designado como o dever de ajuda ou socorro
mútuo.
Sheila Damião 2022 45
PODER/DEVER DE ASSISTÊNCIA
• O dever de assistência pode ser entendido em 2
aspectos:
• 1 – assistência material
• 2 – assistência moral

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PODER/DEVER DE ASSISTÊNCIA

• 1 – Assistência Material

Obrigação de Obrigação de
Prestação de alimentos . Contribuir para os
encargos normais da
vida familiar
Sheila Damião 2022 47
• Poderíamos perguntar se essas duas obrigações não
coincidem?
• R: Não. Elas não coexistem porque a contribuição para os
encargos da vida familiar pressupõe a existência de uma
comunhão de vida; não havendo essa comunhão de vida,
o dever de assistência traduzir-se-á na obrigação de
prestar alimentos.
• Só numa situação de separação ou rutura (mas em que
subsiste o vínculo matrimonial) é que este dever de
assistência se consubstanciará numa obrigação de
prestar alimentos.

Sheila Damião 2022 48


PODER/DEVER DE ASSISTÊNCIA

• 1 - Assistência Material
• A prestação de alimentos só adquire autonomia quando
há separação, quer de facto quer de direito.
• Então o cônjuge necessitado pode exigir do outro o que
for imprescindível para o seu sustento, e que reveste a
natureza de uma renda pecuniária periódica.
• Não havendo separação do casal os alimentos estão
englobados nos encargos da vida familiar.
Sheila Damião 2022 49
PODER/DEVER DE ASSISTÊNCIA
• 1 – Assistência Material.
• A contribuição para os (encargos normais da vida familiar)
é fixada no - art.º 46.º/1 CF, de harmonia com as
possibilidades de cada um, e pode ser cumprida por
qualquer deles, pela afectação dos seus recursos.

Sheila Damião 2022 50


PODER/DEVER DE ASSISTÊNCIA
• Também aqui há observância do princípio da igualdade
entre os cônjuges e da reciprocidade que acarreta que
cada um contribua com as despesas familiares, tomando-
se para o efeito em conta:
• - os rendimentos do trabalho;
• - os rendimentos dos bens próprios;
• - o trabalho despendido no lar;
• - o trabalho despendido na criação e educação dos filhos;
• - o padrão de vida do agregado familiar.

Sheila Damião 2022 51


Sheila Damião 2022 52
PODER/DEVER DE ASSISTÊNCIA
• Se os rendimentos e proventos de cada um dos cônjuges
fossem iguais e se o trabalho despendido no lar e na
criação e educação dos filhos fosse igual, nenhuma
dificuldade existiria, pois cada um teria de suportar
metade dos encargos.
• O que na realidade sucede, na maioria das vezes, é que
os rendimentos e o trabalho no lar são muito diferentes de
cônjuge para cônjuge, originando as primeiras
dificuldades de relacionamento do novo casal.
Sheila Damião 2022 53
PODER/DEVER DE ASSISTÊNCIA

• Vejamos este exemplo:

Cláudia tem de rendimentos mensais Kz 350.000,00 e a actividade que


despende no lar e com os filhos é computável em Kz 100.000,00. O marido
Rui tem rendimentos mensais de Kz 790.000,00 e o seu trabalho no lar é
estimado em Kz 10.000,00.

• Se os encargos normais da família forem de Kz 600.000,00 mensais,


Cláudia terá de contribuir com 1/3 (600 : 3 = 200.000,00 Kz)
desta verba e Rui com os restantes 2/3, (600 x 2 : 3 = 400.000,00
KZ) incluindo nestes montantes o valor da participação de cada um
Sheila Damião 2022 54
nos trabalhos do lar.
PODER/DEVER DE ASSISTÊNCIA
•O dever de assistência no sentido material obriga pois,
os cônjuges a contribuírem com valores pecuniários para
a manutenção da família.
• Caso um dos cônjuges não usufruir salário ou rendimento
próprio, essa prestação pode ser consubstanciada na
prestação de serviços ou produções de bens.

Sheila Damião 2022 55


PODER/DEVER DE ASSISTÊNCIA
• Os encargos da vida familiar, que vem referido no art.º
46.º n.º 1 do CF; são os que abrangem os custos com o
sustento, vestuário, habitação e todos os necessários à vida
normal da família, ex:

despesas com a viatura, com a água, eletricidade, empregada doméstica,


eletrodoméstico, compra de mobiliário, médicos, férias, propinas das
escolas, etc.

Sheila Damião 2022 56


PODER/DEVER DE ASSISTÊNCIA
•O n.º 2 do art.º 46.º, permite que no caso de um dos
cônjuges, dispondo de recursos, deixar de os prestar
voluntariamente, pode o cônjuge lesado, recorrer ao
tribunal para exigir que lhe seja entregue directamente a
parte de rendimento ou provento do outro, para fazer fase
às despesas domésticas necessárias.
• o cônjuge que deixar de prestar alimentos, pode colocar a
sua família numa situação económica de desespero.
• Trata-se de uma acção de jurisdicção voluntária prevista no
Sheila Damião 2022 57
CPC no art.º 1416.º
PODER/DEVER DE ASSISTÊNCIA

• 2 – dever de assistência moral


• Esse dever vai impor aos cônjuges um dever de ajuda
espiritual, participando nos momentos difíceis da vida um
do outro, como:
• - doenças, óbito, desgostos familiares, etc;
• - ajudar o outro também no progresso da sua vida
profissional e social

Sheila Damião 2022 58


PODER/DEVER DE ASSISTÊNCIA
•O dever de assistência prolonga-se mesmo depois do
divórcio ou separação de facto, através da prestação de
alimentos.
• Nestes casos o cônjuge necessitado pode exigir do outro
o que for imprescindível ao seu sustento, e que reveste a
natureza de uma renda pecuniária periódica.

Sheila Damião 2022 59


DIREITOS PESSOAIS DO
CÔNJUGES
• Este conjunto de poderes/deveres reflete-se na vida
pessoal dos cônjuges e impõe restrições à liberdade
individual de ambos.
• Mas estes , poderes e deveres, não abrangem a
personalidade própria e os direitos pessoais de cada
cônjuge, esses se mantêm intactos, tal como o direito a
integridade moral e física, que são direitos próprios de
todo o ser humano.
Sheila Damião 2022 60
DIREITOS PESSOAIS DO
CÔNJUGES
• O direito à integridade física e moral
• Os cônjuges não podem exercer violência corporal ou
ameaças um sobre o outro.
• O marido, não pode agredir corporal e voluntariamente a
mulher, porque esse comportamento ilícito, é penalmente
relevante (crimes de ofensas corporais voluntárias) não é
“justificado” pelo facto de existência do vínculo matrimonial.

Sheila Damião 2022 61


DIREITOS PESSOAIS DO
CÔNJUGES
• Hoje já temos tipificado o crime de violência doméstica
exercida entre pessoas que vivem no mesmo lar – Lei n.º
25/11 de 14 de julho, art.º 2.º
•O Anteprojecto do CP, art.º 170.º prevê o crime de
agressão sexual com penetração que é punido mesmo que
praticado por cônjuge do agente (2 a 10 anos de prisão).

Sheila Damião 2022 62


DIREITOS PESSOAIS DO
CÔNJUGES
•O direito a dispor do próprio corpo pertence em
exclusivo ao próprio cônjuge.
• Em nenhuma circunstância poderá um dos cônjuges coagir
o outro a determinados comportamentos contra a sua
vontade, as decisões têm que ser tomadas em conjunto.

Sheila Damião 2022 63


DIREITOS PESSOAIS DO
CÔNJUGES
•A integridade moral do cônjuge tem que ser respeitada
pelo outro, preservando o direito de cada um à honra, à
vida íntima, à imagem, à correspondência própria, aos
contactos telefónicos próprios...etc

Sheila Damião 2022 64


DIREITOS PESSOAIS DO
CÔNJUGES
•A violação desses direitos pessoais devem ser exercidos
pelo próprio cônjuge lesado por acção de terceiro, quer
em acção de natureza criminal ou civil.
• Não se pode constituir assistente em acção penal o outro
cônjuge que não foi o ofendido, porque o direito a acção
penal é de natureza pessoal e intransmissível.

Sheila Damião 2022 65


DIREITOS PESSOAIS DO
CÔNJUGES
• O marido não ter acesso a correspondência da mulher –
foi revogada tacitamente pela legislação constitucional e
pelo CF.
• Um cônjuge não pode testemunhar contra o outro (art.
216.º do CPP), nem pode ser perguntado por actos
puníveis ou desonrosos que o outro cônjuge haja
praticado (art.º 218.º CPP).

Sheila Damião 2022 66


DIREITOS PESSOAIS DO
CÔNJUGES
•O direito ao exercício de profissão ou actividades de
cada um dos cônjuges, que mantém-se depois do
casamento, preservando os direitos fundamentais de
cada um, vem consagrado no art.º 47.º do CF.
•O direito a imagem, à intimidade, à honra, às suas
relações familiares e sociais, também são preservados
para além do casamento.

Sheila Damião 2022 67


DIREITOS PESSOAIS DO
CÔNJUGES
• Mas há que ter em conta que a plena comunhão de vida
dos cônjuges implica que, em regra, os dois actuem em
conjunto na vida social, profissional, e familiar.
•A compatibilidade e o equilíbrio entre os direitos e os
deveres de natureza profissional e as actividades dos
cônjuges e os seus deveres dentro do matrimónio têm que
ser encontrados de forma harmoniosa, de maneira que
não haja prejuízo de uns em relação aos outros.
Sheila Damião 2022 68
REPRESENTAÇÃO COMUM ART.º 48.º CF
. No que diz respeito a relações jurídicas, do casal, com
terceiros, a representação perante esses terceiros, pode ser
por qualquer um dos cônjuges, tendo em conta que o que se
fizer representar, fá-lo em nome do casal e expressa a
vontade de ambos.
• A parte final do art.º 48.º é uma presunção que pode ser
afastada perante terceiros, mesmo de boa fé, por simples
declaração do outro cônjuge em tempo útil para não
prejudicar terceiros de boa fé.
Sheila Damião 2022 69
REPRESENTAÇÃO COMUM ART.º 48.º
CF
• Hoje tanto o marido como a mulher têm plena
capacidade civil, (o que não acontecia no código civil
anterior, em que o marido tinha o poder de representar
a família), de representar a família perante terceiros,
por mera presunção de agir segundo o consenso de
ambos.
• O poder de representação dos cônjuges vem consagrado
em diversas normas da Lei das Sociedades Comerciais ...
Sheila Damião 2022 70
DIREITO AO NOME

• A identidade do nome familiar não se traduz na comunhão


do nome de baptismo (prénom), mas na comunhão do apelido
ou dos apelidos por que é conhecida no meio social de cada
família.
• Com o fim de assegurar a unidade nominal familiar, impunha
algumas legislações à mulher casada a obrigação de
adoptar, após o casamento, os apelidos do marido, enquanto
outros converteram esse dever numa pura faculdade.

Sheila Damião 2022 71


DIREITO AO NOME – ART.º 36.º

• O direito de família soviético, veio permitir que qualquer


dos cônjuges adotasse o apelido do outro, sendo assim,
qualquer dos cônjuges é livre de adoptar os apelidos do
outro.

Sheila Damião 2022 72


DIREITO AO NOME – ART.º 36.º

• A declaração de adopção do apelido do outro, deve ser


efectuada logo após a celebração do acto do
casamento.
• Consagra-se assim o princípio de que os cônjuges podem
adoptar pela constituição de um apelido de família
comum formado pelos apelidos de ambos e usados em
conjunto por marido e mulher.

Sheila Damião 2022 73


DIREITO AO NOME – ART.º 36.º

•A declaração é feita de forma voluntária e tem uma


natureza irrevogável, só podendo ser alterada em
circunstâncias previstas na lei.
• O direito ao uso do nome perdura durante a vigência do
matrimónio e após a dissolução por morte, art.º 36.º n.º
3.
• No caso da dissolução por divórcio esse direito ao nome
cessa, art.º 36.º n.º 2.
Sheila Damião 2022 74

• O nome de família é atribuído aos filhos comuns.


EMANCIPAÇÃO

• O art.º 24.º do CF n.º 2 e 3, leva à emancipação do


menor, /art. 132.º al. a) do CC) pelo casamento, o qual
adquire a plena regência da sua pessoa e bens.

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NACIONALIDADE

• A primeira lei da nacionalidade angolana, de 1975, não


atribuía a nacionalidade angolana ao cidadão
estrangeiro que casasse com cidadão angolano, pelo
simples facto de contrair casamento.
• Também a mulher angolana não perdia a nacionalidade
pelo facto do casamento contraído com um estrangeiro,
ao contrário do que acontecia com outras legislações.

Sheila Damião 2022 76


NACIONALIDADE

• A actual Lei n.º 2/16 de 15 de Abril, no seu art.º 13.º, n.º


1, passou a dispor o seguinte:
• “o estrangeiro casado com nacional, por mais de cinco
anos, sob o regime de comunhão de adquiridos, na
constância do casamento e ouvido o cônjuge, pode adquirir
a nacionalidade angolana, desde que requeira”.

Sheila Damião 2022 77


NACIONALIDADE

• No caso de o estrangeiro perder a sua cidadania pelo


facto do casamento, adquire ipso facto a nacionalidade
angolana.
• No caso de o casamento ser anulável não prejudica a
nacionalidade adquirida, se o cônjuge que o adquiriu o
fez de boa fé. Art.º 13.º, n.º 5 Lei n.º 2/16 de 15 de
Abril.

Sheila Damião 2022 78


NACIONALIDADE

• O art.º 52.º do CC, no que diz respeito ao D.I. Privado,


manda aplicar às relações matrimoniais a lei nacional do
marido. Temos que considerar essa norma inconstitucional,
dado o seu conteúdo discriminatório em relação a
mulher.
• Sendo assim, no que tange às relações matrimoniais em
caso de nacionalidades distintas dos cônjuges, será a da
última residência comum.
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TUTELA DOS DIREITOS MATRIMONIAIS

•A violação dos deveres conjugais não está em regra


expressamente protegida por lei, embora em certos
casos extremos, possa haver responsabilidade criminal,
como no caso de:
• - ser punível o adultério como crime;
• - quando haja violação do dever de assistência material;
• - Falta de prestação de alimentos (lei n.º 2053)
Sheila Damião 2022 80
TUTELA DOS DIREITOS MATRIMONIAIS

• A violação grave ou reiterada dos deveres matrimoniais,


quando não for causada pela conduta do outro cônjuge,
confere ao cônjuge ofendido a faculdade de pedir o
divórcio, obtendo desta forma a dissolução do vínculo
conjugal.

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TUTELA DOS DIREITOS MATRIMONIAIS

• Por vezes há problemas de comportamentos:


• - psíquicos anormais; (bipolares, obsessivos compulsivos);
• Problemas culturais;
• Conflitos de mentalidade;
• Intromissão de terceiros;

Sheila Damião 2022 82


TUTELA DOS DIREITOS MATRIMONIAIS

• Esses conflitos podem ter uma procura de solução na fase


pré-judicial ou quando já há recurso ao tribunal pela
relevância dada à fase de reconciliação dos cônjuges.
• Essa conciliação, é procurada cada vez mais, evitando
assim a ruptura dos laços matrimoniais ou o menor
desgaste sob o ponto de vista psicológico e emocional
entre o cônjuges.

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TUTELA DOS DIREITOS MATRIMONIAIS

•A violência doméstica deixou de ser um assunto de


carácter privado para ser um assunto da inteira
responsabilidade do Estado, que deve obrigatoriamente
intervir, não deixando as vítimas da violência entregues
à sua sorte e desamparadas.
• A mediação e conciliação veio ajudar muito (Centro Extra
Judicial de Resolução de Litígios).

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TUTELA DOS DIREITOS MATRIMONIAIS

• Psicólogos – aconselhamento matrimonial


• Terapia de casal
• Juristas podem aconselhar
• Organismos de natureza social
• Centros de Aconselhamento do Ministério da Família e da
Promoção da Mulher

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TUTELA DOS DIREITOS MATRIMONIAIS

• Igrejas
• Todas as instituições de natureza civil

• Mas no caso de essas entidades não conseguirem


aconselharem a família o processo é remetido ao
tribunal.

Sheila Damião 2022 86

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