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Wilson Franklim
NAS IGREJAS A AÇA() DO
Vivemos dias de misticismo exagerado. Os tempos de final/início de
século e de milênio que estamos atravessando suscitam sempre muitas
indagações e questionamentos.
A obra que a JUERP edita neste volume pretende trazer, para o nosso
povo, uma palavra de alerta, de expectativa e de orientação. Esperamos
que nossas igrejas, através desta leitura, se posicionem com mais
segurança e clareza diante desses transtornos.
NAS IGREJAS
•MIE.-11E4F- -
Nossa oração é que a presente obra seja uma bênção para todos que, (03
ISBN 85-350-0145-X
11 11111 1
9 788535 001457
A Ação do
Espírito Santo
nas Igrejas
Wilson Franklim
A Ação do
Espírito Santo
nas Igrejas
JUERP
Rio de Janeiro
©Wilson Franklin, 2001
Direção Geral
Almir dos Santos Gonçalves Júnior
Coordenação Editorial
Solange Cardoso A. d' Almeida (RP/1687)
Conselho Editorial
Ebenézer S. Ferreira, Gilton M. Vieira,
Ivone Boechat de Oliveira, Jilton Moraes
João Reinaldo Purin, Lael d' Almeida,
Marcílio Oliveira Filho, Pedro S. Moura,
Roberto Alves Souza, Silvino C.F. Netto,
Tiago Nunes Lima
Produção Editorial
Arte Sette Computação Gráfica Ltda
Impressão
Ediouro - Editora Gráfica
Distribuição
EBDI - Marketing e Consultoria Editorial Ltda.
Tel. - OXX (21) 3976-4142 E-mail: pedidos@ebd-Lcom.br
DDD gratuito para as demais regiões - 0800 216 768
F915a
Franklin, Wilson
A Ação do Espírito Santo nas Igrejas/Wilson Franklin.
Rio de Janeiro: JUERP, 2001
Inclui bibliografia
ISBN 85-350-0145-X
1. Espírito Santo — 2. Espírito Santo — divergências entre cristãos históricos
e pentecostalistas . I. Título.
CDD 231.3
Dedico esta obra a todos que confiam
e seguem unicamente a Bíblia como a
Palavra Eterna de Deus
Sumário
Agradecimentos 11
Prefácio 13
Apresentação 15
Introdução 17
CAPÍTULO I
A Fé Bíblica e suas Distorções pela Influência do Misticismo
1 .1 . Fé 21
1.2. Superstição 22
1.3. Fanatismo 23
1.4. Devemos viver por fé e não por vista 25
CAPÍTULO II
CAPÍTULO III
CAPÍTULO V
CAPÍTULO VI
CAPÍTULO VII
CAPÍTULO VIII
CAPÍTILO IX
A Questão das Divergências
9.1. Entre evangélicos históricos e evangélicos pentecostais 93
9.2. O problema da infiltração 94
9.3. O que está faltando hoje no meio cristão 94
9.4. O que deve mudar nos cultos evangélicos históricos 96
9.4.1. A atitude 96
9.4.2. A sacramentação do formalismo ou da espontaneidade 97
9.4.3. Manter o equilíbrio entre a forma e a liberdade 98
9.4.4. Fazer uma atualização da forma 98
Conclusão 101
Bibliografia 105
Agradecimentos
Foi com grande emoção que li este livro escrito por Wílson Franklim,
sobre a pessoa e obra do Espírito Santo, por alguns motivos bem com-
preensíveis.
Primeiro, pela obra em si, escrita em linguagem simples e acessível a
todos os que se interessam pelo estudo da Bíblia e, particularmente,
pela doutrina do Espírito Santo. Tem havido um certo distanciamento
por parte dos comentaristas sobre esta doutrina. Uns a consideram difícil;
outros, demasiadamente arriscado aprofundar-se no assunto. Proce-
dendo desta maneira, temos estado em posições extremadas e acabamos
por ignorá-la, com prejuízos incalculáveis à nossa maturidade cristã.
Outro fator a considerar é que em função de interpretações particulares
de muitos segmentos evangélicos, notadamente, na área dos dons es-
pirituais, muitos se omitem para não serem confundidos com simpa-
tizantes dos chamados movimentos pentecostais que deturpam a pureza
da doutrina da Terceira Pessoa da Trindade.
Creio, firmemente, que como filhos de Deus somos o templo do
Espírito Santo, temos recebido o seu batismo no ato de nossa conversão
e não há nenhum motivo para nos sentirmos inferiorizados diante daqueles
que se sentem como únicos depositários ou beneficiários da obra do
Espírito Santo. Temos de levantar nossas cabeças e, com intrepidez, to-
marmos posse plena da bênção que o Senhor nos tem dado, a partir de
nosso novo nascimento, e, aí sim, nos esforçarmos para produzir o fruto
do Espírito, conforme Gálatas 5:22-25, sem medo de sermos as pessoas
mais bem-aventuradas desse mundo.
Em segundo lugar, pelos laços de amizade que nos une há longos
anos, na qualidade de seu pastor por um considerável período de tempo,
na época que pastoreava a Primeira Igreja Batista de Campo Grande,
no Rio de Janeiro.
O Dr. Wilson Franklim, formado em Engenharia Química, empresário
bem sucedido, bom pai e esposo da irmã Vera Lúcia Nunes Franklim,
não se deteve nesse nível de instrução. Foi além, e fez o curso de teologia,
com brilhantismo e, ainda, com o mesmo impacto de participação, acaba
de escrever este livro tão bem elaborado e, didaticamente, ao alcance
do nosso povo, em linguagem simples, sem, entretanto, prejudicar seu
estilo e seriedade.
Nossa oração é que a presente obra seja uma bênção para todos
que, com sinceridade, desejam conhecer e experimentar a presença
consoladora do Espírito Santo e de sua plenitude "até que todos che-
guemos à unidade da fé, e ao conhecimento do Filho de Deus, a varão
perfeito, à medida da estatura completa de Cristo. Para que não sejamos
meninos inconstantes, levados em roda por todo o vento de doutrina,
pelo engano dos homens que com astúcia enganam fraudulosamente.
Antes, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é
a cabeça, Cristo" (Ef 4:13-16).
Parabéns, irmão Dr. Wilson Franklim, e que o Deus de glória o en-
riqueça com muitas e escolhidas bênçãos e a sua família, na expectativa
de outras produções literárias em futuro bem próximo.
Meu interesse pela teologia vem desde o começo de minha vida cristã.
Sempre gostei de estudar a Bíblia. Quando Deus me confirmou seu
chamado para o ministério da teologia, assumi com ele dois compro-
missos: expressar sempre sua Verdade, independente de quem estivesse
ouvindo, e esforçar-me para comunicar a sua mensagem na "língua do
povo", para haver compreensão.
Ao escrever este livro procurei caminhar nessa direção. Em vista disso
fiz o possível para utilizar uma linguagem acessível a todas as pessoas,
do mais simples ao mais culto. Todavia, devido ao tema, foi necessário
usar até neologismos, a fim de explicar melhor os fatos.
Nasci num lar cristão da linha pentecostal, onde permaneci até os
14,15 anos de idade. Durante muitos anos vivi um dilema, porque sendo
salvo desde a infância, nunca conseguira receber "o dom de língua" e
"profecia", conforme ensinado naquela igreja.
Por discordar do sistema de governo oligárquico e imperialista daquela
denominação, e também de algumas doutrinas, principalmente quanto
ao modo de celebração da Ceia, que naquela época ainda adotava o
sistema de cálice único (hoje é usado o cálice individual), e por outras
razões próprias da adolescência, afastei-me um pouco da igreja, e assim,
por minha própria e livre iniciativa não cheguei a ser batizado ali.
Aos 18 anos decidi me filiar à Igreja Batista Filadélfia, onde fui batizado
- e graças a Deus permaneço na denominação. Digo isso porque precisei
me transferir de uma igreja batista para outra, por mudança de residência.
Atualmente sou membro da Primeira Igreja Batista de Vila Comari.
Desde quando fui batizado na Filadélfia, começou em meu íntimo um
18• A Ação do Espírito Santo nas Igrejas
1.1. Fé
1.2. Superstição
dos macumbeiros, iemanjá, e ninfas. Sabemos pela Bíblia que estas coisas
só existem na mente das pessoas que nelas confiam.
Outra forma de superstição se dá quando as pessoas depositam sua
confiança em amuletos, ídolos, simpatias, no ato de se benzerem... Tudo
isso, apesar de sua existência física e visível, é completamente ineficaz
no terreno espiritual.
Logo, quando o homem põe sua confiança numa dessas entidades
místicas, ele não está praticando a fé bíblica, e sim a superstição. Sua
confiança existe, mas o objeto de sua crença não existe, ou é ineficaz.
Atualmente, temos visto muitos carros com adesivos: Eu acredito em
duende. A pessoa confia, porém o objeto de sua confiança não existe;
ou é ineficaz. Isso não passa de superstição!
Infelizmente, do lado evangélico também proliferam as superstições
com o ritual do copo d'água em cima da televisão, do beber óleo "ungido"
etc. Há uma denominação que chega ao extremo de usar água benta,
galho de arruda e sal grosso. Em ambos os casos o que predomina é a
superstição, não é a fé bíblica
Lembro o tempo em que ainda era menino, quando muitos irmãos
usavam um disco de uma determinada cantora como uma espécie de
talismã. Eles contavam que outros irmãos haviam recebido cura por
meio daquele disco, no momento em que o colocaram em baixo do tra-
vesseiro ou em cima da região doente. Aquela irmã andava pelas igrejas
cantando e orando para que Deus curasse os enfermos. Para os que
não pudessem ir à igreja havia uma alternativa: seus familiares poderiam
levar um disco, ou um "lenço ungido" para ser utilizado pelo doente. O
pastor julgava aquilo normal, e quase todos praticavam essa superstição,
por desconhecerem a Palavra de Deus.
1.3. Fanatismo
O termo vem do vocábulo latino fanaticus, "divinamente impul-
sionado", "louco". Sua raiz formadora éfanum, que significa templo.
Em relação à religião, é usada para indicar a crença e o zelo excessivo e
24 • A Ação do Espírito Santo nas Igrejas
entrega sua vida totalmente nas mãos de Deus. O que se pode querer
mais?... Viver na Plenitude do Espírito Santo! (assunto este do capítulo
VIII).
CAPÍTULO II
mas quem não crê, já está julgado porquanto não crê no nome do
unigênito filho de Deus (Jo 3:17,18) [Grifos do autor]. Veja ainda
Jo 8:24 e Rm 3:20-23.
O trabalho de convencimento, operado pelo Espírito Santo, visa
primeiramente às pessoas ainda não regeneradas, isto é, aquelas que
ainda não receberam a Jesus como Salvador da sua alma. Contudo isso
também faz parte da experiência do salvo: toda vez que ele comete
qualquer pecado, o Espírito lhe dá consciência do erro. Isto porque O
Espírito Santo mesmo testifica com nosso espírito que somos filhos
de Deus (Rm 8:16). Se somos filhos de Deus, devemos ter um caráter
compatível com o do nosso Pai. Isso leva o cristão a não fugir de medo,
quando peca, e sim a reconhecer que necessita pedir perdão a Deus, co-
mo também lhe dá a certeza de que é perdoado, tornando-se limpo do
pecado cometido.
Finalizando, a incredulidade com relação à obra redentora de Jesus
é o pecado que bloqueia o caminho da salvação, e uma das funções do
Espírito Santo é convencer o mundo desse pecado, mediante a Verdade
Evangélica.
Das igrejas do Novo Testamento, Corinto foi a que mais trabalho deu
ao apóstolo Paulo, por ser a mais complicada, pelas dificuldades que
teve em entender e viver a vida cristã em sua totalidade. Essa igreja não
serve como modelo a ser seguido ou imitado pelos salvos de nenhuma
época, muito menos os da atualidade. Por quê? Por causa dos problemas
(abaixo relacionados) que afligiram aqueles irmãos.
Contendas e divisão da igreja em pelo menos quatro partidos diferentes:
os adeptos de Paulo, Pedro, Apolo e os de Cristo (I Co:11-13).
Carnalidade na forma de sensualidade entre os crentes (I Co 3:1,3).
Infantilidade: agiam como crianças (I Co 3:1).
Incompreensão para com o ministério do Evangelho, e atitudes de
rebeldia ( I Co 3:5 a 4:21).
Fornicação: havia um rapaz que adulterava com a madrasta, e era
tolerado pela igreja. Paulo se declara abismado, porque não conhece
um caso desses, nem mesmo entre os incrédulos (I Co 5:1-5).
Jactância: os coríntios eram jactanciosos e impuros (I Co 5:6).
O Dom de Línguas na Bíblia Significa Idioma • 51
no fato de uma pessoa pronunciar uma língua estranha sem que ninguém
entenda, nem mesmo ela? Paulo também tocou nesse ponto com os
coríntios, ao escrever: Ora, até as coisas inanimadas, que emitem
som, seja flauta, seja cítara, se não formarem sons distintos, como
se conhecerá o que se toca na . flauta ou na cítara? Porque, se a
trombeta der sonido incerto, quem se preparará para a batalha?
Assim também vós, se com a língua não pronunciardes palavras
inteligíveis, como se entenderá o que se diz? Porque estareis como
que falando ao ar (I Co 14:7-9).
Agora me dirijo a você, meu leitor: falando do dom de línguas (idiomas),
esqueçamos por um momento o "emocionismo" (a "língua estranha").
Para que, ou por que razão uma pessoa se levantaria para falar ou pregar
nos cultos da congregação num outro idioma, se não houvesse nenhum
estrangeiro presente? Como os demais irmãos poderiam receber a
mensagem de Deus, ou acompanhar o raciocínio de quem estivesse
falando, se ele usasse um idioma estrangeiro e desconhecido? Com todo
o respeito, mais parece coisa de doente mental, que está em delírio, não
é? Paulo também pensava assim; tanto é que no v. 23 do capítulo 14 ele
pergunta: Estais loucos ? Note que tudo isso se referia ao dom de lín-
guas mal utilizado. Veja: dom de línguas! Imagine a língua estranha!!
Este assunto trouxe um transtorno tão grande àquela igreja, que o
apóstolo ainda apresentou inúmeras razões contrárias a se falar
línguas (idiomas) sem ter quem entendesse, mas principalmente contra
o "falar" a "língua estranha" ("emocionismo"). Esta ele já aniquila
logo no inicio do capítulo 14, no v. 2, quando diz que ninguém entende.
No v.13 ele instrui quem fala essalíngua a orar, para que possa interpretar.
Mas como interpretar algo que ninguém entende? A resposta está clara
no que Paulo dizia: "Parem com isso!..." Nesse mesmo capítulo (14) ele
relaciona vários argumentos contra a língua estranha, e também contra o
mau uso do dom de línguas: Profetizar é mais do que falar línguas, e
deve valer como um ato de amor aos perdidos ( v.1,5).
Profetizar fala aos homens e traz edificação, encorajamento e consolo
para a comunidade (Igreja) (v. 3,4).
O Dom de Línguas na Bíblia Significa Idioma • 57
observe que ele restringiu essa prática a duas pessoas, no máximo três,
mas com a obrigatoriedade de haver quem as interpretasse: Se alguém
falar em língua, faça isso por dois, ou quando muito três, e cada
um por sua vez, e haja um que interprete. Mas se não houver
intérprete, esteja calado na igreja, e fale consigo mesmo, e com
Deus (1 Co 14:27,28). Não havendo intérprete, a pessoa deveria ficar
calada. Óbvio que não haveria intérprete, pois não há como interpretar
a "língua do emocionismo", porque não é idioma (I Co 14:2).
Mesmo com todas essas razões, os carismáticos se posicionam con-
trários, alegando: Paulo mandou que os coríntios "falassem" "línguas
estranhas" e que ninguém os proibisse na igreja. Eles citam os versículos
5 e 39 do capítulo 14: E quero que todos vós faleis línguas, mas
muito mais que profetizeis(...) Portanto, irmãos, procurai com zelo
profetizar, e não proibais falar línguas.
Atente para dois detalhes importantes: primeiro, nestes dois versículos
Paulo estava se referindo ao dom de línguas, cuja ocorrência era muito
rara naquela igreja; segundo, seria uma grande incoerência de Paulo
aplicar pelo menos 12 argumentos contra o falar "língua" (do "emo-
cionismo"), e também contra a má utilização do verdadeiro dom, ins-
truindo ao mesmo tempo os irmãos a permanecerem como antes.
O apóstolo, na realidade, estava aparentemente admitindo, e não
ordenando; ele próprio rejeitou para si falar "língua estranha"; também
não aceitou o uso indevido do verdadeiro dom de línguas (falar noutro
idioma, que os ouvintes não compreendessem).
O ques ocorreu foi o que se chama, em lógica, de argumento "ad
hominem". É a maneira de confundir o adversário, opondo-lhe suas
próprias palavras ou ações, isto é: quando se está discutindo um de-
terminado assunto, para não espantar logo de início o oponente, fala-se:
"Vá lá que seja, admito, concordo em parte..." etc. Então é que se
começa a desenvolver um argumento que desmorone o opositor. (A
visão desse raciocínio devo ao Dr. Delcyr S. Lima, de quem tive o
privilégio de ser aluno na pós-graduação).
CAPÍTULO VI
Vejo agora que nessas reuniões os dirigentes faziam uma forte pressão
emocional, para que as pessoas entrassem num estado de comoção,
imaginando ser o sinal de espiritualidade ou da presença de Deus. Orde-
navam como preparação que os crentes fizessem jejum, e durante a
oração mandavam que os candidatos a ser batizados repetissem con-
tinuamente a palavra "glória, glória, glória", ... sem contar que o lí-
der também ficava gritando no ouvido das pessoas: "Glória, glória,
glória..." até que conseguissem falar uma "meia dúzia de três ou quatro
vocábulos" sem nenhum sentido. Pronto! Dessa forma estariam "batiza-
das no Espírito Santo".
Que absurdo! Quanto misticismo na forma de fanatismo confundido
com fé! É por isso que nunca consegui receber esse tipo de língua; ao
contrário, sempre achei que algo estava errado ...
Em relação ao "Glória, glória, glória", diziam que era para glorificar a
Deus. Isso não faz sentido, porque a finalidade principal era receber a
"língua estranha". Glorificar a Deus exige muito mais do que um simples
"glória". O que realmente ocorre é uma auto-indução psíquica que leva
as pessoas ao descontrole emocional na forma de "emocionismo".
Outro aspecto a ser observado é a afirmação dos pentecostais de
que a oração em língua estranha é a oração perfeita. No entanto nosso
Senhor ensinou justamente o contrário, ao dizer: ...e orando, não useis
de vãs repetições, como os gentios; porque pensam que pelo muito
falar serão ouvidos (Mt 6:7, p.7, 1998). A frase não useis de vãs
repetições, no grego battalogesete, referia-se a um tipo de súplica de
qualquer qualidade de fala ininteligível durante a oração. O verbo consiste
em batta, que não é uma palavra com significado, mas uma sugestão
onomatopaica (palavra que imita a coisa significada) do som produzido;
e logeo, que significa falar.
Outras palavras com a mesma relação são gago (battalos) e gaguejar
(battaridzo). No entanto, nesse contexto Jesus não se refere ao mero
defeito de falar, e sim à repetição de sons ininteligíveis. Não foi isso que
Paulo condenou em I Coríntios, 14:9,11,19, ao se referir a "língua do
emocionismo".
62 • A Ação do Espírito Santo nas Igrejas
tem muito poder", "Na minha igreja se expulsam mais demônios"; "Nossa
denominação é a melhor!"...
O fenômeno de língua provoca um fato social relevante por causa da
falta de conhecimento bíblico. Esse fato social levou os pentecostais a
usá-lo como o padrão, o ideal da vida cristã. Passaram também a tra-
balhar todo o seu "marketing" em função da "língua do emocionismo".
Chegam mesmo a afirmar que há um retorno ao Pentecostes, e que a
manifestação dessa língua é um dom sobrenatural.
O povo, sem conhecer as Escrituras, assiste a esse acontecimento, e
acredita que é dom do Espírito Santo. O resultado é que o movimento
carismático segue como bola de neve, descendo morro abaixo, ou seja:
crescendo e sem controle. A verdadeira santificação por meio da ple-
nitude, com o fruto do Espírito, é esquecida. Prova disso é a ocorrência
de pessoas nas igrejas carismáticas que "falam língua", e minutos depois
estão falando mal da vida alheia. Muitos se perguntam: Como pode isso
acontecer? É simples: essa "língua" não é o dom de línguas, nem é sinal
de espiritualidade; ao contrário: é sinal de infantilidade e ignorância
espiritual (I Co 12:1).
Vou apresentar ainda, para uma maior fixação, dois exemplos simples
de como o meio influencia as emoções do ser humano: quando entramos
num ambiente de forte comoção, onde todos estão chorando (p. ex.,
num funeral), sentimos logo vontade de chorar também. Isso acontece
porque o ambiente exerce uma coerção natural sobre o indivíduo. A
questão é que algumas pessoas são mais suscetíveis que outras, sendo
facilmente levadas ao desespero, ao descontrole emocional, reagindo
com desmaios, gritos e pânico... O segundo exemplo é um concerto
musical de rock, onde algumas moças, naquela emoção e excitação, no
fervor do barulho, entregam literalmente o "controle" de suas cordas
vocais e de seus músculos ao "estado de emocionismo". Caem no chão
e simplesmente desmaiam.
O mesmo acontece num culto saturado pelo forte "emocionismo",
cada vez mais incentivado por seus líderes. O resultado é uma comoção
generalizada em quase todos os presentes. Esse estado de descontrole
emocional leva as pessoas a gritar, suspirar, pular, achando que estão
glorificando a Deus com altos brados de "aleluias", "louvado seja Deus",
"glória a Deus" e "amém".
Os pentecostais, em sua inocência teológica, acreditam que toda
aquela "alegria" é o derramamento do poder de Deus, e afirmam que o
fogo está caindo. Nesse estado de comoção, alguns começam a ter
"visões", "revelações" e também, é claro, o mais comum é passarem a
pronunciar os tais sons sem sentido, a "língua estranha" (do "emocio-
nismo"). Esses fenômenos ocorrem porque aqueles irmãos não com-
preendem o que realmente está acontecendo, por faltar-lhes o devido
conhecimento bíblico sobre a forma de atuação do Espírito Santo.
Obviamente muitas pessoas, mesmo sendo crentes fiéis, e de certa
autodisciplina, nunca conseguiram nem conseguirão falar a "língua do
emocionismo", nem chegarão a ter as "visões", visto que se alimentam
da fé bíblica, não se deixando levar pelo descontrole emocional. Contudo
o triste e doloroso é que muitas vezes esses irmãos são inferiorizados
pelos demais, sendo considerados "crentes de segunda classe". Na
maioria das denominações pentecostais um membro só pode ser
66 • A Ação do Espírito Santo nas Igrejas
experimenta a fé quando vê, ouve ou sente algo. Digo vê, ouve, e sente
porque as línguas estranhas, as visões e outras coisas estão presentes
nesses cultos, não como ação do Espírito Santo, conforme já demonstrei,
mas sim como conseqüência de um distúrbio emocional denominado
"emocionismo". Tudo começa com o "batismo do Espírito Santo" da
forma carismática, a doutrina-chave do pentecostalismo. Sua principal
característica, que a destaca das outras denominações, é que a pessoa,
ao se tornar crente, deve buscar com diligência o "batismo do Espírito".
Ao conseguir, ela experimenta como primeiro sinal o falar em línguas
estranhas. Algumas vezes esse "batismo" também é acompanhado de
"visões", "lampejos emocionais", "euforia"... O ensino dessa experiência
pós-salvação abre as comportas para a crença de que o cristianismo,
vivo é uma experiência após a outra. Isso cria nas igrejas uma espécie
de competição para ver quem tem a experiência mais espetacular, sem
limites.
Existem discos cuja gravação é de irmãos que afirmam haver sido
arrebatados em espírito até o céu e voltado para contar a história. Outros
dizem que morreram, foram até o céu e ressuscitaram. Quanto absurdo,
por desconhecerem os ensinos bíblicos do nosso Senhor! Ele afirma em
Mateus que a pessoa que está no céu não pode mais voltar para a Terra
(parábola do rico e Lázaro).
Irmão, deixemos de lado as "experiências", fiquemos com os ensinos
da Palavra de Deus, e pratiquemos a verdadeira fé, a certeza daquilo
que esperamos e a prova das coisas que não vemos.
CAPÍTULO VII
de ler a Bíblia. Quando oram o fazem por obrigação, não pela alegria de
serem filhos de Deus.
Irmãos, como seria diferente nosso Brasil e o mundo, se os salvos se
despissem dos seus egoísmos, formalismos, farisaísmos, "emocionismos",
e se deixassem encher do Espírito de Deus. Nós, os crentes, seríamos
mais unidos, fraternos, e teríamos mais poder para evangelizar, para
arrancar os perdidos das garras de Satanás. E Deus atuaria com maior
freqüência em nosso meio.
O apóstolo nos exorta a entregar o controle da nossa vida ao Espírito
Santo, recomendando-nos no mesmo instante a não nos embriagar com
o vinho: E não vos embriagueis com o vinho, no qual há devassidão,
mas enchei-vos do Espírito (Ef 5:18).
Aquele que se embriaga é controlado e dominado pela bebida; o poder
do álcool sobrepuja suas atitudes e capacidades normais. Quando vemos
alguém nessas condições, dizemos: "Ele está sob a influência do álcool".
Esse quadro traduz, de maneira figurada, o que é ser cheio do Espírito:
é estar sob a influência do Espírito. Em vez de se fazer o trabalho de
Deus estribado apenas na capacidade própria, ele dá o poder para a
realização. Em lugar de fazer somente aquilo que quer, o salvo é agora
guiado por ele.
No prédio em que moro há uma grande cisterna, que recebe água
permanentemente da empresa fornecedora (CEDAE). Por essa razão,
ainda que os moradores consumam bastante água, a cisterna está sempre
cheia, pois a tubulação que a alimenta nunca seca. Este é, literalmente, o
significado de ...ser cheio do Espírito. O salvo realiza o trabalho de Deus
sem se cansar nem se desesperar diante dos embates da vida, porque vai
sendo continuamente abastecido com o poder do Espírito Santo.
Todos os cristãos devem ser cheios do Espírito Santo. Ser cheio do
Espírito é ser controlado; é viver a presença do Espírito Santo.
Estudamos, no capítulo II, que o objetivo maior do Espírito Santo é
glorificar a Cristo e torná-lo real para nós (Jo 16:14). Logo, sermos
cheios do Espírito Santo também significa que somos controlados por
A Plenitude do Espírito Santo • 79
Quando permitimos que o Espírito Santo atue em nós, ele nos mostra
qual a melhor forma, método e hora para evangelizarmos. Afinal, nosso
Deus pode tirar água até do deserto.
e. Autoridade para repelir a oposição satânica
Vivemos numa época em que o misticismo, o esoterismo e o espiritismo
estão sendo muito divulgados nos grandes meios de comunicação, por
intermédio de certos "videntes", que se dizem em condições de "prever"
o futuro, "realizar" curas e outras coisas mais.
Paulo enfrentou um mágico chamado Elimas, na ilha de Chipre, que
estava impedindo o procônsul romano de se tornar cristão. Paulo, cheio
do Espírito Santo, fitando os olhos nele, disse: Oh, filho do Diabo,
cheio de todo o engano e de toda a malícia, inimigo de toda a jus-
tiça, não cessarás de perverter Os caminhos retos do Senhor? Agora
eis a mão do Senhor sobre ti, e ficarás cego, sem ver o sol por al-
gum tempo. Imediatamente caiu sobre ele uma névoa e trevas e,
andando à roda, procurava quem o guiasse pela mão. Então o procôn-
sul, vendo o que havia acontecido, creu, maravilhando-se da dou-
trina do Senhor (At13:4-12). Essa capacidade dada pelo Espírito Santo
aos salvos é muito apropriada hoje, à vista do presente reavivamento
do demonismo. Existem casos de pessoas não salvas, que realmente
ficam possessas, incorporando demônios. Não será lhes batendo com
uma Bíblia na cabeça, nem jogando água "benta", nem usando um sim-
ples crucifixo ou qualquer outro talismã, que se irá repelir esses demônios.
Somente com o poder da plenitude do Espírito Santo de Deus em nós
poderemos expulsá-los.
Com os salvos essas possessões demoníacas são impossíveis de acon-
tecer, porque eles já têm a marca do Espírito Santo (Ef 1:13), e ... sa-
bemos que todo aquele que é nascido de Deus não vive pecando;
antes o guarda aquele que nasceu de Deus, e o maligno não o toca
(I João, 5:18, p.229).
8.2.2. Virtudes
Quando o crente se coloca à disposição do Espírito Santo parareceber
A Plenitude do Espírito Santo • 83
que é preciso beber: Se alguém tem sede, venha a mim e beba. Quem
crer em mim, como diz a Escritura, do seu interior correrão rios de
água viva (Jo 7:37, 38). Nestes versículos os verbos beber e crer têm
o mesmo sentido. Beber é a figura de crer. Indica que a fé, pela qual se
adquire ou se recupera a bênção da plenitude do Espírito, pode ser
compreendida melhor com o exemplo de beber. Fisicamente, quando
bebemos água nós nos apropriamos do seu valor para benefício do
nosso corpo, pois água nos dá vida.
Da mesma maneira acontece no terreno espiritual. Jesus nos passa
esta figura: Quando bebemos espiritualmente, isto é, quando cremos em
Jesus pela fé, somos perdoados e mais uma vez abastecidos com a
plenitude do Espírito Santo. Aceitando isso como um fato consumado,
considerando que já temos as três primeiras condições (ser salvo, ter
sede espiritual, e recipiente limpo), devemos nos entregar às mãos de
Deus, crendo nas promessas de Jesus. Certamente a plenitude do Espí-
rito estará sendo restabelecida em nós. Aproveitemos esta maravilhosa
graça que Deus nos oferece, buscando cada dia mais esse enchimento
com o Espírito Santo, que é viver na plenitude do Espírito.
Portanto, há um só batismo no Espírito Santo, e este só acontece quan-
do a pessoa aceita a Jesus como seu Salvador. Existem vários enchimentos
com o Espírito, tantas vezes quantas nos dispusermos a fazer a vontade
de Deus em nossa vida.
Na vida cristã, o mais importante é a plenitude do Espírito, porque
esta significa viver no centro da vontade de Deus, tornando-nos cada
vez mais parecidos com Jesus. Logo, quanto mais espirituais nos tor-
namos, mais parecidos com ele seremos. Portanto, o sinal que demonstra
a espiritualidade de uma pessoa não são seus dons, e sim o fruto que o
Espírito Santo nela produz. Busquemos, pois, este precioso caráter em
nossa vida.
CAPÍTULO IX
uma expressão externa de culto. É por isso que atos religiosos, como
por exemplo "distribuir todos os bens entre os pobres", "entregar o
próprio corpo para ser queimado" (I Co 13:1-3), sem expressar o amor
como fruto do Espírito, não têm nenhum valor.
Deus. Em relação à linguagem, esse dom era tão perfeito que trazia
juntamente consigo até o sotaque característico da região em que
estivesse sendo falado. Mas esse dom foi considerado por Paulo o menos
importante, em relação aos demais. Uma leitura minuciosa nos capítulos
12 a 14 de I Coríntios mostra que Paulo restringiu e desencorajou seu
uso, salientando também que seria um dom transitório: ...havendo
línguas, cessarão (...)(I Co 13:8). Foi um dom para marcar (inaugurar)
a descida do Espírito Santo.
A Bíblia mostrou que o dom de línguas não pode ser identificado
como um sinal de que a pessoa haja sido batizada no Espírito Santo; as
línguas foram um sinal para os incrédulos. O sinal visível do batismo no
Espírito Santo é o fruto do Espírito, que mostra a mudança de caráter
no homem, pois reproduz nele o caráter maravilhoso de nosso Senhor
no momento de sua conversão. Essa transformação é tão forte que a
pessoa muda de vida. É uma nova criatura, recebendo de Deus o poder
para testemunhar, para realizar seu trabalho, como aconteceu com os
apóstolos. É maravilhoso o plano de Deus para seus filhos!
Quanto ao fenômeno que atualmente ocorre entre os pentecostais,
não é possível identificá-lo como o dom de línguas dos escritos do Novo
Testamento, porque aqueles eram idiomas, com um propósito definido;
os de hoje são sons sem sentido algum e não têm sustentação bíblica
para seu uso. A Bíblia é contra o emprego de fala extática, por trazer
confusão e falta de compreensão (entendimento). Esse tipo de "língua",
ou melhor, essa língua estranha, é resultado do "emocionismo".
"Emocionismo" é o deleite excessivo em emoções" (Michaelis,
p.784,1998). É um exagero no fato de mostrar ou exibir as emoções.
Tenho absoluta certeza de que essas manifestações são provocadas, em
sua maior parte, pelo desvio da emoção individual ou coletiva. Observe,
por exemplo, a forte comoção instaurada nos cultos carismáticos. Há
também aqueles que "falam a língua estranha", o que não vale como
"emocionismo", posto que isso é feito por imitação, fraude, e numa
reduzidíssima minoria, por influência maligna. Seja como for, nenhuma
Conclusão • 103
Para receber essa plenitude o salvo precisa ter sede espiritual, limpar
o recipiente (sua vida) mediante reconhecimento dos seus pecados,
confessando-os a Deus. Finalmente ele deve entregar-se a Deus, apro-
priando-se, pela fé, da plenitude do Espírito Santo.
É interessante observar que quando exercemos os dons do Espírito
Santo, edificamos a Igreja. Quando somos enchidos pelo Espírito Santo,
o fruto produzido em nós nos abençoa individualmente, de forma que o
dom abençoa a Igreja, e o fruto do Espírito abençoa o indivíduo. O dom,
em alguns casos, pode até ser imitado pelo diabo, mas o fruto jamais,
porque este é a reprodução do caráter do nosso Senhor Jesus Cristo em
nós, os salvos. Busquemos, pois, a Plenitude do Espírito Santo para a
nossa vida. Amém!
Bibliografia
. A Túnica Inconsútil
João Falcão Sobrinho
. Curando as Feridas
Edson Martins
. Favela Violenta
Macéias Nunes
. Grandes Verdades Sobre o Espiritismo
Reginaldo Pires Moreira
. Há Um Menino na Rua
Jilton Moraes
. Maldição Hereditária
Delcyr de Souza Lima
. Perseguidos, Mas Não Desamparados
Zaqueu Moreira de Oliveira
. Quando Cristo Marca Sua Vida
Almir dos Santos Gonçalves Júnior
. Quando Falta o Pastor
Almir dos Santos Gonçalves Júnior
. Quando Chega o Reino de Deus
Almir dos Santos Gonçalves Júnior
. Quando o Púlpito Perde o Poder
Almir dos Santos Gonçalves Júnior
. Terapêutica Diaconal
Irysson da Silva
. Você Pode Falar Melhor
Noélio Duarte
2. Na Área da Literatura Periódica:
. Atualidades
Série de 13 lições sobre 4 temas da atualidade para serem utilizados pela
igreja em classes alternativas, grupos específicos, estudos bíblicos nos
lares.
. Pontos Salientes
Estudos devocionais diários, acompanhando as leituras diárias das
lições para adultos e jovens nas revistas "Compromisso" e "Atitude" para
a Escola Bíblica Dominical.
. A Monarquia em Israel
É o primeiro número da série "Como a Bíblia nos fala Hoje". É mais um
lançamento JUERP para o aprimoramento e desenvolvimento da Escola
Bíblica Dominical. A cada trimestre a JUERP lança um novo título alusivo
ao tema em estudo pela grade curricular das revistas dos jovens e adultos.
Reedição
. Geografia Bíblica
Oswaldo Ronis