Você está na página 1de 24

lOMoARcPSD|6131319

Casos Práticos Resolvidos de DPC I (casos 1 a 26)

Direito (Universidade de Lisboa)

A Studocu não é patrocinada ou endossada por alguma faculdade ou universidade


Descarregado por Joana Barros (joana.relvas.barros@hotmail.com)
lOMoARcPSD|6131319

CASOS PRÁTICOS DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL I

I – Tipos de Ação e Valor da Causa

Caso 1
No final do jogo de futebol entre Portugal e a República Checa, visivelmente irritado com o resultado, Abel
atirou pela janela do seu quarto uma garrafa de vinho. Baltazar ia a passar na rua quando foi atingido na
cabeça pela garrafa. Baltazar desmaiou e teve de ser internado no hospital para receber tratamento.

Baltazar intentou ação contra Abel, pedindo uma indemnização, no valor de 3.000€, pelos danos sofridos.

Identifique o tipo de ação, o valor da causa, o pedido e a causa de pedir.

Tipo de Ação: Ação declarativa de condenação (10º/2 e 3/b) CPC)


Valor da Causa: 3.000€ (296º/1 e 297º/1 CPC)
Pedido: Indemnização, no valor de 3.000€.
Causa de Pedir: Danos sofridos devido a ter sido atingido na cabeça pela garrafa de vinho.

Caso 2
Ana comprou à sociedade Bortix Lda uma cadeira robotizada para o seu consultório médico. A cadeira
custou 25.000€ e foi entregue na data acordada, mas o instalador, rapaz novo e pouco familiarizado com
este modelo, danificou um componente crítico, assim que a retirou da embalagem.

Ana pretende a reparação (avaliada em 5.000€) da cadeira e prepara-se para intentar uma ação judicial.

Identifique o tipo de ação, o valor da causa, o pedido e a causa de pedir.

Tipo de Ação: Ação declarativa de condenação (10º/2 e 3/b) CPC)


Valor da Causa: 5.000€ (296º/1 e 297º/1 CPC)
Pedido: Reparação da cadeira, no valor de 5.000€.
Causa de Pedir: Danos num componente crítico da cadeira, ao ser retirada da embalagem.

Caso 3
Bento propôs acção de indemnização, no valor de 5.000 €, contra a sociedade Automóveis e Companhia,
pelos danos causados pelo acidente de viação com um camião da sociedade.

Identifique o tipo de ação, o valor da causa, o pedido e a causa de pedir.

Descarregado por Joana Barros (joana.relvas.barros@hotmail.com)


lOMoARcPSD|6131319

Tipo de Ação: Ação declarativa de condenação (10º/2 e 3/b) CPC)


Valor da Causa: 5.000€ (296º/1 e 297º/1 CPC)
Pedido: Indemnização, no valor de 5.000€.
Causa de Pedir: Danos causados pelo acidente de viação com um camião da sociedade.

Caso 4
Artur, argentino, visitava Portugal quando se cruzou com Belmiro, o qual, confundindo Artur com Carlos –
que o havia burlado no passado –, seguiu-o pelas ruas, chamando-lhe, em voz alta, “burlão” e “corrupto”,
e atraindo a atenção de muitas pessoas.

Artur, que era um cantor famoso, foi reconhecido pelos transeuntes que passavam e que o criticavam,
fazendo fé nas palavras de Belmiro.

Artur, que se sentiu atingido na sua honra, intentou ação contra Belmiro, pedindo a indemnização, no valor
de 14.000€, pelos danos sofridos.

Identifique o tipo de ação, o valor da causa, o pedido e a causa de pedir.

Tipo de Ação: Ação declarativa de condenação (10º/2 e 3/b) CPC)


Valor da Causa: 5.000€ (296º/1 e 297º/1 CPC)
Pedido: Indemnização, no valor de 14.000€.
Causa de Pedir: Danos sofridos em virtude da violação do seu direito ao bom nome.

Caso 5
Alberta celebrou com Bernardo um contrato de compra e venda de uma escultura, pelo preço de 30.000€,
tendo sido estipulado que a escultura deveria ser entregue no Seixal, contra o pagamento do preço.

Poucos dias depois, Alberta descobre que havia comprado uma mera réplica do original.

Propõe contra Bernardo ação de anulação do contrato de compra e venda da referida escultura, fundada
em erro, pedindo ainda uma indemnização de 15.000€ por ter perdido uma oportunidade de venda da
referida escultura, em que lucraria esse montante.

Identifique o tipo de ação, o valor da causa, o pedido e a causa de pedir.

Tipo de Ação: Ação declarativa constitutiva (10º/2 e 3/c) CPC)


Valor da Causa: 45.000€ (296º/1, 301º/1, 297º/1 e 2 CPC)
Pedido: Indemnização, no valor de 15.000€; e anulação do contrato de compra e venda.
Causa de Pedir: Erro e lucros cessantes.

Descarregado por Joana Barros (joana.relvas.barros@hotmail.com)


lOMoARcPSD|6131319

Caso 6
António celebrou com a sociedade Casas e Casinhas um contrato de arrendamento de um imóvel que o
mesmo herdou, para habitação do representante da sucursal em Lisboa da sociedade, pelo valor mensal
de 1.000€.

Como a sociedade já não pagava três meses de renda, António, propõe ação de despejo contra a sociedade
Casas e Casinhas, pedindo o pagamento das rendas vencidas e vincendas, bem como a resolução do
contrato de arrendamento.

Identifique o tipo de ação, o valor da causa, o pedido e a causa de pedir.

Tipo de Ação: Ação declarativa, de condenação e constitutiva (10º/2 e 3/b) e c) CPC)


Valor da Causa: 33.000€ (296º/1 e 298º/1 CPC)
Pedido: Ação de despejo, pagamento das rendas vencidas e vincendas e resolução do contrato.
Causa de Pedir: Não pagamento de três meses de renda.

Caso 7
Alexandre é proprietário de um imóvel denominado “Herdade da Bolota”, composta por um imóvel e 10
hectares de terreno, no valor de 800.000,00€, sito em Évora, habitualmente ao cuidado do caseiro, Bento.

Um dia, Alexandre foi impedido de entrar na Herdade, porque o seu comando do portão da “Herdade da
Bolota” não o abria. Ao telefonar a Bento, ficou a saber que no dia anterior, Carlos, anterior proprietário da
Herdade, arrombara o portão da “Herdade da Bolota”, entrara na Herdade e no imóvel da mesma, mudara
os comandos de acesso ao portão e as fechaduras da casa, e informara Bento que decidira voltar a viver na
“Herdade da Bolota”.

Ao tomar conhecimento destes factos, Alexandre sofreu um ataque cardíaco, tendo tido necessidade de
receber tratamento médico no Hospital da Misericórdia de Évora.

Alexandre instaurou uma ação contra Carlos, pedindo o reconhecimento do seu direito de propriedade
sobre o imóvel “Herdade da Bolota” e o pagamento de uma indemnização no valor 50.000,00€,
correspondente ao valor dos danos patrimoniais e não patrimoniais sofridos.

Identifique o tipo de ação, o valor da causa, o pedido e a causa de pedir.

Tipo de Ação: Ação declarativa, de simples apreciação e de condenação (10º/2 e 3/a) e b) CPC)
Valor da Causa: 850.000€ (296º/1, 302º/1 e 297º/1 e 2 CPC)
Pedido: Reconhecimento de direito de propriedade de imóvel; e indemnização no valor de 50.000€.
Causa de Pedir: Danos patrimoniais e não patrimoniais sofridos em virtude da ocupação do seu imóvel.

Descarregado por Joana Barros (joana.relvas.barros@hotmail.com)


lOMoARcPSD|6131319

II – Princípios de Direito Processual Civil

Caso 8
Comente a seguinte afirmação:

«Os n.º s 3 e 4, ambos introduzidos no CPC de 1961 pelo DL 329-A/95, aperfeiçoados pelo DL 120/96 e
mantidos com idêntica redação no CPC de 2013, consagram o princípio do contraditório, o primeiro em
geral e na vertente proibitiva da decisão–surpresa e o segundo no aspeto da alegação dos factos da causa».

• Relevância do princípio do contraditório, decorrência do princípio da igualdade das partes, levou o


legislador a consagrá-lo formalmente no art. 3.º CPC, destacando-se, o dever de o juiz observar e
fazer cumprir o princípio do contraditório, salvo nos casos excecionais previstos na lei (art. 3.º/2
CPC), não lhe sendo, em regra, lícito decidir questões de direito ou de facto, mesmo que de
conhecimento oficioso, sem que as partes tenham tido a possibilidade de sobre elas se
pronunciarem, salvo caso de manifesta desnecessidade (art. 3.º/3 CPC). Surge assim a vertente
proibitiva da decisão–surpresa.

• Note-se ainda que às exceções deduzidas no último articulado admissível pode a parte contrária
responder na audiência prévia ou, não havendo lugar a ela, no início da audiência final (art. 3.º/4
CPC), assegurando-se assim que nenhum facto novo alegado no último articulado admissível fica
sem ser analisado e respondido pela parte contrária. Porém, neste caso, o direito ao contraditório
tem de ser conjugado com o princípio da concentração da defesa e o ónus de impugnação (art.
574.º CPC). Encontramos assim o aspeto da alegação dos factos da causa.

• LEBRE DE FREITAS / ISABEL ALEXANDRE: “Resultam estes preceitos duma conceção moderna do
princípio do contraditório, mais ampla que a do direito anterior à sua introdução no nosso
ordenamento. Não se trata já apenas de, formulado um pedido ou tomada uma posição por uma
parte, ser dada à contraparte a oportunidade de se pronunciar antes de qualquer decisão e de,
oferecida a prova por uma parte, ter a parte contrária o direito de se pronunciar sobre a sua
admissão ou de controlar a sua produção. Este direito à fiscalização recíproca das partes ao longo
do processo é hoje entendido como corolário duma conceção mais geral da contraditoriedade,
como garantia da participação efetiva das partes no desenvolvimento de todo o litígio, em termos
de, em plena igualdade, poderem influenciar todos os elementos (factos, provas, questões de
direito) que se encontrem em ligação, direta ou indireta, com o objeto da causa e em qualquer fase
do processo apareçam como potencialmente relevantes para a decisão”.

Caso 9
Comente a seguinte afirmação:

«O direito de acesso aos tribunais é um direito a uma solução jurídica dos conflitos (…) possibilitando-se,
designadamente, um correto funcionamento das regras do contraditório, em termos de cada uma das
partes pode deduzir as suas razões (de facto e de direito)».

Descarregado por Joana Barros (joana.relvas.barros@hotmail.com)


lOMoARcPSD|6131319

• O direito de acesso aos tribunais encontra-se formalmente consagrado na Constituição da


República Portuguesa, enquanto direito fundamental decorrente do princípio da tutela jurisdicional
efetiva (art. 20.º CRP), corolário de um Estado de Direito (art. 2.º CRP)

• O legislador processual civil concretizou o direito de acesso aos tribunais no art. 2.º do CPC, ao
consagrar, por um lado, que “(A) proteção jurídica através dos tribunais implica o direito de obter,
em prazo razoável, uma decisão judicial que aprecie, com força de caso julgado, a pretensão
regularmente deduzida em juízo, bem como a possibilidade de a fazer executar” (art. 2.º/1 CPC).

• Ou seja, todas as pessoas podem aceder aos tribunais para (i) obter uma decisão de mérito, (ii) com
força de caso julgado, sobre o litígio que apresenta, (iii) num prazo razoável (cf. também o art.
20.º/4 CRP), e (iv) para executar a decisão judicial que lhe tenha sido favorável, pois só a garantia
de execução coerciva das decisões judiciais asseguram o respeito pelos tribunais, a justiça e a paz
social que se pretende quando confiamos nos tribunais a resolução dos conflitos. Caso contrário,
teríamos a autotutela, que é proibida, salvo nos casos legalmente salvaguardados (art. 1.º CPC).

• Por outro lado, o legislador processual civil concretizou que a todo o direito corresponde a ação
adequada a fazê-lo reconhecer em juízo, a prevenir ou reparar a violação dele (arts. 2.º/2,
10.º/1/1.ª parte e 10.º/2 CPC) e a realizá-lo coercivamente (arts 2.º/2, 10.º/1/2.ª parte e 10.º/4 a
6 CPC), bem como os procedimentos necessários para acautelar o efeito útil da ação (os
procedimentos cautelares (arts. 362.º a 409.º CPC).

• Porém, o direito de acesso aos tribunais de nada valeria sem o cumprimento do princípio do
contraditório, que tal como referido na frase objeto de comentário, se revela na possibilidade de
“cada uma das partes pode deduzir as suas razões (de facto e de direito), oferecer as suas provas,
controlar as provas do adversário e discretear sobre o valor e resultado de umas e outras”.

• A relevância do princípio do contraditório, decorrência do princípio da igualdade das partes, levou


o legislador a consagrá-lo formalmente no art. 3.º CPC, destacando-se, o dever de o juiz observar
e fazer cumprir o princípio do contraditório, salvo nos casos excecionais previstos na lei (art. 3.º/2
CPC), não lhe sendo, em regra, lícito decidir questões de direito ou de facto, mesmo que de
conhecimento oficioso, sem que as partes tenham tido a possibilidade de sobre elas se
pronunciarem, salvo caso de manifesta desnecessidade (art. 3.º/3 CPC).

• Note-se ainda que às exceções deduzidas no último articulado admissível pode a parte contrária
responder na audiência prévia ou, não havendo lugar a ela, no início da audiência final (art. 3.º/4
CPC), assegurando-se assim que nenhum facto novo alegado no último articulado admissível fica
sem ser analisado e respondido pela parte contrária. Porém, neste caso, o direito ao contraditório
tem de ser conjugado com o princípio da concentração da defesa e o ónus de impugnação (art.
574.º CPC).

• Por último, a doutrina sublinha que a igualdade de armas das partes e o direito ao contraditório
são manifestações do direito a um processo justo ou a um processo equitativo (maxime TEIXEIRA
DE SOUSA, COSTA E SILVA e LEBRE DE FREITAS), reconhecido formalmente no art. 10.º DUDH, NO
ART. 14.º/1 PIDCP, no art. 6.º CEDH e no art. 20.º/4 CRP (desde a revisão de 1997).

Descarregado por Joana Barros (joana.relvas.barros@hotmail.com)


lOMoARcPSD|6131319

Caso 10
Comente a seguinte afirmação:

«O princípio do inquisitório tem várias vertentes e não se confunde com o princípio da oficiosidade».

• Analisar a forma como o princípio do inquisitório opera no domínio dos factos (arts. 5º e 986º/2
CPC) e no domínio da prova (art. 411º CPC).

• Explicar a diferença entre factos essenciais, instrumentais e concretizadores (art. 5º CPC), bem
como a sua relação com os princípios do dispositivo e do inquisitório.

• A afirmação está certa, porque o princípio da oficiosidade (arts. 3º/3 e 6º/2) prende-se, não com a
investigação de factos ou com o coligir de provas para o processo, mas com a decisão de questões
pelo juiz, independentemente de pedido das partes.

• Explicar que o princípio da oficiosidade advém do princípio da gestão processual, e a sua relevância
no suprimento de exceções dilatórias em despacho pré-saneador (arts. 6º/2 e 590º/2/a) CPC).

• O princípio da oficiosidade não significa que o juiz esteja obrigado ou possa investigar os factos que
estão na base das matérias de conhecimento oficioso.

Caso 11
Comente a seguinte afirmação:

«O princípio do dispositivo é um princípio essencial do direito processual civil declaratório e manifesta-se


tanto no plano do impulso do processo como no da disponibilidade do seu objeto. Neste último plano, há a
assinalar a vertente da disponibilidade do pedido e a da disponibilidade dos factos necessários à decisão
desse pedido».

• Referir que o princípio dispositivo tem várias vertentes, a primeira delas sendo a do impulso
processual inicial (art. 3º/1).

• Quanto à vertente da disponibilidade do pedido, ver o art. 615º/1/e) – nulidade da sentença por
excesso de pronúncia.

• Quanto à vertente da disponibilidade dos factos, ver o art. 5º e identificar os factos sujeitos ao
princípio dispositivo e os factos sujeitos ao princípio do inquisitório: factos essenciais,
instrumentais e concretizadores.

• Mencionar os processos de jurisdição voluntária, relativamente aos quais vigora o princípio do


inquisitório no domínio dos factos, mesmo essenciais (art. 986º/2).

• Relacionar o princípio dispositivo com o princípio da autonomia privada.

Descarregado por Joana Barros (joana.relvas.barros@hotmail.com)


lOMoARcPSD|6131319

Caso 12
Comente a seguinte afirmação:

«Face à consagração ampla do dever de gestão processual, entendemos que – atualmente – o dever de
prevenção radica, em primeira linha, no dever de gestão processual («providenciar pelo seu andamento
célere») e só em segunda linha no dever de cooperação».

• Identificação dos princípios da cooperação e do princípio (dever) de gestão processual e suas


concretizações normativas;

• Problematização sobre se o designado “dever de gestão processual” é, em sentido técnico-jurídico,


um dever, um poder-dever ou um princípio;

• Problematizar historicamente a evolução do princípio da gestão processual, nomeadamente a


pretérita consagração no artigo 265.º do Código de Processo Civil, aprovado pelo Decreto-Lei
44129, de 28 de dezembro de 1961;

• Análise crítica da existência na atual redação do CPC de uma consagração ampla do dever de gestão
processual ou, em termos alternativos, se não se mantêm as estruturas essenciais daquele
princípio/dever já existentes na anterior redação do CPC;

• Definição e densificação do dever de prevenção do tribunal e o seu fundamento;

• Análise da interceção ou das fronteiras entre o princípio da cooperação e do princípio/dever de


gestão processual.

Caso 13
Comente a seguinte afirmação:

«O juiz não pode considerar, na decisão, factos principais diversos dos alegados pelas partes (…), mas pode
ter em conta factos instrumentais».

• Análise da relevância do princípio do dispositivo no direito processual civil português.

• Distinção entre os sistemas da disponibilidade privada e da inquisitoriedade judiciária.

• Distinção entre factos essenciais e instrumentais à luz do art. 5.º do CPC.

Caso 14
Comente a seguinte afirmação:

«O juiz deve julgar de acordo com os factos alegados e provados pelas partes (“iudex iudicare debet
secundum iuxta alligata et probata partum”)».

Descarregado por Joana Barros (joana.relvas.barros@hotmail.com)


lOMoARcPSD|6131319

• Análise da relevância do princípio do dispositivo no direito processual civil português.

• Distinção entre os sistemas da disponibilidade privada e da inquisitoriedade judiciária.

• Distinção entre factos essenciais e instrumentais à luz do art. 5.º do CPC.

Caso 15
Comente o seguinte tema: A solução constante do artigo 278º, nº3 CPC à luz da evolução histórica da
competência funcional para conhecimento dos pressupostos processuais, das alterações das estruturas
processuais e do princípio do aproveitamento máximo dos atos jurídicos.

• Enquadramento histórico do princípio da prevalência da substância sobre a forma: funções do


praetor e do iudex (Direito Romano).

• Explicação da norma assente na ideia de que o pressuposto processual em falta se destina à tutela
do interesse de uma das partes, mas em que é possível conhecer do mérito da causa e a decisão
deve ser inteiramente favorável, mediante a utilização de exemplos.

• Análise do artigo 278.º n.º 3 CPC e do artigo 6.º, n.º 2 CPC como exemplos desse princípio.

Caso 16
Andreia comprou a Dinis um prédio urbano, por cerca de 135.000 €, um valor bastante abaixo do valor de
mercado, por ter permitido que a avó de Dinis, Ester, permanecesse na casa nos 12 meses seguintes à
realização da escritura pública de compra e venda. Até a esta data, porém, a casa continua ocupada,
recusando-se Ester a entregar o imóvel livre de pessoas e bens.

Andreia tenciona intentar uma ação contra Ester, pedindo o reconhecimento do seu direito de propriedade
sobre o prédio, bem como a restituir-lhes o imóvel.

Se, na instrução, viesse a ficar provado que, como consequência da ocupação da moradia, Andreia havia
sofrido prejuízos no valor de 1.000 €, podia o juiz condenar Ester a pagar-lhes tal quantia? Em caso negativo,
quais as consequências se o fizesse?

• Analisar as consequências da violação do princípio do pedido (art. 3º/1 CPC), emanação do princípio
dispositivo.

• Referir o pedido como elemento do objeto do processo (art. 552º/1/e) CPC).

• Referir o art. 615º/1/e) CPC, no que diz respeito à condenação nos 1.000 euros, bem como o regime
da nulidade da sentença.

Descarregado por Joana Barros (joana.relvas.barros@hotmail.com)


lOMoARcPSD|6131319

Caso 17
Sendo notificado da sentença, na qual o juiz absolveu os réus do pedido por entender que o contrato era
nulo, André considera que a decisão não é válida, porque nenhuma das Partes alegou essa nulidade.

André tem razão?

• Nulidade é de conhecimento oficioso (art. 286º CC)

• Faz parte das garantias do processo equitativo a previsibilidade da decisão: as partes não devem
ser surpreendidas com a utilização pelo tribunal, em qualquer decisão, de argumentos que não
tenham sido discutidos em processo (art. 3º/3/2ª parte CPC)

• Manifesta-se aqui o princípio do contraditório, do qual resulta um direito das partes à audição
prévia, que consiste não só em ouvir a parte contrária antes de decidir (art. 3º/3/1ª parte CPC), mas
também em o juiz não decidir questões de direito ou de facto, mesmo que sejam de conhecimento
oficioso, sem que as partes tenham tido a possibilidade de se pronunciarem sobre elas (art. 3º/3/2ª
parte CPC)

• Manifesta-se também o princípio da cooperação, segundo o qual o tribunal tem o dever de


consultar as partes sempre que pretenda conhecer de matéria de facto ou de direito sobre a qual
aquelas não tenham tido a possibilidade de se pronunciarem (art. 3º/3 CPC)

• Com o cumprimento destes deveres procura-se a proibição das “decisões-surpresa”, isto é, às


decisões com fundamentos de facto ou de direito inesperados para as partes, como é o caso.

• A não audição prévia das partes constitui uma nulidade processual (por omissão de uma
formalidade que a lei impõe: art. 195º/1 CPC).

Caso 18
Imagine que o juiz ao qual é distribuído o processo verifica que é credor do Réu, na quantia de 50.000 €,
que este lhe pedira emprestado quando emigrara para o estrangeiro.

Qual deve ser a conduta adotada pelo juiz e pelas Partes?

• Se o juiz for credor de uma das partes (in casu, do Réu) estamos perante uma causa legal de
suspeição do juiz, expressamente prevista no art. 120.º/1/alínea d) CPC, por se tratar de um motivo
sério e grave, adequado a gerar desconfiança sobre a imparcialidade do juiz, garantia da sua
equidistância.

• Juiz deve pedir escusa, ou seja, deve pedir para ser dispensado de intervir na causa (arts. 119.º/1 e
120.º/1/alínea d) CPC), apresentando o seu pedido antes da sua primeira intervenção no processo
(art. 119.º/2 CPC) junto do Presidente da Relação (art. 119.º/3 CPC);

• Qualquer das partes pode opor suspeição ao juiz (art. 120.º/1/alínea d) CPC).

Descarregado por Joana Barros (joana.relvas.barros@hotmail.com)


lOMoARcPSD|6131319

Caso 19
Carlos intenta contra Alison e Benito uma ação declarativa de condenação no pagamento de 2.500 € por
incumprimento de um contrato de prestação de serviços. Carlos litiga por si, enquanto Alison e Benito estão
patrocinados por advogado.

A opção das partes põe em causa o princípio da igualdade de armas?

• O princípio da igualdade de armas (também dito de igualdade dos meios processuais), manifestação
do princípio da igualdade (art. 4.º CPC), exige que as partes se situem, durante todo o processo,
numa situação de paridade perante o tribunal.

• Objetivamente, a parte que pleiteia por si poderá encontrar-se numa posição de desvantagem face
aos restantes litigantes.

• Porém, a igualdade que a lei exige traduz-se numa igualdade de chances e de riscos: qualquer
desvantagem (ainda que eventual) resultante da falta de patrocínio não é um prejuízo imposto a
Carlos, mas a consequência de uma escolha livre.

• Porque a ambas as partes são conferidas as mesmas oportunidades e os mesmos meios de defesa,
em nenhum momento é posto em causa o princípio da igualdade.

III – Competência Internacional

Caso 20
Ambrósia, angolana, com domicílio em Portimão, adquiriu um imóvel sito no 12.º-Esquerdo, da Avenida
das Descobertas, n.º 1000, em Lisboa. No mesmo edifício, mas no 12.º Direito, tem sucursal a sociedade
“Belissima”, com sede em Itália, e cujo objeto social abrange a organização de eventos e festas temáticas.

O imóvel em causa dispõe de um amplo terraço com vista para o rio Tejo, e como pela estrutura do prédio
só através do 12.º piso se consegue aceder ao terraço, este ficou afeto em exclusivo aos moradores do 12.º
piso, Esquerdo e Direito. Em junho de 2018, Ambrósia e a sucursal de “Belissima” começaram a organizar
festas “Sunset”, às quais os vizinhos só se podiam aceder mediante convite.

No dia 1 de setembro de 2018, Clotilde, vizinha do 11.º Esq., entristecida por nunca ter sido convidada para
as festas “Sunset”, propôs uma ação judicial contra Ambrósia e a sociedade “Belissima”, na secção de
comércio do Tribunal de comarca de Portimão, no valor de 5.000,00€ (cinco mil euros), e pediu que fosse
permitido o acesso de todos os condóminos às festas organizadas pelas Rés no terraço do prédio, em
virtude de um contrato escrito celebrado, em maio de 2018, entre o condomínio, Ambrósia e a sociedade
“Belissima”, pelo qual todos os vizinhos estariam convidados para festas no condomínio durante o Verão.

Aprecie a competência do tribunal no qual foi proposta a ação.

Descarregado por Joana Barros (joana.relvas.barros@hotmail.com)


lOMoARcPSD|6131319

Em primeiro lugar, atendendo à existência de elementos de conexão com ordens jurídicas estrangeiras (o
domicílio dos réus é foro de Portugal), importar apurar se o tribunal onde a ação judicial foi proposta é
internacionalmente competente para apreciar e dirimir o litígio.

Em segundo lugar, e com base no primado do DUE (8º/4 CRP e 59º CPC), importa verificar se é possível
aplicar o Reg.1215/2012, percorrendo o seu âmbito de aplicação:

(i) temporal (encontra-se preenchido, porque a ação foi instaurada no dia 01.09.2018, ou seja, depois de
10.01.2015 - art. 81.º § 2 e art. 66.º/1 Reg.1215/2012);

(ii) material (trata-se de matéria civil – art. 1.º/1 do Reg.1215/2012 -, que não está excluída pelo art. 1.º/2
do mesmo Reg.);

(iii) subjetivo: a Ré A. tem domicílio em Portimão (o domicílio do Réu é na sua residência habitual, nos
termos do art. 82.º/1/1.ª parte CC, ex vi art. 62.º/1 Reg.1215/2012), e a sociedade B. tem sede em Itália,
mas sucursal em Lisboa, e como Portugal é um Estado Membro da UE, aplica-se o Reg. 1215/2012 (art.
4.º/1 e 6.º/1 Reg.1215/2012);

(iv) espacial: importa ainda averiguar se estivaríamos perante alguma das situações previstas nos arts.
18.º/1, 21.º/2, 24.º e 25.º do Reg. 1215/2012, caso em que ainda se aplicaria o Reg. 1215/2012 (art. 6.º/1
Reg.1215/2012), mas não seria essa a situação, pois não está em causa a propriedade horizontal como
direito real, mas apenas o acesso às festas organizadas no terraço do prédio durante os meses de junho a
setembro de cada ano.

Assim sendo, aplicamos a regra geral prevista no art. 4.º Reg. 1215/2012, conjugada com o art. 8.º, n.º 1,
do mesmo Regulamento. Dos critérios de aferição da competência internacional previstos no Reg.
1215/2012 resulta a aplicação do art. 7.º/1 e 5 do Reg. 1215/2012, em concorrência com o art. 4.º, pelo
que seriam competentes os tribunais portugueses.

Quanto à competência interna, cabe aferi-la em razão dos seguintes critérios:

Em razão da hierarquia: são competentes os tribunais de 1.ª instância (art. 67.º CPC e art. 33.º LOSJ), de
comarca (arts. 79.º e 80.º LOSJ). Os tribunais superiores só excecionalmente têm competência para
apreciarem litígios em 1.ª instância, nos casos previstos na LOSJ (o Supremo Tribunal de Justiça, nos caso
referidos no art. 55.º LOSJ; as Relações nas situações previstas no art. 73.º b) LOSJ), o que não se verificava
na nossa hipótese.

Em razão da matéria: é competente o tribunal judicial, porque a questão não se insere na jurisdição dos
tribunais administrativos e fiscais (arts. 64.º do CPC e 40.º/1 da LOSJ), estando excluída a competência dos
tribunais de competência territorial alargada previstos no art. 83.º/3 LOSJ.

Importa ainda verificar se o tribunal concretamente competente seria a instância local, mais
especificamente, o tribunal de competência genérica (arts. 81.º/1, al. b), e 130.º/1, al. a), da LOSJ), ou a
instância central, em alguma das suas secções de competência especializada (art. 81.º/1, al. a) e 81.º/2 da
LOSJ). A pertencer a competência à instância central, a ação deveria ter sido proposta numa secção de
competência especializada cível (cf. art. 117.º/1 da LOSJ, e o facto de não se preencher nenhuma das
normas de competência das demais secções de competência especializada: arts. 118.º a 129.º da LOSJ).
Tendo em vista confirmarmos esta conclusão preliminar, importa conjugar a competência em razão da
matéria, com a competência em razão do valor.

Descarregado por Joana Barros (joana.relvas.barros@hotmail.com)


lOMoARcPSD|6131319

Em razão do valor: como o valor da ação é de € 5.000,00 (art. 297.º/1 CPC), é competente a instância local,
já que o valor da ação é inferior a €50.000,00 (art. 66.º CPC e arts. 81.º/1/a), 81.º/2 e art. 117.º/1/a) a
contrario sensu, todos da LOSJ), ficando assim afastada a competência das secções de competência
especializada da instância central (arts. 118.º a 129.º da LOSJ), designadamente a secção de comércio (arts.
81.º/1 alínea f) e 128.º da LOSJ), pois seria competente a secção de competência genérica da instância local
(art. 130.º LOSJ).

Em razão do território: como se trata de solicitar o cumprimento de uma obrigação contratual, aplica-se o
critério previsto no art. 71.º/1 CPC para a responsabilidade contratual (o Autor pode instaurar a ação no
tribunal do domicílio do Réus, podendo o credor optar pelo tribunal do lugar em que a obrigação deveria
ser cumprida, quando o réu seja pessoa coletiva ou quando, situando-se o domicílio do credor na área
metropolitana de Lisboa ou do Porto, o réu tenha domicílio na mesma área metropolitana). Como estamos
perante dois Réus, aplica-se o disposto no art. 82.º/1/parte final do CPC (havendo mais de um réu na
mesma causa, e sendo igual o número nos diferentes domicílios, pode o autor escolher o de qualquer
deles), ou seja, a autora poderia escolher entre o domicílio da Ambrósia (Portimão) ou da sucursal da
sociedade “Belíssima” (Lisboa).

Em suma: a ação devia ter sido instaurada na secção de competência genérica da instância local do tribunal
judicial de comarca, de 1.ª instância, e à escolha da autora em Lisboa ou em Portimão.

Como a ação foi proposta na secção de comércio do Tribunal de comarca de Portimão, estávamos perante
uma incompetência em razão da matéria, incompetência absoluta (art. 96.º/alínea a) CPC), que constitui
uma exceção dilatória (arts. 576.º/1, 1.ª parte, 576.º/2 e 577.º, al. a) do CPC), que podia ser arguida pelo
Réu (art. 97.º/1/1.ª parte do CPC), mas também era de conhecimento oficioso pelo tribunal enquanto não
houver sentença com trânsito em julgado proferida sobre o fundo da causa. (arts. 97.º/1/2.ª parte e
578.º/1.ª parte do CPC).

Porém, no nosso caso trata-se de uma violação das regras de competência em razão da matéria que apenas
respeita aos tribunais judiciais, só pode ser arguida ou oficiosamente conhecida até ser proferido despacho
saneador, ou, não havendo lugar a este, até ao início da audiência final (art. 97.º/2 CPC). Depois destes dois
momentos processuais, o vício de incompetência absoluta em razão da matéria sana-se.

Caso 21
Alda, domiciliada em Cabo Verde, arrendou a Beatriz, domiciliada em Lisboa, uma casa de que era
proprietária, situada em Albufeira, para esta aí passar as férias de Verão de 2017.

Na altura da celebração do contrato, Alda e Beatriz acordaram, durante uma conversa telefónica, que
qualquer litígio dele emergente devia ser resolvido pelo Tribunal Judicial da Comarca de Lisboa.

Sucede que em Outubro de 2017, quando se deslocou a Albufeira, Alda constatou que a sua casa se
encontrava vandalizada, necessitando de reparações no valor de 30.000€.

Alda resolve então demandar judicialmente Beatriz, pedindo a condenação desta no pagamento de
30.000€, pelos danos que lhe causara na casa de Albufeira.

A acção foi proposta na 1ª secção cível da instância central do Tribunal Judicial da Comarca de Faro.

Aprecie a competência do tribunal no qual foi proposta a ação.

Descarregado por Joana Barros (joana.relvas.barros@hotmail.com)


lOMoARcPSD|6131319

• O Reg. 1215 aplica-se, nomeadamente o seu âmbito temporal (depois de 10.01.2015 - art. 81.º §2
e art. 66.º/1), material (matéria civil, não excluída pelo Regulamento – art. 1.º/1 e 2), subjetivo e
espacial (B está domiciliada em Portugal: arts. 4º e 6º)
• A competência seria determinada de acordo com o art. 7º/2 do Reg. 1215 (opção entre o domicílio
do réu – art. 4º – e o lugar do facto)
• Uma vez que a competência internacional dos tribunais portugueses decorria do regulamento
europeu, o pacto tinha de ser qualificado como pacto de competência, porque afasta apenas a
competência em razão do território (determinada pelo art. 71º/2 CPC)
• O pacto não seria válido, pois não tinha sido escrito (art. 95º/2 CPC)
• Em razão da hierarquia: tribunais de 1ª instância, comarca (art. 67º CPC e 33º, 79º e 80º LOSJ)
• Em razão da matéria: tribunais judiciais (art. 64º CPC e 40º/1 e 83º/3 LOSJ)
• O tribunal territorialmente competente seria Albufeira (art. 71º/2 CPC)
• Valor da acção determinado pelo art. 297º/1 CPC
• Competência em razão do valor seria de uma secção de competência genérica da instância local
(130º/1 a) e 41º LOSJ)
• Mais precisamente, a secção de competência genérica, com sede em Albufeira, do Tribunal Judicial
da Comarca de Faro (art. 79º/2 a) ROFTJ e Mapa III anexo)
• Ver regime da incompetência em razão do valor (p. ex. 104º/2 e 105º/3 CPC)
• Discutir se há também incompetência em razão do território (parece que sim, uma vez que a área
de competência territorial da 1ª secção cível do Tribunal Judicial da Comarca de Faro, na qual a
acção foi proposta, não abrange o município de Albufeira)

Caso 22
Francesco, cidadão italiano, residente em Sidney, celebrou, em março de 2017, um contrato de compra e
venda de imóvel localizado em Freixo de Espada à Cinta, no valor de € 265.000,00, nos termos do qual o
alienou a favor da sociedade Imobilous, constituída ao abrigo das leis do Estado de Ajman (Emirados Árabes
Unidos) e com sucursal em Lisboa. No referido contrato, assumiu-se como fiadora Carmen (16 anos), cidadã
espanhola, residente em Vila Nova de Gaia.

Nos termos do contrato de compra e venda, o preço deveria ser pago pela Imobilous até ao dia 07.09.2017.
Sucede que a sociedade Imobilous não efetuou o pagamento acordado.

Francesco, temendo que a Imobilous se recuse a receber a citação em Ajman, decide demandar somente a
fiadora Carmen para obter o pagamento do preço. Para o efeito, intenta a ação nos Juízos de Família e
Menores do Tribunal da Comarca de Lisboa por acreditar que o litígio teria um desfecho mais rápido neste
Tribunal.

a) Carmen na Contestação alega que o tribunal é incompetente para conhecer o litígio, na medida
em que, sendo menor, o tribunal competente seria o da sua área de residência. Tem razão? Qual
seria o tribunal competente? Que consequências teria a eventual incompetência?

Identificação de uma situação plurilocalizada, ou seja, a presença de elementos de extraneidade (v.g., a


nacionalidade das partes, o domicílio das partes, a localização do imóvel objeto do contrato).

Descarregado por Joana Barros (joana.relvas.barros@hotmail.com)


lOMoARcPSD|6131319

Verificação da aplicação do Regulamento 1215/2012 do Parlamento Europeu e do Conselho de 12 de


dezembro de 2012 (“Regulamento”), atendendo ao primado do Direito da União Europeia (cfr. artigo 8.º,
n.º 4, da Constituição da República Portuguesa e 59.º do Código de Processo Civil (“CPC”));

Verificação do preenchimento dos pressupostos de aplicação do Regulamento:

(a) Âmbito material: trata-se de uma obrigação civil (art. 1.º/1) não excluída pelo n.º 2 do art. 1.º;

(b) Âmbito pessoal (ou territorial): 4.º, n.º 1 – a ação apenas é intentada por Francesco contra Carmen que
se encontra domiciliada num Estado-Membro

(c) Âmbito temporal: 66.º+81.º, que se encontram verificados no caso em face da data da propositura da
ação

Sendo aplicável o Regulamento, seriam internacionalmente competentes os tribunais portugueses por


aplicação do estatuído no artigo 7.º, n.º 1, a), em conjugação com a primeira parte da alínea b) do n.º 1 do
mesmo artigo.

Apenas após concluir pela aplicação do Regulamento e pela competência internacional dos tribunais
portugueses, passar para a aferição do tribunal competente à luz do direito interno. Assim:

(a) Artigo 67.º do CPC: em razão da hierarquia são competentes os tribunais judiciais de 1.ª instância (artigo
33.º da Lei de Organização do Sistema Judiciário (“LOSJ”)) de comarca (artigo 79.º da LOSJ). Os tribunais
superiores só excecionalmente têm competência para apreciarem litígios em 1.ª instância, nos casos
previstos na LOSJ (v.g., o Supremo Tribunal de Justiça nos casos estabelecidos no artigo 55.º da LOSJ e os
Tribunais da Relação nos casos estabelecidos no artigo 73.º, alínea b), da LOSJ);

(b) Artigo 64.º do CPC: em razão da matéria, seriam competentes os tribunais judiciais, na medida em que
matéria não se insere na jurisdição dos tribunais administrativos e fiscais (artigos 210.º, n.º 3, da CRP e
40.º/1 da LOSJ);

(c) Artigos 65.º do CPC: em razão da matéria dentro dos tribunais judiciais, a competência seria ou de
secção civil da instância central (atuais, juízos centrais cíveis) ou da secção cível/secção de competência
genérica da instância local (atuais juízos locais cíveis ou juízos de competência genérica), nos termos dos
artigos 40.º, n.º 2, 117.º e 130.º da LOSJ. Não são competentes quaisquer juízos especializados (artigos
118.º a 129.º da LOSJ) nem quaisquer tribunais de competência territorial alargada (artigos 11.º a 116.º da
LOSJ);

(d) Artigo 66.º do CPC: em razão do valor, haveria em primeiro lugar que determinar o valor da causa, nos
termos do artigo 297.º, número 1, do CPC: ou seja, o valor da causa seria de EUR 265.000,00. Desta forma,
seria competente o juízo central cível (anterior secção cível da instância central), nos termos dos artigos
81.º, número 3, aliena a) e 117.º, n.º 1, alínea a) todos da LOSJ na medida em que o valor ultrapassava EUR
50.000,00;

(e) Competência em razão do território: critério geral do artigo 71.º, n.º 1, do CPC (domicílio do réu). Em
concreto, seria competente o 3.º juízo central cível do Tribunal da Comarca do Porto (com sede em Vila
Nova de Gaia) nos termos das (artigo 93.º, n.º 1, alínea e) e Mapa III do Regulamento da LOSJ (“RLOSJ”);

• Em conclusão, seria competente o juízo central cível do Tribunal da Comarca do Porto (Vila Nova de Gaia).

Descarregado por Joana Barros (joana.relvas.barros@hotmail.com)


lOMoARcPSD|6131319

• Desta forma, a ação ao ter sido proposta nos Juízos de Família e Menores de Lisboa, daria origem a uma
situação de incompetência absoluta do Tribunal, nos termos do artigo 96.º, n.º 1, a) (incompetência em
razão da matéria), do CPC, que é uma exceção dilatória de conhecimento oficioso nos termos dos artigos
97º, n.º 2, 278.º, n.º 1, alínea a), 576, n.ºs 1 e 2, 577.º, alínea a), 578.º, todos do CPC que implica a
absolvição do Réu da instância, nos termos dos citados normativos;.

• Poderá, acessoriamente, ser valorada a problemática da remessa dos autos ao tribunal competente,
devidamente problematizada a aplicação do artigo 99.º do CPC, em particular o seu número 2.

b) Imagine a seguinte estipulação contratual inserida no contrato de compra e venda: “Qualquer


litígio emergente do presente contrato será dirimido pelo Tribunal Judicial de Sevilha”. Será
legalmente admissível?

A análise do pacto na perspetiva da Ré Carmen. Se C não celebrou o pacto (a hipótese não é muito clara
quanto a este aspeto), este não a vincularia.

Estaria em causa a problematização da validade da cláusula em concreto à luz do Regulamento (ver, no


sentido da aplicabilidade do Regulamento, a resposta à questão anterior).

Assim, sendo aplicável o Regulamento, caberia qualificar, desde logo, o pacto como privativo de jurisdição
[94.º, n.º 2, do CPC)] na medida em que, não fosse a existência do pacto, seriam competentes os tribunais
portugueses.

Cumpriria aqui analisar a aplicação do artigo 25.º do Regulamento – cujos requisitos legais pareciam estar
verificados no presente caso (nomeadamente a existência de forma escrita).

Análise do pacto na perspetiva da Ré Imobilous. Cumpriria neste caso, além do referido anteriormente,
destacar que era aplicável o Regulamento 1215/2012 em virtude do estatuído no seu artigo 6.º, n.º 1, na
medida em que o eventual pacto de jurisdição determinaria a competência de um Tribunal de um Estado
Membro. Análise dos requisitos estabelecidos no artigo 25.º que parecem estar verificados
(nomeadamente a forma escrita).

Caso 23
A sociedade ALVOR-RABAT, com sede em Lagos e sucursais em Marrocos e na Tunísia, dedica-se à
comercialização de motas.

Um dos seus empregados, Bento, é muito amigo de Charles, cidadão francês domiciliado em Casablanca,
tendo-lhe emprestado uma mota do stand de vendas, que custava 7.000€, para Charles dar alguns passeios
no Algarve.

Sucede que Charles tem uma amiga, Denise, também ela francesa e domiciliada em Casablanca, que lhe
furtou a mota durante um encontro de motards em Loulé, como forma de pagamento de uma antiga dívida,
que Charles nunca honrara.

Desesperado por Charles nunca mais devolver a mota nem dar notícias, Bento conta ao gerente da ALVOR-
RABAT que lha emprestara, tendo este decidido propor contra Charles uma acção, pedindo a sua entrega.

Poderia a sociedade ALVOR-RABAT propor a referida acção em Portugal? E, em caso afirmativo, qual seria o
tribunal competente?

Descarregado por Joana Barros (joana.relvas.barros@hotmail.com)


lOMoARcPSD|6131319

• Analisar os âmbitos de aplicação material, espacial e temporal do Reg. 1215/2012


• Referir que o âmbito espacial não está preenchido, pois C tem domicílio fora da UE e o caso não
está ressalvado no art. 6º/1 do Reg. 1215/2012
• Referir o art. 62º do Reg. 1215/2012, para o conceito de domicílio
• Referir que a lei aplicável na determinação da competência internacional é a portuguesa, à luz do
art. 59º CPC
• O art. 62º, a) CPC não conferiria competência internacional aos tribunais portugueses, uma vez que
seria conjugável com o art. 80º/1 e dessa conjugação não resultaria um local no território nacional
• O art. 62º, b) já a poderia conferir, porquanto a causa de pedir era a posse e o esbulho da mota, se
se tratasse de acção de restituição da posse (como parecia ser), e essa posse e esbulho tinham
ocorrido em território
• português; em se tratando de acção de reivindicação, tudo dependeria de o facto de que emergira
o direito de propriedade da autora (p. ex., um contrato de compra e venda) ter sido praticado em
Portugal
• Depois de aferida a competência internacional dos tribunais portugueses, cabia analisar a interna
em razão da matéria, hierarquia, valor e território. Quanto à matéria e hierarquia, seria um tribunal
judicial de 1ª instância (arts. 40º/1 e 42º LOSJ). Quanto à matéria, dentro dos tribunais judiciais de
1ª instância (arts. 40º/2 e 111º e ss. LOSJ), estava arredada a competência dos tribunais de
competência territorial alargada e de todas as secções de competência especializada diversas da
cível. Quanto ao valor (art. 302º/1 e 4 CPC; art. 44º LOSJ), afastava-se a competência da secção
cível e concluía-se no sentido da competência da secção de competência genérica (arts. 117º, a) e
130º/1 a) LOSJ). Quanto ao território, era de aplicar o art. 80º/3 CPC: se o réu se encontrasse em
Portugal era aí que devia ser demandado; não se encontrando, seria em Lagos (sede da autora).

Caso 24
No dia 10.08.2016, Antónia, domiciliada no Estoril, encantada com o imóvel denominado “Cape Point”,
situado a sul da Cidade do Cabo (África do Sul), junto ao Cabo da Boa Esperança, que conheceu nas férias
que aí passou em julho, celebrou um contrato de compra e venda com Bernard, jurista, domiciliado na
mesma Cidade do Cabo, através do qual lhe comprou o referido imóvel pelo preço de € 3.000.000,00 (três
milhões de euros).

Do contrato constava a seguinte cláusula: “Para qualquer litígio emergente do presente contrato serão
competentes os tribunais de Lisboa”.

Em setembro de 2016, Antónia, depois de regressar de um safari no afamado Parque Nacional do Kruger,
ao tentar entrar na sua nova casa em “Cape Point”, constata que Bernard se encontra lá instalado e se
recusa a entregar-lhe o imóvel.

Inconformada, no dia 03.10.2016, Antónia resolve instaurar uma ação judicial contra Bernard, na secção de
competência genérica da instância local do tribunal de comarca de Cascais, pedindo a declaração do seu
direito de propriedade relativamente ao imóvel denominado “Cape Point”.

Aprecie a competência do tribunal no qual foi intentada a ação.

Descarregado por Joana Barros (joana.relvas.barros@hotmail.com)


lOMoARcPSD|6131319

Competência internacional: análise da questão em termos de competência internacional, atendendo à


existência de elementos de conexão com ordens jurídicas estrangeiras.

Âmbito de aplicação do Regulamento n.º 1215/2012, de 12 de dezembro (Reg. 1215/2012):

(i) o âmbito de aplicação temporal está preenchido porque a ação foi proposta no dia 03.10.2016, ou seja,
depois de dia 10.01.2015 (arts. 66.º e art. 81.º §2 do Reg. 1215/2012);

(ii) o âmbito de aplicação material está preenchido porque está em causa matéria civil (art 1.º/1 do Reg.
1215/2012), não excluída pela parte final do n.º 1 nem pelo n.º 2 do art. 1.º do Reg. 1215/2012);

(iii) o âmbito de aplicação subjetivo ou espacial não se encontra preenchido, pois o Réu está domiciliado
fora da UE e não se está perante um caso em que o Regulamento seja aplicável independentemente do
local do domicílio do réu (art. 82.º/1/1.ª parte CC, ex vi art. 62.º/1 do Reg. 1215/2012).

À partida, como o réu está domiciliado fora da UE, não se pode aplicar o Reg. 1215/2012 (art. 4.º/1 e 6.º/1
do Reg. 1215/2012), salvo se estivermos perante alguma das situações previstas nos arts. 18.º/1, 21.º/2,
24.º e 25.º do Reg. 1215/2012, caso em ainda se aplicará o Reg. 1215/2012 (art. 6.º/1 do Reg. 1215/2012).

Ora, da análise dos preceitos ressalvados pelo 6.º/1 do Reg. 1215/2012 resulta o seguinte:

a) Quanto ao art. 24.º do Reg. 1215/2012, deve entender-se que não é bilateralizável, pelo que a localização
do imóvel num Estado terceiro não releva para a aplicação do Reg. 1215/2012;

b) Como o contrato de compra e venda celebrado entre as partes continha uma cláusula que atribuía
competência aos tribunais portugueses (escolhendo os tribunais de Lisboa, Antónia e Bernard determinam,
simultaneamente, a competência internacional dos tribunais portugueses), há que avaliar a validade do
pacto de jurisdição de acordo com o artigo 25.º do Reg. 1215/2012.

Ao abrigo do artigo 25.º do Reg. 1215/2012, conclui-se pela competência internacional dos tribunais
portugueses.

Competência interna: importa agora analisar se o tribunal no qual a ação foi proposta (secção de
competência genérica da instância local do tribunal de comarca de Cascais) é internamente competente.

Em razão da matéria (1º sub-critério – art. 40º/1 LOSJ): são competentes os tribunais judiciais porque a
questão não se insere na jurisdição dos tribunais administrativos e fiscais (arts. 210.º/3 CRP, 64.º do CPC e
40.º/1 da LOSJ) e, estando excluída a competência dos tribunais de competência territorial alargada
previstos no art. 83.º/3 LOSJ, é competente o tribunal de comarca (art. 80.º/1 LOSJ).

Em razão da matéria (2º sub-critério – art. 40º/2 LOSJ): Dentro dos tribunais judiciais, não são competentes
os tribunais de competência territorial alargada e, no que diz respeito às secções de competência
especializada da instância central, a única que tem competência em razão da matéria é a secção cível. Ver
art. 40º/2 LOSJ, bem como a competência dos tribunais de competência territorial alargada, das secções
de competência especializada e ainda o art. 130º/ LOSJ.

Sob o ponto de vista da matéria, a alternativa é a secção cível da instância central e a secção de
competência genérica da instância local.

Em razão da hierarquia: são competentes os tribunais judiciais de 1.ª instância (art. 67.º CPC e art. 33.º
LOSJ), de comarca (art. 79.º LOSJ). Os tribunais superiores só excecionalmente têm competência para

Descarregado por Joana Barros (joana.relvas.barros@hotmail.com)


lOMoARcPSD|6131319

apreciarem litígios em 1.ª instância, nos casos previstos na LOSJ (o Supremo Tribunal de Justiça, nos casos
referidos no art. 55.º LOSJ; as Relações nas situações previstas no art. 73.º b) LOSJ), o que não se verificava
na nossa hipótese.

Importa ainda verificar se o tribunal concretamente competente seria a instância local, mais
especificamente, o tribunal de competência genérica (arts. 81.º/1, al. b), e 130.º/1, al. a), da LOSJ), ou a
instância central, em alguma das suas secções de competência especializada (art. 81.º/1, al. a) e 81.º/2 da
LOSJ). Tendo em vista confirmarmos esta conclusão preliminar, importa conjugar a competência em razão
da matéria, com a competência em razão do valor.

Em razão do valor: como o valor da ação é de € 3.000.000,00 (critério aplicável: valor da coisa - art. 302.º/1
CPC), é competente a instância central, já que o valor da ação é superior a €50.000,00 (art. 66.º CPC e arts.
81.º/1/a), 81.º/2 e art. 117.º/1/a) a contrario sensu, todos da LOSJ). Ou seja, é competente a secção cível
da instância central.

Em razão do território: as partes convencionaram a competência dos tribunais de Lisboa (art. 25.º do Reg.
1215/2012).

Em suma: a ação devia ter sido instaurada na secção de competência especializada cível da instância central
do tribunal de judicial de 1.ª instância, da comarca de Lisboa.

Como a ação foi proposta na secção de competência genérica da instância local do tribunal de Cascais,
estávamos perante:

a) A violação das regras de competência interna em razão do valor, que origina a incompetência relativa
(art. 102.º CPC) da secção de competência genérica da instância local, pois a ação devia ter sido instaurada
na secção de competência especializada cível da instância central, nos termos acima expostos (art. 66.º
CPC e arts. 81.º/1/a), 81.º/2 e art. 117.º/1/a) a contrario sensu, todos da LOSJ). Trata-se de uma exceção
dilatória (arts. 576.º/1, 1.ª parte, 576.º/2 e 577.º, al. a) do CPC), que podia ser arguida pelo Réu (art. 103.º/1
do CPC), mas também era de conhecimento oficioso pelo tribunal (arts. 104.º/2 e 578.º, parte final do CPC),
pelo que o seu conhecimento pelo tribunal daria origem à remessa do processo para o tribunal competente
(art. 105.º/3 do CPC), ou seja, a secção de competência genérica (de Cascais) devia remeter o processo
para a secção de competência especializada cível (de Lisboa).

b) A violação das regras de competência interna em razão do território, que origina a incompetência relativa
(art. 102.º CPC) do tribunal de Cascais, pois a ação devia ter sido proposta no tribunal de Lisboa, nos termos
acima explicitados (art. 25.º do Reg.1215/2012). Trata-se de uma exceção dilatória (arts. 576.º/1, 1.ª parte,
576.º/2 e 577.º, al. a) do CPC), que podia ser arguida pelo Réu (art. 103.º/1 do CPC), podia ser arguida pelo
Réu (art. 103.º/1 do CPC). Se fosse alegada pelo Réu, o tribunal teria de remeter o processo para o tribunal
competente (art. 105.º/3 do CPC), ou seja, o tribunal de Cascais remeteria o processo para o tribunal de
Lisboa. Analisar a questão de saber se se trata de uma exceção dilatória de conhecimento oficioso,
atendendo a que se trata de uma ação sobre direitos reais, mas estamos perante um pacto de jurisdição e
de competência (vide arts. 104.º/1 e 578.º/parte final CPC).

Conclusão: o juiz agiu mal porque apesar de o Réu não ter alegado a incompetência em razão do território,
o juiz deveria conhecer oficiosamente a incompetência relativa em razão do valor, declarar-se
incompetente para conhecer do mérito da causa, e remeter o processo para a secção de competência
especializada cível da instância central (art. 105.º/3 do CPC).

Descarregado por Joana Barros (joana.relvas.barros@hotmail.com)


lOMoARcPSD|6131319

Caso 25
António, português domiciliado no Porto, comprou às Linhas aéreas São Tomenses SA, sociedade comercial
de direito são tomense, um bilhete de ida e volta entre Lisboa e São Tomé (São Tomé e Príncipe). A primeira
viagem deveria realizar-se dia 1 de janeiro de 2017, ao final do dia. Ao que consta, um dos tripulantes foi
afetado por uma súbita moléstia que o impediu de pilotar o aparelho. Por esse ou por outro motivo, certo
é que o voo não se realizou senão na manhã seguinte. Sem outra alternativa, António pernoitou num hotel
nas proximidades do aeroporto, pagando, do seu bolso, perto de 250€.

Não sendo grande entusiasta de televisão, António aproveitou as horas mortas para fazer uma pesquisa
online sobre os direitos dos passageiros e descortinar de que forma poderia reaver as despesas que tinha
suportado. No decurso das suas leituras vem a perceber que o contrato de transporte não permite o
recurso aos critérios específicos em matéria de contratos de consumo previstos no art. 17.º do Reg.
1215/2012. Porém, descobriu, com agrado, a seguinte passagem num acórdão do Tribunal de Justiça: “(...)
quer o lugar de partida quer o lugar de chegada do avião devem ser considerados, ao mesmo título, os
lugares da prestação principal dos serviços que são objeto de um contrato de transporte aéreo” (C‑204/08,
Peter Rehder/Air Baltic Corporation, para. 43).

Tendo em conta os dados enunciados, poderia António intentar uma ação de indemnização no Juízo local
cível (correspondente à anteriormente designada instância local) do Tribunal de comarca do Porto?

Competência internacional (Regulamento 1215/2012):

- Caracterização do conflito como plurilocalizado, identificando a necessidade de verificar a admissibilidade


da propositura da ação em Portugal, ou seja, saber se os tribunais portugueses são internacionalmente
competentes.

- Invocação do primado do Direito da União Europeia (art. 8.º CRP) para justificar a necessidade de verificar
a aplicação dos regulamentos comunitários – no caso concreto, o Regulamento 1215/2012.

- Verificar, justificando, o preenchimento dos âmbitos material e temporal do Regulamento.

- Verificar, justificando, o não preenchimento do âmbito espacial do Regulamento (o réu não tem domicílio
num Estado-Membro (art. 63.º, pois é uma pessoa coletiva) e não se trata de um caso previsto nos arts.
18.º/1, 21.º/2, 24.º ou 25.º).

Nota: é um erro muito grave aplicar o art. 7.º, visto que o art. 6.º não está preenchido; e a inaplicabilidade
do art. 18.º resulta do próprio enunciado, quando se afirma que não se trata de matéria de contratos de
consumo (cfr. art. 17.º/3, que expressamente exclui a aplicação aos contratos de transporte).

Competência internacional (CPC):

- Explicar a aplicabilidade do CPC.

- Excluir a aplicação do art. 63.º e do art. 94.º.

- Aplicar o art. 62.º/a) em conjunto com o art. 71.º/1, concluindo que, pela primeira parte, os tribunais
portugueses não seriam competentes (réu tem domicílio no estrangeiro – art. 81.º/2), mas pela segunda
parte são, visto que o réu é uma pessoa coletiva e a obrigação deveria ser cumprida em Portugal.

Descarregado por Joana Barros (joana.relvas.barros@hotmail.com)


lOMoARcPSD|6131319

- Em alternativa, também era possível aplicar o art. 62.º/b), desde que se justificasse adequadamente que
factos integram a causa de pedir (nomeadamente, o incumprimento do contrato) e onde os mesmos
ocorreram.

Nota: de uma leitura atenta do enunciado resulta que nada é dito sobre o local onde foi comprado o bilhete,
pelo que este dado não poderia ser inventado.

Competência interna:

- Concluir, justificando e invocando a base legal adequada, que:

i) a ordem jurisdicional competente é a dos tribunais judiciais;

ii) os tribunais de primeira instância são os hierarquicamente competentes;

iii) os tribunais de comarca são os materialmente competentes e, dentro destes, é competente o juízo local
cível (antiga secção de competência genérica da instância local), na medida em que o valor da causa é de
250€ (art. 297.º CPC)

iv) o tribunal territorialmente competente é o de Lisboa (art. 71.º/1/2.ª parte CPC)

Incompetência:

- Concluir que se António propusesse a ação no juízo local cível do Porto haveria uma incompetência
relativa (em razão do território – art. 102.º CPC), que é uma exceção dilatória. No entanto, esta não seria
de conhecimento oficioso (art. 104.º/1/a) CPC a contrario), pelo que se o réu não a alegasse, o juiz não
poderia conhecê-la. Nesse sentido, António poderia propor a ação neste tribunal, esperando que o réu não
invocasse a exceção de incompetência. Caso o réu o fizesse até à contestação, a consequência seria a
remessa do processo para o juízo local cível de Lisboa (art. 105.º/3 CPC).

A companhia aérea está disposta a oferecer 10.000 milhas a António caso este aceite resolver a disputa nos
tribunais de São Tomé e Príncipe.

Em que circunstâncias este acordo alteraria a resposta à questão anterior?

Pacto de jurisdição (art. 25º Reg. 1215/2012)

- Explicar, justificando, que o âmbito espacial do Regulamento continuaria a não se preencher (embora haja
um pacto de jurisdição, este não preenche os requisitos do art. 25.º, pois não foi escolhido o Tribunal de
um Estado-membro).

- Concluir que se continuaria a aplicar o CPC.

Nota: partir diretamente para a análise do art. 94.º do CPC sem tentar primeiro aplicar o art. 25.º, está
errado, porque a existência de um pacto de jurisdição obriga a ponderar a aplicação do Regulamento, por
via do art. 6.º.

Pacto de jurisdição (art. 94º CPC)

- Enquadrar este pacto no art. 94.º, pois, caso se preenchessem todos os requisitos, o pacto excluiria a
competência dos tribunais portugueses (pois nada é dito em contrário - n.º 2), alterando a resposta à
pergunta anterior.

Descarregado por Joana Barros (joana.relvas.barros@hotmail.com)


lOMoARcPSD|6131319

Nota: é um erro grave enquadrar este pacto no art. 95.º. Logo à partida, este pacto não é de competência,
pois é apenas escolhido um país. Ainda que fosse escolhida uma cidade são tomense, o art. 95.º não se
aplicaria, porque só se aplica à escolha de concretos tribunais portugueses. Mas o motivo essencial para a
não aplicabilidade do art. 95.º é o facto de este ser uma norma sobre competência interna portuguesa, que
só se pode aplicar depois de se concluir que os tribunais portugueses seriam internacionalmente
competentes, o que não ocorreria caso o pacto fosse eficaz. Em suma, o art. 95.º só se aplica quando: 1)
as Partes escolhem, em concreto, um tribunal que seja português; 2) já se analisou a competência
internacional e se concluiu que a ação pode ser proposta em Portugal.

- Analisar os requisitos do art. 94.º.

- Concluir pela falta de preenchimento do requisito formal.

Caso 26

Alice, domiciliada em Porto Santo, propôs na secção de competência genérica da instância local do tribunal
de comarca da Madeira, uma ação contra Bruno, domiciliado em São Paulo (Brasil). Pedia que fosse
declarada proprietária de um imóvel no valor de 250.000€ situado em São Paulo que havia adquirido por
efeito de um contrato de compra e venda celebrado com Bruno, mas que o réu se recusava a entregar.

Na contestação, alegou Bruno que o tribunal não era competente para conhecer do litígio, por ter como
objeto o direito real de propriedade sobre um imóvel situado em território brasileiro.

Ainda que Bruno não o tenha alegado, a leitura do contrato permitiu ao tribunal verificar que em certa
cláusula era atribuída competência aos tribunais de Lisboa e, por isso, aos tribunais portugueses.
Consequentemente, julgou improcedente a exceção invocada pelo réu e considerou-se competente para
conhecer do mérito da causa.

Aprecie esta decisão.

Competência internacional

- O conflito é plurilocalizado: desta forma, é necessário determinar se o tribunal em que a acção foi
proposta é internacionalmente competente.

- Havendo mais do que uma lei potencialmente aplicável ao caso - Reg. 1215/2012 e CPC -, começamos por
verificar se se aplica o Regulamento, uma vez que o art. 8.º da CRP consagra o primado do DUE (princípio
que encontra igualmente expressão no art. 59.º CPC).

- O âmbito material do Reg. está preenchido, porque está em causa matéria civil (1.º/1) não excluída pela
parte final do n.º 1 nem pelo n.º 2 do art. 1.º.

- O âmbito temporal está preenchido, porque a acção foi proposta depois de dia 10 de janeiro de 2015
(artigo 81.º).

- Por fim, é necessário aferir o preenchimento do âmbito espacial (art. 6.º). Bruno não tem domicílio num
Estado-Membro (São Paulo, Brasil). Assim sendo, a aplicabilidade do Regulamento está dependente da
verificação de alguma das normas a que alude o artigo 6.º/1 (art. 18.º/1, 21.º/2, 24.º e 25.º).

Descarregado por Joana Barros (joana.relvas.barros@hotmail.com)


lOMoARcPSD|6131319

- Deve entender-se que o art. 24.º não é bilateralizável pelo que a localização do imóvel num Estado terceiro
não prejudica a aplicação do Regulamento.

- O próprio contrato de compra e venda continha uma cláusula que atribuía competência aos tribunais
portugueses (escolhendo os tribunais de Lisboa Alice e Bruno determinam, concomitantemente, a
competência internacional dos tribunais portugueses).

- Há que avaliar a validade do pacto de jurisdição de acordo com o artigo 25.º.

- Nos termos do Regulamento, conclui-se pela competência internacional dos tribunais portugueses.

Competência interna:

- De seguida, há que averiguar se o tribunal em que a ação foi proposta (secção de competência genérica
da instância local do tribunal de comarca da Madeira) é internamente competente.

- Quanto à competência em razão da jurisdição, são competentes os tribunais judiciais porque esta causa
não é atribuída a nenhuma outra ordem jurisdicional (art. 210.º/3 CRP, art. 64.º e art. 40.º/1 LOSJ).

- Quanto à competência em razão da hierarquia, são competentes os tribunais de primeira instância,


porque a presente ação não é da competência do STJ (arts. 52.º, 53.º e 55.º LOSJ) nem dos Tribunais da
Relação (arts. 72.º e 73.º LOSJ) - arts. 67.º a 69.º CPC e 80.º/1 LOSJ.

- Quanto à competência em razão do território, as partes convencionaram a competência dos tribunais de


Lisboa (25º Reg.).

- Quanto à competência em razão da matéria, esta ação não é da competência dos tribunais de
competência territorial alargada (arts. 111.º a 116.º LOSJ), pelo que deverá ser julgada pelo tribunal de
comarca (art. 80.º/1 LOSJ).

- De entre as secções da instância central descritas nos arts. 117.º ss LOSJ, só poderia ser, quanto à matéria,
da secção cível.

- Quanto ao valor (250.000,00 €, nos termos do art. 302.º/1 CPC), é competente a secção cível da instância
central, visto que o valor da causa é superior a 50.000,00 €. (art. 117.º/1 al. a) LOSJ).

Incompetência:

- No que diz respeito às regras de competência em razão do território, o tribunal onde a acção foi intentada
é relativamente incompetente; incompetência esta que o tribunal apenas poderia conhecer mediante
alegação do réu (cf. art. 104.º).

- Porém, são igualmente violadas as regras de atribuição de competência em razão do valor o que configura
igualmente uma situação de incompetência relativa, que é uma exceção dilatória (art. 577.º/a)), de
conhecimento oficioso, nos termos do art. 104.º/2.

- O juiz agiu mal, pois deveria considerar-se incompetente para conhecer do mérito da causa,
independentemente de o réu não ter alegado a incompetência, remetendo o processo para a instância
cível da instância central (art. 105.º/3).

Descarregado por Joana Barros (joana.relvas.barros@hotmail.com)


lOMoARcPSD|6131319

Caso 27

Joana e Pedro, arquitetos, casam na cidade do Porto, em dezembro de 2014, onde compram uma casa à
Imobiliária Tracatinga SA pelo valor de 300.000,00€. Quando adquiriram a casa, celebraram com a
sociedade Recuperamos Lda uma empreitada de modernização do respetivo interior pelo preço contratual
de 150.000,00€, pagando-lhe imediatamente 50% deste preço no momento da adjudicação.

Em março de 2016, Joana recebe uma proposta de um estúdio de um famoso arquiteto de Barcelona para
integrar a sua equipa na elaboração de um projeto para a construção de um museu em Abu Dhabi. Não
obstante estar grávida de Inês, Joana decide aceitar a proposta depois de ter conversado com Pedro: afinal
o tempo de separação não iria além dos 24 meses, tempo de cumprimento do contrato celebrado entre o
estúdio e a entidade promotora da construção do museu.

Assim, Joana muda-se para Barcelona em maio de 2016, continuando Pedro a residir no Porto. Em julho de
2016 nasce Inês que, desde sempre, habitou com a mãe em Barcelona.

Em julho de 2017, Joana vem com Inês a Portugal para passar as férias de verão. Apercebe-se de que a sua
vida com Pedro não é mais possível: o tempo de afastamento revelou a diversidade de projetos de vida de
cada um. Porém, e para não tomar atitudes precipitadas, decide voltar a Barcelona e aguardar pelo termo
do contrato; afinal, faltavam poucos meses até ao seu regresso definitivo a casa.

Depois da partida de Joana com Inês, Pedro consulta-o na qualidade de advogado, pois pretende instaurar
contra Joana ação de divórcio litigioso por violação do dever de coabitação. Pedro pretende ainda que a
guarda de Inês lhe seja atribuída e que Joana seja condenada a pagar-lhe a quantia de 2.000,00 € por mês
a título de obrigação de alimentos.

Determine o tribunal competente para cada um dos pedidos.

Caso 28

Augusto (cidadão português) e Bárbara (cidadã venezuelana) casaram no Funchal a 4 de março de 1997,
em regime da separação de bens. Até novembro de 2017, data em que Augusto abandonou o domicílio
conjugal, residiram com os seus dois filhos, Cármen e Daniel, em Caracas, na Venezuela.

Em janeiro de 2018, Augusto – que reside em Portimão (Portugal) desde a separação – instaurou nos juízos
locais cíveis do Tribunal de Comarca de Lisboa, contra Bárbara, uma ação de divórcio sem consentimento
do outro cônjuge (vide art. 1781.º do Código Civil), alegando simplesmente que existem “factos que
mostram a rutura definitiva do casamento”, sem nunca os invocar.

Afira a competência do tribunal onde foi proposta a ação de divórcio e determine, sendo caso disso, as
consequências de uma eventual incompetência.

Descarregado por Joana Barros (joana.relvas.barros@hotmail.com)

Você também pode gostar