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CASOS PRÁTICOS DE TGDC II SOBRE VÍCIOS E CLÁUSULAS DO NEGÓCIO JURÍDICO

2º SEMESTRE DE 2020/2021
(Diogo Bártolo)

I.
A tem dois cães: o Rex e o Lex. A pretendia vender o Rex por determinado preço, mas, por lapso, trocou
os nomes dos cães e fez uma proposta a B, dizendo que lhe vendia o Lex, tendo B respondido
imediatamente “aceito”.
Ao aperceber-se do seu lapso, A recusou-se a entregar o Lex e a receber o preço, mas B alega que o Lex
lhe pertence.
Quid Iuris?
1. Numa frequência escrita ter-se-ia de pôr aquela introdução inicial de se tratar de uma proposta, o tipo de
negócio, etc.

2. Neste caso encontramo-nos no âmbito das divergências entre a vontade e a declaração, uma vez que os três
estádios de vontade existem: ele tinha domínio/controlo do seu corpo (vontade de ação); o comportamento
pretendido tem um sentido específico em direito, correspondendo a um NJ (vontade de declaração) e quer que
aquilo produza efeitos jurídicos (vontade funcional/negocial). Ou seja, aqui o problema encontra-se na
exteriorização da vontade, nomeadamente o problema entre a vontade real e declarada, sendo algo não
intencional, pelo que se trata, especificamente de um erro-obstáculo (erro na declaração)

3. Aplica-se o artigo 247, sendo que o negócio para ser anulável necessita que se verifiquem dois requisitos: (i) que
o lapso seja essencial para o declarante (o que se verifica, pois sem esse lapso A não teria proferido a sua
declaração negocial, visto que o objetivo era vender Rex e não Lex, assim como é também comprovada esse
essencialidade quando, depois de ter se apercebido, recusa a entregar Lex e a receber o preço; (ii) que o
declaratário conhecesse ou não devesse ignorar a essencialidade do erro sobre a qual incidiu o negócio. Este
último requisito também se encontra preenchido, na medida em que será de esperar que qualquer individuo
considere que este tipo de animal é fungível, pelo que o engano não poderá ser substituído, significando isso ao
mesmo tempo, que a o animal é único para o seu dono

4. Partindo, então, do pressuposto de que todos os requisitos se encontram preenchidos a anulabilidade é arguível
por A (parte interessada cujo lei quis proteger).

NOTA: o vício do erro só cessa quando a pessoa deixar de estar em erro (ela pode não aperceber-se e ter passado 4
anos, mas se foi aí que ele deixou de ter a falsa representação então o prazo é um ano a contar daí, da cessação do
vício)
A sua resposta seria a mesma se, antes de aceitar a proposta, B se tivesse apercebido do lapso de
A e respondido à mesma “aceito”?
1. 236/2º
II.
A comprou ao joalheiro B uns brincos de safiras para oferecer à sua namorada C.
Os referidos brincos tinham um espigão e destinavam-se a mulheres com orelhas furadas.
Quando A descobriu que C não tinha as orelhas furadas e se recusava a furá-las, foi ter com B, pedindo-
lhe que recebesse os brincos de volta e lhe devolvesse o dinheiro, mas B recusou.
Quid Iuris?
1. Neste caso encontramo-nos no âmbito dos vícios da vontade, concretamente o erro ou falta de conhecimento,
na medida em que, o comprador não tinha os elementos para decidir totalmente e, portanto, estava em erro.
Os três estádios de vontade existem: ele tinha domínio/controlo do seu corpo (vontade de ação); o
comportamento pretendido tem um sentido específico em direito, correspondendo a um NJ (vontade de
declaração) e quer que aquilo produza efeitos jurídicos (vontade funcional/negocial). Assim sendo, temos um
desconhecimento que determinou a celebração do negócio, sendo considerado um vício pois a vontade, neste
caso de A, formou-se a partir da ponderação de certos elementos da realidade que não se verificavam.

2. Não estaríamos perante erro do objeto (pois esse seria o caso de pensar, que, por exemplo o material comprado
era outro), nem erro sobre a pessoa do declaratário, sobrando apenas a base do negócio ou os motivos.

3. Especificamente estaríamos perante um erro simples quanto aos motivos do negócio (252/1),a que se recorre
quando não se enquadra nas outras. Nesse sentido é necessário verificar-se dois requisitos: (i) a essencialidade
para o declarante do elemento sobre o qual houve falsa representação da realidade; (ii) e que as partes hajam
reconhecido por acordo a essencialidade do motivo. Ora claramente se verifica o primeiro requisito: o
declarante não teria emitido a declaração negocial se tivesse um conhecimento correto do elemento sobre o
qual recaiu a falsa representação. Já o segundo requisito não se verifica, nem tácita nem expressamente, não
tendo havido nenhum acordo acerca da essencialidade do motivo.

4. Assim sendo o negócio não é anulável, razão pela qual B tem razão

III.
B é dono do quadro X, tendo-lhe A feito perante testemunhas uma proposta oral de compra por 8.000
euros. Acontece que B percebeu 18.000 euros e respondeu imediatamente “aceito”.
Quando B se apercebeu do verdadeiro montante referido na proposta, recusou-se a entregar o quadro a
A, mas este afirma que o contrato é para ser cumprido.
Quid Iuris?

1. Neste caso tudo aponta para estarmos perante o erro vício, tratando-se de uma situação em que a declaração
corresponde ao propósito de comunicação do declarante, só que ela é fruto de uma falsa representação da
realidade – o declarante comunicou corretamente o sentido da declaração, mas a realidade que o determinou
à declaração não era verdadeira: há erro-vício, concretamente erro sobre o objeto do negócio (251),
abrangendo tanto a coisa ou a prestação a que se reporta o negócio, mas igualmente o conteúdo do mesmo e
os seus efeitos, por isso, abrange erro sobre o preço.

2. Remete-nos o 251 para o 247, razão pela qual para a declaração negocial ser anulável é necessário que haja
essencialidade para o declarante do elementos sobre o qual incidiu o erro (o que se verifica, B não teria
celebrado pelos 8.000 euros, preço inferior ao que desejava), assim como é exigido que o declaratário
conhecesse ou devesse conhecer a essencialidade para o declarante do elemento sobre o qual o erro incidiu.
Este requisito não se verifica igualmente, uma vez que, A não possui qualquer informação anterior à formação
do contrato de que aquele erro, de que tinha desconhecimento, se revelava essencial, pelo que o negócio não
é anulável nos termos do 247.

3. Uma outra construção possível, neste caso (que levaria aos mesmos efeitos e requisitos, pois o 251 remete para
esse regime) seria o de erro na declaração, isto é, existiu uma divergência entre a vontade e a declaração -> a
vontade real seria os 18.000 que ele pensou na sua cabeça e pensou estar a aceitar, enquanto, na declaração
que proferiu, na realidade, estava a aceitar, objetivamente, os 8.000.

IV.
Em 15/04/2018, A, proprietário de um automóvel, foi agredido por B até aceitar assinar um documento no
qual declarava doar o carro a B, tendo este último advertido A de que o mataria caso ele fizesse queixa à
Polícia ou recorresse aos tribunais.
Em virtude de se encontrar bastante ferido, A pediu ao seu vizinho C que o levasse ao hospital, mas este
exigiu-lhe 2.000 euros para o transportar, tendo A tido que lhe passar logo um cheque nesse montante.
Tendo B falecido em 08/06/2020, pretende agora A exigir aos herdeiros de B a devolução do automóvel e
também reaver os 2.000 euros que tinha pago a C.
Quid Iuris?

1. Aquilo que aparentemente trata este caso é um vício de vontade, concretamente o medo/coação moral, razão
pela qual existe vontade, estando os 3 patamares dela preenchidos (existe o domínio/controlo do corpo –
vontade de ação; existe um comportamento querido – vontade de declaração e existe uma vontade de que
aquilo que declarou produza efeitos jurídicos – vontade funcional/negocial). O problema reside, no entanto, no
facto de essa vontade estar viciada, pois o declarante não é livre (está dominando por determinada previsão),
ou seja, se não fosse o receito de se concretizar o mal dirigido ao declarante o agente, A, não celebraria o
negócio. Mas para que esta seja concretizado como coação moral há que analisar certos requisitos

2. Porque é que não se trata de coação física? Pois nesses casos inexiste vontade de ação, ao contrário da coação
moral, ou seja, nos primeiro a vontade do coagido foi totalmente suprida, sendo ele como que transformado
num mero instrumento. Trata-se de uma diferença que radica, no fundo, na opção: na coação moral temos
opção, mesmo que desfavorável.

a. Existência de uma ameaça – neste caso respeitante a uma pessoa (255/2) e que consiste na sua
manutenção,
i. Ilicitude
ii. Intencionalidade (ou seja, essa ameaça tem de ter a intenção de extorquir a declaração com
a ameaça, havendo, por isso, dolo)
b. Dupla causalidade – ou seja, é necessário a existência de dois nexos de causalidade: o declarante é
ilicitamente ameaçado, sendo que essa ameaça causa o receito de um mal (primeiro nexo) e, por
sua vez (segundo nexo), esse receio está na causa da declaração (neste caso, consistiria em o B, na
concretização do mal

3. Verificados estes requisitos a coação moral é anulável nos termos do 256, conjugando com o regime geral
a. Anulável por pessoas cujo interesse a lei estabelece (neste caso, A, a vítima da coação moral que
lhe levou a proferir uma declaração que de outro modo não se concretizaria)
b. Anulável um ano até à cessação do vício que lhe serve de fundamento (neste caso, o vício que lhe
serve de fundamento seria, em última análise, a ameaça de B que lhe ameaçara de morte a sua
família)
i. Assim sendo, a cessação do vício dá-se a 08/06/2020, pelo que, a partir dessa data, B tem
um ano para arguir a anulabilidade do negócio.

4. Para além da referida anulabilidade do negócio, a coação moral geral também responsabilidade civil, por danos
emergentes, e possivelmente por lucros cessantes, nos termos 496

5. Relativamente à segunda exigência de A perante o vizinho, aparentemente estamos perante um negócio


usuário, razão pela qual é necessário verificarem-se os seguintes requisitos objetivos (existência de benéficos
excessivos, verificando-se neste caso, uma vez que o dinheiro é excessivamente alto para uma simples viagem
de carro até ao hospital); e subjetivos:

a. Situações de necessidade da vítima (verificando-se, neste caso, pois A estava bastante ferido,
precisando de ir a um Hospital, mas não tendo possibilidades de o fazer sozinho)
b. Exploração -> para este requisito específico é necessário que C tivesse consciência plena do que
estava a fazer, se não soubesse da situação de fragilidade e exploração, pura e simplesmente, não
poderia existir. Assim sendo, parece difícil perante aquilo que seria a aparente imagem alterada de
B, C não tivesse consciência (pelo que se considerará que este requisito se encontra preenchido,
caso contrário este vício não poderia ser aplicado) -> se A quer ir ao hospital e está desfigurado,
então naturalmente que há exploração

6. Partindo, pois, do pressuposto de que todos os requisitos se encontram preenchidos o negócio pode ser querida
a anulação do negócio, sendo que nesse caso a outra parte pode opor-se, declarando aceitar a modificação
segundo juízos de equidade (que aqui seria, por exemplo, ajustar o preço do transporte feito)

7. Acontece que, o regime geral da anulabilidade estabelece o prazo de um ano para ser requerida a anulação,
razão pela qual findo esse prazo, o negócio já não é anulável (tal como se verifica).

V.
A decidiu pregar uma partida ao seu colega de trabalho B, dizendo-lhe que tinha ganho o “Euromilhões” e
que lhe queria doar 10.000 euros
Ao princípio B não acreditou, mas A garantiu que era verdade e entregou-lhe um cheque naquele valor,
tendo B, esfusiante alegria, aceitado de imediato.
Duas horas depois ter entregue o cheque a B, A confessou às gargalhadas, perante os demais colegas
de trabalho, que tudo não tinha passado de uma brincadeira, pedindo a devolução do cheque, mas B
recusou, alegando que o tinha adquirido validamente e que tencionava levantar o dinheiro.
Quid Iuris?
1. O critério que separa a declaração não séria e a reserva mental, é a intenção de enganar ou não, os efeitos de
determinada declaração pode ou não ter o efeito de enganar, mas aí temos de separar duas hipótese: a de ele
não ter a intenção de enganar, e o efeito prático ter sido esse (245/2) e a de ele querer enganar, mesmo se fosse
numa brincadeira (244). o critério de distinção é o critério de enganar.
2. Assim, sendo, neste caso, é o da reserva mental, pelo que não conhece a reserva mental (n.º2), a reserva não
prejudica a validade da declração.

VI.
A, pai de B e de C, pretendia vender um terreno seu a B.
Mas por recearem que C não desse a autorização exigida no artigo 877º do Código Civil, A e B fingiram
tratar-se de uma doação, tendo este contrato sido celebrado por escritura pública.
Quid Iuris?
1. Encontramos aqui perante uma divergência da vontade e a declaração, uma vez que todos os estádios da
vontade se encontram preenchido, tendo essa sido bem formada, acontece, porém, que a vontade real é
diferente da vontade declarada, sendo que, neste caso especifico, tal deve-se ao facto de A, por acordo com o
seu declaratário, B, declarar uma vontade diferente da real, com o instituto de enganar terceiro, C (logo, é uma
divergência intencional)

2. Aparentemente, trata-se de uma simulação (240), razão pela qual é necessário observar vários requisitos:

a. Animus decipiendi, ou seja, o intuito de enganar terceiros, neste caso o C.


b. Acordo para prosseguir tal, aqui apesar de o enunciado dizer expressamente, aparentemente houve
um acordo no qual A e B decidiram que para contornar o artigo 877 do CC, ira proceder a doação
por escritura pública.
c. Divergência entre a declaração e a vontade real intencional, requisito que o enunciado indica
também, claramente, na medida em que as partes aquilo que A e B queriam era celebrar um negócio
de compra e venda, mas por receio de tal ser impedido por C, decidiram fazer um acordo simulatório
(no qual a vontade real será a de compra e venda), na qual estabeleceram que existiria uma doação
(acordo aparente)

3. Concretamente, poderemos dizer que a simulação é fraudulenta (pois, para além de enganar terceiro também
o prejudica, já que ele não se pode opor ao negócio dissimulado, o que não aconteceria se este tivessem seguido
a sua vontade real, impedido a utilização de um direito); objetiva (pois a divergência recai sobre o conteúdo do
NJ – de compra e venda eles dissimulam uma doação) e a relativa.

4. Temos um negócio dissimulado (compra e venda) e um negócio simulado (doação)

5. Considerando, portanto, que os requisitos se encontram verificados o negócio simulado é nulo (240/2),
existindo uma nulidade atípica. A parcela típica diz respeito ao facto de o negócio não produzir quaisquer
efeitos; de não ter prazo de invocação; pode ser invocado por qualquer interessado e oficiosamente pelo
tribunal. A parcela atípica diz respeito, para este caso específico, ao 242/2, na medida em que os herdeiros
legitimários, neste caso C (não sendo parte do negócio, não tendo, pois, qualquer direito mas uma mera
expectativa jurídica que diz respeito à possibilidade de eles virem a herdar ou não) podem, sendo a simulação
fraudulenta, invocar a nulidade da simulação.

6. Considerando que era uma simulação relativa (na medida em que há um negócio verdadeiramente pretendido:
o dissimulado – a compra e venda), cabe aplicar o 241, relativamente ao negócio dissimulado. Diz-nos o artigo
que se deve aplicar o regime que se aplicaria caso A tivesse celebrado um negócio sem o negócio simulado, ou
seja, neste caso teria de seguir o 877, logo, seria anulável.

7. Mas se existe um vício de forma, então, a compra e venda seria nula, consoante o 241/2, pois se o negócio
dissimulado for de natureza formal só é válido se tiver exigido a forma legal. A doutrina diverge no tocante a
saber o que é necessário para considerar que a forma legal foi respeita.

8. Duas primeiras grandes teses, no campo extremo:

a. MOTA PINTO; GALVÃO TELLES E HOSTER (MC designa de teoria da forma da declaração) -> é
necessário que o negócio dissimulado tenha cumprido a forma legal. É irrelevante o facto de no
simulado se ter cumprindo a forma legal exigida. Ou seja, o que se pede é que as contradeclarações
(do negócio dissimulado) sigam a forma legal exigida. Por essa mesma razão, esta tese é merecedora
de crítica: na maior parte dos casos o negócio dissimulado será nulo por vício de forma, na medida
em que se seguissem a forma legal exigida, então qual seria o objetivo de o dissimular, se ele seria
“posto a descoberto”.
i. aA ser assim, e partido do pressuposto de que a compra e venda não seguiu a forma legal,
então o negócio dissimulado seria nulo por vício de forma
b. PPV, PIRES DE LIMA E ANTUNES VARELA (MC designa de teoria da forma do negócio) -> o relevante
é que para respeitar o 241/2 que a forma usada no negócio simulado seja a mesma forma que a lei
exige para o negócio dissimulado.
i. O negócio da compra e venda seria válido, pois a escritura pública foi utilizada para a
doação.
c. Conjunto de teorias intermédias que MC designa de Ratio da forma -> o que interessa é saber se a
forma usada no simulado cobre os elementos essências do simulado

VII.
A, devedor de C, combinou com B fingir que lhe vendia um valioso quadro seu por escrito, a fim de pôr
esse bem ao abrigo do credor C.
Acontece que posteriormente à celebração desse negócio, B vendeu o referido quadro a D.
Poderão, quer A quer C, arguir a eventual invalidade da venda de B a D?
1. Encontramos aqui perante uma divergência da vontade e a declaração, uma vez que todos os estádios da
vontade se encontram preenchido, tendo essa sido bem formada, acontece, porém, que a vontade real é
diferente da vontade declarada, não querendo A, na realidade, celebrar um negócio com B.

2. Aparentemente, trata-se de uma simulação (257), razão pela qual é necessário observar vários requisitos:

a. Animus decipiendi, ou seja, o intuito de enganar terceiros, neste caso o C.


b. Acordo para prosseguir tal, o enunciado expressamente refere
c. Divergência intencional entre a declaração e a vontade real, requisito que o enunciado indica
também, claramente, na medida em que as partes tinham a vontade real de nada querer celebrar,
mas para enganar terceiro, celebram um contrato de compra e venda.

3. Concretamente, poderemos dizer que a simulação é fraudulenta (pois, para além de enganar terceiro também
o prejudica, já que tem o intuito de o credor não exercer os seus direitos de crédito sobre o quadro e querendo
evitar também uma eventual penhora sobre o quadro); objetiva (pois a divergência recai sobre o conteúdo do
NJ –) e a absoluta (já que as partes não pretendem celebrar qualquer negócio, queriam antes uma aparência de
transmissão da propriedade do quadro)

4. A pode arguir a invalidade do negócio, à luz do 242 pelo que, considerando, portanto, que os requisitos se
encontram verificados o negócio simulado é nulo (240/2), pelo que o negócio não produziu quaisquer efeitos
razão pela qual quando A vende a D está a proceder a uma venda de bens alheios (892).

5. C é também parte interessada do negócio, pelo que à luz do regime geral, pode invocar a nulidade do negócio,
não produzindo ele também quaisquer efeitos, razão pela qual, o verdadeiro dono nunca teria deixado de ser
A.

6. No entanto, coloca-se o problema do 243, ao dizer que a da invalidade é inoponível a terceiros de boa fé, sendo
terceiro de boa fé, àquele que no momento da constituição dos respetivos direitos desconhecia a simulação
(simulação em sentido psicológico vs. posição em sentido ético – sem culpa, não incluindo os terceiros que não
foram diligentes e, por consequência, negligentes – crítica: a lei nada diz, e elemento sistemático, por exemplo,
o 291 que consagra boa fé em sentido ético). Partindo do pressuposto, de que, está consagrado boa fé em
sentido psicológico, cabe abrir 3 hipóteses, baseado no pressuposto de que este é um conflito entre o credor
do simulador e um subadquirente do simulador adquirente.

Não faz sentido o credo do simulado alienantes estar de má fé


7. no primeiro caso (todos de boa fé) o professor Galvão Telles defende que o objetivo do 243 é o de proteger
quem confiou na aparência do negócio, razão pela qual quem pode arguir a invalidade é o subadquirente/credor
do simulador adquirente. No entanto, a doutrina maioritária diz-nos que, sendo A o verdadeiro dono, é o
credor/subadquirente do simulado alienante que prevalece no conflito.

8. Na segunda opção prevalece, segundo entendimento da doutrina maioritária, que o terceiro de má fé não pode
arguir a invalidade do negócio (interpretação restritiva do artigo 243/1), pelo que prevalece o terceiro de boa
fé.

VIII.
1. A é advogado e B é juiz, tendo eles celebrado um contrato nos termos do qual A se comprometeu a
pagar a B uma avença de 500 euros por mês e B, em contrapartida, comprometeu-se a decidir sempre a
favor dos clientes de A sempre que tivesse que jugar um processo em que este interviesse.
Quid Iuris?
1. Segundo o 280 não podem ser não podem ser celebrados negócios que sejam contrários à lei ou contrários
contra à ordem pública, segundo o n.º 1 do preceito indicado (e 294) e o n.º 2, pois os juízes são independentes.
2. Se alguém comprar uma fotocopiadora a fim de fabricar notas falsas, tal compra será válida ou inválida?
1. Tratando-se de um fim do negócio (e uma vez que objeto é lícito) aplica-se o artigo 281, pelo que, constatando
que o fim é contrário à lei e ordem pública, este será nulo quando o fim for comum a ambas as partes, ou seja,
neste caso, para ser comum a ambas as partes, é necessário que a parte que venda a calculadora não tenha
conhecimento da intenção do declaratário.
3. Estando A embriagado, comprou um quadro de preço avultado a B, estando agora A muito arrependido
da compra que fez.
Quid Iuris?
1. Aparentemente, encontramo-nos no âmbito dos vícios da vontade, na medida em que os três patamares da
vontade estão preenchidos, no entanto, por algum motivo, neste caso por A estar embriagado, a sua vontade
foi malformada.
2. Estaríamos, portanto, perante um caso de incapacidade acidental (257), tendo, para a declaração ser anulável
de cumprir certos requisitos:
a. No momento de celebração do negócio, A teria de estar com uma incapacidade/impossibilidade – neste
caso, estando embriagado, não estava em condições psíquicas de entender e querer, logo, não
entendeu, no momento o sentido da declaração que proferiu
b. A tal incapacidade acidental tem de ser notória (sendo que, para tal, uma pessoa de normal diligência
colocada naquela circunstância ou conhecida do declaratário.
3. Nada nos dizendo o enunciado quanto ao preenchimento do segundo requisito, se se verifica é anulável, caso
contrário não o é, razão pela qual terá de cumprir, tanto A como B, os efeitos essenciais previstos no 879.
4. Uma vez que o enunciado não nos dá informações concretas, a verdade é que poderíamos também estar, aqui,
perante o vício da usura, razão pela qual é necessário verificarem-se os seguintes requisitos objetivos (existência
de benéficos excessivos, verificando-se, aparentemente, neste caso, uma vez que o dinheiro é excessivamente
alto para o quadro); e subjetivos:

a. Situações de necessidade da vítima (verificando-se, neste caso, pois A estava embriagado – estado
mental.)
b. Exploração -> para este requisito específico é necessário que B tivesse consciência plena do que
estava a fazer – da exploração da situação de fragilidade –, se não soubesse da situação de
fragilidade e exploração, pura e simplesmente, não poderia existir. Parece difícil (referindo-se, mais
uma vez que esta é um SUB hipótese, já que não sabemos se esse era o valor verdadeiro do quadro
ou não) que B não notasse o estado de A, se o estado de embriaguez fosse tal.

5. Partindo, pois, do pressuposto de que todos os requisitos se encontram preenchidos o negócio pode ser querida
a anulação do negócio, sendo que nesse caso a outra parte pode opor-se, declarando aceitar a modificação
segundo juízos de equidade (que aqui seria, por exemplo, ajustar o preço)

4. Tendo o automóvel de A ficado riscado numa máquina de lavagem automática, A dirigiu-se ao


proprietário da máquina, reclamando uma indemnização, mas este recusou, apontando para um letreiro
afixado junto à máquina onde se dizia: "não nos responsabilizamos pelos danos causados aos veículos".
Quid Iuris?
1. Estamos perante uma CCG, pelo que tem de se verificar vários requisitos, nomeadamente: pré-formulação
(verifica-se, está uma letreiro afixado, já pré-formulado pela empresa, que não foi suscetível de discussão pelos
possíveis aderentes); multiplicidade (concretizada através da indeterminabilidade, verifica-se, igualmente, visto
que, sendo uma máquina automática, está como que ao dispor de qualquer um que a queira utilizar) e rigidez
(sendo uma máquina, está pré-programada, pelo que, à partida, não é suscetível de negociação) – requisitos
que se encontram no art.º 1 da LCCG.
2. Tudo aparente que os dever de informação e comunicação foram cumpridos (arts. º 5 e 6)
3. Cabe analisar se ele é consumidor final ou entidade equiparada ou empresário, pois sendo este último aplica-
se apenas os arts. 18 e 19, e se for consumidor aplica-se estes (por remissão do art. 20), e os 21 e 22.
4. Resta, apenas, averiguar se tal cláusula é proibida, ou seja, se preenche alguma das alíneas do art.º 21 e 22 e,
e/ou arts. º 18 e 19 (conforme explicitado acima). A alínea C do artigo 18, alínea C, pelo que sendo uma cláusula
absolutamente proibida é nula (art.º 12 da LCCG), pelo que não produz quaisquer efeitos, logo o proprietário
da máquina tem de indemnizar A.
5. Torna-se, aqui, irrelevante, portanto, reiterando, se é consumidor final ou entidade equipada ou empresário,
por força do art.º 20.

IX.
Em Junho de 2018, A vendeu por escrito um quadro a B por 30.000 euros, dizendo-se no contrato que “a
venda não produzirá efeitos enquanto El Rei D. Sebastião não regressar de Alcácer Quibir”.
Apesar de o rei “ainda” não ter regressado, B pretende agora pagar o preço e que lhe seja entregue o
quadro, afirmando que este lhe pertence, mas A alega que o quadro continua a ser seu.
Quid Iuris?
1. Tudo indica que estamos perante uma condição, ou seja, uma cláusula pela qual as partes subordinam a eficácia
do NJ a um evento futuro e incerto, pelo que os efeitos do NJ começam verificam-se, neste caso, se esse facto
se verificarem (condição suspensiva, neste caso, vs. Condição resolutiva – 270).
2. Trata-se, no entanto, de uma condição impossível, pelo facto de o evento condicional ser fisicamente impossível,
pelo que acarreta a nulidade de todos o negócio jurídico (271/2). Logo, se é nulo A tem razão.
A sua resposta seria a mesma se se tratasse de uma doação?
1. Sim. A condição impossível tem um regime especial na doação e testamento. O 967 remete-nos para o 2230,
pelo que a condição se dá por não escrita (salvo se outra for a intenção de A), pelo que a condição é destruída,
mas o negócio mantém-se, incondicionado. Logo, o proprietário é B.

➔ Se o caso prático usar o conceito de transmissão da propriedade, tínhamos de abrir todas as hipóteses.
X.
Em 2014, A vendeu uma casa a B, ficando estipulado que os efeitos do contrato cessariam no caso de B
morrer antes de A.
Em Abril de 2021, B doou a referida casa a C, mas A insurge-se contra tal doação dizendo que ela o
prejudica e que B não tinha legitimidade para alienar o bem.
Quid Iuris?
1. A cláusula expressa no enunciado corresponde a uma condição, ou seja, uma cláusula pela qual as partes
subordinam a eficácia do NJ a um evento futuro e incerto, pelo que os efeitos do NJ começam extinguem-se,
neste caso, se esses factos se verificarem (condição resolutiva, neste caso, vs. Condição suspensiva– 270)
2. Desenvolvendo esta noção, é necessário que estejam preenchidos determinados requisitos:
a. Caráter futuro do facto ou acontecimento de cuja verificação dependem os efeitos do negócio, pelo que
não há condição se o facto a que as partes se reportarem é contemporâneo ou passado, em relação ao
momento da celebração do negócio (a morte é algo futuro ao momento ao momento da celebração do
negócio)
b. O caráter incerto do facto futuro respeita à sua verificação, assim se a verificação do facto fosse certa,
mas o seu momento em que ocorreria incerto, deixar-se-ia de falar em condição, existindo um termo
incerto (é verdade que a morte de B e A são acontecimento certos, no entanto o facto de B morrer antes
de A, já é incerto)
c. A condição de origem convencional, dependendo da estipulação das partes, não pode dizer que há
condição quando o facto futuro seja estatuído na lei como condicionante da eficácia do ato.
3. Concorrendo na condição todos os requisitos ela é própria, resolutiva (como se referiu), idónea (na medida em
que é lícita - tal terminologia deduz-se no 271/1 e 2), duplamente incerto (na medida em que, a verificação e o
momento da verificação são incertos), causal (pois depende de causas naturais) e possível (271/2)
4. A pendência (período que medeia entre a celebração do negócio e a verificação ou não do evento condicional),
suscita vários problemas, nomeadamente quanto ao exercício do direito e cumprimento da obrigação
condicional (272) e quanto à prática de atos de disposição do direito (274)
5. Quanto ao exercício do direito e cumprimento da obrigação condicional cabe dizer que a quem cabe o direito
deve agir de acordo com os princípios da boa-fé, por forma a não comprometer o direito da outra parte, ou seja,
o legislador estabeleceu um regime que, a verificar-se ou não a condição, assegure a integridade do direito
condicionado, neste caso, ao A, pelo que B não pode ter condutas de modo a que, caso a condição se venha a
verificar, o direito da contraparte fique esvaziado ou perca o seu valor.
6. Quanto à prática de atos de disposição do direito, no negócio condicional cabe dizer que o 274/1 permite a
prática de atos de disposição dos bens ou direitos que são objeto do negócio condicional, no entanto, tais atos
ficam sujeitos à eficácia ou ineficácia do próprio negócio (consoante se verifique ou não a condição resolutiva),
ou seja, o ato dispositivo é considerado, também ele, condicionado (sendo uma condição legal), isto se, que
parece não se verificar neste caso, se as partes estipularem em sentido contrário, como no indica a parte final
do mesmo preceito.
7. Se é uma condição resolutiva a compra e venda transmitiu a propriedade para B (não é certo que seja a título
definitivo); tinha legitimidade para doar, no entanto, esse negócio é, também ele, condicional (se B morrer antes
de A verifica-se a condição, a verificação da condição irá também extinguir o negócio entre B e C). Mas se A
morrer antes de B, então o status quo mantém-se.

XI.
No dia 05/04/2021 A vendeu a B várias toneladas de frutos do seu pomar, a fim de serem utilizados por B
numa fábrica de refrigerantes da qual era proprietário.

Imagine as duas seguintes hipóteses, independentes uma da outra:

1) No momento da compra, A e B não sabiam que, devido a problemas de higiene e segurança, as


autoridades administrativas competentes tinham determinado, em 04/04/2021, o encerramento
imediato e definitivo da referida fábrica.
Quid Iuris?
1. Aparentemente estamos perante um erro-vício, significando isto, que todos os estádios da vontade estão
presentes, pelo que esta foi bem formada (existe vontade de ação – controlo/domínio do nosso corpo; vontade
de declaração – quer que aquele atos sejam associados determinados comportamentos; vontade
funcional/negocial – quer os efeitos jurídicos produzidos por aquela declaração), no entanto, sendo,
concretamente, um erro-obstáculo , existe uma desconhecimento/falsa representação da realidade.
2. Especificamente estaríamos perante um erro sobre as bases de negócio (252), visto que não se pode enquadrar
na categoria de erro sobre o declaratário ou erro sobre o objeto do negócio.
3. A questão de identificação do âmbito de aplicação do erro sobre a base no negócio não é unânime na doutrina:
a. LCF: define como um erro bilateral sobre condições patentemente fundamentais do NJ, incluindo as
circunstâncias que, desde que condicionem ambas as partes (ou que, sendo relativos a uma delas, a
outra não poderia deixar de aceitar como condicionantes do negócio), podem ser projetadas sobre
qualquer elemento do NJ, nomeadamente o objeto, ou a pessoa do declaratário.
b. PPV, MC e MRR – discorda, dizendo que, uma interpretação sistemática impede tal visão,, sob pena de
existir regimes conflituantes – é algo que está fora do negócio, mas que o condicionou de algumas
formas; seriam, portanto, as circunstâncias que envolveram a celebração do negócio, mas que a sua
existência/subsistência tem uma influência determinante na celebração do negócio.
i. Recebe acolhimento unânime nestes autores também, o facto de o erro não ter de ser,
necessariamente, bilateral, pois nada na lei o exige, apesar de, na maioria das vezes, assim
ocorrer.
4. Confirmado que se trata, portanto, de um erro sobre a base do negócio – essencial –, pois B não teria comprado
(e, muito provavelmente A também não teria vendido – são circunstâncias que condicionam a realização do
negócio), o regime remente-nos para 437, pelo que além da essencialidade, é necessário que a manutenção
afete gravemente os princípios da boa fé (traduzido, grosso modo, num equilíbrio contratual) e que a alteração
não esteja coberta sobre os ricos naturais do negócio.
5. Verificados os requisitos o negócio é suscetível e resolução ou modificação segundo juízos de equidade, sendo
que pedida a resolução a outra parte pode opor-se, querendo a tal modificação segundo juízes e equidade.

6. MC – diz que no erro sobre a base do negócio há que aplicar o regime comum do erro, a anulabilidade apenas,
pois não se verificam, segundo MC, valores que requeiram, para o erro da base do negócio, que justifiquem
consequências diferentes. MRR – se o legislador quisesse apenas a anulação tê-lo-ia referido no 252.º/2, não
teria remetido em bloco para o 437.º.
2) Na madrugada do dia 05/04/2021, uma tempestade destruíra na totalidade os mencionados frutos,
facto esse que A e B desconheciam no momento da celebração do contrato.
Quid Iuris?
1. 281/1 – Impossibilidade física do objeto do negócio, logo, o negócio é nulo.

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