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MISSIONÁRIO

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ISSN
Andrew Murray foi convidado a ser um dos pregadores em uma
Conferência Missioriária nos Estados Unidos, e não pôde participar. A
pedido dos organizadores, escreveu as mensagens que proferiria naquele
encontro. Este livro contém estas mensagens, e tem servido de um grande
instrumento de Deus para despertar a igrejaao redor do‘mundo.
EDIÇÃO
Durante muito tempo, pensei que o problema missionário fosse a
ESPECIAL ---
falta de visão de pastores e líderes, mas lendo este livro, concordei com o
autor que o problema é de nível espiritual. A igreja está enferma, e a
enfermidade é a falta de compromisso, falta de poder do Espírito Santo efalta
de consagração.
O que chamou minha atenção é o _fato do autor mencionar
especificamente o problema missionário. Creio que é importante
apresentarmos os desafios, às necessidades mundiais, as bases bíblicas de
Missões Mundiais, mas este tratamento será superficial. Não adianta
fazermos congressos, conferências, etc, se não atingirmos o cerne do
problema.
Tenho visto que missões, na mente de alguns, é uma idéia do
momento, é a visão que Deus deu para alguns pastores, é a onda do er
momento. Este livro acaba com esta idéia, pois, mostra que missões é algo
que deve nascer de um coração totalmente consagrado e comprometido
com Deus.
Pr. Edson Queiroz CONHEÇA TUDO
SOBRE A JANELA 10-40

AQUI ESTÁ A
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HORIZONTES
Brasil E-mail: horizontes@overnet.com.br ANDREW MURRAY
A CHAVE PARA
O PROBLEMA
MISSIONÁRIO
A CHAVE PARA
O PROBLEMA
MISSIONÁRIO

ANDREW MURRAY
Titulo do original em Inglês:
Key to The Missionary Problem

Copyright ©1979 Leona F. Choy

Tradução: Neyd Siqueira


Revisão de Estilo: Isly Carvalho Marino Franco

Composição, fotolito, impressão e acabamento:


Associação Religiosa Imprensa da Fé

1a Edição: 1993
2' Impressão: 1999

Publicado no Brasil com a devida autorização e com todos os


direitos reservados por:

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ÍNDICE

PREFÁCIO

1. Respostas à Conferência Missionária 11


2. Missões: Um Teste sobre as Condições da
Igreja 25
3. Motivação: Amor por Cristo 35
4. O Aprofundamento da Vida Espiritual 55
5. O Poder da Oração de Fé 67
6. A Igreja de Pentecostes e o Espírito Santo 85
7. O Problema Missionário É Pessoal 97
8. A Responsabilidade da Liderança em Missões . 107
9. Um Chamado à Oração e à Contrição 115

MENSAGEM AOS PASTORES

PROPOSTA: UMA SEMANA DE ORAÇÃO

EDIÇÃO ESPECIAL: JANELA 10-40


APRESENTAÇÃO
Tive a oportunidade de viajar pelas páginas de "A Chave
para o Problema Missionário". Difícil deixar de estabelecer
um paralelo entre o livro e minha viagem recentemente a
Israel, onde visitei e contemplei o lugar em que o nosso
Missionário Celeste proferiu a mais importante ordem: "Ide
por todo o mundo, e pregai o evangelho"... (Mc 16.15). Graças
à seriedade dos primeiros proclamadores das Boas Novas que
não permaneceram com ar contemplativo, depois do manda-
do do Senhor Jesus.
Eles O amaram e deram crédito à Sua Palavra e foram
fiéis em anunciar a mensagem redentora de salvação aos
perdidos.
Prezado leitor, este livro relata a preciosidade da mensa-
gem salvadora à Igreja; deixa seus limites traçados, alcançan-
do o mundo todo com a Palavra de Deus.
Estou certa de que "A Chave para o Problema Missioná-
rio" abrirá as portas de muitas igrejas para a saída de missioná-
rios e suprimentos, a fim de que haja continuidade na obra dAquele
que deu Sua preciosa vida em resgate de toda a raça humana.
Não coloque esta "chave" em uma gaveta ou em uma
estante de livros, apenas para ornamentá-la. Use-a para abrir
os olhos espirituais de muitos que estão adormecidos ou
talvez, em berço esplêndido, esquecidos de que no mundo
existem bilhões de pessoas não alcançadas pelas Boas Novas
do Evangelho pois, missões é o principal trabalho da Igreja.
Missões é a principal tarefa, a principal batalha para todos
aqueles que crêem no Senhor Jesus Cristo como Senhor e
Salvador do mundo.

Com muito amor,

Ivani Garnica
PREFÁCIO

Andrew Murray foi convidado a ser um dos pregadores


em uma Conferência Missionária nos Estados Unidos, e não
pôde participar. A pedido dos organizadores, escreveu as
mensagens que proferiria naquele encontro. Este livro con-
tém essas mensagens, e tem servido de um grande instrumen-
to de Deus para despertar a igreja ao redor do mundo.
Durante muito tempo, pensei que o problema missioná-
rio fosse a falta de visão de pastores e líderes; mas lendo este
livro, concordei com o autor que o problema é de nível
espiritual. A igreja está enferma, e a enfermidade é a falta de
compromisso, falta de poder do Espírito Santo e falta de
consagração.
O que chamou minha atenção é o fato de o autor mencio-
nar especificamente o problema missionário. Creio que é
importante apresentarmos os desafios, as necessidades mun-
diais, as bases bíblicas de Missões Mundiais, mas este trata-
mento será superficial. Não adianta fazermos congressos,
conferências, etc., se não atingirmos o cerne do problema.
Tenho visto que Missões, na mente de alguns, é uma idéia do
momento, é a visão que Deus deu para alguns pastores, é a
onda do momento. Este livro acaba com essa idéia, pois
mostra que Missões é algo que deve nascer de um coração
totalmente consagrado e comprometido com Deus.
Precisamos de um grande avivamento espiritual, que
leve a igreja ao centro da vontade de Deus. Se analisarmos o
livro de Atos, após o derramamento do Espírito, o resultado
final foi um grande movimento missionário. Na história da
Igreja a mesma coisa aconteceu. Os grandes movimentos
missionários foram resultados do avivamento. Por isso, não
podemos inverter os valores. Fazer a obra missionária sem o
poder do Espírito Santo é promover movimentos humanos
-9-
10 A CHAVE PARA O PROBLEMA MISSIONÁRIO
com poucos resultados. Por outro lado, quando Missões é
resultado do mover de Deus no coração de homens de Deus,
o produto final será a Glória de Deus espalhada a todas as
nações.
Quero encorajar você a ler estas mensagens com oração,
e com um coração aberto à voz do Espírito Santo. E se você está
sendo vítima dessa enfermidade, encontrará aqui a solução
para que, em sua vida e ministério, Missões seja a prioridade
número um.
Minha oração é que este livro possa ser uma bênção para
a igreja evangélica brasileira, neste kairós de Deus, onde ela
está sendo despertada para cumprir a sua missão: A Evange-
lização do Mundo.

Pr. Edison Queiroz


1
RESPOSTAS À CONFERÊNCIA
MISSIONÁRIA

Tive o privilégio de ser convidado a falar na importante


Conferência Missionária Ecumênica* realizada em Nova
Iorque, em 1900, no mês de abril. As circunstâncias em que se
encontrava o nosso país, a Africa do Sul, logo no início da
guerra, eram tais que não me senti com liberdade para sair.
Uma carta urgente de D.L. Moody, insistindo para que fosse
e ficasse até depois da conferência para as reuniões em
Northfield, reabriu a questão. Mas, mesmo assim, continuei
impedido de ir.
O convite deu, porém, ocasião a muitas reflexões e
oração. Eu tinha uma mensagem para esse encontro? Teria
condições de apresentar essa mensagem tão claramente que
valesse a pena viajar toda essa distância? Seria possível, em
meio a tão grande variedade de assuntos, conseguir silêncio,
tempo, e atenção focalizada para o que me parecia o único
ponto necessário?
Em meio a tais perguntas, o pensamento que há muito
me ocupava a mente tornou-se claro. Senti que o único ponto
sobre o qual desejaria falar era este: Como despertar a Igreja
para conhecer e cumprir a vontade do Senhor para a salvação
dos homens?
Li com muito interesse o volume preparatório publicado

* O termo "ecumênico" como usado por Murray e a Conferência de Nova Iorque,


no contexto dessa era teológica, foi empregado no sentido bíblico positivo
interdenominacional. Tratava-se claramente de uma conferência evangélica e
não de urna reunião liberal de crenças diversas.
12 A CHAVE PARA O PROBLEMA MISSIONÁRIO
para a Conferência. Eu tivera a impressão de que, embora
muito naturalmente maior atenção fosse dirigida ao trabalho
no campo, as atividades básicas, ou seja, preparar a Igreja
para cumprir fielmente a sua parte, não tinham o lugar
exigido pela sua importância. Não existe verdade mais
espiritual e misteriosa do que a idéia de Cristo, nosso cabeça,
ser real e inteiramente dependente dos membros do Seu corpo
para executar os planos que Ele, como Cabeça, formou. Só
homens espirituais, e uma igreja em que homens espirituais
possam ter influência, são capazes de cumprir corretamente
as ordens de Cristo.
O argumento mais cristalino, os apelos mais fortes, têm
pouco resultado quando isto não é compreendido e objetivado
como o verdadeiro modelo da devoção cristã. Sinto sincera-
mente que, para os amigos das missões que se esforçam para
ver toda a perspectiva do propósito de Deus e Seu reino, esta
é a pergunta mais importante: Como podemos levar a Igreja
inteira a colocar-se à disposição do Senhor no trabalho para o
qual Ele a destinou e dela depende? No relatório preliminar,
o assunto mal foi tocado.
Quando recebi os dois volumes do relatório da conferên-
cia, naturalmente procurei ver de imediato como a questão
fora tratada e até que ponto. Descobri várias sugestões
importantes sobre como aumentar o interesse nas missões.
Mas, se posso aventurar-me a dizer, a raiz do mal, a verdadei-
ra causa de tanto desinteresse, e a maneira de resolver o
problema, permaneceram virtualmente intocadas. Houve
uma admissão indireta de haver algo errado com a maior
parte dos cristãos professos. Todavia, a verdadeira seriedade
e pecaminosidade da negligência em relação ao mandamento
do Senhor, indicada por um estilo inferior de vida cristã, e o
problema sobre o que as organizações missionárias poderiam
fazer para mudar a situação, não tiveram o lugar proeminente
que julgo merecerem.
Os três títulos seguintes vão, penso eu, abranger tudo o
que foi dito em referência ao despertamento da Igreja para
cumprir a ordem do Senhor.
Respostas à Conferência Missionária 13
O Pastor e o Púlpito
Dentre as sugestões feitas para colocar as missões em seu
lugar adequado no trabalho da Igreja e no coração dos crentes,
a primeira tratava de O Pastor e o Púlpito. O discurso do Dr.
Pentecost sobre O Pastor em Relação ao Campo Missionário no
Exterior, começou com estas palavras:
"O pastor tem o privilégio e a responsabilida-
de de resolver o problema missionário no exterior.
Até que os pastores de nossas igrejas acordem para
a verdade desta proposição, e o trabalho no exterior
se torne para eles uma paixão em seus corações e
consciência, por mais que as nossas lideranças se
empenhem, seja imaginando movimentos de avan-
ço ou organizando novos métodos para angariar
dinheiro das igrejas, as rodas da carruagem das
missões vão girar lentamente.
Todo pastor exerce seu cargo por comissão de
Cristo e só pode preenchê-lo quando, como bispo
missionário, considera o mundo inteiro o seu redil.
O pastor da mais pequenina igreja tem o poder para
fazer sentir a sua influência ao redor do mundo.
Não merece o seu cargo o pastor que não entra
em sintonia com a amplitude magnífica da grande
comissão, e extrai inspiração e zelo da sua extensão
mundial.
O pastor não é só o instrutor, mas o líder da sua
congregação. Ele não deve apenas cuidar das suas
almas, mas dirigir as suas atividades. Se existem
igrejas que não fazem doações nem oram pelas
missões no estrangeiro, é porque seus pastores não
estão cumprindo a ordem de Cristo. Eu me sinto
praticamente seguro ao dizer que, assim como ne-
nhuma congregação pode resistir muito tempo ao
pastor entusiasta, da mesma forma nenhuma con-
gregação vai mostrar qualquer interesse quando o
pastor não demonstra senão fria indiferença ou
falta de convicção com respeito às missões."

O Dr. Cuthbert Hall falou sobre Os Jovens do Futuro


14 A CHAVE PARA O PROBLEMA MISSIONÁRIO
Ministério e como incendiá-los com paixão missionária:
"A paixão de um amor como o de Cristo pelas
pessoas se desenvolve no discípulo cristão em vista
da presença em seu íntimo de poderes e atividades
que refletem a mente de Cristo. E o que era a mente
de Cristo? Uma visão clara do que o mundo é e
necessita; um sentimento profundo de compaixão
pelo mundo; um esforço ativo a favor do mundo, a
ponto de dar a Sua vida como resgate por muitos.
Dentre esta trindade de poderes surgiu a paixão do
Seu amor pelas vidas humanas — o amor ilimitado,
insondável, imortal de Cristo pelo homem. O mi-
nistro de Cristo pode falar com línguas de homens
e de anjos, pode ter todo o conhecimento, toda a fé
que pode mover montanhas, mas se não tiver a paixão
de um amor como o de Cristo, ele não tem o Espírito de
Cristo, e não é, então, dEle.
O problema do seminário teológico não é trei-
nar ocasionalmente um indivíduo para o campo no
estrangeiro, mas como despertar a paixão missionária
em cada pessoa que passa pela escola, para que se torne
um ministro capaz de Cristo. O essencial é que haja
na escola um altar sagrado de paixão missionária,
no qual a tocha de cada homem possa ser acesa, e o
lábio de cada homem, tocado com uma brasa viva.
Por causa daqueles que provavelmente possuem
dons para o serviço no exterior, o seminário teológi-
co deve arder de zelo pela evangelização, sentir o
fardo da preocupação com as condições do mundo,
de modo que ninguém possa viver dentro dos seus
muros sem enfrentar em seu íntimo a séria pergun-
ta: E da vontade de Cristo que eu vá servi-10 em
regiões distantes?
Quanto ao homem que entra no pastorado em
sua pátria, ele deve ter uma paixão missionária que
o torne grande em compreensão e apostólico em
sua visão de Cristo e do cristianismo. Para vencer
a resistência da ignorância e preconceito, para des-
pertar a atenção das mentes apáticas — cegas para
Respostas à Conferência Missionária 15
a grande importância da evangelização do mundo
—, para educar a inteligência da igreja, para conse-
guir em casa os suprimentos que manterão o servi-
ço de Deus lá fora, é necessário que o pastor tenha
paixão missionária. Mas o homem que vai assim
conquistar, deve ser primeiro conquistado e incendiado
por Deus.
O estudo das missões está lentamente alcan-
çando o nível de uma disciplina teológica. Mas o
estudo das missões como uma disciplina do semi-
nário teológico não pode, por si mesmo, incendiar o
futuro ministério com paixão missionária. Vejo
outras forças operando para promover esse fim
glorioso. Vejo o desenvolvimento de um novo
conceito do ministério que está atraindo muitos dos
mais dotados e consagrados entre nossos jovens.
Em inúmeras faculdades pode ser encontrada hoje
a flor da nossa juventude, para quem o ministério
não parece ser um mundo reservado e sombrio de
técnicas eclesiásticas, mas a própria estrada do rei
para um serviço alegre e abundante. Vejo entre os
nossos jovens o desenvolvimento de uma disposi-
ção de espírito que está crescendo em direção a um
grande entusiasmo missionário pelo ministério do
futuro. A consagração pessoal para o serviço pesso-
al é um conceito de vida que se torna cada vez mais
atraente para muitas das nossas mentes mais bri-
lhantes.
Desta classe de intelectos virá o ministério do
futuro. Ele será um ministério cheio de Cristo,
contemplando a glória de Deus na face de Jesus
Cristo, adorando-O com o entusiasmo de uma afei-
ção absolutamente destemida, e apresentando-O
como o único Nome sob o céu pelo qual os homens
podem ser salvos. Será um ministério missionário,
cheio de paixão para remir, perspicaz o suficiente
para descobrir a direção da obra de Cristo, fiel em
sua mordomia em casa e no exterior; apostólico em
sua segurança de que Cristo ordenou produzir
16 A CHAVE PARA O PROBLEMA MISSIONÁRIO
muito fruto, apostólico em sua ânsia de levar bem
longe o evangelho do Senhor ressurreto e assunto
aos céus, apostólico em sua esperança de que o
Salvador invisível e coroado voltará com toda a
certeza".
D. Brewer Eddy, do Grupo de Yale (Yale Band), deu o
ponto de vista dos alunos com respeito aos pastores: "A
importância da liderança deve ser enfatizada. Vamos usar
esse talento que faz os outros trabalharem. Vocês são os
líderes. Nós, seis milhões de jovens neste pais, estamos
dispostos a segui-los, se nos guiarem. Esta é a responsabili-
dade do pastor. A impressão mais definida do Grupo de Yale
talvez seja esta: O louvor ou a responsabilidade e a culpa pelas
presentes condições em nossas juntas missionárias devem ser
colocados à porta dos pastores...Se o seu apelo for baseado no
orgulho do pastor, na benevolência individual da igreja, ou na
lealdade denominacional, nossos jovens vão devolver uma
recompensa comparável à base em que esse apelo é feito. Mas
venham até nós com a nota espiritual mais profunda que
puderem tocar, com uma mensagem da própria vida do Mestre que
estamos aprendendo a amar cada vez mais, e estes seis
milhões vão segui-lo o melhor que puderem".
S. Earl Taylor continuou a colocar a responsabilidade
sobre os pastores: "Até que nossos pastores estejam prontos
para apoiar este empreendimento, jamais haverá espírito
missionário adequado às necessidades desta geração. Quan-
do o pastor ajuda, quase todo plano tem êxito; quando ele se
opõe, bem pouca coisa pode ter sucesso. Embora pastores
piedosos em toda a parte do país estejam ajudando os estu-
dantes que trabalham nas igrejas, ouvimos falar que, tanto
aqui como na Grã-Bretanha, o maior obstáculo para despertar
a igreja doméstica é o pastor, que teme que o seu salário seja
cortado".
O Hon. S.B. Capen repetiu a importância da liderança:
"Uma condição é absolutamente essencial para o sucesso.
Embora eu acredite que devemos esperar que nossos leigos
cristãos tenham grande participação no planejamento desta
organização melhorada, necessitaremos, mesmo assim, de
pastores dedicados para dirigirem a sua execução. Os pasto-
Respostas à Conferência Missionária 17
res devem continuar sendo os lideres nesta obra grandiosa; e
um pastor consagrado vai sempre significar uma igreja con-
sagrada. Nesta nova época de trabalho missionário, os pasto-
res da atual geração, se quiserem, poderão ser os líderes desta
guerra santa em prol da justiça em toda a terra".
O Rev. D.S. MacKay chamou a atenção para o trabalho
do pastor em profundidade: "Um apelo especial, para ser
eficaz, deve ter não só por trás dele, mas nele, pulsando
através dele, a personalidade persuasiva do pastor local.
Espalhar alguns folhetos nos bancos e simplesmente chamar
a atenção para eles, é um dos meios mais seguros de o pastor
destruir um apelo especial. A eficácia do apelo depende, em
última análise, do pastor que com zelo amoroso dá ênfase ao
pedido. Não protesto, de qualquer modo, contra a ajuda de
missionários de tempos em tempos em nossos púlpitos, mas
é a fidelidade do pastor local, traduzindo o apelo específico
em uma mensagem individual para o seu povo, que é, afinal
de contas, o segredo do sucesso nas missões para o exterior".
A ênfase nas missões para o exterior vai diminuir o
interesse pela igreja e comunidade locais? Pelo contrário. O
Bispo Hendrix deu uma ilustração concreta: "Andrew Fuller,
alarmado com a indiferença espiritual da sua igreja, pregou
um sermão sobre o dever da igreja de transmitir o evangelho
ao mundo; e, querendo alargar a compreensão intelectual
deles e estimular o seu zelo e propósito, fez outro sermão no
domingo seguinte sobre o dever da igreja de dar o evangelho
ao mundo. No terceiro domingo o mesmo tema foi apresen-
tado do púlpito. Os homens começaram, então, a perguntar:
'Se o evangelho pode salvar o mundo, ele pode também salvar
nossos filhos, nossa comunidade?' E desse sermão missionário
surgiu um dos mais memoráveis reavivamentos na história
de qualquer igreja".
Uma coisa é o ministro defender e apoiar as missões, e
outra muito diferente é compreender que as missões são o
alvo principal da igreja e, portanto, o alvo principal da existên-
cia da sua congregação. Só quando esta verdade prevalece em
seu poder espiritual é que ele poderá dar ao tema das missões
um lugar adequado no seu ministério. Ele deve ver como cada
crente é chamado para testemunhar o amor de Cristo e sua
18 A CHAVE PARA O PROBLEMA MISSIONÁRIO
reivindicação, e como a vida espiritual saudável depende da
parte que o crente desempenha no serviço do Senhor. Ele
deve aprender a guiar a congregação, para fazer com que a
extensão do reino de Cristo seja o objetivo supremo de sua
existência corporativa.
A fim de levar isto a cabo, o poder essencial está numa
consagração definida para ser cheio do Espírito e do amor de Cristo.
Quando pensar, então, em toda a ignorância, mundanismo e
incredulidade que deve enfrentar, aprenderá que o seu entu-
siasmo missionário não deve ser da carne, mas o entusiasmo do
Espírito Santo. Isto vai enchê-lo com um intenso amor por
Cristo, uma fé intensa em Seu poder, um desejo intenso de
levar todos os Seus discípulos a entregarem as suas vidas, a
fim de tornar Jesus o Rei de toda a terra.
Quanto mais sinceramente estudarmos as missões de
acordo com a responsabilidade do pastor, tanto mais veremos
que tudo depende de a vida pessoal encontrar-se sob o poder
do amor de Cristo, o qual nos constrange em nosso trabalho.
Pelo menos para o pastor, podemos ver que o problema
missionário é pessoal.

A Pena e a Imprensa
Depois da influência de o Pastor e o Púlpito para desper-
tar o interesse nas missões, o segundo lugar foi dado à Pena e
a Imprensa. A necessidade de preparar, circular e assegurar o
estudo de literatura sobre missões foi firmemente colocada de
vários pontos de vista. Os parágrafos seguintes resumem o
discurso:

A informação é o combustível sem o qual o


fogo não pode queimar. O combustível não é fogo
e não pode por si mesmo criar o fogo; mas onde há
fogo, o combustível é indispensável para mantê-lo
queimando, ou para fazê-lo queimar com mais
intensidade.
Uma igreja informada é uma igreja transfor-
mada. Um dos maiores fatores no desenvolvimen-
to do interesse missionário é provavelmente o estu-
do sistemático das missões.
Respostas à Conferência Missionária 19
A influência missionária é dupla. A tocha que
levantamos para outros ilumina nosso próprio ca-
minho. A igreja está vigiando, trabalhando e
orando pelas almas imortais. Nossos representan-
tes estão no centro do campo de batalha. E uma luta
entre as forças da vida e da morte. Estamos tão
envolvidos em nosso ambiente restrito que não nos
importamos em saber notícias desta guerra com as
forças das trevas? Se nos cabe plantar a Igreja de
Cristo até os confins da terra, devemos ouvir o relató-
rio de progresso e passá-lo adiante.
A ignorância é a fonte da fraqueza no esforço
missionário. Saiba e crerá. Saiba e orará. Saiba e
ajudará na primeira fila.
Uma palavra sobre o apelo para as publicações
missionárias serem atraentes e interessantes, como
as chamadas revistas "populares". O que torna
qualquer publicação popular? Por que será que em
campanhas recentes na Africa do Sul multidões de
pessoas se empurravam diante dos quadros de
boletins do Departamento de Guerra? Indiscutivel-
mente a intensidade do interesse sentido é devida aos
assuntos envolvidos, afetando o prestígio e o poder
britânicos. Se os cristãos fossem tão leais ao seu Rei, se
eles tivessem o mesmo entusiasmo pelo estabeleci-
mento da Sua soberania sobre as regiões que Ele rei-
vindica, então as mensagens da frente de batalha
seriam devoradas ansiosamente! Nenhuma notícia
deste tipo seria considerada aborrecida. Justamen-
te aqui está a dificuldade com referência às publica-
ções missionárias. Elas só chamam a atenção daqueles
que estão unidos com Cristo em Sua obra mundial de sal-
vação. Uma igreja cujos membros, os de fato assim
como os professos, estão buscando primeiro o reino
de Deus, exigirá e terá notícias frescas e completas
do progresso desse reino em toda a terra. Se um dia
um amor renovado pelo Senhor e o Seu reino encher
os corações de Seu povo, os relatórios do campo de
batalha serão recebidos com aclamações alegres.
20 A CHAVE PARA O PROBLEMA MISSIONÁRIO
O Rev. Dr. Rankin reforçou o apelo: "Quando tivermos
as melhores revistas possíveis, o que virá depois? Os pastores
devem, então, falar ao povo sobre essa literatura. Devem
colocá-la diante deles com tal entusiasmo que sintam que se
trata de algo que não podem negligenciar. Nossos pastores
deveriam conferir com as mulheres das igrejas e pedir que elas
levem as revistas para as outras pessoas. Nossos pastores
devem gloriar-se na literatura missionária. Devem sentir que
é mais importante do que qualquer outra coisa para contar a
história do que está ocorrendo na terra".
O Dr. A.W. Halsey salientou como deve ser a nossa
atitude: " Um dos instrutores do falecido Keith Falconer disse
que ele se aproximava do mundo das idéias como um grande
observador se aproxima do mundo da natureza, com admira-
ção, com reverência, com humildade. Justamente com esse
espírito o pastor deve aproximar-se do estudo da literatura
missionária. Na medida em que você estuda essa matéria,
crescerá a convicção de que embora esteja lendo a respeito da
vida de cristãos de muitas denominações e capacidades vari-
adas, envolvidos em diversos trabalhos em terras diferentes,
todavia, o fato que confronta você é que esses missionários crêem
na presença do Espírito de Deus! O pastor que negligencia tal
literatura rouba o seu povo de seu direito de nascimento e peca
contra a sua própria alma".

O Povo e os Bancos da Igreja


O terceiro grande meio de despertar interesse foi o da
influência pessoal exercida através de organizações relacionadas com
a igreja. É muito importante ter crianças, meninas, meninos,
jovens, homens, mulheres, todos reunidos em grupos separa-
dos sob a influência de líderes que podem orientar habilmente
o treinamento deles para amar e servir o reino. Devemos
reconhecer com gratidão o poder que os professores já estão
exercendo, e devem exercer ainda em maior escala, ao recebe-
rem e passarem adiante o maravilhoso amor de Jesus Cristo
que existe nas igrejas da sua terra natal, a fim de treinarem e
prepararem a igreja do futuro para entregar-se ao trabalho de
missões.
Respostas à Conferência Missionária 21
A Sra. T.B.Hargrove tornou muito clara a importância
dos líderes da juventude:
"A Igreja está realmente pensando como Cris-
to quando reconhece a importância da criança no
desenvolvimento do Seu reino na terra. Jesus não
deu às crianças o lugar principal na nova dispensação
e afirmou que a única maneira de o homem compre-
ender a verdade de Deus era voltar ao seu modo de
pensar quando era criança? Verdadeiramente, de
crianças, de homens e mulheres que pensam como
crianças, será composto o Seu Reino aqui na terra e no
futuro.
As sociedades de jovens da igreja são como
escolas de treinamento onde os obreiros do futuro
estão sendo preparados para tomar o lugar dos
veteranos de hoje. Muito tempo pode ser poupado
e maior eficiência obtida, se nossos jovens usarem
ininterruptamente os mesmos métodos de trabalho
e se empenharem em obter os mesmos fins diretos
em suas sociedades de jovens, que hão de absorver
a atenção deles como obreiros missionários nos
anos vindouros.
Um senhor que passeava certo dia com um
amigo, proprietário de uma fazenda muito bem
tratada, estava admirando a ordem e cuidado que
se via em toda a parte. Ele concentrou sua atenção
sobre as belíssimas ovelhas e perguntou, com muita
sinceridade, como o amigo conseguira criar tais
rebanhos. A resposta simples foi esta: 'eu cuido de
minhas ovelhas, senhor.
O grande Pastor não fez ao Seu povo a mesma
recomendação? Como cuidaremos dos rebanhos?
Mantendo tanto as associações de jovens como as
juvenis sob os cuidados de bons pastores. Elas de-
vem ter o nosso melhor. Se tiver de ser feita a
escolha de um bom líder para o trabalho com os
adultos ou os jovens, dê sempre aos jovens a preferên-
cia. A grande necessidade das sociedades
missionárias para o estrangeiro hoje, em todo este
22 A CHAVE PARA O PROBLEMA MISSIONÁRIO
imenso país e em cada igreja, é de professores bem
qualificados para as ligas juvenis. Para esta grande
tarefa são necessárias pessoas que amem as crian-
ças e os jovens por eles mesmos e por causa de
Cristo; pessoas de muita experiência, mas jovens de
coração; que se sintam comissionadas por Cristo
para 'apascentar as Suas ovelhas'; pessoas que não
façam questão de tempo para si mesmas quando
puderem ganhar almas para o Mestre. Mas esses
obreiros inteligentes e sinceros precisam de ajuda.
Os membros adultos podem cuidar das crian-
ças e jovens que estão próximos e lhes são caros,
buscando levá-los das associações de adolescentes
para as de jovens, e das de jovens para as de adultos.
Oh! que o trabalho das missões esteja realmente em
nosso coração! Não haverá cansaço nem labor, só
autonegação, quando os nossos corações se alista-
rem realmente.
Cada líder de jovens deve ter como objetivo
principal inspirar em cada criança um verdadeiro
amor por Cristo e pelos não evangelizados. Talvez
o treinamento dos jovens em suas casas, nas escolas
e sociedades, seja mais defeituoso aqui do que em
qualquer outro ponto.
Os corações verdadeiramente ganhos para
Cristo na associação juvenil, e cuidados amorosa e
inteligentemente na associação de jovens, trarão às
nossas organizações de adultos, na maioria dos
casos, Marias cujos vasos de alabastro, contendo
perfume precioso, serão quebrados aos pés do Mes-
tre, e suas fragrâncias vão chegar até os confins da terra.
O século 19 abriu muitas portas, especialmen-
te para as mulheres, mas nenhuma tem mais impor-
tância do que esta: O treinamento de mentes e corações
jovens no serviço de Cristo, e do mundo que Ele morreu
para remir. Que cada um compreenda que um dos
propósitos supremos da vida é o desenvolvimento
dos jovens de nossas igrejas para se tornarem
mulheres e homens cristãos nobres".
Respostas à Conferência Missionária 23
Muito mais coisas de grande valor foram ditas na Con-
ferência com respeito à organização, às quais não posso
referir-me aqui. O que citei é suficiente para mostrar quanto
terá de ser feito antes que a igreja tenha tomado posse deste
magnífico poder.
Em resumo, se os nossos pastores forem levados a acredi-
tar que o grande alvo da existência das suas congregações é
tomar Cristo conhecido de toda criatura; se o nosso povo lesse
e se interessasse pelas notícias do reino e sua extensão; se
pudéssemos conseguir que nossos homens e mulheres cris-
tãos dedicados organizassem nossos jovens para que o seu
treinamento no serviço missionário fosse parte da sua educa-
ção no amor de Cristo e na vida de santidade; se nossos
estudantes pudessem ser treinados numa atmosfera de entu-
siasmo missionário, haveria razão para esperar que a obra
venha a ser concluída. Dentro de trinta anos todo homem e
mulher no mundo teria tido o evangelho ao seu alcance e na
verdade oferecido a eles.
Todavia, através de todos os discursos se fez sentir a
admissão secreta de que em todos esses aspectos há razão para
ansiedade. Queixas foram feitas sobre a falta de ideal e paixão
missionários em muitos pastores e estudantes, e a falta de
interesse da maioria dos membros de igreja na literatura
missionária. Muitos, muitos mais são necessários para
pastorear os jovens na vida de dedicação missionária. Essas
falhas provam que por trás de todas essas necessidades há
uma carência mais profunda: Há necessidade de um grande
reavivamento da vida espiritual, de uma devoção realmente fervoro-
sa ao Senhor Jesus, da completa consagração ao Seu serviço. Só
numa igreja em que este espírito de reavivamento tenha pelo
menos começado, é que há esperança de qualquer mudança
radical na relação da maioria dos cristãos com o trabalho de
missões.
Eu esperara que esta questão, por ter suprema importância
em vista da possibilidade de executar a ordem de Cristo
imediatamente, fosse absorver a atenção dos conferencistas.
Quando o Movimento Voluntário de Estudantes fez o seu
apelo às igrejas, anunciando o lema adotado, A Evangelização
do Mundo nesta Geração, sua mensagem foi recebida com
24 A CHAVE PARA O PROBLEMA MISSIONÁRIO
enorme entusiasmo. Devemos esperar agora que eles ve-
nham novamente e perguntem qual o grande empecilho que
impede os cristãos de satisfazerem a emergência com o entu-
siasmo que Ele tem o direito de reclamar? Está na hora de
algum grupo representativo apelar a todos os companheiros
cristãos e pedir que se faça uma pesquisa sobre a natureza e
extensão da doença que está paralisando, dessa forma, a
igreja. Ao mesmo tempo, necessitamos saber quais as condi-
ções para recuperar a saúde e as forças. Saber o que está
errado e mediante confissão e humildade voltar para o Senhor
amoroso, seria um meio de injetar nova vida na igreja e, de
modo geral, novo poder para a obra a ser feita.
O peso espiritual desses pensamentos me levou a escre-
ver este livro. Sei que não é tarefa fácil falar com humildade,
sabedoria, amor e, no entanto, com fé e eficácia, o que parece
estar faltando ou é pecaminoso na igreja. Estou certo, porém,
de que muitos vão aceitar ajuda para responder a estas
perguntas: Há qualquer possibilidade real de um reavivamento
na igreja que leve cada congregação onde o evangelho pleno
for pregado a ter como alvo principal a transmissão do
evangelho a cada criatura? Qual o caminho que levará a esta
mudança? E que passos devem ser tomados por aqueles que
lideram as missões da igreja?
Que Deus possa, pelo Seu Espírito Santo, guiar-nos para
a visão da Sua vontade em relação à igreja, para a fé no Seu
poder e promessa, e para a obediência de que vai andar em
qualquer estrada que Ele abrir.
2
Missões: Um Teste sobre as
Condições da Igreja

No capítulo anterior, levantei a questão: O que pode ser


feito para estimular de tal forma a vida espiritual da igreja,
para que a causa missionária venha a ter todo o apoio e
entusiasmo sincero que merece? Para responder a essa
pergunta, devemos primeiro fazer uma apreciação cuidadosa
da verdadeira relação entre a igreja e o trabalho missionário.
Vamos considerar, neste capítulo, a condição da igreja.
Como base para o nosso estudo, vamos usar passagens
extraídas de discursos feitos na Conferência. O uso freqüente
da palavra SE indica como a igreja tem faltado com o seu
dever, e sugere a condição em que ela deveria e poderia ser
encontrada. Além disso, devemos perguntar a causa do
fracasso e qual a cura que poderia ser aplicada a tal condição.
Note a ênfase do Dr. John R. Mott no que se segue:

"Os morávios fizeram mais em proporção à


sua capacidade do que qualquer outro corpo de
cristãos. SE os membros das igrejas protestantes na Grã-
Bretanha e América do Norte dessem na mesma propor-
ção, as contribuições para as missões teriam tido um
aumento quatro vezes maior. SE nós, como missioná-
rios, fôssemos para o campo de trabalho em número
correspondente, teríamos uma força de quase 400 mil
obreiros estrangeiros, o que excede muito o número
de missionários calculado como necessário para
conseguir a evangelização do mundo nesta geração.

- 25 -
26 A CHAVE PARA O PROBLEMA MISSIONÁRIO
Eu pergunto: O que tem havido em relação ao trabalho
deles que não é reproduzível?
A proclamação mundial do evangelho pode
ser feita por esta geração, SE houver a obediência e a
determinação de tentar a tarefa. Não há um único
país na face da terra ao qual a igreja, SE desejasse
realmente, não pudesse enviar embaixadores de
Cristo para proclamar a Sua mensagem.
Contraste os milhões de membros nas igrejas
protestantes com os poucos milhares que começa-
ram o trabalho no dia de Pentecostes. Quando
relembramos as realizações daquela igreja infante,
podemos negar a possibilidade de os cristãos de
hoje darem a toda a humanidade uma oportunidade
de conhecer a Cristo, SE eles se unirem para levar isso
a cabo?
O poder financeiro da igreja é enorme. SE um
quarto dos membros das igrejas protestantes desse
um 'cent' por dia, isso renderia mais de vinte e cinco
milhões de libras, em contraste com os menos de
quatro milhões de libras do ano passado.
As várias organizações de jovens cristãos in-
cluem ao todo, só na América do Norte, seis milhões
de membros. Esses jovens, SE forem corretamente
educados e orientados, poderão levantar a cada ano
dinheiro suficiente para sustentar todos os missio-
nários estrangeiros, a fim de conseguirem a
evangelização do mundo.
As escolas dominicais contêm mais de vinte
milhões de membros. SE eles fossem treinados para
dar um 'penny' por semana, isso representaria uma
soma maior do que o total de ofertas feitas para as
missões pela cristandade hoje.
Existem agora, provavelmente, 200 mil solda-
dos na Cidade do Cabo (África do Sul). Todos
ficamos impressionados com a demonstração de
unidade e poder do império britânico: sentimo-nos
profundamente comovidos com o exemplo das re-
públicas, pois vimos jovens e velhos prontos para
Missões: Um Teste sobre as Condições da Igreja 27
lutar pela sua pátria. Todavia, quando é sugerido
que os cristãos protestantes se unam para enviar 50
mil missionários, a idéia é criticada como sendo
visionária e exercendo uma pressão muito grande sobre
os recursos da igreja!
O número de Sociedades Bíblicas passa de oi-
tenta. SE o trabalho for adequadamente promovido, an-
tes de terminar esta geração cada indivíduo na Ásia
e na África terá possibilidade de ler ou ouvir, em sua
própria língua, as obras magníficas de Deus."
O Bispo Thoburn declarou que, SE esta Conferência e
aqueles a quem ela representa cumprirem o seu dever, na primeira
década do novo século dez milhões de pessoas poderão ser
acrescentadas à Igreja de Cristo. O Dr. Chamberlain afirmou
a possibilidade de fazer com que a índia aceite a Cristo
durante a vida de alguns, pelo menos, nesta assembléia!
Em seu discurso, o Sr. Robert Speer similarmente afir-
mou: "O alvo das missões no estrangeiro é tornar Jesus Cristo
conhecido do mundo. A igreja poderia fazer esse trabalho, SE
este alvo dominasse o seu espírito. Fiquei satisfeito ao ler, na
primeira página do nosso programa, as últimas palavras de
Simeon Calhoun: 'Tenho a profunda convicção, e digo isso
repetidamente, de que SE a igreja de Cristo fosse o que deveria ser,
antes que vinte anos se passassem, a história da Cruz seria
proclamada aos ouvidos de cada alma vivente' ".
Para citar só mais um exemplo, o Rev. W. Perkins,
Secretário da Sociedade Missionária Wesleyana, de Londres,
disse: "Por maiores que sejam os resultados das missões no
estrangeiro, pelos quais nos rejubilamos e damos graças, eles
teriam sido cem vezes maiores, SE a igreja fosse o que deveria ser
nos dois grandes temas da oração e da contribuição".
Os SÉS que se seguem indicam que alguma coisa está
errada na igreja com referência ao mandamento de Cristo
para evangelizar o mundo. Todos conhecemos a força da
palavra SE. Ela sugere uma causa que pode resultar em certos
efeitos. Ela aponta a condição necessária para assegurar os
resultados que desejamos. Nas passagens que citamos, e em
diferentes formas de expressão que ocorrem com freqüência
na literatura missionária, descobrimos o mesmo pensamento
28 A CHAVE PARA O PROBLEMA MISSIONÁRIO
repetido incessantemente: Como a evangelização do mundo
poderia ser realizada com certeza e rapidez se não fosse pelo
fracasso da igreja em fazer a parte que lhe foi designada por
Deus.
Tais declarações não são importantes em si. Mais impor-
tantes são as lições que devemos aprender e o que pode ser
feito para afastar areprovação que pesa sobre nós como Igreja
de Cristo. Esses SES sugerem quatro perguntas: A igreja está
realmente em falta, e como? Será possível que ela tenha
mesmo feito o que se afirma? Qual a causa da falha presente?
Como a libertação deste mal pode ser obtida?
Essas acusações contra a igreja não foram feitas por
incrédulos ou inimigos, mas por alguns dos seus servos mais
fiéis. Elas foram apresentadas na presença de milhares de
missionários e amigos das missões. Se não fossem verdadei-
ras, teriam sido negadas e refutadas. Mas ninguém pôde
negá-las. Todavia, por mais que uma pequena parte da igreja
esteja se esforçando ao máximo, a grande maioria dos seus
membros não é o que deveria ser. Eles não desejam sinceramente
tornar Cristo conhecido de toda criatura com a maior rapidez
possível. Este alvo não domina o espírito da igreja — ela não está
preparada para fazer o que lhe cumpre.
A acusação é extremamente séria e solene. Não basta
ouvir e depois pô-la de lado e esquecê-la. Todos os que amam
a Igreja de Cristo, que amam a Cristo Jesus seu Senhor, que
amam as almas que perecem em vista desta negligência,
devem fazer uma pausa e considerar o que isso significa.
Cristo deu a Sua vida para nos servir e pediu que déssemos a
nossa vida para servi-10. Cristo colocou Seu amor em nossos
corações, pedindo que o transmitíssemos a outros. Cristo, em
Seu amor, morreu por todos e tornou-Se dependente de nós
para que outros pudessem conhecer esse amor. Cristo supor-
tou a agonia da cruz em troca da alegria de ganhar e salvar os
perdidos, e contou com o nosso amor e desejo de torná-10 feliz
e levar a Ele a Sua recompensa.
No entanto, a grande maioria dos que professam dever
tudo ao Seu amor, mostram indiferença, seja em agradá-10 ou
em abençoar seus semelhantes atraindo-os para esse amor. O
amor dEle nunca pode ter sido certamente uma realidade para
Missões: Um Teste sobre as Condições da Igreja 29
eles; caso contrário, não iriam negligenciar de tal forma o seu
chamado. Será que não lhes foi corretamente ensinado o
motivo da sua remissão? A igreja, ao chamá-los para a
salvação, deve ter mantido oculto deles o grande propósito
para o qual foram remidos — a necessidade de viver para
salvar outros. Seja qual for a causa, este é o fato solene: uma
igreja, comprada com o sangue do Filho de Deus para ser Seu
mensageiro para um mundo agonizante, na maior parte falhou
inteiramente em compreender e cumprir o seu chamado. Nenhuma
palavra pode expressar, nenhuma mente pode entender, o
significado terrível e as conseqüências do fracasso e da conde-
nação envolvidos nos simples SES dos quais falamos.
Não vamos pensar que este fracasso seja por causa de
alguma impossibilidade natural. Esses SES indicam qual o
destino real da igreja. Os sonhadores falam de impossibilidades
e calculam o que pode ser feito se elas se concretizarem.
Estamos ouvindo homens que estão dizendo palavras de
moderação e verdade. Esses SÉS sugerem o que é certa e
divinamente possível. Eles nos apontam a Igreja do Pentecostes.
"Evangelizar o mundo nesta geração é possível", dizem,
"em vista das realizações dos cristãos da primeira geração.
Eles fizeram mais para executar a obra do que qualquer
geração posterior. Ao estudarmos o segredo do que realizaram,
somos levados a concluir que não empregaram nenhum
método vitalmente importante que não possa ser usado hoje,
e não se apropriaram de nenhum poder que não possamos
utilizar."
O grande poder de Deus e do Seu Espírito Santo é tão
nosso quanto deles. Somos herdeiros de tudo o que a Igreja
de Pentecostes tinha: o poder do Seu amor agonizante no
coração; uma fé triunfante em Cristo; testemunho simples,
corajoso, pessoal; sofrimento resignado; consagração absolu-
ta e apaixonada; o poder celestial que vence o mundo e nos
torna mais que vencedores através dAquele que nos amou.
Como foi salientado, a igreja dos morávios era uma das
menores em número e mais pobre em recursos de todas as
igrejas. O que ela fez é uma prova de que toda a igreja, uma
vez que desperte para o seu chamado, pode certamente realizar
a tarefa. Em vista das oportunidades que ela tem nas portas
30 A CHAVE PARA O PROBLEMA MISSIONÁRIO
abertas em cada país do mundo, dos enormes recursos que ela
tem na riqueza de seus membros, no número de obreiros que
tem à sua disposição, e da fé em que enviá-los lhe traria
avivamento e força em vez de enfraquecê-la, está absolutamente
no poder dela levar o evangelho a toda criatura nesta geração.
Vamos tomar tempo para nos colocar sob o total poder deste
grande pensamento. Ele reforçará o que tem sido dito a
respeito do terrível fracasso da igreja. Ele vai preparar-nos
para descobrir como enfrentar o mal.
Esses SÉS nos convidam a perguntar as causas desta falha.
Por que a Igreja de Cristo tem sido tão absolutamente infiel?
Os cristãos protestantes não professam sinceramente reco-
nhecer Cristo como o seu Senhor, e a Palavra santa de Deus
como a sua lei de vida? Nós não afirmamos que somos os
verdadeiros sucessores da igreja pentecostal, os herdeiros de
todas as suas promessas e poderes? Não somos os filhos da
Reforma, possuidores das grandes verdades de que todo
homem tem direito à Palavra de Deus como ensinada a ele
pelo Espírito de Deus, e livre acesso à graça de Deus através
de Cristo? A própria suma e centro de nossa confissão não é
que reconhecemos Jesus como Mestre e Senhor, e nos compro-
metemos a fazer o que Ele diz? Por que, então, exatamente
naquilo de que a glória de Cristo mais depende, no que o Seu
coração de amor está mais fixado, a igreja não tem realizado
ou cumprido o seu destino?
Seria fácil mencionar várias causas que colaboram para
produzir esta infidelidade. Mas todas elas podem ser reduzi-
das a uma única resposta: A baixa condição espiritual da igreja
como um todo. O controle do Espírito Santo em poder e ple-
nitude sobre a vida dos crentes é essencial para a saúde e força
da igreja. A Bíblia ensina como é fácil para a igreja.e seus mem-
bros terem um credo sólido, observarem fielmente os serviços
e deveres, zelarem pelo crescimento da igreja e pelas obras de
filantropia que estejam no âmbito da esfera da natureza hu-
mana, enquanto aquilo que é definitivamente espiritual, so-
brenatural e divino está em grande parte ausente. O espírito
do mundo, a sabedoria e a vontade do homem no ensino da
Palavra e na orientação da igreja, tornam-na muito semelhante
a qualquer outra instituição humana. Pouco pode ser visto
Missões: Um Teste sobre as Condições da Igreja 31
nela do poder do mundo celestial e da vida eterna. Em tal
igreja as missões talvez ainda tenham um lugar, embora não
o lugar nem o poder necessários para cumprir o mandamento
de Cristo. A paixão do amor a Cristo e às almas, o entusiasmo
e o sacrifício pelos homens, e a fé no Poder onipotente que
pode avivar os mortos não estão presentes.
Entre os principais sintomas desta condição doentia
estão o mundanismo e a falta de oração. Se há algo em que Cristo
e a Bíblia insistem, é que o Seu reino não é deste mundo, que
o espírito do mundo não pode compreender as coisas de
Deus; que a separação do mundo em comunhão e conduta,
em submissão ao Espírito que veio do céu, é essencial para
seguir fielmente o Senhor Jesus. O único fato universalmente
admitido — que a maioria dos cristãos não se interessa e não
dá nada para as missões, que um grande número dá pouco e
nem sempre por motivos elevados — é simplesmente uma
prova do mundanismo em que a maioria dos cristãos vive. Foi
necessário que Cristo viesse do céu para salvar os homens do
mundo. É necessário o Espírito do céu nos discípulos de
Cristo para salvá-los do espírito do mundo, para que desejem
sacrificar tudo para ganhar o mundo para Cristo. É preciso o
mesmo Espírito, através do qual Cristo deu a Sua vida pelo mundo,
para reavivar a Sua igreja, a fim de atrair o mundo para Deus.
A falta de oração é outro sintoma dessa condição doentia.
O espírito mundano no cristão prejudica suas orações. Ele vê
as coisas à luz do mundo. Não se sente confortável nos
lugares celestiais. Não percebe o poder sombrio do pecado
naqueles que o rodeiam nem a necessidade urgente da inter-
venção divina direta. Ele tem pouca fé na eficácia da oração,
na necessidade de muita e incessante oração, no poder que
possui para orar no nome de Cristo e prevalecer. A verdadeira
caridade, o ato de dar — em vista de sua dedicação a Cristo e
por Ele —, e a oração sincera, o ato de pedir e confiar nEle para
abençoar a oferta e conceder o Seu Espírito para a Sua obra, são
uma prova de que o espírito mundano está sendo vencido e
que a alma está sendo restaurada à saúde espiritual. SE a
igreja quiser ser o que ela deve ser, e fizer o que o Senhor lhe
pede para fazer pela evangelização do mundo, esta moléstia
e este fracasso devem ser reconhecidos e buscada a libertação.
32 A CHAVE PARA O PROBLEMA MISSIONÁRIO
Esses SÉS nos constrangem a perguntar como essa liberta-
ção pode ser encontrada. Qual a cura para essa enfermidade?
Um indivíduo doente não pode fazer o trabalho de um
homem sadio. Ajudar a levar a cruz de Cristo ao mundo exige
o vigor da plena saúde espiritual. Como descobrir isto?
O primeiro passo no retorno a Deus, para um serviço
sincero e uma nova bênção, é sempre a confissão. Os líderes do
trabalho missionário da igreja, que deveriam ter conhecimen-
to das tremendas necessidades do mundo, que compreendem
o sentido e a urgência do mandamento do Senhor, que
percebem a provisão absolutamente inadequada que a igreja
está fazendo para a Sua obra — sobre eles repousa o dever
solene de levantar suas vozes e fazer com que o povo de Deus
reconheça o seu pecado. É possível que estejamos de tal forma
ocupados com nossos campos especiais de trabalho e com o
pensamento de tantas coisas que estão sendo feitas, que a
extensão e a culpa do que não está sendo feito fique compara-
tivamente fora do nosso foco de visão.
As últimas estatísticas nos dizem que, no fim do século
19, o total de comungantes dentre os não evangelizados como
fruto do trabalho missionário foi de 1,3 milhão de pessoas. A
comunidade cristã nos países não evangelizados ou o número
de adeptos nominais do cristianismo em contato direito com
as agências evangélicas é de 4,4 milhões (Dr. Dennis, no
Relatório da Conferência, Vol. 2, p.423). Com um bilhão de
não evangelizados, estamos, então, em contato real com
menos de cinco milhões em comparação com 995 milhões
ainda não alcançados! Até que os cristãos sejam levados a
ouvir, pensar e orar para que olhos sejam abertos a fim de ver
esses campos que "já branquejam para a ceifa", que lhes
foram confiados, eles jamais reconhecerão a grandeza do
trabalho, seu próprio despreparo, ou a necessidade urgente
de esperar pelo poder divino que vai equipá-los para a tarefa.
Quando entendermos isto, sentiremos e confessaremos
quão pouco a igreja fez. A culpa e a vergonha que recaem
sobre a igreja de Cristo, tornar-se-ão o fardo do Senhor sobre
nós. Alegramo-nos e damos graças pelos 15.460 missionários
estrangeiros que estão agora trabalhando no campo entre os
quatro milhões de comunidades cristãs em seus países. Mas
Missões: Um Teste sobre as Condições da Igreja 33
quais os esforços que estão sendo feitos para alcançar os
bilhões? Eles estão morrendo a uma velocidade de trinta
milhões por ano — dentro de trinta anos, terão desaparecido
nas trevas. Que perspectiva existe para que sejam pronta-
mente alcançados?
Cada organização missionária se queixa da falta de
fundos. Fomos informados de que entre os membros de igreja
um terço nem contribui nem se importa com o reino; outro ter-
ço dá, mas se importa muito pouco, e não contribui pelo mo-
tivo certo; e que até mesmo do terço restante — na verdade,
menos que um terço — só uma pequena proporção faz o má-
ximo que pode e contribui e ora de todo o coração. A de-
sobediência da igreja no que diz respeito à maioria dos seus
membros, sua indiferença em relação ao trabalho do Senhor,
sua recusa em ouvir os apelos para ajudar a Ele — não serão
estes um pecado e uma culpa maiores do que pensamos? Se
a igreja deve realmente acordar do seu sono, a única coisa ne-
cessária é que aqueles a quem Deus deu a tarefa da Sua obra
missionária no mundo, devem colocar diante do povo a
absoluta desproporção entre o que está sendo feito e o que deveria e
pode ser feito. Eles devem enfatizar a culpa e a vergonha dessa
atitude até que um número cada vez maior se curve diante de
Deus em confissão e humildade, clamando perdão e misericór-
dia com a mesma sinceridade de quando buscaram a sua salvação.
Com o apelo aos homens deve haver também um apelo
a Deus. A obra é dEle: Ele se interessa por ela. O poder é dEle:
Ele o dá. A igreja é dEle: Ele espera para usá-la. O mundo é
dEle: Ele o ama. Ele pode fazer com que o Seu povo se dis-
ponha no dia do Seu poder. Ele ouvirá o grito dos Seus servos
que não Lhe dão descanso. Ele se agrada em provar a Sua fi-
delidade no cumprimento das Suas promessas. As coisas não
podem continuar como estão, caso o mundo deva ser realmente
evangelizado nesta geração. Nesta geração, o evangelho deve ser
oferecido a cada pessoa. A não ser que haja uma grande mu-
dança na igreja, e ela se entregue ao trabalho de um modo que ainda
não fez antes, a tarefa não poderá ser executada. Mas ela pode
fazer isso, se o povo de Deus prostrar-se de rosto no chão di-
ante dEle para confessar seu pecado e o pecado de seus
irmãos.
34 A CHAVE PARA O PROBLEMA MISSIONÁRIO
Que eles peçam a Deus para revelar a causa de todo o
fracasso e depois levem a mensagem à Sua igreja. Que eles
preguem a grande verdade: assim como a conquista do
mundo para Deus é o propósito supremo da existência da
igreja, também o amor pelas almas, a rendição da vida inteira
a Cristo para ser usado por Ele na conquista de almas, é o
dever, a única vida saudável, para todo crente. Existem
dezenas de milhares de filhos de Deus que estão dispostos,
sim, que estão secretamente ansiando servir ao Senhor, mas
não sabem como ou não têm a coragem de fazê-lo.
Chegará, então, a hora em que não teremos mais de
dizer: "SE a igreja fosse o que deveria ser", mas encontraremos
alegria e força para guiar um povo preparado nesse caminho
árduo, porém, bendito de levar a cruz de Cristo a toda criatura
nesta terra de Deus, e lutar com os exércitos do inferno para
abrir caminho para o reino de Cristo, o vencedor!
3
Motivação: Amor por Cristo

Na virada do século, o Dr. John R. Mott declarou: "O


exemplo mais surpreendente de realização no campo domés-
tico, no interesse das missões no exterior, é o dos morávios.
Eles fizeram mais, em proporção ao seu número, do que
qualquer corpo de cristãos. SE os membros das igrejas protestan-
tes na Grã-Bretanha e na América do Norte dessem na mesma
proporção, as contribuições para as missões cresceriam quatro
vezes mais. E SE eles seguissem como missionários em núme-
ros correspondentes, teríamos uma força de quase 400 mil
obreiros estrangeiros, o que é imensamente maior do que o
número de missionários calculado como necessário para con-
seguir a evangelização do mundo. A pergunta é: O que está
havendo em relação ao trabalho deles que não permite a nossa
reprodução?"
Na Conferência, o Secretário da Junta de Missões da
Igreja Morávia nos Estados Unidos, Rev. P. de Schweinitz,
resumiu o trabalho da igreja nestas palavras:
"Até hoje (em 1900) os morávios têm um missionário no
campo estrangeiro para cada 58 comungantes nas igrejas
domésticas, e para cada membro nas igrejas domésticas há
mais de dois membros nas congregações em que os missioná-
rios trabalham. Qual o incentivo para o trabalho missionário
no exterior que produziu tais resultados? Embora reconhe-
cendo a suprema autoridade da Grande Comissão, os Irmãos
Morávios sempre enfatizaram como seu principal incentivo a
verdade inspiradora de Isaías 53.10-12: fazendo do sofrimen-
to do Senhor o estímulo para toda a sua atividade. Eles
extraíram dessa profecia seu grito de combate missionário:
- 35 -
36 A CHAVE PARA O PROBLEMA MISSIONÁRIO
Conquistar para o Cordeiro que foi morto a recompensa dos Seus
sofrimentos'. Sentimos que devemos recompensar a Ele de
alguma forma pelos sofrimentos terríveis que suportou para
obter a nossa salvação. A única maneira em que podemos
recompensá-10 é levando almas a Ele. Isso é compensação
pelo trabalho de Sua alma. De nenhum outro modo podemos
levar ao Salvador que sofreu a recompensa de Sua paixão, a
não ser através do esforço missionário, quer vamos pessoal-
mente ou capacitemos outros para irem. Coloque este pensa-
mento ardente de 'amor pessoal pelo Salvador que me remiu'
no coração de todos os cristãos e terá o mais poderoso
incentivo para o labor missionário. Oh! se pudéssemos tornar
pessoal este problema missionário! Se pudéssemos encher o
coração das pessoas com um amor pessoal por este Salvador
que morreu por elas, a indiferença da cristandade desapare-
ceria, e o reino de Cristo surgiria."
Caso o exemplo dos Irmãos Morávios deva exercer
qualquer influência, e a igreja despertar para seguir nos
passos deles, devemos descobrir quais foram os princípios
que os animaram, onde obtiveram o poder que os capacitou
a fazer tanto; e, especialmente, como Deus os equipou para
essa obra. Não podemos ter efeitos semelhantes sem causas
semelhantes. Quando as condições dos sucessos deles forem
descobertas, o caminho para a restauração da igreja hoje
poderá ser encontrado.
Um breve resumo da história da Igreja Morávia será
muito útil para nossa informação.
Sua Origem: A Morávia e a Boêmia eram duas províncias
a noroeste do império austríaco, fazendo fronteira com a
Saxônia. (Nota: As designações geográficas são as existentes
na época em que estas informações foram escritas.) Nos
séculos 72 e 82 elas conheceram o evangelho primeiro através
dos gregos e mais tarde através da igreja romana. Como os
primeiros permitiam a pregação no idioma nacional e lhes
deram a Bíblia em sua própria língua, surgiram divisões que
causaram conflitos incessantes. A igreja romana obteve aos
poucos a primazia e a partir do século 15, quando John Huss
foi queimado na estaca por pregar o evangelho (1415), o país
tornou-se o cenário de terríveis perseguições. No decorrer do
Motivação: Amor por Cristo 37
tempo, os que permaneceram fiéis ao evangelho se reuniram
num povoado a nordeste da Boêmia, no vale de Kunwald,
onde tiveram permissão para viver algum tempo em paz
relativa. Ali, em 1457, eles passaram a ser conhecidos como
"Os Irmãos da Lei de Cristo". Quando sua igreja foi
estabelecida, eles assumiram o nome de Irmãos Unidos (United
Brethren).
Sua Disciplina: Uma das jóias mais brilhantes desta igreja
era a sua disciplina. Não foi apenas a sua doutrina, mas a sua
vida; não apenas a sua teoria, mas a sua prática, que lhes deu
tal poder. Quando os reformadores entraram em contato com
eles mais tarde, Bucer escreveu: "Só vocês, em todo o mundo,
combinam uma disciplina sadia com uma fé pura. Quando
comparamos nossa igreja com a sua, devemos envergonhar-
nos. Que Deus preserve em vocês aquilo que Ele lhes deu".
Calvino escreveu: "Cumprimento suas igrejas pelo fato
de o Senhor, além da doutrina pura, ter dado a elas dons tão
excelentes, e por manterem tão boa moral, ordem e disciplina.
Reconhecemos há muito o valor desse sistema, mas não
conseguimos de forma alguma estabelecê-lo".
Lutero afirmou: "Diga aos irmãos que devem apegar-se
ao que Deus lhes deu, e não abandonar sua constituição e
disciplina".
Qual era a disciplina deles? Em cada detalhe de suas
vidas — nos negócios, no prazer, no serviço cristão, nos
deveres civis — eles usavam o Sermão do Monte como
lâmpada para os seus pés. Eles consideravam o serviço de
Deus como a meta da sua vida e tudo era feito em função disto.
Seus ministros e presbíteros deviam cuidar do rebanho,
assegurar que todos vivessem para a glória de Deus. Todos
deviam ser uma única irmandade, ajudando e encorajando
uns aos outros numa vida tranqüila e piedosa.
Seus Sofrimentos: Durante cerca de 50 anos eles viveram
em Kunwald relativamente sem serem molestados, embora
perseguidos em outras partes. Na virada do século, o Papa e
o Rei conspiraram contra eles. Em 1515, justamente quando
a Reforma se iniciava na Alemanha, quase pareceu que seriam
exterminados. Com intervalos de tolerância, seus problemas
continuaram, até que em 1548 um Edito Real levou milhares
38 A CHAVE PARA O PROBLEMA MISSIONÁRIO
para a Polônia, onde eles estabeleceram uma igreja grande e
próspera. Com um novo rei, em 1556 a paz voltou e a Igreja
dos Irmãos firmou-se novamente e espalhou-se pelas três
províncias da Boêmia, Morávia e Polônia. No final do século,
a igreja dera a Bíblia ao povo e promovera a educação a tal
ponto que as escolas da Boêmia vieram a ser conhecidas em
toda a Europa. O povo dali era considerado como o que tinha
melhor educação em todo o mundo. Em 1609, eles obtiveram
a Carta Patente da Boêmia, concedendo, pela primeira vez,
completa liberdade de crença. Em 1616, eles publicaram a sua
Ordem de Disciplina, relatando detalhadamente a instituição
da igreja.
Sua Supressão: Quando Frederico II subiu ao trono, tudo
mudou repentinamente. O Dia de Sangue em Praga, em 1620,
testemunhou a execução de 27 nobres da mais elevada catego-
ria. Durante os seis anos seguintes, a Boêmia se tornou um
campo de sangue e 36 mil famílias deixaram o país. A
população diminuiu de 3 milhões para um milhão. A Igreja
dos Irmãos foi destruída e dispersa. Durante todo aquele
século, os que permaneceram no país adoraram a Deus em
segredo e formaram o que foi chamado de "Semente Oculta".
Quando tomamos novamente o fio da meada, em 1722, uma
centena de anos se passara, mas só Deus sabe o sofrimento
suportado no decorrer desses anos. Todavia, durante esse
período, a esperança não morrera de todo. John Amos
Comenius, o último bispo da igreja na Morávia, escreveu em
1660: "A experiência ensina claramente que algumas igrejas
são, às vezes, destruídas pela mão de Deus estendida em ira.
Mas, em certas ocasiões, outras igrejas são plantadas em seu
lugar ou as mesmas igrejas se levantam em outros lugares. Quer
Deus a considere digna de voltar a viver em sua terra nativa,
ou permita que morra ali e a ressuscite em outro ponto, não
sabemos...Segundo a Sua promessa, o evangelho será levado,
por aqueles cristãos que foram justamente castigados, aos
povos remanescentes na terra; e assim, como na antigüidade,
nossa queda será a riqueza do mundo".
Em 1707 palavras similares foram ditas por George
Jaeschke, uma das poucas testemunhas da verdade naquela
época. Ele era pai de Michael Jaeschke e avô de Augustin e
Motivação: Amor por Cristo 39
Jakob Neisser, que com suas mulheres e filhos formaram o
primeiro grupo levado a Herrnhut. Em seu leito de morte,
com a idade de 83 anos, ele declarou: "Pode parecer que o fim
da Igreja dos Irmãos tenha chegado. Mas, filhos amados,
vocês verão um grande livramento. O remanescente será
salvo. Não sei se esta libertação acontecerá também aqui na
Morávia, ou se vocês terão de sair da 'Babilônia', mas sei que
isso não vai demorar a acontecer. Estou inclinado a crer que
haverá um êxodo, e que um refúgio será oferecido num lugar
onde vocês poderão servir ao Senhor sem medo, segundo a
Sua Santa Palavra".
Lugar de Refúgio: O Senhor havia de fato provido para o
Seu povo um lugar de refúgio, onde a Igreja dos Irmãos seria
renovada. Em 1722, Christian David recebeu do Conde
Nicholas Louis Von Zinzendorf permissão para levar refugi-
ados da Morávia para o seu Estado na Saxônia. Christian
David nascera católico romano, mas não encontrava sossego
em sua igreja. Quando soldado na Saxônia, encontrara Cristo
através do ensino de um piedoso pastor luterano. Voltou à
Morávia para pregar o Salvador que encontrara e falou com
tal poder, que houve um reavivamento. A perseguição se
instalou imediatamente e o pregador foi procurar um refúgio
para os perseguidos. Quando obteve a permissão de
Zinzendorf, voltou e levou o seu primeiro grupo de dez, que
chegou a Berthelsdorf em junho de 1722. Vez após vez, esse
servo dedicado do Senhor voltou para pregar o evangelho e
levar os que estivessem dispostos a abandonar tudo. Não
demorou muito para que 200 se reunissem, muitos dos quais
estavam entre os chamados de "Semente Oculta", os verda-
deiros descendentes dos antigos Irmãos. O lugar designado
para eles tinha o nome de Hutberg (Monte de Vigília).
Chamaram seu novo local de Herrnhut (A Sentinela do
Senhor). Eles tomaram a palavra em seu duplo significado: A
Proteção do Senhor sobre eles; a Vigília do Senhor a ser mantida
por eles em oração e aguardando a Sua orientação, o que seria
a sua segurança.
O Novo Líder: Esse foi o material que Deus reuniu em
Herrnhut para construir uma casa para Si mesmo. Vamos
examinar por um momento o homem que Ele preparara,
40 A CHAVE PARA O PROBLEMA MISSIONÁRIO
como construtor prudente, para superintender o trabalho. O
Conde Zinzendorf nasceu em maio de 1700, de pais piedosos.
No seu leito de morte, seu pai tomara nos braços a criança que
tinha, então, apenas seis semanas e a consagrara ao serviço de
Cristo. "Ainda na infância", escreveu Zinzendorf, "eu amava
o Salvador e tive comunhão abundante com Ele. Aos quatro
anos comecei a buscar sinceramente a Deus e decidi tornar-me
um verdadeiro servo de Jesus Cristo."
Na escola Franke em Halle, aos doze anos, ele se encon-
trou muitas vezes com missionários e seu coração comoveu-
se com a idéia de trabalhar para Cristo entre os não
evangelizados. Fundou com alguns meninos na escola a
"Ordem da Semente de Mostarda". Eles se comprometeram
a ser bondosos com todos os homens, procurar o bem-estar
deles, e tentar levá-los a Deus e a Cristo. Como emblema,
tinham um pequeno escudo, com um Ecce Homo, e o lema:
"Suas chagas nos curam". Cada membro usava um anel, no
qual estava inscrito: "Nenhum homem é uma ilha". Antes de
deixar Halle, ele fez um acordo com um amigo íntimo para a
conversão dos não evangelizados, especialmente os que não
tinham quem cuidasse deles. De Halle seguiu para Wittenberg,
onde realizou reuniões de oração para os outros alunos e
muitas vezes passou noites inteiras em oração e estudo bíbli-
co.
Zinzendorf visitou a galeria de pintura em Dusseldorf
mais ou menos nessa época, e ali viu o quadro Ecce Homo
pintado por Sternberg, com estas palavras embaixo:
"Eu tudo fiz por ti,
O que fizeste por Mim?"
Seu coração foi tocado. Ele sentiu como se não pudesse
responder a essa pergunta. Saiu dali mais decidido do que
nunca a passar a vida a serviço do seu Senhor. A visão
daquele rosto nunca o abandonou. O amor de Cristo tomou-
se o poder constrangedor da sua vida. "Tenho", exclamou ele,
"só uma paixão — Ele e Ele somente." Foi o Seu amor
imorredouro que equipou Cristo para a obra que Deus Lhe
dera como Salvador dos homens. Foi o amor de Cristo,
dominando a sua vida, que preparou Zinzendorf para o
trabalho que tinha a fazer.
Motivação: Amor por Cristo 41
O Reavivamento da Igreja: Quando Zinzendorf se estabe-
leceu na sua propriedade, dedicou-se ao bem-estar espiritual
dos seus inquilinos. Com três amigos que tinham o mesmo
modo de pensar, ele formou a "Liga dos Quatro Irmãos". O
objetivo era proclamar ao mundo a "religião universal do
Salvador e Sua família de discípulos, a religião do coração em
que o Salvador é o centro". Ele juntou-se ao pastor da
congregação no ministério da pregação, nas reuniões de
oração e cânticos. Zinzendorf viveu para Cristo e para as
almas que Ele morrera para salvar.
Ao oferecer aos exilados morávios um refúgio em sua
propriedade, ele pensara simplesmente em dar-lhes uma
casa, na qual, como seus inquilinos, pudessem ganhar seu
sustento e ter liberdade religiosa. Quando espalhou-se a
notícia de que Herrnhut era um refúgio para os perseguidos,
toda a sorte de pessoas deslocadas por motivos religiosos
foram à procura de um lar ali. Mas o espírito de discórdia logo
se instalou e o lugar correu o risco de tornar-se um foco de
sectarismo e fanatismo. Zinzendorf sentiu que chegara a hora
de ele interferir. Ele tinha fé na retidão e sinceridade dos
colonos morávios e se entregou pessoalmente à tarefa de
tratar com os líderes em espírito de amor.
Muitos deles haviam sentido profundamente o pecado e
o sofrimento da divisão e estavam orando para que, pela graça
de Deus, o espírito de verdadeira comunhão pudesse ser
restaurado. Com lágrimas e orações, no amor e paciência de
Jesus Cristo, o Conde exortou os que estavam em erro. Um
ponto em que os Irmãos Morávios (eram mais de 200 entre os
300) não cediam era serem absorvidos pela igreja luterana.
Eles insistiam em manter a disciplina da antiga igreja morávia.
O Conde temia que isto desse lugar a preconceitos e mal-
entendidos na igreja em volta deles, mas sentia que sua
reivindicação era justa, e resolveu apoiá-los sem levar em
conta os riscos. Os princípios e a disciplina da antiga igreja
morávia deviam ser restabelecidos. Zinzendorf preparou os
Estatutos, Injunções e Proibições, segundo os quais deveriam
viver.
Em 12 de maio de 1727 (só cinco anos depois das primei-
ras chegadas), um dia memorável na história dos Irmãos, ele
42 A CHAVE PARA O PROBLEMA MISSIONÁRIO
reuniu todos e leu para eles os "estatutos" que haviam sido
aceitos. Não deveria haver mais discórdia. O amor fraternal
e a unidade em Cristo deveriam ser as correntes douradas que
os uniriam. Todos os membros apertaram as mãos e se
comprometeram a obedecer aos Estatutos. Aquele dia foi o
início de uma nova vida em Herrnhut.
Ficou registrado: "Neste dia, o Conde fez uma aliança
com o Senhor. Todos os Irmãos prometeram, um por um, que
seriam verdadeiros seguidores do Salvador. Vontade pró-
pria, amor-próprio, desobediência — disseram adeus a essas
coisas. Buscariam ser pobres de espírito; ninguém deveria
buscar proveito próprio antes do de outros; todos deveriam
entregar-se ao ensino do Espírito Santo. Através da operação
poderosa da graça de Deus, todos foram não só convencidos,
mas, por assim dizer, também conquistados e dominados".
No dia 12 de maio de 1748, o Conde escreveu: "Hoje,
vinte e um anos mais tarde, o destino de Herrnhut seria
traçado, se devia tornar-se uma seita ou tomar assento na
Igreja de nosso Salvador. Depois de um discurso de três ou
quatro horas, o poder do Espírito Santo decidiu pela última
hipótese. O princípio fundamental foi estabelecido: devíamos
deixar de lado a idéia de ser Reformadores e cuidar de nós
mesmos. O que o Salvador fez depois disso, até o inverno, não
pode ser descrito. A propriedade inteira tornou-se uma
verdadeira habitação de Deus com os homens; o dia 13 de
agosto foi passado em louvor contínuo. Depois disso, houve
silêncio, entrando no repouso do sábado".
O dia 12 de maio foi chamado de aniversário do que veio
a ser daí em diante conhecido como a Igreja Renovada; o dia 13
de agosto foi o seu batismo com o Espírito Santo. Depois de
os Estatutos terem sido adotados e de todos se comprometerem
a uma vida de obediência e amor, o espírito de comunhão e
oração aumentou grandemente. Mal-entendidos, preconcei-
tos, desavenças secretas, foram confessados e postos de lado.
A oração tinha freqüentemente tal poder que os que tinham
dado apenas consentimento exterior foram convencidos e
mudaram ou sentiram-se interiormente obrigados a ir embo-
ra.
O Conde teve de ausentar-se por algum tempo e, na sua
Motivação: Amor por Cristo 43
volta, 4 de agosto, trouxe com ele uma cópia da História dos
Irmãos Morávios, que havia encontrado e que continha um
relato completo da disciplina e ordem antigas. Isto provocou
grande alegria. O fato foi aceito como um sinal de que o Deus
de seus antepassados estava com eles. Um deles escreveu:
"Sob a nuvem de nossos pais fomos batizados com o seu
espírito; sinais e prodígios foram vistos entre nós, e houve
grande graça em toda a vizinhança". A noite seguinte inteira
foi gasta pelo Conde e os Irmãos em oração, com uma grande
reunião no salão à meia-noite. Nos dias que se seguiram,
todos sentiram, durante as reuniões e cânticos, um estranho
Poder irresistível. No domingo, dia 10, o Pastor Rothe estava
liderando a reunião da tarde em Herrnhut, quando foi
dominado e prostrou-se diante de Deus com o rosto em terra.
A congregação inteira curvou-se sob a sensação da presença
de Deus e continuou em oração até a meia-noite. Ele convidou
a congregação para a Santa Ceia na quarta-feira seguinte.
Como se tratava da primeira comunhão desde a forma-
ção da nova comunidade, foi resolvido ser especialmente
estrito e usar a ocasião para "levar as almas a se aprofundarem
mais na morte de Cristo, na qual haviam sido batizados". Os
líderes visitaram cada membro, buscando levá-lo, com grande
amor, a sondar sinceramente o seu coração. Na noite de
quinta-feira, no culto de preparação, vários passaram da
morte para a vida, e toda a comunidade sentiu-se profunda-
mente tocada.
Naquela manhã de quarta-feira, todos foram a
Berthelsdorf. No caminho, os que tinham qualquer desaven-
ça entre si fizeram as pazes. Ao cantarem o primeiro hino um
homem perverso foi poderosamente persuadido. A apresen-
tação dos novos comungantes tocou cada coração e, enquanto
o hino estava sendo cantado, quase não se podia dizer se havia
mais choro ou canto. Vários irmãos oraram, pedindo especial-
mente que, desde que eram exilados saídos da casa da servidão,
não sabiam o que fazer e desejavam manter-se livres da
divisão e sectarismo. Eles suplicaram ao Senhor que lhes
revelasse a verdadeira natureza da Sua igreja, a fim de que
pudessem andar irrepreensíveis diante dEle e não permane-
cessem isolados, mas produzissem fruto.
44 A CHAVE PARA O PROBLEMA MISSIONÁRIO
Pediram igualmente para não fazer nada contrário ao
juramento de fidelidade que haviam feito em relação a Ele,
nem de maneira alguma pecar contra a Sua lei do amor.
Suplicaram que Ele os mantivesse no poder salvador da Sua
graça e não permitisse que alma alguma fosse atraída para si
mesma e seus próprios méritos, afastando-se dessa Teologia
de Sangue e Cruz, da qual a salvação depende. Celebraram a
Ceia do Senhor com os corações curvados e elevados ao
mesmo tempo. Cada um voltou para casa sentindo-se bastan-
te estimulado, passando aquele dia e os seguintes em grande
tranqüilidade e paz, e aprendendo a amar.
Várias crianças estavam entre os presentes na igreja
quando foi celebrada a comunhão. Alguém que estivera
presente escreveu: "Não posso atribuir o grande reavivamento
entre as crianças a outra coisa além desse maravilhoso derra-
mar do Espírito Santo sobre a assembléia de comungantes. O
Espírito soprou em poder sobre os velhos e os jovens. Em toda
a parte era possível ouvi-los, algumas vezes à noite no campo,
suplicando ao Salvador que perdoasse seus pecados e os
tornasse dEle. O Espírito da graça fora, de fato, derramado."
Os Irmãos visitavam muitas vezes os vizinhos para
confraternizar-se com outros cristãos e tornar Cristo conheci-
do de todos os que se aproximassem. Quando um deles era
lançado à prisão por causa disso, o fato provocava muita
alegria por terem sido considerados dignos de sofrer por Ele.
Oração de Vigília: Em 22 de agosto foi registrado: "Consi-
deramos hoje, como é necessário, que a nossa igreja, que se
encontra ainda na infância e tem em Satanás um poderoso
inimigo, se guarde contra alguém que nunca dorme nem de
dia nem de noite, e faça uma vigília santa e incessante contra
ele. Resolvemos, portanto, acender uma oferta voluntária de
intercessão que deve arder noite e dia, deixando o problema
no presente para a operação de Deus no coração dos Irmãos.
No dia 26, o plano amadurecera e 24 irmãos e 24 irmãs se
propuseram a passar uma hora, como fixado por sorte, em
seus quartos, para colocar diante de Deus todas as necessida-
des e interesses dos que os rodeavam. O número cresceu
rapidamente. Desde que desejávamos deixar tudo em
Herrnhut por conta da graça e não fazer nada forçado, concor-
Motivação: Amor por Cristo 45
damos que quando alguém, por pobreza de espírito ou pro-
blema especial, não pudesse passar uma hora inteira em
oração, essa pessoa podia, em vez disso, louvar a Deus com
hinos espirituais e oferecer, assim, um sacrifício de louvor ou
de oração por si mesmo e por todos os santos. Esses vigias de
oração se reuniam uma vez por semana. Todas as notícias
recebidas de longe ou de perto, relativas às necessidades das
pessoas, congregações ou nações, eram passadas a eles para
levá-los a orações mais definidas e sinceras e estimulá-los a
louvar pelas respostas recebidas.
Em uma das aldeias, ouvimos falar de alguns que queriam
vir e participar do reavivamento. Nós demos instruções a eles
sobre a nossa disciplina com amor e humildade."
Missões: No curso dos meses que se seguiram, alguns dos
Irmãos viajaram constantemente para lugares próximos e
distantes, pregando o amor de Cristo (com os pensamentos
sempre ocupados com o objetivo para o qual Deus tanto os
abençoara). O Conde manteve-se em contato com todas as
partes do mundo e não deixou de comunicar as informações
recebidas. Numa reunião, em 10 de fevereiro de 1728, ele
falou especialmente de terras distantes — Turquia, Marrocos
e Groenlândia. Quanto à Groenlândia, afirmou que parecia
impossível obter visto de entrada sob toda e qualquer pers-
pectiva humana, mas acreditava que o Senhor daria aos
irmãos graça e poder para visitar esses países. Foi um dia do
sopro do Espírito sobre nós.
Os quatro anos seguintes foram épocas de reavivamento
contínuo. A vigilância cuidadosa mantida pelos presbíteros
e superintendentes, e o trato fiel e individual com as almas
segundo as necessidades pessoais, a preservação zelosa do
espírito de amor fraternal, a vigilância contínua sobre a oração,
a ida de irmãos para regiões afastadas e seus relatórios,
fizeram das assembléis dos Irmãos ocasiões de grande alegria
e bênção. Este foi um período de preparação para o trabalho
missionário que deveria começar.
As coisas correram deste modo. Em 1731, o Conde
Zinzendorf fora a Copenhague para assistir à coroação do rei
da Dinamarca. Um dos nobres dali tinha a seu serviço um
46 A CHAVE PARA O PROBLEMA MISSIONÁRIO
escravo de nome Anton, procedente das Índias Ocidentais.
Zinzendorf ficou sabendo através dele das condições dos
escravos nas índias Ocidentais, especialmente em St. Thomas,
uma possessão dinamarquesa. Ele também encontrou dois
groenlandeses convertidos pelo missionário dinamarquês
Egede.
Ao voltar, o relato que fez sobre o encontro com esses
homens de terras não evangelizadas provocou o maior inte-
resse. Dois dos Irmãos sentiram seus corações tocados. À
noite, quando os grupos de cantores passaram pela casa, o
Conde disse a um amigo que os prováveis mensageiros para
as índias Ocidentais e a Groenlândia estariam entre aqueles
irmãos, que poderiam oferecer-se. Quando a necessidade se
tomou conhecida, dois se apresentaram para a Groenlândia.
Uma visita do escravo Anton aprofundou a impressão; e o
relato dos sofrimentos dos escravos, que eles também pode-
riam vir a sofrer, só ajudou a fazer com que o fogo ardesse
mais intensamente. Se era difícil aproximar-se das plantações
para ensinar os escravos, os voluntários estavam dispostos a
vender-se como escravos para alcançar as pobres almas per-
didas.
Mas não foi senão um ano mais tarde, em agosto de 1732,
que os dois primeiros missionários partiram. As instruções
dadas a eles ao partir podiam ser todas resumidas em uma
sentença: deixar-se guiar pelo Espírito em todas as coisas.
Eles partiram a pé com apenas algumas moedas no bolso, mas
com fé sólida em Deus e em Seu cuidado. No ano seguinte,
dois foram para a Groenlândia. Em 1734, dezoito seguiram
para Santa Cruz, e no outro ano mais doze, para tentar ajudar
os escravos estabelecendo colônias e indústrias. Apesar desta
experiência ter custado muitas vidas preciosas e não ser bem-
sucedida, os Irmãos não desanimaram. Quando chegaram as
notícias das mortes, eles cantaram o salmo sobre aquele que
semeia com lágrimas e, mediante a morte da semente, ceifa
com abundância.
Eu gostaria de fazer pelo menos um curto relato das
bênçãos maravilhosas que marcaram o seu trabalho nas índias
Ocidentais, mas o espaço impede. Quero, então, notar mais
um ponto da sua história. Em 1741, teve lugar um evento que
Motivação: Amor por Cristo 47
completou a organização da igreja dos Irmãos, e colocou o seu
selo sobre aquilo que é a sua principal característica —
dedicação ao Senhor Jesus. Leonhard Dober havia sido,
durante alguns anos, o principal presbítero (o título é realmente
o Superior) da igreja. Ele e outros sentiam que os dons
especiais dele o equipavam melhor para um outro trabalho.
Mas quando os Irmãos do sínodo procuraram à sua volta,
perceberam como seria difícil encontrar alguém para preencher
o lugar dele. Imediatamente foi sugerida a muitos a idéia de
pedir ao Salvador para ser o Superior de Sua pequena igreja
e, em resposta à oração, eles receberam a certeza de que Ele iria
aceitar o cargo. O desejo maior deles era que Ele fizesse tudo
o que o presbítero principal tinha feito até então e os aceitasse
como Sua propriedade especial, interessasse pelos membros
individualmente e cuidasse de todas as suas necessidades.
Eles prometeram amá-10 e honra-10, confiar nEle, não
reconhecer homem algum como chefe nas coisas do Espírito,
e ser guiados como crianças pela Sua mente e vontade.
Alguém escreveu sobre esse dia em que esta decisão foi
tornada conhecida e aceita em Herrnhut: "O dia 13 de novem-
bro foi o da inauguração de nosso querido e ternamente
amado Soberano e Superior. Ficou resolvido que em honra de
o Senhor ter condescendido em aceitar esta responsabilidade
especial da Igreja do Seu Sangue e Cruz, haveria uma procla-
mação especial da Sua graça perdoadora a todos os que se
tivessem afastado ou caído da fé. A impressão foi tão intensa
que no princípio um profundo silêncio caiu sobre todos, o
qual logo se transformou em lágrimas de admiração e ale-
gria".
Foi uma nova e aberta profissão do lugar que eles sempre
haviam desejado que Cristo tivesse, não só na sua teologia e
na sua vida pessoal, como também e especialmente na sua
igreja. A igreja alcançara agora a maioridade.
Pouco depois dessa data, chegou a hora de serem penei-
rados, quando os Irmãos pareciam estar entrando num cami-
nho que poderia representar perigo. Mas Ele, sob cuja direção
a entrega incondicional fora feita, não os abandonou; pelo
contrário, Ele os salvou do mal que os ameaçava. A proclama-
ção de Cristo como seu único Cabeça tornou-se a expressão
48 A CHAVE PARA O PROBLEMA MISSIONÁRIO
viva do desejo do coração deles para que só Ele fosse tudo em
todos.
Vamos voltar agora ao assunto principal que nos levou
a contar a história da Igreja Morávia. Ela foi descrita como um
exemplo. Foi-nos apontado que, em proporção ao número de
seus membros, aos homens que sustenta e envia, ao dinheiro
que fornece, aos convertidos que reuniu, ela excede muito ao
que qualquer outra igreja tem feito. Nos primeiros vinte anos
de sua existência, ela enviou realmente mais missionários do
que toda a igreja protestante enviara em 200 anos. Se outras
igrejas também provessem homens e meios, na mesma
proporção, acredita-se que isso seria tudo o que é necessário
para levar o evangelho a toda criatura.
Vamos perguntar como foi que essa pequena igreja, a
menor de todas, conseguiu sobrepujar todas as suas irmãs
mais velhas e maiores? A resposta parece ser esta: Só ela,
entre todas as igrejas, procurou realmente pôr em prática a
grande verdade — atrair para Cristo as almas pelas quais Ele
morreu para salvar, é o único propósito da existência da igreja.
A igreja morávia foi a única que procurou ensinar e
treinar cada um de seus membros a considerar como seu
principal dever para com Ele que os amou, dar as suas vidas
para torná-10 conhecido de outros.
Esta resposta leva imediatamente à questão seguinte: O
que guiou e equipou essa pequena igreja, numa época em que
o número de seus membros era 300, a ver e pôr em prática
essas grandes verdades? Só quando obtemos algum
discernimento a esse respeito é que podemos descobrir o que
é necessário para que outras igrejas tirem proveito do seu
exemplo. A sentença final no apelo do Dr. Mott foi: "A
pergunta prática é esta: O que houve em relação ao seu
trabalho já realizado que não é reproduzível?" A graça de Deus
que operou neles continua excessivamente abundante com a
fé e o amor que estão em Cristo Jesus.
Se considerarmos Zinzendorf, a quem Deus preparou
tão magnificamente para treinar e guiar a jovem igreja no
caminho das missões, vemos de imediato qual foi o grande
poder atuante. O que o marcou acima de tudo foi um amor
terno e apaixonado pelo Senhor Jesus. Jesus Cristo, o Originador
Motivação: Amor por Cristo 49
e Inspirador de todo o trabalho missionário, possuiu-o. O
amor imorredouro do Cordeiro de Deus havia conquistado e
enchido o seu coração; o amor que levou Cristo a morrer pelos
pecadores entrara em sua vida; ele não podia mais viver por
outra coisa, senão (e, se necessário, morrer também) por eles.
Quando se responsabilizou pelos morávios, esse amor, como
os seus ensinamentos e seus hinos atestam, foi o único motivo
para o qual apelou, o único poder em que confiou, o único
objetivo para o qual buscou ganhar suas vidas. O amor de
Cristo fez o que jamais o ensino, os debates e a disciplina, por
mais necessários e produtivos que sejam, poderiam ter feito.
Ele fundiu todos em um só corpo; fez com que todos se
dispusessem a ser corrigidos e instruídos; fez todos desejarem
pôr de lado tudo que fosse pecado; inspirou todos com o
desejo de testemunhar de Jesus; dispôs muitos a sacrificar
tudo para tornar esse amor conhecido de outros, alegrando,
assim, o coração de Jesus.
Se o amor imorredouro de Cristo tomasse, em nossas
igrejas e nos seus ensinamentos, em nossos corações e comu-
nhão uns com os outros, o lugar que tomou no coração deles,
que tem no coração de Deus e na redenção de Cristo, ele não
operaria uma enorme mudança em nosso trabalho missioná-
rio?
Juntamente com esse amor a Cristo, ou antes, como fruto
dele, havia em Zinzendorf uma sensação intensa da necessida-
de e valor da comunhão. Ele acreditava que esse amor, para ser
gozado e crescer forte, para alcançar o seu objetivo, precisa de
expressão e comunicação. Ele acreditava que o amor de Cristo
em nós precisa de comunhão entre as pessoas para que possa
ser mantido, assim como para assegurar o grande propósito
de Deus nele — o consolo e fortalecimento de nossos irmãos.
Estava, portanto, preparado para aceitar os estranhos que
Deus levava até ele e dar-se inteiramente a eles. Sua
recompensa foi grande. Pôde dar-se a eles e descobrir-se
multiplicado em cada um. O que disse mais tarde, "Não concebo
o cristianismo verdadeiro sem comunhão", foi o princípio que
gerou essa intensa unidade, a qual transmitiu a força do líder
e de todo o corpo a cada um de seus membros.
Em nossa religião moderna, há reticência ao falar do
50 A CHAVE PARA O PROBLEMA MISSIONÁRIO
relacionamento pessoal com Jesus, e isto causa geralmente
muita perda. Esquecemos que a maioria dos homens é mais
guiada pela emoção do que pelo intelecto: o coração é o grande
poder pelo qual eles devem ser influenciados e moldados.
Podemos muito bem aprender aqui uma lição com Zinzendorf.
Um ministro da sua congregação, um professor na sua
classe, um líder numa reunião de oração ou num grupo de
jovens, no geral trabalha arduamente para influenciar através
da instrução e do encorajamento, enquanto se esquece de que
o coração suspira por amor, e que nada pode ajudar tanto a
edificar a vida do cristão jovem ou fraco quanto a comunhão
calorosa do amor em Cristo. Existem milhares de cristãos
desejosos de servir ao Senhor, mas que não sabem como; que
estão ansiosos para descobrir grupos onde possam reunir-se
sob a sensação da presença do Senhor Jesus e Seu amor, onde
possam ser ajudados a confessar esse amor e depois render-
se a ele crendo que ele vai constrangê-los e prepará-los afazer
tudo que o Senhor precisa que façam.
Um orador falou muito bem na Conferência: "A importância
da liderança deve ser enfatizada. Vamos usar aquele talento
que põe outro para trabalhar. O líder deve fazer uso de de-
finição e persistência. O líder deve elevar os ideais. Ser líder
é responsabilidade do pastor. Venha até nós com a nota es-
piritual mais profunda que puder tocar, e nós o seguiremos".
E outro: "Precisaremos de pastores dedicados para guiar
na execução deste trabalho. Os pastores continuam sendo os
líderes. Se eles quiserem, poderão ser líderes nesta guerra
santa a favor da justiça em toda a terra".
E outro ainda: "Os homens não ficam tão interessados
nas idéias abstratas quanto nos indivíduos que expressam
suas idéias. As vitórias são ganhas em vista de os homens
seguirem um líder a quem aprenderam a amar".
Zinzendorf era, sem dúvida, um líder poderoso, cujos
passos ainda podemos seguir. Cada pastor pode aprender
dele um grande segredo: quanto mais intensamente arder o
fogo do amor de Deus em nosso coração, tanto mais certamen-
te ele vai arder naqueles que nos rodeiam. O grande privilégio
de cada líder é saber que Deus pode dar-lhe tal poder sobre
outros, que o amor deles pela sua pessoa vai abrir os corações
Motivação: Amor por Cristo 51
para receberem mais da vida, amor e poder de Deus do que
poderiam tê-lo feito sem ele. O caminho de Deus é dispensar
as Suas bênçãos individualmente através dos homens.
À medida que cada líder compreender o seu privilégio
de ficar cheio de ardor missionário, de amor e dedicação de
Cristo Jesus, e depois viver nessa conformidade, o trabalho
missionário em nosso país entrará numa nova era. A vida e
o amor, passando do Cristo vivo e amoroso, através de um
discípulo vivo e amoroso, vão comunicar vida e amor aos que
de outra forma seriam frios e desamparados.
O que dizer dos seguidores que Deus preparara para o
líder? O que os qualificou especialmente para tomar a lideran-
ça nas igrejas da Reforma? A história deles dará a resposta.
Houve, em primeiro lugar, aquele afastamento do mundo e
suas esperanças, aquele poder de resistir, aquela confiança
simples em Deus, que a aflição e a perseguição produzem.
Esses homens eram literalmente estrangeiros e peregrinos na
terra. Estavam familiarizados com o pensamento e o espírito
de sacrifício. Haviam aprendido a suportar as dificuldades e
a apelar para Deus em qualquer problema.
Esse espírito continua sendo necessário na igreja. Igno-
rar o que o mundo considera necessário ou desejável; negar-
se a si mesmo, considerando tudo como perda por causa do
conhecimento de Cristo e de torná-10 conhecido; confiança
em Deus que não só busca a Sua ajuda nas emergências, mas
a Sua orientação a cada passo e Seu poder em cada obra, esses
foram, com certeza, elementos que ajudaram a formar o
"Grupo de Guerreiros" de Zinzendorf, e que ainda continuam
fazendo bons soldados de Cristo.
A disciplina que haviam herdado de seus ancestrais e à
qual foram levados a render-se tão completamente em
Hermhut, estava arraigada na idéia de que, para o cristão, a
fé é o elemento essencial. Tudo o mais é secundário a esta
grande consideração: conhecer e fazer a vontade de Deus,
andar nos passos de Jesus Cristo. Por esta causa, eles estavam
dispostos a submeter-se ao cuidado e correção das pessoas
indicadas para vigiá-los. Acreditando literalmente na ordem
"Exortai-vos uns aos outros diariamente", estavam dispostos
a ser reprovados ou advertidos sempre que houvesse pecado,
52 A CHAVE PARA O PROBLEMA MISSIONÁRIO
seja de omissão ou comissão. Quando eram enviados, esta-
vam prontos para ajudar, depender de, e submeter-se uns aos
outros. Sua comunhão os tornava fortes: o superior deles
pedia aos irmãos que dissessem qual o erro nele e estava
disposto a confessar a menor das faltas. O espírito de submis-
são mútua, do qual a Escritura fala tão repetidamente, trouxe
a sua rica bênção na santificação e fortalecimento da vida em
seu todo.
Introduzir a mesma disciplina em nossos dias pode
parecer impossível. Mas o mesmo espírito de cuidado vigi-
lante e submissão amorosa de uns para com os outros conti-
nua ainda ao alcance de qualquer círculo que o busque, sendo
também ainda um preparo maravilhoso para o trabalho eficaz
no reino de Deus.
Mas havia outra coisa além disto que proporcionou ao
grupo seu magnífico poder. Era a intensidade de sua devoção
unida e pessoal a Jesus Cristo, como o Cordeiro de Deus, que
os havia comprado com o Seu sangue. Toda a correção mútua,
confissão voluntária e afastamento do pecado, vinham desta
fé no Cristo vivo, através de quem eles encontraram "em seus
corações a paz de Deus e libertação do poder do pecado". Esta
fé os levou a aceitar e manter zelosamente seu lugar como
pobres pecadores, salvos pela Sua graça, todos os dias. Esta
fé, cultivada e fortalecida a cada dia pela comunhão em
palavra, cânticos e oração, tornou-se o alimento da sua vida.
Esta fé os encheu de tanta alegria, que seus corações
rejubilavam em meio às maiores dificuldades, na certeza
triunfante de que o seu Jesus, o Cordeiro que morrera por eles,
e que estava agora amando, salvando e guardando a todos,
momento a momento, podia conquistar o mais duro coração,
e se achava igualmente pronto a abençoar o pecador mais vil.
Neste espírito, eles se reuniram durante quase cinco anos,
desde o primeiro derramamento do Espírito até os primeiros
missionários serem enviados. Continuaram adorando o Filho
de Deus, oferecendo-se a Ele, e esperando que Ele tornasse
conhecido o que desejava da Sua igreja, cada um preparado
para ir ou fazer o que o Senhor mostrasse.
Se cada congregação, grupo de oração, ou círculo cristão
buscar ter este tipo de espírito unindo os membros, enquanto
Motivação: Amor por Cristo 53
todos continuam em oração para que o Senhor mostre a cada
um a Sua vontade para eles, teremos, sem dúvida, o início de
um espírito que há de se espalhar. Quando diferentes
congregações combinarem fazer da adoração e fé no Senhor
Jesus, e devoção a Ele o centro do seu interesse missionário, o
número dos que ficam prontos para ser enviados crescerá
rapidamente.
Devemos notar mais uma coisa — o poderoso movimento
do Espírito Santo em resposta à oração. Vimos o testemunho
do Conde sobre a sua certeza de que o nascimento da nova
igreja, a 12 de maio de 1727, era obra do Espírito Santo. Lemos
a respeito da sensação esmagadora da presença do Espírito
Santo, no qual ela recebeu o seu batismo do alto. Muitas vezes
depois disso, durante os quatro anos seguintes, os registros
dão testemunho de experiências especiais de movimentos
profundos do Espírito Santo. Isto aconteceu mais vezes
quando eles estavam reunidos em oração diante do seu
Senhor, o Cordeiro que foi morto. A vigília de oração que
estabeleceram, a fim de manter dia e noite um sacrifício
contínuo de súplicas, prova que compreenderam qual era a
primeira lei celestial: a medida da bênção e do poder depende
da medida da oração. Eles viram e se rejubilaram grandemente
no Cordeiro sobre o Trono — é claro que podiam confiar nEle
para encher suas bocas e corações tão completamente abertos
para Ele.
Aconteceu em Herrnhut o mesmo que no Pentecostes, a
oração em conjunto, ungida com o dom do Espírito, foi a
entrada numa vida de testemunho e vitória. É a lei de todo
trabalho missionário. Se o exemplo dos Irmãos Morávios tiver
poder para levar-nos ao zelo, devemos aprender deles o que
é crer que existimos apenas para ganhar para Jesus as almas
que Ele morreu para salvar. Devemos, então, treinar nossos
membros a pensar que todos devem ficar prontos para o Seu
serviço. Devemos aprender que muita oração e uma entrega
definida são necessárias para que nossas vidas fiquem sob a
liderança do Espírito Santo.
Quando indicamos o exemplo dos Irmãos, alguns per-
guntam às vezes se eles retiveram seu fervor inicial, se os seus
missionários e membros continuam vivendo num nível supe-
54 A CHAVE PARA O PROBLEMA MISSIONÁRIO
rior ao das igrejas que os rodeiam. A resposta é muito
simples. Como qualquer outra igreja, os Irmãos tiveram suas
épocas de declínio e reavivamento. Eles estavam de tal forma
unidos com as igrejas circunjacentes que sofreram com elas
quando chegou o frio do inverno. Porém, a força de nosso
apelo não se enfraqueceu, mas fortaleceu-se com este fato. O
ponto é este: os três grandes princípios ensinados pelo Espí-
rito Santo em qualquer época de sua poderosa obra são: (1) a
igreja só existe para estender o reino, (2) cada membro deve
ser treinado para tomar parte nele, e (3) a experiência pessoal
do amor de Cristo é o poder que equipa para isto. Os Irmãos
permaneceram fiéis a esses princípios, e é neste respeito que
o exemplo deles nos fala com grande poder.
A Igreja de Cristo deve mais aos morávios do que é
geralmente sabido. John Wesley recebeu deles aquela segu-
rança alegre da aceitação que deu à sua pregação tamanho
poder e o equipou como um instrumento de Deus, não só para
fundar a Igreja Wesleyana, como também para tomar parte
importante no reavivamento da fé evangélica na Inglaterra.
William Carey deveu a eles parte da sua inspiração para a
causa missionária. Ao apelar aos seus irmãos, ele apoiou suas
propostas na experiência dos morávios e colocou sobre a mesa
números antigos da publicação Periodical Accounts editada
por eles. Seu companheiro, William Ward, registrou a pro-
funda impressão produzida em sua mente por esses Accounts
("Relatos") e exclamou: "Obrigado, morávios! Vocês me
fizeram bem. Se vier a ser um missionário que valha alguma
coisa, sob o nosso Salvador, deverei isso a vocês". A história
da maravilhosa graça de Deus sobre os morávios pode ainda
mostrar-nos o caminho e inspirar a coragem para buscar e
descobrir uma nova bênção para o mundo.
4
O Aprofundamento da
Vida Espiritual
Ligado de perto à motivação missionária está o
aprofundamento da vida espiritual. A Conferência se referiu
freqüentemente à Sociedade Missionária da Igreja ("Church
Missionary Society") na Inglaterra como um exemplo apro-
priado. Durante um curto período de doze anos, a sua renda
aumentou de 200 mil para 300 mil libras e o número de
obreiros mais que triplicou.
Eugene Stock deu os detalhes:
"Em 1887, a Sociedade Missionária da Igreja,
sob circunstâncias especiais, aprovou a decisão de
não mais recusar, com base no aspecto financeiro,
qualquer candidato para um campo no estrangeiro
que parecesse ter sido chamado por Deus. Isto não
foi feito por sentimentalismo ou precipitação, mas
baseado no princípio comercial simples de que se
Deus chama alguém, proverá para ele. Creio firme-
mente que o Senhor encontrará o dinheiro.
Se até o ponto em que se pode julgar um certo
homem ou mulher for chamado por Deus para ir,
temos, então, o direito de orar: Ó, Senhor, aguarda-
mos em Ti para capacitar-nos a enviar esta pessoa.
Se alguém tivesse dito naquele dia memorá-
vel, quando estávamos todos de joelhos em oração
sobre este assunto, 'A sua força será triplicada em
treze anos', nossa resposta teria certamente sido:
'Não haverá dinheiro para enviá-los. E impossível!'
Mas o impossível foi feito, a equipe triplicou e o
- 55 -
56 A CHAVE PARA O PROBLEMA MISSIONÁRIO
dinheiro apareceu. Deus o enviou.
Quero lembrar uma coisa: não me importo
qual seja o empreendimento cristão, até mesmo
dizer uma palavra oportuna a seu irmão, no banco,
no escritório, em sua loja — não é fácil fazer isso, é?
Se se tratar apenas de dizer uma palavra bondosa
por Jesus a uma garota sua conhecida que esteja
indo na direção errada e você quer salvá-la do
perigo — é fácil? Alguns diriam: 'Não posso'. Quer
seja uma coisa pequena desse tipo, ou uma grande
obra de todas as juntas e sociedades missionárias da
América adotando uma regra de fé no Senhor,
quero que você escreva estes três lemas para
qualquer desses empreendimentos: Primeiro/
imagine escrito em letras de fogo no saguão: 'E
impossível para os homens'. Segundo, 'Tudo é
possível para Deus'. E terceiro, 'Tudo é possível ao
que crê'.
Você talvez não acredite quando eu lhe falar
sobre os membros da Sociedade Missionária da
Igreja. Você pode pensar que ela é muito grande.
Não, ela não abrange um quarto da Igreja da Ingla-
terra e não mais de um quarto de nossas congrega-
ções contribui para a nossa Sociedade. Somos a
maior sociedade, embora representemos apenas
uma pequena seção da Igreja. Por quê? Por causa
do entusiasmo dos que crêem que, em separado de
todas as organizações, o evangelho de Cristo é o
poder de Deus e da salvação. Nós nos apegamos à
idéia de que quaisquer cristãos devem ter liberdade
para se agruparem, a fim de ensinar o evangelho
como o Senhor os guiar."

Quando consideramos o que foi feito pela Igreja Morávia


ou a Igreja do Pentecostes, podemos pensar que isso pertence
ao passado. A "Church Missionary Society" (CMS) dá seu
testemunho quanto ao que Deus está fazendo diante de
nossos olhos para despertar o Seu povo, a fim de fazer o que
antes parecia impossível, capacitando-o para oferecer homens
O Aprofundamento a Vida Espiritual 57
e dinheiro até um ponto desconhecido antes. Se quisermos
realmente tirar proveito desta lição e trabalhar para que toda
a Igreja ofereça a Deus o que Ele pedir para a extensão do Seu
reino, vamos examinar como a CMS chegou a esse grande
aumento de bênção e labor.
A história centenária da Sociedade conta tudo. Ela prova
que, por mais que devamos orar pelo poder do Espírito Santo
sobre os missionários e o seu trabalho, é preciso orar pelos
líderes e pelas igrejas que os sustentam, para que todos os
projetos de meios e métodos, todos os apelos por homens e
dinheiro, todas as reuniões para despertar interesse ou oração
em conjunto, dependam verdadeiramente do poder do Espírito
Santo. A longo prazo, o tom espiritual dos missionários e da
congregação da missão no exterior não pode ser mais elevado
do que o da igreja doméstica da qual se originaram. É da
máxima importância que os esforços das Sociedades ou Jun-
tas Missionárias a favor dos não evangelizados, e os mensa-
geiros enviados a eles, estejam no poder divino. Não menos
importante é o trabalho de avivar e elevar o padrão espiritual
da igreja doméstica com seus membros e ministros, a fim de
que o seu interesse e ajuda no trabalho possam estar igual-
mente no poder do Espírito.
A lição principal que a história da CMS ensina é que o seu
poderoso avanço estava intimamente ligado a um profundo
reavivamento da vida espiritual e o aprendizado de um padrão mais
elevado de devoção ao Senhor Jesus. O único meio de despertar
o interesse missionário verdadeiro, profundo, espiritual, per-
manente, não é ter justamente isso como alvo, mas sim, levar
os crentes a uma separação mais completa do mundo e a uma
total consagração pessoal, com tudo o que tiverem, ao Senhor
e ao Seu serviço.
O movimento é traçado de volta a 1882, quando a visita
de D.L. Moody a Cambridge resultou na poderosa conversão
de vários estudantes.
Existem clérigos e leigos dedicados, tanto em casa como
no exterior, que devem "seu próprio ser" a essa visita do Sr.
Moody. A CMS deve toda uma sucessão de missionários às
influências desse período... Um dos resultados mais impor-
tantes do trabalho de Moody foi a ida dos famosos "Sete de
58 A CHAVE PARA O PROBLEMA MISSIONÁRIO
Cambridge". A influência desse grupo de homens que segui-
ram como missionários para a China foi irresistível. Nenhum
outro evento desse tipo havia ocorrido antes e nenhum acon-
tecimento do século fez tanto para despertar a mente dos
cristãos para as reivindicações e a nobreza da vocação
missionária. O dom desse grupo, pois tratou-se realmente de
um dom de Deus, foi uma recompensa justa ao Sr. Hudson
Taylor e seus colegas pelo seu genuíno desprendimento. Eles
haviam sempre lutado pela causa da China e do mundo e não
pela sua organização propriamente dita.
Em conseqüência, uma forte espiritualidade marcava
constantemente as suas reuniões. E essa mesma espirituali-
dade deu ênfase às concorridas reuniões realizadas nos vários
lugares em que esses sete homens fizeram as suas despedidas.
Eles falaram, com modéstia, mas também com ousadia, da
bondade do Senhor para com eles e da sua alegria em servi-10.
Pediram a colaboração dos jovens, não para a sua própria
Missão, mas para o seu Mestre Divino. Jamais ocorrera antes
uma reunião missionária como a de Exeter Hall de 4 de
fevereiro de 1885. Nós nos familiarizamos, desde esse dia,
com reuniões semelhantes, mas essa era uma coisa nova na
época. De militas formas a CMS tem um profundo débito de
gratidão com a Missão para o Interior da China ("China
Inland Mission") e os Sete de Cambridge. O próprio Senhor
falou através deles e foi pela Sua graça que a Sociedade teve
ouvidos para ouvir.
A influência seguinte, relacionada com a CMS, foi a das
Convenções de vida mais profunda em Keswick, na Inglater-
ra. Deus estava preparando o caminho para a execução dos
Seus planos. Nos primeiros anos de sua existência, as Con-
venções de Keswick não tiveram ligação direta com as mis-
sões. Quando Reginald Radcliffe pediu sua admissão ao
programa, tudo que conseguiu foi um empréstimo da tenda
num sábado. Na reunião do ano seguinte, um apelo feito por
um missionário da CMS, pedindo a mulheres cristãs que
seguissem como missionárias para a Terra Santa, com susten-
to próprio, tocou muitos corações. No outro ano, o Presidente
da Convenção havia compreendido e anunciado o grande
princípio de que a consagração pessoal e a evangelização do mundo
O Aprofundamento a Vida Espiritual 59
andam juntas, e os encontros missionários foram incluídos no
programa oficial. Na reunião de sábado daquele ano uma
nota de 10 libras dada por um jovem para "ajudar a enviar um
missionário de Keswick" ajudou a formar o alicerce para o
fundo, mediante o qual os missionários de Keswick têm sido
enviados e os missionários ligados a diferentes sociedades
recebem sustento.
Para continuar a história da Sociedade, o ano de 1885 foi
memorável. Em janeiro de 1885 realizou-se a Conferência
Anual dos Secretários da Associação na Casa da Igreja
Missionária ("Church Missionary Home").
Nessa Conferência, o caráter espiritual das reuniões
realizadas pelo Sr. Hudson Taylor e seus recrutas de Cambridge
foi mencionado, e a idéia de arranjar reuniões especiais simul-
tâneas em diferentes centros para apresentar as reivindica-
ções, não da Sociedade, mas da devoção dos Seus servos, não
foi calorosamente recebida a princípio. Havia um certo
sentimento de que estava abaixo da dignidade da "grande e
velha Sociedade" copiar a Missão para o Interior da China!
Mas esta sugestão produziu fruto mais tarde nas Reuniões
Simultâneas de Fevereiro, em 1886 e 1887.
Uma reunião semanal de oração começou na Casa da
Igreja Missionária. Alguns duvidaram se seria possível mantê-
la regularmente, mas um historiador escreveu: "Depois de
catorze anos de experiência, quem poderia parar agora? O
que faríamos sem ela? Só na eternidade saberemos o que a
Sociedade deve às reuniões de oração das quintas-feiras".
No mesmo mês, em Exeter Hall, poucas semanas após a
grande reunião de despedida do grupo de Cambridge, reali-
zou-se uma outra reunião para homens, patrocinada pela
ACM (YMCA) para dar à CMS a oportunidade de apresentar
a causa das missões. O historiador escreve:
Em um aspecto, a reunião marcou o começo de
um novo alvo nos encontros missionários. Pela
primeira vez o nome da Sociedade não encabeçou a
promoção. O foco foram as necessidades de um
mundo não evangelizado. Uma coisa pequena em
si mesma, mas que se transformou no símbolo de
uma revolução. A partir dessa época, a CMS tentou
60 A CHAVE PARA O PROBLEMA MISSIONÁRIO
elevar suas reuniões acima do nível da coleta de
dinheiro para uma Sociedade. De fato, toda a causa
missionária no mundo foi elevada pela simples
mudança para uma plataforma mais alta. Não
devemos, porém, esquecer que o exemplo já fora
estabelecido por Hudson Taylor e a Missão para o
Interior da China. As palavras do Dr. Handley
Moule foram inesquecíveis:
"Jamais deveria haver uma reunião missionária
que não fosse cheia da presença do Senhor. Nós
todos não a sentimos aqui esta noite? O que nos
reuniu aqui? Não foi o convite anual, mas o movi-
mento do Espírito de Deus, visível no mundo e na Igreja.
Estamos de fato num período em que Deus está se
fazendo sentir no espírito, na vida, na fé e na obra
dos homens, não com uma nova energia, pois ela é
sempre a mesma, mas através dos meios pelos
quais podemos distinguir a Sua bendita mão com
especial clareza.
Não estamos hoje aqui para louvar a Igreja da
Inglaterra, nem a CMS. Estamos na presença do
nosso Rei Divino; vamos concentrar os nossos
pensamentos sobre Ele e a Sua vontade. A exigên-
cia de Deus sobre cada um dos Seus servos é a
entrega incondicional, sem termos; nada além da
rendição da nossa vontade e da nossa vida a Ele,
para fazer a Sua vontade na força do Seu poder.
Nos antigos dias do feudalismo, quando o
vassalo prestava homenagem ao seu senhor, ele
juntava as mãos e as colocava dentro das mãos do
senhor, como sinal de absoluta submissão à sua
vontade e disposição para trabalhar para ele. Essa
é a única posição para as mãos de um cristão, as mãos,
o coração e a vontade, o espírito e a vida. Não uma
das mãos, mas ambas, completamente dentro das
mãos do Soberano, o Senhor infinitamente mais que
feudal, o Déspota, o Déspota glorioso, absoluto,
inconstitucional de Seus servos, o Senhor Jesus
Cristo infinitamente digno de confiança, infinita-
O Aprofundamento a Vida Espiritual 61
mente soberano."
Em seguida, o Dr. Moule desafiou especifica-
mente os estudantes na reunião: "Para vocês, jo-
vens, que se acham aqui em tão grande quantidade,
esta não é simplesmente uma ocasião magnífica e
interessante; vocês estão aqui diante do Senhor
Jesus Cristo invisível, real e pessoal. Ele está aqui!
Ele está falando agora com vocês, fazendo desta
reunião a Sua voz; e vocês devem dizer alguma
coisa a Ele, qualquer seja ela, em resposta.
Vocês estão preparados para viver ao Seu
serviço, quer em casa ou no exterior, quer numa
vida comum e rotineira até a sua morte, ou nos
lugares altos do campo? Vocês estão preparados
para viver como aqueles que colocaram suas mãos
nas dEle, e reconheceram distintamente que o cen-
tro da sua vida passou do 'eu' para Jesus Cristo; que
vocês colocaram definitivamente aos Seus pés todos
aqueles desejos que atraem a atenção para a sua
pessoa, para obter louvor, até o menor item, gerado
pelo ego? Vocês pertencem a Ele se forem dEle;
devem viver como aqueles que pertencem a Ele.
Todos os seus ganhos devem ir para a bolsa do
Mestre, e Ele vai decidir onde, como, e por quanto
tempo vocês vão servir."
A mensagem do Dr. Moule foi reforçada pelo
hino primoroso que escreveu na ocasião:
Minha gloriosa Vitória, príncipe Divino,
Aperta nas Tuas estas mãos rendidas.
Minha vontade é finalmente toda Tua,
Feliz vassalo do trono de um Salvador!
O movimento para o aprofundamento da vida espiritual
em Keswick estava, de fato, ligado de perto com o avivamento
do espírito missionário na Sociedade. Ele proclamou em voz
como de trombeta a grande verdade: se a Igreja deve ser des-
pertada para o seu dever com a evangelização do mundo, não
deve haver apenas apelo missionário, mas também uma experiência
62 A CHAVE PARA O PROBLEMA MISSIONÁRIO
viva do poder do Espírito. Se essas duas coisas estiverem
solidamente tinidas, hão de equipar os oradores, a fim de
apelarem para o motivo certo, e a Igreja de Cristo, para render
devoção pessoal e sincera a Jesus Cristo e ao Seu serviço.
A história da CMS nos oferece este sumário emocionan-
te: "Aprendemos em nossa longa pesquisa que o avanço
missionário depende da vida espiritual. A ortodoxia evangélica
não tem poder em si mesma para difundir o evangelho. O
ensino protestante inatacável no púlpito e a declaração evan-
gélica mais simples nos trabalhos da igreja, podem ser vistos
em combinação com a completa negligência da grande comis-
são do Senhor. Mas se o próprio Espírito Santo fizer vibrar os
corações e iluminar os olhos, a conversão dos não convertidos
se toma, então, uma questão de preocupação ansiosa. Temos
visto quanto o desenvolvimento moderno das missões deve
aos movimentos do Espírito daquela época. A consagração e
a evangelização do mundo andam juntas. Esta última depen-
de da primeira. O impulso missionário de cem anos atrás
surgiu do Reavivamento Metodista, os primeiros missioná-
rios alemães foram fruto do Movimento Pietista no continente.
O crescimento recente do zelo missionário na Igreja da Ingla-
terra se deve, em grande parte, à influência de um evangelista
americano e um missionário 'free-lance' para a China, nenhum
deles membro da Igreja da Inglaterra. Deus nos mostrou que
Ele é soberano e que Ele opera segundo a Sua vontade,
algumas vezes por meio dos instrumentos mais improváveis—
porque Lhe agradou encher esses instrumentos com o Seu Espírito!"
Deus não tem movimentos e métodos fixos, através dos
quais Ele envia as Suas bênçãos. Mas Ele quer que Seus filhos
em cada caso aprendam qual foi a fonte secreta da bênção.
Qual foi o poder no caso da Convenção de Keswick, e a bênção
que ela trouxe? A resposta pode ser encontrada na expressão
"aprofundamento da vida espiritual."
Ninguém pode compreender o valor de Keswick se não
tiver dado todo o peso que cabe à profunda sensação de falha
na vida espiritual por parte de muitos crentes e a fé na
possibilidade de um aprofundamento e fortalecimento defini-
dos dela. A consciência dessa falta foi geralmente sentida em
conexão com a penosa experiência do poder do pecado na
O Aprofundamento a Vida Espiritual 63

vida diária. As memórias do promotor da Convenção, Reitor


T.D. Harford-Battersby, e um de seus últimos e mais jovens
líderes, o Rev. G.H.C. McGregor, provam isto. Eles foram
homens de marcada piedade em sua vida e dedicação ao
serviço do Mestre. Mas sempre houve uma insatisfação
secreta e autocondenação. Como pode ser, perguntavam eles,
que o mau gênio, o egoísmo e o mundanismo tenham sempre
prioridade e roubem a paz da alma? Todos os seus esforços
e orações pareciam vãos; a libertação parecia impossível. Eles
ouviram homens afirmarem ter estado na mesma condição e
depois descoberto que isso se devia ao fato de não conhecerem
todo o poder de Cristo para salvar. Haviam sido informados
de que Cristo pode dar livramento do poder do pecado, não
pela remoção da mancha da nossa natureza pecaminosa, mas
pela Sua presença e poder protetores. Enquanto ouviam,
perceberam quão pouco tinham crido nesse poder de Cristo
como uma experiência real e contínua. Viram na Palavra de Deus
aquilo que Cristo podia fazer e faria, e que não havia
necessidade de nada da parte deles, senão uma nova — e
agora, na segurança de que Ele os equiparia, uma completa —
rendição ao Seu cuidado e serviço. Eles se submeteram,
creram, eles se confiaram a Ele de um modo nunca feito antes
e testificaram que Cristo era fiel e os levara a uma vida de
comunhão, paz e força jamais conhecida anteriormente. Foi
o testemunho vivo desses homens e de muitos outros que deu
à plataforma de Keswick sua maravilhosa atração e poder. Os
homens ficaram ali como testemunhas vivas do poder de
Cristo para salvar das garras do pecado na vida diária.
Todo o ensino de Keswick gira em torna de três palavras:
Pecado, Fé, Consagração. A profunda convicção do pecado foi
muitas vezes o primeiro sinal de que os ensinamentos esta-
vam produzindo efeito. George McGregor escreveu de
Keswick: "Aprendi inúmeras lições, principalmente estas:
Meus próprios pecados e falhas — fui completamente sondado,
desnudado e exposto pela luz de Deus. Aprendi, então, os
mistérios de Cristo — mal se pode imaginar como Cristo é
exaltado aqui. Aprendi igualmente a necessidade absoluta da
obediência — havendo obediência e fé, nada é impossível".
Ao falar do temperamento nervoso de McGregor, que se
64 A CHAVE PARA O PROBLEMA MISSIONÁRIO
manifestava em acessos de ira, e sua impressão de que essa era
uma cruz a ser carregada, o seu biógrafo escreveu: "Em
Keswick ele aprendeu a pensar de modo diferente a respeito
do assunto. Aprendeu ali, como nunca antes, a compreender
que se render a qualquer tendência maligna, por mais arrai-
gada que esteja na nossa natureza, mesmo que fosse fruto da
hereditariedade há vinte gerações, é PECADO. E Deus não
quer que Seus filhos vivam em qualquer tipo de pecado, ou se
entreguem ao pecado. Ele chama os homens à santidade; e
quando os chama, não zomba deles com impossíveis. Em seu
período de auto-humilhação em Keswick, McGregor teve
uma sensação especial de pecado e fez uma confissão especí-
fica a Deus sobre o pecado do seu mau gênio habitual.
Quando deixou Keswick depois daqueles dias de consagra-
ção, o mau humor ficou em grande parte para trás. A partir
dessa época, ele se tornou realmente, a esse respeito, um outro
homem."
Paulo escreveu aos coríntios que, por haver divisão e
conflito entre os irmãos, eles eram carnais e não espirituais.
Um dos principais indícios da vontade de ser verdadeiramen-
te espiritual é o desejo de não pecar, para se livrar das faltas
que o cristão comum tolera com tanta facilidade. Quando este
desejo se transforma em fé, a pessoa é levada a uma percepção
nova e muito mais clara do poder salvador de Cristo, apren-
dendo como o significado da fé é amplo e profundo. Ela passa
a viver, então, pela fé nAquele que amou e se entregou a Si
mesmo, e agora vive em nós e é nosso protetor. O que isto tem
a ver com missões? A nova experiência do que Cristo fez por
nós leva a uma confiança maior no que Ele pode fazer por
outros. Isto dá sentido e coragem para testemunhar de Jesus,
o que introduz um novo tom à nossa pregação ou conversa.
Cristo se torna distintamente o centro de todo o pensamento
e trabalho; e, ao mesmo tempo, a fonte, o objeto, a força de
todo o nosso testemunho. Com isto, a reivindicação de Cristo
e do Seu serviço sobre a nossa dedicação, fidelidade e total
entrega, torna-se mais clara. Vemos que a consagração total,
que mal compreendíamos ao nos convertemos, é tanto nosso
simples dever como nosso maior privilégio. Trabalhar para
Cristo, ou seja, uma vida inteiramente dedicada a viver por
O Aprofundamento a Vida Espiritual 65
Ele e pelas almas que ama, torna-se o alvo incessante da alma
liberada.
Ao ensinar essas verdades, Keswick é naturalmente
levado a dar ênfase ao imenso poder salvador de Cristo, ao
pecado de limitá-lO, ao chamado para honrá-lO mediante
uma confiança irrestrita, e à Sua reivindicação de uma vida
totalmente devotada a Ele e ao Seu serviço. Mudamos, então,
com facilidade e segurança, nossa idéia de que a fé e a
consagração estão relacionadas com a bênção pessoal, e
passamos a fazer uso delas numa vida entregue à conquista
de almas para o Salvador. Muitos descobriram que aquilo que
a princípio era buscado para conseguir bênção pessoal, torna-
se o poder para viver como uma bênção para outros. O
aprofundamento da vida cristã passa a ser, então, o poder
para uma nova dedicação às missões e ao Reino do Senhor.
É isso que a história da CMS ensina. Esta é a lição que
toda a Igreja de Cristo pode aprender dela em sua busca de
uma chave para o problema missionário. Muitos talvez
jamais possam comparecer a uma Convenção. Pode parecer
difícil ou impossível atingir nossas grandes igrejas ou socie-
dades simultaneamente, a fim de fazer com que a vida real-
mente se aprofunde e se prepare para a obra tremenda
empreendida nesta geração. Que a obra se inicie em congre-
gações isoladas. Que o pastor aprenda e ensine que todo o
fracasso em cuidar, dar, orar e viver para as missões se deve
a uma vida espiritual fraca e superficial. Que ele chame o seu
povo para segui-lo, enquanto busca guiá-los a uma vida
espiritual mais profunda. Que ele fale do pecado e de Cristo
como o Salvador do pecado; da fé em Cristo como capaz de
fazer mais do que experimentamos ou esperamos; da total
consagração, do abandono da nossa vontade e de tudo que
temos, para ficar inteiramente sob o controle do Senhor, como
a única porta para a felicidade permanente e o serviço verda-
deiro.
Que o pastor suplique a seu povo, pelo amor e honra de
Cristo, pelas necessidades dos não evangelizados, pelo incon-
cebível privilégio de ser feito um canal da vida divina para as
almas dos homens, para que venham e sejam sinceros com
Cristo. Que ele fale da obra feita para Cristo entre os que estão
66 A CHAVE PARA O PROBLEMA MISSIONÁRIO
perto ou distantes como a única coisa pela qual podemos
provar nossa fé e amor. Que ele reúna o povo para orar,
pedindo a operação do Espírito Santo em seu intimo, a fim de
equipá-los para o trabalho missionário. Que ele encoraje a fé,
sabendo que, se os corações se entregarem em simplicidade
ao Seu Senhor, esperando a Sua orientação, Ele mostrará o que
deseja que façam. Quando o aprofundamento da vida espiri-
tual e a dedicação ao trabalho missionário forem buscados
haverá uma interação, pois ambos têm suas raízes no próprio
Senhor Jesus Cristo, revelado outra vez como Salvador e
Senhor.
Quando essa nova revelação de Cristo tiver lugar, um
novo relacionamento será estabelecido. A oração se tornará a
entrega espontânea do crente, ou de um grupo de crentes,
Àquele que provou o Seu poder a eles. Eles sabem que o poder
virá dEle para tudo o que tiverem de fazer, e para todo o
trabalho que for feito. Só há uma cura para a triste desculpa da
falta de tempo ou de ânimo para orar fervorosamente, ou para
o chamado inútil a mais oração: o aprofundamento da vida
espiritual. O problema missionário é pessoal. Levem os
homens à libertação em Cristo, façam-nos voltar da vida
mundana em que têm vivido para o "primeiro amor" do
apego e devoção ao Cristo vivo. Eles verão, assim, que não há
vida digna de ser vivida senão aquela de dedicação ao Seu
reino. A oração, em particular e em público, fluirá e a bênção
que ela atrai do céu preparará a Igreja para trabalhar como
nunca antes, e a visualizar uma bênção que excede tudo
quanto podemos pedir ou pensar.
É verdade, o problema missionário é pessoal. Busque o
aprofundamento da vida espiritual, e a consagração missionária virá
em seguida.
5
O Poder da Oração de Fé

Na Conferência de Nova Iorque, a Missão para o Interior


da China (China Inland Mission, hoje Overseas Missionary
Fellowship), foi freqüentemente mencionada. Sob a liderança
de um homem de fé, Deus havia, no curso de trinta anos,
levado 600 missionários ao campo, sem qualquer garantia de
fundos para o seu sustento além do que Deus pudesse dar em
resposta à oração de fé. Já vimos quão fortemente o historia-
dor da CMS fala da bênção que essa sociedade deve à China
Inland Mission por estimulá-la a conceder à regra de fé um
amplo espaço em seu trabalho. Caso a Igreja como um todo
deva lucrar com o seu exemplo, seria bom se todos os cristãos
que participam do sustento missionário soubessem qual o
segredo do seu poder. Não é necessário copiar os seus
métodos e organização. Mas há uma necessidade urgente da
Igreja, em toda a parte, aprender como o poder de Deus pode
ser introduzido em seu trabalho missionário.
Hudson Taylor falou na Conferência de Nova Iorque
sobre a fonte de poder para as missões cristãs e deu um
exemplo do que é o poder da oração de fé. Cito, abaixo, uma
boa parte do seu discurso:

O próprio Deus é a grande fonte de poder.


Além disso, o poder de Deus é um poder acessível.
Somos um povo sobrenatural, nascido de novo
mediante um nascimento sobrenatural, mantido
por um poder sobrenatural, sustentado com ali-
mento sobrenatural, ensinado por um Professor
sobrenatural através de um Livro sobrenatural.
- 67 -
68 A CHAVE PARA O PROBLEMA MISSIONÁRIO
Somos conduzidos por um Capitão sobrenatural
em veredas retas que levam a vitórias seguras. O
Salvador ressurreto, antes de subir aos céus, disse
a Seus discípulos: "Recebereis poder, ao descer
sobre vós o Espírito Santo" (At 1.8).
Poucos dias mais tarde, em resposta à oração
conjunta e incessante, o Espírito Santo desceu sobre
eles e encheu a todos. Louvado seja Deus, Ele
continua conosco. O poder dado não é um dom do
Espírito Santo, Ele mesmo é o poder. Hoje, Ele perma-
nece tão disponível e tão poderoso quanto no dia de
Pentecostes. Mas será que a Igreja, desde os dias
antes do Pentecostes, já colocou de lado qualquer
outro trabalho e ficou à espera dEle por dez dias
para que esse poder pudesse manifestar-se? Não
houve uma falha neste ponto?
Temos dado muita atenção a métodos, maqui-
naria e recursos, e pouca à fonte de poder — o
encher do Espírito Santo. Penso que concordarão
comigo que esta é a grande fraqueza de hoje e tem
sido o ponto fraco de nosso serviço no passado. A
não ser que remediada, esta será a grande fraqueza
no futuro. Temos ordem de encher-nos com o
Espírito. Se não estivermos cheios, estamos vivendo,
então, em desobediência e pecado, e a causa do
nosso pecado é a mesma da antiga Israel — o
pecado da incredulidade.
Aguardar em Deus não é perda de tempo.
Quero referir-me a uma pequena reunião de cerca
de doze homens na qual me deram permissão para
tomar parte, em novembro de 1886. Nós, da China
Inland Mission, estávamos sentindo grande neces-
sidade da orientação divina em questões de organi-
zação e reforço no campo. Reunimo-nos antes da
conferência para passar oito dias aguardando jun-
tos em Deus, quatro dias alternados seriam dias de
jejum e oração. Fomos levados a orar por cem
missionários a serem enviados pela nossa Junta
Inglesa, durante 1887. Em relação ao nosso Movi-
O Poder da Oração de Fé 69
mento de Avanço, necessitávamos pedir US$ 50 mil
a Deus, além do total do ano anterior. Fomos
guiados a orar para que isto viesse em grandes
quantias, a fim de que nossa equipe não ficasse
muito ocupada com os agradecimentos pelas con-
tribuições.
Qual foi o resultado? Deus nos enviou ofertas
de serviço por parte de mais de 600 homens e
mulheres durante o ano seguinte, e aqueles consi-
derados prontos e adequados foram aceitos e envi-
ados para a China. No final do ano, exatamente
cem voluntários haviam partido!
Além disso, Deus não nos deu exatamente os
US$ 50 mil que havíamos pedido, mas deu US$ 55
mil, que vieram em onze contribuições: a menor de
US$2.500 e a maior de US$12.500. Fizemos uma
reunião de ação de graças pelos homens e pelo
dinheiro.
O poder do Deus vivo é um poder acessível.
Podemos chamar por Ele no nome de Cristo, com a
segurança de que se formos ensinados pelo Espírito
em nossas orações, essas orações serão respondi-
das.

Onde e como o segredo dessa oração de fé foi aprendido?


Teria sido um dom concedido pelo favor divino a um indivíduo
escolhido, que outros não podem esperar receber? Ou seria o
resultado de treinamento e prática, a recompensa pela fideli-
dade em pequenas coisas, para ensinar-nos que nós também
podemos andar pelo mesmo caminho? Foi de fato um dom,
da mesma forma que toda graça é um dom de Deus concedido
em medidas diferentes, segundo Ele se agrada. Mas foi ao
mesmo tempo o resultado de uma vida de provações e
obediência, através da qual o dom que fora apenas uma
semente pequenina, oculta e inconsciente se desenvolvera.
Ele cresceu forte, a fim de que todos os filhos de Deus fossem
encorajados a andar nos seus passos, com a segurança de que
para cada um, na sua medida, o caminho da oração que
prevalece continua aberto. Ouça a história de como Hudson
70 A CHAVE PARA O PROBLEMA MISSIONÁRIO
Taylor aprendeu essa oração:
Alguns meses depois da minha conversão,
numa tarde desocupada, retirei-me para o meu
quarto, a fim de passar o tempo em comunhão com
Deus. Lembro-me bem dessa ocasião. Na minha
alegria íntima, derramei minha alma diante de Deus.
Confessei repetidamente meu amor cheio de grati-
dão a Ele que tudo fizera por mim. Deus me salvara
quando eu havia perdido toda a esperança e até o
desejo de salvação. Eu Lhe pedi que me desse
algum trabalho para fazer para Ele, como uma
válvula de escape para o meu amor e gratidão:
algum serviço de autonegação, qualquer fosse ele,
por mais difícil ou mais trivial que pudesse ser. Pedi
algo que O agradasse e que fosse possível fazer
diretamente para Ele que fizera tanto por mim.
Lembro-me bem como me consagrei sem re-
servas, minha vida, meus amigos, meu tudo sobre
o altar, e a profunda solenidade que invadiu minha
alma com a segurança de que a minha oferta fora
aceita. A presença de Deus tornou-se inefavelmen-
te real e abençoada. Embora eu fosse um rapazinho
de apenas quinze anos, lembro-me de ter-me esten-
dido no chão e ficado ali silencioso diante dEle com
reverência e alegria inexprimíveis. Não sabia para
qual serviço tinha sido aceito; mas uma profunda
consciência de que não pertencia mais a mim mes-
mo se apossou de mim, a qual nunca mais me
deixou. Depois de alguns meses daquele episódio
de consagração, senti intimamente que o Senhor me
queria na China.

A consagração é sempre o resultado de uma conversão


poderosa e o segredo de uma vida em que o poder deve ser
adquirido pela oração e pela fé. Alguns se inclinam a consi-
derar isso como um alvo e um fim em si mesmo; mas o seu
verdadeiro valor consiste em ser um início: colocar-se nas mãos de
Deus, a fim de preparar-se para o Seu serviço. É apenas a
entrada numa classe superior na escola onde o próprio Deus
O Poder da Oração de Fé 71
ensina como deseja que O sirvamos.
Hudson Taylor tinha ainda muito a aprender antes de
tornar-se um homem de fé que pudesse dar testemunho do
que Deus pode fazer. Ao pensar em ir para a China, ele sentiu
que queria fazer isso pela fé, confiando em Deus para suprir
as suas necessidades. Se ia confiar nEle na China, por que não
aprender a confiar nEle na Inglaterra? O fracasso na China
poderia ser fatal: ele ia pedir a Deus que o ensinasse ainda em
seu país a andar pela fé. Ele compreendeu a ordem: "Não
deva a ninguém coisa alguma" como sendo literal: por maior
que fosse a sua necessidade, não falaria sobre ela a ninguém
senão a Deus. Duas histórias extraídas da sua experiência
nessa época mostram a escola em que a sua fé foi treinada:
Meu bondoso empregador, muito ocupado,
queria que eu não o deixasse esquecer de pagar o
meu salário. Decidi pedir a Deus para lembrá-lo
disso e a me encorajar respondendo à minha oração.
No final de um certo trimestre, quando devia
receber o salário, vi numa noite de sábado que só
tinha uma moeda de meia coroa. Mas até então
nada me faltara e continuei orando. Aquele domin-
go foi muito feliz. Depois do culto divino pela
manhã, o resto do dia foi passado em trabalho
evangelístico nos alojamentos na parte mais baixa
da cidade. Parecia que o céu havia começado lá em
baixo. Depois do meu último culto, às 22 horas, um
homem pobre me pediu para orar por sua mulher
que estava morrendo e o sacerdote se recusara a ir
se não recebesse um shilling e seis pence em
pagamento. O homem não tinha esse dinheiro, pois
a família estava passando fome. Passou naquele
momento em minha cabeça que todo o dinheiro que
eu possuía era a solitária meia coroa e em uma única
moeda. Além disso, embora tivesse mingau de
aveia suficiente para a ceia e o café da manhã, não
tinha nada para o jantar do dia seguinte.
Imediatamente o fluxo de alegria estancou em
meu coração. Em vez de reprovar a mim mesmo,
comecei a censurar o pobre homem. Descobri que
72 A CHAVE PARA O PROBLEMA MISSIONÁRIO
havia falado com o encarregado do serviço social e
este lhe disse para procurá-lo na manhã seguinte,
mas ele temia que a mulher não passasse daquela
noite! "Ah!", pensei eu, "se eu pelo menos tivesse
dois shillings e seis pence em vez desta meia coroa,
como ficaria alegre em dar um shilling a esses
coitados!" A verdade é que eu podia confiar em
Deus enquanto tinha um shilling e seis pence, mas
não conseguia confiar nEle somente, sem dinheiro
algum.
O homem me levou a um pátio onde em minha
última visita fora maltratado. Eu subi com ele uma
escada sórdida e chegamos a um quarto miserável
e, oh! que quadro se apresentou aos nossos olhos!
Quatro ou cinco crianças de rosto faminto rodea-
vam um catre humilde, onde se achava a pobre
mãe, com um bebezinho nascido há 36 horas ge-
mendo a seu lado. "Ah!" pensei eu, "se tivesse dois
shillings e seis pence em vez de meia coroa, como
daria um shilling e seis pence alegremente a eles."
A incredulidade ainda me impedia de aliviar a
aflição daquela gente, dando tudo quanto eu possuía.
É estranho dizer, mas não pude consolar
aquelas pessoas. Eu lhes disse que não ficassem
abatidos, pois tinham um Pai bondoso e amoroso
no céu. Mas alguma coisa me dizia: "Seu hipócrita!
Falando de um Pai bondoso e amoroso quando não
está preparado para confiar nEle sem a sua meia
coroa!" Quase sufoquei. Se apenas tivesse um
florim e seis pence — mas não estava ainda
preparado para confiar em Deus sem os seis pence.
Naqueles dias a oração costumava ser um
prazer para mim. Tentei então orar, mas quando
abri a boca para dizer "Pai nosso que estás nos
céus", a oração parecia um escárnio e passei por um
período de conflito como jamais experimentei antes
ou depois. Levantei-me de sobre os joelhos em
grande aflição.
O pobre pai voltou-se para mim e disse:
O Poder da Oração de Fé 73
"Senhor, se pode ajudar-nos, pelo amor de Deus,
ajude!" E estas palavras lampejaram em minha
mente: "Dá a quem te pede" e "na palavra do rei há
poder". Tirei vagarosamente a meia coroa do bolso
e dei ao homem, dizendo que estava lhe dando
tudo quanto possuía, mas que Deus era realmente
Pai e digno de confiança. Toda a alegria voltou ao
meu coração e o impedimento para a bênção se foi
— espero que para sempre.
Não só a vida da mulher foi salva, mas eu
também. Minha vida cristã poderia ter sido
destruída se o esforço do Espírito de Deus não fosse
obedecido. Quando fui para casa, meu coração tão
leve quanto o meu bolso, as ruas desertas ressoa-
ram com um hino de louvor. Ao ajoelhar-me junto
à cama, lembrei ao Senhor que "quem dá ao pobre
empresta a Deus"; e com paz interior e exterior,
passei uma noite tranqüila.
Na manhã seguinte, à hora do café, fiquei
surpreso ao ver a proprietária entrar com uma carta
na mão. Não consegui reconhecer a letra nem o
carimbo postal, e não sabia de onde tinha vindo. Ao
abrir o envelope, encontrei dentro uma folha de
papel em branco, um par de luvas de pelica e, ao
pegá-las, caiu no chão uma moeda de meio sobera-
no. "Louvado seja o Senhor!" exclamei. "Quatro-
centos por cento por doze horas de investimento!
Como os negociantes gostariam de emprestar seu
dinheiro a juros como esses!"
Decidi na mesma hora colocar meus bens num
banco que não pudesse falir — uma decisão da qual
até hoje não me arrependi.
Uma segunda prova de fé ocorreu alguns dias
mais tarde.
Esta notável libertação foi uma grande alegria
para mim, mas mesmo assim dez shillings não
duram muito tempo e uma soma ainda maior me
era devida. Continuei pedindo a Deus que
graciosamente lembrasse meu empregador de que
74 A CHAVE PARA O PROBLEMA MISSIONÁRIO
o meu salário estava atrasado.
Não era tanto a falta de dinheiro que me
perturbava, mas tinha este pensamento: "Posso ir
para a China ou minha falta de fé será um obstáculo
para este serviço tão almejado?"
Na noite de sábado, eu precisava pagar a
proprietária. Não deveria eu, por causa disso, falar
sobre o salário? Lutei na quinta e sexta-feiras em
oração com o Senhor, e na manhã de sábado recebi
uma confirmação de que esperar pelo tempo de
Deus era a melhor coisa'a fazer. Esperei, então, com
o coração tranqüilo, pois o fardo se fora.
Naquela tarde, enquanto observava uma pa-
nela cozinhando alguma coisa no fogo, o doutor
chegou de suas consultas. Como era seu costume,
começou a falar das coisas de Deus. De repente,
sem qualquer introdução, ele disse: "A propósito,
Taylor, não está na hora de pagar de novo o seu
salário?" Imagine a minha emoção! Contei a ele,
com a maior serenidade possível, que já estava
atrasado há algum tempo. Como me sentia grato!
Deus certamente ouvira a minha oração. Ele, então,
continuou: "Que pena que não me lembrou, enviei
esta tarde ao banco todo o meu dinheiro; caso
contrário, pagaria você imediatamente". Seria im-
possível descrever meu sentimento de revolta, e
fiquei contente em afastar-me sem que o médico
percebesse minha emoção.
Fui, a seguir, para o meu santuário e derramei
meu coração diante do Senhor até que a calma e a
alegria me fossem restauradas. Senti que Deus iria
operar a Seu modo.
Aquela noite foi gasta no preparo do meu
trabalho para o dia seguinte, e eram cerca de dez
horas quando fiquei pronto para ir para casa. Pare-
cia que não teria ajuda naquela noite; talvez na
segunda-feira Deus interferisse a meu favor. No
momento em que saía, ouvi o médico rindo alegre-
mente sozinho. Entrando no consultório, ele pediu
O Poder da Oração de Fé 75
seu livro caixa, contando que um de seus pacientes
mais ricos acabara de pagar a conta — não era
estranho isso? Eu também achei engraçado que um
homem rolando em dinheiro tivesse ido pagar a
uma hora assim tardia uma conta que poderia ter
sido paga com um cheque em qualquer ocasião. O
recebimento foi devidamente anotado no livro e o
médico estava prestes a ir embora quando, repenti-
namente, me entregou algumas das notas, dizendo:
"A propósito, Taylor, fique com essas notas e lhe
darei o saldo na próxima semana". Vi-me nova-
mente obrigado a ir para o meu santuário, a fim de
louvar o Senhor porque, afinal de contas, eu podia
ir para a China.

Esses dois incidentes provam que é necessário treina-


mento a sós antes de permitir que alguém se apresente em
público como testemunha do poder da fé em Deus e da oração
que prevalece e que faz esse poder se manifestar. Eles nos
ensinam que, se nossa obra missionária conjunta em público
for realmente um trabalho em que o poder da oração de fé
deve ser manifestado, a fé possuída pelos crentes precisa ter
suas raízes profundamente fixadas na verdadeira consagra-
ção a Deus e na inteira dependência do Seu grande poder
operando em nós.
Em 1854, Taylor deixou a Inglaterra e foi para a China.
Depois de trabalhar durante cinco anos, ele se viu obrigado a
voltar para casa por estar doente. Durante sua permanência
na Inglaterra, orou muito para que cinco obreiros fossem para
Ningpo onde residira. Parte do tempo foi gasta em preparar
um Novo Testamento com referências, no dialeto do povo no
meio do qual vivera. Ele conta que, ao fazer o trabalho, só
pensava em como ele seria útil para os cristãos chineses. Mais
tarde verificou que, se não fosse por aquele período de
aproximação de Deus, não estaria preparado para formar
uma missão como a CIM.
"No estudo daquela Palavra divina aprendi que para
obter obreiros bem-sucedidos não era necessário apelos
elaborados pedindo ajuda, mas primeiro oração sincera a
76 A CHAVE PARA O PROBLEMA MISSIONÁRIO
Deus para que enviasse obreiros e, segundo, o aprofundamento
espiritual da Igreja, a fim de que os homens não conseguissem
permanecer em casa. Vi que o plano apostólico não era se
preocupar com os meios e o dinheiro, mas ir e fazer o trabalho,
confiando em Sua palavra segura que disse: 'Buscai, pois, em
primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas
vos serão acrescentadas' (Mt 6.33)."
Quanto mais Taylor orava e estudava a Palavra de Deus
e as necessidades da China, o completo abandono do seu povo
não evangelizado tornou-se um fardo cada vez mais pesado
em sua mente. Ele recebeu um pedido para escrever uma série
de artigos para uma revista missionária. Enquanto escrevia,
começou a sentir como a necessidade era terrível e como a
última ordem do Senhor estava sendo absolutamente ignora-
da pela Sua Igreja. O estudo cuidadoso de todo o assunto
revelou que havia onze vastas províncias no interior da
China, cada uma com suas dezenas de milhares de pessoas,
sem um único missionário protestante residente. A verdade
gradualmente se manifestou a seus olhos: para empreender a
evangelização do interior da China era necessária uma agên-
cia nova e especial. Taylor falou com vários representantes
das principais sociedades missionárias, mas encontrou difi-
culdades, quer financeiras quer políticas. As desculpas eram
que faltava dinheiro ou que não era possível penetrar no
interior antes de o país abrir-se um pouco mais. Ele sentiu
quão pouco a Igreja aprendera a confiar nas promessas de
Deus. A idéia surgiu devagar: "Bem, se você está vendo essas
coisas melhor que os outros, por que não vai você mesmo e
confia em Deus para cumprir os Seus propósitos através da
sua pessoa? Vá você mesmo para o interior da China. O que
vai impedi-lo de conseguir os homens e os meios?" O
pensamento levantou uma controvérsia em sua alma, que
gradualmente afetou a sua saúde. Ele conta essa história:

"Eu vi", diz Taylor, "que em resposta à oração,


os obreiros seriam certamente dados e seu sustento
assegurado, pois o pedido fora feito no nome
precioso de Jesus, que é digno. Mas, então, uma
incredulidade cheia de tremor me envolveu.
O Poder da Oração de Fé 77
'Suponhamos que os obreiros sejam dados',
perguntei a mim mesmo duvidoso, 'e que tenham
sucesso em chegar ao interior da China; e daí?
Surgirão provações e conflitos como nunca imagi-
naram encontrar em sua terra. A sua fé talvez falhe
e eles podem ser até tentados a me censurar por tê-
los colocado em tal dilema. Terei a força e a habilidade
para enfrentar problemas desse tipo?' E a resposta,
naturalmente, foi sempre 'Não!'
Isso não passava da afirmação do 'eu' através
da incredulidade, o diabo me fazendo sentir que
embora a fé e a oração pudessem me colocar num
dilema, eu seria abandonado para sair dele da
melhor forma que pudesse. Não percebi que o
Poder que dera os obreiros seria suficiente para
cuidar deles em todas as circunstâncias, por mais
difíceis que fossem.
Enquanto isso, uma terrível reflexão ardia em
minha alma: um milhão de pessoas dentre os não
evangelizados na China estava morrendo sem Deus.
'Se você orasse pelos pregadores', veio a convicção
penosa, 'eles poderiam ter a oportunidade de ouvir
o glorioso evangelho; mas estão morrendo sem
ouvir, simplesmente porque você não tem fé sufici-
ente para pedir arautos da Cruz que vão até eles."
Semana após semana o conflito o devastava, até que a
tensão se tornou tão grande que quase não conseguia mais
dormir. A sua sanidade estava em risco. Não havia repouso
nem de dia nem de noite. Não conseguia deixar de pensar nos
milhões da China.
Taylor continua:
"Como a incredulidade é sempre inconsistente!
Eu não tinha dúvidas de que, em resposta à oração,
o sustento financeiro seria também suprido para a
nossa ida e que portas seriam abertas em lugares
não alcançados do império. Mas não havia apren-
dido ainda a confiar plenamente em Deus por man-
ter o poder e a graça em relação a mim mesmo. Não
é surpreendente, então, que achei difícil confiar
78 A CHAVE PARA O PROBLEMA MISSIONÁRIO
nEle para cuidar de quaisquer outros que pudessem
ser levados a me acompanhar.
O que devia fazer? O sentimento de culpa pelo
sangue intensificou-se cada vez mais. Simplesmente
por ter-me recusado a pedir, os obreiros não
apareceram e não foram para a China; e todos os
dias dezenas de milhares de pessoas naquela imensa
nação estavam vivendo e morrendo sem conhecer o
caminho da salvação."
O fardo mental começou a fazer efeito sobre a saúde de
Taylor. Ele foi para Brighton, a convite de um amigo, a fim de
descansar junto ao mar. Quando chegou a manhã de domin-
go, centenas de membros de igreja alegres encheram as ruas,
mas Taylor só podia pensar na necessidade daquela imensa
terra à qual entregara a sua vida. "Mais de mil almas na
China", pensou ele, "serão varridas para a eternidade, en-
quanto o povo de Deus, com tantos privilégios, está reunido
nos cultos matinais hoje!"
Em grande angústia mental, ele deixou a casa silenciosa
e foi para a praia deserta. Era uma linda manhã de domingo.
A maré baixa levara as águas do mar para longe, e nas areias
silenciosas ele enfrentou a crise da sua vida sozinho com
Deus.
A princípio, não houve luz e o conflito foi intenso. Seu
único consolo foi a estranha reflexão: "Se Deus, em resposta
à oração, fornecer um grupo de homens para o interior da
China e se eles forem e alcançarem essas regiões distantes e
todos morrerem de inanição, todos irão direto para o céu. E,
se apenas uma alma chinesa for salva, terá valido a pena!"
Mas o pensamento era uma agonia, pois não conseguia ainda
ver que se Deus desse os obreiros, Ele iria, com toda a certeza,
protegê-los, mesmo no interior da China.
De repente, veio o pensamento: "Por que você está preo-
cupado com isso? Se está obedecendo a Deus, toda a respon-
sabilidade é dEle e não sua".
Que alívio indescritível!
"Muito bem", foi a resposta imediata e feliz. "O Senhor
será, então, responsável por eles e por mim também!" O fardo
desapareceu desde aquele instante.
O Poder da Oração de Fé 79
Ali, naquela mesma hora, Hudson Taylor se entregou a
Deus para o Seu serviço e elevou o coração em oração pelos
seus companheiros de trabalho — dois para cada província do
interior e dois para a Mongólia. Tinha a Bíblia nas mãos e, na
margem do precioso volume, ele registrou a momentosa
transação que tivera lugar entre a sua alma e Deus. As
palavras usadas são simples, mas cheias de significado: "Orei
24 horas pedindo obreiros voluntários e hábeis para Brighton,
25 de junho de 1865.
Como me senti aliviado depois disto! O conflito termina-
ra. A paz e a alegria encheram minha alma. Tive vontade de
voar morro acima até a casa. Dormi esplendidamente naquela
noite! Minha querida esposa pensou que Brighton fizera
maravilhas comigo; e, na verdade, foi isso que aconteceu."
Citei grande parte da vida interior de Hudson Taylor
porque ela revela a fonte secreta da qual o poder para o
verdadeiro trabalho missionário deve ser extraído. O fato de
os não evangelizados serem co-herdeiros e co-participantes
da promessa em Cristo Jesus por meio do evangelho é um
grande mistério espiritual, o qual, em outras gerações, não foi
dado a conhecer aos filhos dos homens, como agora foi
revelado aos seus santos apóstolos e profetas, no Espírito (Ef
3.4-7). Qualquer homem pode entender a ordem missionária
como estabelecida na Escritura, mas é necessário ter mente
espiritual para apreender o seu verdadeiro sentido e poder
espirituais. O que Paulo escreve é verdade tanto hoje como
naquela época: "O mistério foi agora manifestado aos Seus
santos, a quem Deus se agradou de tornar conhecidas as
riquezas da glória deste mistério entre os gentios". É necessário
o ensinamento divino, é necessário uma revelação do Espírito
Santo para compreender verdadeiramente o mistério de Deus.
A experiência de Hudson Taylor nos mostra como Deus
treina o homem para crer nEle, aguardar nEle, entregar-se
inteiramente à Sua vontade e serviço, por maior que seja a
dificuldade. A igreja precisa aprender a lição, nossos congres-
sos e sermões missionários devem ter como alvo ensinar que,
à medida que os indivíduos se renderem completamente a
Deus, Ele vai equipá-los para serem usados no serviço do Seu
reino. A vinda do Filho de Deus para salvar o mundo foi algo
80 A CHAVE PARA O PROBLEMA MISSIONÁRIO
solene: Ele teve de carregar os seus pecados e morrer por ele.
É igualmente solene para nós tomar parte na obra da conquis-
ta de almas; ela exige que nós, com fé e amor, sintamos o fardo
das almas e, se necessário, demos a vida pela salvação delas.
Isso requer uma comunhão intima com Deus e uma entrega
completa à Sua orientação, a fim de sermos equipados para o
Seu trabalho.
Damos uma outra ilustração da maneira como Taylor
buscou, em suas reuniões, levar os cristãos a um contato
pessoal com Deus. A primeira parte dos vinte e dois, incluin-
do as crianças, estava pronta para a viagem à China, quando
ocorreu o seguinte incidente:

Convidaram-me para fazer uma palestra sobre


a China em Totteridge, uma cidade perto de Lon-
dres, e aceitei sob a condição de não serem feitas
coletas e que isso fosse anunciado publicamente. O
Sr. Puget, quem me convidara, e atuou como presi-
dente, disse que jamais ouvira tal estipulação. Ele
aceitou, no entanto, e a reunião foi marcada.
Com a ajuda de um grande mapa, transmiti
alguma informação aos presentes sobre o tamanho,
o povo e a profunda necessidade espiritual da
China, impressionando a muitos. No fim da pales-
tra, o presidente disse que, a meu pedido, não
haveria coleta, mas achava que muitos na audiência
ficariam perturbados se não lhes fosse permitido
contribuir com alguma coisa para a boa obra pro-
posta. Ele esperava que eu não objetasse, pois a
sugestão era inteiramente sua e expressava os
sentimentos dos presentes. Pedi, porém, que a
condição aceita não fosse alterada, afirmando que a
própria razão apontada pelo presidente era, a meu
ver, uma das mais fortes para não realizar qualquer
coleta.
Meu desejo não era que as pessoas ficassem
aliviadas por ofertar naquele momento, conforme a
sua conveniência, sob a influência da emoção da
hora. Mas que cada um voltasse para casa sentindo
O Poder da Oração de Fé 81
o peso da profunda necessidade da China e
perguntasse, então, a Deus o que Ele desejava que
fizesse. Se, depois de pensar e orar, ficasse seguro
de que uma ajuda financeira era tudo o que Ele
queria, esta poderia ser dada a qualquer sociedade
que tivesse missionários na China, ou enviada ao
nosso escritório, em Londres.
Em muitos casos, no entanto, Deus talvez não
estivesse pedindo uma contribuição em dinheiro,
mas a consagração pessoal ao Seu serviço no exteri-
or, ou a dádiva de uma filha ou um filho querido,
mais precioso do que o ouro.
Acrescentei que a idéia de fazer uma coleta era
deixar na mente das pessoas a impressão de que a
coisa todo-importante era o dinheiro, enquanto
dinheiro algum poderia converter uma única alma.
A necessidade suprema era que homens e mulheres
cheios do Espírito Santo se entregassem ao traba-
lho, e jamais haveria falta de fundos para o sustento
deles. Como o meu desejo era evidentemente forte,
o presidente cedeu bondosamente, e encerrou a
reunião. No jantar, porém, ele me disse que achava
que eu estava tristemente errado e que algumas
contribuições lhe haviam sido entregues para a
missão.
Na manhã seguinte, na hora do café, meu
bondoso hospedeiro se atrasou um pouco e afirmou
que o motivo disso era ter passado uma noite
inquieta. Depois da refeição, ele me chamou para ir
ao seu escritório e, ao entregar as contribuições da
noite anterior, comentou: "Pensei ontem, Sr. Taylor,
que estava errado sobre a coleta, mas estou agora
convencido de que tinha razão. Quando refleti à
noite sobre o rio de almas na China, sempre correndo
para a escuridão, só pude clamar como sugeriu:
'Senhor, o que quer que eu faça?' Creio que obtive
a orientação que busquei e aqui está". Ele me
entregou um cheque de quinhentas libras, acres-
centando que se tivesse havido coleta teria ofertado
82 A CHAVE PARA O PROBLEMA MISSIONÁRIO
apenas alguns guinéus, mas que aquele cheque era
o resultado de ter passado a maior parte da noite em
oração.
Não preciso dizer como fiquei surpreso e grato
com o donativo. Quando me achava ainda à mesa
do café recebi, naquela mesma manhã, uma carta
enviada pelos agentes de navegação, informando
que podiam oferecer-nos todas as acomodações
para passageiros do navio Lammermuir. Fui ver o
barco em meu caminho para casa e achei que era
adequado, entregando, então, aquele cheque como
parte do pagamento. O Senhor encorajou, assim,
nEle os nossos corações.*
Estamos estudando o problema missionário. Estamos
buscando a resposta para a sua pergunta mais importante —
Como a Igreja pode ser avivada espiritualmente para fazer de todo o
coração o seu trabalho, no poder que Deus pode dar? Tentamos
aprender daqueles a quem Deus usou e abençoou especial-
mente qual o segredo da sua força. Deus enviou Hudson
Taylor como um exemplo do que Ele pode fazer com um
jovem que se dedica inteiramente a viver pela fé, enquanto
busca fazer a obra de Deus. Aprendemos que o problema
missionário é pessoal. O treinamento de Hudson Taylor para
a comunhão com Deus foi intensamente pessoal. Desde que
o problema missionário — como ganhar o mundo para Deus
— só pode ser resolvido pela entrega pessoal de cada crente
à tarefa, podemos aprender desse servo de Deus.
É fácil dizer que a resposta consiste na oração de fé que
prevalece. Mas como pode cada crente ser treinado para isso?
A lição é muito clara. Vimos o caminho pelo qual o poder da
oração de fé chegou até aquele servo de Deus. Ele se entregou
totalmente ao trabalho de Deus; isto lhe deu a confiança de
que Deus cuidaria dele e de todo o seu trabalho. A fé não pode
fortalecer-se, senão através do exercício. As dificuldades são
o campo de prova da fé; elas lhe dão alimento e força. O crente
que não compreende a dificuldade do trabalho missionário,

* Esses trechos foram tirados da Story of the China Inland Mission, de M.Geraldine
Guinness, 2 vols. E
O Poder da Oração de Fé 83
por não estar intensamente interessado nele, não pode gozar
do privilégio da oração de fé, perseverante e que prevalece.
Queremos treinar todo crente a ter tamanho interesse no
progresso da obra do reino de Deus que possa sentir e ouvir
o fardo da sua grande necessidade. Só assim ele tem condi-
ções de perceber a impossibilidade de ela ser feita sem o poder
de Deus, e pode aprender a clamar por mais homens e
dinheiro, pelo poder do Espírito, e pela colheita de almas.
Desejo forte, interesse e esforço pessoal, fé no poder de
Deus operando em resposta à oração — essas são as condições
da oração que prevalece, da qual todo crente pode comparti-
lhar. Em nossas reuniões e sermões missionários é preciso
que o nosso alvo seja cultivar essas coisas. Necessitamos
encorajar o crente mais insignificante a saber que ele pode
fazer muito pela causa de Deus. A viúva pobre fez mais do
que podia imaginar através da devoção que a sua oferta
manifestou. Nosso trabalho missionário não deve apoiar-se
apenas na quantidade de ofertas que recebemos, mas no
espírito de devoção que oferece a oração de fé juntamente com
elas. Que nossos ministros e líderes, nossas igrejas e sociedades
deixem ver que a fé na operação de Deus, e a oração incessante
para que essa atuação continue, é o elemento principal em
nossa esperança. Então, e só então, a igreja se tornará aquilo
que deveria ser, e Deus lhe dirá: "Crês? Pois maiores cousas
do que estas verás" Go 1.50).
6
A Igreja de Pentecostes e o
Espírito Santo

Examinamos três casos em que vimos quão maravilho-


samente Deus guiou Seus servos no século passado para
conseguir o poder e a bênção no campo missionário. Vamos
voltar agora ao Pentecostes, ao nascimento da Igreja de Cristo.
Ali são revelados os grandes princípios originais em que,
através das épocas, a Igreja encontrará a lei do seu serviço e o
seu triunfo sobre os poderes das trevas.
Se tomarmos como premissa básica que é possível
evangelizar o mundo nesta geração — em vista dos empreen-
dimentos dos cristãos da primeira geração — essa será, então,
uma terrível condenação da Igreja de nossos dias. Se quisermos
tirar algum proveito desta admissão, temos necessidade de
examinar a diferença entre nós e a primeira igreja. Como
podemos andar verdadeiramente nos seus passos e fazer
nosso trabalho como eles fizeram?
O Senhor assunto aos céus não só nos deu o Seu Espírito
Santo, como também os homens em quem Ele veio habitar
como demonstração viva do que Ele pode fazer por nós
também. As pessoas não se interessam tanto pelas idéias
abstratas, como pelos indivíduos que representam essas idéi-
as. A Igreja da primeira geração nos foi dada por Deus como
um exemplo e um penhor do que o Espírito Santo pode fazer
nos homens inteiramente possuídos por Ele.
Se a igreja de nossos dias tiver de ser e fazer realmente o
que Deus deseja, os pastores e as congregações devem estu-
dar o padrão pentecostal. Não devemos contentar-nos com
menos do que uma dedicação igual à deles à tarefa de tornar
- 85 -
86 A CHAVE PARA O PROBLEMA MISSIONÁRIO
Cristo conhecido em toda a parte. Uma árvore só pode crescer
forte se permanecer na raiz da qual brotou. O reavivamento
missionário de que a igreja necessita e pelo qual oramos, antes
que ela esteja preparada para fazer o seu trabalho, só pode vir
mediante um retorno ao Pentecostes. O fim está sempre
contido no início, e volta ao início. O único poder para
evangelizar o mundo nesta geração está em saber o que
significa o Pentecostes e ter a sua fé e o seu Espírito.
A grande comissão foi dada em relação ao Pentecostes e
o seu cumprimento tornou-se inteiramente dependente dele.
"E que em seu nome se pregasse arrependimento para remis-
são de pecados, a todas as nações, começando de Jerusalém.
Vós sois testemunhas destas cousas. Eis que envio sobre vós
a promessa de meu Pai; permanecei, pois, na cidade, até que
do alto sejais revestidos de poder" (Lucas 24.47-49). "Mas
recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis
minhas testemunhas tanto em Jerusalém, como em toda a
Judéia e Samaria, e até aos confins da terra" (Atos 1.8). A
comissão pentecostal só pode ser executada por umalgrejapentecostal,
em poder pentecostal. A igreja de hoje foi acusada e admitiu não
ser o que deveria ser. Como podemos pensar nesta geração
realizando a comissão pentecostal sem um retorno à condição
pentecostal?
A grande e ardente questão do problema missionário é
esta: como a igreja pode ser devolvida ao lugar onde a
disciplina e a primeira igreja estavam, quando, no poder do
Espírito Santo, eles fizeram o que nenhuma geração posterior
fez? A Igreja de Pentecostes não era apenas um exemplo e
penhor do que Deus podia fazer, deixando para nós decidir-
mos se gozaríamos da mesma bênção. Não, ela é muito mais
— uma revelação da vontade de Deus sobre o que a Sua igreja
deve ser, e do que é absolutamente indispensável caso deva
haver qualquer esperança real de assegurar obediência à
grande comissão. O estado pentecostal é o único que satisfaz
a Deus, o único que deve satisfazer-nos.
Como acontece com todas as sementes, o Pentecostes foi
também um fruto: o fruto não só da obra de Cristo por nós na
cruz e no céu, mas igualmente o fruto da Sua obra nos
discípulos ao prepará-los para receber o Espírito. O pastor
A Igreja de Pentecostes e o Espírito Santo 87
precisa aprender qual deve ser o entusiasmo missionário do
seu ministério, e como ele pode comunicar isso ao seu povo;
o líder de um grupo missionário deve desejar para o seu
círculo o equipamento completo para o serviço do reino; cada
crente deseja aprender pessoalmente do Senhor o segredo da
dedicação total ao Seu trabalho, de ficar cheio do Seu Espírito,
e de ganhar almas para o conhecimento do Seu amor. A fim
de conseguir isto, devemos nos tornar alunos na escola em
que Cristo treinou os Seus discípulos. Ali descobrimos como,
depois de Cristo ter subido aos céus, eles foram equipados
para ser vasos e canais do Espírito na terra.
A primeira vinda do Espírito Santo em poder foi para um
povo preparado. Para que a Igreja de nossos dias receba o
Espírito em poder pentecostal, necessitamos do mesmo pre-
paro. Isto envolve desistir e abandonar tudo que prejudica,
um esvaziamento e purificação de nós mesmos e um desejo,
uma espera, e uma rendição total a Cristo. A bênção do poder
do Espírito virá, então, certamente.
Quais foram os principais elementos desse treinamento?
Houve, em primeiro lugar, um chamado e uma separação dos
interesses e reclamos comuns da vida diária. O princípio
subjacente à vida de todos os grandes servos de Deus nas eras
passadas — Abraão e José, Moisés e Josué, Davi e Elias — foi
retirá-los e isolá-los do seu ambiente comum. Isto muitas
vezes aconteceu mediante perseguição e sofrimento, para que
pudessem ficar a sós com Deus e serem libertos daquilo que
seria de outra forma inocente ou legal na terra. Assim livres,
eles podem ouvir a voz divina, receber a revelação divina, ser
transformados e equipados pelo poder divino para o seu
trabalho. Foi assim que Cristo chamou Seus discípulos para
abandonarem tudo, negarem a si mesmos o que outros pode-
riam considerar como perfeitamente legítimo e compartilhar
com Ele a Sua cruz e tudo que ela pudesse envolver. Durante
três anos Ele os manteve em treinamento — mediante diálogo
com eles, permitindo que observassem o que Ele fazia, ouvin-
do Suas censuras e instruções. Ele os estava preparando para
serem os recipientes e canais do Espírito Santo, que viria
tomar o lugar da Sua presença terrena, e construir neles Sua
habitação permanente.
88 A CHAVE PARA O PROBLEMA MISSIONÁRIO
Num mundo pecaminoso, o sacrifício é a lei da vida e do
amor. Os homens a quem Cristo preparou para se tornarem
lideres da Igreja pentecostal e encarnarem em suas vidas a
mente e a vida do Espírito, aprenderam a desistir de tudo por
Cristo. Como Seu Senhor não pôde dar-se por eles sem
sacrificar tudo, eles também haviam aprendido, ao dar-se a si
mesmos, a abandonar tudo por causa do Seu serviço e Seu
reino. Nessa entrega completa a um só objetivo, a Igreja
pentecostal lançou bem fundo as suas raízes.
Quando não há perseguição, quando o dinheiro, o con-
forto e a civilização cristã nos rodeiam, quando parece que não
há dificuldade em ser cristão, muitos não entendem onde
entra a idéia de abandono de tudo para ser discípulo, ou que
forma isso vai tomar. A resposta é o segundo grande elemento
no treinamento dos discípulos de Cristo: eles tinham uma
ligação pessoal intensa com Cristo.
Quando Cristo os chamou pela primeira vez, havia algo
nEle que os atraiu e tornou Seu chamado irresistível. Da
mesma forma que Cristo os atraiu sem que soubessem como
e por que, Ele também os levou por um caminho e para um
alvo que não conheciam. Começaram a crer nEle como o
Messias: Ele os fez prosseguir até que o conhecessem como o
Filho de Deus, como Amigo, como Mestre, e como Redentor.
Ele falou pouco ou praticamente nada do Seu amor por eles e
do amor deles por Ele, até a última noite da Sua vida.
Desvendou, então, para eles o mistério de amá-los com um
amor divino — de dar a Sua vida por eles, do amor do Pai
repousando neles, do amor deles por Ele, e de guardar os Seus
mandamentos. Os discípulos não O haviam seguido com esse
propósito; foi Cristo quem, pelo Seu amor divino, no decorrer
do treinamento de três anos, fizera com que se apegassem a
Ele. E esta associação pessoal intensa e viva com Cristo que
nos prepara para receber o Espírito Santo e nos traz esse poder
pentecostal, sem o qual a Igreja não terá poder para ganhar o
mundo.
O afastamento só vem através de uma nova e mais forte
ligação. Quando o cristão percebe isso, embora saiba tão
pouco sobre o amor do seu Senhor, o Senhor está pronto para
levá-lo a ele de um modo que desconhece. Ele toma a decisão
A Igreja de Pentecostes e o Espírito Santo 89
de se afastar de tudo que possa ocupar o coração e de
submeter-se, em discipulado paciente e obediente, às influên-
cias de seu relacionamento com o seu Senhor. Ele aprende a
saber que o amor pode dominá-lo. O amor de Cristo pede e
reclama inteiramente o coração e a vida. Se quisermos apelar
realmente às nossas igrejas para que sigam nos passos da
Igreja pentecostal e pedir o seu poder e bênção, devemos
encorajá-la a entrar na escola em que Cristo treinou Seus
discípulos. Quando o amor de Cristo se torna tudo para
qualquer de nós, e nos entregamos ao Seu amor, demonstran-
do isso na decisão de morrer pelos pecadores, esse amor nos
ensinará, nos constrangerá, a abandonar tudo por causa desta
pérola de grande preço. O afastamento do mundo e a ligação
com Cristo são os segredos da bênção pentecostal.
Ligado de perto com este amor, outro elemento de
preparação para o Pentecostes era o amor fraternal ensinado
por Cristo a eles. Cristo não só os ligou a Si mesmo, mas
também uns aos outros. Cristo sempre tratou com os indiví-
duos. Ele chama as Suas ovelhas pelo nome. Ele conhece e
satisfaz as necessidades de cada um. Mas Seu trabalho não
termina aí. Ele torna cada um deles membro do Seu corpo. A
vida divina é uma vida de amor. Ele nos leva a uma vida de
amor; Ele nos chama e o Seu Espírito nos capacita a amar uns
aos outros como Ele nos amou. O Seu amor habita em nós e
une o corpo num todo vivo. Este amor sobrenatural e divino
deve ser o poder da Igreja para convencer o mundo da sua
origem divina. A união deste amor traz força a cada membro,
multiplicando a força de todos com a ajuda suprida pelo corpo
todo. Foi este amor que fez os homens dizerem muitas vezes:
"Veja como eles se amam". Foi este amor, na unidade do
corpo, que fortaleceu homens e mulheres fracos, levando-os
à vitória.
Este amor foi cultivado em uma comunhão íntima, tanto
durante a vida de Cristo como depois da chegada do Espírito.
É esta comunhão de amor que falta com freqüência e lastima-
velmente numa congregação ou sociedade. Uma centena de
homens contribui para o mesmo plano missionário e participa
da mesma Santa Ceia; todavia, eles nada sabem do intercâm-
bio de amor mútuo e fraternidade espiritual.
90 A CHAVE PARA O PROBLEMA MISSIONÁRIO
Quando começamos a procurar sinceramente o Espírito
de Cristo para o nosso trabalho missionário, ou quando
pensamos que Seus primeiros movimentos são sentidos,
vamos lembrar que não existe lugar em que o Espírito opere
com tanta certeza como quando estamos reunidos com nossos
irmãos no Nome de Jesus. Falar juntos desse nome e desse
amor tem mais a ver com a nossa vida espiritual do que
pensamos. Dedicar-nos a encorajar os fracos, instruir os
ignorantes, advertir os desviados, contando-lhes o que Cristo
significa para nós, é um dos meios mais certos de atrair a
presença do Senhor. Isto coloca os membros separados em
um só corpo, desperta a esperança de todos e os prepara para
aquele transbordar abençoado do Espírito que é indispensá-
vel se quisermos dar testemunho de Cristo em poder.
A fé foi uma das principais lições necessárias para o
trabalho missionário pentecostal do século 12 e do nosso.
Cristo falou diretamente a Seus discípulos sobre a fé. Depois,
indiretamente, Ele conversou a respeito dela perto deles,
provando a indispensabilidade da fé na sua presença. Ele
ensinou as condições e o poder da fé e, mais ainda, deu ênfase
ao lugar que a fé deveria ter em sua vida e ministério.
Sabemos o que é fé. Desde a primeira e simples fé que
ouve uma promessa e crê na Palavra de Deus, até a fé que
entra em união plena e consciente com o Senhor, permanece
nEle e faz as "maiores obras". A fé é sempre uma das
primeiras condições do poder da operação do Espírito. A
Igreja pentecostal recebeu e manteve a sua bênção e poder, fez
a sua obra, suportou seus sofrimentos, e triunfou — tudo
através da fé.
A fé é uma coisa tão simples que muitos pensam que é
também fácil. Como o poder que vence o mundo, expulsa
Satanás e leva os homens das trevas para a luz de Deus, ela
não é uma coisa fácil. Ela implica em negação do "eu",
crucificação do mundo, abandono da sabedoria e do poder
humanos, e dependência total de Deus. Falamos de missões
de fé, nas quais a fé, em alguns de seus aspectos específicos é
especialmente destacada. Precisamos enfatizar a real verdade
de que toda a obra missionária deve ser uma obra de fé. Sendo
assim, devemos pôr isso em prática desde o início e buscar
A Igreja de Pentecostes e o Espírito Santo 91
oferecer a Palavra unida à fé aos que ouvem, assim como fazer
com que a fé participe também de todo o nosso trabalho e
oração. "Pela fé Abel ofereceu a Deus mais excelente sacrifício
do que Caim..." (Hb 11.4).
Quando a oferta de dinheiro numa coleta é algo tão
sagrado quanto a oferta de oração, quando a fé é essencial
para tornar eficaz a oração, encontraremos o ponto de contato
para tratar individualmente com os crentes. Só então as
nossas reuniões e coletas missionários se tornarão tão úteis
para a vida de fé quanto a pregação do evangelho. Na medida
em que os indivíduos entenderem esta realidade, as socieda-
des e congregações a que eles pertencem entenderão também.
Juntamente com os líderes, diretores e missionários, todos
devem, então, unir-se em uma convicção profunda e domi-
nante: A obra missionária é uma obra de fé. Quando todos os
nossos obreiros na pátria e no exterior admitirem que esta fé
é indispensável — por conhecerem pessoalmente o poder de
Cristo para salvar, triunfar e operar neles — estaremos nos
aproximando de uma nova era pentecostal.
Quando Cristo subiu ao trono, a preparação estava
completa? Ainda não. Era necessário mais uma coisa para
terminar o trabalho. Mesmo depois de os discípulos terem
sido treinados por Jesus durante três anos, após sentirem a
misteriosa influência da Sua morte, e terem sido infundidos
com o imenso poder da Sua vida ressurreta; embora tivessem
as prodigiosas revelações da Sua nova vida durante quarenta
dias, e observassem a Sua ascensão da terra ao céu — faltava
ainda a eles alguma coisa. Os dez dias de oração e súplicas
conjuntas e contínuas. Não conheço outra passagem da Escri-
tura que apresente a oração sob uma luz tão extraordinária.
Deus havia feito tudo que era necessário; Cristo terminara Sua
obra para os Seus discípulos e neles; mas o Pentecostes teve de
esperar ainda dez dias pelas suas orações. A oração deu o
toque final ao trabalho de preparação. A oração expressa um
afastamento completo e contínuo da terra e a chegada ao céu,
uma abertura de todo o ser a Deus, e a habitação em Cristo. Tal
oração provou que aqueles homens eram, de fato, vasos
preparados para o Espírito Santo de Deus.
Quando Jesus, o Cordeiro, foi glorificado e tomou o Seu
92 A CHAVE PARA O PROBLEMA MISSIONÁRIO
lugar no trono, o rio da vida jorrou do trono de Deus e do
Cordeiro. Ele fluiu como correntes de água viva entrando e
saindo dos discípulos em oração. Cristo foi o modelo: "E
aconteceu que, ao ser todo o povo batizado, também o foi
Jesus; e estando ele a orar, o céu se abriu, e o Espírito Santo
desceu sobre ele" (Lucas 3.21-22). Depois de todas as outras
condições terem sido cumpridas, a oração incessante é neces-
sária para trazer a bênção. Se a Igreja pentecostal é um
exemplo, e não pode ser caso a era pentecostal não se repita,
a oração deve voltar a ser a chave que abre as janelas do céu.
A oração deve ser pregada e praticada como o primeiro e o
último dever de uma igreja que espera que o poder de Deus
se manifeste em seu trabalho. Os dez dias de oração contínua
ensinam uma lição simples, mas difícil de aprender: aquilo
que não for obtido através de pouca oração, será alcançado
através de muita oração sincera e cheia de fé, oferecida durante
um período de tempo suficiente.
Dissemos que a igreja primitiva não teve acesso a nenhum
poder que não possamos utilizar hoje. Vimos quais são
alguns desses poderes. O poder da separação do mundo e de
verdadeira renúncia, de intenso apego e dedicação a Jesus, de
amor e comunhão nos unindo aos santos que nos rodeiam, de
fé, e de oração incessante. Essas coisas prepararam os discí-
pulos para receber a promessa do Pai e serem instrumentos
aptos para a atuação poderosa do Espírito Santo ao testemu-
nharem de Cristo até os confins da terra.
Os homens foram maravilhosamente formados para ter,
em natureza humana, como Jesus teve, o Espírito de Deus
habitando neles. Como esta bênção era maravilhosa em si
mesma — o fruto e a coroa da obra redentora de Cristo. Esses
homens, preparados por Cristo, estavam todos cheios com o
Espírito Santo. O corpo de Cristo tinha sido na terra a morada
do Espírito Santo e o instrumento da Sua obra. Os homens
mortais são agora o Seu corpo; eles tomam o Seu lugar; o
Espírito habita neles como instrumentos de Cristo e para a
continuação da Sua obra. O Espírito, através do qual Deus é
Deus, Pai e Filho, cada um é o que Ele é, e ambos são Um —
esse Espírito, a própria vida de Deus, enche-os.
Na tríplice operação da Sua graça vivificante, Ele
A Igreja de Pentecostes e o Espírito Santo 93
na, santifica e fortalece. Isto é, Ele revela a verdade divina, Ele
nos torna participantes da vida e disposição de Cristo, e Ele
nos investe do poder divino que, em meio às fraquezas,
triunfa através de nós. Assim como o treinamento de Cristo
tinha o objetivo de prepará-los, esta concessão de poder iria
também torná-los aptos para a Sua obra. "Mas recebereis
poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo" (Atos 1.8). O
poder de Deus para a Sua obra seria a única condição para o
sucesso em seu empreendimento de levar o evangelho até os
confins da terra.
Aquela geração pentecostal fez mais para cumprir a
evangelização do mundo do que qualquer geração subseqüente.
Considerando o aumento da população do mundo e o cresci-
mento da Igreja, deveríamos fazer dez vezes mais do que eles
fizeram. Mas mesmo que venhamos a fazer tanto quanto eles
fizeram, precisaremos ainda disto: Ser cheios do Espírito Santo,
como o Poder de Deus, para fazer o trabalho de Deus! Não basta que
o rio de água da vida continue correndo sob o trono de Deus
e do Cordeiro; não basta que sejamos o templo de Deus e que
o Espírito de Deus habite em nós. O Espírito pode estar em
nós e, mesmo assim, ser entristecido, apagado, resistido, ou
negligenciado. Onde Ele deve operar em poder, Ele pede para
encher todo o ser. Ele reclama o controle da vida em seu todo.
Devemos ser guiados e governados por Ele em tudo. Ele pede
que o homem seja um sacrifício vivo, uma oferta queimada
totalmente, para ser consumido pelo fogo de Deus.
Se deve haver qualquer esperança de trabalharmos como
a Igreja do Pentecostes, é necessário que surja uma nova era
em nossas missões. Deve haver uma verdadeira restauração
da vida e poder pentecostais na Igreja na pátria. O poder de
Deus para o trabalho de Deus deve ser a senha de cada obreiro.
Só assim a nossa obra missionária, tanto em extensão quanto
em intensidade, poderá alcançar aqueles que ainda não têm
conhecimento de Cristo. Se levarmos a sério o que foi dito
acima, o que devemos fazer, então, a esse respeito? Devemos
confessar que a esmagadora maioria dos membros da Igreja
está muito longe do Pentecostes. O que deve ser feito para que
todos os nossos líderes nas igrejas e conselhos, nas sociedades e
comitês, levantem esta bandeira e senha: Volta ao Pentecostes? Sem
94 A CHAVE PARA O PROBLEMA MISSIONÁRIO
isto o trabalho não pode ser realizado. Devemos reunir nossos
pastores, congregação e todos que sentem que a obra de Deus
não está sendo feita como deveria, em um único laço de união
até que a senha tenha ecoado através da Igreja: Volta ao
Pentecostes: o poder de Deus para o trabalho de Deus; sem isto o
trabalho não pode ser realizado.
O problema missionário é pessoal. Cada crente, ao
receber o amor de Cristo em seu coração, aceitou um amor que
abrange o mundo inteiro. A grande comissão repousa sobre
cada membro da igreja. Cada um deve começar com a sua
própria pessoa a buscar, para a igreja, a restauração do poder
pentecostal, a fim de levar avante o trabalho de conquistar o
mundo para o seu Rei. E essa tarefa deve começar a partir do
próprio indivíduo.
Foi a oração que levou ao Pentecostes — oração intensa,
contínua, conjunta. Essa oração não cessou até ser respondi-
da. Essa oração não é fácil.
Hudson Taylor disse na Conferência: "Não basta que os
missionários sofram ao serem enviados, mas a igreja deve
avançar pelo caminho da renúncia até o ponto do sofrimento.
A obra redentora, salvadora de almas, não pode ser realizada
sem sofrimento. Se simplesmente orarmos como um exercí-
cio agradável e não soubermos o que é vigiar e nos desgastar
em oração, não atrairemos a bênção que está ao nosso dispor.
Não manteremos nossos missionários, que estão esmagados
pelas trevas espantosas do paganismo; não haveremos sequer
de manter suficientemente a vida espiritual de nossas próprias
almas. Devemos servir a Deus até o ponto do sofrimento;
cada um deve perguntar a si mesmo: 'Até que ponto estou
estendendo o reino de Cristo, através da dor, da renúncia
pessoal, até o ponto do sofrimento?"
Vamos nos entregar outra vez à oração, para que a igreja
possa ser restaurada ao seu estado pentecostal. Vamos, pela
fé, render-nos inteiramente ao Espírito e recebê-10 também
pela fé, para que nos encha. Vamos nos entregar à oração,
pedindo o poder do Espírito na vida e trabalho da igreja em
casa e no exterior. A ordem pentecostal para pregar o evangelho
a cada criatura é urgente, mais ainda por ter sido negligenciada
tanto tempo. A oração trouxe o Pentecostes. A oração ainda
A Igreja de Pentecostes e o Espírito Santo 95
o traz. Mas sintam como o nosso poder na oração é fraco.
O que fez com que aqueles humildes pescadores e mu-
lheres orassem assim? Foi isto: o coração deles era inteiramen-
te de Jesus Cristo. Eles haviam abandonado tudo por Ele. O
Seu amor os enchia e os unia a Ele, e uns aos outros. A
comunhão do amor os fortalecia. Seu Senhor, assunto aos
céus, era tudo para eles; não conseguiam deixar de orar.
Vamos orar em segredo. Vamos nos unir em amor com outros
e orar sem cessar, e vigiar em oração para que, por causa do
Seu Filho e de um mundo perdido, Deus restaure o Seu povo
ao seu primeiro estado na devoção, poder e alegria do Pente-
costes.
Vamos sempre lembrar: o problema missionário é pesso-
al. Um amor apaixonado por Jesus Cristo, nascido do amor
dEle, possuindo verdadeiramente cada um de nós, vai nos
ensinar a orar, a trabalhar e a sofrer. Vamos orar pedindo esse
amor.
O Problema Missionário É Pessoal

Num relatório sobre a Conferência Missionária de Estu-


dantes realizada em Londres, em janeiro de 1900, o Apêndice
mostrava um diagrama sob o título: AS POSSIBILIDADES
DO TRABALHO PESSOAL. Em seguida, vinha esta
declaração: "SE houvesse apenas um cristão no mundo e ele
trabalhasse e orasse durante um ano para ganhar um amigo
para Cristo, e SE esses dois continuassem orando a cada ano
para ganhar mais um, e SE cada pessoa assim levada ao reino
guiasse outra para Cristo a cada ano, em trinta e um anos cada
pessoa do mundo teria sido levada a Cristo". A progressão
matemática mostrou que no fim dos 31 anos haveria mais de
dois bilhões de cristãos.
Alguns podem duvidar da validade dos cálculos que
ficam totalmente além do limite das possibilidades ou das
promessas da Palavra de Deus. Outros podem suspeitar da
exatidão de um cálculo que parece apoiar-se na idéia de que
todos os que se tornem cristãos se mantenham vivos durante
31 anos, enquanto sabemos que algo como um trinta avos da
população mundial morre a cada ano. Deixando essas dúvi-
das de lado, desejo simplesmente examinar o princípio que
representa a base desse cálculo. Quero salientar qual seria o
efeito se a verdade substancial que ele contém fosse realmente
crida, pregada e praticada. A verdade é esta: Cristo quer que
todo crente venha a ser um conquistador de almas. Ou seja, pois
esta é a verdade mais profunda em que a primeira tem a sua
origem e força: todo crente foi salvo com o propósito expresso
de fazer da salvação de outras almas o fim principal e supre-
mo da sua existência nesta terra.

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98 A CHAVE PARA O PROBLEMA MISSIONÁRIO
Eu sinto mais de perto a necessidade do ensino do
Espírito Santo para mim mesmo e meus leitores quando
chego a este ponto. Nós aceitamos com facilidade declarações
gerais sem compreender plenamente o que elas implicam. Só
quando somos colocados face a face com elas, e desafiados a
aplicar e agir com relação a elas, é que a incredulidade secreta
aflora roubando-lhes o seu poder. Só pelo Espírito Santo
podemos olhar para além da condição presente da Igreja e da
grande maioria dos cristãos, compreendendo qual é realmen-
te a vontade de nosso Deus com respeito ao Seu povo, e o que
Ele tornou possível para ele na graça do Seu Santo Espírito.
Quando ensinarmos a igreja, nossa palavra de ordem será
esta: Cada crente deve ser um ganhador de almas! Só isto dará uma
base segura ao nosso apelo missionário e nossa esperança de
uma resposta imediata e suficiente ao chamado para tornar
Cristo conhecido de todos.
Mas será que esta declaração, cada crente deve ser um
ganhador de almas, é realmente verdadeira e obrigatória? Não
será pouco prática? Algo além do alcance da maioria dos
crentes sinceros, mas fracos? O próprio fato de que esta
verdade parece estranha para tantos e tão difícil para todos
menos os de mente espiritual, no sentido de aceitá-la como
possível e obrigatória, é a razão mais urgente para ensiná-la.
Vamos verificar o fundamento sobre o qual foi colocada.
A natureza nos ensina que deve ser assim: Essa verdade
é uma parte essencial da nova natureza. Nós a vemos em cada
criança que quer falar sobre a sua felicidade e fazer com que
outros participem da sua alegria. Nós esperamos encontrar
em cada coração humano um sentimento de compaixão pelos
pobres e os sofredores. Por que seria, então, estranho que
cada filho de Deus seja chamado a tornar conhecida a outros
a felicidade que descobriu, a ter interesse naqueles que se
perdem, a ter compaixão deles e trabalhar para a sua salva-
ção? Cada crente deve ser um ganhador de almas! O que pode ser
mais natural que isso?
Cristo chamou Seus discípulos de luz do mundo. O
crente é um ser inteligente — sua luz não brilha como uma
força cega da natureza, mas é o impulso voluntário do seu
coração para com aqueles que estão nas trevas. Ele anseia
O Problema Missionário É Pessoal 99
levar a luz a eles, fazer tudo o que pode para que conheçam a
Jesus Cristo. A luz é muitas vezes usada para ilustrar a
influência silenciosa que as boas obras e uma vida consistente
podem ter. Sim, este é um elemento essencial, mas significa
ainda muito mais. Não indica, como se julga freqüentemente,
que devo contentar-me em obter a minha própria salvação e
confiar em que o meu exemplo beneficie outros. Não! Até o
exemplo de Cristo extraiu o seu poder do fato de ser uma vida
vivida para nós e entregue por nós, de modo que o verdadeiro
poder da influência do cristão está no amor que se dedica a
buscar a felicidade de outros. Assim como Deus é luz e amor,
é o amor que torna o cristão a luz do mundo. Cada crente um
ganhador de almas — esta é, sem dúvida, a lei do Espírito da
vida em Cristo Jesus.
Como poderia ser de outro modo? Da mesma forma que
Deus é amor, também aquele que ama é nascido de Deus. O
amor é a maior glória de Deus, Sua bem-aventurança eterna.
Os filhos de Deus têm a Sua imagem, compartilham da Sua
bem-aventurança e são herdeiros da Sua glória. Mas isto não
pode ser alcançado de outra forma além de viverem uma vida
de amor. A nova vida neles é uma vida de amor. Como ela
pode manifestar-se senão amando como Deus ama, amando
aqueles que Deus ama? O amor de Deus é derramado em
nossos corações. Cristo orou: "a fim de que o amor com que
me amaste esteja neles". É o amor de Cristo, o amor com o
qual Ele nos amou que nos constrange. O amor não pode
mudar a sua natureza quando flui de Deus para nós: ele ainda
ama os perversos e os indignos. Agora que Ele está no céu, o
amor de Cristo não tem meios de alcançar as almas dos
homens por quem morreu, por quem anseia, senão através de
nós. Nada pode ser, então, mais natural e verdadeiro do que
a bendita mensagem: Cada crente remido deve ser um ganhador
de almas.
Se é assim tão simples e tão certo, por que tantas palavras
são necessárias para provar e reforçar esse ponto? Porque a
Igreja está numa condição fraca e doentia e dezenas de
milhares dos seus membros jamais aprenderam que este é um
dos tesouros mais especiais da sua herança. Eles se contentam
com o pensamento egoísta da salvação pessoal e mesmo na
100 A CHAVE PARA O PROBLEMA MISSIONÁRIO
luta pela santidade jamais aprendem o propósito divino da
sua salvação. Há outras dezenas de milhares que julgam que
isso faz parte do seu chamado, mas consideram ser uma
ordem além das suas forças. Eles jamais souberam que, como
uma lei e um poder da sua natureza mais íntima, o seu
cumprimento deve ser uma função normal de um corpo
saudável exercida com alegria e força.
Até os mandamentos do Senhor Jesus podem ser para
nós um fardo tão grande quanto a lei de Moisés, resultando
em cativeiro e condenação, a não ser que conheçamos o duplo
segredo que traz o poder do desempenho. Esse segredo é,
primeiro, aquilo que já citamos — a fé em que o amor é a lei
interior da nossa nova natureza, e que o Espírito da lei de Deus
está em nós para capacitar-nos a amar alegremente, abençoar
e salvar os que estão à nossa volta. Segundo, na nossa entrega
a uma vida de andar junto ao Senhor Jesus e comunhão contínua
com Ele — rejubilando-nos nEle, abandonando tudo por Ele,
consagrando tudo ao serviço do Seu amor — é que nossa
natureza espiritual pode ser fortalecida. O trabalho de ganhar
almas se torna, então, a maior alegria e realização da vida
cristã. Para os que compreendem isto até certo ponto, não há
nada de estranho no pensamento: Cada crente um ganhador de
almas! Este deve ser o tema da pregação de cada pastor e da
vida de cada crente.
Mesmo isto não é, no entanto, tudo. Muitos concordarão
que cada crente é chamado para viver e trabalhar para outros,
mas ainda assim continuam considerando isso como uma
coisa secundária, adicional e subordinada ao principal inte-
resse de obter sua própria salvação. Cada crente um ganhador
de almas — isso não significa entre outras coisas, mas primeiro
que tudo, ou seja, a maior razão da sua existência. Todos
concordamos em dizer que o objetivo único e supremo da
Igreja é levar o mundo a Cristo. Sabemos que Deus deu a Ele
a Igreja como o Seu corpo. O propósito desse corpo é ser para
o seu Cabeça o que todo corpo é na terra — o órgão ou
instrumento vivo através do qual os propósitos e a obra do
cabeça possam ser realizados. O que se aplica ao Cabeça,
aplica-se ao Corpo; o que se aplica ao Corpo, aplica-se a cada
membro individual — até os mais fracos. Assim como para o
O Problema Missionário É Pessoal 101
Cabeça, Jesus Cristo, assim como para o Corpo, a Igreja, assim
também para cada crente, o propósito supremo e único de
nossa existência é a salvação de almas. É nisto, acima de tudo
o mais, que Deus é glorificado. "Eu vos escolhi a vós outros,
e vos designei para que vades e deis fruto" (Jo 15.16).
Muitos podem ser levados a concordar com esta verda-
de, confessando, porém, que não sentem a plenitude da sua
força. Inúmeros ministros podem sentir quão pouco ela é
pregada em seus sermões, em comparação com a plena
convicção sentida ao pregarem sobre a graça e a salvação.
Seria bom considerarmos cuidadosamente essas confissões.
Onde está a dificuldade? Esta união com o Senhor Jesus, para
participar da Sua obra salvadora até o ponto em que, sem nós,
Ele não possa atuar, mas que, através de nós, Ele irá e poderá
realizá-la no poder divino, é um profundo mistério espiritual.
Trata-se de uma honra grande demais para o nosso entendi-
mento. É uma comunhão, união e associação tão íntima e
divina que só o Espírito Santo pode revelá-la a nós.
Para as almas simples, como de criança, a realidade sobre
ela surge sem que saibam como. Alguns viveram muito
tempo a vida cristã e perderam o seu primeiro amor. Para eles,
tudo tem de surgir através do caminho lento da compreensão.
Tais pessoas precisam de humildade para desistir das opini-
ões preconcebidas e de confiar em que têm condições para
entender as verdades espirituais. É também necessário que
aguardem pacientemente pela atuação do Espírito, colocando
essa verdade em seu íntimo. Acima de tudo, precisamos nos
afastar do mundo, do seu espírito e sabedoria, e voltar a uma
comunhão mais próxima com Jesus Cristo, pois só dEle vem
a luz e o amor. Todo crente tem ordem para ser em primeiro lugar
e principalmente um ganhador de almas. Por mais simples que
pareça, muitos encontrarão dificuldade em deixar-se dominar
por esse princípio.
Muitas vezes não vemos a necessidade de uma comu-
nhão contínua com Deus. Todavia, do mesmo modo acontece
com as coisas terrenas. O ouro colocado na fornalha, por
exemplo. Exposto a calor insuficiente, ele aquece, mas não
derrete. Exposto a um calor intensopor pouco tempo e depois
retirado, ele também não derrete. E preciso um calor intenso
102 A CHAVE PARA O PROBLEMA MISSIONÁRIO
e continuo, antes que o metal duro e precioso fique pronto
para o trabalho do ourives. Isso ocorre com o fogo do amor de
Deus. Os que o conhecem em seu poder, e têm poder para
proclamá-lo e transmiti-lo a outros, devem manter-se em
contato com o amor de Cristo. Devem conhecê-lo em sua
intensidade e saber o que é continuar nele até que todo o seu
ser compreenda que esse amor pode alcançar e derreter a
todos. Ele pode até fazer com que o filho de Deus mais frio e
fraco se transforme em alguém que ama e busca as almas.
Nesse calor intenso e contínuo, o pastor, o líder, pode aprender
a dar testemunho da verdade com poder — Cada crente um
ganhador de almas.
Vamos considerar novamente a ilustração da cabeça e do
corpo. As lições são perfeitamente evidentes. A cabeça nada
pode fazer sem o corpo. Cada membro está tão completamen-
te sob o controle da cabeça quanto o corpo todo. Se os
membros, por causa de uma doença, se recusarem a agir, a
cabeça não tem condições de executar seus planos. O objetivo
da cabeça é, em primeiro lugar, usar cada membro para a
preservação e bem-estar de todo o corpo, e depois permitir
que participe do trabalho que o corpo tem a fazer. Se o fato de
sermos membros do Corpo de Cristo tem qualquer significado
— e graças a Deus ele tem um significado infinito — cada
crente está no corpo para cuidar dos outros membros e todos
devem cooperar em conjunto na execução dos planos do
Cabeça. Onde quer que eu vá, o que quer que eu faça, levo
cada membro do meu corpo comigo, e eles tomam parte em
tudo que faço.
O mesmo ocorre com o Corpo de Cristo Jesus. Cada
membro só tem um objetivo e, enquanto sadio, está a cada
momento cumprindo esse objetivo — executar o trabalho do
Cabeça. A obra do nosso Cabeça no céu é reunir todos os
membros do Seu Corpo na terra. Cada membro do corpo
colabora neste trabalho; não sob a lei das forças cegas da
natureza, mas sob a lei do Espírito de vida, que liga cada
crente ao seu Senhor em amor, transmitindo a ele a mesma
disposição e a mesma força com que Cristo faz a Sua obra.
Cada vez que lermos sobre Cristo, o Cabeça, e sobre o Seu
Corpo, a Igreja, vamos pronunciar com nova ênfase a frase:
O Problema Missionário É Pessoal 103
Cada membro, como Cristo, um ganhador de almas.
O que isto tem a ver com nossa discussão missionária?
Procuramos fazer desse pensamento a nota principal deste
livro — O problema missionário é pessoal. Caso a Igreja deva
realmente assumir o seu trabalho, não basta falarmos da
obrigação que repousa sobre a geração de hoje para tornar
Cristo conhecido de todos. A verdadeira educação deve
sempre tratar com a mente do indivíduo. O mandamento
pessoal deve ser sempre acrescentado ao geral. A frase de
Nelson, "A Inglaterra espera que cada homem cumpra o seu
dever", era um apelo pessoal dirigido a cada marinheiro e não
apenas à sua esquadra. Enquanto procuramos descobrir por
que o verdadeiro exército de Deus, que está lutando contra os
exércitos das trevas, é tão pequeno, apesar de haver tantos
milhares de cristãos, a única resposta é: indiferença. O
entusiasmo do reino está faltando. E isso é motivado pela falta
de entusiasmo pelo Rei. Embora muito possa ser feito através
da organização cuidadosa, disciplina estrita e boa orientação
para obter o máximo das nossas tropas, não há nada que possa
restaurar tanto a confiança e a coragem como a presença real
de um Rei amado, por quem todo coração bate com ardor,
lealdade e devoção.
O apelo missionário deve ir mais fundo e buscar a
própria raiz do pecado. Se não houver desejo de ganhar almas
em seu próprio país, como o interesse pelos não evangelizados
distantes pode ser realmente profundo e espiritual? E possí-
vel que haja muitos motivos para os quais apelar efetivamente
ao pedir suprimento de homens e dinheiro — a compaixão de
uma humanidade comum, o alívio dos males dos povos
pagãos, a elevação dos seres humanos na escala da vida
humana, os reclamos da nossa igreja ou sociedade. Mas o
motivo maior e mais verdadeiro é o único que trará à tona o
poder da Igreja para o trabalho a ser feito.
Caso o apelo missionário a esta geração, levar o evange-
lho a toda criatura, tiver de ser bem-sucedido, a Igreja terá de
preparar-se para trabalhar de um modo diferente do que até
agora. A questão mais séria que a Igreja tem de enfrentar hoje
— de fato, a única e real dificuldade do problema missionário
— é como ela deve ser despertada como um todo para a
104 A CHAVE PARA O PROBLEMA MISSIONÁRIO
grandeza e a glória da tarefa que lhe foi confiada e engajar-se
nela de todo o coração e com todas as suas forças. A única
resposta a essa pergunta (a chave de toda a situação) parece
ser a simples verdade: O problema missionário é pessoal. O
Senhor Jesus Cristo é o Autor e Líder das Missões. Quem quer
que se mantenha junto dEle, e permaneça nEle, estará pronto
para conhecer e cumprir a Sua vontade. Trata-se simplesmen-
te de uma questão de manter-se suficientemente perto dEle para
ouvir a Sua voz, e ser tão dedicado a Ele e ao Seu amor que se esteja
pronto para fazer toda a Sua vontade. Todo relacionamento de
Cristo com cada um de nós é intensamente pessoal. Ele me
amou e deu-se a Si mesmo por mim. Minha relação com Ele
é inteiramente pessoal. Ele deu-se em resgate por mim, e sou
dEle, para viver para Ele e a Sua glória. Ele incutiu o Seu amor
no meu coração, e eu O amo. Ele me diz que, como membro
do Seu Corpo, precisa de mim para o Seu serviço, e, em amor,
eu me rendo alegremente a Ele. Ele não quer nada senão que
eu conte isto a outros, provando a eles como Ele ama, como Ele
nos capacita a amar, e como é abençoada a vida em Seu amor.
O elemento pessoal do problema missionário deve ser
colocado à frente de tudo. Cada sermão ou encontro missio-
nário deve dar ao amor de Cristo o primeiro lugar. Se os
cristãos se encontrarem numa condição inferior, fria, munda-
na, o primeiro objetivo deve ser esperar em Deus em oração
e fé, para que o Seu Espírito Santo os guie a uma verdadeira
consagração a Jesus Cristo. Será essa uma perda aparente de
tempo, por não começar imediatamente com a informação e
os pedidos missionários comuns? Ah, não! Isso logo vai ser
superado. Os crentes fracos, que se agradam em ouvir e dar,
devem ser levados a compreender o maravilhoso privilégio
espiritual de oferecer a si mesmos a Cristo, para viver pelo Seu
reino. Eles devem ser encorajados a crer que o Senhor que os
ama, valoriza grandemente o amor deles, e os capacitará a
levá-lo até Ele. Devem aprender que o amor de Cristo ao
morrer pede uma dedicação total e que quanto mais sacrifica-
rem, tanto mais esse amor os possuirá. Tão definitivamente
quanto trabalhamos para conseguir o interesse e os donativos
de cada indivíduo, também devemos nos esforçar para levar
cada um a um contato com o próprio Cristo.
O Problema Missionário É Pessoal 105
No início, pode parecer que estamos colocando o nosso
alvo alto demais. Em muitas congregações, a resposta talvez
seja muito fraca. Que o pastor se entregue ao estudo do
problema missionário sob este ângulo. Que ele diga ao seu
povo, claramente e com perseverança: Vocês foram remidos
para ser testemunhas e mensageiros do amor de Cristo. Para
equipar vocês para isso, o amor dEle lhes foi dado e derrama-
do em seus corações. Assim como ama vocês, Ele ama o
mundo inteiro. Ele quer que os que sabem disso contem
àqueles que não sabem. O Seu amor por vocês e por eles, o seu
amor por Ele e por eles, chama vocês a agir assim. Esse é o seu
maior privilégio e será a sua maior felicidade e perfeição.
-
Assim como Cristo deu-se a Si mesmo, entregue se você tam-
bém inteiramente a esta obra de amor.
8
A Responsabilidade da Liderança
em Missões
Várias citações foram feitas no capítulo inicial, nas quais
a principal responsabilidade para a solução do problema
missionário era, de comum acordo, colocada sobre a liderança
cristã. Ao pastor pertence o privilégio e a responsabilidade do
problema missionário no exterior. Essas palavras, aparentemen-
te endossadas por toda a conferência, apontam, em relação ao
ministério, para uma alta honra, uma falta grave, um dever
urgente e a grande necessidade de buscar em Deus a graça de
cumprir dignamente a sua vocação. Não precisamos procurar
distribuir proporcionalmente a responsabilidade entre o mi-
nistério e os membros da igreja. Todos concordam em que
uma responsabilidade santa e pesada repousa sobre o minis-
tério nesta questão. Que todos os ministros admitam e a
aceitem sinceramente, preparando-se para viver nessa
conformidade.
Qual a base em que essa responsabilidade se apóia? Os
princípios subjacentes são simples, mas de inconcebível im-
portância. Eles são quatro: As missões são a principal finalidade
da igreja. A principal finalidade do ministério é guiar a igreja neste
trabalho e equipá-la para ele. A finalidade principal da pregação para
uma congregação deve ser treiná-la, a fim de fazer com que ela
cumpra o seu destino. E a finalidade principal de cada ministro com
relação a isto deve ser preparar-se cuidadosamente para esse traba-
lho.
Ninguém deve pensar que essas declarações são exage-
radas. Elas podem parecer assim porque estamos muito
acostumados a dar às missões uma posição subordinada em
- 107 -
108 A CHAVE PARA O PROBLEMA MISSIONÁRIO
nossa igreja e seu ministério. Precisamos voltar à grande
verdade central, "o mistério de Deus", de que a igreja é o Corpo
de Cristo, absoluta e exclusivamente ordenado por Deus para
executar o propósito de Seu amor redentor no mundo. Assim
como Cristo, a igreja só tem um objetivo, ser a luz do mundo.
Da mesma forma que Cristo morreu por todo homem e que
Deus quer que todos sejam salvos, assim também o Espírito
de Deus na igreja só conhece este propósito: o evangelho deve
ser levado a toda criatura. As missões silo a principal finalidade
da igreja. Toda a obra do Espírito Santo na conversão de
pecadores e edificação dos crentes, tem como seu principal
objetivo, equipá-los para a parte que cada um deve desempe-
nhar para atrair o mundo de volta a Deus. O alvo da igreja não
pode ser nada além daquilo que é o eterno propósito de Deus
e o amor do Cristo agonizante.
À medida que aceitarmos isto como verdadeiro, vere-
mos que a finalidade principal do ministério deve ser preparar a
igreja para essa tarefa. Paulo escreve: "(Deus) concedeu...pastores
e mestres, com vistas ao aperfeiçoamento dos santos (o que
esses santos têm de fazer) para o desempenho do seu serviço
(o objetivo final desse trabalho dos santos), para a edificação
do corpo de Cristo" (Ef 4.12). Através do ministério, o serviço
amoroso dos santos, é que o corpo de Cristo será reunido e
edificado. Os pastores e professores são dados para aperfei-
çoar os santos para este trabalho de ministrar.
Uma Escola ou Classe de Treinamento para Professores
é muito diferente de uma escola comum. Ela procura não só
treinar cada estudante, a fim de que adquira conhecimento pa-
ra si mesmo, mas também para que transmita esse conhecimen-
to a outros. Cada congregação deve servir como classe de trei-
namento. Cada crente, sem exceção, deve ser "aperfeiçoado",
ser cuidadosamente preparado para a tarefa de ministrar e fa-
zer a sua parte no trabalho e oração para os que estejam perto
ou distantes. Em todo o ensino de arrependimento e conversão,
de obediência e santidade, feitos pelo pastor, este deve ser de-
finitivamente seu objetivo final: chamar os homens para ser-
virem a Deus na obra nobre, santa, cristã, de salvar os perdidos
e restaurar o reino de Deus na terra. A principal finalidade da
igreja será necessariamente o objetivo final do ministério.
A Responsabilidade da Liderança em Missões 109
De acordo com isto, segue-se, então, naturalmente, a
afirmativa de que o principal objetivo da pregação deve ser
preparar todo crente e toda congregação para desempenhar a
sua parte em ajudar a igreja a cumprir o seu destino. Isto
determinará a freqüência com que deve ser pregado um
sermão missionário. Se apenas uma mensagem missionária
for pregada por ano, é possível que o principal objetivo seja
obter uma coleta maior. Isto pode ser obtido sem que a vida
espiritual se aperfeiçoe absolutamente. Quando as missões
tomam o seu lugar como o propósito principal da igreja em
que existe realmente um espírito missionário, o ministro pode
sentir a necessidade, vez após vez, de voltar ao assunto-chave,
até que a verdade negligenciada comece a dominar pelo
menos alguns da congregação. É possível que, às vezes,
embora não haja uma pregação direta sobre missões, todo o
ensino sobre amor e fé, sobre obediência e serviço, sobre
santidade e conformação a Cristo, possa ser inspirado por esta
única verdade: devemos ser "imitadores de Deus e andar em
amor, como Cristo nos amou, e se entregou a si mesmo como
sacrifício por nós" (Ef 5.1,2).
Isto leva agora ao que, em vista da responsabilidade do
ministro, é o ponto crítico — o objetivo principal de cada ministro
deve ser preparar-se para esta grande tarefa. Ser professor
numa Escola de Professores ou de Treinamento exige um
preparo especial. Inspirar, preparar e ajudar crentes não é
fácil. Não basta ser um cristão sincero e ter tido treinamento
no ministério. Trata-se de dar um espaço muito maior para as
missões em nossos seminários teológicos. Mas até mesmo
isto pode ser apenas parcial e preparatório. O ministro precisa
preparar-se para combater com sucesso o egoísmo que se
contenta com a salvação pessoal, o mundanismo que não
cogita de sacrificar tudo ou sequer alguma coisa por Cristo, a
incredulidade que mede o seu poder de ajuda ou de bênção
pelo que sente e vê. Ele, sem dúvida, precisará de um
treinamento especial para equipá-lo neste sentido, a parte
mais elevada e santa da sua vocação.
Como o ministro pode preparar-se para cumprir a sua
responsabilidade? A primeira resposta será, geralmente, pelo
estudo. Muitas coisas pertinentes foram ditas sobre isto na
110 A CHAVE PARA O PROBLEMA MISSIONÁRIO
Conferência, as quais são especialmente aplicáveis ao pastor,
como representante e guia do seu povo.
A Sra. J.T. Gracey salientou: "E possível que um dos
maiores fatores no desenvolvimento do interesse missionário
seja o estudo sistemático das missões".
Quantas vezes, no estudo da Bíblia ou da teologia, tudo
é considerado simplesmente como um problema do intelecto,
deixando o coração intato. O indivíduo pode estudar e
conhecer a teoria e a história das missões, faltando-lhe, todavia,
a inspiração que esse conhecimento deveria dar. Estudar
ciência com admiração, reverência e humildade é um grande
dom — quanto mais isto é necessário na esfera superior do
mundo espiritual e especialmente neste ponto, o destino
maior da igreja, "o mistério de Deus"!
Para estudar missões, precisamos de uma profunda
humildade que tenha consciência da sua ignorância e não
confie em seu próprio entendimento; da espera e da paciência
reverentes, dispostas a ouvir o que o Espírito de Deus pode
revelar; do amor e da devoção que se deixam dominar e guiar
pelo amor divino para onde quer que Ele leve.
O que o pastor precisará estudar especificamente? Exis-
tem três grandes fatores no problema missionário. O mundo
em seu pecado e miséria; Cristo em Seu amor agonizante; a
Igreja como um elo entre ambos.
A primeira coisa é esta: estude o mundo. Descubra
algumas das estatísticas que mostram a sua população. Pen-
se, por exemplo, nos milhões de pessoas não evangelizadas
que morrem todos os meses; despencando precipício abaixo
e caindo nas trevas sombrias à razão de mais de uma a cada
segundo. Ou pegue um livro que o coloque frente a frente
com o pecado, degradação e sofrimento de algum país espe-
cial. Estude seus diagramas, seus mapas, suas estatísticas.
Pare um pouco e pense se acredita no que leu, se sente as
palavras lidas. Faça uma pausa, medite e ore, pedindo a Deus
que lhe dê olhos para ver e coração para sentir essa miséria.
Pense nesses milhões como seus semelhantes.
Olhe para a fotografia de um homem adorando uma
cobra de pedra com uma reverência que poucos cristãos
conhecem. Pense no significado disso até que não se esqueça
A Responsabilidade da Liderança em Missões 111
mais. Esse homem é seu irmão. Ele tem, como você, uma
natureza formada para adorar. Ele não conhece, como você
conhece, o Deus verdadeiro. Você não se sente disposto a
sacrificar tudo, até mesmo a sua pessoa, para salvá-lo? Estude
o estado do mundo, algumas vezes como um todo, outras em
detalhe, até que comece a sentir que Deus o colocou neste
mundo sombrio com o único objetivo de estudar essas trevas
e viver e ajudar aqueles que estão morrendo nelas.
Se você sentir, às vezes, que isso é mais do que pode
suportar, clame a Deus para ajudá-lo a olhar novamente e
novamente, até que conheça a necessidade do mundo. Mas
lembre-se sempre, o intelecto mais forte, a imaginação mais
viva, o estudo mais cuidadoso, não pode dar a você a compre-
ensão certa dessas coisas. Nada senão o Espírito e o amor de
Jesus podem fazer você sentir o que Ele sente, e amar como Ele
ama.
Depois disso, vem a segunda grande lição: o amor de
Cristo, morrendo por esses pecadores e agora ansiando para
que sejam atraídos para Ele. Não pense que você já conhece
esse amor agonizante, esse amor que pousa sobre cada criatu-
ra da terra e anseia por ela! Se quiser estudar o problema
missionário, estude-o no coração de Jesus. O problema
missionário é muito pessoal e se aplica a cada crente, mas é
especialmente aplicável ao ministro que deve ser o modelo e
o professor dos crentes. Estude, experimente e prove o poder
do relacionamento pessoal, a fim de que possa ensinar bem
este segredo profundo da verdadeira obra missionária.
Junto com o amor de Cristo vem o Seu poder. Estude isto
até que a visão de um Cristo triunfante, com todos os inimigos
a Seus pés, tenha lançado a sua luz sobre a terra inteira. A obra
de salvação dos homens é de Cristo, tanto hoje como no
Calvário, tanto na conversão de cada indivíduo como na
propiciação pelos pecados de todos. O Seu poder divino
continua a obra em Seus servos e através deles. Ao estudar
uma solução possível para o problema, em qualquer caso
especialmente difícil, não deixe de fora a onipotência de Jesus.
Com humildade, reverência e paciência adore a Ele, até que o
amor e o poder de Cristo se tornem a inspiração da sua vida.
A terceira grande lição a ser estudada é: a Igreja, o elo
112 A CHAVE PARA O PROBLEMA MISSIONÁRIO
entre o Salvador agonizante e o mundo agonizante. Aqui
serão encontrados os mistérios mais profundos do problema
missionário: que a Igreja seja realmente o Corpo de Cristo na
terra, com o Cabeça nos céus, tão indispensável para Ele
quanto Ele é para ela! Que a Sua onipotência e o Seu amor
remidor e infinito estejam ligados, para o cumprimento dos
Seus desejos, com a fraqueza da Sua Igreja! Que a Igreja tenha
ouvido durante todos esses anos a declaração: As missões são
o Supremo objetivo da Igreja e mesmo assim se contente com um
desempenho tão pobre! Que o Senhor esteja ainda aguardan-
do para provar maravilhosamente como considera a Igreja
uma só com Ele, e esteja pronto para enchê-la com o Seu
Espírito, poder e glória! Que haja fundamento abundante
para uma fé confiante em que o Senhor é capaz e está aguar-
dando para restaurar a Igreja ao seu estado pentecostal,
equipando-a, assim, para realizar a sua comissão pentecostal!
Em meio a este estudo surgirá a convicção mais clara de
como a Igreja é realmente o Seu Corpo, dotada com o poder
do Seu Espírito, participando verdadeiramente do Seu amor
divino, parceira abençoada da Sua vida e Sua glória. Essa fé
será despertada se a Igreja se levantar e se entregar inteira-
mente ao Senhor. A glória pentecostal pode ainda voltar.
O mundo em seu pecado e miséria, Cristo em Seu amor
e poder, a Igreja como o elo entre ambos — essas são as três
grandes magnitudes que o ministro deve conhecer, se quiser
dominar o problema missionário. Em seu estudo, ele pode
usar as Escrituras, a literatura missionária, e livros sobre
teologia ou sobre a vida espiritual. Mas a longo prazo, ele terá
sempre de voltar à verdade: o problema é pessoal. Ele exige
uma entrega completa e sem reservas de todo ser, passando
a viver por esse mundo, por esse Cristo, por essa Igreja. O
Cristo vivo pode manifestar-Se através de nós; Ele pode
transmitir Seu amor em poder. Ele pode fazer nosso esse
amor, a fim de que possamos sentir como Ele sente. Ele pode
permitir que a luz do Seu amor caia sobre o mundo, para
revelar a sua necessidade e a sua esperança. Ele pode propor-
cionar a experiência de quão íntima e real é a Sua união com
o crente, e quão divinamente Ele pode habitar e atuar em nós.
O problema missionário é pessoal, devendo ser resolvido
A Responsabilidade da Liderança em Missões 113
pelo poder do amor de Cristo. O ministro deve estudá-lo, a
fim de aprender a pregar mediante um novo poder — missões,
a grande obra, o fim supremo, de Cristo, da Igreja, de cada con-
gregação, de cada crente, e especialmente de cada ministro.
Dissemos que a primeira necessidade do ministério, se
quiser cumprir o seu chamado para as missões, é estudá-las.
Mas quando começa a surgir a luz, e a mente se convence e as
emoções são estimuladas, essas coisas devem ser imediata-
mente traduzidas em ação, caso não devam permanecer
estéreis. E onde deve começar essa ação? Sem dúvida, em
oração, oração mais definida, pelas missões. Elas podem ser pelo
despertar do espírito missionário na igreja como um todo, em
sua própria igreja, ou em congregações especiais. Pode ser
por algum campo específico. Ou talvez por si mesmo em
especial, para que Deus dê e renove sempre o fogo missionário
do céu. Qualquer seja a oração, o estudo deve levar
imediatamente a mais oração; caso contrário, o fruto talvez
seja relativamente pequeno. Sem oração, embora possa haver
aumento de interesse nas missões, mais trabalho a favor
delas, mais sucesso na organização e maior investimento, o
verdadeiro crescimento da vida espiritual e do amor de Cristo
nas pessoas, pode ser bastante reduzido.
Quando a vontade e o trabalho do homem são prioritários,
a vida espiritual é fraca; a presença e o poder de Deus são
pouco conhecidos. É possível haver pessoas que leiam livros
missionários e façam fielmente contribuições liberais, embora
haja pouco amor a Cristo ou oração pelo Seu reino. Você pode,
por outro lado, ter pessoas simples, com condições de ofertar
muito pouco, mas com esse pouco elas dão todo o seu coração
em amor e oração. O nível espiritual destas últimas é mais
alto, pois o amor de Deus é o alvo supremo. Ninguém deve
vigiar tão atentamente quanto o ministro para ver se o entu-
siasmo missionário que ele promove em si mesmo e em outros
é, de fato, c fogo que vem do céu em resposta à oração de fé
para consumar o sacrifício. O problema missionário é pessoal.
O ministro que resolveu esse problema para si mesmo, tam-
bém saberá guiar outros para encontrar a sua solução no
poder constrangedor do amor de Cristo.
9
Um Chamado à Oração
e à Contrição

Nas páginas anteriores falei com freqüência da oração.


Ao chegar aos últimos capítulos do livro, sinto que tudo que
foi dito não terá proveito se não levar à oração. Quando
olhamos para o tamanho do campo e a grandiosidade da obra
que ainda falta para ser feita, para a força absolutamente
inadequada que a Igreja tem presentemente no campo, fica-
mos esmagados. Não vemos sinais suficientes de que ela
esteja pronta para colocar-se e a todos os seus recursos à
disposição do seu Senhor.
Vemos a nossa absoluta impotência para dar vida à igreja
nacional ou ao trabalho no exterior, e nossa inteira dependên-
cia do poder que vem do alto em resposta à oração e à fé.
Ficamos surpreendidos com o amor do Senhor pelo Seu povo
e pelos que perecem, e as promessas que Ele aguarda para
cumprir. Sentimos que nossa única esperança é aplicar-nos à
oração. Oração, mais oração, muita oração, oração muito
especial, deve ser feita em primeiro lugar a favor do trabalho
a ser realizado em nossas igrejas na pátria em prol das missões
no exterior. Essa é, de fato, uma grande necessidade hoje: "O
nosso socorro está em o nome do Senhor, criador do céu e da
terra" (SI 124.8).
Fiquei um tanto surpreso com a pequena e direta menção
na Conferência sobre a oração como um dos fatores mais
importantes na obra missionária. O Capítulo 82 do Relatório
foi de fato intitulado Oração e Contribuição, mas quase todos os
discursos trataram principalmente do último tópico. D.B.
Eddy falou da vida de oração altruísta, desenvolvida através
- 115 -
116 A CHAVE PARA O PROBLEMA MISSIONÁRIO
de círculos de oração. Em seu discurso curto, mas substancial,
a Sra. J.H. Randall disse:
Uma necessidade grande e imperativa do tra-
balho missionário no exterior hoje é o segredo
quase esquecido da oração que prevalece. As mis-
sões progrediram tão lentamente no estrangeiro
porque a piedade e a oração foram poucas na pátria.
Faça com que as pessoas orem pela obra missionária,
e elas se sentirão obrigadas a dar. Nada, além da
oração incessante, vai resolver os problemas missio-
nários de hoje. Devemos suplicar a Deus que faça
essas coisas por eles. "Nada tendes, porque não
pedis" (Tg 4.2). Deus prometeu grandes coisas a
Seu Filho e à Sua Igreja com respeito aos não
evangelizados. Deus prometeu grandes coisas a
Seus filhos na tarefa de estender e apressar o Seu
reino. Mas note — essas promessas são condicionais.
Seu Filho, Sua Igreja, Seus Filhos, devem interceder
e sacrificar. O resultado da intercessão habitual será
um novo derramamento do Espírito Santo sobre o
indivíduo, a Igreja, e sobre toda a obra missionária
do mundo. Quem ora mais, ajuda mais.
Se essas palavras forem verdadeiras — e certamente são
a pura verdade de Deus — a primeira preocupação dos líderes
do trabalho missionário em nossas igrejas e sociedades, a
quem o ensino espiritual dos seus membros é confiado por
Deus, deve ser a de dar à oração, em todas as suas exortações,
o mesmo lugar que ela tem no propósito de Deus.
O Rev. W. Perkins declarou:
O movimento missionário no exterior nasceu
da oração e a oração é o sopro vital pelo qual ele
vive. Por maiores que sejam os resultados das
missões no estrangeiro, eles seriam cem vezes maiores
se a Igreja de Cristo fosse o que deveria ser nos dois
grandes temas da oração e da oferta. É necessário
que a vida espiritual de cada cristão, e da igreja
inteira, seja de tal forma aprofundada, instruída e
inspirada pelo Espírito Santo, que se torne tão
natural e fácil orar diariamente pelas missões no
Um Chamado à Oração e à Contrição 117
exterior como orar pelo pão diário. A igreja deve
desenvolver a convicção de que a lei do sacrifício é
a lei da vida; devemos encontrar tempo para orar,
embora isso possa reduzir o tempo gasto com o
prazer ou os negócios. Só o sacrifício produz fruto.
Deve ser desenvolvida na Igreja, pelo Espírito
de Deus, uma percepção penetrante e permanente
da necessidade urgente do mundo, da sua miséria,
escuridão e desespero. É preciso que venha um
poder que torne a necessidade tão real, tão terrível,
que nosso primeiro sentimento seja de desamparo
frente a ela; nosso sentimento seguinte: "Devo orar
sobre isso"; e o outro: "Vou abandonar e sacrificar
até as coisas necessárias, diante de condições desse
tipo pelas quais Cristo morreu".

Se essas palavras forem tomadas seriamente e produzi-


rem algum resultado positivo, a grande pergunta é certamente:
Como os líderes da nossa obra missionária vão acordar e
preparar as igrejas para essa vida de oração da qual falam? Se
for verdade, então os resultados das missões no estrangeiro serão
cem vezes maiores quando a Igreja for o que deve ser no terreno da
oração. Desde que há muitos que contribuem, mas não oram,
ou dão pouco e oram pouco, os que sabem o que é oração
devem orar e trabalhar mais arduamente. Que eles orem para
que a vida de Cristo seja aprofundada de tal maneira pelo
Espírito Santo, que se torne "tão natural e fácil orar pelas
missões no exterior como orar pelo pão diário". Deus pode
fazer isso. Que este seja o nosso alvo e oração específicos —
Deus fará isso!
Confio em que aquilo que eu disse a respeito do lugar
que a Conferência deu à discussão sobre a oração não venha
a ser mal interpretado. Muita coisa depende da lei da propor-
ção no mundo natural. O mesmo acontece na vida espiritual.
Todo o ensino evangélico reconhece a operação do Espírito
Santo e o poder da oração para conseguir que Ele atue. Não
há dúvida de que essas verdades têm um lugar nos artigos do
nosso Credo. Todavia, só quando elas ocupam o primeiro
lugar, e tudo o mais fica a elas subordinado, é que a vida cristã
118 A CHAVE PARAOPROBLEMA MISSIONÁRIO
será verdadeiramente sadia.
Dentre todas as questões que reclamam o interesse dos
líderes de nosso trabalho missionário na pátria, não há outro
que exija consideração mais urgente, que seja mais difícil de
decidir, e que traga uma recompensa maior, do que este: Como
as igrejas podem ser educadas para orar com mais persistência,
fervor e fé? A oração será imediatamente o meio e a prova de
uma vida cristã mais forte, ou mais dedicada ao serviço de
Cristo, e da bênção dos céus descendo sobre o nosso trabalho.
Muita oração seria o sinal de que encontramos novamente o
caminho em que a igreja pentecostal entrou em seu curso
triunfante.
Não podemos ensinar as pessoas a orar apenas dizendo
a elas que façam isso. A oração é o pulso da vida. O chamado
para mais oração deve estar ligado ao aprofundamento da vida
espiritual. As duas grandes condições da verdadeira oração
são um sentimento urgente de necessidade e a plena seguran-
ça de uma provisão para essa necessidade. Devemos fazer
com que os filhos de Deus vejam e sintam a necessidade. O
trabalho confiado a eles; a obrigação de fazê-lo; a conseqüên-
cia para nós, para Cristo, para os que perecem, se for
negligenciado; nossa absoluta impotência para realizá-lo com
nossas próprias forças — essas grandes verdades devem
dominar-nos. Por outro lado, o amor de Cristo por nós e pelo
mundo; nosso acesso a Deus nEle como Intercessor; a certeza
de que a oração perseverante é ouvida; a bênção de uma vida
de oração; as bênçãos que ela pode trazer ao mundo — isso
também deve dominar-nos.
Devemos aprender a orar em secreto, a esperar em Deus,
a apropriar-nos da Sua força. Devemos ensinar os cristãos a
orar em pequenos grupos, com a alegria, o amor e a fé que a
comunhão traz. Devemos reunir toda a igreja em períodos
especiais de oração, quando o Seu poder divino há de operar
muito além do que podemos pedir ou pensar.
No título deste capítulo, falei sobre oração e contrição.
Achei de algum modo falta desta ênfase na Conferência.
Houve menções incidentais freqüentes sobre as falhas dos
pastores e leigos, quanto ao seu interesse, oração e contribui-
ção, sobre o fracasso da Igreja como um todo em cumprir o seu
Um Chamado à Oração e à Contrição 119
dever. Todavia, onde estava a solenidade, o temor pela
negligência da comissão dada pelo Senhor? Compreendemos
o terrível pecado da desobediência ao último mandamento
dEle, a completa falta de simpatia com o desejo de gratificar
o Seu amor ou buscar a Sua glória? Isso não foi enfatizado
como alguns acham que deveria ser, e deve ser, antes que uma
volta ao verdadeiro estado da Igreja possa ter lugar.
Há um tipo de otimismo que gosta de falar do que é
brilhante e esperançoso. Ele acredita que ao fazer isso agrade-
cimentos são rendidos a Deus e coragem é transmitida aos
Seus servos. Acima de tudo ele teme o pessimismo. Todavia,
tanto o otimismo como o pessimismo são erros que devem ser
igualmente evitados. Cada um deles é unilateral; ambos são
extremos. A sabedoria divina nos ensinou: "Ando pelo
caminho da justiça, no meio das veredas do juízo" (Pv 8.20).
A experiência nos ensina que, quando temos de enfrentar
duas verdades aparentemente conflitantes, só há um meio de
ver a relação certa. Devemos examinar primeiro uma delas
como se fosse tudo e entender completamente todo o seu
significado. Depois voltar-nos para a outra e apreender
também inteiramente tudo que ela implica. Quando tivermos
entendido ambas, estamos em posição de andar "no meio" do
caminho da verdade.
Aplique isto às missões. De um lado há tanto para
alegrar-se nelas, para agradecer a Deus, e para extrair cora-
gem. No relatório da Conferência, este ponto foi várias vezes
destacado. É certo que jamais poderemos louvar a Deus
suficientemente pelo que Ele fez durante o século passado e
especialmente durante os últimos vinte anos. Por outro lado,
há tanto trabalho que não foi feito e que poderia ter sido feito
se a Igreja fosse o que deveria ser. Milhões estão perecendo
hoje sem conhecer a Cristo e continuarão perecendo,
simplesmente porque a Igreja não está fazendo o trabalho
para o qual foi remida e dotada com o Espírito de Deus.
Quando nos defrontarmos com esta verdade, nossos corações
gritarão espontaneamente em contrição e vergonha.
Confessaremos nossos pecados. Que pecados? O pecado do
homicídio; o pecado da desobediência; o pecado da
incredulidade; o pecado do egoísmo e do mundanismo,
120 A CHAVE PARA O PROBLEMA MISSIONÁRIO
entristecendo o Espírito Santo e apagando o amor de Cristo
em nossos corações. O pecado de não viver inteiramente para
Cristo, para o Seu amor e o Seu reino. Esses pecados tornar-
se-ão um fardo maior do que podemos suportar, até que os
tenhamos colocado aos pés do Senhor e que Ele os remova de
diante de nós.
Esses não são pecados daqueles que não têm interesse
nas missões, ou se interessam pouco por elas. Lemos nas
Escrituras que os homens mais zelosos da honra de Deus,
mais diligentes no Seu serviço, e menos culpados de pecado,
foram os primeiros a confessá-lo e lamentá-lo. Moisés, Davi,
Esdras, Neemias e Daniel — os homens mais santos do seu
tempo — foram os mais conscientes de pecado. O pecado da
vasta maioria dos membros não deve ser contado como o
pecado do corpo todo? Estou falando dos amigos mais
dedicados de Cristo e das missões — os homens que, na igreja
ou sociedade, como membros de comitês ou obreiros, são os
líderes. Esses mesmos homens que, em virtude de sua
intuição espiritual, devem sentir mais o pecado, levá-lo a
Deus e depois apelar para os desviados que venham e se
juntem a eles em contrição e confissão.
Falamos da necessidade da era pentecostal; ela deve ser
precedida de muito arrependimento e conversão do pecado.
Isto não vai acontecer até que os homens, a quem o Senhor der
o maior fardo quanto a sofrer pelo pecado do Seu povo, os
reúnam com um chamado para o arrependimento e rendição
à plena obediência. O apelo missionário nos dá uma das
maiores oportunidades para o arrependimento, pois revela os
pecados que se encontram na raiz.
Este foi sempre o método de Deus: A contrição precede
a restauração e a renovação. No dia de Pentecostes foi a
pregação "deste Jesus, que vós crucificastes," que quebrantou
os corações e os preparou para receber o Espírito Santo.
Precisamos ainda desta mesma espécie de pregação para o
povo de Deus. "Este Jesus", cujo mandamento desobedecestes e
negligenciastes, cujo amor desprezastes e humilhastes, "Deus o fez
Senhor e Cristo". Se quisermos chamar os cristãos para uma
vida de maior devoção no serviço de Deus, o erro, a vergonha,
a culpa de nosso estado presente devem ser colocados diante
Um Chamado à Oração e à Contrição 121
deles. Só quando o pecado é sentido e confessado é que o
amor de Cristo, cheio de perdão, pode ser novamente experi-
mentado. Essa nova experiência do Seu poder e amor se
tornará o incentivo para tornar esse amor conhecido de ou-
tros. Deus vivifica o coração contrito. Ele dá maior graça à
alma humilhada. Um elemento essencial ao verdadeiro
reavivamento missionário será o coração quebrantado e o
espírito contrito, em vista da negligência e do pecado passa-
dos.
Não será fácil pregar contrição por causa da nossa falta
de obediência ao grande mandamento de Cristo. Para isso
serão necessários homens que esperam diante de Deus pela
visão do que está realmente implicito neste pecado da igreja.
Hudson Taylor passou cinco anos na China, sentindo a
escuridão que a envolvia, mas sem compreender seu pleno
significado. Ele passou mais cinco anos na Inglaterra, traba-
lhando e orando pela China. Mesmo assim, não sabia como
era grande a necessidade daquele país. Só quando começou
a preparar um relatório a ser publicado sobre as necessidades
da China é que sentiu o pleno horror das densas trevas. Não
conseguiu descansar até que Deus lhe deu os 24 obreiros pelos
quais orara e se dispôs a ir com eles. Necessitaremos de
homens que se entreguem, através do estudo, da oração e do
amor, e compreendam o terrível significado das palavras que
pronunciamos tão facilmente — a Igreja não obedece ao
último e maior mandamento do Senhor.
Os pastores devem tomar a vanguarda nessa contrição.
A contrição não pode ser pregada em poder se o pastor não
tiver experiência dela. O problema missionário é pessoal
também para o pastor. Em seu próprio benefício e como
representante do povo, ele deve tomar a liderança. "Chorem
os sacerdotes, ministros do Senhor, entre o pórtico e o altar, e
orem: Poupa o teu povo, ó Senhor, e não entregues a tua
herança ao opróbrio, para que as nações façam escárnio dele"
(Joel 2.17). Há alguma igreja ou paróquia da qual possa ser
verdadeiramente dito que o crescimento do reino de Cristo é
o único alvo para o qual ela vive? Não admitem todos que a
Igreja não é o que deveria ser? E não está claro que se esta
situação continuar, a evangelização do mundo nesta geração
122 A CHAVE PARA O PROBLEMA MISSIONÁRIO
será impossível?
Com a igreja inteira tão culpada diante de Deus, todo
ministro não deveria aceitar parte da culpa por esta condição?
Não deveria ele buscar com o seu povo convencer-se profun-
damente de que não se deram a Cristo com toda a devoção;
que não renunciaram suficientemente aos seus próprios inte-
resses, às suas comodidades e ao espírito do mundo, a fim de
cumprir o Seu grande mandamento com todas as suas forças?
E por quê? Porque o seu coração e a sua vida não se renderam
inteiramente ao poder transformador do espírito e amor de
Cristo.
Embora todos nós compartilhemos até certo ponto desta
responsabilidade, não há meios de o ministério remover o mal
e promover um estado melhor, sem que cada um de nós
confesse a sua falta daquele amor entusiasta por Cristo, que
deveria ter-nos capacitado para ser testemunhas fiéis dEle.
Quando o espírito de contrição se apossar do ministério,
haverá esperança para o povo. Se na pregação e oração
públicas, o tom da contrição e confissão for claro e profundo,
haverá certamente uma resposta no coração de todas as
pessoas sinceras. Os que são agora os nossos melhores
contribuintes sentirão quanto mais Deus pede — e se disporão
a dar, através do Seu Santo Espírito — de amor fervoroso e
oração que prevalece, e plena consagração de tudo ao Seu
serviço. Será provado em nossa obra missionária: "Quem a si
mesmo se humilhar será exaltado". O arrependimento é
sempre a porta para uma bênção maior.
O que diz à igreja de Efeso, Aquele que tem na mão
direita as sete estrelas? "Conheço as tuas obras, assim o teu
labor como a tua perseverança, e que não podes suportar
homens maus, e que puseste à prova os que a si mesmos se
declaram apóstolos e não são e os achaste mentirosos; e tens
perseverança, e suportaste provas por causa do meu nome, e
não te deixaste esmorecer" (Ap 2.2-3). Esta parecia, certamente,
uma igreja-modelo. Que diligência e zelo em boas obras; que
paciência no sofrimento; que pureza na disciplina; que zelo
pela ortodoxia; e quanta perseverança incansável em tudo!
Melhor ainda, tudo isso era por causa do Seu Nome. Todavia,
o Senhor não estava satisfeito. "Tenho, porém, contra ti que
Um Chamado à Oração e à Contrição 123
abandonaste o teu primeiro amor. Lembra-te, pois, de onde caíste,
arrepende-te, e volta à prática das primeiras obras; e se não,
venho a ti e moverei do seu lugar o teu candeeiro, caso não te
arrependas" (vv.4,5).
A igreja perdera o seu primeiro amor. A ternura e o fervor
do elo pessoal com o Senhor Jesus estavam agora ausentes. As
obras continuavam sendo feitas no Seu Nome, mas não eram
mais como as primeiras, realizadas no espírito do seu primei-
ro amor. Ele os chama à contrição, para que olhem para trás,
que se arrependam e voltem às primeiras obras. E possível
trabalhar muito e sinceramente por Cristo e a Sua causa, de
modo recomendável segundo a ótica do mundo; mas pode
faltar aquilo sem o que as obras são nulas aos Seus olhos. Ele
considera o amor como a maior de todas as virtudes — o amor
de uma ligação pessoal com Cristo. Deus é Amor. Cristo nos
amou e se deu a Si mesmo por nós. O Seu amor foi uma dádiva
terna de Si mesmo, uma amizade e comunhão pessoais. Esse
amor dEle, guardado no coração em comunhão íntima e
diária, correspondido por um amor que se apega a Ele,
provado pelo Seu amor que permeia todo o nosso ministério
a favor de outros — é o que torna o nosso trabalho aceitável. Foi
este primeiro amor por Cristo que deu à igreja pentecostal o
seu poder. Foi este amor pentecostal que Cristo pede a eles
que lembrem; do qual haviam caído, e para o qual, em
arrependimento, deviam voltar. Nada menos que isso pode
satisfazer o coração dAquele que nos amou. Não devemos dá-
lo a Ele?
A este amor pentecostal é que devemos voltar em nosso
trabalho missionário. Vimos como Deus fez da igreja morávia
a primeira igreja da Reforma a tomar a posição pentecostal e
entregar-se inteiramente à tarefa de levar o evangelho a toda
criatura. Vimos que era amor — uma contemplação apaixo-
nada e um espírito de adoração do amor agonizante de Cristo,
um desejo apaixonado de tornar esse amor conhecido. Essa
era a chave. As missões eram o escoar e o transbordar do seu amor
por Cristo. Para satisfazer o amor de Cristo e expressar seu
próprio amor, eles levaram a Ele as almas pelas quais morrera
para salvar. Isso tornou a mais insignificante das igrejas a
maior de todas. Quando lamentamos o estado da igreja, com
124 A CHAVE PARA O PROBLEMA MISSIONÁRIO
toda a sua infidelidade a Cristo e às almas dos não
evangelizados que perecem, vamos antes de tudo confessar a
perda do nosso primeiro amor. Lembrem como Pedro, depois
de ter perdido o seu primeiro amor, não pôde ser restaurado
até que a pergunta inquisitiva "Tu me amas?" o atingisse
profundamente. Ele respondeu, então, contrito, mas confiante:
"Tu sabes que te amo".
Enquanto nos arrependemos e lamentamos o passado,
vamos continuar esperando diante do Senhor com a oração:
Amor, Senhor! É do Teu amor que precisamos.
Nós o conhecemos; nós o pregamos; procuramos
encontrá-lo. Mas agora esperamos com humildade,
reverência e admiração diante de Ti. O Jesus amoro-
so, derrama esse amor em nossos corações pelo Teu
Santo Espírito. Nós aguardamos que no poder
desse amor sejamos capacitados a aceitar o mundo
em nossos corações. Como Tu, queremos viver e
morrer apenas para que o Teu amor possa triunfar
em cada alma humana!
Para implementar os princípios apresentados neste li-
vro, A Chave para o Problema Missionário, Andrew Murray deu
uma mensagem especial aos pastores e recomendou uma
semana de oração. Incluímos ambas para sua consideração.
Embora suas recomendações fossem principalmente dirigidas
às circunstâncias da sua geração, muitas são válidas para hoje.

- 125 -
MENSAGEM AOS PASTORES

Todo ministro participa da grande comissão. Portanto,


cada um de nós deve sentir responsabilidade pelo mundo
inteiro. Além da fatia que nos cabe cuidar, é nosso dever
empenhar-nos para que o todo venha a ser ocupado. Cada um
de nós deve estudar novamente a Comissão, para compreendê-
la e cumpri-la corretamente. Em vista do triste fracasso da
Igreja e do clamor pela restauração ao estado pentecostal,
vamos ouvir novamente as palavras do Senhor ao entregar-
nos a comissão de fazer com que o Seu amor alcance todo ser
humano.

"JESUS, APROXIMANDO-SE, FALOU-LHES, DIZENDO:


TODA A AUTORIDADE ME FOI DADA NO CÉU E NA
TERRA"
O TODO do poder ilimitado

Jesus se revela como o Senhor Onipotente, sentado à


destra de Deus, reinando entre os Seus inimigos, tornando o
Seu povo preparado no dia do Seu poder. Aquele foi o dia da
Sua coroação, quando recebeu o Espírito para encher Seus
discípulos com poder, e fazer com que milhares se prostras-
sem aos Seus pés, até mesmo os que O crucificaram.
Neste Jesus, o Senhor triunfante, as missões têm a sua
origem, seu poder, sua certeza de sucesso. A palavra dita por
Ele fortaleceu os discípulos. Vamos curvar-nos humildemen-
te e esperar até que a visão e a palavra do Cristo Onipotente
nos livrem do medo, seja da igreja não estar preparada no dia
do Seu poder, ou de Seus inimigos não se prostrarem aos Seus
pés.

- 127 -
128 A CHAVE PARA O PROBLEMA MISSIONÁRIO
"IDE, PORTANTO, FAZEI DISCÍPULOS DE TODAS AS
NAÇÕES E PREGAI O EVANGELHO A TODA
CRIATURA"
O TODO do amor ilimitado

Ele morreu por todos; Seu amor agonizante abrangia


todos; Seu amor no céu busca a todos. Nestas palavras, "todas
as nações" e "toda criatura", Ele revela à Sua Igreja o amor
ilimitado que deve ser a medida do amor deles. Nessas
palavras Ele fala ao próprio coração do Seu povo, e passa a
arder neles um amor que não tem descanso até que cada ser
vivo conheça a Jesus.
Irmãos ministros! Este amor se apossou de nós? Ele
queima em nosso interior?

"ENSINANDO-OS A GUARDAR TODAS AS COUSAS


QUE VOS TENHO ORDENADO"
O TODO da obediência universal

Ele havia ensinado aos discípulos a bênção celestial da


obediência. "Se me amais guardareis os meus mandamentos:
e o Pai vos enviará o Espírito, e o Pai vos amará; e eu vos
amarei; e eu me manifestarei a vós; viremos e faremos morada
em vós; e permanecereis no meu amor; e sereis meus amigos"
(João 14.15). Eles deviam ir, a fim de que os mais vis e mais
endurecidos, Seus inimigos e assassinos, pudessem ser trans-
formados e ensinados a observar todas as coisas que Ele havia
ordenado.
Irmãos ministros! Será que entendemos o alvo elevado
da nossa comissão — viver em obediência pessoal a Ele e
ensinar à igreja a obediência universal?

"E EIS QUE ESTOU CONVOSCO TODOS OS DIAS ATÉ A


CONSUMAÇÃO DO SÉCULO"
O TODO da comunhão incessante

A comissão termina onde começou — com o próprio


Jesus. Primeiro foi o Seu Poder; aqui é a Sua Presença. Todos
os dias, e o dia todo, a Sua comunhão permanente deve ser a
Mensagem aos Pastores 129
porção do discípulo obediente. Nem provações nem
dificuldades, por mais negras; nem trabalhos, por mais
cansativos ou infrutíferos; nem oposição, nem sofrimento,
por mais penosos; nem fraqueza ou indignidade consciente,
por maior que seja, pode quebrar esta promessa. Nada pode
impedir Sua comunhão santa, abençoada com o Seu servo. A
proximidade santa de Jesus é assegurada a cada um que aceita
a Comissão e vive em função dela.
Irmãos ministros! Vamos procurar, através do Espírito
Santo, uma entrada mais profunda e plena na comissão do
Senhor Jesus e uma rendição total ao Seu serviço: Ele cumprirá
a Sua promessa.
Homens comuns realizam tarefas incomuns
O que capacitou os pobres pescadores e homens simples
a aceitarem com tanta simplicidade e executarem com tama-
nha lealdade essa comissão divina? Duas coisas.
Primeiro: Os seus corações haviam sido preparados para ela
pela sua intensa dedicação a Jesus. Eles haviam aprendido a amá-
10. Eles haviam ido com Ele para a Sua morte. Eles haviam
sido vivificados pela Sua ressurreição. Ele era o seu todo em
tudo. Suas palavras eram para eles como água para o que tem
sede.
Segundo: Foi o próprio Jesus quem disse essas palavras. Não
foi um livro ou um mensageiro, mas Jesus, Ele mesmo.
Vamos deixar de olhar para a comissão e olhar para nosso
Senhor assunto aos céus, aguardando nEle. Vamos curvar-
nos pacientemente até que Ele revele primeiro o Poder sob o
qual opera. A seguir, sentiremos o Amor com o qual Ele
anseia por todo ser humano. Nossa obediência nos levará à
alegria da Sua Presença imutável. Nós também, como fizeram
os discípulos mais comuns, devemos aprender a esperar para
sermos revestidos com poder, para que possamos ajudar a
guiar a Igreja de Cristo de volta à plenitude pentecostal do
Espírito para a obra que tem a realizar.
PROPOSTA:
UMA SEMANA DE ORAÇÃO

Em vista de tudo o que foi dito na Conferência sobre as


falhas da liderança e dos membros, fiquei pensando muito na
possibilidade de reunir o povo de Deus para orar em conjunto
e especificamente. Iríamos considerar o trabalho a ser feito, o
chamado para a confissão e arrependimento, e a necessidade
de um padrão de devoção inteiramente novo em toda a Igreja.
Iríamos nos alegrar na certeza de que, em resposta à oração,
Deus abriria as janelas do céu e derramaria as Suas bênçãos.
A Conferência representou, sem dúvida, toda a Igreja;
mas temi que apenas uma pequena fração dos membros da
igreja tomasse conhecimento do que foi dito, ou tirasse pro-
veito das instruções dadas. Foi usada a expressão: "Se esta
Conferência e aqueles a quem representa fizerem o seu dever..." Por
que não colocar nossos representantes em contato com seus
constituintes, a fim de que todos possam ser despertados e
renovados?
Meu primeiro pensamento foi: será que alguns do Comi-
tê, que haviam tão entusiasticamente trabalhado pela causa
missionária na Conferência, não poderiam preparar um pla-
no para compartilhar com todas as igrejas os vários e sinceros
apelos que haviam sido feitos? Mas compreendi que surgiri-
am dificuldades. Para obter resultados, quase haveria neces-
sidade de uma nova organização com toda a sua maquinaria.
Lembrei-me, então, de uma organização mundial que
tinha tudo pronto. Temos a Aliança Evangélica e a Semana de
Oração já marcada na primeira semana de cada mês de
janeiro. Seria algo maravilhoso e abençoado se toda a Igreja
se reunisse aos pés do Senhor durante uma semana inteira e
se dedicasse a orar especificamente pelo crescimento do reino

- 131 -
132 A CHAVE PARA O PROBLEMA MISSIONÁRIO
através das missões. Não haveria melhor oportunidade para
ensinar sobre a vontade de Deus e Suas promessas; a
grandiosidade da obra e sua urgência; a reivindicação de
Cristo sobre o mundo e cada criatura como Sua herança, e
sobre o Seu povo para que fossem mensageiros voluntários
do Seu amor. Essa seria uma ocasião ideal para reforçar o
último mandamento de Cristo e instigar os filhos de Deus à
oração e à consagração.
Não haveria saúde e bênção para muitos se a Igreja se
unisse e se apresentasse diante de Deus, pedindo que todos os
que tivessem pecado por ignorância e fraqueza pudessem ser
estimulados a começar a obra que os aguarda? Tal
despertamento do verdadeiro interesse missionário seria o
início do avivamento da vida espiritual e poderia fortalecer
grandemente o desejo para essa renovação em maior medida.
Mas como fazer para que as igrejas agissem em conjunto e os
membros das igrejas se reunissem diante de Deus, a fim de
orar e receber instruções? E quase impossível pensar numa
oportunidade mais gloriosa do que a proporcionada por uma
Semana de Oração.
Nossos missionários no campo não iriam sentir-se ale-
gres com tal proposta e muito fortalecidos com o seu resulta-
do? Eles se sentiriam inspirados com o fato de a Igreja inteira
estar disposta a passar uma semana com eles diante do trono
do seu Senhor, a fim de receber novas instruções e equipa-
mento de Deus para o trabalho. Essa seria uma lição inconce-
bivelmente valiosa para as igrejas recém-nascidas nos cam-
pos, mostrando que a vida que lhes oferecemos é uma vida do
alto, a ser recebida e dispensada apenas em resposta à oração.
Elas e nós iríamos sentir quão verdadeiramente somos "um só
em Cristo Jesus". E Deus, o nosso Deus, nos abençoaria!
O novo século 20 nos chama para orar com maior
intensidade. Muito foi dito sobre o passado ter sido um centro
missionário. Agradecemos a Deus por tudo que Ele realizou
no Seu povo e através dele. Mas todos admitem que a não ser
que a Igreja comece a viver e amar, a dar e orar, numa escala muito
diferente do que até agora, não há a menor esperança de que o mundo
possa ser evangelizado nesta geração. O primeiro ano do novo
século está terminando. Tivemos tempo para observar se há
Proposta: Uma Semana de Oração 133
quaisquer sinais de mudança em nossa devoção. Tivemos
oportunidade de calcular o que será necessário para realizar
a tarefa. Como poderíamos consagrar mais efetivamente o
século a Deus do que começando o seu segundo ano com uma
grande reunião de todo o exército de Deus na terra para
renovar o seu voto: O mundo inteiro para Cristo Jesus; Seu
evangelho para cada criatura?
Neste ponto, Andrew Murray ofereceu várias recomen-
dações sobre o que as igrejas da sua época poderiam fazer
para preparar e realizar a Semana de Oração. Diferentes
igrejas e sociedades, na medida do possível, poderiam colabo-
rar nas reuniões de oração conjunta. Se tais reuniões não
fossem práticas, homens com entusiasmo missionário ou
poder espiritual poderiam circular entre as igrejas. O lucro
para qualquer junta missionária específica não seria o motivo
principal dessa semana; a prioridade seria dada à participa-
ção nas bênçãos recebidas de Deus e à oração pelas necessida-
des do mundo inteiro e dos obreiros.
Estudos especiais do problema missionário poderiam
ser patrocinados nas igrejas locais, assim como a pregação de
uma série de sermões missionários antes da Semana de
Oração. Os evangelistas poderiam ser solicitados a não fazer
sua pregação rotineira de mensagens de salvação durante
uma semana, a fim de prestar ajuda a esse esforço combinado
de ganhar o mundo para Cristo.
O preparo mediante literatura especial foi considerado
altamente estratégico, pois muitos cristãos estavam
desinformados quanto aos fatos básicos das missões no es-
trangeiro, e até mesmo sobre a base bíblica e o espírito da
grande comissão. Ele recomendou que fossem escritos alguns
folhetos simples e específicos com este fim. Além disso,
quatro a seis homens de poder espiritual poderiam escrever,
cada um, artigo sobre um aspecto diferente do grande tema
missionário, sendo publicados na forma de panfletos.
Quanto à logística do trabalho relativo à preparação e
realização dessa Semana de Oração, ele sugeriu que vários
líderes da obra missionária, bastante conhecidos, fossem
convidados ou indicados para formar um Comitê Adminis-
trativo. Certos homens dentre eles poderiam ser escolhidos
134 A CHAVE PARA O PROBLEMA MISSIONÁRIO
por este grupo para circular informação, despertar interesse,
assegurar colaboração e alistar ajuda local.
O Movimento Voluntário de Estudantes mostrou gran-
de atividade e resultado nas missões naqueles dias, especial-
mente no treinamento daqueles que estavam dispostos a
seguir para o campo no exterior. Murray sugeriu que eles
poderiam oferecer-se aos pastores, a fim de ajudar nas reuni-
ões para criar interesse missionário. Esta poderia ser especial-
mente uma vantagem em vista da dificuldade em assegurar
a visita de um missionário para cada congregação. Murray
continuou: "Um candidato a missionário, cheio de entusias-
mo, que estudou algum setor do campo missionário ou,
melhor ainda, uma equipe de dois ou três, testemunhando a
respeito do que o Senhor fez por eles, e sua entrega ao Seu
serviço, pode em muitos casos suprira falta. Isto resultaria em
bênção para eles, assim como para as igrejas".
Circunstâncias extraordinárias exigem medidas extraor-
dinárias. A descoberta de um perigo iminente justifica mu-
danças excepcionais, e os homens aprovam de boa vontade e
se sujeitam à inconveniência. A condição da Igreja, a necessi-
dade do mundo, o mandamento de Cristo, parecem para mim
coisas que exigem esforços especialíssimos. A urgência do
caso é extrema. Não devemos perder tempo. Nosso Mestre
deseja que cada ser humano saiba sem demora que Ele veio ao
mundo para salvá-lo.
Não permitamos que o entusiasmo do nosso lema, Nesta
geração! nos engane. Ele pode tender a nos tornar acomodados
e permitir que milhões morram por ano nas trevas sem
conhecer o Senhor. Podemos iludir-nos com a idéia de que
isso será eventualmente feito antes de esta geração terminar.
Mas não será certamente feito, se a Igreja permanecer em seu
nível presente.
A tarefa é tão grande, tão difícil, necessita de tanta
intervenção do poder divino que, a não ser que a Igreja volte
à vida pentecostal do seu primeiro amor, ela não poderá nem
será realizada. Repito, a urgência do caso é extrema. Nenhum
sacrifício pode ser grande demais se pudermos conseguir que
a Igreja, ou a parte mais sincera dela, tome tempo e aguarde
unida diante do Trono de Deus, para rever a sua posição e
Proposta: Uma Semana de Oração 135
confessar suas falhas. Ela poderá, então, prosseguir e reivin-
dicar a promessa de poder feita por Deus, consagrando-se
inteiramente ao Seu serviço. Penso que dedicar uma semana
exclusivamente ao trabalho missionário no estrangeiro seria
agradável a Deus e aceitável ao Seu povo, trazendo abundan-
tes bênçãos.
Nós nos reuniríamos como um imenso grupo através do
mundo inteiro e pediríamos ao Mestre que repetisse para nós
a grande comissão, soprando o seu poder em nossos corações.
À medida que nossos corações se abrissem com fé na promes-
sa do Seu poder infinito e presença imutável conosco; à
medida que nos rendêssemos em nova obediência e consagra-
ção à obra do Seu amor, a Sua bênção e o Seu Espírito nos
seriam certamente concedidos.
Creio que muitos dos que vêm trabalhando sinceramen-
te neste abençoado serviço serão levados para junto do Senhor
bendito e incendiados com um novo zelo para estimular
outros que ficaram para trás. Muitos que têm feito pequenas
contribuições, que têm orado ou amado apenas um pouco,
serão treinados para conhecer o verdadeiro segredo da parti-
cipação com Cristo em Seu trabalho. Muitos ouvirão um
chamado para considerar se o Senhor quer o seu serviço
pessoal no campo. Muitos pastores terão uma nova percep-
ção quanto ao que devem ensinar ao seu povo. Ele observará
também que, embora ministrando onde está, ainda pode fazer
muito para o mundo como um todo. Estou confiante em que,
para inúmeros indivíduos, esse pode ser o maravilhoso come-
ço de uma nova revelação de quem o Senhor Jesus é e afirma
ser. Vamos experimentar a bênção indescritível de viver
apenas para levar o mundo de volta a Deus, como fez Jesus.
Deixo a proposta nas mãos daqueles que têm poder para
decidir. Se houver boas razões para não levar avante esta
recomendação de pôr de lado o currículo geral de oração
durante essa semana anual para concentrar-se na oração pelas
missões, não lamentarei ter feito a proposta. Ela pode ser
usada para dirigir a atenção para uma grande necessidade e,
na hora considerada oportuna por Deus, produzir fruto de
um modo inesperado para nós. Entrego a idéia ao Seu
gracioso cuidado.
136 A CHAVE PARA O PROBLEMA MISSIONÁRIO
E possa chegar logo o dia em que a Sua Igreja, esperando em
Deus, renove a sua juventude e a sua força; em que a glória do Senhor
será revelada, e toda a carne conjuntamente a verá.
SUGESTÃO PARA UMA SEMANA DE
ORAÇÃO POR MISSÕES
NO EXTERIOR
PRIMEIRO DIA
LOUVOR Salmo 145.11-13
Louvor a Deus. Pela glória do Seu reino na terra — pelo que
Ele realizou; pela participação que Ele nos dá em Seu
trabalho; pelo que Ele está fazendo e vai fazer: 2 Cr
20.14-22.

SEGUNDO DIA
A OBRA E OS OBREIROS
A Obra. Sua extensão. (Estatísticas dos não evangelizados)
2 Co 2.16. Sua dificuldade. O poder de Satanás: Ef 6.12.
Sua urgência. O valor de uma alma; milhares morrendo
por ano.
Os Obreiros. A Igreja, o Corpo de Cristo. Cada membro, sem
exceção, remido para tomar parte nessa obra: Fp 2.15,16.
Oração. Por uma visão da necessidade do mundo, da glória
de Cristo, do chamado dos crentes; por todos os missio-
nários, nossos representantes no campo: Cl 4.2-4.

TERCEIRO DIA
O PODER PARA A OBRA —
O ESPÍRITO SANTO
O Espírito Santo. Toda obra missionária é obra de Deus: 1 Co
12.6.0 Espírito Santo é o Grande poder de Deus operan-
do em nós: Ef 3. 16,17,20. O Espírito dado no Pentecos-
tes como o poder para levar o evangelho a toda criatura:
Jo 15.26,27; At 1.8. Todo o fracasso é por causa da perda
desse poder: G13.3. Toda a obra missionária legítima,

- 137 -
138 A CHAVE PARA O PROBLEMA MISSIONÁRIO
seja contribuição, oração ou trabalho, só tem valor
quando o poder do Espírito faz parte dela: Rm 15.16. A
promessa de Deus de que o Espírito seria derramado
sobre nós, e nossa oração para que o Espírito esteja em
nós, é a única esperança para as nossas missões: At 4.31.
Oração. Pelo poder do Espírito, como o entusiasmo da presença
de Cristo e do amor na Igreja, nas sociedades
missionárias, em sua própria congregação, na sua vida,
com o único objetivo de testemunhar de Jesus a cada
alma humana: Lc 24.47; At 1.8.

QUARTO DIA
CONTRIÇÃO E CONFISSÃO
Confissão. Do terrível fracasso da Igreja em conhecer e
cumprir a sua missão. Da falta de completa consagra-
ção à honra e ao reino de Cristo. Da falta de amor e auto-
sacrifício em contribuir e orar: Ag 1.11; M13.10; Fp 2.21.
Contrição. Arrependimento, o único caminho para a
restauração: Is 58.1,2,6,7; Gn 42.21. Orar para que o
Espírito convença de pecado.

QUINTO DIA
ESPIRITO DE SÚPLICA
Oração. Seu lugar. O principal fator que cabe ao homem ao
fazer a obra de Deus. A chave para todo o poder e
bênçãos celestiais: Lc 11.13; Jo 14.13,14; Ef 3.20.
A dificuldade. É necessário a crucificação da carne para
esforçar-se e trabalhar (agonizar): Rm 15.30; Cl 4.12,
vigiar em oração. É necessário mente espiritual para
deliciar-se na comunhão com Cristo e crer que nossas
orações prevalecerão.
Sua urgente necessidade. Mais homens e mais dinheiro são
necessários, mas a necessidade de mais oração é maior,
tal como as feitas no Pentecostes: At 1.14.
Oração. Para que nesta semana de oração Deus possa dar-nos
o espírito de oração, a fim de que haja um grande
aumento da intercessão secreta, habitual, fervorosa,
cheia de fé, pedindo o poder do Espírito em nossa obra
missionária.
139
SEXTO DIA
CONSAGRAÇÃO E SERVIÇO
Consagração. Se a confissão tiver sido verdadeira, se a oração
tiver sido sincera, deve seguir-se uma nova rendição: 2
Cr 2.8-15. Isto implica em afastar-se de todo o pecado e
de todas as falhas, entregando-se a uma vida de inteira
obediência e devoção: 2 Co 5.15.
Isso exige especialmente uma entrega muito pessoal do
"eu" ao Senhor Jesus e ao Seu amor, para ser guardado
e usado por Ele como propriedade exclusiva Sua: 2 Tm
2.21; Tt 2.14. Tudo depende disto: o problema missio-
nário é pessoal.
Serviço. Implica em que sirvamos a Cristo, procurando almas
para Ele: Is 53.10. Promovendo as missões através do
interesse, da contribuição, da comunhão com outros. E
também, tornando Cristo conhecido aos que nos rodei-
am.

SÉTIMO DIA
A FÉ E SUAS POSSIBILIDADES DIVINAS
Fé. O poder que no homem corresponde ao poder de Deus:
Mt 19.26; Mc 9.23. É o poder que leva à oração, que se
fortalece na oração, e que prevalece na oração: Mc 11.24.
É o poder que vence o mundo, pois Cristo venceu o
mundo e a fé vive em união com Ele: Jo 16.33; 1 Jo 5.4,5.
As missões não têm outro fundamento ou lei senão o
propósito de Deus, a promessa de Deus, o poder de
Deus. Essas possibilidades divinas são o alimento da fé,
e chamam todo amigo das missões para isto — ser forte
na fé, dando glória a Deus: Rm 4 .20,21.
Oração. Para que esta semana possa levar a uma profunda
revelação da disposição e poder de Deus para cumprir
as Suas promessas ao Seu povo, a um grande avivamen-
to da fé verdadeira em cada obreiro e ajudante missio-
nário na pátria e no exterior.
140 A CHAVE PARA O PROBLEMA MISSIONÁRIO
ÚLTIMO DIA
O AMOR DE CRISTO. RM 8.31
O seu triunfo em cada coração humano é o nosso objetivo.
Fp 2.13. Sua posse o nosso único poder para viver e
testemunhar: 2 Co 5.14. Vamos mais uma vez saturar
nossos espíritos com a motivação dos morávios para as
missões:
"Coloque este pensamento ardente de amor pessoal
pelo Salvador que me remiu no coração de todos os
cristãos, e terá o incentivo mais poderoso para o esfor-
ço missionário de qualquer tipo.
Oh! se pudéssemos tornar este problema pessoal, se
pudéssemos encher o coração das pessoas com amor
pessoal pelo Salvador que morreu por elas, a indiferen-
ça da cristandade desapareceria, e o reino de Cristo
surgiria!"
EDIÇÃO ESPECIAL: "JANELA 10-40"
rRenda Per Capita (US$)
■ O a 500
❑ 500 a 1000
'1 1000 a 5000
que 5000 rj Mobilizaçã
dos Jovens
oe
Profissionais
—"'"." e Missionários
D'Its"" ev—ge'
não residentes
Intercessão

Ca pacitação Assuntos
Missionária Teológicos
Transcultural

Mobilização
da Igreja
Local
Países Menos
Vários Evangelizados

Cidades Menos
Mobilização Evangelizadas
das Mulheres
Rádio
Consulta global sobre
Evangelização
Alcance 2000
mapa 1
A maior concentração de pessoas não alcança das do
nosso mundo vivem em uma janela retangular que, com
freqüência, se tem referido como uma faixa resistente que
inclui a Indonésia.
Na "24 Conferência de Lausane", em Manila, em julho de
1989, declarei em seção plenária que a maioria dos grupos de
pessoas não alcançadas "vivem em uma faixa que se estende
da África Ocidental através da Ásia, entre 10 e 40 graus ao
norte da linha do Equador; isto inclui o bloco muçulmano, o
bloco hindu e o bloco budista... Temos que focalizar nossos
esforços na evangelização".
Se na verdade vamos prover uma oportunidade real a ca-
da pessoa e cidade de experimentar o amor, a verdade e o po-
der salvador de Jesus Cristo, não podemos desconhecer a rea-
lidade de que temos que concentrar nossas forças nessa região
do mundo, que poderíamos catalogar como "Janela 10-40".
A Janela 10-40 está relacionada com sete realidades
importantes:
1.A Realidade Bíblica e Histórica;
2. As Pessoas e Países não Evangelizados;
3. O Islamismo;
- 141 -
142
4. Os Três Blocos Religiosos Principais;
5. Os Pobres;
6. A Qualidade de Vida;
7. O Baluarte, ou a Fortaleza, de Satanás.
No curso deste artigo, existem dois termos que são
usados repetidamente: NÃO EVANGELIZADOS e NÃO
ALCANÇADOS. O significado que se dá a esses termos é o
que se expressou no Manifesto de Manila sobre a seção 11,
intitulado: O DESAFIO DO ALCANCE 2000 E MAIS ALÉM
DO 2000. "As pessoas não evangelizadas são aquelas que têm
um conhecimento mínimo da Palavra de Deus, porém, não
têm tido uma oportunidade real de responder a ele. Os não
alcançados são dois bilhões de pessoas que nunca ouviram de
Jesus como Salvador e que não estão ao alcance dos cristãos
entre sua própria gente. Há, com efeito, umas 2 mil nações* ou
nacionalidades nas quais ainda não existe um movimento
eclesiástico próprio e ativo." (*veja o artigo "A Grande Comis-
são: Um Enfoque Etnocêntrico").

Um Mundo Que Se Separou de Deus

Por que os cristãos verdadeiramente comprometidos


com Cristo necessitam envolver-se com a Janela 10-40?
Primeiro, pela importância bíblica e histórica dessa parte
do mundo. Foi na Janela 10-40 que ficamos sabendo do
relato de Adão e Eva. O plano de Deus para o homem,
segundo expressa Gn 1.26, tinha a ver com domínio.
Supõe-se que o homem guardava o paraíso de Deus e
tinha domínio e possessão da terra. No livro de Gênesis,
lemos o relato histórico da queda do homem, quando Adão e
Eva fracassaram em guardar o paraíso de Deus e perderam o
direito de governar sobre a terra. Logo veio o dilúvio, seguido
da edificação da Torre de Babel. Essa tentativa do homem de
desafiar Deus, resultou na introdução dos diferentes idiomas,
na dispersão das pessoas e na formação das nações.
É aqui na Janela 10-40 que podemos observar a verdade
escrita no livro O Drama da Redenção do Mundo, de Scroggie
Graham: "Um mundo que se afastou de Deus, Ele o deixou e
escolheu alcançar o mundo perdido". E assim a história antiga
143
se desenvolveu no território assinalado como a Janela 10-40,
desde o berço da civilização, na Mesopotâmia, até o outro lado
do crescente e fértil Egito. Os impérios antigos apareceram e
desapareceram. Veja o destino do povo de Deus: Israel se
levantava e caía de acordo com sua obediência ao pacto com
seu Deus. Foi nessa Janela que nasceu o Senhor Jesus, viveu
Sua vida, morreu na cruz e ressuscitou dentre os mortos. De
fato, não foi senão depois da segunda viagem missionária do
apóstolo Paulo, perto do final do registro bíblico, que os
eventos da história divina ocorreram fora do território identi-
ficado como Janela 10-40.
Para o cristão comprometido, o fato de que inúmeros
atos de Deus com a humanidade tiveram lugar no setor que
descrevemos (Janela 10-40), é razão suficiente para focalizar
nela a sua visão.

Países Menos Evangelizados e a Janela 10-40.

Mas existe uma segunda razão pela qual os cristãos


comprometidos devem focalizar a Janela 10-40: a maioria
das pessoas não evangelizadas do mundo vive nela.
A Janela 10-40 é onde vive a maioria dos povos do
mundo. Com efeito, enquanto essa é somente um terço do
total da área terrestre, quase dois terços da população mundi-
al vivem na Janela 10-40.
144

OS 55 PAÍSES MENOS EVANGELIZADOS E A JANELA 10-40


97% das pessoas menos evangelizadas vivem aqui

Países Menos
Li Países na Janela
= Evangelizados

DENTRO DA JANELA PAÍSES MENOS EVANGELIZADOS


62 Países
55 Países
População Total — 3,1 bilhões
População Total — 3,0 bilhões
60% da População do Mundo
57% da População do Mundo
27% dos Missionários
18% dos Missionários
22% Muçulmanos, 23% Hindus, 5% Budistas
23% Muçulmanos, 24% Hindus, 4% Budistas

Essas pessoas vivem em 62 países, destacados na sombra


mais escura do mapa, incluindo tanto Estados soberanos
como Estados não soberanos, bem como colônias e territórios
que não fazem parte integrante da mãe-pátria, tais como a
Faixa de Gaza e a margem Ocidental. Mas acham-se incluídos
aqueles países com uma significante maioria de sua área
dentro da Janela 10-40.
Quando os 55 países não evangelizados estão localiza-
dos na Janela 10-40, imediatamente vemos a importância
que essa parte do mundo deve merecer na estratégia de missões. Os
países não evangelizados foram identificados em consulta
com Bob Waywire, George Otis Jr., e John Richard, sendo
mostrado por uma faixa retangular no mapa.
De fato, 97% dos três bilhões de pessoas menos
evangelizadas vivem na Janela 10-40. Isso deve ser o centro
do desafio de alcançar os não alcançados.
Necessitamos pensar na missão de Jesus que veio buscar
e salvar o que se havia perdido, segundo ensinam as parábo-
las sobre a ovelha e a moeda perdida; ainda que seja uma só pessoa
Quando pensamos nas pessoas que vivem na Janerae
40, necessitamos considerar o mandamento de Cristo de
145

pregar a Palavra de Deus a toda criatura, para fazer discípulos


em todas as nações e sermos Suas testemunhas até os confins da terra.
E a evidência estatística nos põe ante a realidade dessa
parte do mundo.
O ISLAMISMO E A JANELA 10-40

% Muçulmanos
50 a99,9

10 a 50

1 ai°

! Oal

mapa 3

O Islamismo e a Janela 10-40

Existe ainda uma terceira razão pela qual os cristãos


comprometidos necessitam focalizar a Janela 10-40. É por-
que nela está o coração do islamismo.
As partes mais sombreadas revelam o fato de que a
África do Norte e o Oriente Médio representam o núcleo da
religião islâmica.
Em julho de 1990, mais de 1.400 peregrinos pereceram
durante uma detonação humana de um túnel na cidade de
Meca, durante sua peregrinação anual para cumprir um dos
cinco requisitos primordiais do islamismo. Somente três anos
atrás, morreram 402 peregrinos, quando explodiram os con-
flitos centenários entre a rama sunita do islamismo e a dos
xütas, em Meca.
Os seguidores da religião islâmica estão aumentando,
146
segundo sugere o aumento do número de peregrinos a Meca.
Ainda, ao mesmo tempo, indica-se que muitos muçulmanos,
ao estudarem o Alcorão em profundidade, descobrem que o
maior profeta descrito é Jesus e não Maomé. Temos que orar;
pois, segundo a Europa Oriental, a ideologia atéia do comu-
nismo não pode subsistir no tempo, e que também os olhos e
os corações dos muçulmanos sejam abertos, a fim de que
reconheçam o Cristo do Alcorão não somente o profeta prin-
cipal, mas sim, o Filho de Deus que morreu pela remissão dos
pecados do homem, que ressuscitou para nossa salvação, e
para que milhões de muçulmanos sejam salvos nesta década.

Os Três Blocos Religiosos e a Janela 10-40

A quarta razão para focalizar a Janela 10-40 é a existên-


cia ali de três principais blocos religiosos.
Se você se mover da esquerda para a direita no retângulo,
poderá ver os três blocos religiosos principais, aos quais per-
tence a maioria da população desse país. Primeiro, o bloco
muçulmano, com 706 milhões de pessoas ou 22% dos 3,14 bi-
lhões das pessoas que vivem na Janela 10-40. Segundo, o blo-
co hindu, com 717 milhões de pessoas ou 23% das pessoas que
vivem na Janela 10-40. Terceiro, o bloco budista, com 153 mi-
lhões de pessoas ou 5% das pessoas que vivem na Janela 10-40.
No dia 6 de maio de 1990, o Jordan Times, de Amã,
publicou um artigo, da Argélia, intitulado O Colapso do Comu-
nismo Pode Debilitar o Islamismo. Em uma conferência sobre o
futuro do islamismo, o escritor egípcio, Fahmi Howeidi,
argumentou que o mundo islâmico está marginalizado no
novo mapa. Howeidi estava entre 40 eruditos e líderes políti-
cos de dez países árabes, que assistiram à conferência, e disse:
"O cristianismo tem sido restaurado na Europa Oriental..."
Mais de 90% do bilhão de muçulmanos do mundo vivem em
extrema pobreza e os Estados islâmicos, como um grupo,
ficaram pesadamente endividados em relação ao Ocidente.
Como o mapa que mostra os países muçulmanos, hindus
e budistas está na Janela 10-40, deve ser notado que é aí
também que vivem os pobres em maior situação de penúria.
147
OS TRÊS BLOCOS RELIGIOSOS E A JANELA 10 — 40
Países com maioria muçulmana, hindu e budista

28 Países Muçulmanos — Pop. 2000 1,1 bilhão


1 País Hindu — Pop. 2000 - 1,1 bilhão
8 Países Budistas — Pop. 2000 - 237 milhões
TOTAL - 37 Países
População até o ano 2000 2,4 bilhões

mapa 4

Os Mais Pobres dos Pobres e a Janela 10-40

A quinta razão para dirigir nossa atenção para a Janela


10-40 é porque os pobres estão nela. Com efeito, mais de oito
de cada dez pobres dos pobres, que têm uma renda anual de
US$ 500 (quinhentos dólares) vivem na Janela 10-40; e, da
população mundial que vive na pobreza com menos de US$
500 (quinhentos dólares) de renda anual, 2,4 bilhões vivem na
Janela 10-40. Apesar disto, somente 8% de todos os missio-
nários trabalham entre tais pessoas.
No livro Target Earth, Bryant L. Myers de World Vision
e MARC escreveu um capítulo intitulado "Onde estão os
pobres e os perdidos?" Myers sugeriu que "os pobres estão
perdidos e os perdidos são os pobres".
Chegou a essa conclusão após observar que a maioria
dos não alcançados vive nos países mais pobres do mundo. O
mapa 5 mostra a relação entre os que são pobres e os que estão
perdidos.
Quando cristãos de uns 170 países se reuniram em
148
Lausane, Manila, em 1989, havia uma profunda preocupação
manifesta pelos materialmente pobres do mundo, na segunda
seção do Manifesto de Manila: "Outra vez, temos sido con-
frontados com a ênfase de Lucas de que a Palavra de Deus é
a Boa Nova para o pobre (Lucas 4.18, 6.20, 7.22); e nós temos
perguntado o que isto significa para a maior parte da popula-
ção mundial que são os indigentes, os que sofrem, os oprimi-
dos. Advertimos que a lei, os profetas, os livros da sabedoria,
os ensinos e o ministério de Jesus, todos destacam a preocu-
pação de Deus pelas pessoas materialmente pobres; e nosso
trabalho é defender e se interessar por eles".
Existe uma estreita relação entre os 50 países mais pobres
e os países não evangelizados do mundo (mapa 6). De fato,
segundo se pode observar, 79% das pessoas que são mais
pobres estão também entre os países menos evangelizados do
mundo. E quando os relacionamos à Janela 10-40, descobri-
mos que 99% desses pobres não evangelizados 2,3 bilhões de
pessoas vivem na Janela 10-40. Somente 6% da força
missionária trabalha entre esses 44% da população mundial.
Verdadeiramente, isso constitui o maior desafio desta década
para o cristão comprometido.

OS PAÍSES MAIS POBRES E A JANELA 10-40


82% dos mais pobres dos pobres vivem aqui

Renda Per Capita


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PAISES MAIS POBRES NA JANELA PAISES MAIS POBRES


23% com renda per capita menor que US$ 500 49% com renda per capita menor que US$ 500
População Total — 2,4 bilhões População Total — 3,0 bilhões
47% da População do Mundo 57% da População do Mundo
8% dos Missionários 26% dos Missionários
17% Muçulmanos, 29% Hindus, 4% Budistas 21% Muçulmanos, 25% Hindus, 3% Budistas

mapa 3
149

OS POBRES, OS NÃO EVANGELIZADOS E A JANELA 10-40


99% dos mais pobres dos pobres não evangelizados vivem aqui

Renda Per Capita


e O a 500 ri 1000 a 5000
E 500 a 1000 [1: de 5000

Mais Pobres e Não Evangelizados na Mais Pobres e Não Evangelizados


JANELA
16 Países 19 Países
População Total — 2,3 bilhões População Total — 2,3 bilhões
44% da População do Mundo 44% da População do Mundo
6% dos Missionários 6% dos Missionários
16% Muçulmanos, 31% Hindus, 2% 16% Muçulmanos, 31% Hindus, 2% Budistas
Budistas

mapa 6

A Qualidade de Vida e a Janela 10-40

Existe uma sexta razão para focalizar a Janela 10-40.


Trata-se da qualidade de vida.
Um modo de medir a qualidade de vida tem sido combi-
nar três variáveis: longevidade, mortalidade infantil e
alfabetização.
Ao identificar e mapear os 50 países em que o índice de
qualidade de vida é menor, fica novamente evidente a
sobreposição com os países que estão na Janela 10-40.
Mais de oito de cada dez pessoas que vivem nos 50 países
do mundo com a qualidade de vida mais baixa, também
vivem na Janela 10-40. Isto representa 47% da população,
quando somente 8% da força missionária exterior trabalha
entre essas pessoas. Nove de cada dez dessas pessoas vivem
nos países hindus e muçulmanos.
O salmista escreveu: "Feliz a nação cujo Deus é o Se-
150

Senhor". Certamente, ao comparar a relação da qualidade de


vida desses países com aqueles que têm um porcentual maior
de cristãos, é evidente a superioridade destes últimos, pois o
Senhor abençoa a nação que se torna para Ele. Porém, Ele
espera que a nação que é abençoada seja de bênção para outras
nações, segundo o Salmo 67.1-2: "Deus tenha misericórdia de
nós e nos abençoe, e faça resplandecer o seu rosto sobre nós.
Para que se conheça na terra o teu caminho, e em todas as
nações a tua salvação."

A QUALIDADE DE VIDA E A JANELA 10-40


84% das pessoas com mais baixa qualidade de vida vivem aqui

Qualidade de Vida

está baseada em:


1.Tempo estimado
de vida
2. Mortalidade Infantil
3. Alfabetização

Mais Baixa Qualidade de Vida na Janela Mais Baixa Qualidade de Vida


29 Países 50 países
População Total — 1,4 bilhão População Total —1,7 bilhão
27% da População do Mundo 33% da População do Mundo
9% dos Missionários 21% dos Missionários
40% Muçulmanos, 51% Hindus, 1% Budistas 37% Muçulmanos, 42% Hindus, 1% Budistas

111pa 7
11.11■
151
O Baluarte ou a Fortaleza de Satanás, e a Janela 10-40

Por que os cristãos comprometidos necessitam focalizar


a Janela 10-40? Porque é a fortaleza de Satanás (esta a sétima
razão).
O crescimento da presença cristã no mundo nos mostra
que as pessoas que vivem na Janela 10-40 têm sofrido, não
somente fome e uma qualidade de vida muito inferior compa-
rada com o resto da humanidade, mas também têm sido
despojadas do poder transformador da Palavra de Deus.
As Escrituras estabelecem claramente, nas epístolas do
apóstolo Paulo, que "o deus deste século cegou os entendi-
mentos dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do
Evangelho da glória de Cristo, que é a imagem de Deus" (2 Co
4.4). Na mesma epístola, o apóstolo escreve no capítulo 10.3-
4: "Porque as armas da nossa milícia não são carnais, mas sim
poderosas em Deus, para destruição das fortalezas".
Após uma cuidadosa observação na Janela 10-40, enten-
de-se que Satanás tem estabelecido um baluarte territorial
com suas forças para deter o avanço da Palavra de Deus nesse lugar.
De fato, ao retrocedermos na história descobrimos o
registro do profeta Daniel: homem altamente estimado por
Deus e pessoas de seu tempo; homem de oração. A Escritura
diz que ele jejuou a pão e água, durante três semanas. A
mensagem veio finalmente na forma do anjo Miguel, que
trouxe uma resposta de Deus à oração dele. Miguel é descrito
como um dos principais anjos, anjo de grande autoridade.
Miguel é mencionado três vezes no Antigo Testamento
(Daniel 10.13,21;12.1) e duas vezes no Novo Testamento
(Judas 9, Apocalipse 12.7). Em Judas 9, refere-se como o
"arcanjo". Fica claro que é um dos anjos de maior prestígio.
Em uma ocasião, até lutou com Satanás pelo corpo de Moisés
(Judas 9). Foi designado por Deus, particularmente, como o
príncipe de Israel (Daniel 10.21; 12.1). Esta passagem nos re-
vela a realidade da batalha espiritual nos ares. É uma batalha
territorial. A revelação do demônio designado ao reino da Pér-
sia (hoje o país Irã) era contínua, na que o visitante de Daniel
mencionou que devia regressar para lutar com ele outra vez
152
(v.20). É interessante observar a Janela 10-40 e o precedente
histórico de Dn 10, pois desde o começo da revolução islâmica,
os cristãos estão debaixo de uma grande perseguição.
A imprensa nos dá informações de restrições persisten-
tes e sistemáticas impostas por uma comissão do governo
iraniano que trata minorias étnicas e religiosas, sobre os
obreiros da Sociedade Unida.
No centro da Janela 10-40 está o Irã; isto pode indicar
uma importante fortaleza espiritual de Satanás.
George Otis Jr., ministro do Senhor, quando dentro da
Janela 10-40, concluiu, depois de uma ampla investigação,
que existem poderosas fortalezas demoníacas no epicentro do
mundo não alcançado: o Irã, ou príncipe da Pérsia; e o Iraque,
ou Espírito da Babilônia.
Essas duas grandes fortalezas do nosso inimigo têm de
ser enfrentadas já, antes que se complete a grande comissão,
ou o evento que, segundo o mandado divino, subjugará a
terra.
A invasão do Kuwait pelo Iraque, a guerra do Golfo
Pérsico e os eventos seguintes nos apresentam um desenvol-
vimento destes conceitos na Janela 10-40. Já no registro da
história divinamente inspirada, vemos claramente uma gran-
de autoridade satânica. O anjo que visitou Daniel admitiu que
não havia ninguém, exceto Miguel, que estivesse firme junto
a ele para combater as forças aparelhadas de Satanás, encon-
tradas nesse enfrentamento (v. 21). Se vamos adentrar na
Janela 10-40 de modo significativo, necessitamos colocar
toda a armadura de Deus, cingindo os nossos lombos e
lutando com as armas mencionadas pelo apóstolo Paulo, em
Ef 6.13-18.
153
A Resposta ao Desafio: O Movimento Alcance
2000 e a Janela 10-40

Quando se reuniu o comitê da planificação do movimen-


to "Alcance 2000", em julho de 1989, foi fixado que nosso
maior desafio nos próximos 10 anos é prover uma oportuni-
dade real para cada cidade e cada pessoa experimentar o
amor, a verdade e o poder salvador de Jesus Cristo, com
enfoque especial na Janela 10-40.
Cada uma das 14 áreas do "Alcance 2000" será animada
a dirigir suas energias na mobilização de pessoas em fazer
redes de 3 bilhões (de pessoas) na Janela 10-40 (mapa 1).
Conclusão:
Conforme escreveu o Dr. Ralfh Winter, nesta era moder-
na de missões, talvez estejamos entrando em uma quarta fase,
na última década deste século e milênio. A comunidade cristã,
há 2000 anos, focalizava a costa ou litorais do mundo; há 100
anos, focalizou o interior dos continentes. Nos últimos 10
anos, deu atenção às nações não alcançadas. Nos últimos 10
anos do século 20 é indispensável que concentremos nossas
forças na Janela 10-40!
Isso posto, somos forçados a fazer uma reavaliação de
nossas prioridades adicionadas com a necessidade de encon-
trarmos vias de acesso às pessoas da Janela 10-40 com o
evangelho, a verdade e a compaixão de Cristo. Por causa da
dificuldade para ingresso de missionários nessa região, vesti-
dos como tais, pensemos em enviá-los para lá como tendeiros,
lojistas, comerciantes, profissionais autônomos, missionários
a curto prazo, missionários não residentes, etc. Assim, estare-
mos, de fato, fazendo um reexame de nosso estilo de trabalho
para alcançar os povos sem o evangelho de Cristo.
Por outro lado, não devemos nos enfraquecer, acabando
com os trabalhos em outros lugares do mundo. O treinamen-
to, ajuda, desenvolvimento e mobilização não devem ser
diminuídos. Devemos aumentar nossas forças já nesta déca-
da, para alcançar aqueles que estão na Janela 10-40.
Se quisermos ser fiéis às Escrituras, obedientes ao man-
154
damento de Cristo, e se vamos ver o estabelecimento de um
movimento de implantação de igrejas dentro de nações e
cidades não alcançadas pelo Evangelho até o ano 2000, para
que neste século todas as pessoas possam ter a oportunidade
real de experimentar o amor, a verdade e o poder salvador de
Jesus Cristo, temos de chegar ao núcleo não alcançado, A
JANELA 10-40!

Luis Bush

* Os países não evangelizados foram identificados na consulta


com Bob Waymire, George Otis Jr. e John Richard.

* Os dados estatísticos para este livro foram obtidos através da


"Global Research Data Base" (GRDB), provisto pelo "Global
Mapping Internacional".

* O desenho dos mapas e as análises estatísticas foram


oferecidos por Pete Holzmann.
JANELA 10-40

Estamos vivendo um período bastante peculiar na histó-


ria da Igreja. Um tempo em que as evidências estão apontan-
do para a iminente Volta de Cristo. Mas ainda há muito o que
ser feito na Seara!
Este artigo sobre a Janela 10-40 (lê-se janela dez quaren-
ta), alerta-nos sobre o trabalho que se está iniciando e onde
estão os povos não alcançados deste mundo. Foi Jesus quem
nos disse, referindo-se à Sua volta, que o Evangelho do Reino
seria pregado em todo o mundo, em testemunho de todas as
nações antes que viesse o fim (Mt 24.14); e ainda o apóstolo
João quando na sua visão diante do Cordeiro viu povos de
todas as tribos, línguas e nações (Ap 7.9). Como Jesus poderá
voltar se existem países na Janela 10-40 onde ainda não há
um crente sequer? Se desejamos a Volta de Cristo, temos de
mudar; e esta é a hora de realizarmos a tarefa se realmente
amamos a Sua volta (2 Tm 4.8). Quando dizemos mudar,
estamos pensando que o Brasil possui uma grande igreja e,
contudo, não tem feito o que poderia fazer para conquistar os
povos não alcançados e esquecidos deste mundo. E nossa
tarefa canalizar recursos que possibilitem o recrutamento e o
envio de missionários brasileiros e de outras nacionalidades
até as fronteiras da evangelização mundial: Janela 10-40.
Por outro lado, Satanás tem levantado suas fortalezas na
Janela 10-40, que é o lugar menos evangelizado do mundo e
onde se localizam os 3 maiores blocos de resistência ao
progresso do evangelho: o muçulmano, o hindu e o budista.
Jesus nos afiançou que as portas do inferno não prevalecerão
contra Sua Igreja (saiba que a Janela 10-40 é o inferno de
Satanás que precisa ser invadido e destruído pela Igreja de
Jesus).
- 155 -
156
A igreja brasileira está no limiar de um despertamento
espiritual sem precedentes, e é incumbência de seus líderes
não permitir que ela se desvie de sua missão. Sim, toda a graça
derramada deve ser direcionada para destruir as fortalezas do
inimigo (e realmente a Janela 10-40 é o campo de batalha).
Nunca houve na história da Igreja um despertamento
espiritual genuíno que estivesse desvinculado da obra de
missões. Sim, avivamento e missões caminham de mãos
dadas.
Cremos que o encargo de alcançarmos a Janela 10-40
pode ser concluído nesta geração, desde que os crentes se
conscientizem dessa necessidade premente. Cremos que a
Volta de Cristo pode acontecer nesta geração, se estivermos
dispostos a concluir o trabalho.

Pr. Sérgio P. Fiorotti Jr.


ZONA DE CONFLITO
Ao entrarmos numa guerra, depressa procuramos saber onde
fica a Zona de Conflito, pois se não a conhecermos poderemos nos
enredar em sérios problemas, comprometendo nossa vida, nossa
causa e nossa vitória, perdendo a guerra.
Nós da MISSÃO HORIZONTES temos orado para que este livro
desperte o coração dos crentes da Igreja brasileira, a fim de que se
comprometam com a grande batalha — guerra declarada — que
enfrentamos, no rumo de alcançarmos os povos da "Janela 10-40"
e chegarmos à vitória.
O termo "JANELA 10-40" originou-se com Luis Bush durante a 22
Conferência de Lausane — Manila—em julho de 1989. Desde então
o termo tem sido usado pelos missiologistas e refere-se à área
delimitada pelas linhas imaginárias dos paralelos que passam a 10
e a 40 graus acima da Linha do Equador. É uma faixa quase contínua
de terras, cobrindo Oeste e Norte da Africa, Oriente Médio, índia,
China, Japão e ilhas do Pacífico. É NESSA ÁREA QUE VIVEM 95%
DOS POVOS NÃO-ALCANÇADOS DO MUNDO.
Você pode, porém, ajudar na reversão desse quadro, aceitando
o desafio de vir guerrear conosco.
Em primeiro lugar, você pode organizar um grupo de oração
missionária com a finalidade de interceder pela salvação dos povos
que vivem na Janela 10-40. Pode também orar e corresponder-se
com organizações e missionários envolvidos nessa área, visando
obter informações sempre atualizadas do campo e do trabalho ali
desenvolvido. Precisamos de orar uns pelos outros (Ef. 6:18-19), e
muito mais pelos que estão nas trincheiras dos confins anunciando
o Evangelho de Jesus Cristo. Você pode realizar um mês de
intercessão em sua Igreja local, em favor da salvação dos não-
alcançados. Ore pelas nações que compõem a Janela 10-40,
usando a sugestão a seguir:

Dia 01 - Argélia e Arábia Saudita


Dia 02 - Albânia e Afeganistão
Dia 03 - Azerbaijão e Bangladesh
Dia 04 - Benin e Butão
Dia 05 - Burkina Fasso e Birmânia
Dia 06 - Bahrein e Brunel
Dia 07 - Casaquistão e China
Dia 08 - Catàr e Camboja
Dia 09 - Cdréia do Norte e Djibuti
Dia 10 - Emirados Árabes e Egito
Dia 11 - Etiópia e Formosa
Dia 12 - Guiné Equatorial e Guiné Bissau
Dia 13 - Irã e índia
Dia 14 - Indonésia e Iraque
Dia 15 - Israel e lêmem
Dia 16 - Japão e Jordânia
Dia 17 - Kuwait e Quirguistão
Dia 18 - Laos e Líbano
Dia 19 - Líbia e Mauritânia
Dia 20 - Mali e Marrocos
Dia 21 - Malásia e Maldivas
Dia 22 - Mongólia e Níger
Dia 23 - Nepal e Nigéria
Dia 24 - Omã e Paquistão
Dia 25 - Sudão e Saara Ocidental
Dia 26 - Sri Lanka e Somália
Dia 27 - Tailândia e Tajiquistão
Dia 28 - Turcomenistão e Tibete
Dia 29 - Tunísia e Turquia
Dia 30 - Usbequistão e Vietnã
Dia 31 - Ore Mateus 9:38

Em segundo lugar, você pode investir nas vidas que já estão


trabalhando, ou que estão lutando para conseguir sustento suficien-
te para trabalharem ali. As possibilidades de a Igreja brasileira fincar
estacas na Janela 10-40 são tremendamente favoráveis. O nosso
tempo é HOJE!
Supondo-se que 4 milhões de crentes brasileiros investissem 1
(um) dólar por mês em favor do movimento missionário da Janela 10-
40, poderíamos enviar para a seara do Senhor 8 mil trabalhadores
brasileiros com sustento integral, multiplicando muitas vezes o
efetivo missionário na área mais carente do mundo. Pense seria-
mente em investir mensalmente 5% - por exemplo - do seu próprio
sustento no "FUNDO MISSIONÁRIO JANELA 10-40" da Missão
Horizontes.
Finalmente, você mesmo pode aceitar o urgente desafio e IR até
à Zona de Conflito para frustrar a argúcia do diabo, e estabelecer os
planos e propósitos de Deus para a salvação dos perdidos, e
celebrar Sua Glória!
Os campos da Janela 10-40, brancos para ceifa, clamam a Deus
por ceifeiros capacitados para toda a obra.
Crente brasileiro: basta de omissão! A realidade da palavra de
Jesus: "A seara na verdade é grande, mas os trabalhadores são
poucos..." é incontestável. Urge, portanto, obedecer Sua ordem:
"Rogai, pois, ao Senhor da seara que mande trabalhadores para Sua
seara." (Mat. 9:37-38).
Muitas dessas NAÇÕES não têm nenhuma igreja e outras tantas
não têm nenhum crente conhecido, mas você pode ir! Se lhe faltar
preparo aceite a sugestão de Jeremias 46:14: "Apresenta-te e
prepara-te!" Missão Horizontes está à sua disposição.
Comece a orar, a contribuir e a considerar a possibilidade de ir.
Aceite o desafio e aliste-se nas fileiras do Rei Jesus. Estamos
clamando e esperando por tantos quantos o Senhor convocar para
trabalhar naquelas Suas possessões que Ele lhe dará como heran-
ça, nos Confins da Terra.
por favor, recorte aqui.

COMPROMISSO DE FÉ
(por favor, use letra de forma)

NOME:
END:
BAIRRO: CIDADE: UF:
CAIXA POSTAL: CEP: TEL •

FIRMO COMPROMISSO DE ENVOLVER-ME


COM A "JANELA 10-40 E ALÉM",

ri Contribuindo mensalmente com 5% dos meus rendimen-


tos para o "FUNDO MISSIONÁRIO JANELA 10-40 E
ALÉM".

n Contribuindo com uma oferta ÚNICA/MENSAL de


R$
E ALÉM".
para o "FUNDO MISSIONÁRIO JANELA 10-40

In Orando por aqueles que estão envolvidos com a "JANELA


10-40 E ALÉM".

(Por favor, envie cheque nominal à Missão Horizontes ou deposi-


te na C.C. n° 3111-9 - Agência n° 1020-0 - BRADESCO).

- não envie dinheiro dentro da carta

n
-

Eu gostaria de envolver-me com uma equipe que esteja


penetrando na "JANELA 10-40 E ALÉM".

CENTRO PARA AS NAÇÕES


Projeto Janela 10-40 e Além
HORIZONTES
Monte Verde - Camanducaia - MG
Brasil CEP 37.653.000
Telefax: (035) 438-1546
horizontes@overnet.com.br
Impressão e Acabamento na Gráfica da
Associação Religiosa Imprensa da Fé
São Paulo - SP

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