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Direito das Obrigações — 2022/2023.

Subturmas 1 e 4

RELATIVIDADE/ EFICÁCIA EXTERNA DAS OBRIGAÇÕES

Caso prático n.º 1


António é proprietário de uma afamada marca de roupa. Um certo dia, sentado
num restaurante a aguardar a chegada de uns amigos, ouve a conversa na mesa do lado.
Tratava-se do jantar dos estilistas do seu rival, Bento, que debatiam uma excelente ideia
para a coleção da próxima estação, consistente na recuperação do burel como matéria-
prima.
António desculpou-se junto dos seus amigos e saiu imediatamente do restaurante.
Sabia que em Portugal só havia uma fábrica de burel, SóLã, e que essa fábrica tinha
pouca capacidade de produção. Entrou em contacto com eles imediatamente e adquiriu
toda a produção da fábrica por cerca de 3% mais do valor oferecido por Bento. A SóLã
ainda hesitou, pois já se havia comprometido com Bento. Porém, 3% a mais no preço
fazia uma diferença significativa para a SóLã, que tinha o financiamento das máquinas
para pagar ao Banco.
Bento teve fortes prejuízos, não conseguindo, a tempo do lançamento da nova
coleção, refazer os seus figurinos.

1. Bento pode pedir responsabilidades à SóLã? Com que fundamento?


2. E a António? Com que fundamento?

Admita, agora, que António, em vez de concorrente de Bento, era um consultor de


Bento para a nova coleção e comprou a produção da SóLã por 3% mais, para lançar
uma coleção própria.

3. Alteraria as respostas apresentadas em 3. e 4.? Fundamente.

Admitindo, agora, que António destruiu as máquinas da SóLã com o objetivo de


impedir o cumprimento do contrato de compra e venda celebrado com Bento, António
seria responsável perante a Só Lã (por lhe ter destruído as máquinas), mas não perante
Bento, que não era proprietário.

4. Alteraria as respostas apresentadas em 3. e 4.? Fundamente.

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Direito das Obrigações — 2022/2023. Subturmas 1 e 4

MODALIDADES DE OBRIGAÇÕES
Caso n.º 21

António é estofador e há anos que se abastece de tecidos na loja de Bento. Em


setembro, António celebrou com Bento um contrato pelo qual Bento lhe entregaria,
mediante o pagamento de 4€ por metro, 150 metros do tecido com a referência 12345,
de que António havia gostado muito quando visitou o armazém de Bento. Nessa altura,
foi convencionado que o pagamento teria lugar no dia da entrega, a realizar no atelier de
António, dia 28 de Outubro de 2010.

Considere separadamente as seguintes hipóteses:


a) Bento enviou a António 150 metros de tecido do rolo que estava em pior estado
(por estar guardado em local húmido). Quando António os recebe, exige a
entrega de outros 150 metros de tecido em melhor estado. Quid juris?

b) Em 2 de Outubro, a explosão de uma bilha de gás numa fração contígua ao


armazém de Bento provocou a destruição de todos os rolos com a referência
12345.
c) Em 20 de Outubro do mesmo ano, Bento celebrou com Carlos um contrato de
compra e venda de muitos metros do tecido 12345, tendo ficado em armazém,
apenas, com 150 metros. Bento teve um problema com um dos seus clientes que
dolosamente lhe cortou os referidos 150 metros do tecido 12345 existente no
armazém.
d) Quando Bento estava a levar o tecido para o atelier de António, teve um acidente
de viação imputável a terceiro que provocou o perecimento de todo o tecido
remanescente. António exige outros 150 metros. Quid juris?
No contrato entre bento e António, formou-se uma obrigação genérica
(539), o que significa que apenas o género do objeto tinha sido estabelecido,
neste caso o comprimento.
Sendo a obrigação genérica, não pode a transferência de propriedade ser
feita no momento de celebração do contrato (408/1). A transmissão de
propriedade, , e a correspondente transferência do risco, ocorre no

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Caso redigido pela Professora Raquel Rei.

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Direito das Obrigações — 2022/2023. Subturmas 1 e 4

momento da sua concentração, quando passa de genérica para especifica,


não se exigindo que essa concentração seja conhecida por ambas as partes.
No entanto, a nossa lei consagra, em relação a concentração de obrigações
por escolha do devedor a teoria da entrega, visto que o artigo 540 afirma
que enquanto for possível cumprir a obrigação com coisas do género
estipulado, não fica o devedor exonerado de cumprir a obrigação. Assim
sendo, se o devedor continua a ter que entregar coisas do mesmo género,
podemos concluir que a obrigação ainda não se concentrou e que só se irá
concentrar com o cumprimento. Assim sendo, é também esse o momento de
transferência da propriedade sobre a coisa objeto de obrigações genéricas,
visto que segundo o 408/2, é necessária a concentração da obrigação para
haver transferência de propriedade.
Cabe agora discutir se é aplicável aqui o artigo 540, e se houve um
perecimento do género da coisa. Visto que o disposto no caso afirma que
houve um perecimento de todo o tecido remanescente que ele tinha,
poderíamos dizer que o artigo 540 não é aqui aplicável. No entanto, sendo
esta uma obrigação genérica, significa que não existe só o tecido que bento
levava no carro, havendo sempre a possibilidade de bento encomendar mais
tecido do género ao seu fornecedor.

Caso prático n.º 32

A, comerciante de Lisboa, de visita à quinta de B, em Vila Real, entusiasmado


com os produtos agrícolas da quinta, celebrou com este o seguinte contrato: contra o
pagamento de 5.000 euros, A comprava a B 1.000 garrafas de vinho da enorme
garrafeira de B, do ano 2000. As garrafas seriam entregues a A no dia 9 de janeiro.
Ficou ainda convencionado que, em vez das garrafas de vinho, B poderia optar por
entregar a A 100 garrafões de azeite, de entre os inúmeros que B tinha em armazém.
Caracterizando as situações jurídicas envolvidas, aprecie fundadamente as
seguintes situações autónomas:

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JANUÁRIO DA COSTA GOMES / CARLOS LACERDA BARATA, Direito das obrigações. Casos práticos e
outros elementos para as aulas práticas, 2.º ed., Lisboa, 2007, 22 e 23.

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Direito das Obrigações — 2022/2023. Subturmas 1 e 4

1ª Hipótese: Em 7 de janeiro, A telefona a B dizendo-lhe que, afinal, optava


pelo azeito, sendo, porém, informado por este de que já destacara as garrafas de vinho e
que, aliás, vendera todo o azeite a um grossista.
Estamos perante um contrato de compra e venda.
No contrato realizado entre A e B há uma obrigação genérica, ou seja, é
uma obrigação que esta apenas definida quanto ao seu género. Há apenas uma
referencia ao género e quantidade de garrafas de vinho ou garrafões de azeite, não
se sabendo quais são as garrafas ou garrafões concretas (539 CC).
Neste caso, encontramos entre A e B uma obrigação com faculdade
alternativa. Esta é uma obrigação simples na qual existe existe apenas uma
prestação, no entanto, o devedor tem a faculdade(poder potestativo) de trocar o
objeto da obrigação por outro, exonerando-se da prestação principal. Regra geral
esta escolha cabe ao devedor (543/2), embora nada impeça que caiba ao credor, se
assim for estipulado pelas partes.
. Tal obrigação é evidente neste caso visto que, a obrigação principal era a
entrega, por parte de B, de 1000 garrafas de vinho da sua garrafeira, no entanto,
ficou convencionado que B tinha a faculdade de substituir esta obrigação pela
entrega de 100 garrafões de azeite que este dispunha no seu armazém. Nesta
modalidade de obrigações, o credor apenas pode exigir a obrigação principal, não
podendo exigir a hipótese alternativa, tendo no entanto que a aceitar se o devedor
assim o escolher, caso contrario incorre em mora. Isto significa que A não pode
escolher nem exigir o azeite, visto que na verdade, o azeite nem faz parte da
obrigação. A verdadeira prestação eram as garrafas de vinho, sendo os garrafões
de azeite uma mera maneira de B se exonerar da prestação do vinho .
Assim sendo, A terá que aceitar as garrafas de vinho no dia 9 de janeiro,
sob pena de entrar em mora, segundo o artigo 813 CC.
2ª Hipótese: Em 8 de janeiro, B informa A que não estava em condições de
satisfazer o acordado, já que as garrafas de vinho que destacara tinham sido destruídas
por um trator agrícola em manobras; quanto ao azeite, decidira guardá-lo para melhor
oportunidade de negocio.
Visto que a impossibilidade recai na obrigação principal, toda a obrigação
deixa de existir. Sendo esta uma impossibilidade superveniente (790/2CC) que
afetou a prestação devida, extingue-se essa prestação. Assim sendo, pouco interessa

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Direito das Obrigações — 2022/2023. Subturmas 1 e 4

que B queira guardar os garrafões de azeite para uma melhor oportunidade de


negocio, visto que A nem pode exigir a prestação desses garrafões. A única
obrigação que B tinha para com A eram as garrafas de vinho, a escolha que B
podia fazer pelos garrafões era um mero direito potestativo que ele possuía.
Sendo necessário discutir agora se esse incumprimento foi ou não culposo.

3ª Hipótese: Em 11 de janeiro, A telefona a B, manifestando a sua perplexidade


por não ter recebido os garrafões de azeite, único produto que lhe interessava. B
retorquiu-lhe que vendera todo o azeite e que, quanto às garrafas de vinho, elas estavam
embaladas desde a véspera à espera que A as fosse buscar. Mais avisou A que contava
com o pagamento de juros sobre os 5.000 euros em dívida.

Caso prático n.º 43


A é credor de B, C e D em 9.000 euros, estando a obrigação já vencida.
Desconhece-se se a obrigação em causa é civil ou comercial.

1ª Hipótese: A aciona B, que tem maior poder económico, para pagar os 9.000
euros, mas este contesta, referindo que, por contrato celebrado com C e D, tinham
acordado que seria este último a pagar os 9.000 euros, pelo que nada deve a A.

2ª Hipótese: A aciona B, que paga os 9.000 euros. Quando B exige 3.000 euros
a C e outro tanto a D, é confrontado com o argumento, oposto por estes, de que não têm
quaisquer possibilidades de pagar por estarem insolventes e que, de qualquer modo, B
só deveria ter pago a A “os seus” 3.000 euros.

3ª Hipótese: A exige judicialmente a B o pagamento dos 9.000 euros; B,


entretanto, falece, sendo seu herdeiro universal precisamente A, que agora pretende
exigir os 9.000 euros a C.

4ª Hipótese: Suponha que as partes acordaram um prazo mais dilatado para o


pagamento da dívida e 300 euros de juros vencidos à data do acordo. Vários meses antes

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JANUÁRIO DA COSTA GOMES / CARLOS LACERDA BARATA, Direito das obrigações. Casos práticos e
outros elementos para as aulas práticas, 2.º ed., Lisboa, 2007, 24 e 25.

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Direito das Obrigações — 2022/2023. Subturmas 1 e 4

de o prazo expirar, D paga a dívida a A, na totalidade; posteriormente, escreve a B e a C


exigindo de cada um deles a entrega de 3.100 euros e ainda mais 50 euros a cada, uma
vez que, com a antecipação do pagamento, tivera um prejuízo de 150 euros.

5ª Hipótese: A cede ao seu amigo E metade do crédito. Tendo sabido do


contrato celebrado, D acorda com E a extinção da obrigação, contra a entrega a este de
um barco de que é proprietário. Mais tarde, A vem exigir a C o pagamento dos 9.000
euros. Por sua vez, D exige a B e C o pagamento de 4.500 euros.

6ª Hipótese: Suponha agora que, do contrato celebrado entre A, por um lado, e


B, C e D, por outro, resultava a obrigação de entrega, por estes àquele, em conjunto, de
um quadro; simplesmente, apesar dos esforços de B e C, D recusa-se a colaborar na
entrega, invocando o valor estimativo do quadro, de que não se apercebera no momento
do contrato.
CONTRATOS: CLASSIFICAÇÕES
Caso prático n.º 54
A vendeu a B um determinado automóvel, pelo preço de 20.000 euros, ficando
convencionado o pagamento em 20 mensalidades, iguais e sucessivas. As partes
estipularam ainda que B se tornaria dono do veículo no momento da liquidação da
última mensalidade.
1.ª Hipótese: Dias depois, A vendeu o carro a C, por 22.000 euros, entregando-
lhe o veículo. Quid juris?
2.ª Hipótese: Na semana seguinte, B doou o veículo a D. Desconhece-se se
algum dos intervenientes procedeu a algum registo. Quid juris?
3.ª Hipótese: Na data da celebração do contrato, o veículo foi entregue a B, que
o passou a usar regularmente. Um ano depois, em virtude de uma explosão, resultante
de caso fortuito, o automóvel ficou totalmente destruído. B recusa-se a pagar o resto do
preço em dívida e exige de A a entrega de outro veículo com iguais características.
Quid juris?
4.ª Hipótese: Passados 15 meses, B deparou-se com súbitos problemas
financeiros, pelo que não procedeu ao pagamento da respetiva mensalidade. Por isso, A
exige a B a imediata liquidação do montante total em dívida, sob pena de operar a

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JANUÁRIO DA COSTA GOMES / CARLOS LACERDA BARATA, Direito das obrigações. Casos práticos e
outros elementos para as aulas práticas, 2.º ed., Lisboa, 2007, 33 e 34.

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Direito das Obrigações — 2022/2023. Subturmas 1 e 4

extinção do contrato; para tanto, A invoca uma cláusula incluída no contrato, cuja
validade B questiona. Quid juris?
5.ª Hipótese: Semanas depois da venda do carro, A vendeu, também, a B — nas
mesmas condições, mas pelo preço de 600 euros — um sofisticado leitor de CDs, que B
pretendia vir a instalar no veículo. Porém, passados apenas escassos dias, B vendeu o
aparelho a E, por 750 euros. Quid juris?

CONTRATO PROMESSA
Caso prático n.º 6
Num guardanapo de papel, escrito a meias, Joana prometeu vender e Luís
prometeu comprar certo terreno em que este espera vir a construir um prédio, por €
400.000. O acordo foi assinado por ambos e foi combinada a escritura dali por um ano.

a) Identifique o contrato celebrado entre Joana e Luís e diga se o mesmo é


válido.

b) Se o terreno pertencesse a Joana e a Manuel poderia Joana, validamente,


prometer vendê-lo a Luís?

c) Suponha agora que só Joana assinou o guardanapo. Farto da demora de Joana,


que nunca mais se dispunha a celebrar a escritura, Luís intenta uma acção
destinada a «forçar Joana a cumprir». Esta invoca a nulidade do contrato e, de
qualquer maneira, requer ao tribunal que determine um prazo para Luís depositar
o preço da compra. Quem terá razão?

d) Imagine, por fim, que Luís havia entregado 10% do preço a Joana e exige
agora, farto da demora desta, a sua restituição em dobro ou, subsidiariamente, a
«condenação de Joana a cumprir».

Caso prático n.º 7


Carlos e Daniela, noivos, encontraram a casa da sua vida. Contudo, a compra da
mesma está dependente do resultado da avaliação do Banco a quem pediram o
financiamento. Assim, celebraram com António um contrato nos termos do qual

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António promete vender a Carlos e a Daniela, que, por sua vez, prometem comprar ao
primeiro o dito apartamento, por 300.000€. Todos assinaram um documento em que
ficaram consignadas todas as combinações.
A compra e venda deveria celebrar-se até ao final de Setembro de 2010 e cabia a
Carlos e a Daniela marcá-la. Não o fizeram, porém.
Em 5 de Outubro António recebe uma carta de Carlos e Daniela marcando a
escritura para o dia 10 de Outubro de 2010. Na volta do correio, Carlos e Daniela são
surpreendidos com uma carta de António em que este afirma “não tendo sido marcado o
contrato até ao final de Setembro, celebrei contrato com eficácia real com outra pessoa,
a quem prometi vender o apartamento por 310.000€”.
Alguns dias mais tarde, Daniela descobre que o outro promitente-comprador do
apartamento é Ernesto, mediador imobiliário a quem Daniela tinha falado da sua
“paixão pelo meu apartamento”. Ernesto, sabendo do atraso do banco financiador dos
noivos na concessão do empréstimo necessário à compra e venda e do preço baixo do
apartamento, apressou-se a garantir a sua posição junto do proprietário, de molde a,
depois, vendê-lo a Daniela e a Carlos por 320.000-325.000€.

a) Admitindo que Carlos e Daniela conseguem executar especificamente o


contrato, pode Ernesto tornar-se proprietário do apartamento? Se sim, de que
modo?

b) Pode Carlos exigir uma indemnização de Ernesto? (remissão para as


aulas do início do semestre)

Caso prático n.º 85


Augusto celebrou, por escrito, com Bento, um contrato nos termos do qual,
mediante o adiantamento de € 80.000, Bento assumiu a obrigação de vender ao primeiro
um apartamento, por € 160.000, até ao final de setembro deste ano. Augusto, por seu
turno, declarou que compraria o apartamento e marcaria a compra e venda para duas
semanas depois de o banco aprovar o financiamento.
Para que Augusto pudesse visitar o apartamento com o avaliador do banco,
Bento entregou-lhe as chaves.

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O caso corresponde, parcialmente, a um exame de Direito das Obrigações I, 2.º A, de dezembro de
2011.

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Três semanas depois da avaliação do banco, Augusto ainda não tinha marcado a
compra e venda, razão pela qual Bento vendeu o apartamento a Carlos por €340.000.
Ao saber do sucedido, Augusto declara a Bento que vai executar o acordo e que,
em qualquer caso, não entrega o apartamento a Carlos até que lhe sejam pagos €
260.050,00 (€ 80.000,00 correspondente à quantia inicial mais € 50,00 pela
desvalorização dos € 80.000,00 entretanto ocorrida, e os restantes € 180.000,00
correspondentes à quantia a mais que Bento recebeu de Carlos). Bento afirma que o
contrato é inválido por falta de forma e que, na pior das hipóteses, apenas entregará a
Augusto € 160.000.
a) Qualifique o contrato celebrado entre Augusto e Bento, pronunciando-se sobre a
sua validade;
b) Pronuncie-se quanto aos direitos de Augusto sobre Bento e sobre Carlos;

Caso prático n.º 96


Ao fim de 3 meses de negociações, António, Bento e Carlos chegam, finalmente,
a acordo, durante um jantar bastante animado. Atendendo ao tempo que o processo
demorara e ao receio de algum deles mudar de opinião, os presentes redigiram e
assinaram, de imediato, o acordo entre todos alcançado:
— António e Bento, proprietários de um terreno situado em Loures, obrigam-se
a vender o terreno a Carlos, que se obriga a comprá-lo, por 100.000, até o dia 1 de
Novembro de 2013.
— António e Bento autorizaram Carlos a começar a construir no terreno e, se
necessário, a diligenciar junto da Câmara Municipal de Loures a obtenção de alguma
licença;
— Carlos entregou aos proprietários um cheque de 20.000€, pedindo-lhes que
apenas o depositassem na semana seguinte;
— todos declararam que pretendiam manter a possibilidade da execução
específica.
Carlos marca a compra e venda para o dia 31 de Outubro. Para seu espanto,
Bento aparece no Cartório, aflito, a dizer que António se recusa a vender. Carlos, que
encontrara dificuldades inesperadas na Câmara, esfrega as mãos de contentamento e
exige de Bento 40.000€. Bento recusa-se a pagar, pois pretende cumprir e afirma que,
em último caso, recorrerá à execução específica contra António e contra Carlos.
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Este caso prático corresponde a um exame de dezembro de 2013.

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Apreciando os argumentos dos personagens, apresente os direitos de António,


Bento e Carlos.

PACTO DE PREFERÊNCIA / CONTRATO A FAVOR DE TERCEIRO


Caso prático n.º 107
A, dono de um vistoso Porsche amarelo, celebrou um pacto de preferência com
B, comprometendo-se, por escrito, a dar preferência ao mesmo B no caso de, algum da,
vender, alugar ou doar o carro.
Desconhece-se se foi atribuída eficácia real.

1ª Hipótese: Um mês depois, C apresenta-se a B, provando, por testemunhas


idóneas, que A lhe vendera o carro.
2ª Hipótese: Quinze dias após o contrato, B recebe um carta de A, notificando-o
para exercer a preferência, no prazo de três dias, uma vez que tinha uma proposta de D,
que pretendia pagar o carro a pronto oito dias depois. B responde afirmativamente,
decorridos cinco dias.
3ª Hipótese: O mesmo que na hipótese anterior, com a diferença de que A
comunicara que o automóvel iria ser vendido a E, por 50.000euros, mas em conjunto
com a garagem de que era proprietário e ficando E vinculado a tratar-lhe do jardim
durante um ano.
4ª Hipótese: B tem conhecimento de que A vendera o carro a F por 20.000euros,
mas que do contrato escrito celebrado constava apenas o valor de 10.000euros.
5ª Hipótese: B tem conhecimento de que A vendera o carro a G por 10.000euros
mas que do contrato escrito celebrado constava o valor de 20.000euros.
6.ª Hipótese: A escreve a B propondo-se vender-lhe o carro por 30.000 euros. B
recusa, mas vem a saber que A vendera o carro a H por 29.500 euros.
7.ª Hipótese: B tem conhecimento de que A vendera o carro ao seu inimigo I,
por 50.000 euros e pretende anular a venda ou obter uma indemnização de A e I, já que,
quando A o notificou para exercer a preferência, informara-o, para esconder o acordo
com I, que a venda seria feita a J.
8.ª Hipótese: B tem conhecimento de que A vendera o automóvel a L. Intimado
por B, A invoca a nulidade do acordo celebrado entre ambos, já que, à data do mesmo,

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JANUÁRIO DA COSTA GOMES / CARLOS LACERDA BARATA, Direito das obrigações. Casos práticos e
outros elementos para as aulas práticas, 2.º ed., Lisboa, 2007, 60 e 61

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tinha já prometido a L que, em qualquer futura celebração de um acordo de preferência,


lhe daria primazia.

Caso prático n.º 11


João é proprietário de uma casa na serra da Arrábida que Matilde sempre quis
comprar. Como João não lha queria vender, Matilde conseguiu que João assinasse um
documento particular onde se comprometia a dar preferência a Matilde na venda da casa
durante um período de 10 anos.
Três anos depois João telefona a Matilde a dizer que receberam uma proposta de
venda da casa por € 200.000, a pagar dali a um mês, com a outorga da escritura, e que
pretendia aceitar. Matilde, feliz, responde imediatamente que aceita.
Duas semanas depois, Matilde constata que não tem nem consegue os 200.000€ em
apenas um mês e telefona de novo a João dizendo-lhe que o melhor era celebrar o
negócio com o terceiro, pois ela não acredita que consiga financiamento até à data da
escritura. Como João havia informado o terceiro acerca da resposta de Matilde, este já
está em processo de aquisição de outro imóvel, não pretendendo adquirir o de João.
Na data da escritura nem o terceiro nem Matilde aparecem no Cartório.

Caso prático n.º 12


Guilherme e Hélder celebraram um contrato nos termos do qual, mediante o
pagamento de 5.000€ por Hélder, Guilherme assume a obrigação de dar preferência a
Inês na venda de um apartamento de que era proprietário em Lisboa. As partes celebram
o contrato por documento particular autenticado e registam-no, pois pretendem
expressamente eficácia real.
Cinco anos depois, Inês recebe uma carta de Guilherme a comunicar que
recebera uma proposta de venda do seu apartamento de 180.000€, a pagar a pronto, daí
a 60 dias, do Senhor Jaime, que pretendia aceitar. Dizia que esperaria 10 dias pela
resposta de Inês.
Inês não percebe a que título recebeu aquela carta, mas prepara-se para aceitar, pois o
negócio interessa-lhe.
Entretanto, Hélder toma conhecimento do sucedido e apresenta-se a Guilherme
dizendo que pretende ser ele a preferir. Dois dias depois Guilherme recebe uma carta de
Inês aceitando comprar por 180.000€.
Guilherme, sem saber o que fazer, mas não pretendendo perder o negócio, vende

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o apartamento a Jaime. Para pouparem nos impostos, porém, na escritura declaram


apenas o preço de 92.000€ (apesar de Jaime entregar os 180.000€ combinados).

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