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A AÇÃO DO

Wilson Franklim
NAS IGREJAS A AÇA() DO
Vivemos dias de misticismo exagerado. Os tempos de final/início de
século e de milênio que estamos atravessando suscitam sempre muitas
indagações e questionamentos.

No meio evangélico, as interpretações sobre a atuação da igreja de


Cristo e a ação do Espírito Santo nela se multiplicam.

Novas seitas, grupos religiosos e mesmo religiões, aparecem e


Espírito
Santo
desaparecem. Defendem com veemência seus pontos de vista e se
colocam ao alcance da mídia, que passa a conviver com o "fenômeno" do
crescimento das igrejas evangélicas em seu meio.

Este movimento, chamado de neopentecostalismo, tem abalado as


P mesmo as que já se diziam
igrejas evangélicas ditas "tradicionais",
"pentecostais".

A obra que a JUERP edita neste volume pretende trazer, para o nosso
povo, uma palavra de alerta, de expectativa e de orientação. Esperamos
que nossas igrejas, através desta leitura, se posicionem com mais
segurança e clareza diante desses transtornos.
NAS IGREJAS
•MIE.-11E4F- -
Nossa oração é que a presente obra seja uma bênção para todos que, (03

com sinceridade, desejam conhecer e experimentar a presença


consoladora do Espírito Santo e de sua plenitude. Descobrindo a
verdadeira obra do
Espírito Santo na
Igreja de Cristo hoje

ISBN 85-350-0145-X

11 11111 1
9 788535 001457
A Ação do
Espírito Santo
nas Igrejas
Wilson Franklim

A Ação do
Espírito Santo
nas Igrejas

JUERP

Rio de Janeiro
©Wilson Franklin, 2001

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JUERP — Junta de Educação Religiosa e Publicações
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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ, Brasil)

F915a
Franklin, Wilson
A Ação do Espírito Santo nas Igrejas/Wilson Franklin.
Rio de Janeiro: JUERP, 2001
Inclui bibliografia
ISBN 85-350-0145-X
1. Espírito Santo — 2. Espírito Santo — divergências entre cristãos históricos
e pentecostalistas . I. Título.

CDD 231.3
Dedico esta obra a todos que confiam
e seguem unicamente a Bíblia como a
Palavra Eterna de Deus
Sumário
Agradecimentos 11

Prefácio 13
Apresentação 15
Introdução 17

CAPÍTULO I
A Fé Bíblica e suas Distorções pela Influência do Misticismo
1 .1 . Fé 21
1.2. Superstição 22
1.3. Fanatismo 23
1.4. Devemos viver por fé e não por vista 25

CAPÍTULO II

O Propósito do Espírito Santo


2.1. Convencer o mundo do pecado 29
2.2. Guiar o crente a toda a Verdade 30
2.3. Glorificar a Jesus 31

CAPÍTULO III

O Batismo no Espírito Santo


3.1. Foi uma promessa de Jesus 33
3.2. Seu significado para o Cristianismo 33
3.3. A diferença entre o dom do Espírito Santo e
dons do Espírito Santo 36
3.4. Condições estabelecidas por Jesus para que os discípulos
recebessem o Espírito Santo 38
CAPÍTULO 1v

Hoje, Quando o Salvo é Batizado no Espírito Santo 41

CAPÍTULO V

O Dom de Línguas na Bíblia Significa Idiomas


5.1. O dom de línguas como sinal 47
5.2. A diferença entre emoções e emocionismo 48
5.3. Os dois fenômenos de línguas em Corinto 50
5.3.1. O primeiro fenômeno de língua em Corinto 52
5.3.2. O segundo fenômeno de língua em Corinto 55

CAPÍTULO VI

O Fenômeno de Língua Estranha na Atualidade


6.1. Por causa da magnitude imposta ao fenômeno
pelos pentecostais 62
6.2. A pressão que o ambiente exerce sobre as pessoas 63
6.3. A questão da experiência pessoal 69

CAPÍTULO VII

O Fenômeno de LinguaEstranha nas Religiões não Evangélicas


7.1. Relatos históricos de acontecimentos antes da era cristã 73
7.2. Ocorrências no século XX 74

CAPÍTULO VIII

A Plenitude do Espírito Santo


8.1. O significado de ser cheio do Espírito e
ficar cheio do Espírito 79
8.2. O propósito de ficar cheio do Espírito 80
8.2.1. Capacidades 80
8.2.2. Virtudes 82
8.3. Como receber a Plenitude do Espírito 85
8.3.1. Para sermos cheios do Espírito, é preciso ter sede espiritual 86
8.3.2. É preciso limpar o recipiente 88
8.3.2.1. Os dois pecados que o crente comete 88
8.3.2.2. O que nós os salvos, devemos fazer para nos corrigir 89

CAPÍTILO IX
A Questão das Divergências
9.1. Entre evangélicos históricos e evangélicos pentecostais 93
9.2. O problema da infiltração 94
9.3. O que está faltando hoje no meio cristão 94
9.4. O que deve mudar nos cultos evangélicos históricos 96
9.4.1. A atitude 96
9.4.2. A sacramentação do formalismo ou da espontaneidade 97
9.4.3. Manter o equilíbrio entre a forma e a liberdade 98
9.4.4. Fazer uma atualização da forma 98

Conclusão 101
Bibliografia 105
Agradecimentos

A Deus pela inspiração,


A minha querida esposa
Vera Lúcia Nunes Franklim,
Aos meus queridos filhos, Tatiany, Elen Franklim,
Wilson Franklim Filho, pelo companheirismo, e compreensão pelo
tempo que deixo de estar com eles,
para estar no serviço de Deus.
Aos meus pais,
Leotilde Franklim de Vasconcelos
e Pedro Cabral de Vasconcelos,
por me terem mostrado o caminho
do Céu, sendo eu ainda menino.

Ao meu grande amigo, incentivador,


Fibrônio José Cristino
pelas orações.
A irmã Márcia Barros Soares de Souza,
que, tão bondosamente, fez as
correções de ortografia.
Prefácio

Louvamos a Deus por diversos autores que escrevem livros escla-


recedores e edificantes sobre a doutrina bíblica do Espírito Santo. O
apóstolo Paulo escreveu: "Ora, a respeito dos dons espirituais, não quero
irmãos, que sejais ignorantes."(I Co 1 2: 1). Ainda hoje, como em Corinto,
o desconhecimento da doutrina do Espírito Santo tem levado muitos
crentes e igrejas a atitudes e práticas perniciosas ao Reino de Deus. É
principalmente neste contexto que ressaltamos o valor e a necessidade
de obras como esta.
Além da boa exposição bíblica, fruto do amor do autor pela Palavra de
Deus, e de sua formação acadêmica (Wilson Franklim é pós-graduado
em Novo Testamento pelo Seminário Teológico Batista de Niterói),
também transparecem nas páginas deste livro o conhecimento de "pri-
meira mão" de quem possui um passado pentecostal.
Todos os capítulos são relevantes. Contudo, não poderia deixar de
ressaltar o senso de oportunidade do autor ao incluir também a abor-
dagem às questões do último capítulo, tão importantes para a elabo-
ração de estratégias bíblicas e amorosas que evitem a infiltração de
doutrinas e práticas distorcidas em nosso meio.
Certamente este livro será mais um instrumento para esclarecimento
e edificação do povo de Deus. Deve ser lido com a mente aberta e a
devida atenção aos textos bíblicos. Que Deus continue a orientar e abençoar
Wilson Franklim na obra de edificação doutrinária que se propôs a realizar.

Dalton de Souza Lima


Pastor Adjunto da Igreja Batista em Icaraí
Professor do Seminário Teológico Batista de Niterói
Apresentação

Foi com grande emoção que li este livro escrito por Wílson Franklim,
sobre a pessoa e obra do Espírito Santo, por alguns motivos bem com-
preensíveis.
Primeiro, pela obra em si, escrita em linguagem simples e acessível a
todos os que se interessam pelo estudo da Bíblia e, particularmente,
pela doutrina do Espírito Santo. Tem havido um certo distanciamento
por parte dos comentaristas sobre esta doutrina. Uns a consideram difícil;
outros, demasiadamente arriscado aprofundar-se no assunto. Proce-
dendo desta maneira, temos estado em posições extremadas e acabamos
por ignorá-la, com prejuízos incalculáveis à nossa maturidade cristã.
Outro fator a considerar é que em função de interpretações particulares
de muitos segmentos evangélicos, notadamente, na área dos dons es-
pirituais, muitos se omitem para não serem confundidos com simpa-
tizantes dos chamados movimentos pentecostais que deturpam a pureza
da doutrina da Terceira Pessoa da Trindade.
Creio, firmemente, que como filhos de Deus somos o templo do
Espírito Santo, temos recebido o seu batismo no ato de nossa conversão
e não há nenhum motivo para nos sentirmos inferiorizados diante daqueles
que se sentem como únicos depositários ou beneficiários da obra do
Espírito Santo. Temos de levantar nossas cabeças e, com intrepidez, to-
marmos posse plena da bênção que o Senhor nos tem dado, a partir de
nosso novo nascimento, e, aí sim, nos esforçarmos para produzir o fruto
do Espírito, conforme Gálatas 5:22-25, sem medo de sermos as pessoas
mais bem-aventuradas desse mundo.
Em segundo lugar, pelos laços de amizade que nos une há longos
anos, na qualidade de seu pastor por um considerável período de tempo,
na época que pastoreava a Primeira Igreja Batista de Campo Grande,
no Rio de Janeiro.
O Dr. Wilson Franklim, formado em Engenharia Química, empresário
bem sucedido, bom pai e esposo da irmã Vera Lúcia Nunes Franklim,
não se deteve nesse nível de instrução. Foi além, e fez o curso de teologia,
com brilhantismo e, ainda, com o mesmo impacto de participação, acaba
de escrever este livro tão bem elaborado e, didaticamente, ao alcance
do nosso povo, em linguagem simples, sem, entretanto, prejudicar seu
estilo e seriedade.
Nossa oração é que a presente obra seja uma bênção para todos
que, com sinceridade, desejam conhecer e experimentar a presença
consoladora do Espírito Santo e de sua plenitude "até que todos che-
guemos à unidade da fé, e ao conhecimento do Filho de Deus, a varão
perfeito, à medida da estatura completa de Cristo. Para que não sejamos
meninos inconstantes, levados em roda por todo o vento de doutrina,
pelo engano dos homens que com astúcia enganam fraudulosamente.
Antes, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é
a cabeça, Cristo" (Ef 4:13-16).
Parabéns, irmão Dr. Wilson Franklim, e que o Deus de glória o en-
riqueça com muitas e escolhidas bênçãos e a sua família, na expectativa
de outras produções literárias em futuro bem próximo.

Rio de Janeiro, 16 de julho de 1999


Pr. Belardim de Amorim Pimentel
Secretário Geral da Convenção Batista Carioca
Introdução

Meu interesse pela teologia vem desde o começo de minha vida cristã.
Sempre gostei de estudar a Bíblia. Quando Deus me confirmou seu
chamado para o ministério da teologia, assumi com ele dois compro-
missos: expressar sempre sua Verdade, independente de quem estivesse
ouvindo, e esforçar-me para comunicar a sua mensagem na "língua do
povo", para haver compreensão.
Ao escrever este livro procurei caminhar nessa direção. Em vista disso
fiz o possível para utilizar uma linguagem acessível a todas as pessoas,
do mais simples ao mais culto. Todavia, devido ao tema, foi necessário
usar até neologismos, a fim de explicar melhor os fatos.
Nasci num lar cristão da linha pentecostal, onde permaneci até os
14,15 anos de idade. Durante muitos anos vivi um dilema, porque sendo
salvo desde a infância, nunca conseguira receber "o dom de língua" e
"profecia", conforme ensinado naquela igreja.
Por discordar do sistema de governo oligárquico e imperialista daquela
denominação, e também de algumas doutrinas, principalmente quanto
ao modo de celebração da Ceia, que naquela época ainda adotava o
sistema de cálice único (hoje é usado o cálice individual), e por outras
razões próprias da adolescência, afastei-me um pouco da igreja, e assim,
por minha própria e livre iniciativa não cheguei a ser batizado ali.
Aos 18 anos decidi me filiar à Igreja Batista Filadélfia, onde fui batizado
- e graças a Deus permaneço na denominação. Digo isso porque precisei
me transferir de uma igreja batista para outra, por mudança de residência.
Atualmente sou membro da Primeira Igreja Batista de Vila Comari.
Desde quando fui batizado na Filadélfia, começou em meu íntimo um
18• A Ação do Espírito Santo nas Igrejas

profundo desejo de estudar a doutrina do Espírito Santo, de forma a


elucidar principalmente a questão das "línguas", com a revelação bíblica.
Em 1991 ingressei no curso de bacharel em Teologia, e em 1995 na
pós-graduação em Novo Testamento, curso que concluí em 1997, pelo
Seminário Batista de Niterói, onde pela graça de Deus obtive o primeiro
lugar. Agora, aos 40 anos, escrevo este livro como resumo conclusivo
do que Deus me tem revelado em todos esses anos de pesquisa.
Sinto-me gratificado, e sou muito agradecido a Deus por tudo que fez
em minha vida. A ele devo tudo que sou e tenho, em especial minha
querida família.
A finalidade desta obra não é condenar as opiniões divergentes, e sim
dar ao povo de Deus uma tese bíblica, para oferecer soluções de enten-
dimento sobre o assunto, à luz do Novo Testamento.
Isto é importante porque certos grupos, lamentavelmente, ao focalizarem
em demasia suas atenções no Espírito Santo, em detrimento de Jesus,
tendem a esquecer os ensinos do Mestre, quanto ao propósito e à obra
do Espírito Santo, ao mesmo tempo que deixam de seguir a Bíblia para
seguirem "visões e revelações" de pessoas que se intitulam "profetas" e
"profetisas". Isso causa grande confusão para as igrejas de Cristo.
A mais grave conseqüência desse desvio está em levar as pessoas a
confundir a verdadeira fé bíblica, evangélica, com suas contra:fações,
que são a superstição e o fanatismo, o que representa grave perigo
(...) para a saúde espiritual e mental de seus seguidores (Lima, p.17).
Contudo, toda essa controvérsia está ligada à forma de atuação do
Espírito Santo no meio do povo de Deus. Na realidade, todos os evan-
gélicos, em sua maioria, crêem no Espírito Santo como sendo a terceira
pessoa da Santíssima Trindade, e que ele é Deus.
Quase todos sabem que o Espírito Santo identifica e caracteriza uma
comunidade cristã como Igreja de Cristo, em todos os aspectos da sua
natureza, atuação e significado. É importante também compreender que
a nova vida criada por Jesus é tão forte, tão diferente, que não é apenas
uma nova religião; é a presença constante de Deus em nosso coração. É
Introdução • 19

a Santíssima Trindade conosco, permanentemente, mediante a presen-


ça do Espírito Santo. E foi em razão dessa Boa-Nova, essa maravilha
trazida por Jesus Cristo, que escrevi este livro, para que todos possam
ter uma compreensão clara da forma de atuação do Espírito Santo na
vida cristã.
Minha obra começa analisando a fé bíblica e suas distorções, pela
influência do misticismo. Também identifica o propósito do Espírito
Santo. Explica o que é o batismo no Espírito Santo, quando o salvo é
batizado, o que o salvo ganha com esse batismo, e que espécie de línguas
foram distribuídas no Pentecostes.
Eu me pergunto hoje se as línguas atuais são um sinal de se haver
recebido o batismo no Espírito Santo ou o enchimento com a sua Ple-
nitude. Procuro responder a algumas questões como: Qual o valor das
"experiências extra Bíblia"? O que vem a ser a Plenitude do Espírito? O
que é ser cheio do Espírito? Como se pode identificar uma pessoa cheia
do Espírito? Como ser cheio do Espírito Santo de Deus? Finalmente, as
recomendações e conclusões.
As palavras pentecostalista, carismático, e pentecostal são usadas
como sinônimas e representam os segmentos denominacionais que crêem
que o batismo no Espírito Santo se dá numa "experiência" pós-salvação,
como uma segunda bênção, sendo ele sempre acompanhado do "dom
de línguas". Os neo-pentecostais são grupos pentecostalistas indepen-
dentes, que têm se formado recentemente. Sua ênfase está em focalizar
tudo nas guerras espirituais e na prosperidade terrena.
Respectivamente, também, salvo(a) e crente são sinônimos, signi-
ficando aquela pessoa que recebeu, pela fé, Jesus Cristo como único
Senhor e Salvador de sua alma. Quando uso apalavra língua, no singular,
que não seja para designar o orgão fonador, estou referindo-me a um
tipo de língua extática, sem nenhum sentido. Já a palavra línguas, no
plural, refere-se a idiomas.
CAPÍTULO I

A Fé Bíblica e suas Distorções


pela Influência do Misticismo
- Superstição e Fanatismo -

Grande parte dos desvios doutrinários deste século nasceram de uma


compreensão da fé baseada no misticismo, seja pelo fanatismo, seja
pela superstição, razão por que este capítulo se faz necessário dentro
do assunto.
Na vida cristã, a Bíblia é o padrão. Toda vez que esse referencial é perdido,
a direção doutrinária estabelecida por Jesus Cristo é alterada; perde-se o
rumo dos propósitos de Deus para seus filhos. As conseqüências dessa
perda de rumo são sempre negativas e nocivas ao Reino. É uma espécie de
contaminação, uma mancha na vida espiritual de seus seguidores.
O misticismo entra nas igrejas de forma tão parecida com a fé, que
chega a enganar e confundir muitos cristãos. Quanto maior a capacidade
de a mentira se passar por verdade, maior seu poder de destruição. Mas
contra esse mal existe um único antídoto: a Palavra de Deus, a Bíblia.

1.1. Fé

A verdadeira fé bíblica é o firme fundamento das coisas que se


esperam, e aprova das coisas que se não vêem (Hb 1 1 :1 )[Grifos do
autor]. Ou seja, das coisas que se esperam, porque são provenientes
das promessas de Deus reveladas nas Escrituras. Logo sua base é a
confiança nessas promessas, as quais constituem a nossa esperança.
22 • A Ação do Espírito Santo nas Igrejas

Já a palavraprova, no original grego, tem o significado de título de


propriedade. Portanto, fé é uma convicção firme, profunda, alicerçada
nos propósitos e no caráter de Deus, revelados nas Sagradas Escrituras.
É uma convicção sobrenatural, que se fundamenta exclusivamente na
Bíblia, a Palavra Eterna de Deus.
A fé não se baseia na vaidade dos nossos sentidos, ou em fábulas artifi-
ciais. Não é uma fantasia criada em nossa mente. No entanto ela é uma
confiança baseada na revelação de Deus mediante sua Palavra, a Bíblia.
Porque não vos fizemos saber a virtude e a vinda de nosso Senhor
Jesus Cristo, seguindo fábulas artificialmente compostas; mas nós
mesmos vimos a sua majestade (II Pe 1:16). O apóstolo João também
confirma que a nossa fé não provém de fábulas, nem de fantasias, mas
nasceu da realidade vivida pelos apóstolos, cujos relatos estão presentes
nos escritos bíblicos: O que era desde o princípio, o que vimos com
os nossos olhos, o que ternos contemplado, e as nossas mãos tocaram
da Palavra da Vida (...) o que vimos e ouvimos, isso vos anun-
ciamos, para que também tenhais comunhão conosco (1 Jo 1:1,3)
[grifos do autor].
O misticismo tem exercido uma influência maléfica sobre a fé, porque
distorce e desvirtua a natureza da revelação de Deus nas Escrituras, para
colocá-las em pessoas que se dizem "profetas", que têm "visões", que
pensam que podem fazer "sinais e prodígios", ou que falam língua
"estranha".
A confusão se estabelece porque a confiança é o elemento predo-
minante, tanto na fé como no fanatismo ou na superstição. Por esta razão
o presente estudo identificará o fanatismo e a superstição, mostrando
suas diferenças da fé bíblica, para que se possa separar o joio do trigo.

1.2. Superstição

É a atitude da pessoa que deposita sua confiança em algo que não


existe, ou, mesmo que exista, é ineficaz. Exemplos: quando alguém de-
posita sua confiança em entidades místicas como duendes, os orixás
A Fé Bíblica e suas Distorções pela Influência do Misticismo • 23

dos macumbeiros, iemanjá, e ninfas. Sabemos pela Bíblia que estas coisas
só existem na mente das pessoas que nelas confiam.
Outra forma de superstição se dá quando as pessoas depositam sua
confiança em amuletos, ídolos, simpatias, no ato de se benzerem... Tudo
isso, apesar de sua existência física e visível, é completamente ineficaz
no terreno espiritual.
Logo, quando o homem põe sua confiança numa dessas entidades
místicas, ele não está praticando a fé bíblica, e sim a superstição. Sua
confiança existe, mas o objeto de sua crença não existe, ou é ineficaz.
Atualmente, temos visto muitos carros com adesivos: Eu acredito em
duende. A pessoa confia, porém o objeto de sua confiança não existe;
ou é ineficaz. Isso não passa de superstição!
Infelizmente, do lado evangélico também proliferam as superstições
com o ritual do copo d'água em cima da televisão, do beber óleo "ungido"
etc. Há uma denominação que chega ao extremo de usar água benta,
galho de arruda e sal grosso. Em ambos os casos o que predomina é a
superstição, não é a fé bíblica
Lembro o tempo em que ainda era menino, quando muitos irmãos
usavam um disco de uma determinada cantora como uma espécie de
talismã. Eles contavam que outros irmãos haviam recebido cura por
meio daquele disco, no momento em que o colocaram em baixo do tra-
vesseiro ou em cima da região doente. Aquela irmã andava pelas igrejas
cantando e orando para que Deus curasse os enfermos. Para os que
não pudessem ir à igreja havia uma alternativa: seus familiares poderiam
levar um disco, ou um "lenço ungido" para ser utilizado pelo doente. O
pastor julgava aquilo normal, e quase todos praticavam essa superstição,
por desconhecerem a Palavra de Deus.

1.3. Fanatismo
O termo vem do vocábulo latino fanaticus, "divinamente impul-
sionado", "louco". Sua raiz formadora éfanum, que significa templo.
Em relação à religião, é usada para indicar a crença e o zelo excessivo e
24 • A Ação do Espírito Santo nas Igrejas

irracional em relação às práticas religiosas. Contudo, no meio cristão


apresenta-se de duas maneiras:
O fanatismo ocorre quando a pessoa centraliza ou põe a sua confiança
em fazer alguma coisa espetacular, de maneira sobrenatural, mas que
Deus não mandou realizar.
Ocorre também sempre que a pessoa centraliza e deposita sua con-
fiança em alguma coisa que espera que venha a acontecer ou receba de
Deus, algo que ele nunca prometeu fazer ou dar.
Fanatismo é ficar querendo obstinadamente fazer aquilo que Deus
não mandou fazer. É fanatismo querer receber algo que Deus nunca
prometeu.
Eu era ainda menino quando freqüentava uma igreja pela qual tenho
um grande apreço, e muito amor por aqueles irmãos, porque foi ali que
conheci a Jesus. Lembro-me de que eles sempre afirmavam que, se
começassem a orar com fé poderiam até mesmo fazer a terra tremer.
Costumavam inclusive cantar este "corinho": Se começarmos a orar;
este templo treme; se começarmos a orar, falaremos línguas ...
Deus alguma vez, em qualquer tempo ou lugar, mandou que seus servos
orassem para que a terra tremesse? Ou prometeu que a terra tremeria
se seus filhos pedissem com fervor? Claro que não. Portanto, querer
fazer a terra tremer não é fé, é fanatismo.
Quem busca realizar façanhas espetaculares, que Deus não ordenou,
não está exercitando a fé, e sim o fanatismo.
Uma pessoa da minha família, um primo, cujos pais são de uma
respeitada igreja pentecostal, passou por momentos muito difíceis em
sua juventude. Certo dia começou a sentir uma dor no tórax; após
algumas consultas médicas sem resultado imediato, seu pai o levou a um
desses "profetas milagreiros". Depois da oração, o tal "profeta" afirmou
haver tido a revelação de que o rapaz morreria em pouco dias.
Diante de tal absurdo o rapaz, nascido numa família que acredita neste
tipo de prática, entrou num pânico generalizado, chegando mesmo quase
A Fé Bíblica e suas Distorções pela Influência do Misticismo • 25

a morrer, em razão do medo que se instaurou nele e na família. Mas graças


a Deus conseguiu-se, depois de muito custo, convencê-lo daquela heresia.
Ao analisar esse triste episódio, observamos que aquele profeta estava
confiando numa esperança que Deus jamais autorizou os cristãos a
alimentar: a de alguém identificar o dia da morte física de um ser humano.
Na realidade, esse maléfico prognóstico foi fruto de mente doentia,
dominada pela ânsia de realizar algo espetacular, tentando prever o futuro.
Isto é fanatismo, não é fé.
Por outro lado o rapaz e a família, durante o período de pânico estavam
também colocando sua confiança na profecia mentirosa daquele que se
dizia profeta, mas o que parecia fé, na realidade era superstição do ra-
paz, por confiar em algo (adivinhação mascarada de profecia) que não
existe e nem tem base no ensino do Novo Testamento.
E agora, irmão, imagine quantas pessoas têm sofrido tantas decepções
até mesmo com Deus, nesse Brasil afora e no mundo, em razão das su-
perstições e fanatismos que se têm instaurado em muitas igrejas
carismáticas, pentecostais e até algumas batistas, que por negligencia-
rem o estudo da Palavra, não viverem a verdadeira plenitude do Espíri-
to, confundem a fé com fanatismo e superstição.
Isso ocorre porque é muito mais fácil praticar um cristianismo de forma,
de aparência, do que viver uma vida de santificação pautada pela Bíblia.
Será que Deus quer essa confusão para seu povo? A resposta é NÃO,
porque fomos chamados para o exercício da fé bíblica, o firme fun-
damento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não
vêem (Hb 1 1 : 1 ).

1.4. Devemos viver por Fé e não por Vista


Observe que no misticismo se dá mais valor à revelação interior,
aquilo que a pessoa começa a sentir, ver, imaginar...; neste caso a con-
fiança começa dentro; sua "espiritualidade" se baseia nos sonhos, nas
"visões", "revelações", e até nas fortes emoções. Portanto, a confiança
vem de dentro para fora.
26 • A Ação do Espírito Santo nas Igrejas

Este tipo de crença, para se firmar, necessita de sinais externos como


garantia de estar se cumprindo aquilo que pensam sentir, ver ou viver.
Por isso as pessoas valorizam muito sinais exteriores e visíveis, como:
"fortes emoções", "línguas estranhas" e "sinais e prodígios", porque sem-
pre haverá a necessidade de ver alguma coisa para crer.
Já a verdadeira fé, ao contrário, começa com a revelação exterior
porque vem de Deus, mediante os registros de suas realizações nas
Escrituras, e se interioriza no indivíduo, tornando-se uma convicção
inabalável. Neste caso, a confiança vem de fora para dentro do ser
humano.
Eis a razão pela qual a fé não depende nem de sentir, ver, ouvir vozes,
ou mesmo de falar língua estranha. O apóstolo Paulo escreveu: ...não
atentando nós nas coisas que se vêem, mas sim nas que se não
vêem; porque as que se vêem são temporais, enquanto as que se
não vêem são eternas (II Co 4:18, p.173). Portanto, ... andamos por
fé e não por vistas (II Co 5:7, p.173).
Mesmo crendo que para Deus não existe o impossível, os salvos,
para manterem sua adoração a Deus não precisam assistir a milagres
espetaculares — posto que eles sabem que se Deus achar necessário
realizar uma cura, ou qualquer outro milagre que seja para a sua
glorificação, como também para atender às súplicas de seus servos, ele
pode fazê-lo. Contudo a nossa fé sempre estará edificada nos fei-
tos, nos ensinos e nos milagres registrados no Novo Testamento,
principalmente os do nosso Senhor.
Não necessitamos ouvir novas profecias, porque a Palavra de Deus
já revela todos os acontecimentos futuros até a volta de Jesus. Não
precisamos de revelações, visto que já temos registrado na Bíblia tudo
quanto Deus quis revelar à humanidade. Alias, existe até uma advertên-
cia de Deus contra aqueles que tentam acrescentar ou tirar alguma coisa
da Santa Palavra (Ap 22:18,19).
Finalmente, o salvo, por ser o templo do Espírito Santo, é guiado pa-
ra o conhecimento de toda a verdade quando mediante a santificação
A Fe Bíblica e suas Distorções pela Influência do Misticismo • 27

entrega sua vida totalmente nas mãos de Deus. O que se pode querer
mais?... Viver na Plenitude do Espírito Santo! (assunto este do capítulo
VIII).
CAPÍTULO II

O Propósito do Espírito Santo

'Todavia, digo-vos a verdade, convém que eu vá; pois se eu não


for, o Ajudador não virá a vós, mas se eu for; vo-lo enviarei. 'E
quando ele vier; convencerá o mundo do pecado, da justiça e do
juízo: 9do pecado, porque não crêem em mim; '°da justiça, porque
eu vou para meu Pai, e não me vereis mais, "e do juízo, porque o
príncipe deste mundo já está julgado. 'Ainda tenho muito que vos
dizer; mas vós não podeis suportar agora. "Quando vier, porém,
aquele, o Espírito da verdade, ele vos guiará a toda a verdade;
porque não falará por si mesmo, mas dirá o que tiver ouvido, e vos
anunciará as coisas vindouras. "Ele me glorificará, porque re-
ceberá do que é meu, e vo-lo anunciará (Jo 16:7-14).

2.1 Convencer o mundo do pecado (v.8)

A vinda do Espírito Santo cumpriu a promessa de Jesus: enviar um


Consolador, cujo primeiro propósito é, mediante a Verdade Evangélica,
convencer a humanidade do pecado. Ele (...) convencerá o mundo do
pecado, da justiça e do juízo (...) Ele vos guiará a toda a verdade.
O Espírito Santo nos convence do pecado, principalmente o pecado
de não crer em Jesus Cristo como Salvador. Mas por que isto?
Porque o pecado que leva ao inferno é o de não crer em Jesus como
Salvador: ... porque não crêem em mim (...) (Jo 16:9). Porque Deus
enviou seu filho ao mundo, não para que julgasse o mundo, mas
para que o mundo fosse salvo por ele. Quem crer nele não é julgado;
30 • A Ação do Espírito Santo nas Igrejas

mas quem não crê, já está julgado porquanto não crê no nome do
unigênito filho de Deus (Jo 3:17,18) [Grifos do autor]. Veja ainda
Jo 8:24 e Rm 3:20-23.
O trabalho de convencimento, operado pelo Espírito Santo, visa
primeiramente às pessoas ainda não regeneradas, isto é, aquelas que
ainda não receberam a Jesus como Salvador da sua alma. Contudo isso
também faz parte da experiência do salvo: toda vez que ele comete
qualquer pecado, o Espírito lhe dá consciência do erro. Isto porque O
Espírito Santo mesmo testifica com nosso espírito que somos filhos
de Deus (Rm 8:16). Se somos filhos de Deus, devemos ter um caráter
compatível com o do nosso Pai. Isso leva o cristão a não fugir de medo,
quando peca, e sim a reconhecer que necessita pedir perdão a Deus, co-
mo também lhe dá a certeza de que é perdoado, tornando-se limpo do
pecado cometido.
Finalizando, a incredulidade com relação à obra redentora de Jesus
é o pecado que bloqueia o caminho da salvação, e uma das funções do
Espírito Santo é convencer o mundo desse pecado, mediante a Verdade
Evangélica.

2.2. Guiar o crente a toda a Verdade (v.13)

O segundo propósito do Espírito Santo é guiar o crente a toda a


verdade. Mas que verdade é esta? Cristo é a verdade, aplicada pelo
Espírito Santo à vida dos salvos, visando à sua santificação mediante a
Palavra, a Bíblia. O Espírito Santo usa na santificação os mesmos recursos
que empregou na regeneração da alma: Mas nós devemos sempre dar
graças a Deus por vós, irmãos, amados do Senhor, porque Deus vos
escolheu desde o princípio para salvação, mediante a santificação
do espírito e a fé na verdade (II Ts 2:13) [Grifos do autor].
Portanto, a Verdade Evangélica revelada na Bíblia é o instrumento do
Espírito Santo na santificação do crente; o Espírito Santo não fala de si
mesmo, porque Cristo é o objetivo da sua obra. O próprio Jesus disse
em sua oração: Santifica-os na tua verdade: a tua palavra é a ver-
O Propósito do Espírito Santo • 31

dade (Jo 17:17). Essa verdade está intimamente ligada à pessoa de


Jesus Cristo.
Do mesmo modo também o Espírito nos ajuda na fraqueza; por-
que não sabemos o que havemos de pedir como convém (...) (Rm
8:26). A fraqueza a que Paulo se refere é em relação à oração. Isto
pode ser comprovado levando-se em conta o contexto imediato do
versículo. No entanto as fraquezas dos filhos de Deus não estão restritas
à área da oração. Temos muitos deslizes, e em todos somos encorajados
a reconhecer que nosso Salvador simpatiza conosco e nos convida a
nos aproximar dele, a fim de obtermos a graça da ajuda em todas as
necessidades. Porque não temos um Sumo Sacerdote que não possa
compadecer-se de nossas fraquezas, porém um que, como nós, em
tudo foi tentado, mas sem pecado. Cheguemo-nos, pois, confiada-
mente ao trono da graça, a fim de sermos socorridos no momento
oportuno (Hb 4:15,16).

2.3. Glorificar a Jesus (v.14)

Ele me glorificará, porque receberá do que é meu, e vo-lo anun-


ciará, O Espírito Santo viria para atuar no mundo, na Igreja, com o
objetivo de glorificar a Jesus. Ele ouviu de Jesus e anunciou aos apósto-
los. Foi dessa forma que se completou a revelação de Deus no Novo
Testamento.
Tudo quanto Jesus ainda tinha para ensinar e revelar ele o fez por
instrumento do Espírito Santo, levando os apóstolos a compreender os
mistérios de Deus para a salvação do homem, e a escrever, interpretando
a pessoa de Jesus: suas realizações, seus ensinos, inclusive suas promessas.
Foi mediante essa ação do Espírito Santo, ouvindo de Jesus e
anunciando aos apóstolos, que se formou o Novo Testamento, o qual
completou e encerrou toda a revelação necessária para a salvação da
humanidade. Eis a razão de Paulo haver afirmado que a fé cristã está
edificada ... sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, sendo
o próprio Cristo Jesus a principal pedra de esquina (Ef 2:20).
CAPÍTULO III

O Batismo no Espírito Santo

3.1. Foi uma promessa de Jesus (Jo 14:15-17)

Se me amardes, guardareis os meus mandamentos. E eu rogarei ao


Pai, e ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco para
sempre, a saber, o Espírito da verdade, o qual o mundo não pode
receber; porque não o vê nem o conhece; mas vós o conheceis, porque
ele habita convosco, e estará em vós (Jo14:15-17).(Grifos do autor).
Em sua promessa Jesus estava dizendo que o Espírito Santo viria
como um dom, concedido por Deus e enviado por Cristo, para perma-
necer para sempre como companheiro ao lado dos discípulos, e ajudá-
los a testemunhar na realização da obra missionária de evangelização do
mundo. Melhor ainda, que o Espírito Santo habitaria nos discípulos e
em todos os salvos de todas as épocas. Isso foi uma realidade na vida
dos apóstolos, como continua sendo em nossa vida. É a presença de
Deus em nós, os salvos, para sempre. Graças a Deus por esse plano
tão maravilhoso, que é a redenção por Jesus Cristo.

3.2. Seu Significado para o Cristianismo


João Batista foi a primeira pessoa a referir-se especificamente ao
batismo no Espírito Santo. Esse fato está registrado em João, 1:31,33;
Mateus, 3:11 e Lucas, 3:16. Vejamos os textos:
E eu não o conhecia; mas, para que ele fosse manifesto a Israel,
vim eu, por isso batizando em água (...) e eu não o conhecia, mas o
que me mandou batizar em água, esse me disse: sobre aquele que
34 • A Ação do Espírito Santo nas Igrejas

vires descer o Espírito, e sobre ele repousar, esse é o que batiza no


Espírito Santo (Jo 1:31,33).
...respondeu João a todos, dizendo: Eu, na verdade, vos batizo em
água, para arrependimento; mas aquele que é mais poderoso do que
eu, de quem não sou digno de desatar a correia das alparcas, ele vos
batizará no Espírito Santo e em fogo (Lc 3:16). (Grifos do autor).
A primeira coisa a ser observada nos textos acima é que João Batista
está falando para a multidão (todos), inclusive os fariseus, a quem
chamara de raça de víboras. Sua mensagem mostra que ninguém
escapará do juízo de Deus, e que a implantação deste juízo era iminente.
O batismo no Espírito Santo viria inaugurar uma nova fase da história,
marcando a intervenção de Jesus Cristo como Salvador, na criação de
uma nova ordem, separando os homens em dois lados diferentes: os
pertencentes ao Reino de Deus, como salvos e transformados em filhos
de Deus; e o outro grupo, os condenados mediante a manifestação do
juízo de Deus. Daí a razão do uso dos dois termos: Batismo no Espírito
Santo, e em Fogo. O Batismo no Espírito Santo seria uma imersão
espiritual no próprio Espírito, das pessoas que cressem em Jesus, sendo
Cristo o executor deste batismo: ...ele [Jesus] vos batizará no Espírito
Santo (...) As outras pessoas que não cressem em Jesus como Salvador,
portanto condenadas, seriam imersas no fogo do juízo de Deus.
Esta interpretação fica mais evidente e clara na figura do machado,
em Lucas 3:9, e naquela da pá, que João Batista usou para ilustrar a
natureza e os objetivos de Jesus em batizar no Espírito Santo e em fogo.
Veja: E ele tem a pá na mão; e limpará a sua eira e ajuntará o trigo
no seu celeiro, mas queimará a palha com o fogo, que nunca se
apaga (Lc 3:17). (Grifos do autor)
Na Bíblia o trigo sempre é citado para designar o povo de Deus, isto
é, as pessoas que pertencem ao seu Reino, dando, neste versículo, a
idéia de que elas, assim como se faz com o trigo no celeiro, estariam
sendo guardadas em lugar próprio. É como se Deus estivesse a arma-
zená-las, formando com elas seu povo. A palha, porém, representa as
O Batismo no Espírito Santo • 35

pessoas que se recusaram a aceitar a salvação oferecida por Deus, sen-


do inúteis aos seus propósitos, por preferirem permanecer no pecado.
Por isso elas (a palha) estão destinadas a queimar no fogo que nunca se
apaga.
Também o profeta Joel mostra em seus relatos a figura do juízo de
Deus: Acontecerá depois que derramarei o meu Espírito sobre toda
carne (...) E mostrarei prodígios no Céu e na Terra, sangue e fogo,
e colunas de fumo. O sol se converterá em trevas, e a lua em sangue,
antes que venha o terrível dia do Senhor (Joel, 2:28-31). (Grifos do
autor).
João Batista descreveu de forma clara os dois lugares em que as pes-
soas passarão a eternidade, nas figuras de celeiro para o trigo (salvos) e
de fogueira para a palha (condenados). Observe que na profecia de
Joel também há distinção destas duas realidades.
A maioria dos pentecostais interpretam erroneamente o texto de João
Batista descrito por Lucas, isto porque retiram do contexto o versículo
16 do capítulo 3 de Lucas. Veja a interpretação que o pregador e escritor
pentecostalista Estevam Ângelo de Souza dá a esse versículo no seu
livro "Nos Domínios do Espírito". Chega a ser estarrecedor: O símbolo
do fogo significa que o Espírito seria nos corações semelhante a
um fogo, para purificar ou destruir os sentimentos incompatíveis
com sua natureza santa. Visto que a terceira pessoa da Trindade é o
Espírito Santo, não pode tolerar o pecado (1987, p.77) (Sic). Observe
como as verdades bíblicas são distorcidas. Para tentar sustentar suas
doutrinas, interpretam o versículo totalmente extraído do seu contexto
imediato, e da realidade bíblica da salvação. Se o Espírito Santo des-
truísse nossos sentimentos pecaminosos, não precisaríamos nos preo-
cupar com o fato de entristecê-lo ao pecarmos, como ensinou Paulo;
melhor ainda, nunca mais pecaríamos, porque os pensamentos peca-
minosos seriam destruídos, impedindo o pecado de acontecer, sem
considerar que, se isso fosse real, o Espírito Santo estaria interferindo
em nosso livre-arbítrio, em nossa liberdade de agir. Veja, caro leitor, o
absurdo que é essa interpretação!...
36 • A Ação do Espírito Santo nas Igrejas

As conseqüências desse tipo de ensino são suas orações "fervorosas",


pedindo a Deus o "batismo no Espírito Santo e com fogo". Muitas vezes
pedem: "Senhor, manda fogo, fogo..." Estão pedindo duas coisas
opostas: primeiro, que sejam imersos no Espírito, tornando-se filhos de
Deus, e segundo, que sejam mergulhados no fogo do juízo de Deus,
como a palha, que por ser lixo é lançada no fogo. Obviamente Deus não
lhes atende ao estranho pedido.
Essa confusão acontece porque a maioria de seus pregadores, no
extremo de sua ousadia, lançam sobre o povo frases de efeito, sem a
devida compreensão bíblica. Este, que muito raramente estuda a Bíblia,
julga tudo muito bonito e forte; e termina por absorvê-las e acreditar nelas.
Concluindo, ser batizado no Espírito Santo significa ser separado para
Deus, após uma entrega pessoal, passando a pertencer ao seu Reino
como seu filho, e recebendo o Espírito Santo como dádiva de Deus.
Quem crê em mim, como diz a Escritura, do seu interior correrão
rios de água viva. Ora, isto ele disse a respeito do Espírito que
haviam de receber os que nele cressem (... )(Jo 7:38,39). É o mesmo
que ser salvo.

3.3. A Diferença entre o Dom do Espírito Santo


e Dons do Espírito Santo

Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus


Cristo, para remissão de vossos pecados; e recebereis o dom do
Espírito Santo. Porque a promessa vos pertence a vós, a vossos
filhos, e a todos os que estão longe: a quantos o Senhor nosso Deus
chamar (At 2:38,39) [grifos do autor].
Observe que a expressão o dom do Espírito Santo está no singular,
indicando apenas um. No Novo Testamento seu significado não é alguma
coisa que o Espírito Santo dava ou dá, e sim o próprio Espírito ofe-
recido como dádiva a quem aceitasse a Jesus como seu Salvador.
Essa dádiva foi prometida por Jesus na palavradará, em Lucas, 11:13;
vejamos: Se vós, sendo maus, sabeis dar boas dádivas aos vossos
O Batismo no Espírito Santo • 37

filhos, quanto mais dará o Pai celestial o Espírito Santo àqueles


que lho pedirem? Em João, 7:39, o evangelista interpreta as palavras
do Mestre nos dois versículos precedentes, referindo-se ao Espírito Santo
pela frase "ainda não fora dado": Quem crê em mim, como diz a
Escritura, do seu interior correrão rios de água viva. Ora, isto ele
disse a respeito do Espírito que haviam de receber os que nele
cressem; pois o Espírito ainda não fora dado, porque Jesus ainda
não tinha sido glorificado. Pedro também disse em Atos, 5:32 ...que
Deus deu o Espírito. Existem ainda inúmeras passagens que comprovam
que o Espírito Santo é aquele que foi dado como dom da Santa Trindade.
Essa visão nos mostra que a interpretação correta da frase o dom do
Espírito Santo é o próprio Espírito Santo dado ao homem como dom
de Deus, ou seja, um presente de Deus por ocasião do nosso nascimento
espiritual. Há de se compreender que essa dádiva é a capacidade que o
salvo adquiriu no momento da sua salvação, de ser o templo do Espírito
Santo, recebendo-o para habitar em seu coração. Não é receber o
Espírito Santo como sua propriedade particular, como se o Espírito fosse
um "gênio da lâmpada mágica" que pudesse ser controlado pelo homem.
Afinal, o Espírito Santo é Deus, portanto não pode haver em nossa
mente esse tipo de confusão.
Já os dons do Espírito Santo se referem ao Espírito Santo como divino
doador. Aqui a palavra dons é usada no plural e não no singular (dom),
para identificar aquilo que é dado (isto é: as capacitações do Espírito
entregues a cada membro para edificar a Igreja). É por isso que lemos:
há variedade de dons concedidos pelo Espírito Santo (1 Co 12:4-
11), e ... os dons do Espírito Santo dão testemunho da grande sal-
vação de Deus (Hb 2:3,4).
Portanto, deve sempre ser conservada em nossa mente a diferença
entre o dom do Espírito Santo, que é o próprio Espírito Santo dado por
Deus a todos os seus filhos, como presente de nascimento espiritual, e
os dons do Espírito Santo como capacidades espirituais doadas pelo
Espírito a todos os crentes, para que possamos ter uma compreensão
ampla dessa importante matéria.
38 • A Ação do Espírito Santo nas Igrejas

3.4. Condições estabelecidas por Jesus para que os discípulos


recebessem o batismo no Espírito Santo (ou dom do Espírito Santo)

Em Atos 1:4,8 Jesus determina aos discípulos o que eles deveriam


fazer para receber o Espírito Santo. Vejamos:
'Estando com eles, ordenou-lhes que não se ausentassem de
Jerusalém, mas que esperassem a promessa do Pai, a qual [disse
ele] de mim ouvistes. 'Mas recebereis poder, ao descer sobre vós o
Espírito Santo, e ser-me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém como
em toda a Judéia e Samária, e até os confins da Terra.
Note-se que a ordem de Jesus não foi outra, senão que os discípulos
deveriam permanecer na cidade de Jerusalém e esperar a promessa.
Os dois verbos são mais importantes quando considerados no original
grego. O primeiro (permanecer) é o mesmo que assentar-se, em
português. Os discípulos deveriam ficar assentados em Jerusalém, até
que a promessa fosse cumprida.
O segundo (esperar) significa, literalmente, ficar ao redor da promessa.
Obviamente Jesus não disse aos discípulos que deveriam assentar-se
em círculo até que a promessa se cumprisse. Entretanto, a força desses
dois verbos mostra que eles deveriam adotar uma atitude passiva,
aguardando o momento em que Deus agiria.
O importante no enunciado dessa promessa é que nenhum discípulo
foi orientado a pedir ou a orar para que o Espírito Santo viesse
sobre eles. Se havia alguém a suplicar, esse era Jesus: ...eu rogarei ao
Pai (Jo 14:16).
Situação muito diferente é adotada por certos grupos pentencostalistas,
que fazem reuniões especiais de orações, pedindo e até exigindo de
Deus o batismo no Espírito Santo. Nessas reuniões pede-se que as
pessoas fiquem repetindo palavras em seqüência como: glória, glória,
glória, e outras... Essa prática é totalmente estranha aos ensinos de Jesus
e dos apóstolos do Novo Testamento; portanto, não têm fundamento
bíblico. Não existe nenhum versículo da Bíblia que mande ou autorize
O Batismo no Espírito Santo • 39

os salvos a orar repetindo a palavraglória, glória..., a fim de receberem


o Espírito Santo ou algum de seus dons. Na verdade, o ensino de Jesus
é contra; veja o que ele disse: ...e, orando, não useis de vãs repetições,
como os gentios; porque pensam que pelo muito falar serão ouvidos
(Mt 6:7, p.7).
Observe a presença do misticismo, tanto na forma de superstição,
em querer receber algo pela maneira de orar, como também a presença
do fanatismo, em querer receber de Deus algo que ele não prometeu.
Esse tipo de prática é nocivo, porque há uma distorção da fé, uma vez
que a Palavra de Deus é substituída pelas idéias inventadas por pessoas
que se dizem líderes...
CAPÍTULO IV

Hoje, Quando o Salvo é Batizado


no Espírito Santo?

Pois em um só Espírito fomos todos nós batizados em um só corpo


(...) a todos nós foi dado beber de um só Espírito (I Co 12:13)
(Grifos do autor).
A forma como as Escrituras usam a palavra batismo mostra que ele
é algo inicial, tanto para o caso do batismo na água, como no Espírito,
e que acontece apenas uma única vez; não se repete. Note ainda que as
formas verbais: fomos e foi dado indicam uma ação no passado, isto é,
no início da vida cristã daqueles salvos.
Duas coisas ainda se destacam no versículo acima: a primeira é uma
ação coletiva do Espírito de Deus, indicando um mesmo batismo para
um grupo de pessoas salvas e diferentes; a segunda é que todos os
crentes estão incluídos nesse batismo.
Todavia, o mais interessante, irmãos, é a quem Paulo está escrevendo;
a quem ele está se dirigindo. Ele não escreve aos fiéis tessalonicenses,
nem aos generosos filipenses; tampouco aos espirituais efésios, e sim
aos carnais coríntios (I Co 3:1).
Isso nos dá a certeza de que em I Coríntios, 12:13 Paulo está dizendo
que o batismo no Espírito Santo está ligado à nossa posição espiritual,
como nos posicionamos diante de Deus, isto é: se estamos salvos ou
perdidos. Portanto, se você é um salvo, você foi batizado no Espírito
Santo, ...pois em um só Espírito fomos todos nós batizados em um
42 • A Ação do Espírito Santo nas Igrejas

só corpo (...) (1 Co 12:13). O que é esse batismo no Espírito?A idéia


parece ser a de que, assim como ao ser batizado o crente é submer-
gido na água, de igual modo o que é batizado no Espírit•é submer-
gido na presença divina [Conner in Dagg, p. 49, 1995]. Passando da
figura para o fato real, observa-se que o Espírito Santo não é um meio
ou uma coisa em que nos encontramos submergidos. A experiência do
batismo no Espírito é a de ...um Ser pessoal com o qual entramos de
imediato numa comunhão tão íntima que a figura do batismo se
impõe com toda a lógica [Dagg, p49,50, 1995], e o resultado dessa
comunhão é a transformação do homem na imagem de Jesus. E quando
recebemos esse batismo?...
Em outra ocasião, quando o apóstolo chegou a Éfeso, encontrou doze
homens que haviam obedecido até o período do judaísmo, isso porque
eram remanescentes dos discípulos de João Batista, mas queriam seguir
a pregação de Paulo, com o objetivo de se tornarem discípulos de Jesus.
Paulo lhes faz a seguinte pergunta: Recebestes vós o Espírito Santo
quando crestes?... Por que isto? Aqui está mais uma prova de que
Paulo sabia, como todos nós sabemos, que a pessoa recebe o Espírito
Santo quando crê em Jesus como seu Salvador, no ato da sua
conversão. Portanto, aquele era um grupo ainda não crente. Aos crentes
de Roma ele escreve: Vós, porém, não estais na carne, mas no
Espírito, se é que o Espírito de Deus habita em vós. Mas, se alguém
não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele (Rm 8:9) (Grifos
do autor). Como pode alguém ser salvo sem ter o Espírito Santo?...
Entretanto, em Efésios, 1:13 Paulo é fulminante nesse tema, ao dizer
claramente que recebemos o selo do Espírito Santo no momento em
que cremos no Evangelho, em que aceitamos a Jesus como nosso
Salvador: ... no qual também vós, tendo ouvido a palavra da verdade,
o evangelho da vossa salvação, e tendo nele crido, fostes selados
com o Espírito Santo da promessa (Ef 1:13) (Grifos do autor).
Veja: o apóstolo está afirmando que no instante em que aqueles irmãos
ouviram a palavra da verdade, o Evangelho da salvação, e tendo nele
Hoje, Quando o Salvo é Batizado no Espírito Santo? • 43

crido, foram imediatamente selados pelo Espírito Santo. O texto


acima é de clareza absoluta, não deixa nenhuma dúvida a respeito deste
tema. Sabe por quê? ... porque Deus não dá o Espírito por medida
(Jo 3:34, p.93). Portanto, receber o selo do Espírito Santo é o mesmo
que ser batizado no Espírito Santo.
A mesma interpretação foi dada por Pedro em Atos, 2:38: Pedro
então lhes respondeu: arrependei-vos, e cada um de vós seja ba-
tizado em nome de Jesus Cristo, para remissão de pecados; e
recebereis o dom do Espírito Santo. Analisando este versículo à luz de
seu contexto imediato, observa-se que as condições para se receber
o dom do Espírito Santo são as mesmas que para salvação: o
arrependimento e a fé em Jesus como único Salvador. Ora, se as
condições são iguais, e o dom do Espírito Santo é o próprio Espírito
Santo, logo, todo salvo é batizado no Espírito Santo no momento
de sua conversão. Não há como ser diferente; qualquer interpretação
que não seja esta estará em conflito com Ef 1:13, At 2:38, Rm 8:9, I Co
12:13, G13:2,3. Além do mais, sempre deverá prevalecer a Bíblia, a
Palavra de Deus, a única Verdade, acima de todas as opiniões de quem
quer que seja o líder religioso.
CAPÍTULO V

O Dom de Línguas na Bíblia Significa Idiomas

'Ao cumprir-se o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no


mesmo lugar. 2De repente veio do céu um ruído, como que de um
vento impetuoso, e encheu toda a casa onde estavam assentados.
'E lhes apareceram umas línguas como que de fogo, que se
distribuíam, e sobre cada um deles pousou uma. 4E todos ficaram
cheios do Espírito Santo, e começaram a falar noutras línguas,
conforme o Espírito lhes concedia que falassem.
5 Havia então em Jerusalém judeus, homens piedosos, de todas
as nações que há debaixo do céu. 6 Ouvindo-se, pois, aquele ruído,
ajuntou-se a multidão; e estava confusa, porque cada um os ouvia
falar na sua própria língua.
'E todos pasmavam e se admiravam, dizendo uns aos outros:
Pois quê! Não são galileus todos estes que estão falando? Como é,
pois, que os ouvimos falar cada um na própria língua em que
nascemos?
'Nós, partos, medos, e elamitas; e os que habitamos na Meso-
potâmia, a Judéia e a Capadócia, o Ponto e a Ásia, " a Frígia e a
Panfília, o Egito e as partes da Líbia próximas a Cirene, e os
forasteiros romanos, tanto judeus corno prosélitos, " cretenses e
árabes - ouvimo-los em nossas línguas falar das grandezas de Deus.
"E todos pasmavam e estavam perplexos, dizendo uns aos ou-
tros: Que quer dizer isto? (At 2:1-12) (Grifos do autor)
46 • A Ação do Espírito Santo nas Igrejas

As línguas que os apóstolos receberam e falaram são o padrão, o


referencial, o verdadeiro dom de línguas concedido pelo Espírito Santo,
segundo os relatos do Novo Testamento. Essas línguas eram idiomas.
Note a clareza inconfundível do texto sagrado. Observe abaixo, cuida-
dosamente, as razões desta afirmação, e comprove que não existe hipó-
tese ou possibilidade para uma interpretação diferente; qualquer outra
seria distorcer a Bíblia. Veja:
1.O versículo 2 mostra que os apóstolos estavam assentados, nào
estavam pedindo o Espírito Santo e nem estavam orando porque os
judeus não tinham o costume de orar sentados. Isso mostra a atitude
passiva dos apóstolos atendendo a ordem de Jesus, conforme descrevi
no capítulo anterior.
2. O versículo 4 diz que os discípulos falaram em outras línguas.
3. O versículo 5 diz que se encontravam em Jerusalém homens
religiosos de todas as nações, e os versículos 9-11 relacionam pelo menos
13 nações. Lucas as relaciona, a fim de demonstrar e confirmar a grande
variedade de idiomas que os discípulos falaram.
4. Aqueles homens das diferentes nações se admiravam porque,
sendo os apóstolos da Galiléia, uma cidade pobre e sem cultura, estavam
falando na língua deles. Isto é: um apóstolo falava em árabe, outro em
egípcio, outro em latim..., e com um detalhe muito especial. Observe a
expressão: ... na própria língua em que nascemos. Isso significa
que a língua dada pelo Espírito Santo aos apóstolos era tão
perfeita que eles a falaram fluentemente, carregando até no
sotaque característico de cada região. Portanto, se um daqueles
homens pudesse viajar no tempo e desembarcasse hoje no Estado da
Paraíba, ele falaria das grandezas de Deus em português, com o sotaque
nordestino, "visse"? —
5. Das grandezas de Deus porque os dons sempre têm o propósito
definido de edificar a comunidade cristã.
O brilhante neste caso, irmãos, é a perfeição do dom dado pelo
Espírito Santo. Até o sotaque da língua foi transmitido aos apóstolos.
O Dom de Línguas na Bíblia Significa Idioma • 47

Situação muito diferente é encontrada hoje nos grupos carismáticos,


onde o "dom de língua" é constituído de sons que ninguém entende.
Será que o dom mudou?... Sobre isto falarei mais à frente.
6. As línguas que os apóstolos falaram foram entendidas pela multi-
dão, porque as pessoas afirmaram havê-los escutado dizendo coisas a
respeito das grandezas de Deus. Ali se cumpriu a profecia de Isaías
descrita no capítulo 28:11, que diz: Na verdade, por lábios estranhos
e por outra língua falará a este povo.
Após analisarmos o evento de Pentecostes descrito em Atos, obser-
vamos que não há nenhuma referência a língua estranha como algo
semelhante ao que hoje é praticado pelos pentecostais, que consiste
em emitir sons sem nenhum sentido. Hoje, quando os carismáticos
afirmam que há um retorno ao Pentecostes, e exortam todos os crentes a
tentar repeti-lo, não existe em seu comportamento religioso nada que se
assemelhe ao evento; pelo contrário, tais práticas são estranhas aos ensinos
bíblicos.
Desde sua origem até a presente data, as denominações carismáticas
nunca conseguiram reproduzir: 1.O sinal sensível das línguas como que
de fogo, que os discípulos viram no dia de Pentecostes; 2.0 sinal sensível
do som, como vento impetuoso, que todos ouviram; 3. Os idiomas em
que os discípulos se expressaram mediante o verdadeiro dom de línguas.
Fala-se muito, em reuniões, em fogo caindo do céu, mas ninguém o
vê. A expressão é usada somente parajustificar a gritaria, os aleluias e
glórias, e o ardor do forte "emocionismo" de seus cultos.

5.1.0 dom de línguas como sinal


Freqüentemente somos interpelados com a seguinte pergunta: "Você
fala língua estranha?" "Não, eu não falo". "Ah! Então você não é batiza-
do no Espírito Santo, porque o sinal de ser batizado no Espírito Santo é
falar língua estranha". Essa afirmação é totalmente equivocada e
antibíblica. Por quê? Ficou comprovado biblicamente, no capítulo III
deste trabalho, que todo salvo é batizado no Espírito Santo no momen-
48 • A Ação do Espírito Santo nas Igrejas

to da sua conversão. No entanto, em relação às línguas como sinal,


observe a explicação de Paulo no versículo a seguir: Está escrito na
lei: por homens de outras línguas e por lábios de estrangeiros fala-
rei a este povo; e nem assim me ouvirão, diz o Senhor. De modo
que as línguas são um sinal, não para os crentes, mas para os
incrédulos; a profecia, porém, não é sinal para os incrédulos mas
para os crentes (1 Co 14:21,22). Paulo aqui está fazendo referência a
duas coisas: primeiro, as línguas foram o cumprimento da profecia de
Isaías, 28; segundo, elas foram um sinal para os incrédulos, e não para
os crentes. Portanto, se hoje o Espírito Santo concedesse o dom de
línguas (idiomas) a uma pessoa, jamais ela poderia afirmar ser um sinal
do batismo no Espírito Santo, porque seria um dom como qualquer
outro.
Não existe nenhuma passagem no Novo Testamento afirmando que
o dom de línguas é um sinal ou evidência do batismo no Espírito Santo,
ou do enchimento com a sua plenitude.
O Novo Testamento mostra que o sinal de ser batizado no Espírito
Santo, ou de ser cheio do Espírito não era o dom de língua, e sim o poder
para testemunhar: ... mas recebereis poder, ao descer sobre vós o
Espírito Santo, e ser-me-eis minhas testemunhas, tanto em Je-
rusalém, como em toda a Judéia e Samaria, e até os confins da
Terra (At 1:8).

5.2. Diferença entre emoções e "emocionismo"

Nesta altura é importante estabelecer a diferença entre os dois.termos,


isto porque as emoções fazem parte do nosso dia-a-dia, seja em nossa
vida secular (material), seja em nossa vida espiritual. Umas são benéficas,
outras maléficas.
Emoção ...é uma reação intensa e breve do organismo a um lance
inesperado, a qual se acompanha dum estado de conotação penosa
ou agradável (Aurélio, p.635).
"Emocionismo" é o deleite excessivo em emoções, ou ostentação
O Dom de Línguas na Bíblia Significa Idioma • 49

excessiva de emoções;é um exagero em mostrar ou exibir as emo-


ções de forma descontrolada (Michaelis, p.784).
Portanto, o que determinará o lado bom ou ruim da emoção é o grau
de intensidade com que nos entregamos e/ou exibimos nossas emo-
ções, isto é: se estamos dentro do campo da emoção ou se estamos no
"emocionismo".
O "emocionismo" é a emoção na forma desequilibrada, pelo exagero.
Assim que esse excesso passa a predominar, a pessoa perde o controle.
Porém, esse descontrole pode acontecer para os dois lados da emoção,
ou seja: o penoso (tristeza) e o agradável (alegria). Exemplos dos dois
casos podem ser encontrados no futebol, em particular no Brasil,
principalmente em época de copa do mundo, como numa partida em
que o Brasil perde o jogo: há uma tristeza geral na população, o que é
normal, porém algumas pessoas sentem mais, chegando ao ponto de
perder a vida num colapso cardíaco, um suicídio, uma briga ou outra
circunstância. Esses fatos especiais acontecem como resultado do
"emocionismo" durante e após a partida de futebol.
Em contraste, se o Brasil vence, a maioria da população fica contente,
sai às ruas, esquece tudo, passa a noite dançando e pulando pelas
avenidas. Até aí pode-se considerar essa uma reação normal do povo.
Contudo alguns indivíduos começam a desfilar sem roupas, outros gritam
palavras obscenas... Nesse caso o que acontece é um "emocionismo"
na forma de deleite e exibição exagerada para o lado da alegria.
Mas quais os problemas que esse descontrole pode provocar? No
campo social, quando a pessoa passa a se exibir ou a deleitar-se de
forma exagerada em suas emoções, ela está tomando atitudes que em
seu juízo perfeito jamais tomaria. Tais atitudes - como desfilar nu, usar
palavras ou gestos obscenos, cometer suicídio um pai de família etc. -
podem ser prejudiciais ao grupo ou às pessoas individualmente, por um
súbito colapso, um desmaio e ferimento ao cair. Como conseqüência
direta dessa entrega a esse estado de "emocionismo" acontece o prejuízo
para o grupo social do qual essa pessoa participa - ou ela pode pre-
judicar-se a si mesma, ou sucedem ambas as coisas.
50 • A Ação do Espírito Santo nas Igrejas

O interessante é que isso não acontece apenas no campo social, mas


em todas as áreas da nossa vida, seja afetiva ou psicológica, mas
principalmente religiosa. Nesta o "emocionismo" assume uma conotação
agradável, alegre, e está presente tanto na forma de deleite excessivo
em emoções, em querer sentir "algo mais", quanto na forma de exibição
para demonstrar "poder e intimidade com Deus".
No Novo Testamento, um exemplo clássico deste tipo de problema
aconteceu na igreja de Corinto, onde o apóstolo classificou os irmãos
de jactanciosos, orgulhosos, vaidosos e exibidos, por serem ignorantes
em relação aos dons espirituais. A verdade é que esse estado de
"
emocionismo" sempre ocorre por falta de conhecimento em relação
àquilo que está acontecendo. Em Corinto, esse episódio provocou uma
grande confusão em tomo do dom de línguas. Veja a seguir:

5.3. Os dois fenômenos de línguas em Corinto

Das igrejas do Novo Testamento, Corinto foi a que mais trabalho deu
ao apóstolo Paulo, por ser a mais complicada, pelas dificuldades que
teve em entender e viver a vida cristã em sua totalidade. Essa igreja não
serve como modelo a ser seguido ou imitado pelos salvos de nenhuma
época, muito menos os da atualidade. Por quê? Por causa dos problemas
(abaixo relacionados) que afligiram aqueles irmãos.
Contendas e divisão da igreja em pelo menos quatro partidos diferentes:
os adeptos de Paulo, Pedro, Apolo e os de Cristo (I Co:11-13).
Carnalidade na forma de sensualidade entre os crentes (I Co 3:1,3).
Infantilidade: agiam como crianças (I Co 3:1).
Incompreensão para com o ministério do Evangelho, e atitudes de
rebeldia ( I Co 3:5 a 4:21).
Fornicação: havia um rapaz que adulterava com a madrasta, e era
tolerado pela igreja. Paulo se declara abismado, porque não conhece
um caso desses, nem mesmo entre os incrédulos (I Co 5:1-5).
Jactância: os coríntios eram jactanciosos e impuros (I Co 5:6).
O Dom de Línguas na Bíblia Significa Idioma • 51

Infidelidade e impurezas no casamento, resultando em separações (I


Co 1:1-17).
Prostituição (I Co 6:1-11).
Insubordinação das mulheres e modismo nos cultos, causando es-
cândalo por fazerem liturgias iguais às dos cultos pagãos (I Co 11:1-11
a 13-16).
Profanação e indignidade no culto da Ceia, que havia sido trans-
formada num banquete, onde alguns comiam exageradamente e outros
passavam fome; havia também os que se embriagavam (I Co 11:17-34).
Ignorância a respeito das coisas espirituais, principalmente em relação
aos dons, resultando num culto desordenado, cheio de orgulho, vaidade
e falta de decência, sem proveito para a edificação da Igreja (I Co 12:1
a 14:10).
Incredulidade em relação à ressurreição dos salvos no último dia (I
Co 15:1-58).
Ênfase em falar línguas como sinal de superioridade espiritual, em de-
trimento das atividades de edificação (I Co 12 —14).
Para que se possa ter um completo entendimento do que acontecia em
relação às línguas, é importante observar antecipadamente alguns fatores:
1.Os fenômenos de línguas de Corinto só são mencionados na primeira
carta aos Coríntios. Observe que Paulo relaciona os dons do Espírito
em Romanos (12:6-8) e na carta aos Efésios (Ef 4:7-11), sem mencionar
esse dom. Um contexto como esse sugere que se tratava de um caso
isolado - acontecia exclusivamente naquela igreja; esta tese se torna
cada vez mais consistente, se também considerarmos que em nenhuma
outra carta de Paulo ou de outro apóstolo há referência a esse assunto
(as línguas "faladas" pelos coríntios).
2. Em I Co 5:6 o apóstolo diz: Não é boa a vossa jactância ( )
Jactância vem de jactar, do latim jactare, que significa lançar fre-
qüentemente palavras vaidosas, gabar-se. O dicionário Aurélio também
assim define jactação: Agitação desordenada de membros, originária
52 • A Ação do Espírito Santo rias Igrejas

de perturbação nervosa (p.979, 1986). Logo, jactância é um orgulho,


uma vaidade, uma altivez provocada por um desajuste emocional, um
estado de "emocionismo"; algo que é lançado com freqüência, sob o
impulso da vaidade.
Esta definição é importante, porque em Corinto havia dois fenôme-
nos do falar línguas (é por isso que uso no inicio deste capítulo a palavra
fenômeno no plural):

5.3.1. O primeiro fenômeno de língua em Corinto era de origem


emocional, resultado do "emocionismo", identificado no capítulo 14
de I Coríntios, quando Paulo usa a palavra língua no singular, sem fazer
nenhuma menção ao Espírito de Deus; qualificado como ...em espírito
fala mistérios, e ...meu entendimento fica infrutifero(...), era a "língua"
que ninguém entendia. O que fala em língua não fala aos homens,
mas a Deus, pois ninguém o entende (...) (1 Co 14:2) Por que ninguém
entendia? Porque eram sons sem significado. Tampouco eram línguas
dos anjos, porque eles são seres espirituais, cuja comunicação difere da
comunicação dos humanos. Veja a razão:
Os humanos, em sua comunicação usam palavras pronunciadas
mediante sons, que nada mais são do que o deslocamento do ar pro-
vocado pelas cordas vocais, segundo um padrão definido pelo cére-
bro da pessoa que fala. Aquele que ouve tem dentro do seu ouvido um
tímpano capaz de captar o deslocamento do ar e identificar o som dentro
do mesmo padrão daquele que o emitiu (cordas vocais e tímpanos são
órgãos de emissão e audição de sons).
Já os anjos, seres de natureza espiritual, vivem num mundo espiritual
diferente do nosso, não têm cordas vocais e são desprovidos de tímpano.
Sua comunicação se dá por outro processo, característico do mundo
espiritual em que vivem e do corpo (espiritual) que possuem. Conse-
qüentemente, aquela língua dos coríntios jamais poderia ser língua dos
anjos. É por isso que o apóstolo usa o termo ...ainda que eu falasse (... )
(ICo 13:1), cujo sentido é: se fosse possível... Contudo não é possível
falar línguas de anjos, porque elas não existem.
O Dom de Línguas na Bíblia Significa Idioma • 53

Não se trata do dom de línguas do Espírito Santo, porque já ficou


demonstrado que o dom de línguas, na Bíblia, significa idiomas.
Como explicar então que Deus mesmo assim entende, conforme
relatado pelo apóstolo em I Co 14:2? A resposta está na onisciência de
Deus. Ele é onisciente, sabe todas as coisas, conhece até nossos
pensamentos, mesmo antes de nos virem à mente. Obviamente ele não
precisa de palavras inteligíveis para perceber o que o homem está que-
rendo dizer, ainda que em meio ao descontrole de suas emoções. Eis a
razão de Paulo afirmar que Deus sabia o que tais pessoas queriam dizer
quando manifestavam aquele tipo de "língua", a "linguado emocionismo",
embora os que ouviam não entendessem. Mas se Deus compreende,
que mal havia nessa prática? Pelo menos dois males: primeiro, a adora-
ção deve ser um ato de entendimento: ...amarás o Senhor teu Deus
(...) de todo o teu entendimento (Mt 22:37; ... orarei com o espírito,
mas também orarei com o entendimento (...)(I Co 14:15). Segundo,
em virtude da confusão que provocava na igreja.
Essa confusão acontecia não só devido ao barulho, que interrompia
quem estava proferindo as mensagens, como também porque os irmãos
que não "falavam", ao ouvirem aquilo ficavam na maior dúvida, e se
perguntavam: "Será que isto é espiritualidade?... Este irmão que ora em
"língua" é por acaso mais crente do que eu?..."
Por outro lado, aqueles que "falavam" a "língua" do emocionismo,
ficavam cada vez mais orgulhosos, julgando-se superiores e melhores.
Note que esse exibicionismo é típico do descontrole emocional da
jactância. O fato é que tudo não passava de infantilidade (I Co14:20) e
carnalidade (I Co 3:1-3). Paulo entendia perfeitamente o que estava
acontecendo com esse falso dom.
Quanto ao fato de alguém que fala a linguado "emocionismo" edificar-
se a si mesmo (I Co 14:4), é muito simples. Se a pessoa na sua infantilidade,
e por falta de compreensão das Escrituras, tem uma necessidade imperiosa
de conseguir "falar" a língua "estranha" para se sentir espiritualmente
realizada, sem dúvida, no momento em que consegue ela se sente mais
54 • A Ação do Espírito Santo nas Igrejas

espiritual e agraciada. Infelizmente tudo não passa de simples "emo-


cionismo", porque não há poder para evangelização, como aconteceu no
Pentecostes, quando os apóstolos falaram das grandezas de Deus.
Portanto, "falar a língua do emocionismo" não é tornar-se mais
espiritual. Ao contrário, muitas dessas pessoas desconhecem o que é
humildade e simplicidade; passam a cultivar uma espécie de orgulho
próprio, uma auto-exibição caraterística desse descontrole emocional,
acreditando-se mais espirituais. Sem perceber, cometem excessos,
pendendo para um fanatismo irracional, algumas vezes até agressivo.
Paulo faz recomendações pesadas contra o "falar" a língua estranha
(a do emocionismo): ...dou graças a Deus, que falo em línguas mais
do que vós todos. Todavia na igreja eu antes quero falar cinco
palavras com meu entendimento, para que possa também instruir
os outros, do que dez mil palavras em língua (1 Co 14:18,19).
Observe aqui que Paulo está se referindo à língua (singular) que ninguém
entende. Ele está categoricamente afirmando que prefere cinco palavras
inteligíveis a dez mil que ninguém entenda. Note: cinco palavras inteligíveis
valem mais que dez mil em "língua do emocionismo" ("estranha")!
Essa manifestação era uma espécie de deleite em êxtase, cujas origens
foram herdadas da bagagem cultural religiosa dos crentes, ex-pagãos,
como os do templo de Apolo, em Delfos.
Conforme relatos arqueológicos, esse templo fora construído em cima
de uma caverna, de onde saíam vapores, que o povo julgava ser o hálito
de Apoio. Esses vapores, por suas características químicas, tinham efeitos
narcóticos/alucinógenos, funcionando como um estímulo inicial; (po-
deríamos, numa comparação, dizer que eram levemente parecidos com
os efeitos da maconha). Acontecia, então, que as sacerdotisas daquele
templo, ao se colocarem em cima do altar para prestar culto, e respirando
por determinado tempo aquele ar, começavam a emitir sons estranhos,
sem sentido algum. O povo, vendo aquilo, acreditava que aquelas mulheres
estavam sendo possuídas por deuses, em particular, Apoio.
A verdade é que no caso dos pagãos, que não crêem em Jesus, além
O Dom de Línguas na Bíblia Significa Idioma • 55

do efeito humano ou narcótico, há também o efeito maligno, pois segun-


do o apóstolo João, quem não é filho de Deus, é do diabo: Sabemos
que somos de Deus, e que o mundo inteiro jaz no maligno (1 Jo
5:19).
5.3.2.0 segundo fenômeno de língua em Corinto, era o dom de
línguas dado pelo Espírito Santo, o qual Paulo descreve como dom de
variedade de línguas (I Co 12:10,30), que eram idiomas. O interessante
é que na igreja de Corinto esse dom de línguas era muito raro, o que
menos existia; a maior parte das pessoas "falava" a "língua do emo-
cionismo", e o fazia por ignorância (I Co12:1).
A comprovação do verdadeiro dom dentro do mesmo capítulo (14),
onde ele reprime a língua estranha, está no v. 21. Observe que o apóstolo
faz uma referência à profecia de Isaías: ...por homens de outras línguas
e por lábios de estrangeiros falarei a este povo; e nem assim me
ouvirão (...) (1 Co 14:2)
Pergunto a você: Como se pode falar ao povo com uma língua que
não seja idioma? Está claro que o dom do Espírito Santo é idioma. É
por isso que quando Paulo se refere ao dom de línguas dado pelo Espírito
Santo ele está falando de línguas étnicas (línguas de nações da Terra),
usando a palavralínguas sempre no plural. Um idioma é composto de
várias palavras (Ex.: português, 250.000, aproximadamente; árabe, 2,5
milhões), e não de pedaços de palavras, ou de um pequeno número.
Outra razão por que o dom de línguas não pode significar língua estranha
é que todos os dons existem para edificar a comunidade cristã local, e
não o indivíduo que tem o dom. Tendo em vista o aperfeiçoamento dos
santos, para a obra do ministério, para edificação do Corpo de Cristo
(Ef 4:12); A cada um é dada a manifestação do Espírito paraproveito
comum (1 Co 12:7) (Grifos do autor).
Observe também que nos versículos 3,5,10,16,17,19,26,31, de I
Coríntios, 14 há uma constante preocupação de Paulo em ensinar àqueles
irmãos que toda a Igreja deveria ser edificada. Deus sempre tem um
propósito definido em tudo que faz. Pense! Que propósito pode haver
56 • A Ação do Espírito Santo nas Igrejas

no fato de uma pessoa pronunciar uma língua estranha sem que ninguém
entenda, nem mesmo ela? Paulo também tocou nesse ponto com os
coríntios, ao escrever: Ora, até as coisas inanimadas, que emitem
som, seja flauta, seja cítara, se não formarem sons distintos, como
se conhecerá o que se toca na . flauta ou na cítara? Porque, se a
trombeta der sonido incerto, quem se preparará para a batalha?
Assim também vós, se com a língua não pronunciardes palavras
inteligíveis, como se entenderá o que se diz? Porque estareis como
que falando ao ar (I Co 14:7-9).
Agora me dirijo a você, meu leitor: falando do dom de línguas (idiomas),
esqueçamos por um momento o "emocionismo" (a "língua estranha").
Para que, ou por que razão uma pessoa se levantaria para falar ou pregar
nos cultos da congregação num outro idioma, se não houvesse nenhum
estrangeiro presente? Como os demais irmãos poderiam receber a
mensagem de Deus, ou acompanhar o raciocínio de quem estivesse
falando, se ele usasse um idioma estrangeiro e desconhecido? Com todo
o respeito, mais parece coisa de doente mental, que está em delírio, não
é? Paulo também pensava assim; tanto é que no v. 23 do capítulo 14 ele
pergunta: Estais loucos ? Note que tudo isso se referia ao dom de lín-
guas mal utilizado. Veja: dom de línguas! Imagine a língua estranha!!
Este assunto trouxe um transtorno tão grande àquela igreja, que o
apóstolo ainda apresentou inúmeras razões contrárias a se falar
línguas (idiomas) sem ter quem entendesse, mas principalmente contra
o "falar" a "língua estranha" ("emocionismo"). Esta ele já aniquila
logo no inicio do capítulo 14, no v. 2, quando diz que ninguém entende.
No v.13 ele instrui quem fala essalíngua a orar, para que possa interpretar.
Mas como interpretar algo que ninguém entende? A resposta está clara
no que Paulo dizia: "Parem com isso!..." Nesse mesmo capítulo (14) ele
relaciona vários argumentos contra a língua estranha, e também contra o
mau uso do dom de línguas: Profetizar é mais do que falar línguas, e
deve valer como um ato de amor aos perdidos ( v.1,5).
Profetizar fala aos homens e traz edificação, encorajamento e consolo
para a comunidade (Igreja) (v. 3,4).
O Dom de Línguas na Bíblia Significa Idioma • 57

Não há proveito para a Igreja em se falar línguas estranhas. Note que


Paulo está se referindo ao dom de línguas, sem ter a presença de um
estrangeiro no culto para que possa entender a mensagem de Deus (v.6).
Com referência à "língua do emocionismo", o apóstolo faz a seguinte
afirmação: Até as coisas inanimadas que emitem som o fazem com um
sentido definido; então por que, ou para que um indivíduo passa a emitir
sons sem sentido durante sua adoração, se ele é um ser racional? Estará
perdendo seu tempo, falando ao ar (v.7,8,9, 10).
Se não posso entender o que ouço, serei estrangeiro para o que fala,
e ele estrangeiro para mim (v. 11).
Devemos orar com nosso espírito, sem nunca perder o entendimen-
to. Nossa oração deve ter um propósito; afinal, somos seres racionais
(v14,15). Como os outros irmãos da congregação dirão amém, se não
sabem por que, ou por quem estamos orando, ou se estamos orando?
(v16).
Referindo-se à língua estranha, Paulo disse que falava em línguas
(grego, latim, aramaico, hebraico...) mais que todos eles juntos, mas
preferia falar cinco palavras com entendimento, para que os co-
ríntios pudessem ser instruídos, a pronunciar dez mil palavras na
língua do emocionismo (v. 18,19).
Os crentes de Corinto deveriam ser adultos na doutrina e no modo de
pensar, no entendimento; contudo deveriam ser meninos na malícia (v.
20).
Nos versículos 21 e 22 de I Co 14 Paulo afirma que falar línguas foi
um sinal para os incrédulos no Pentecostes, conforme antecipado pelos
profetas. Cumpriu-se, portanto, a profecia do capítulo 28 do livro de
Isaías.
Estais loucos - Se alguém de fora os ouvisse falando línguas es-
trangeiras, ou língua resultante do descontrole emocional, acharia que
todos estavam perdendo o juízo (v23).
Sobre o uso da "língua do emocionismo" na Igreja, Paulo sabia que
a possibilidade de alguém interpretar era remotíssima. Mesmo assim,
58 • A Ação do Espírito Santo nas Igrejas

observe que ele restringiu essa prática a duas pessoas, no máximo três,
mas com a obrigatoriedade de haver quem as interpretasse: Se alguém
falar em língua, faça isso por dois, ou quando muito três, e cada
um por sua vez, e haja um que interprete. Mas se não houver
intérprete, esteja calado na igreja, e fale consigo mesmo, e com
Deus (1 Co 14:27,28). Não havendo intérprete, a pessoa deveria ficar
calada. Óbvio que não haveria intérprete, pois não há como interpretar
a "língua do emocionismo", porque não é idioma (I Co 14:2).
Mesmo com todas essas razões, os carismáticos se posicionam con-
trários, alegando: Paulo mandou que os coríntios "falassem" "línguas
estranhas" e que ninguém os proibisse na igreja. Eles citam os versículos
5 e 39 do capítulo 14: E quero que todos vós faleis línguas, mas
muito mais que profetizeis(...) Portanto, irmãos, procurai com zelo
profetizar, e não proibais falar línguas.
Atente para dois detalhes importantes: primeiro, nestes dois versículos
Paulo estava se referindo ao dom de línguas, cuja ocorrência era muito
rara naquela igreja; segundo, seria uma grande incoerência de Paulo
aplicar pelo menos 12 argumentos contra o falar "língua" (do "emo-
cionismo"), e também contra a má utilização do verdadeiro dom, ins-
truindo ao mesmo tempo os irmãos a permanecerem como antes.
O apóstolo, na realidade, estava aparentemente admitindo, e não
ordenando; ele próprio rejeitou para si falar "língua estranha"; também
não aceitou o uso indevido do verdadeiro dom de línguas (falar noutro
idioma, que os ouvintes não compreendessem).
O ques ocorreu foi o que se chama, em lógica, de argumento "ad
hominem". É a maneira de confundir o adversário, opondo-lhe suas
próprias palavras ou ações, isto é: quando se está discutindo um de-
terminado assunto, para não espantar logo de início o oponente, fala-se:
"Vá lá que seja, admito, concordo em parte..." etc. Então é que se
começa a desenvolver um argumento que desmorone o opositor. (A
visão desse raciocínio devo ao Dr. Delcyr S. Lima, de quem tive o
privilégio de ser aluno na pós-graduação).
CAPÍTULO VI

O Fenômeno de Língua Estranha na Atualidade

Chegando a esta fase do estudo, surge a pergunta: O que vem a ser o


fenômeno de "língua estranha" observado hoje entre os pentencostais,
carismáticos, e os neopentecostais?
Conforme ficou demonstrado nos capítulos anteriores, o fenômeno
que hoje acontece nesses grupos é totalmente diferente daquele ocorrido
em Atos dos Apóstolos, no Pentecostes, quando as línguas eram idiomas,
e foram usadas para falar das grandezas de Deus, cumprindo a profecia
de Isaías e Joel. Os ouvintes estrangeiros compreenderam perfeitamente
toda a mensagem.
O que ocorre hoje é muito parecido, ou talvez até igual à "língua
estranha", aquela que foi resultante do "emocionismo", que os coríntios,
na sua infantilidade, trouxeram do paganismo como fenômeno psíquico.
Vários fatores podem desencadear o descontrole emocional numa
pessoa: ela própria, outra pessoa, o meio social, o maligno, e até a pre-
sença de Deus. Contudo, em relação a Deus não é ele quem provoca
o "emocionismo", e sim a própria pessoa, que por um distúrbio na
emoção, e/ou por imaturidade espiritual, se entrega a esse estado de
comoção quando contempla a glória de Deus. Contudo, a evidência
bíblica de que Deus não provoca "emocionismo" é o domínio-próprio,
que caracteriza o fruto do Espírito. Esse tipo de comunhão o Senhor
não quer para seus servos. Jesus ensinou em seu maior mandamento
que devemos adorar a Deus com entendimento: ...amarás ao Senhor
teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, e de todo o teu
60 • A Ação do Espírito Santo nas Igrejas

entendimento (Mt 22:37) (Grifos do autor). Paulo mantém a mesma


orientação no que diz respeito à adoração, seja no orar, seja no cantar,
...porque se eu orar em língua, o meu espírito ora, sim, mas o meu
entendimento fica infrutífero. Que fazer, pois? Orarei com o espírito
mas também orarei com o entendimento, cantarei com o espírito,
mas também cantarei com o entendimento" (I Co 14:14,15, p.168,
1988).
Para que não haja dúvidas de que o "emocionismo" pode ter como
causa vários fatores, faço a seguinte ilustração: uma pessoa pode chorar
por vários motivos - dor física, saudade de alguém, alegria, irritação etc.
Note que o resultado sempre será o mesmo: o choro. Portanto, a pessoa
pode "falar" a "língua do emocionismo" provocada por ela mesma, por
outras pessoas, pela comoção dos cultos (não pela presença de Deus),
induzido pelos dirigentes, e até por um possível descontrole ao contemplar
a presença de Deus, num caso muito particular de comunhão pessoal.
Esse fenômeno, de forma nenhuma significa espiritualidade ou enchi-
mento do Espírito, nem pode ser uma norma a ser seguida; significa
unicamente descontrole emocional. Espiritualidade é o fruto do Es-
pírito, é haver aflorado na vida, de maneira visível, o caráter perfeito do
grande Mestre Jesus.
O grande erro dos pentecostais e carismáticos é utilizar esse
fenômeno e tentar identificá-lo com o dom de línguas; pior ainda,
afirmando ser o sinal do batismo no Espírito Santo. É errado também usá-
lo como seu carro-chefe de marketing, ao conduzir todos os seus mem-
bros a buscá-lo com veemência, tentando muitas vezes pentecostalizar
membros de denominações, que chamam de "tradicionais".
Eu, o autor, consigo ver isso com muita clareza, por haver nascido
num lar pentecostal, e ter freqüentado assiduamente aquela igreja até os
15 anos. Lá conheci a Jesus como meu Salvador e Senhor aos 6 ou 7
anos de idade, quando passei a ter entendimento das coisas. A razão
dessa compreensão é que, além da revelação bíblica cristalina que o
Senhor me concedeu, participei de inúmeras reuniões para receber "o
batismo no Espírito", da forma que eles entendem, mas nunca consegui.
O Fenômeno de Língua Estranha na Atualidade • 61

Vejo agora que nessas reuniões os dirigentes faziam uma forte pressão
emocional, para que as pessoas entrassem num estado de comoção,
imaginando ser o sinal de espiritualidade ou da presença de Deus. Orde-
navam como preparação que os crentes fizessem jejum, e durante a
oração mandavam que os candidatos a ser batizados repetissem con-
tinuamente a palavra "glória, glória, glória", ... sem contar que o lí-
der também ficava gritando no ouvido das pessoas: "Glória, glória,
glória..." até que conseguissem falar uma "meia dúzia de três ou quatro
vocábulos" sem nenhum sentido. Pronto! Dessa forma estariam "batiza-
das no Espírito Santo".
Que absurdo! Quanto misticismo na forma de fanatismo confundido
com fé! É por isso que nunca consegui receber esse tipo de língua; ao
contrário, sempre achei que algo estava errado ...
Em relação ao "Glória, glória, glória", diziam que era para glorificar a
Deus. Isso não faz sentido, porque a finalidade principal era receber a
"língua estranha". Glorificar a Deus exige muito mais do que um simples
"glória". O que realmente ocorre é uma auto-indução psíquica que leva
as pessoas ao descontrole emocional na forma de "emocionismo".
Outro aspecto a ser observado é a afirmação dos pentecostais de
que a oração em língua estranha é a oração perfeita. No entanto nosso
Senhor ensinou justamente o contrário, ao dizer: ...e orando, não useis
de vãs repetições, como os gentios; porque pensam que pelo muito
falar serão ouvidos (Mt 6:7, p.7, 1998). A frase não useis de vãs
repetições, no grego battalogesete, referia-se a um tipo de súplica de
qualquer qualidade de fala ininteligível durante a oração. O verbo consiste
em batta, que não é uma palavra com significado, mas uma sugestão
onomatopaica (palavra que imita a coisa significada) do som produzido;
e logeo, que significa falar.
Outras palavras com a mesma relação são gago (battalos) e gaguejar
(battaridzo). No entanto, nesse contexto Jesus não se refere ao mero
defeito de falar, e sim à repetição de sons ininteligíveis. Não foi isso que
Paulo condenou em I Coríntios, 14:9,11,19, ao se referir a "língua do
emocionismo".
62 • A Ação do Espírito Santo nas Igrejas

O propósito de todos os dons do Espírito Santo é edificar a igreja


local. Contudo o uso da "língua estranha" é prejudicial à Igreja, pois
causa desordem nos cultos, ocasionando murmurações e dúvidas. O
grande problema para essas pessoas é que elas perdem o rumo do
verdadeiro culto, que é glorificar somenteao Deus Triuno. Isso acontece
porque deixam de cultuar com o entendimento, para buscar uma espécie
de auto-satisfação mediante o cultivo de emoções descontroladas e
exageradas. O alvo passa a ser o sentir "algo mais", e não a ado-
ração a Deus. Aqui está o grande perigo desse ritual: a pessoa
vai aos cultos para buscar primeiramente satisfação própria, e
não para adorar a Deus. Tal pessoa, dentro do templo quebra o maior
mandamento: ...amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração,
de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento (Mt 22:37) (Grifos
do autor). Deus deve estar sempre acima de todas as coisas, mas
principalmente acima de nós mesmos.
O grande evangelista Billy Graham, o maior pregador do século XX,
em seu livro "O Espírito Santo" (p.63, 1992), relata que houve uma ocasião
em que também quis ter essa "experiência", mas desistiu por não encontrar
base bíblica para fundamentá-la; ao contrário, a Bíblia é contra essa
prática, conforme vem sendo demonstrado em todo o nosso estudo.
Mas como e por que esse fenômeno acontece hoje de uma forma tão
ampla e com tantos adeptos?

6.1. Por causa da magnitude imposta ao fenômeno


pelos pentecostais

Por causa da capacidade de impressionar os que desconhecem o


que realmente está acontecendo (maioria esmagadora de seus seguido-
res), e também os que estão de fora, e por ser a língua estranha um fenô-
meno visível, confundido pelos pastores pentecostalistas como atuação
sobrenatural do Espírito Santo, desencadeia-se nos cultos pentecostais
uma alegria e um orgulho denominacional de proporções cada vez
maiores. Isso fica patente quando ouvimos certos pastores dizerem nas
rádios e em seus púlpitos: "Na minha igreja o fogo cai !" "Minha igreja
O Fenômeno de Língua Estranha na Atualidade • 63

tem muito poder", "Na minha igreja se expulsam mais demônios"; "Nossa
denominação é a melhor!"...
O fenômeno de língua provoca um fato social relevante por causa da
falta de conhecimento bíblico. Esse fato social levou os pentecostais a
usá-lo como o padrão, o ideal da vida cristã. Passaram também a tra-
balhar todo o seu "marketing" em função da "língua do emocionismo".
Chegam mesmo a afirmar que há um retorno ao Pentecostes, e que a
manifestação dessa língua é um dom sobrenatural.
O povo, sem conhecer as Escrituras, assiste a esse acontecimento, e
acredita que é dom do Espírito Santo. O resultado é que o movimento
carismático segue como bola de neve, descendo morro abaixo, ou seja:
crescendo e sem controle. A verdadeira santificação por meio da ple-
nitude, com o fruto do Espírito, é esquecida. Prova disso é a ocorrência
de pessoas nas igrejas carismáticas que "falam língua", e minutos depois
estão falando mal da vida alheia. Muitos se perguntam: Como pode isso
acontecer? É simples: essa "língua" não é o dom de línguas, nem é sinal
de espiritualidade; ao contrário: é sinal de infantilidade e ignorância
espiritual (I Co 12:1).

6.2. A pressão que o ambiente exerce sobre as pessoas


Imagine um ambiente com várias pessoas falando ao mesmo tempo,
aliás, gritando: "glória, glória, aleluia", alguns já "enrolando" a língua
("falando língua estranha"), tudo isso na expectativa de que se vai receber
de Deus algo espetacular (na visão deles), o "batismo" no Espírito Santo,
cujo sinal, ensinado por eles, é "falar" a "língua estranha". Esse
ambiente (meio) exerce forte pressão sobre as pessoas. É preciso muito
autocontrole, para resistir e não entrar na "onda da maioria", até porque
esse tipo de "emocionismo" é prazeroso para o indivíduo, uma espécie
de êxtase, com uma forte dose de satisfação pessoal.
Os pastores pentecostais confundem essa reação do povo com
atuação do Espírito Santo na igreja. O povo acredita, porque isso
acontece dentro dos templos, mediante orações específicas para se
receber o suposto "dom de línguas" - à maneira deles.
64 • A Ação do Espírito Santo nas Igrejas

O que leva as pessoas a essa confusão? Os membros são ensinados


por seus pastores a acreditar que todo aquele movimento é o batismo
no Espírito Santo, bem como sua maneira de recebê-lo. A maioria, por
desconhecer os ensinos do Novo Testamento, lamentavelmente acredita.
Em segundo lugar, o fascínio de ver ou sentir "algo mais" cega o
entendimento dessas pessoas, até porque elas o fazem pensando ser um
sinal de espiritualidade. Com isso deixam de buscar na Bíblia a base de
sua fé, passando a firmá-la em cima de "testemunhos", "visões" e
"experiências" que outros dizem haver experimentado. Começam a bus-
car essas experiências como uma necessidade de auto-afirmação perante
o grupo, sem submetê-las ao crivo das Sagradas Escrituras.
Por outro lado, todo aquele ambiente de comoção, gritaria, choro e
muito mais, exerce uma forte indução sobre os participantes dessas reu-
niões. Criam-se condições propícias para que a maioria das pessoas
presentes fiquem tão comovidas que acabam entrando numa espécie
de transe, passando a emitir sons sem sentido algum. Nessa fase a pes-
soa que fala em "língua" entra num automatismo motor, clinicamente
descrito como um desprendimento interior radical do ambiente cons-
ciente. Isso leva a uma desassociação de quase todos os músculos
voluntários do controle consciente. A pessoa entra num estado de semi-
inconsciência, sem controle de si. Nesse estágio, a "língua" (os sons sem
sentido) flui facilmente.
Esse fenômeno é recebido com muita alegria, porque é tido como
ação do Espírito Santo no meio do seu povo, fazendo com que essa
prática seja cada vez mais estimulada.
Devido ao prazer vivido pela pessoa que "fala", como também do
grupo, por pensar que se trata do derramamento do poder de Deus,
não se medem as nefastas conseqüências que tudo isso provoca dentro
da igreja, e nos que estão de fora. É por isso que o Novo Testamento
apresenta argumentos contrários, conforme relato de I Coríntios, 14.
Há de se considerar também algum efeito hipnótico da liderança.
Contudo, o mais importante é a pressão do ambiente sobre as pessoas.
O Fenômeno de Língua Estranha na Atualidade • 65

Vou apresentar ainda, para uma maior fixação, dois exemplos simples
de como o meio influencia as emoções do ser humano: quando entramos
num ambiente de forte comoção, onde todos estão chorando (p. ex.,
num funeral), sentimos logo vontade de chorar também. Isso acontece
porque o ambiente exerce uma coerção natural sobre o indivíduo. A
questão é que algumas pessoas são mais suscetíveis que outras, sendo
facilmente levadas ao desespero, ao descontrole emocional, reagindo
com desmaios, gritos e pânico... O segundo exemplo é um concerto
musical de rock, onde algumas moças, naquela emoção e excitação, no
fervor do barulho, entregam literalmente o "controle" de suas cordas
vocais e de seus músculos ao "estado de emocionismo". Caem no chão
e simplesmente desmaiam.
O mesmo acontece num culto saturado pelo forte "emocionismo",
cada vez mais incentivado por seus líderes. O resultado é uma comoção
generalizada em quase todos os presentes. Esse estado de descontrole
emocional leva as pessoas a gritar, suspirar, pular, achando que estão
glorificando a Deus com altos brados de "aleluias", "louvado seja Deus",
"glória a Deus" e "amém".
Os pentecostais, em sua inocência teológica, acreditam que toda
aquela "alegria" é o derramamento do poder de Deus, e afirmam que o
fogo está caindo. Nesse estado de comoção, alguns começam a ter
"visões", "revelações" e também, é claro, o mais comum é passarem a
pronunciar os tais sons sem sentido, a "língua estranha" (do "emocio-
nismo"). Esses fenômenos ocorrem porque aqueles irmãos não com-
preendem o que realmente está acontecendo, por faltar-lhes o devido
conhecimento bíblico sobre a forma de atuação do Espírito Santo.
Obviamente muitas pessoas, mesmo sendo crentes fiéis, e de certa
autodisciplina, nunca conseguiram nem conseguirão falar a "língua do
emocionismo", nem chegarão a ter as "visões", visto que se alimentam
da fé bíblica, não se deixando levar pelo descontrole emocional. Contudo
o triste e doloroso é que muitas vezes esses irmãos são inferiorizados
pelos demais, sendo considerados "crentes de segunda classe". Na
maioria das denominações pentecostais um membro só pode ser
66 • A Ação do Espírito Santo nas Igrejas

consagrado a diácono, presbítero, pastor etc, se for "batizado" no Espírito


Santo, sendo que o sinal de ser "batizado" para eles é "falar", ou haver
"falado", pelo menos uma vez na vida, a "língua estranha". Já imaginaram
quantas pessoas sofreram e ainda sofrem por causa desse triste equí-
voco? Repito: essas coisas acontecem por falta de conhecimento da
Palavra de Deus.
Mesmo desconsiderando que essa prática está totalmente fora dos
ensinos dos apóstolos em Atos, Coríntios, ou qualquer outro livro do
Novo Testamento, o grande problema que vejo no "emocionismo" é
sua capacidade de levar as pessoas a um egoísmo, um orgulho "espiritual",
que sempre terminam em fanatismo e superstição, ficando prejudicada
a verdadeira fé. As pessoas sempre estarão buscando sentir, receber e
ver algo espetacular... A Bíblia é menosprezada, consciente ou incons-
cientemente, e em alguns casos até renegada. Passam a valorizar as
experiências de "revelações", "visões" e "profecias" como sendo divinas.
Participei de cultos nos quais várias vezes, durante a oração, ou no
momento em que o pastor pregava, levantava-se de repente alguém,
dizendo-se tomado por Deus, intitulando-se "profeta", e todos co-
meçavam a agir como se Deus houvesse incorporado naquele irmão
que dizia: "Meu servo..., minha serva... sou eu quem fala contigo..." Era
como se Deus o houvesse tomado; e todos se entregavam a um profundo
silêncio. A pregação ou qualquer outra parte do culto era paralisada.
Aqui já observo um grave problema, porque o desrespeito a Deus atinge
níveis insuportáveis. Vejamos: no Velho Testamento, quando Deus usava
os profetas, em nenhum momento eles sofriam uma incorporação,
Deus usando o corpo deles sem que tivessem conhecimento do que
estava acontecendo, ou do que estavam falando. No Novo Testamento
foi a mesma coisa. Veja o que disse Paulo: ...os espíritos dos profetas
estão sujeitos aos profetas (1 Co 14:32).
Nesta passagem o espírito do profeta é o mesmo que sua perso-
nalidade, seu eu. Deus jamais massacra a personalidade de uma pessoa.
Esta é a grande diferença entre Deus e o diabo, quando se trata de usar
o ser humano como seu instrumento. O diabo e seus demônios, ao se
O Fenômeno de Língua Estranha na Atualidade • 67

incorporarem nas pessoas denominadas de "médiuns, "cavalos",


"aparelhos" pelo espiritismo e o candomblé, tomam posse delas de tal
maneira que massacram a personalidade do indivíduo, a ponto de eles
não saberem o que estão fazendo, nem terem controle sobre o que
fazem. No caso de Deus a diferença é total, como água e vinho, incon-
fundível. Ao usar uma pessoa Deus não precisa e jamais precisará reti-
rar dela seu eu, sua personalidade, sua vontade própria. Isso porque ele
nos respeita e nos ama, e quer que estejamos sempre conscientes em
nossa comunhão com ele. É por isso que as profecias no Velho Testamen-
to sempre começavam desta maneira:Assim diz o Senhor...
Outro aspecto a observar na Bíblia era o conteúdo das profecias:
elas sempre traziam os propósitos de Deus para seu povo, bem como
falavam de suas grandezas. Comparando-as com as falsas profecias de
hoje, nota-se um contraste. Hoje, em sua maioria, as supostas profecias
estão mais ligadas a questões de comportamento e costumes pessoais,
a um cristianismo farisaico, relativo à forma e não ao conteúdo, e sempre
caminhando para o lado da adivinhação. Quantas confusões e sofrimen-
tos têm acontecido por causa dessas coisas, dessas mentiras! Isso não
vem de Deus; é um pecado; afinal, Deus não é Deus de confusão,
mas sim de paz (1 Co 14:33). Nosso Senhor Jesus Cristo afirma em
Lucas, 16:16 que o ofício de profeta como existia no Velho Testamen-
to durou até João Batista: ...a lei e os profetas vigoraram até João;
desde então é anunciado o Reino de Deus, e todo homem forceja
por entrar nele. Observe que o tema das mensagens dos profetas
sempre foi o Reino de Deus. Essa palavra de alerta provocava nas
pessoas que recebiam a mensagem um grande esforço para caminhar
em direção ao Reino.
Muitas vezes entendido de forma errada como a capacidade de prever
o futuro, principalmente em Coríntios, e nas demais cartas de Paulo, o
dom da profecia é a capacidade de proclamar a Palavra de Deus.
A palavra grega aqui usada vem do verbo propheteuo, que significa
literalmentefalar perante. O sentido principal é perante alguém em
algum lugar, embora num sentido secundário possa significar também
68 • A Ação do Espírito Santo nas Igrejas

antes, com idéia de tempo. O contexto sempre mostra onde o sentido


principal é substituído pelo secundário. Portanto, o dom de profecia é a
capacidade de se falar perante o povo, proclamando a Palavra de
Deus, por vezes como elemento preditivo. Não se trata de adivinhar o
futuro nem a vida particular das pessoas; o propósito é outro: proclamar
a Palavra de Deus.
Deus, mediante a Bíblia, já revelou tudo que irá acontecer até o final
dos tempos, bem como tudo que é necessário para a redenção do ho-
mem. Deus ainda adverte: ...se alguém acrescentar (...) se alguém
tirar qualquer coisa das palavras do livro desta profecia, Deus lhe
tirará a sua parte da árvore da vida (...) (Ap 22:18,19, p.245)
Voltando ao fenômeno de línguas, tenho absoluta certeza de que a
maioria das ocorrências nas igrejas sérias é "emocionismo". Digo
maioria, mas não que uma parte seja ação do Espírito Santo; não é, de
forma nenhuma. Também não é "emocionismo", mas fraude, quando
muitos irmãos, individualmente, passam a imitar os outros na "língua do
emocionismo", querendo se apresentar como "espirituais", em função
da pressão que o grupo exerce, para usufruir os "privilégios" que só os
"poliglotas da língua estranha" desfrutam em suas comunidades.
Os casos de sugestão hipnótica são mínimos. Os pentecostais acre-
ditam que em algumas ocasiões há uma ação diabólica até para seu
suposto dom de profecias. O escritor pentecostalista Estevam Ângelo
de Souza relata em seu livro "Nos domínios do Espírito": À semelhan-
ça do Espírito Santo, o espirito imundo fala (...) a mensagem pro-
duzida pelo espírito imundo mentiroso se caracteriza pela desar-
monia com a Palavra de Deus e pela tragédia, em que caem as
vítimas de sua falsidade (1987, p.199) (Sic).
Que absurdo um espírito maligno falar à igreja de Cristo, como se
estivesse profetizando ou falando línguas! Esses supostos "dons" na
interpretação e no entendimento pentecostal trazem sempre confusão
para a igreja. Nunca é algo definido: pode sempre ser de Deus, do
homem, ou do diabo, deixando dúvidas na congregação, e a seguinte
pergunta nos seus seguidores: Será que é espiritualidade?; Será que é
O Fenômeno de Língua Estranha na Atualidade • 69

de Deus?; Será que... Meus irmãos, deixemos de lado a experiência


e fiquemos com a Bíblia. Experiências na vida cristã sem o crivo da
Bíblia sempre acabam em confusão.
Durante o período em que escrevi este livro fui incentivado por alguns
dos meus amigos carismáticos a não publicá-lo, e aconselhado a não
ministrar estudos bíblicos sobre o Espírito Santo; também anão participar
de debates em rádio e televisão sobre o dom de línguas. Só que não
posso calar-me diante da Verdade Bíblica. Tampouco posso per-
mitir que a doutrina do Espírito Santo seja distorcida. Pelo
contrário, estou convencido de que devo trabalhar para o cres-
cimento espiritual de todos, permanecendo com a Verdade.
Não obstante tudo isso, devemos ter amor por nossos irmãos pen-
tecostais. Nossas diferenças não podem de maneira nenhuma nos dividir.
Particularmente me sinto unido a eles de modo muito especial, prin-
cipalmente na área da evangelização.
Também percebo que os pentecostais sérios têm buscado a cada dia
melhorar no estudo sistemático da Bíblia, fundando seminários e centros
de estudos bíblicos. Reconheço que eles reúnem muitas qualidades,
principalmente no que diz respeito à ousadia e ao esforço para a evan-
gelização. Isso acontece em especial nas Assembléias de Deus.
Infelizmente não podemos dizer o mesmo de certas denominações
"pára-quedistas", que na verdade são uma grande caixa registradora
para seus líderes, fazendo mercantilismo com os "supostos milagres",
exorcismo e prosperidade, fruto de encenações teatrais, força mental, e
mente doentia. Que eles possam, pela misericórdia de Deus, ser atingidos
pela graça salvadora do nosso Mestre, Jesus.

6.3. A questão da experiência pessoal


No meio pentencostalista há uma valorização excessiva da "experiên-
cia pessoal", em detrimento dos ensinos da Bíblia. Por que eles insistem
em mantê-las, e até justificá-las?
Neste assunto há uma pergunta que precisa ser respondida, antes de
70 • A Ação do Espírito Santo nas Igrejas

prosseguir. Observe: ao tirarmos lições de entendimento e compreensão


a respeito de Deus, sua natureza, o que ele está realizando em nossa
vida, o que é mais importante, a experiência ou o que a Bíblia diz? Não
tenho dúvidas de que a maioria dos pentecostais, se forem honestos
consigo mesmos, teriam de responder que é a experiência. Por mais
que queiram colocar a Bíblia num lugar de autoridade sobre a sua vida,
ela ainda fica num segundo plano em relação à experiência. Isso é muito
claro na literatura pentecostal, bem como nos programas de rádio e
televisão.
Há alguns anos ouvi o testemunho de um famoso cantor pentecostal,
que acordou certo dia muito deprimido. Estava tão triste, que nem sentia
apetite para o café da manhã. Repentinamente seu cachorro entrou na
cozinha e começou a dar "glória a Deus". Ele disse: "Oh, glória!" "Se
até ao meu cachorro Deus deu o dom de glorificá-lo, por que tenho de
ficar triste? Sai para lá, tristeza! No nome de Jesus eu te expulso!..."
Em outra ocasião fui pregar numa igreja pentecostalista; ao final do
culto o pastor chamou à frente uma senhora visitante que estava meio
doente. Pelo aspecto me pareceu muito pobre; sua doença principal era
a desnutrição. O pastor chamou um obreiro para orar e expulsar o
demônio que estava "oprimindo" aquela senhora. Após a oração, o irmão
que intercedeu pediu a palavra e disse: "Tive uma revelação durante a
oração". Todos ficaram em silêncio. Ele então disse: "O Senhor me
mostrou que esta senhora tem uma bactéria no estômago de mais ou
menos 10 cm..." Uma bactéria de 10 cm!!... Coitado! Uma bactéria
não chega nem a um centésimo de milímetro! Para vê-la em laboratório
é necessário um microscópio, que aumenta pelo menos 500 vezes, e
com contraste.
Concordo que os dois exemplos são bizarros e estranhos. Talvez
seja injusto identificar o movimento pentecostal com acontecimentos
como esses. Gostaria que os dois exemplos acima fossem raros, mas
infelizmente não são, e a razão disto é que nas fileiras carismáticas
nenhuma experiência tem que ser testada e aprovada pelo crivo
das Sagradas Escrituras, porque a experiência dá validade a si
O Fenômeno de Língua Estranha na Atualidade • 71

mesma. Não há nenhuma forma de parar ou julgar os testemunhos


bizarros de "experiências". Cada pessoa tem liberdade para contar qual-
quer coisa em seu testemunho, e a maioria acredita incondicionalmente.
Em vez de checar a experiência de um membro com a Bíblia, para
determinar sua autenticidade, o pentecostal tenta colocar a Bíblia de
"alguma maneira" na experiência. Quando ela não se encaixa, ignora-a.
Participei de um debate numa grande rádio FM do Rio de Janeiro,
sobre o tema: "Você acredita em línguas estranhas?" Do lado carismático,
o debatedor foi um pastor da Assembléia de Deus, muito conhecido na
mídia. Após certo tempo de confronto, ao perceber sua fragilidade em
fundamentar na Bíblia o ponto de vista pentecostal, começou a apelar,
dizendo: Wilson Franklim, você não pode falar de algo que você co-
nhece apenas teoricamente. Eu tenho autoridade para falar, porque
tenho a experiência. Coincidentemente aquele pastor acabara de lan-
çar vários CDs de mensagens gravadas, uma delas sobre o homosse-
xualismo. A fim de não causar constrangimento àquele irmão, no intervalo,
fora do ar, eu lhe perguntei: quantas experiências você precisou ter com
homossexuais para fazer este CD? Ele respondeu de imediato: Que é
isto, irmão Wilson??? Então lhe respondi: "Minha pergunta é tão
absurda quanto a sua afirmativa de que só pode falar sobre dom de
línguas quem teve uma "experiência pentecostal".
Onde está o entendimento dado pelo Espírito Santo aos seus servos?
Irmãos, isto é, literalmente, torcer a Palavra de Deus.
Observe que no capítulo I eu lhes mostrei as diferenças entre fé bíblica
e misticismo, e como eles são parecidos, chegando a confundir-se, na
medida em que nos distanciamos das Escrituras. Quando se tem fé, a
confiança vem de fora para dentro do indivíduo. Isto é: vem pelo ouvir a
Palavra; portanto, não há experiências mirabolantes nem necessidade
de sentir nenhum tipo de êxtase; isso é fé genuína, o firme fundamento
das coisas que não se vêem... Em relação ao misticismo, aqui pre-
dominante em forma de fanatismo, a confiança nasce das "experiên-
cias" de alguém que vê, ouve, e/ou sente algo mais, e não da Bíblia.
No processo carismático não há predominância da fé bíblica; ninguém
72 • A Ação do Espírito Santo nas Igrejas

experimenta a fé quando vê, ouve ou sente algo. Digo vê, ouve, e sente
porque as línguas estranhas, as visões e outras coisas estão presentes
nesses cultos, não como ação do Espírito Santo, conforme já demonstrei,
mas sim como conseqüência de um distúrbio emocional denominado
"emocionismo". Tudo começa com o "batismo do Espírito Santo" da
forma carismática, a doutrina-chave do pentecostalismo. Sua principal
característica, que a destaca das outras denominações, é que a pessoa,
ao se tornar crente, deve buscar com diligência o "batismo do Espírito".
Ao conseguir, ela experimenta como primeiro sinal o falar em línguas
estranhas. Algumas vezes esse "batismo" também é acompanhado de
"visões", "lampejos emocionais", "euforia"... O ensino dessa experiência
pós-salvação abre as comportas para a crença de que o cristianismo,
vivo é uma experiência após a outra. Isso cria nas igrejas uma espécie
de competição para ver quem tem a experiência mais espetacular, sem
limites.
Existem discos cuja gravação é de irmãos que afirmam haver sido
arrebatados em espírito até o céu e voltado para contar a história. Outros
dizem que morreram, foram até o céu e ressuscitaram. Quanto absurdo,
por desconhecerem os ensinos bíblicos do nosso Senhor! Ele afirma em
Mateus que a pessoa que está no céu não pode mais voltar para a Terra
(parábola do rico e Lázaro).
Irmão, deixemos de lado as "experiências", fiquemos com os ensinos
da Palavra de Deus, e pratiquemos a verdadeira fé, a certeza daquilo
que esperamos e a prova das coisas que não vemos.
CAPÍTULO VII

O Fenômeno de Língua Estranha Entre


Religiões não Evangélicas

7.1. Relatos históricos de acontecimentos antes da era cristã

O fenômeno de língua estranha não é uma exclusividade dos ca-


rismáticos e pentecostais. Entre os pagãos, o mais antigo é o "Relato de
Wenamon" (Barton, 1916, p.353), que data do ano 1100 a.C. Conta-
se que um jovem adorador ficou possesso pelo "deus" e falou numa
linguagem extática (estranha).
Os "Diálogos de Platão", de 429-347 a.C. (Plato, séc.244), revelaram
um conhecimento de fala religiosa extática. O filósofo grego escreveu a
respeito de certas famílias que participavam de santas orações, ritos e
pronunciamentos inspirados que, de repente, se tornaram possessas e
perderam o juízo (perda de controle das faculdades mentais, porém não
o enlouquecimento)
No "Ion" (Ibid, séc. 533-534) Platão declarou que os bons poetas
compõem seus poemas não pela arte, mas pela inspiração, quando estão
possessos. Nesse momento "deus" retira a mente deles e os usa como
seus servos. Esse "deus" fala pelos adivinhadores e santos profetas,
quando se encontram num estado inconsciente. Platão também comparou
os poetas aos foliões coribantianos, que se tornaram extáticos na fala, e
às moças baquianas do culto dionisiano.
No "Timaeus" (Ibid, séc.71-72) Platão declarou que quando um
homem recebe apalavra inspirada, sua inteligência é dominada no sono,
74 • A Ação do Espírito Santo nas Igrejas

ou ele (o adivinhador) é desnorteado por uma possessão. Portanto, não


lembra o que falou. Esses pronunciamentos são acompanhados de visões
que o homem também não pode julgar. Necessitam-se assim de "in-
térpretes" ou "profetas" para exporem as declarações obscuras deste
adivinhador.
Precisamos analisar certos fatos nas observações de Platão: primeiro,
quem fazia as "declarações inspiradas" não exercia o controle sobre
suas faculdades mentais. Segundo, a própria pessoa não entendia o que
dizia. Terceiro, havia a necessidade de interpretação por outrem. Quarto,
as visões e curas acompanhavam as palavras. Finalmente a pessoa que
falava estava sob a possessão "divina".
Na sua "Eneida" (Hutchins, 1952) Vergilio, em 70-19 a.C., descreveu
um fenômeno ocorrido com a sacerdotisa Sibelina na Ilha de Delfos. Ela
atingia seu estado de língua estranha (fala extática) numa caverna de
adoração, onde os ventos encanados produziam sons esquisitos e às
vezes até uma espécie de música. Quando ela se uniu em espírito ao
deus Apolo, começou a falar a língua estranha.
A presença da língua estranha também se dá nos relatos históricos
das religiões de mistérios do mundo greco-romano, nos cultos a Osíris
originados no Egito, a Mitra, e os cultos órficos, que começaram na
Trácia, Macedônia e Grécia. Também nos cultos do divinatório da Délfica
Frigia, dos Bacides e das Sibilas.

7.2. Ocorrências no século XX

O escritor americano Stolee, em seu livro "Speaking in Tongues" (1963,


p.19), relata a presença de língua estranha entre os maometanos. Os
derviches da Pérsia constantemente murmuram o nome de Alá com o
sacudir violento do corpo em êxtases, que terminam com o espumar da
boca. Tais movimentos violentos conduzem a uma exaustão e in-
consciência parcial. Também entre os esquimós da Groelândi a (Ibid,
p.85-87) em seus cultos dirigidos pelo angakok, seu feiticeiro ou
sacerdote, encontra-se a presença da língua estranha. Nesses cultos há
O Fenômeno de Língua Estranha Entre Religiões não Evangélicas • 75

uma tentativa de entrar em contato com o mundo dos espíritos. Os cultos


são caracterizados pelo toque do tambor, pela dança, pelo cântico e
pela nudez, tanto da parte dos homens como das mulheres.
Byron Harbin, em seu livro "O Espírito Santo", afirma:Alguns adeptos
de outras religiões e seitas, como espíritas, muçulmanos, se apegam
a alguns aspectos pentecostais, ou aspectos semelhantes de outras
origens, como a fala em língua e as curas. Na verdade, tais ênfases
têm existido desde a antigüidade dentro do espiritismo (p.67, 1995).
No Brasil existe entre os católicos uma facção denominada católicos
carismáticos, que dizem receber o Espírito Santo, como os evangélicos
pentecostais, com ênfase também para "língua estranha" e "dons de
cura". Eles têm arrebanhado milhares de pessoas, principalmente na
década de 90.
Em 1998 passei um período de férias em Fortaleza. Lá esse grupo alu-
gou um estádio e colocou um comercial na TV intitulado: "Venha receber
o Espírito Santo". Já começou a falhar pelo título, por deixar de lado Jesus.
Faço a você, que está lendo, a seguinte pergunta: Será que uma pes-
soa que mantém adoração a imagens de "santos", adora Maria como se
fosse deusa, igual ou maior que Jesus, está convertida? Uma pessoa
que não teve uma experiência de conversão, que muitas vezes freqüen-
ta centros de macumba, centros espíritas, (porque o catolicismo está
intimamente ligado ao candomblé e ao espiritismo, principalmente no
Estado da Bahia), essa pessoa pode ser o templo do Espírito Santo? É
claro que não.
Se nossos irmãos pentecostais, salvos porque crêem unicamente em
Jesus Cristo, "falam" a língua estranha como fruto do "emocionismo",
imagine esses católicos cheios de idolatria e misticismo!!!
Entre os espíritas também existe o fenômeno de línguas estranhas.
Contudo eles não enfatizam esta ocorrência. Sheila Clark do Vale, ex-
médium, hoje uma serva do Senhor Jesus, em seu livro "Na Contramão
de Deus", escreve: Eu presenciei em centros espíritas médiuns in-
corporados falando línguas estranhas (p.53,54) (Sic).
76 A Ação do Espírito Santo nas Igrejas

Este fenômeno entre os espíritas, macumbeiros, e demais religiões não


cristãs, além do efeito do "emocionismo" tem em sua maioria a ação
demoníaca, pois ali atua o diabo; não existe o Espírito de Cristo: Mas se
alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele (Rm 8:9)
(Grifos do autor).
É interessante que no espiritismo acontece um fenômeno psíquico
por eles chamado de animismo, no qual a pessoa julga haver recebido
um espírito (demônio), mas na realidade o que sucede é apenas algo de
natureza psíquico-emocional. Não é de se estranhar que fenômenos de
caráter emocional aconteçam em todas as religiões. Afinal, a natureza
das pessoas é sempre a mesma: humana.
CAPÍTULO VIII

A Plenitude do Espírito Santo

A Plenitude do Espírito Santo está diretamente ligada ao processo de


santificação durante a vida do salvo aqui na Terra. É o propósito de
Deus para seus filhos. É mediante esse processo que cada crente se
torna gradualmente mais parecido com seu Mestre. Aliás, a plenitude
deve ser o alvo desejado de todo crente.
Infelizmente, milhões de filhos de Deus vivem tristes por não estarem
cheios do Espírito. É que desconhecem a riqueza espiritual ilimitada que
está à sua disposição. Outros, por falta de conhecimento bíblico, cultivam
as emoções, vivendo uma dualidade entre a alegria e a frustração; não
entendem como é possível que num certo momento possam estar super
alegres, e instantes depois tristes e frustrados. Pois é essa exatamente a
alegria produzida pelo estado de "emocionismo". Não é como a paz de
Deus, que excede todo entendimento (Fp 4:7) e guarda nossos pen-
samentos.
Outros têm refletidos em sua vida hábitos e padrões materialistas.
Sem dúvida eles foram batizados no Espírito Santo, e vão para o céu.
Contudo estão perdendo inúmeras bênçãos que Deus gostaria que
desfrutassem, porque deixando de imitar a Cristo imitam, às vezes até
inconscientemente, o sistema deste mundo dominado por Satanás.
Os dons que receberam não são usados; sua vida não produz o fruto
do Espírito; não conseguem evangelizar nem mesmo os mais próximos.
O interesse em obedecer a Jesus é mínimo, e a vida devocional é irregular;
preferem assistir a telenovelas e outros programas maléficos, em lugar
78 • A Ação do Espírito Santo nas Igrejas

de ler a Bíblia. Quando oram o fazem por obrigação, não pela alegria de
serem filhos de Deus.
Irmãos, como seria diferente nosso Brasil e o mundo, se os salvos se
despissem dos seus egoísmos, formalismos, farisaísmos, "emocionismos",
e se deixassem encher do Espírito de Deus. Nós, os crentes, seríamos
mais unidos, fraternos, e teríamos mais poder para evangelizar, para
arrancar os perdidos das garras de Satanás. E Deus atuaria com maior
freqüência em nosso meio.
O apóstolo nos exorta a entregar o controle da nossa vida ao Espírito
Santo, recomendando-nos no mesmo instante a não nos embriagar com
o vinho: E não vos embriagueis com o vinho, no qual há devassidão,
mas enchei-vos do Espírito (Ef 5:18).
Aquele que se embriaga é controlado e dominado pela bebida; o poder
do álcool sobrepuja suas atitudes e capacidades normais. Quando vemos
alguém nessas condições, dizemos: "Ele está sob a influência do álcool".
Esse quadro traduz, de maneira figurada, o que é ser cheio do Espírito:
é estar sob a influência do Espírito. Em vez de se fazer o trabalho de
Deus estribado apenas na capacidade própria, ele dá o poder para a
realização. Em lugar de fazer somente aquilo que quer, o salvo é agora
guiado por ele.
No prédio em que moro há uma grande cisterna, que recebe água
permanentemente da empresa fornecedora (CEDAE). Por essa razão,
ainda que os moradores consumam bastante água, a cisterna está sempre
cheia, pois a tubulação que a alimenta nunca seca. Este é, literalmente, o
significado de ...ser cheio do Espírito. O salvo realiza o trabalho de Deus
sem se cansar nem se desesperar diante dos embates da vida, porque vai
sendo continuamente abastecido com o poder do Espírito Santo.
Todos os cristãos devem ser cheios do Espírito Santo. Ser cheio do
Espírito é ser controlado; é viver a presença do Espírito Santo.
Estudamos, no capítulo II, que o objetivo maior do Espírito Santo é
glorificar a Cristo e torná-lo real para nós (Jo 16:14). Logo, sermos
cheios do Espírito Santo também significa que somos controlados por
A Plenitude do Espírito Santo • 79

Jesus, deixando-o viver e operar suas bênçãos em nossa vida: Já estou


crucificado com Cristo; e vivo não mais eu, mas Cristo vive em
mim (... ) (G12:20).

8.1.0 Significado de ser cheio do Espírito Santo


e ficar cheio do Espírito Santo

As expressões ser cheio e ficar cheio referem-se ao estado do crente.


Embora alguns façam distinção entre elas, essa distinção é pequena.
João Batista e Paulo estavam sempre cheios do Espírito; era um estado
permanente. Contudo, ficar cheio também para eles era uma capa-
citação particular e ocasional para um propósito definido, uma tarefa
especial. Deus nos confere poder na proporção das tarefas a nós
confiadas por ele e da nossa fé e disposição em realizá-las. Veja que
interessante: é preciso que haja vontade de fazer a obra de Deus para
que ele nos capacite a realizá-la.
Nas cidades, as casas estão ligadas às redes de água que as suprem
em suas necessidades normais. Contudo, se ocorrer um incêndio, os
bombeiros usarão um hidrante da rua, a fim de obterem mais água para
debelar o fogo.
Ser cheio do Espírito é como a casa que sempre tem água. Ficar
cheio do Espírito, como sucedeu aos apóstolos, em Atos, 4:31, é
receber poder extra para um serviço especial: E, tendo eles orado,
(...) todos foram cheios do Espírito Santo, e anunciavam com
intrepidez a Palavra de Deus (p.118).
Diante das ameaças que os apóstolos estavam sofrendo -Agora pois,
Senhor, olha para as ameaças (...) (At 4:29) -, a forte oposição da
liderança do judaísmo, mesmo com a vida ameaçada, eles se mantiveram
todo o tempo cheios do Espírito; no entanto agora estavam precisando
ficar especialmente cheios, para corresponderem às exigências que em
tais circunstâncias aquela situação apresentava. Note-se que houve nos
discípulos uma disposição, uma vontade firme para enfrentar o problema
de frente. Eles não se omitiram nem se acovardaram; pelo contrário,
80 • A Ação do Espírito Santo nas Igrejas

foram a Deus em orações buscar a carga extra do poder de que pre-


cisavam. E Deus lhes concedeu.
Isso acontece da mesma forma conosco hoje: se permitirmos ao Es-
pírito Santo dirigir a nossa vida, sua plenitude será uma realidade em
nós, como pessoas e como igreja. Deus atuará em cada um de uma
maneira maravilhosa.

8.2.0 Propósito de ficar cheio do Espírito Santo

Muitas pessoas ficam confusas e até com medo, perguntando-se: "Se


deixarmos Jesus nos controlar mediante o Espírito Santo, o que ele vai
fazer?" A resposta é: "Ele irá trabalhar em duas frentes: a primeira, em
relação à capacidade para servirmos a Deus; a segunda: com respeito
às virtudes (frutos do Espírito) que o Espírito Santo produz em nós. A
Bíblia esclarece:
8.2.1. Capacidades
a. Capacidade para comunicar de maneira clara a mensagem
evangélica: ... e todos ficaram cheios do Espírito Santo, e come-
çaram a falar noutras línguas (...) e todos pasmavam dizendo: Não
são galileus...? Nós os ouvimos em nossas línguas, falar das
grandezas de Deus (...) (At 2: 1 - 1 0)
Os discípulos de Jesus eram homens indoutos, sem cultura. Eles
receberam de Deus a capacidade de pregar em outros idiomas que
nunca usaram antes, de maneira que todos os ouvintes estrangeiros
compreenderam a mensagem. O importante aqui, para nós cristãos do
século XXI, não são as línguas estrangeiras, e sim a capacidade que
Deus dá a todo salvo de falar do Evangelho aos não-crentes. Para falar
de Jesus ao seu vizinho você não precisa saber outro idioma;.você só
precisa de capacidade para comunicar a mensagem evangélica de forma
clara. Essa capacidade o Espírito Santo lhe dá no momento em que vo-
cê se dispõe a transmitir a mensagem de Cristo.
b. Coragem para enfrentar a oposição ao Evangelho. O texto
de Atos, 4:8-12 relata sobre Pedro, cheio do Espírito Santo, dirigindo-
A Plenitude do Espírito Santo • 81

se às autoridades, acusando-as corajosamente de contrariarem a vonta-


de de Deus pela maneira como trataram Jesus Cristo. Essa conduta de
Pedro é um contraste com o antigo discípulo, fugindo de medo, conforme
registrado em Mt 26:69-72. O que aconteceu com Pedro para que se
tornasse corajoso? Foi a plenitude do Espírito Santo em sua vida. O
Espírito Santo em nossa vida é o que realmente faz a diferença
entre uma pessoa ou uma igreja ser fraca ou ser vitoriosa, cheia
de coragem para enfrentar e vencer as forças do inferno.
c. Força para pregar com ousadia (intrepidez). E tendo eles orado
(...) e todos foram cheios do Espírito Santo e anunciavam com in-
trepidez a Palavra de Deus (At 4:31). Aqui, toda a Igreja recebeu o
enchimento do Espírito Santo; o resultado foi a liberdade para teste-
munhar com intrepidez.
Na contramão dessa atitude, alguns cristãos, ao irem à igreja, têm
vergonha até de carregar sua Bíblia; uns a escondem dentro da bolsa,
outros levam um exemplar bem pequeno. Há ainda aqueles que já nem
se preocupam em levar a Bíblia para a igreja:Ah, eu sou tímido...; Não
tenho coragem de falar de Jesus ao meu colega de trabalho... Por
que isso acontece? Com toda a certeza está faltando a plenitude do
Espírito nessas vidas. É preciso mudar, abrir o coração, para que Deus
habite nelas em toda a sua plenitude.
d. Capacidade para realizar uma evangelização eficiente.
Uma das grandes dificuldades que o povo de Deus especialmente
enfrenta, nos últimos tempos, diante da modernidade tecnológica, é a
evangelização. Como evangelizar? Qual o melhor método?
Em Atos, 11:24 relata-se a experiência bem-sucedida de Barnabé,
...um homem bom, cheio do Espírito Santo e de fé. Ele fora enviado
pela igreja de Jerusalém a fim de investigar informações que recebera
sobre a conversão dos gentios em Antioquia da Síria. O texto seguinte
mostra a conversão de um grande número de pessoas, pela pregação
de Barnabé. A evangelização eficiente daquela cidade pagã foi resultado
da plenitude do Espírito Santo naquele apóstolo.
82 • A Ação do Espírito Santo nas Igrejas

Quando permitimos que o Espírito Santo atue em nós, ele nos mostra
qual a melhor forma, método e hora para evangelizarmos. Afinal, nosso
Deus pode tirar água até do deserto.
e. Autoridade para repelir a oposição satânica
Vivemos numa época em que o misticismo, o esoterismo e o espiritismo
estão sendo muito divulgados nos grandes meios de comunicação, por
intermédio de certos "videntes", que se dizem em condições de "prever"
o futuro, "realizar" curas e outras coisas mais.
Paulo enfrentou um mágico chamado Elimas, na ilha de Chipre, que
estava impedindo o procônsul romano de se tornar cristão. Paulo, cheio
do Espírito Santo, fitando os olhos nele, disse: Oh, filho do Diabo,
cheio de todo o engano e de toda a malícia, inimigo de toda a jus-
tiça, não cessarás de perverter Os caminhos retos do Senhor? Agora
eis a mão do Senhor sobre ti, e ficarás cego, sem ver o sol por al-
gum tempo. Imediatamente caiu sobre ele uma névoa e trevas e,
andando à roda, procurava quem o guiasse pela mão. Então o procôn-
sul, vendo o que havia acontecido, creu, maravilhando-se da dou-
trina do Senhor (At13:4-12). Essa capacidade dada pelo Espírito Santo
aos salvos é muito apropriada hoje, à vista do presente reavivamento
do demonismo. Existem casos de pessoas não salvas, que realmente
ficam possessas, incorporando demônios. Não será lhes batendo com
uma Bíblia na cabeça, nem jogando água "benta", nem usando um sim-
ples crucifixo ou qualquer outro talismã, que se irá repelir esses demônios.
Somente com o poder da plenitude do Espírito Santo de Deus em nós
poderemos expulsá-los.
Com os salvos essas possessões demoníacas são impossíveis de acon-
tecer, porque eles já têm a marca do Espírito Santo (Ef 1:13), e ... sa-
bemos que todo aquele que é nascido de Deus não vive pecando;
antes o guarda aquele que nasceu de Deus, e o maligno não o toca
(I João, 5:18, p.229).
8.2.2. Virtudes
Quando o crente se coloca à disposição do Espírito Santo parareceber
A Plenitude do Espírito Santo • 83

a sua plenitude, o próprio Espírito Santo passa a produzir nesse salvo o


fruto do Espírito. Esse fruto é o sinal que monstra o quanto o crente
está cheio do Espírito Santo. Não é um sinal de barulho fenomenal, mas
algo profundo: é uma mudança na vida da pessoa salva.
Nosso Senhor mencionou em seus ensinos (Mt 7:15-23) que o tipo
de fruto revela a natureza e a qualidade da árvore. Árvore boa não
pode dar frutos maus; árvore má não pode dar frutos bons.
Mas o fruto do Espírito é: o amor, o gozo, a paz, a longanimi-
dade, a benignidade, a bondade, a fidelidade, a mansidão, o domí-
nio-próprio; contra essas coisas não há lei (G1 5:22). Note-se que
Paulo não fala de frutos do Espírito (plural), mas do fruto (singular). Isso
porque o fruto do Espírito descreve o caráter maravilhoso de Jesus, di-
vidido em nove partes; daí seu uso no singular.
Jesus, mesmo na forma humana, só teve um caráter. Portanto, o fruto
do Espírito é manifestação desse caráter único em nós, os salvos. À
medida que permitimos o controle do Espírito Santo sobre a nossa vida,
ele vai produzindo essas nove graças cristãs que, juntas, vão formando
em nós o caráter perfeito de Jesus. Essas virtudes constituem o objetivo
de Deus para todos os seus filhos. Assim, a cada dia o salvo, que se deixa
encher do Espírito, torna-se mais parecido com seu Mestre. Veja por que
isso acontece:
Em Jesus havia amor. Seu amor pelos inimigos motivou sua oração
agonizante na cruz: Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem.
O salvo passa a compartilhar desse amor, como também de todas as
qualidades descritas abaixo.
Em Jesus havia Alegria. O amor de Jesus se transformava em
alegria. Ele era um ser humano alegre, razão por que foi convidado a
participar de vários casamentos.
Em Jesus havia paz, não a paz proveniente de circunstâncias felizes,
mas a paz que excede todo entendimento (Fl 4:7), uma paz que saía de
Deus. A mesma paz é oferecida hoje a todos os salvos, mediante a
plenitude do Espírito.
84 • A Ação do Espírito Santo nas Igrejas

Em Jesus havia longanimidade. Thayer diz que esta palavra significa:


...auto-restrição, que não responde ou revida apressadamente a um
malfeito (Thayer in Crane, p.145). É uma virtude que transmite paciência
para com as pessoas, suas fraquezas, ignorância e pecados.
Quantas vezes somos impacientes e intolerantes até para com nossos
irmãos! Precisamos dessa virtude. Só assim teremos mais tolerância
para com eles.
Em Jesus havia benignidade. Essa virtude foi aquela que manifestou
em todos os seus milagres. Mostra o quanto ele era suave, agradável,
brando e complacente. Jesus sentia compaixão daqueles que sofriam,
razão por que os ajudava. Quando os curava, fazia por compaixão.
Será que hoje praticamos a beneficência material ou espiritual re-
vestidos desse mesmo Espírito? Deveríamos fazê-lo assim...
Em Jesus havia bondade. É a qualidade de um caráter bom, revelada
na prática de ajudar os outros, em especial os necessitados, sem querer
nada em troca. Por essa razão, muitos em Jerusalém diziam: Ele é bom
(Jo 7:12). Este atributo está intimamente relacionado à benignidade.
Em Jesus havia fidelidade. Ele foi fiel à Palavra do Pai: Pai, se
queres, afasta de mim este cálice; todavia, não se faça a minha
vontade, mas a tua (Lc 22:42). Na vida cristã a fidelidade sempre está
intimamente ligada à fé. Jesus foi fiel porque sua fé no Pai era inabalável.
Um crente cheio do Espírito é mais fiel a Palavra, aos mandamentos de
nosso Senhor. Isso porque sua fé em Deus é cada vez mais consistente.
Note que a fé leva à plenitude, e a plenitude aumenta a fé, isto é: as duas
são causa e conseqüência simultaneamente, sendo que tudo começa
com a fé. Todavia, quando a fé é substituída pelo misticismo (fanatismo
e superstição), a fidelidade a Deus é automaticamente negligenciada.
Portanto, a infidelidade ocorre em nosso meio por falta de fé e da Ple-
nitude do Espírito Santo.
Em Jesus havia mansidão. Aprendei de mim que sou manso( ...)
(Mt11:29). Quantos irmãos, e até pastores, que se acaso você não faz
o que eles querem, ou expressa algo que os contradiz, tomam-se ver-
A Plenitude do Espírito Santo • 85

dadeiras feras, partindo até para ameaças e agressões pessoais. Por


quê? Porque está faltando o fruto do Espírito na pobre vida deles. Quando
o Espírito Santo toma conta de nós, sempre há mansidão.
Em Jesus havia domínio-próprio. Diante de todas as tentações,
injúrias e calúnias, Jesus nunca perdeu o controle da situação. Mesmo
em face do massacre injusto que foi seu julgamento e a crucificação, em
nenhum momento ele perdeu o domínio-próprio.
A manifestação visível da plenitude do Espírito no crente não são os
dons, mas o fruto do Espírito, a reprodução do caráter de Jesus no
salvo. Quando, pela fé, aceitamos nossa posição em Cristo como es-
tando mortos para o pecado e vivos para Deus (Rm 6:12,13), então,
mediante a plenitude do Espírito, o Cristo ressurreto começa a viver sua
vida em nós (G12:20). E sua vida é amor, alegria, paz, longanimidade,
benignidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio-próprio (G15:22).
Deixar de lado essa importante doutrina é perder as bênçãos de Deus,
como crentes individuais e como Igreja, mesmo que seja por desco-
nhecimento da Palavra de Deus. Estudemos e apliquemos a santa
Escritura em nossa vida. Mas como receber a plenitude do Espírito?

8.3. Como receber a Plenitude do Espírito


(Como ser cheio do Espírito Santo)
... Jesus pôs-se em pé e clamou, dizendo: Se alguém tem sede, ve-
nha a mim e beba. Quem crê em mim, como diz a Escritura, do seu
interior correrão rios de água viva. Ora, isso ele disse a respeito
do Espírito que haviam de receber os que nele cressem; pois o
Espírito ainda não fora dado, porque Jesus ainda não havia sido
glorificado (Jo 7:37-39) (Grifos do autor).
Esta passagem trata claramente da experiência inicial da salvação.
Nela nosso Senhor está apelando aos perdidos, e aos que têm sede
espiritual, aqueles que desejam intensamente uma vida espiritual plena:
que busquem nele a satisfação de suas necessidades. Ele satisfaz com-
pletamente os desejos mais profundos da sua alma, como também
86 • A Ação do Espírito Santo nas Igrejas

transforma os salvos em canais de comunicação, por meio dos quais a


mesma bênção será levada a outros.
O v. 39 confirma que a figura da água, de que Jesus está falando, é o
Espírito Santo. Logo, a passagem significa: no exato momento em que
uma pessoa recebe a Cristo está recebendo simultaneamente o Espírito
Santo, em toda a sua plenitude. Não somente sua sede espiritual é saciada,
como também ...do seu interior correrão rios de água viva. Deus não
dá o Espírito por partes, e sim por completo (Jo 3:34). Ser salvo é receber
o Espírito Santo em toda a sua plenitude (Ex.: Lembre-se da alegria que
tomou conta de você por ocasião da sua conversão). É desta forma que a
vida cristã sempre começa, e é também do mesmo modo que ela deve
permanecer. Sede continuamente cheios do Espírito (Ef 5:18) (Grifos
do autor). O verbo no grego dá a idéia de continuidade, ordenando à pes-
soa salva que se mantenha sempre submissa a Jesus, para que continue
sendo abastecida da plenitude do Espírito.
A dificuldade surge porque nenhuma pessoa consegue se manter todo
o tempo submissa ao senhorio de Jesus. E quando se desvia dos caminhos
da obediência, ninguém lhe diz o que deve fazer para retornar ao ca-
minho, para restabelecer essa submissão. O resultado é que esse crente
se desencaminha cada vez mais. Assim, gradualmente, aquela alegria,
aquela paz, aquela pureza, e o poder que ele conheceu no alvorecer da
conversão desaparecem em diluída e desapontadora lembrança. Mas
como restabelecer e manter a plenitude do Espírito?
8.3.1. Para sermos cheios do Espírito,
é preciso ter sede espiritual
Quando fisicamente sentimos sede, experimentamos uma desagradável
sensação de secura, um grande desejo de água. Assim deve ser nossa
sede espiritual: nossa alma deve desejar ardentemente as águas da graça
de Deus.
Ele dá as suas bênçãos unicamente àqueles que as desejam. E se na
verdade se lembrassem daquela donde haviam saído, teriam opor-
tunidade de voltar. Mas agora desejam uma pátria melhor, isto é,
A Plenitude do Espírito Santo • 87

a celestial. Pelo que também Deus não se envergonha deles, de ser


chamado seu Deus, porque já lhes preparou uma cidade (Hb 11:16).
Deus só é encontrado por aqueles que o desejam intensamente. Então,
a primeira coisa necessária é que tenhamos sede espiritual, ou seja: von-
tade espiritual.
Outra recomendação dada é a de Colossenses, 3:1-3. Ali somos aler-
tados ...a buscar e pensar nas coisas que são de cima. O problema é
que nossos desejos quase sempre não são espirituais, e sim carnais e ma-
terialistas. Tal situação nos impede de receber as bênçãos de Deus (Veja
o exemplo de Israel, no Si 78).
Nosso bondoso Mestre sabe de nossa dificuldade; por isso nos instruiu:
...porque Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuai;
segundo a sua boa vontade (Fl 2:13). Aqui, querer também pode ser
traduzido como desejo ou necessidade. Por conseguinte, o que Paulo
está nos ensinando é que Deus trabalha dois aspectos em nós: primeiro, é
com a finalidade de suprir os meios necessários (tanto espirituais quanto
materiais) para a execução do seu serviço; segundo, é na nossa mente,
dando-nos o desejo de nos tornar crentes cada vez melhores, ou seja,
permitir que Jesus atue na nossa vida mediante o Espírito Santo. A con-
seqüência natural desse enchimento será um crente ainda mais espiritual
(tornando-se mais parecido com Jesus), e participante na causa do Senhor.
A nossa salvação vem de Deus. Ele habita no nosso coração. Logo,
os desejos mais profundos e santos que sentimos em relação às coisas
espirituais vêm dele. Desta forma podemos abrir nossa alma e pedir a
Deus que nos purifique, começando com a seguinte oração: "Senhor
Deus, meus desejos mais profundos têm sido pouco espirituais. Não
estou tendo sede de tuas ricas bênçãos, como deveria. Limpa-me de
todos os desejos carnais e egoístas, e dá-me um profundo desejo de ser
controlado pelo Espírito Santo em minha vida diária". Deus responderá
a esta oração porque está de acordo com a sua vontade (I Jo 5:14,15).
Portanto, a primeira condição para sermos cheios do Espírito é que
tenhamos sede espiritual. caso contrário ele não nos encherá; nossa vida
88 • A Ação do Espírito Santo nas Igrejas

será de muita pobreza espiritual. Contudo, se tivermos um profundo


desejo de mudar, e deixarmos o Espírito Santo tomar o controle da
nossa vida, tornando-nos mais semelhantes a Cristo e também nos
conferindo poder para testemunhar e realizar sua obra, nossa vida será
uma bênção!
Agora, a segunda atitude a tomar para restabelecer a Plenitude:

8.3.2. É preciso limpar o recipiente (a nossa vida)

O desejo de Deus é encher seus servos com a plenitude do Espírito;


o problema é que Deus não enche vaso impuro.
Eis que a mão do Senhor não está encolhida, para que não possa
salvar; nem surdo o seu ouvido, para que não possa ouvir; mas as
vossas iniqüidades fazem separação entre vós e o vosso Deus; e os
vossos pecados esconderam o seu rosto de vós, de modo que não
vos ouça (Is 59:1,2).
Aqui o profeta Isaías mostra que precisamos enfrentar o problema
dos nossos pecados. Todo pecado não confessado e abandonado blo-
queia o canal entre Deus e nós.
Quais os pecados que impedem nossa comunhão com Deus? O Novo
Testamento fala de dois pecados que o salvo pode cometer contra o
Espírito Santo: ...entristecê-lo (Ef 4:30) e ...extingui-lo (I Ts 5:19).
8.3.2.1. Os dois pecados que o crente comete:
Entristecer o Espírito. De acordo com Ef 4:27,30, a pessoa con-
vertida entristece o Espírito Santo quando dá lugar ao diabo, cometendo
pecado. Quando isso acontece, o salvo compartilha sua vida com ele,
porém o diabo não tem mais direito sobre essa alma.
A vida do crente foi comprada pelo sangue de Jesus, e agora é morada
do Espírito Santo. Portanto, comete-se adultério espiritual toda vez que
o diabo participa da vida desse salvo, entristecendo assim o Espírito
Santo.
A outra forma de pecar contra o Espírito é:
A Plenitude do Espírito Santo • 89

Extinguir o Espírito. O segundo pecado que o salvo comete contra


o Espírito Santo é extingui-lo. No entanto, o sentido desta palavra em I
Ts 5:19 é relativo. Não podemos, literalmente, extinguir da nossa vida o
Espírito Santo, porque ele veio para ficar (Jo 14:17; Rm 8:9,11; II Tm
1:14; Ef 1:13,14; Ef 4:30). O verbo extinguir vem do gregosbennumi,
e significa apagar, aniquilar, e, figuradamente, suprimir. Em nossa
linguagem, hoje, seria impedir.
Concluindo, em Efésios, 4:12-22, quando Paulo se refere a entristecer
o Espírito ele o faz mediante uma lista de pecados. Já em I Tes-
salonicenses, 5:12-22, Paulo enumera uma lista de obrigações cristãs:
ter consideração com os pastores e líderes, viver em paz, ajudar os
fracos etc. No meio dessa lista, ele nos diz que não devemos impedir a
atuação do Espírito Santo. Por quê? Porque é o Espírito de Deus que
nos capacita a cumprir nossos deveres. Na realidade, é o Espírito Santo
que realiza o trabalho de Deus por nosso intermédio. Quando deixamos
de fazer esse trabalho estamos impedindo, extinguindo a ação de Deus
por nosso instrumento.
Por isso podemos dizer: entristecer o Espírito é a falha do crente,
quando não resiste às tentações provocadas pelo diabo; extinguir o
Espírito é resistir a Deus. Ou seja: entristecer o Espírito é fazer aqui-
lo que ele nos instrui a não fazer; extinguir o Espírito é deixar de
fazer aquilo que ele nos manda fazer. Todos os pecados que os
filhos de Deus cometem estão dentro desses dois campos. A grande per-
gunta agora é: Como o salvo pode se corrigir?
8.3.2.2.0 que nós, os salvos, devemos fazer para nos corrigir:
Precisamos reconhecer nossos pecados: ...se dissermos que não
temos pecado nenhum, enganamo-nos a nós mesmos, e a verdade
não está em nós (I Jo 1:18). A carne luta contra o Espírito, e o
Espírito, contra a carne; e estes se opõem um ao outro, para que
não façais o que quereis (G1 5: 17).
Esse conflito interior prosseguirá por todos os dias da nossa vida. Só
estaremos livres do pecado quando partirmos para o céu. Por isso temos
90 • A Ação do Espírito Santo nas Igrejas

de reconhecer nossos pecados. Ah, eu não erro, eu sou perfeito, sou


muito bom... Quem age assim ficará sempre na contramão da vontade
de Deus. Temos de reconhecer que continuamos pecadores, mesmo
sendo salvos. Logo, torna-se necessário:
Tratar nossos pecados na sua relação com Deus. Se confes-
sarmos nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados
e nos purificar de toda injustiça (I Jo 1:9). Nossos pecados significam
repúdio ao amor de Deus, e violação da sua Palavra. Quando o salvo
confessa seu pecado ele recebe não só o perdão, mas também a puri-
ficação. Se queremos a atuação plena do Espírito Santo em nossa vida
temos de confessar nossos pecados a Deus. Vendo a sinceridade da
nossa confissão, ele nos outorga o perdão e nos purifica de todo mal.
Devemos tratar nossos pecados em sua relação com nosso
próximo. Portanto, se estiveres apresentando a tua oferta no altar,
e aí te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa
ali diante do altar a tua oferta, e vai conciliar-te primeiro com teu
irmão, e depois, vem apresentar a tua oferta (Mt 5:23,24).
Quando nosso pecado envolve também o próximo, somente a confissão
a Deus, a correção vertical, não é suficiente para removê-lo como
empecilho ao recebimento da plenitude do Espírito. É preciso corrigir o
lado horizontal, efetuando a reconciliação com nosso irmão. Contudo, se
ele não quiser reconciliar-se conosco, não há problema, pois Deus está
ciente de nossa intenção. Assim ficamos livres da barreira, sendo por ele
totalmente perdoados, porque o que dependia de nós foi feito.
Devemos entregar, por inteiro, o recipiente (a nossa vida) a
Deus. Um dos propósitos do Espírito é glorificar a Jesus. Logo, quando
falamos do enchimento (o controle) do Espírito, estamos falando do
controle de Cristo. Como Deus nos fez moralmente livres (Gn 1:27),
precisamos entregar completamente a direção da nossa vida a Cristo,
para que possamos ser cheios do Espírito. Ao fazer isso, eis o próximo
passo:
É preciso beber (crer em Jesus). Jesus disse, em forma figurada,
A Plenitude do Espírito Santo • 91

que é preciso beber: Se alguém tem sede, venha a mim e beba. Quem
crer em mim, como diz a Escritura, do seu interior correrão rios de
água viva (Jo 7:37, 38). Nestes versículos os verbos beber e crer têm
o mesmo sentido. Beber é a figura de crer. Indica que a fé, pela qual se
adquire ou se recupera a bênção da plenitude do Espírito, pode ser
compreendida melhor com o exemplo de beber. Fisicamente, quando
bebemos água nós nos apropriamos do seu valor para benefício do
nosso corpo, pois água nos dá vida.
Da mesma maneira acontece no terreno espiritual. Jesus nos passa
esta figura: Quando bebemos espiritualmente, isto é, quando cremos em
Jesus pela fé, somos perdoados e mais uma vez abastecidos com a
plenitude do Espírito Santo. Aceitando isso como um fato consumado,
considerando que já temos as três primeiras condições (ser salvo, ter
sede espiritual, e recipiente limpo), devemos nos entregar às mãos de
Deus, crendo nas promessas de Jesus. Certamente a plenitude do Espí-
rito estará sendo restabelecida em nós. Aproveitemos esta maravilhosa
graça que Deus nos oferece, buscando cada dia mais esse enchimento
com o Espírito Santo, que é viver na plenitude do Espírito.
Portanto, há um só batismo no Espírito Santo, e este só acontece quan-
do a pessoa aceita a Jesus como seu Salvador. Existem vários enchimentos
com o Espírito, tantas vezes quantas nos dispusermos a fazer a vontade
de Deus em nossa vida.
Na vida cristã, o mais importante é a plenitude do Espírito, porque
esta significa viver no centro da vontade de Deus, tornando-nos cada
vez mais parecidos com Jesus. Logo, quanto mais espirituais nos tor-
namos, mais parecidos com ele seremos. Portanto, o sinal que demonstra
a espiritualidade de uma pessoa não são seus dons, e sim o fruto que o
Espírito Santo nela produz. Busquemos, pois, este precioso caráter em
nossa vida.
CAPÍTULO IX

A Questão das Divergências

9.1. Entre evangélicos históricos e evangélicos pentecostais

As divergências existentes entre evangélicos históricos (batistas,


congregacionais, presbiterianos etc.) e evangélicos pentecostais de
maneira nenhuma deve nos separar ou dividir. Devemos empregar a
persuasão da mensagem bíblica e deixar os resultados com o Espírito
Santo de Deus. Ofereçamos ao povo a mensagem que Deus nos tem
dado mediante sua poderosa Palavra, e ele cuidará dos seus frutos.
Como princípio, os evangélicos históricos devem cultivar amor para
com os pentecostais, em vez de olhá-los com desprezo, medo ou con-
denação. Também os pentecostais precisam procurar manter o mesmo
amor para com os históricos e outros grupos que não partilham de suas
convicções. Esta é a atitude ideal. Contudo o conflito se dá em razão da
falta de maturidade no amor.
Infelizmente uma minoria histórica e um grande segmento pentecos-
tal assemelham-se à mentalidade católica de ser o único povo de Deus
que tem a verdade.
Temos, na qualidade de batistas, uma grande necessidade de nos
firmar nos princípios bíblicos. Entretanto, se não houver compreensão,
tolerância e amor, poderemos ser conduzidos a um isolamento total, o
que seria pecado.
Por outro lado, nossos maiores inimigos - tanto de batistas como de
pentecostais - são: o ateísmo moderno, as religiões pagãs, a imoralida-
de, a sociedade anticristã, bem como as atitudes de governantes que se
94 • A Ação do Espírito Santo nas Igrejas

opõem ao cristianismo. Contra esses, sim, devemos lutar unidos com a


pregação da mensagem do Evangelho.

9.2.0 Problema da Infiltração

Há pessoas que se têm infiltrado em igrejas batistas e outras não


pentecostais com alvo planejado, objetivando pentecostalizá-las e, no
final, apossar-se de seu patrimônio. Nos últimos anos, vários desses
casos ocorreram no meio batista. Nessas pessoas faltam critérios éticos
e amor cristão, porque estão engajadas num projeto de puro proselitismo.
Nossos líderes têm o dever de mostrar-se firmes em nossas convicções
doutrinárias, ensinando o povo a distinguir, dentro da Palavra de Deus, os
avanços desses inescrupulosos, banindo do nosso meio esses lobos tra-
vestidos de ovelhas. Eles precisam reconhecer que nosso objetivo é evan-
gelizar os perdidos. Não se pode, de nenhum modo, tolerar esse tipo de
agressão, totalmente contrário ao caráter e aos propósitos de Jesus.

9.3.0 que está faltando hoje no meio cristão

Os pentecostais se caracterizaram pela busca do poder de Deus e da


intimidade com o Espírito Santo, até o ponto de radicalizar o aspecto
emocional, por fazê-lo sem a devida base bíblica.
No outro extremo, permanece um grande grupo dos não pentecostais,
caraterizados por "um racionalismo espiritual" e pela falta de interesse
em gastar tempo na busca da plenitude do Espírito, resultando tudo isso
em frieza espiritual, e levando os cultos a um lado inativo. Eu, parti-
cularmente, discordo desses dois tipos de radicalização.
As igrejas e seus pastores devem trabalhar com mais empenho na
preparação dos seminaristas (principalmente os candidatos a pastores),
começando pela vida espiritual de cada um. A pior coisa na realização
do trabalho de Deus é a carnalidade, a infantilidade espiritual e a igno-
rância em relação às coisas de Deus. Infelizmente, muitos seminários
abandonam o lado espiritual, preocupando-se apenas com o fato de
serem as aulas ministradas à maneira de uma escola secular. O resultado
A Questão das Divergências • 95

é a formação de obreiros sem o caráter de Cristo (o fruto do Espírito);


logo, não há amor pelas almas perdidas. Esses pastores vão paras as
igrejas em busca de um emprego ou ocupação. Como não há cultivo de
vida cristã, não há santificação na sua vida. Alguns deles, visando encher
rapidamente seus templos, partem para o lado do "emocionismo",
copiando os neopentecostais. O pior é que essas heresias foram apren-
didas nos seminários com ex-colegas, oriundos de outras denominações,
onde proliferam experiências pessoais sem a devida comprovação bíblica.
Os seminários pouco fizeram no sentido de oferecer-lhes um posi-
cionamento sólido nas Escrituras, porque mantiveram uma política de
"boa vizinhança", a fim de receber alunos de todas as denominações.
Por outro lado, os seminários pentecostais não se aprofundam na
doutrina do Espírito Santo, com medo do que poderá acontecer nas
suas igrejas. Contudo o dilema de mostrar às igrejas carismáticas que
seu principal "dom" é resultado de "emocionismo", um dia irá chegar.
Eles deveriam buscar a plenitude do Espírito.
É fundamental evitar a tentação de querer copiar a forma pentecostal
de culto em relação à espontaneidade e aos excessos no cultivo das emo-
ções, aos testemunhos de "experiências" e ausência de mensagens bí-
blicas, substituídas por "supostas mensagens recebidas diretamente de..."
Ao mesmo tempo, os não pentecostais devem evitar os chavões
("Manda fogo! Oh! Glória! Aleluial...) caraterísticos dos pentecostais.
Não que eles possam nos afetar, mas porque qualificam os carismáticos.
É preciso, como batistas, presbiterianos, congregacionais etc, manter a
identidade própria.
Deve-se conhecer e praticar a vida cristã na dependência do Espírito
Santo, buscando estar sempre abastecido de sua plenitude. É preciso
ter sede de Deus; é necessário limpar da nossa vida aqueles pecados
que entristecem e extinguem a chama do Espírito Santo dentro de nós; é
urgente entregar o controle da nossa vida a Jesus Cristo, como igreja
e como crentes individuais. Finalmente, é preciso apropriar-nos da
plenitude do Espírito Santo, crendo na promessa de Jesus. Só assim
96 • A Ação do Espírito Santo nas Igrejas

nossa comunhão com ele acontecerá de maneira plena; por conseguinte,


nossa igreja será uma bênção, cresceremos em graça e em número, mas
acima de tudo teremos um crescimento alicerçado na Palavra e no poder
do Espírito Santo.
Meus irmãos, esta é a mudança que Deus quer que seu Evangelho
produza em nós: a regeneração, a mudança de caráter, tornando-nos
cada vez mais parecidos com o Mestre. Este deve ser nosso alvo.

9.4.0 que deve mudar nos cultos evangélicos históricos


9.4.1. A atitude
A principal mudança em relação aos cultos não é quanto à forma
exterior, mas quanto à atitude de cultuar a Deus e compreender a rea-
lidade de sua maravilhosa presença entre nós, como grupo e como
indivíduos. Deus se preocupa mais com o coração do homem do que
com seu exterior ou sua forma de apresentar-se a ele. Foi o próprio
Deus que mediante Jesus tomou a iniciativa na busca de verdadeiros
adoradores, por meio de Jesus. O sacrifício de Cristo rasgou o véu que
separava o lugar Santo do Santo dos Santos (Mt 27:51). Jesus abriu o
caminho para os pecadores se aproximarem do Santíssimo Pai (Jo 14:6).
A promessa de derramamento do Espírito proclamada pelos profetas
Ezequiel (36:27), Joel (2:28-32) e outros foi cumprida por Deus. Con-
seqüentemente, só pelo Espírito Santo é possível oferecer o verdadeiro
culto a Deus (Jo 4:24; Fp 3:3). O termo grego pneumati de Filipenses,
3:3 está no dativo instrumental, que significapor meio do Espírito (mediante
o Espírito). Este fato central da adoração é invisível e ocorre no interior de
cada salvo, razão pela qual nenhuma forma "correta" de adoração é capaz
por si só de garantir que estejamos adorando guiados pelo Espírito Santo.
Deus se revela a nós salvos por Jesus, perdoa os pecados que nos
separam dele, e nos dá o Espírito Santo, para que por sua assistência
(Rm 8:26) possamos responder a ele (Deus) em adoração. Portanto,
Deus se aproxima de nós em Jesus, e nós nos aproximamos dele no
Espírito Santo. Nenhuma dessas realidades pode ser demonstrada por
A Questão das Divergências • 97

uma expressão externa de culto. É por isso que atos religiosos, como
por exemplo "distribuir todos os bens entre os pobres", "entregar o
próprio corpo para ser queimado" (I Co 13:1-3), sem expressar o amor
como fruto do Espírito, não têm nenhum valor.

9.4.2. A sacramentalização do formalismo ou da espontaneidade


Desde o inicio da Igreja, dois perigos rondam os cultos. O primeiro é
o formalismo, que sacramenta a maneira de adorar a Deus, anulando o
poder de uma comunhão mais íntima com o Senhor. O segundo é uma
espontaneidade tal, que dá lugar a uma liberdade e um desprendimento
do Novo Testamento, desprezando toda e qualquer formalidade, mas
que cria desordem e confusão. As duas maneiras são incompletas, por
sua falta de amor. No Novo Testamento a igreja de Éfeso ilustra o primeiro
caso, abandonando seu primeiro amor (Ap 2:2-5). Note que aqueles
irmãos se preocupavam com as aparências e esqueciam o principal, o
amor. Já a igreja de Corinto é um exemplo clássico do segundo caso.
Nela a confusão era total, também porque não havia amor.
A forma e os rituais não devem tolher a liberdade de adorar a Deus;
muito menos de receber suas preciosas bênçãos. Tenho presenciado
em igrejas o fato de seus pastores em nenhuma hipótese aceitarem a
inclusão de um novo número de alguém que veio visitar a igreja, ou
mesmo de seus membros, depois de pronta a ordem do culto. É o ex-
cesso de formalismo e legalismo. E ainda justificam com a maior facili-
dade o exagero: Estamos fazendo o melhor para Deus...
Será que Deus concorda com esse "melhor"? É claro que não! A
forma tornou-se mais importante que a adoração, talvez até
inconscientemente. A ordem programada dos cultos é essencial (I Co
14:40). Contudo ela nunca poderá adquirir uma posição de "intocável",
ficando acima da orientação do Espírito. Isso nos leva a buscar o
equilíbrio entre a liturgia e a liberdade de adoração como uma prer-
rogativa que não pode ser negligenciada em nossas igrejas, sob o risco
de cairmos numa das duas posições radicais.
Existem também igrejas que impedem, de maneira sutil, a participação
98 • A Ação do Espírito Santo nas Igrejas

de pessoas mais simples no louvor a Deus; seus cultos estão restritos a


uma "elite", transformando com isso a adoração na apresentação de um
espetáculo. Paulo nos alerta em I Coríntios para o fator sócio-cultural,
afirmando que Deus rejeitava o culto quando a igreja discriminava um
irmão escravo, como faziam os romanos. Nisto (...) não vos louvo;
porquanto vos ajuntais, não para melhor mas para pior (I Co 11:17).
Logo, o relacionamento entre irmãos da família de Deus interfere no
relacionamento com Deus. Portanto, Deus deve ser nossa prioridade
em tudo, principalmente na adoração.

9.4.3. Manter o equilíbrio entre a forma e a liberdade


Não se pode perder a consciência de que o cristianismo é a religião
do Deus conosco, isto é: cada crente é o templo do Espírito Santo (I Co
6:19), a Santa Trindade habita em nós por intermédio do Espírito Santo,
e juntos formamos a Igreja Espiritual de Jesus (aquela formada pelos
salvos de todas as denominações).
Se Deus está em nós como indivíduos e como Igreja, devemos de-
monstrar essa presença com nossa satisfação em cultuá-lo; por con-
seguinte, nossos cultos devem ser motivo de grande alegria e regozijo
por estarmos adorando o Deus eterno, que nos amou e ama infinitamente.
Não se pode, de modo algum, ficar preso a um formalismo que coloca
Deus a quilômetros de distância, num trono, como se fosse um soberano
rei terreno, que vive separado de seu povo. Por outro lado, não devemos
nos entregar a uma espontaneidade tal que despreze a ordem e os ensinos
bíblicos da adoração.
Que fazer diante desses dois caminhos, se ambos são igualmente noci-
vos, por resultarem de posições extremadas? Todo radicalismo é nocivo
à vida. Jesus sempre nos chamou a uma posição de equilíbrio, de tem-
perança. Nossos cultos devem refletir o equilíbrio entre a forma (liturgia)
e a espontaneidade (liberdade).

9.4.4. Fazer uma atualização da forma


Apesar de a expressão externa não ser prioridade para Deus, ela tem
A Questão das Divergências • 99

sua importância para nós em segundo plano, por representar nossos


sentimentos. O sistema de culto adotado pelos batistas brasileiros segue
a liturgia recebida dos antepassados, os americanos, e é denominada cul-
to didático ou pedagógico; caracteriza-se por dirigir a atenção dos par-
ticipantes para a centralidade da Palavra de Deus, pela pregação, o ensino
e a exortação. Espera-se que os assistentes ouçam a voz de Deus pelas
mensagens bíblicas e sejam convencidos a oferecer-lhe tudo que ele requer
e merece. Esse modelo litúrgico é também adotado pelos presbiterianos e
alguns congregacionais.
Esse modelo, aliás, não deve ser mudado em seus objetivos. Em
nenhuma hipótese podemos nos afastar da direção da Bíblia. Nossa
vida deve em tudo ser conduzida por ela. Sinto no entanto a necessidade
de uma atualização na forma, para que se contextualize melhor com os
anseios de nossa época, em especial, da juventude.
Deve-se trabalhar em prol de um culto alegre, com cânticos con-
gregacionais bíblicos, leitura bíblica, momentos de oração, e mensagem
bíblica. Os hinários cristãos têm seu lugar, bem como as composições
de nossos irmãos, que refletem de maneira mais direta os anseios e as
alegrias da nossa época. A música do povo brasileiro é caracterizada
pela alegria e espontaneidade. Não se pode sufocar esses atributos em
nossos cultos, muito menos exagerar no seu uso. No entanto precisamos
trabalhar sob a ótica do equilíbrio, da decência e da ordem (I Co 14:40).
Particularmente, sugiro duas alternativas:
Alternativa 1. Nas igrejas que têm condições de liderança e meios,
que haja dois horários de culto à noite, aos domingos. O primeiro, um
culto jovem, mais liberal, com mais louvor em forma de música, com a
participação de toda a juventude da igreja e também dos demais irmãos.
O segundo, um culto mais solene, quando a ênfase será dada à mensagem
bíblica. Contudo é preciso evitar excessos de ambos os lados (espon-
taneidade e formalismo).
Alternativa 2. Há casos em que a alternativa 1 não produz bons
resultados. Nesta hipótese deve-se buscar o equilíbrio num único culto,
100 • A Ação do Espírito Santo nas Igrejas

cujo modelo litúrgico atenda à expectativa de todos, trabalhando-se


cuidadosamente no sentido de integrar toda a igreja.
Em ambos os casos os cultos devem reservar um momento de oração
intercessória pelos necessitados, e de gratidão pelas bênçãos recebidas.
A meu ver, o ideal é após a mensagem, momento em que Deus fala
conosco, estimulando-nos, corrigindo-nos, e nos dando a sua direção.
Na oração nós nos dirigimos a ele, pedindo-lhe suas misericórdias para
nossas carências. O povo sofre muitas necessidades, mas Deus é rico,
poderoso, e não está de mãos encolhidas para nós (Is 59:1) (II Cr 7:14).
Precisamos crer no poder de Deus, buscá-lo mediante nossa vida
devocional diária e oração. Tenho observado que muitos salvos, por
desconhecimento, falta de fé, ou pecado não confessado, limitam a atuação
de Deus na sua vida.
Acreditem, irmãos, Deus habita em nós! Abramos o coração para ele!
Após haver sido o véu rasgado por Jesus, e com o derramamento do
Espírito Santo, os salvos passaram a ter acesso direto a Deus. Logo,
quando oramos, falamos diretamente com nosso Pai celestial; essas
orações não viajam milhões de quilômetros para chegar ao céu, nem
são interceptadas pelo diabo no meio do caminho. Nossa comunicação
é direta, porque somos o templo do Espírito Santo. Ele habita em nós, e
mesmo quando não sabemos o que pedir, o Espírito Santo orienta nossas
petições: Do mesmo modo também o Espírito Santo nos ajuda na
fraqueza, porque não sabemos o que havemos de pedir como con-
vém, mas o Espírito Santo mesmo intercede por nós com gemidos
inexprimíveis (Rm 8:26) (Grifos do autor).
Jesus estabeleceu um cristianismo completo, que satisfaz às nesces-
sidades da alma e também às do corpo. Confiemos nisso e deixemos
que Deus, por meio da nossa vida, atue em nossas igrejas, conforme lhe
aprouver. Amém!
Conclusão

Procurei demonstrar que a fé bíblica muitas vezes é confundida com


o misticismo, na forma de superstição ou fanatismo, por desconhe-
cimento da Palavra de Deus. Quando se fala em fé, a confiança come-
ça de fora para dentro da pessoa, porque vem da revelação de Deus
mediante as Escrituras, e se interioriza, tornando-se uma convicção
inabalável.
Em relação ao misticismo, a confiança vem de dentro para fora, por
meio de sonhos, visões, emoções etc. Sempre há necessidade de com-
provação do que se sente ou se vê.
Jesus ensinou que os propósitos do Espírito Santo são: glorificá-lo,
convencer o mundo do pecado, guiar o crente a toda a verdade, as-
sistindo-o permanentemente.
O batismo no Espírito Santo e o dom (singular) do Espírito Santo
significam a mesma coisa. É uma promessa de Jesus a todos que o acei-
tam como Senhor e Salvador da sua vida. Significa que os salvos foram
separados para Deus pela "imersão" no Espírito Santo, quando recebe-
ram a Jesus, passando a pertencer ao seu Reino na qualidade de filhos. Por-
tanto, todo salvo é batizado no Espírito Santo no momento de sua conversão.
Já os dons (plural) do Espírito Santo são capacitações especiais,
conferidas aos salvos pelo próprio Espírito Santo, com o objetivo de
edificar a comunidade (igreja) local para que ela progrida; os dons,
portanto, não visam edificar a pessoa, mas o grupo.
O dom de línguas, dado pelo Espírito Santo em todas as ocasiões
do Novo Testamento fazia alusão a idiomas relativos ao povo, razão
por que o apóstolo usa o termo variedade de línguas. As pessoas que
o receberam sabiam o que falavam, pois proclamavam as grandezas de
102 • A Ação do Espírito Santo nas Igrejas

Deus. Em relação à linguagem, esse dom era tão perfeito que trazia
juntamente consigo até o sotaque característico da região em que
estivesse sendo falado. Mas esse dom foi considerado por Paulo o menos
importante, em relação aos demais. Uma leitura minuciosa nos capítulos
12 a 14 de I Coríntios mostra que Paulo restringiu e desencorajou seu
uso, salientando também que seria um dom transitório: ...havendo
línguas, cessarão (...)(I Co 13:8). Foi um dom para marcar (inaugurar)
a descida do Espírito Santo.
A Bíblia mostrou que o dom de línguas não pode ser identificado
como um sinal de que a pessoa haja sido batizada no Espírito Santo; as
línguas foram um sinal para os incrédulos. O sinal visível do batismo no
Espírito Santo é o fruto do Espírito, que mostra a mudança de caráter
no homem, pois reproduz nele o caráter maravilhoso de nosso Senhor
no momento de sua conversão. Essa transformação é tão forte que a
pessoa muda de vida. É uma nova criatura, recebendo de Deus o poder
para testemunhar, para realizar seu trabalho, como aconteceu com os
apóstolos. É maravilhoso o plano de Deus para seus filhos!
Quanto ao fenômeno que atualmente ocorre entre os pentecostais,
não é possível identificá-lo como o dom de línguas dos escritos do Novo
Testamento, porque aqueles eram idiomas, com um propósito definido;
os de hoje são sons sem sentido algum e não têm sustentação bíblica
para seu uso. A Bíblia é contra o emprego de fala extática, por trazer
confusão e falta de compreensão (entendimento). Esse tipo de "língua",
ou melhor, essa língua estranha, é resultado do "emocionismo".
"Emocionismo" é o deleite excessivo em emoções" (Michaelis,
p.784,1998). É um exagero no fato de mostrar ou exibir as emoções.
Tenho absoluta certeza de que essas manifestações são provocadas, em
sua maior parte, pelo desvio da emoção individual ou coletiva. Observe,
por exemplo, a forte comoção instaurada nos cultos carismáticos. Há
também aqueles que "falam a língua estranha", o que não vale como
"emocionismo", posto que isso é feito por imitação, fraude, e numa
reduzidíssima minoria, por influência maligna. Seja como for, nenhuma
Conclusão • 103

delas é conseguida como dom do Espírito. Até mesmo crentes sinceros,


quando contemplam a presença e a glória de Deus, e são emocionalmente
mais fracos, ou têm algum distúrbio no campo emocional, esses também
estão sujeitos a cair no "emocionismo", e podem "falar a língua estranha".
Não que Deus queira ou provoque desequilíbrio emocional nas pessoas.
São elas que, movidas por uma auto-indução ou provocação do meio
(dos cultos) ou de seus líderes, caem nessa situação. Mas isso é infan-
tilidade e ignorância espiritual, porque um dos sinais do fruto do Espí-
rito é o domínio-próprio.
Outra dificuldade em alinhá-lo pelo Novo Testamento é a forma pela
qual esse falso dom é obtido hoje, totalmente desvinculado da Bíblia.
O caráter essencial do movimento pentecostalista não está de acordo
com a norma bíblica. Por conseguinte, não pode ser de Deus. Não é
Deus quem permite ou causa esse fenômeno; são as pessoas que
o criam. É resultado do estado de "emocionismo" a que chegam aqueles
irmãos, sem a devida compreensão das Sagradas Escrituras, como
aconteceu na igreja de Corinto.
Do lado científico, uma prova de que a língua estranha nada tem a
ver com idiomas são as afirmações dos eruditos lingüistas, ao com-
provarem que o moderno movimento de línguas é caracterizado pela
emissão de sons desconhecidos, sem base alguma de linguagem.
As "experiências" na vida cristã que não se enquadram nos ensinos
da Bíblia devem ser abandonadas e reprimidas, porque não têm nenhum
valor, e trazem confusão ao povo de Deus.
Ao recebermos a plenitude do Espírito Santo nós nos tomamos cheios
do Espírito Santo, passando a viver sob sua benéfica influência. Em vez
de realizarmos o trabalho de Deus com base apenas em nossas ca-
pacidades, o Espírito Santo nos dá poder, e nos habilita a realizá-lo com
mais eficiência. Contudo, o melhor da plenitude é receber as nove virtudes
(amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade,
mansidão e domínio-próprio), que formam o fruto do Espírito, o caráter
perfeito de Jesus, reproduzido em nós por ocasião da conversão.
104 • A Ação do Espírito Santo nas Igrejas

Para receber essa plenitude o salvo precisa ter sede espiritual, limpar
o recipiente (sua vida) mediante reconhecimento dos seus pecados,
confessando-os a Deus. Finalmente ele deve entregar-se a Deus, apro-
priando-se, pela fé, da plenitude do Espírito Santo.
É interessante observar que quando exercemos os dons do Espírito
Santo, edificamos a Igreja. Quando somos enchidos pelo Espírito Santo,
o fruto produzido em nós nos abençoa individualmente, de forma que o
dom abençoa a Igreja, e o fruto do Espírito abençoa o indivíduo. O dom,
em alguns casos, pode até ser imitado pelo diabo, mas o fruto jamais,
porque este é a reprodução do caráter do nosso Senhor Jesus Cristo em
nós, os salvos. Busquemos, pois, a Plenitude do Espírito Santo para a
nossa vida. Amém!
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URETA, Floreal. Elementos de Teologia Cristã. Rio de Janeiro, Juerp,
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Leia os Lançamentos JUERP

1. Na Área da Literatura Permanente:

. A Túnica Inconsútil
João Falcão Sobrinho
. Curando as Feridas
Edson Martins
. Favela Violenta
Macéias Nunes
. Grandes Verdades Sobre o Espiritismo
Reginaldo Pires Moreira
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. Terapêutica Diaconal
Irysson da Silva
. Você Pode Falar Melhor
Noélio Duarte
2. Na Área da Literatura Periódica:

. Atualidades
Série de 13 lições sobre 4 temas da atualidade para serem utilizados pela
igreja em classes alternativas, grupos específicos, estudos bíblicos nos
lares.

. Pontos Salientes
Estudos devocionais diários, acompanhando as leituras diárias das
lições para adultos e jovens nas revistas "Compromisso" e "Atitude" para
a Escola Bíblica Dominical.

. A Monarquia em Israel
É o primeiro número da série "Como a Bíblia nos fala Hoje". É mais um
lançamento JUERP para o aprimoramento e desenvolvimento da Escola
Bíblica Dominical. A cada trimestre a JUERP lança um novo título alusivo
ao tema em estudo pela grade curricular das revistas dos jovens e adultos.

. Os Ensinos de Jesus - O Evangelho de Marcos


O segundo volume da série "Como a Bíblia nos Fala Hoje", de autoria
do Pastor Jonas Celestino. Por sua abrangência e dinâmica, deverá se
tornar em um compêndio inestimável, fonte de segura consulta para o
melhor conhecimento e interpretação dos ensinos de Jesus sob o enfoque
do Evangelho de Marcos.

Reedição
. Geografia Bíblica
Oswaldo Ronis

. Esboço de Teologia Sistemática


A. B. Langston
Endereços das Lojas JUERP

As antigas Filiais JUERP são lojas independentes que continuam distri-


buindo os produtos JUERP. Seus endereços são:

Ex-Filial Bandeira — RJ— Livraria Evangélica Cristã da Convenção Ltda


Rua Mariz e Barros, 39 Loja D -- Praça da Bandeira
Tel (21) 273-0447 • 273-6893
Av. Cesário de Melo, 2.446 - Campo Grande - Rio - RJ
Tel (21) 3394-5942 / 415-5789

Ex-Filial Belo Horizonte MG — Spar Ltda


Rua Carijós, 115 Térreo — Centro
Tel (31) 3213-5007 • 3224-4728

Ex-Filial Brasília— DF— Livraria Vencedores Ltda


SDS BL G — Loja 13/17 — Conj. Baracat Asa Azul
Tel (61) 224-5449

Ex-Filial Centro Rio — RJ — Magnus Dei Livraria e Papelaria Ltda


Rua do Ouvidor, 130 Sala 215/217 — Centro
Tel (21) 242-7776 • 252-2628

Ex-Filial Curitiba — PR — Moutinho Com. de Livros Ltda


Rua Visconde de Nacar, 1.505 Loja 3 — Executive Center
Tel (41) 223-8268

Ex-Filial Duque de Caxias — RJ — Livraria Cristã Monte Mor Ltda


Av. Nilo Peçanha, 411 — Centro
Tel (21) 671-3375

Ex-Filial Manaus — AM — J. S. Paiva Livraria


Rua Rui Barbosa, 139 — Centro
Tel (92) 232-4571
Ex-Filial Niterói — RJ — Livraria Caminho Novo Ltda
Rua XV de Novembro, 49 —Loja 102 Centro
Tel (21) 717-2917

Ex-Filial Nova Iguaçu — RJ — Livraria Evangélica Cristã da Convenção


Ltda
Rua Otávio Tarquinio, 178 — Centro
Tel (21) 767-8308 • 797-4442

Porto Alegre — RS — Luz e Vida


Rua General Vitorino, 49— Centro
Tel (51) 3286-5404

Ex-Filial Salvador — BA — Crescer Livraria Evangélica Ltda


Av. Visconde de São Lourenço, 6 — Campo Grande
Tel (71) 329-2833

Ex-Filial São Luis — MA — Jerusalém Com. e Repres. Serviços


Rua São Pantaleão, 195 — Loja A — Centro
Tel (98) 232-7226

Ex-Filial Vitória — ES — Missão Editora Livraria e Distribuidora Ltda


Rua Barão de Itapemirim, 208 — Centro
Tel (27) 223-2893

Belém — PA — Benção Livros Comércio Ltda


Rua do Amoras , 1094 — Tapanã — Icoaraci — Belém — Pará
Tel (91) 258-0559

Recife — PE — Luz e Vida


Pça. Joaquim Nabuco, 167/173 (antigo 179) — Santo Antonio
Tel (81) 3224-4767 • lojarecife@luzevida.com.br
Este livro foi impresso em agosto de 2001, pela Ediouro, RJ,
para JUERP — Junta de Educação Religiosa e Publicações.
Composto na tipologia Times 12/14.
Os fotolitos foram feitos Lm Book Design e Upgrade.
O papel do miolo é Offset 75gr/m2 e o da capa cartão supremo 250gr/m2.

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