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UNIVERSIDADE AGOSTINHO NETO – FACUDADE DE DIREITO – DIREITO DAS OBRIGACÕES – ISS 2021 ®

CASOS PRÁTICOS: CUMPRIMENTO E NÃO CUMPRIMENTO, EXTINÇÃO E


GARANTIAS DAS OBRIGAÇÕES

Caso prático n.º 1

A vendeu a B um quadro por 4.000.000 Kz. Ficou acordado que o quadro seria entregue e o preço
pago no dia 20 de Maio pelas 15 horas.

a) Qual o local da entrega do quadro e do pagamento do preço?

b) Admitindo que A se esqueceu do compromisso e que e que não se deslocou ao local devido,
tendo o quadro vindo a perecer no dia seguinte por descuido seu. Quais as consequências
que dai resultariam?

c) Admita agora que o quadro pereceu 2 dias após a celebração do contrato por facto não
imputável ao vendedor. Quais as consequências?

Caso prático n.º 2

Em 10 de Janeiro de 2003, A vendeu a B uma égua, ficando acordado que o animal seria entregue na
quinta de B no dia 15. Neste dia, o animal não é entregue porque A verificou que C (empregado
encarregado de receber a égua) estava embriagado.

No dia 20, quando A levava a égua a um veterinário ocorreu um acidente de viação, devido a uma
ultrapassagem mal sucedida feita por A. Por causa do acidente, a égua dá à luz, prematuramente,
uma cria e acaba por morrer dada a gravidade dos ferimentos.

a) Poderia A ter resolvido o contrato no dia 16?

b) B considera ter direito à cria e reclama uma indemnização. A não só não reconhece a este
qualquer direito como ainda pretende que ele pague o preço acordado. Quem terá razão?

Caso prático n.º 3

F, fabricante de artigos de cerâmica, vendeu por catálogo a Z, proprietário de um restaurante, 50


estatuetas de barro, com as mesmas características mas com corres diferentes. O contrato foi feito
em 15 de Novembro do ano passado e ficou combinado que F, entre os dias 26 e 30 desse mês,
colocaria as estatuetas num armazém seu, local onde o comprador as teria que levantar.

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Na data acordada para o levantamento (5 de Maio), Z foi buscar os objectos, mas, por descuido,
provocou um incêndio que atingiu precisamente o sector onde eles se encontravam.

a) Terá Z que pagar os Kz. 100.500,00 fixados como preço ? Se Z não tivesse ido buscar as
estatuetas no dia 5 e, passados três dias, um empregado de F provocasse culposamente um
incêndio, poderia o comprador responsabilizar o vendedor?

b) Se os contraentes tivessem convencionado a entrega das 50 estatuetas em 5 entregas de 10


unidades (para os meses de Novembro, Dezembro, Janeiro, Fevereiro e Março), o que
sucederia se F não cumprisse a segunda entrega?

c) Suponha que Z tem como sócio J e que F, como “paga” de serviços prestados em tempos
por Z, lhe perdoa a dívida, que quantia será devida por J?

Caso prático n.º 4

Em 10 de Maio de 2004, Anselmo, antiquário, vendeu a Tiago, coleccionador, uma peça rara. Ficou
combinado que a peça seria entregue no dia 15, em casa de Tiago.

Nesse dia, não foi entregue, apesar de Tiago estar em casa. No dia 17, este telefonou a Anselmo
reclamando a entrega para o dia seguinte. No dia 20, um incêndio fortuito ocorrido na loja de
Anselmo destruiu todo o seu recheio.

a) Tendo sido infrutífero o telefonema do dia 17, terá Anselmo que suportar o dano de
Tiago?

b) Podia Tiago no dia 19 comprar a um outro antiquário uma peça parecida sem correr o risco
de ainda receber a que comprara a Anselmo?

c) Suponha que o incêndio foi provocado por descuido de Anselmo e que a peça pode ainda
ser restaurada embora com custos consideráveis. Poderá Tiago exigir o seu restauro?

Caso prático n.º 5

Em 1 de Junho, César contratou com certa empresa o transporte de objectos do seu


estabelecimento comercial. Na execução do serviço, André e Marcos, funcionários da empresa
causaram danos na loja. No dia seguinte, César vendeu a Joana uma estatueta antiga, ficando
acordado que a compradora a iria buscar daí a três dias.

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No dia 11, João, empregado de César, por distracção destruiu a estatueta. No dia 14, César
contratou Pedro, interditado desde Abril, para colocar um anúncio luminoso no estabelecimento.
Na véspera do dia acordado para o serviço, um incêndio fortuito destruiu a casa comercial de César.

a) Poderá César pedir uma indemnização a André e Marcos pelos prejuízos sofridos?

b) Terá Joana direito a receber a estatueta, apesar de se ter esquecido de ir buscá-la na data
combinada?

c) Se por hipótese Joana pudesse accionar João seria procedente a legação de que este é
habitualmente distraído?

d) A obrigação assumida por Pedro é válida? Na hipótese afirmativa, terá direito a receber o
preço acordado?

Caso prático n.º 6

Em 2 de Maio de 2005, José, agricultor comprou a Filipe, criador de cavalos, um cavalo “puro-
sangue” sem outras características especiais. O preço acordado foi de Kz. 2.500.000,00, ficando
estabelecido que o animal seria entregue na quinta de José passados quinze dias e que, caso a entrega
não fosse feita na referida data, isso implicaria para Filipe o pagamento de Kz. 10.000,00 por cada
dia de atraso.

No dia 20, e sem razões justificativas, José recusou receber o cavalo. Em 25 de Junho, o cavalo
morre de peste equina, não sem que um mês antes tivesse ferido Filipe. Este perdeu igualmente o
lucro de não ter alugado a Pedro o espaço em que teve de colocar o animal.

Face aos dados, que direitos e que obrigações assistem aos contraentes?

Caso prático n.º 7

Zacarias, proprietário de um próspero aviário, em Kaxito, celebrou com Teófilo um contrato de


compra e venda de cinco mil ovos, ficando acordado que os ovos deveriam ser entregues, no dia
seguinte, no supermercado de Teófilo na centralidade do Kilamba.

Uma vez que o empregado de Zacarias se encontrava doente, Zacarias pediu ao seu amigo
Ambrósio que lhe levasse a encomenda, utilizando para o efeito o camião do aviário.

Já na centralidade do Kilamba, a direcção do veículo partiu-se, indo este embater contra a loja de
electrodomésticos do Sr. Carlos, destruindo tudo o que se encontrava na montra e partindo metade
dos ovos que o camião transportava. Ambrósio sofreu ferimentos leves, tendo sido imediatamente

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assistido no hospital. Apurou-se que o camião do aviário era novo, mas tinha atingido recentemente
a quilometragem aconselhada para a primeira revisão, sem que esta tivesse sido realizada. Teófilo
alegou ainda que se os ovos tivessem sido correctamente acondicionados talvez não se tivessem
partido.

a) Diga e em que termos responde pelos danos ocorrido.

b) Suponha que entre Teófilo e Zacarias ficou estipulado que este último não seria
responsável pelos danos causados pelo seu amigo Ambrósio. Que direitos assistem a
Teófilo?

c) Logo após o acidente Ambrósio contratou uma oficina na centralidade do Kilamba para
rebocar o camião e regressou de comboio, tendo, mesmo assim, perdido um dia de trabalho
na empresa em que trabalhava. Por seu turno Zacarias ficou zangado com Ambrósio, pois
conhecia uma oficina que lhe faria o mesmo serviço a preço mais vantajoso. Quid iuris ?

Caso prático n.º 8

B encomendou 10 toneladas de tomate a A, a serem entregues na sede de B, por 100.000 Kz. a pagar
no acto da entrega. A ressalvou que só as levava daí a uma semana, tendo B anuído.

Logo a seguir, A telefonou a C, encomendando-lhe 10 toneladas de tomate, a entregar a B, na sua


sede. C pagar-se-ia pelos 95.000 Kz., estipulados recebendo o dinheiro de B e transferindo o restante
para a conta de A.

No dia seguinte, C lá foi entregar o tomate, mas B não quer recebê-lo nem pagá-lo, argumentando
que ainda não era o dia, que está à espera do tomate de A e que, mesmo que o recebesse, só pagaria
a A. Este, ao telefone, exige a B. que receba e pague.

Quid juris? Se B receber o tomate de C, poderá este exigir algum papel que sirva de prova da entrega.

Caso prático n.º 9

Deolinda encomendou uma estante a Etelvina, por 200.000 Kz. A estante, a fazer segundo desenho
acordado entre ambas, ocupará cerca de 8 metros de parede, por 3 de altura. A madeira é pinho.

Um mês depois do contrato, estranhando o silêncio de Etelvina, D. Telefona-lhe a perguntar pelo


andamento da coisa, tendo aquela sido bastante evasiva. Passado outro mês, D. insiste, e insiste
ainda um mês depois.

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Às tantas, já ameaça não querer as estantes. Etelvina responde então que nunca estará em mora sem
que um tribunal determine o prazo em que tem de cumprir.

F devia 1.000.000 Kz a G, a pagar em prestações de 100.000 Kz nos dias 7 de Janeiro a Outubro de


2009. A dívida resultava de um contrato de empreitada.

F pagou a prestação de Janeiro, mas falhou logo a de Fevereiro. G. Enviou-lhe então uma carta, no
dia 15 de Fevereiro, exigindo o pagamento total. As partes tinham acordado juros de mora de 5%.

No dia 15 de Fevereiro de 2010, F. mandou 900.000 Kz a G., e nunca mais pagou coisa alguma.
Nesse dia, G. ainda ponderou não aceitar o pagamento de F., mas acabou por fazê-lo. Podia ter
recusado? Quanto é que F. deve a G. no dia 15 de Fevereiro de 2011?

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Extinção das Obrigações


Caso prático n.º 10

A é credor de B em 1.000.000 Kzs e respectivos juros. A obrigação vence-se em 31 de


Outubro.

Suponha as seguintes hipóteses autónomas:

1.ª: Em 31 de Outubro, B pretende pagar os 1.000.000 Kz acrescidos de juros até 31 de


Outubro no Banco C, dando a este indicações no sentido de permitir movimentação por A daquele
montante; por carta, B informa A do depósito e respectivas condições.
Em Março seguinte, face à intimação de A para pagar os 1.000.000 Kzs, acrescidos de juros
compensatórios e moratórios, B informa-o de que considerava a dívida extinta desde Outubro
anterior.

2.ª: Em 31 de Outubro, C pretende pagar os 1.000.000 Kzs, acrescidos de juros contados até
Dezembro, informando A que a quantia em causa se reportava à dívida de B. A recusa-se a receber,
uma vez que, diz, não conhece C de parte nenhuma,
Perante a recusa de A, C, pretende consignar em depósito, mas B ao ter conhecimento dessa
intenção, proíbe-o, terminantemente, de o fazer.

3.ª: afinal, a dívida não era só de B mas também em solidariedade, de C. Por acordo entre A
e B, A comprometeu-se a não exigir o cumprimento a B, deixando claro, no entanto, que não
prescindia de exigir a totalidade a C. C veio, efectivamente, a pagar os 1.000.000 Kzs e respectivos
juros e quando pretendia exigir de B 90% do que pagara – ja que essa era a proporção no âmbito das
relações internas – este opõe-lhe o acordo feito com A.

4.ª: A dívida era não só de B mas também de C, desconhecendo-se se em regime de


solidariedade ou conjunção (parciariedade).
A morre, sendo seu único herdeiro. B exige de C o pagamento dos 1.000.000 Kzs e
respectivo juros, mas este recusa-se a pagar mais de 10%, única prestação a que se considerava
obrigado.

5.ª: A dívida era não só de B mas também de C, em regime de solidariedade. B morre, sendo
A seu herdeiro. C apresta-se a informar este que se considera exonerado.

Quid juris?

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Garantias das obrigações

Caso prático n.º 11 – meios de conservação da garantia patrimonial

A, tido por empresário de sucesso, deve ao banco B 2.000.000.000 de Kwanzas e tem dívidas
a fornecedores que ascendem a 1.000.000.000 de Kz.

Ao investigar a situação patrimonial de A, para efeitos de instauração de acção executiva, B


apurou o seguinte:
1. A casa de praia que A possuía no Mussulo fora doada, em 1996, ao seu filho C.

2. O apartamento do Maculusso fora vendido dois anos antes a D, amigo íntimo de A por
500.000.000 Kz, valor que os avaliadores do banco consideram o dobro do real. Entretanto, e já
no ano anterior, o apartamento em causa foi vendido a E por 300.000.000 Kz.

3. A casa de campo que A possuía em Viana pertencia, afinal, a F que a vendera a A com reserva de
propriedade, faltando pagar 100.000.000 Kz e e valendo a casa 300.000.000.

4. A é credor de G, seu amigo de infância, em cerca de 500.000.000 Kz; contudo, apesar de a dívida
estar vencida, A nunca exigiu o pagamento e não mostra intenções de o fazer. A também sabe
que G, por sua vez, tem o seu crédito sobre H, de montante superior, também vencido e em vias
de prescrição, que o mesmo G não tem exigido por pura inércia.

5. A doara, sete anos antes, um luxuoso iate à actriz I que, no entanto, desde há dois anos, tem uma
coluna num jornal de mexericos, cujo único fim parece ser o de denegrir a imagem e a honra de
A.

6. A, acossado pelos credores, prepara-se para ir para a África do Sul, para o que procura
secretamente comprador para as valiosas jóias de família que tem num cofre-forte no bamco do
seu amigo J.

Ajude o banco B a encontrar soluções possíveis para a tutela do seu crédito.

Caso prático n.º 12 – fiança

A emprestou a B 2.500.000 de Kwanzas. O cumprimento da obrigação de restituição foi,


pessoalmente, garantido por C.

1. Por acordo verbal com A – e sem o consentimento de B – C garantiu pessoalmente, e de modo


expresso, o pagamento.

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2. Por acordo escrito com B, C garantiu pessoalmente, e de modo expresso, o pagamento dos
2.500.000 Kz., bem como de toda e qualquer dívida, presente e/ou futura, de B perante A.

3. C obrigou-se, pessoal e subsidiariamente, à realização da prestação devida por B, ficando


convencionado que, em caso de incumprimento, C pagaria uma indemnização de 5.000.000 Kz.

4. O mútuo foi judicialmente anulado, após ficar provado que B contratara em erro, qualificado
por dolo, proveniente da actuação de C. Este sustenta, agora, a sua desvinculação enquanto
fiador.

5. No vencimento da obrigação do mutuário, A escreveu a C – que tinha maior poder económico –


exigindo o imediato pagamento dos 2.500.000 Kz. C pagou, pretendendo agora, exigir a mesma
quantia de B.

6. No vencimento da obrigação do mutuário, A escreveu a C – que se tinha obrigado como


principal pagador – exigindo o imediato pagamento dos 2.500.000 Kz. C recusou-se a pagar,
invocando que A se “esquecera” de um penhor constituído por D para garantia da dívida de B.

7. C – que se obrigara como principal pagador – recusou-se a pagar os 2.500.000 Kz. a A,


invocando que este devia a B, havia meses, 3.000.000 Kz., em virtude de uma compra e venda.

8. C pagou os 2.500.000 Kz. a A, que, no dia seguinte, recebeu a mesma quantia de B. C pretende
agora receber 2.500.000 Kz. de B.

9. Dois meses após o empréstimo, C telefonou a A exigindo-lhe que reclamasse o pagamento de B.


Porém, só passados meses A exigiu a quantia a B – entretanto insolvente – e, depois, a C.

10. O empréstimo contraído por B tinha natureza comercial. Entretanto, após decretada a
insolvência de B, A – que no respectivo processo, nada fez para cobrar o seu crédito – veio
exigir o pagamento a C.

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