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A superioridade de

São José
sobre todos os outros Santos
de Fr. Reg. Garrigou-Lagrange O.P.
(em “La Vie Spirituelle”, 1929, t. 19, pp. 662-683)

“Quem dentre vós for o menor, esse será grande”


(Luc. 9,48)

A doutrina pela qual S. José, depois de Maria, foi e ainda é mais unido a Nosso Senhor do que qualquer
outro santo está cada vez mais se tornando a doutrina comum da Igreja. Esta não teme proclamar o
humilde carpinteiro superior, em graças e beatitude, aos Patriarcas, a Mosés, o maior dos Profetas, a S.
João Batista, e também aos Apóstolos, a S. Pedro, a S. João, a S. Paulo, e, enfim, a fortiori, superior em
santidade aos maiores Mártires e aos máximos Doutores da Igreja.

Esta doutrina foi ensinada por Gerson[1] e


por S. Bernardino de Sena[2]. Torna-se
cada vez mais difundida a partir do século
XVI: é sustentada por S. Teresa, S.
Francisco de Sales, Suarez[3], depois por
S. Alfonso de Ligório[4] e muitos
outros[5]. Finalmente, S.S. Leão XIII, na
Encíclica Quamquam pluries, escreve: “É
certo que a dignidade de Mãe de Deus é
tão alta que nada pode haver de mais
sublime; mas pelo fato de que entre a
Beatíssima Virgem e José foi estreitado
um vínculo conjugal, não há dúvida de
que a essa altíssima dignidade, por força
da qual a Mãe de Deus se eleva
muitíssimos acima de todas as criaturas,
Ele se aproximou mais do que ninguém. O
matrimônio, de fato, é a forma mais
elevada de sociedade e de amizade, à
qual, por sua natureza, se une a
comunhão de bens. Portanto, se Deus deu
José em Esposo à Virgem, deu-Lho não só
como companheiro de vida, testemunha da
virgindade e tutor da honestidade, mas
também como partícipe, em virtude do
pacto conjugal, da excelsa grandeza
dEla”[6]. Pelo fato de que a dignidade de
Maria “se eleva muitíssimos acima de
todas as criaturas”, como é dito
nesta encíclica, segue-se que o
primado de S. José deve ser
entendido não apenas no que diz
respeito a todos os outros santos,
mas também com relação aos
Anjos? Não se o pode afirmar com
certeza. Contentemo-nos de expor
a doutrina, cada vez mais aceita na
Igreja, que afirma que, entre todos
os outros Santos, S. José é o mais
elevado, no Céu, depois de Jesus e
Maria. Ele está entre os Anjos e
Arcanjos. Sua missão em relação à
Sagrada Família fez dele o Patrono
da Igreja universal, seu protetor e
defensor. A ele, em certo sentido, é
particularmente confiada a
multidão dos cristãos de todas as
O Sonho de José gerações, como o provam a bela
Ladainha que resume suas
prerrogativas.

Pretendemos lembrar, aqui, o princípio teológico sobre o qual se funda esta doutrina, cada vez mais
aceita desde há cinco séculos, acerca do primado de S. José sobre todos os outros santos.

I. Uma missão divina excepcional requer uma


santidade proporcional

O princípio geral pelo qual a teologia,


explicando a Revelação, demonstra qual devia
ser, aqui na terra, a plenitude da graça criada na
santa alma do Salvador, qual, depois, tinha que
ser a santidade de Maria e também a fé dos
Apóstolos, repousa sobre a excepcional missão
divina que eles receberam, missão que exigia
uma santidade proporcional. Algo semelhante
aconteceu também com S. José.

As obras de Deus são perfeitas, especialmente as


que Lhe dizem respeito imediata e
exclusivamente. Não se poderá encontrar nada Esponsalício de Maria Santíssima e S. José
de imperfeito ou desordenado, como, por exemplo, na obra divina como um todo, no momento da
criação[7]. O mesmo pode se dizer dos grandes servos de Deus, por Ele suscitados direta e
excepcionalmente para restaurar a obra divina desfigurada pelo pecado. “Deus criou o homem à Sua
imagem” (Gen. 1,27). “Ele havia preestabelecido (...) de realizá-lo na plenitude dos tempos, de
instaurar todas as coisas em Cristo” (Ef. I, 10).
Compreende-se melhor a verdade,
a importância e a evidência deste
princípio revelado, ao se
considerar, por contraste, o que
frequentemente ocorre na
condução dos assuntos humanos.
Não é raro que pessoas incapazes e
inexperientes ocupem altos cargos,
com grandes danos a seus
subordinados. Isto será em certos
momentos até particularmente
irritante, a menos que pensemos
que o Senhor compense esses
inconvenientes com os atos muitas
vezes heroicos da santidade
escondida, e lembremos que cada A caminho de Belém - o censo
um de nós deve fazer o próprio mea culpa pelas negligências no exercício dos cargos ou ofícios que lhe
foram confiados. Essas faltas são tão frequentes que a partir de certo ponto ninguém mais se importa. A
desordem, contudo, é, afinal, sempre desordem, a incapacidade é incapacidade, e não se encontrará
nada disso naqueles que são escolhidos diretamente pelo próprio Deus e por Ele preparados
imediatamente para serem seus ministros excepcionais na obra da Redenção. O Senhor lhes dá uma
santidade proporcional, uma vez que Ele opera sempre com medida, e a desordem e a desproporção não
podem ser encontradas nunca nas obras propriamente divinas, das quais só Ele é o autor.

Por este motivo, sobretudo a santa alma de Jesus recebeu, desde o primeiro instante de sua criação, a
plenitude absoluta da Graça, seja porque era tão intimamente unida ao Verbo de Deus, fonte de toda a
vida sobrenatural, seja porque tinha que nos comunicar esta vida divina com a luz do Evangelho e pelos
méritos infinitos do sacrifício da Cruz: “De sua plenitude nós todos recebemos (...). Deus ninguém
jamais O viu. O Seu Filho Unigênito, que está no seio do Pai, ele no-lo revelou” (João 1,16-18). Santo
Tomás de Aquino vê neste texto do Evangelho e em outros semelhantes não só a plenitude de graça,
mas a glória, ou seja, a visão beatífica de que gozava na Terra o Salvador, para nos conduzir, como
Mestre dos mestres, pelo caminho da salvação. “Cristo teve a plenitude da graça porque ele a teve em
sumo grau, segundo o modo mais perfeito em que se pode ter. E isso aparece em primeiro lugar
considerando a proximidade da alma de Cristo com
a causa da graça. De fato, foi dito que, quanto mais
uma coisa receptiva está próxima da causa
influente, mais abundantemente a recebe. E, por
isso, a alma de Cristo, a qual entre todas as
criaturas racionais é a que se une mais
conjuntamente a Deus, recebe a máxima influência
de Graça. Em segundo lugar, pela comparação com
o efeito. A alma de Cristo recebia, de fato, de tal
forma a graça que a comunicava, de certo modo,
dela para os outros. A graça lhe era conferida
enquanto princípio geral no gênero daqueles que
estavam destinados a tê-la. (...) O que é em potência
passa ao ato graças àquilo que é no ato. É
necessário, de fato, que uma coisa seja quente para
aquecer os outros. O homem, porém, é em potência,
em ordem à ciência dos beatos que consiste na

"Não temos vagas"!


visão de Deus, e é
ordenado a ela como seu
fim (...). Mas os homens
são reconduzidos a este
fim da beatitude através
da humanidade de
Cristo (...). Ocorre,
portanto, que a cognição
beata, que consiste na
visão de Deus, convenha
em modo excelentíssimo
a Cristo homem: pois
sempre ocorre que a
causa seja mais
poderosa que o
efeito”[8]. Mestre de toda a humanidade para as coisas da vida eterna, Jesus Cristo devia, não apenas
crer, mas ver a meta suprema à qual nos devia conduzir.

Por causa do mesmo princípio, Maria, enquanto digna Mãe de Deus, devia ser “cheia de graça” (Lc.
1,28), preservada do pecado original, associada a todos os sofrimentos e a todas as glórias de Jesus. Por
consequência de sua missão única como Mãe de Deus, devia aproximar-se do Verbo de Deus
encarnado mais intimamente que qualquer outro, nos dois grandes mistérios da Encarnação e da
Redenção. Mais próxima da fonte de toda a graça, devia receber, mais do que qualquer outra criatura,
graça sobre graça, mais do que todos os santos e todos os Anjos. “Quanto mais algo se aproxima de
seu princípio, em qualquer gênero, tanto mais participa do efeito daquele princípio (...). Cristo, porém,
é o princípio da Graça, com autoridade segundo sua divindade, mas instrumentalmente segundo sua
humanidade (...). A Beatíssima Virgem Maria foi muito próxima a Cristo segundo a sua humanidade,
porque ele recebeu dEla a sua natureza humana. Motivo pelo qual, muito mais que qualquer outro teve
que receber de Cristo a plenitude da graça (...). Não devemos duvidar que a Beata Virgem tenha
recebido em modo excelente o dom da sabedoria e a graça da virtude e também a da profecia (...),
segundo o que convinha a sua condição”[9].

É, enfim, pelo mesmo princípio que a teologia


ensina que os Apóstolos, sendo mais próximos
de Nosso Senhor que os Santos que vieram
depois, conheceram mais perfeitamente as
verdades da fé. “Aqueles que estavam mais
próximos a Cristo, ou antes, como S. João
Batista, ou depois, como os Apóstolos,
conheceram mais plenamente os mistérios da
fé”[10]. Aos olhos de Santo Tomás, então, seria
temerário negar tal fato, mas ele compara os
Apóstolos apenas aos santos que vieram depois
deles, e não a S. José, nem a S. João Batista.
Santo Tomás, comentando esta passagem de S.
Paulo: “Nós mesmos que temos em nós as
primícias do Espírito”, diz: “Os Apóstolos
tiveram o Espírito Santo antes temporal e mais
abundantemente que os outros”[11].
Agora, a missão de S. José não é, por acaso,
superior àquela dos Apóstolos e também à do
Precursor [o Batista]? A sua vocação não é,
porventura, única no mundo, como aquela de
Maria? E, em previsão de seu destino
excepcional, não se aproximou assaz da fonte de
toda a graça, não foi unidos mais intimamente a
Nosso Senhor?

II. A missão extraordinária de S. José

S. João Batista era encarregado de anunciar a


vinda imediata do Messias. Pode-se até dizer
que ele foi o maior precursor de Jesus no Antigo
Testamento. É assim que S. Tomás entende as
palavras de Jesus em S. Mateus 11,11: “Em
verdade vos digo que, entre os filhos de uma
mulher, não há ninguém maior do que João
Batista”. Comenta S. Tomás: “Não é
inconveniente que S. João Batista seja dito o
maior de todos os Padres do Velho Testamento. Fuga para o Egito
Ele é o maior e o mais excelente, porque foi pré-
escolhido para uma missão maior. Abraão é, de fato, a maior quanto à prova da fé; Moisés quanto ao
ofício de Profeta, como se lê em Deut. 24,10: ‘Não surgiu um profeta maior em Israel do que Moisés’.
Todos estes foram precursores do Senhor, mas nenhum como o Batista o foi com tamanha excelência e
favor, e, portanto, foi elevado ao ofício maior: ‘Será, de fato, grande diante de Deus’ (Lc. 1,15)”. Ele é
o precursor por excelência entre todos os Santos do Antigo Testamento, motivo pelo qual, na Ladainha
dos Santos, ele vem imediatamente após Maria e os Anjos. Fecha o Velho Testamento e anuncia o
Novo[12].

Mas Nosso Senhor imediatamente acrescenta: “No entanto, o menor no Reino dos céus é maior do que
ele”. O Reino dos céus é a Igreja do céu e da terra; é o
Novo Testamento, mais perfeito, como estado
espiritual, do que o Velho, embora alguns justos do
Velho tenham sido mais santos do que muitos do
Novo. “Esta expressão, ‘No entanto, o menor no
Reino dos céus é maior do que ele’ — diz S. Tomás —
pode ser explicada de três maneiras. Em primeiro
lugar, se por Reino dos céus se entende o estado dos
beatos, quem é entre eles o menor é maior do
qualquer um que ainda é um peregrino nesta terra
(...). E isso, então, deve ser entendido como uma
superioridade em ato: em ato, de fato, é maior quem é
beato no céu. Diferentemente ocorre considerando a
superioridade em potência, como uma pequena grama
se diz maior em potência, conquanto uma outra seja,
no momento, maior em quantidade. Então, em
Retorno a Nazareth segundo lugar, podemos interpretar entendendo o
Reino dos céus pela Igreja
presente, e, nesse sentido,
não se diz 'menor' em
geral, mas em relação ao
tempo. Então, aquilo que é
menor é, na verdade,
maior. Ou se pode expor
em um outro modo, pelo
qual alguém pode ser dito
superior a outro: ou
quanto ao mérito, e assim
muitos Patriarcas são
superiores a alguns do
Novo Testamento, ou
comparando um estado a
outro: como os virgens são
melhores que os casados,
mas não que um virgem
seja mais santo que um Vida em Nazareth
casado”[13]. By Esteban Murillo
Independentemente do
mérito pessoal dos diferentes servos de Deus, o Novo Testamento, especialmente em sua realização
ultraterrena, é evidentemente um estado espiritual mais perfeito respeito ao Velho. S. João Batista se
encontra no limiar entre os dois[14].

E quem foi na Igreja o menor? Palavras misteriosas, que foram interpretadas de maneiras diferentes.
Elas remetem às outras palavras pronunciadas a seguir por Jesus: “Quem dentre vós é o menor, este é o
maior” (Lc. 9,48). O menor, ou seja, o mais humilde, o servo de todos: “Mas quem é o maior entre vós
seja como o menor, e quem governa seja como aquele que serve” (Lc. 22,26). É, portanto, segundo a
proporção e a conexão das virtudes, aquele que
possui a caridade mais alta: “Todas as virtudes
— ensina S. Tomás — de um só homem são iguais
por certa igualdade de proporção, enquanto
crescem no homem de modo igual. Assim, os
dedos de uma mão são desiguais em relação à
sua quantidade, mas são iguais segundo a
proporção, porque aumentam
proporcionalmente”[15]. E quem é na Igreja o mais
humilde? Aquele que não foi nem apóstolo, nem
evangelista, nem mártir — pelo menos
exteriormente –, nem bispo, nem padre, mas
que conheceu e amou Cristo Jesus certamente
não menos que os Apóstolos, os
evangelistas, os mártires, os bispos, os doutores: o
humilde artesão de Nazaré, o humilde S.
José.

Os Apóstolos foram chamados para dar a


conhecer aos homens o Salvador, para pregar o
Evangelho para a salvação deles. A missão
deles, como a de S. João Batista,
está na ordem da graça necessária a
todos para se salvar. Mas há uma
ordem superior à da graça. É
aquela constituída pelo próprio
mistério da Encarnação: a ordem
da União Hipostática ou Pessoal da
Humanidade de Jesus ao Verbo de
Deus. A esta ordem superior é
contígua a missão única de Maria:
a divina maternidade, e também,
em certo sentido, a missão
escondida de S. José. Esta
explicação foi exposta de
diferentes modos.

S. Bernardo: “Foi — eu digo — o


servo fiel e prudente que [Deus] constituiu Senhor, conforto de sua Mãe, nutrício de sua carne; o
único, enfim, sobre a terra, coadjutor de grande conselho”[16].

S. Bernardino de Sena: “A regra geral de todas as graças que serão comunicadas a cada criatura
racional é a seguinte: que, quando a graça de Deus escolhe alguém para algum ofício singular, ou a
uma condição mais elevada, lhe dá todo carisma que àquela pessoa assim pré-escolhida e à sua tarefa
são necessárias e o adornam abundantemente. Isso se verificou sobretudo em S. José, Pai putativo de
Nosso Senhor Jesus Cristo, e verdadeiro esposo da Rainha do mundo e Senhora dos Anjos, que foi
escolhido desde a eternidade para ser o fiel nutrício e guardião de seus principais tesouros, ou seja seu
Filho e sua Esposa; ofício que realizou de modo fidelíssimo (...). Se o comparar a toda a Igreja de
Cristo, não é, porventura, este o homem especial e eleito, por quem e sob cuja autoridade Cristo foi
introduzido ao mundo em modo ordenado e honesto? Se, portanto, toda a santa Igreja é devedora da
Virgem Mãe, porque por meio dela foi feita digna de receber Cristo, assim, certamente, depois de
Maria, deve uma graça e uma reverência singular a este (...) [que] Nutriu, com cuidado e muita
solicitude, o Pão do Céu, que deu a todos os eleitos a vida celeste”[17].

O dominicano Isidoro De Isolanis:


“São quatro as propriedades da
dignidade apostólica: o anúncio
(como no último capítulo de S.
Mateus: ‘Ide e pregai o Evangelho
a todas as criaturas’), a
iluminação (S. Mateus, 5: ‘Vós
sois a luz do mundo’), a
reconciliação (‘A quem
perdoardes os pecados serão
perdoados’, último cap. de S.
Marcos), e a locução do Espírito
Santo (‘Não sois vós que falais,
mas é o Espírito de meu Pai que
fala em vós’, João 15). Estas
propriedades são digníssimas,
A Sagrada Família com S. Isabel e o pequeno S. João Batista em Nazareth
by Sebastien Bourdon
porque vêm imediatamente de Cristo, estão sob sua autoridade, e são por motivo dele. As propriedades
de S. José, entretanto, foram o matrimônio com a Rainha dos Céus, o nome de Pai do Rei dos Anjos, a
defesa do Messias prometido na lei dos Judeus, a educação do Salvador de todos. Estas propriedades
lhe provêm imediatamente em relação e por causa de Cristo. Quem, então, sendo dotado de
inteligência, considerada a verdade da Revelação divina, pode investigar, argumentar e tirar
conclusões da comparação entre a majestade da vocação apostólica e a celeste dignidade de José,
pode [portanto] compreender quanta seja a sua excelência, dignidade, santidade e inexplicável
perfeição de virtude. Medita no fundo de teu coração e não encontrarás modo de depreciar ou abaixar
para junto de ti a majestade do fastígio apostólico, todavia Deus será exaltado nos dons escondidos de
seu Pai putativo”[18]; do mesmo modo Suarez[19] e muitos outros autores, como Mons. Giacomo
Sinibaldi, que admiravelmente desenvolve e especifica o argumento relativo à ordem da União
Hipostática[20].

É o que Bossuet exprime admiravelmente no primeiro panegírico sobre o grande Santo, quando no
terceiro ponto, diz: “De todas as vocações, enfatizo duas, que, nas Escrituras, parecem diretamente
opostas: a primeira, a dos Apóstolos, a segunda, a de S. José. Jesus é revelado aos Apóstolos para que
o anunciem em todo o mundo. Ele é revelado a José para calá-lo e escondê-lo. Os Apóstolos são luzes
para mostrar Jesus ao mundo. José é um véu para cobri-lo. Sob este véu misterioso está escondida a
virgindade de Maria e a grandeza do Salvador das almas (...). Quem glorifica os Apóstolos pela honra
da pregação, glorifica José pela humildade do silêncio”. A hora da manifestação do mistério do Natal,
de fato, ainda não chegara. Este momento deve ser preparado por trinta anos de vida encoberta.
A perfeição consiste em fazer a vontade de Deus,
cada um segundo sua vocação, mas a vocação
realmente extraordinária de S. José não supera, no
silêncio e na escuridão, a dos maiores Apóstolos,
não toca mais de perto o mistério da Encarnação
redentora? José, depois de Maria, esteve mais perto
do que qualquer outro ao próprio Autor da graça.
Ele, no silêncio de Belém, durante a permanência
no Egito e na pequena casa de Nazaré, recebeu
mais graças do que poderá jamais receber qualquer
outro santo.

Qual foi a sua missão especial em relação a Maria


SS.? Consistiu, principalmente, em preservar a
virgindade e a honra de Maria, em contrair com a
futura Mãe de Deus um verdadeiro matrimônio,
mas absolutamente santo. Como nos refere o
Evangelho de S. Mateus 1,20, o Anjo do Senhor
apareceu em sonho a José e lhe disse: “José, filho
de Davi, não temas receber contigo Maria, tua
esposa, porque aquele que está nEla vem do
Espírito Santo”. Maria é sua esposa de verdade.
Sagrada Família em Nazareth
by Esteban Murillo Trata-se de um verdadeiro matrimônio[21], mas
todo celeste, e que devia ter uma fecundidade
divina[22]: “A prole não é chamada bem do matrimônio — escreve S. Tomás — só porque gerada por
meio do matrimônio, mas porque no matrimônio é acolhida e educada; e, assim, o bem daquele
matrimônio foi aquela prole, mas não no primeiro modo. O que nasceu de um adultério, ou um filho
adotivo, que é educado no matrimônio, não são bem do matrimônio, porque este não é ordenado à
educação daqueles, como, ao invés, este matrimônio (de Maria e José) foi especialmente ordenado a
este fim, ou seja, que aquela prole fosse acolhida e educada neste”. A plenitude inicial de graça dada à
Virgem em vista da divina maternidade lembrava, em certo sentido, o mistério da Encarnação. “A
Beata Virgem (...) mereceu, pela graça que lhe foi dada, aquele grau de santidade e de pureza que
fosse côngruo à sua condição de Mãe de Deus (...) como também os Santos Padres (do Velho
Testamento) mereceram, por suas orações e desejos, em modo côngruo, a Encarnação”[23]. Como diz
Bossuet: “É a virgindade de Maria, que atrai Jesus do céu (...). Se é esta pureza que a torna fecunda, e
não temo afirmar que José tem sua
parte neste grande milagre.
Porque, se essa pureza angélica é
o bem da divina Maria, é também
o depósito do justo José”[24].

Tratava-se, sem dúvida, da união


mais respeitosa com a criatura mais
perfeita que jamais existiu, no
quadro mais simples, o de um
pobre artesão de aldeia. José
aproximou de si, assim, do modo
mais íntimo em relação a qualquer
outro santo, aquela que é a Mãe de
Deus, aquela que é também a Mãe
espiritual de todos os homens, do
próprio S. José, que é a
Corredentora, a Mediadora
universal, a dispensadora de todas
as graças. S. José, a todos esses
títulos, amou Maria com o amor
mais puro e mais devoto. Era
também um amor teologal, porque
amava a Virgem em Deus, por
toda a glória que lhe havia doado.
A beleza de todo o universo era
nada comparada à sublime união
dessas duas almas, uma união
criada pelo Altíssimo, que
encantava os Anjos, e deliciava o
próprio Senhor.

Qual foi a missão excepcional de


S. José em relação ao Senhor? Em
toda verdade, o Verbo de Deus
encarnado foi confiado a ele, José,
ao invés que a outro justo, entre os
homens de todas as gerações. Se o
santo velho Simeão segurou o
pequeno Jesus por alguns instantes
e viu nEle a salvação dos povos,
“luz para a revelação das gentes”,
José velou sempre, noite e dia,
sobre a infância de Nosso Senhor.
Muitas vezes, segurou em suas
mãos aquele que sabia ser seu
Criador e Salvador. Recebeu dEle
graças sobre graças, durante os
longos anos em que viveu com ele
O Trânsito de S. José na maior intimidade cotidiana.
Viu-o crescer, contribuiu à sua
educação humana. Jesus lhe foi submisso: “Era submisso a eles” (Lc. 2,5). É comumente chamado de
“pai nutrício do Salvador”, mas o foi em um sentido mais elevado, porque, como sublinha S.
Tomás[25], é apenas acidentalmente que tal homem, depois do seu matrimônio, se torna “pai nutrício”
ou “pai adotivo” do Menino, exatamente porque não foi mesmo de modo acidental que S. José foi
encarregado de cuidar de Jesus. Ele foi criado e veio ao mundo exatamente para este desígnio. Foi uma
predestinação. É em vista desta missão totalmente divina que a Providência lhe concedeu toda espécie
de graça desde sua infância: graça de piedade profunda, de virgindade, de perfeita fidelidade. No
desenho eterno de Deus, a razão de ser da união de S. José com Maria foi, sobretudo, a proteção e a
educação do Salvador; e ele recebeu de Deus um coração de Pai para velar sobre o Menino Jesus. Esta
é a missão principal de S. José, aquela pela qual ele recebeu uma santidade proporcional; proporcional,
de certa forma, à sua condição [status], ao mistério da Encarnação, que domina a ordem da graça e
cujas perspectivas são infinitas[26].
Este último ponto foi bem iluminado por Mons. Sinibaldi,
em sua recente obra, La Grandezza di San José [A
Grandeza de S. José], pp. 33-36, onde mostra que S. José
foi predestinado desde a eternidade a se tornar o esposo da
S. Virgem, e explica com S. Tomás a tríplice conveniência
desta predestinação: “O ministério de S. José e a ordem da
União Hipostática (...). Por Ministério (...) se deve
entender um ofício, uma função que impõe e produz uma
série de atos dirigidos a alcançar um escopo determinado
(...): Maria nasceu para ser a Mãe de Deus (...). Mas o
esponsalício virginal de Maria depende de José (...). Por
isso, o ministério de José tem uma estreita relação com a
constituição da ordem da União Hipostática (...).
Celebrando seu conúbio virginal com Maria, José
prepara a Mãe de Deus como Deus a quer; e nisso
consiste a sua cooperação na atuação do grande mistério.
Disso surge que a cooperação de José não é igual à de
Maria. Enquanto a cooperação de Maria é intrínseca,
física, imediata, a de José é extrínseca, moral, mediata
(para Maria); mas é verdadeira cooperação”[27].

O Doutor Angélico o estabeleceu, questionando-se (III, q,


29, a. 1) se Cristo devia nascer de uma Virgem que havia contraído um verdadeiro matrimônio.
Respondeu afirmativamente: que devia nascer assim, seja por Cristo, seja por sua Mãe, seja por nós.

Isso era demasiado conveniente para o próprio Nosso Senhor, para que não fosse considerado, antes de
manifestar o mistério do seu nascimento, como um filho ilegítimo, e porque devia ser protegido na sua
infância. Para a Virgem não era menos conveniente, para que não fosse considerada culpada de
adultério e, por isso, apedrejada pelos hebreus,
como observou S. Jerônimo, e para que ela
também fosse protegida no meio das
dificuldades e das perseguições que deveriam
iniciar com o nascimento do Salvador. Isso,
como acrescenta S. Tomás, foi também muito
conveniente para nós, porque, graças ao
testemunho insuspeito de S. José,
apreendemos a concepção virginal de Cristo.
Segundo a ordem dos assuntos humanos, o seu
testemunho admiravelmente confirma para nós
o de Nossa Senhora. Finalmente, era
soberanamente conveniente porque em Maria
encontramos, ao mesmo tempo, seja o perfeito
modelo dos Virgens, seja o das esposas e das
mães cristãs.

Assim se explica que, de acordo com muitos


autores, o decreto eterno da Encarnação, em
relação ao fato que devia se realizar hic et
nunc, naquelas determinadas circunstâncias,
compreendeu não só Maria e Jesus, mas também o próprio S.
José. Desde toda a eternidade havia sido decidido, de fato, que o
Verbo de Deus encarnado nasceria milagrosamente de Maria
sempre Virgem, unida ao justo José pelos laços de um
verdadeiro matrimônio. A execução deste decreto providencial é
assim expresso por S. Lucas 1,27: “O anjo Gabriel foi enviado
por Deus a uma cidade da Galileia, chamada Nazaré, a uma
virgem desposada com um homem chamado José, da casa de
David, e o nome da Virgem era Maria”.

S. Bernardo chama S. José de fidelíssimo cooperador de grande


conselho. É por isso que Mons. Sinibaldi, depois de Suarez e
muitos outros, afirma que o ministério de S. José é contíguo, de
certa forma, à ordem da União Hipostática. Não porque S. José
tenha cooperado intrinsecamente, como instrumento físico do
Espírito Santo, à realização do Mistério da Encarnação. Deste
ponto de vista, seu papel é muito inferior ao de Nossa Senhora,
Mãe de Deus. Mas ele foi predestinado a ser, na ordem das
causas morais, o guardião da virgindade e da honra de Maria e,
ao mesmo tempo, o protetor do Menino Jesus. Qualquer
cooperação física, mesmo instrumental, é excluída em S. José.
As palavras do Credo “concebido do Espírito Santo” sempre
foram entendidas no sentido de “unicamente do Espírito
Santo”[28].

Escreve S. Efrem: “Filho de Davi, José desposou uma filha de


David, de quem teve uma prole sem intervenção humana (...).
Teria sido certamente algo torpe que Cristo tivesse sido
concebido de semente de homem, e tampouco honesto (...).
Maria deu à luz um filho que, não com seu nome, mas com o de
José foi contado[29], embora não derivasse de sua semente.
Nasceu sem José o filho de José, que foi ao mesmo tempo filho e
pai de David (...). O Evangelho chama Maria com o nome de
Mãe, não de nutriz. Mas também chama José de pai, embora
não tenha tido parte alguma na geração de Jesus (...). Mas o simples nome não nos torna tais por
natureza; assim, de fato, muitas vezes, chamamos de pais não os genitores, mas aqueles que são dignos
de reverência por causa de sua idade. Todavia, a natureza tributou a José o nome de pai; um pai, no
entanto, que não gerou”[30]. Os termos “sem intervenção humana” e “sem José” excluem totalmente
uma ação física, mesmo que apenas instrumental, por parte de S. José. Por sua vez, diz S. Agostinho:
“O Senhor, portanto, não nasceu da semente de José, embora assim se pensasse, e, todavia, o filho de
Maria Virgem nasceu por causa da caridade e da piedade de José”[31]. O verdadeiro sentimento da
Igreja é expresso de modo admirável por S. Francisco de Sales, sob o símbolo (do palmeiral) que se
encontra em S. Efrem: “S. José foi, então, como uma palmeira, que é uma planta infrutífera, mas que
não é por isso infrutuoso (...). S. José, de fato, não contribuiu de modo algum para este santo e glorioso
nascimento, a não ser com a mera sombra do matrimônio, que preservou a Nossa gloriosa Senhora e
Mestra de toda a calúnia”[32].

O culto devido a S. José não supera especificamente aquele de dulia dos outros santos, mas tudo leva a
crer que ele mereça[33] receber este culto de dulia mais do que todos os outros santos[34]. Por isso, a
Igreja, em suas orações, diz seu nome imediatamente após a Virgem e antes dos Apóstolos, como, por
exemplo, na oração A cunctis[35]. Se S. José não é nomeado no Cânon da Missa[36], tem, todavia um
Prefácio especial, e o mês de março lhe é consagrado.

Recentemente, em um discurso proferido na sala Consistorial, no dia da festa de S. José, em 19 de


março de 1928, Papa Pio XI comparava a vocação de S. José à de S. João Batista e à de S. Pedro: “É
sugestivo ver surgir tão próximas e brilhar, quase simultaneamente, certas figuras tão magnífica: S.
João Batista que se ergue do deserto, com sua voz tão poderosa e ao mesmo tempo suave, como o leão
que ruge e como o amigo do Esposo que se alegra com a glória do Esposo, para oferecer, enfim, aos
olhos do mundo a maravilhosa glória do mártir. São Pedro, que ouve do divino Mestre estas sublimes
palavras, que também foram pronunciadas diante do mundo e dos séculos: ‘Tu és Pedro, e sobre esta
pedra Eu edificarei a minha igreja’, ‘ide e pregai ao mundo todo’; missão grandiosa, divinamente
resplandecente. Entre estas duas missões, surge a de S. José, que, ao contrário, passa recolhida, tácita,
quase despercebida, desconhecida, na humildade, no silêncio; um silêncio que viria a se iluminar
apenas alguns séculos depois e que viria a suceder, mas depois de séculos, um retumbante canto de
glória. E, de fato, onde mais profundo é o
mistério e mais densa a noite que o cobre, onde
mais profundo o silêncio, justamente ali é mais
alta a missão e mais rico o conjunto de virtudes
que lhe são necessárias, e do mérito que devia,
por feliz necessidade, lhe corresponder. Missão
única, grandiosa, a missão de guardar o Filho
de Deus, o Rei do mundo; a missão da custodiar
a virgindade, a santidade de Maria; a missão
única de entrar em participação do grande
mistério escondido [aos olhos] dos séculos, e de
cooperar também à Encarnação e à Redenção.
Toda a santidade de José está, precisamente, na
realização fiel até o escrúpulo dessa missão tão
grande e tão humilde, tão alta e tão escondida,
tão esplêndida e tão envolta em escuridão”[37].

Ainda Pio XI, por ocasião de um discurso de


exaltação à Veneravel Andrea Fournet e às Ven.
Lucia Filippini e Antida Thouret, em 21 de abril
de 1926: “Eis um Santo que entra na vida, e a
vida transcorre no cumprimento do mais alto
mandato divino, no mandato incomparável de
vigiar a pureza de Maria, de proteger a
divindade de Jesus Cristo, de tutelar, consciente
cooperador, o mistério, o segredo a todos
ignoto, exceto à Santíssima Trindade, o da
Redenção do gênero humano. É na magnitude
deste mandato que está a singular e
absolutamente incomparável santidade de S.
José; porque realmente a nenhuma outra alma,
a nenhum outro santo tal mandato foi confiado,
e entre S. José e Deus não vemos, nem podemos
ver nada mais do que Maria Santíssima com a
Sua divina Maternidade. É evidente que este Santo na altura
de tal mandato já possuía o título daquela glória que é Sua, a
glória de Patrono da Igreja Universal. Toda a Igreja, na
verdade, já estava lá, resumida junto dele, como uma
semente em germe já fecunda, na humanidade e no Sangue
de Jesus Cristo; toda a Igreja já estava lá na virginal
maternidade de Maria Santíssima Mãe de Jesus e Mãe de
todos os fieis, que aos pés da Cruz viria a herdar no Sangue
do Seu primeiro Filho Jesus. Tão pequena à vista dos olhos,
mas tão grande ao olhar do Espírito, a Igreja já estava lá
junto de S. José, quando Ele era, na Sagrada Família, o
Guardião e o Pai tutelar dEla”[38].

III. As virtudes sobrenaturais e os dons de S. José

Estas são, sobretudo, as virtudes da vida oculta e em um grau


a ele correspondente da graça santificante: uma profunda
humildade; uma fé penetrante, que nunca se desanima; uma
esperança inabalável; e, sobretudo, uma caridade imensa, que
aumenta sem cessar em contato com Jesus; a bondade mais
delicada para com os pobres, rica em sua pobreza dos maiores
dons de Deus, dos sete dons do Espírito Santo, no mesmo
grau de sua caridade[39]. A Ladainha diz: “José justíssimo, castíssimo, prudentíssimo, fortíssimo,
obedientíssimo, fidelíssimo, espelho da paciência, amante da pobreza, exemplo dos trabalhadores,
honra da vida doméstica...”.

A sua fé viva foi, em alguns dias, dolorosa por causa da escuridão na qual pressentia algo grande
demais para ele, especialmente quando ignorava ainda o segredo da concepção virginal, que a
humildade de Maria mantinha escondida: “José não quis repudiar Maria para desposar outra mulher
ou por alguma suspeita, mas porque temia, por reverência, de coabitar com tão grande santidade,
motivo pelo qual lhe foi dito: ‘Não tema’ (...)”[40]. As palavras de Deus transmitidas pelo Anjo lançam
luz e anunciam o nascimento milagroso do Salvador. José poderia ter hesitado em acreditar em algo tão
extraordinário, mas ele acreditou firmemente na
simplicidade do seu coração, e esta graça insigne, longe de
ensoberbecê-lo, o confirma para sempre na humildade. Por
que, se diz, logo a mim, José, ao invés de qualquer outro
homem, o Todo-Poderoso confiou esse infinito tesouro a
guardar? Ele vê claramente que não poderia merecer um
dom semelhante. Compreende toda a gratuidade da
predileção divina a seu respeito. É o beneplácito divino
soberanamente livre que tem em si mesmo a sua razão.
Esclarecem-se, ao mesmo tempo, as profecias, e a fé do
carpinteiro se engrandece em proporções prodigiosas.

A escuridão, no entanto, não demorou a reaparecer. José


teve que caminhar através de luzes e sombras. Ele já era
pobre antes de ser o objeto das divinas predileções, antes de
receber o segredo de Deus. Torna-se ainda mais pobre, diz
Bossuet, quando Jesus vem ao mundo. Não há lugar para a
Salvador no último hotel de Belém, é necessário abrigar-se
em um estábulo. Na delicadeza do seu coração José, teve
que sofrer por não poder dar nada a Maria e a seu Filho.
Quando Jesus entra em uma alma, dizem os santos, Ele entra
com a sua Cruz, e a separa de tudo para uni-la a Ele. José e
Maria o compreendem desde os primeiros dias, e a profecia
do velho Simeão confirma o pressentimento deles.

Já a perseguição começa. Herodes tenta matar o Messias. O


Chefe da Sagrada Família, avisado por um anjo, é forçado a
fugir para o Egito, com Maria e o Menino Jesus. Pobre
artesão, sem outro recurso que o seu trabalho, parte para esse
país distante, onde ninguém o conhece. Parte, forte na fé no
Verbo de Deus transmitida pelo Anjo. É a sua missão: deve
esconder Nosso Senhor, subtrai-lo de seus perseguidores, e
voltará a Nazaré apenas quando o perigo tiver cessado. José
é o ministro e o protetor da vida oculta de Jesus, como os Apóstolos são os ministros de sua vida
pública.

Nesta vida oculta, bem no meio das provações, a noite escura da fé se ilumina à luz mais radiante e
sempre mais doce que emana da santa alma do Verbo Encarnado. De volta a Nazaré, durante os anos
em que a Sagrada Família permaneceu lá, o recolhimento e o silêncio reinaram na pequena casa do
carpinteiro, verdadeiro santuário, mais sagrado do que o Santo dos Santos do templo de Jerusalém. É
um silêncio cheio de doçura, a contemplação totalmente amante do mistério infinito de Deus que veio
no meio de nós, mas ainda ignorado por todos. Às vezes, algumas palavras lançam luz sobre o estado
profundo das almas. Mas, nesta atmosfera de inocência e de amor, as almas eram transparentes umas
para com as outras e se compreendiam com o olhar, sem precisar de palavras.

Após a contemplação da Beatíssima Virgem, não teríamos, talvez, aqui na terra, nada semelhante à
contemplação simples e amante do humilde carpinteiro, quando olhava para Jesus. Por graça, havia
recebido os sentimentos do mais devoto e delicado pai e protetor, e era amado por Jesus, menino e
adolescente, com uma ternura, uma gratidão e uma
intensidade que se poderia encontrar apenas no coração
de Deus. Um olhar de S. José sobre Jesus lembrava ao
humilde artesão o mistério de Belém, o exílio no Egito,
o grande mistério da salvação do mundo. A ação
incessante do Verbo Encarnado sobre José era a ação
criadora, que conserva a vida depois de tê-la dado: “o
amor de Deus, que infunde e conserva a bondade nas
coisas”, como diz S. Tomás[41], a ação sobrenatural,
fecunda de graças sempre novas. É impossível encontrar
maior magnitude em uma simplicidade tão perfeita.

Tal como no profeta José do Velho Testamento, vendido


por seus irmãos e figura de Cristo, havia nele [José] a
mais alta contemplação na forma mais simples, a
contemplação divina, toda penetrada pelo puro amor da
caridade. Levava no coração o maior segredo, o da
Encarnação redentora. O momento de revelá-lo ainda
não havia chegado. Os Judeus não teriam
compreendido, não teriam acreditado, e a maior
parte deles esperava um Messias temporal,
carregado de glória, e não um Messias pobre e
sofredor como nós. A presença de S. José cobre
este mistério: Jesus era chamado o filho do
carpinteiro. O pobre artesão tinha em sua casa o
Verbo de Deus encarnado, possuía o Desejado
das nações, anunciado pelos profetas, mas não
dizia nada. Era testemunha deste mistério,
regozijava-se em segredo e silenciava.

Esta contemplação muito amorosa era muito doce para S. José, mas exigia dele também a maior
abnegação; abnegação que chegava até o mais doloroso sacrifício, quando lhe voltavam à mente as
palavras de S. Simeão: “Esse menino será um sinal de contradição”, e aquelas ditas a Maria, “e uma
espada vos traspassará a alma”. A aceitação do mistério da Redenção através do sofrimento parecia a
S. José como a consumação dolorosa do mistério da Encarnação, e exigia toda a generosidade do seu
amor para oferecer a Deus, em sacrifício supremo, o Menino Jesus e a Sua santa Mãe, que ele amava
incomparavelmente mais do que sua própria vida. Ele não ofereceu o Sacrifício eucarístico, mas muitas
vezes ofereceu o Menino Jesus ao Pai Eterno por nós. Como disse o Abade Sauvé: “Não vendo que a
vontade de Deus, S. José recebeu dela, com a mesma simplicidade, seja as alegrias mais profundas,
seja as provas mais cruéis”.

Podemos male mal imaginar os que foram na alma de S. José os progressos da fé, da contemplação e do
amor. Da mesma forma que o humilde carpinteiro viveu uma vida escondida na terra, assim ele foi
glorificado no Céu. Aquele a quem o Verbo de Deus obedeceu aqui na terra conserva no céu sobre o
Sagrado Coração de Jesus um incomparável poder de intercessão. Como velava sobre a casa de Nazaré,
vela hoje sobre os lares cristãos, sobre as comunidades religiosas, sobre as virgens consagradas a Deus;
é o seu guia, diz S. Teresa, nos caminhos da oração. É, portanto, como se diz na Ladainha, a
consolação dos míseros, a esperança dos doentes, o patrono dos moribundos, o terror dos demônios, o
Protetor da Santa Igreja, grande família de Nosso Senhor. Peçamos-lhe de nos fazer conhecer o valor
da vida oculta, o esplendor dos mistérios de Cristo e a infinita bondade de Deus, tal qual Ele a viu na
Encarnação Redentora.

Roma. Angélico. 1929.


APÊNDICE:

LEITURA DO DECRETO SOBRE AS VIRTUDES


HEROICAS DA VEN. EMÍLIA DE VIALAR,
FUNDADORA DAS IRMÃS DE SÃO JOSÉ DA
APARIÇÃO.

“De outro lado, não podemos deixar de mencionar dois


fatos, duas luzes que mais se impõem diante de tanta
grandeza: de um lado, S. José bendito que vem com Sua
festividade — cada vez mais cara às almas piedosas —
para dividir esta alegria, para participar deste espiritual
banquete; do outro, a própria Ven. Vialar que a S. José
claramente remete com o mesmo nome que ela se deu,
atribuindo-o à sua família religiosa: Irmãs de S. José da
Aparição. Insuperáveis eleições. Eis porque, até para
comprazer a Nossa particular devoção e piedade que
sempre tivemos para com o caro Santo — e agora mais
do que nunca, por termos sido colocados por Deus no altíssimo lugar, ao leme de Sua embarcação
divina que é a Igreja, da qual S. José era destinado a ser o grande Protetor — eis porque, a tudo quanto
pensamos durante a leitura do Decreto, queremos agora acrescentar alguma outra reflexão. Sobre a
Ven. Vialar não faltará certamente ocasião — e virão ainda novas e sempre mais felizes — de falar:
pensamos, portanto, que não deverá ser certamente desagradável à Venerável Serva de Deus se,
colocando-a aparentemente de lado, nos ocuparmos, neste momento, de preferencia, de S. José, e a Ele
olharmos e sobre Ele falarmos. Dizíamos aparentemente, uma vez que foi justamente a Venerável a nos
remeter a S. José; por sua vez, o grande Santo remeteria à sua fiel e heroica devota.

A ideia de falar de S. José, de nos entretermos por alguns instantes com o grande Patrono da Igreja
Universal, em um momento dominado pela vida e pela glória incipiente da Ven. Vialar, essa ideia é
recomendada pela circunstancia de que própria a própria Venerável convidava, com um aceno muito
seguro e claro, a pensar, a celebrar as glórias e as grandezas de S. José, justamente pela via melhor, ou
seja, pela via mais alta e, em si mesma, facunda, da intrínseca, esplêndida e incomparável eloquência
das coisas. Notável é, sobretudo, o fato de que a Ven. Vialar,
em ordem a S. José, se encontrou — conscientemente ou não,
isso se ignora — com o primeiro e mais alto panegirista de S.
José. Diz-se tudo quando é mencionado: Jacques Benine
Bossuet[42], a águia de Meaux [França], que nunca foi tão
verdadeiramente águia como quando falou de S. José. E de
fato é sabido: ninguém nunca olhou para o incomparável Santo
em tão esplendida luz, e ninguém jamais o considerou através
de tão felizes pontos de vista.

A reflexão que a Venerável Vialar nos sugere é a mesma que


foi de Bossuet: as grandezas de S. José comportam uma
imensa superioridade sobre todas as outras grandezas do
gênero, levando em consideração as confidências e a confiança
de que a Santíssima Trindade o coroou. O conteúdo da
Aparição do Anjo a José é realmente assim: a Venerável
Vialar nos fala da Aparição a S. José: mas não foi apenas este
grande fenômeno que a tocou e que se lê limpidamente em seu pensamento; foi,
sobretudo, o conteúdo daquilo que a Aparição quis dizer, e que se resume no
anúncio do Anjo feito a José acerca da concepção do Espírito Santo que
acontece em Maria, da próxima aparição de Jesus — Nome que ele irá impor,
usando daquela autoridade paterna de que é investido, autoridade paterna à qual,
especialmente naquela época, era inerente o ofício da imposição do nome —
Jesus, isto é Salvador, com a Redenção do gênero humano. Agora, neste
conteúdo da Aparição duas outras coisas devem ser consideradas. Antes de
tudo, a confiança da Diviníssima Trindade, pela qual Esta confia, entrega,
recomenda a José nada menos que a virgindade de Maria: “Quod enim in ea
natum est de Spiritu Sancto est” [...o que nela foi gerado vem do Espírito Santo
(S. Mat. 1,20). NdTª].

Perde-se o espírito, pensando e contemplando tudo isso, em um perder-se


realmente delicioso, ao considerar, mesmo que apenas fugazmente, uma tal
confiança dada, posta por Deus, pela Santíssima Trindade em um homem: e
uma tal virgindade! Não apenas uma virgindade comum, que seria, de resto, ela
própria, um tesouro inestimável, mas a Virgindade da Virgem das virgens, a
Virgindade de Maria Santíssima confiada a José. O que era, foi e é no conceito
da Santíssima Trindade — Pai, Filho e Espírito Santo — este homem, em que
luz era visto, de qual confiança honrado, reputado digno e tornado digno? Ele
foi o homem privilegiado por Deus, e foi tornado digno a força de graças, de
todos os dons necessários, justamente, para receber tal confiança. Foi a grande
liberalidade de Deus: trata-se de um daqueles casos em que Deus mede as Suas
graças exatamente aos grandes favores que quer fazer. Deixemos de bom grado
a estes Nossos diletíssimos filhos, à sua consideração mais tranquila, à sua
meditação o adentrar-se naquele mundo de luz, de esplendores candidíssimos,
onde a pureza infinita, os esplendores infinitos recobrem e tornam mais
deslumbrantes a outra pureza: a pureza e a Virgindade de Maria, a pureza e a
virgindade de José. Peregrinação magnífica, não só do espírito e do coração,
mas também, pode-se dizer, da fantasia. Nada de mais belo, de mais encantador,
de mais atraente! Sigamos.

À primeira confiança da Santíssima Trindade, outra se associa: e é também anunciada na Aparição do


Anjo a S. José: “Quod enim in ea natum est de Spiritu Sancto est (...) et vocabis nomen eius Jesum”. O
Santo, o Filho de Deus, o Redentor do gênero humano é confiado a José. O Filho de Deus! Eis a outra
confiança, eis o outro tesouro confiado à custódia, ao cuidado, ao governo de S. José. E é mesmo com o
anúncio deste pátrio poder, pelo qual Ele seria aquele que iria impor aquele Nome, que José guardará o
tesouro da Divindade do próprio Jesus Cristo. Já era imensamente grande o segredo da virgindade de
Maria, e parecia que algo mais precioso não pudesse ser confiado a um homem, e, no entanto, — é a
simples, divina, gloriosa verdade — um ainda mais rico e vistoso tesouro vem a se acrescentar à
virgindade de Maria, e é a própria Divindade de Jesus. Aqui não é apenas a luz de cândidos
esplendores; aqui são vertigens de uma altura infinita, à qual apenas se ousa olhar e pensar: a Divindade
de Jesus Cristo confiada, entregue, recomendada a S. José! É exatamente assim que o grande Santo
aparecerá, diante do mundo todo: como Aquele que está no lugar do Pai Divino, tendo, por um lado,
todos os atributos das solicitudes, dos cuidados, dos méritos e dos direitos paternos, e de outro, como
outro termo, a própria Divindade de Jesus Cristo. Vertigens verdadeiras, incomensuráveis: e, no
entanto, é a mais simples, grandiosa, pura, divina verdade. Dúplice inestimável tesouro.
Meditação de S. José em Nazareth
Não queremos nos deter sobre esse argumento por mais tempo, pois, justo quanto se crê de haver
chegado ao clímax, percebe-se que muitíssimas coisas ainda haveria a considerar, visto que a graça e a
glória de S. José levam ainda mais para o alto. Queremos apenas manifestar um pensamento: o que
mais se poderia acrescentar a estas duas confianças, a
esses dois depósitos de valor infinito? No entanto, sim,
pode-se acrescentar ainda alguma coisa, e isso seria o
conjunto de um e do outro tesouro. É algo que o
próprio Bossuet tratou com a santidade de José; é algo,
em termos de confiança e de confidência que ultrapassa
todo o restante, e que não há preciosidade de depósito
ao qual este não venha a acrescentar uma nova luz: é a
confiança que fia um segredo. Em todas as humanas
relações não há nada que possa se comparar à
confiança, à prova de um segredo, especialmente
quando se trata de um segredo íntimo, que está mesmo
no âmago do coração e da alma, e exprima as suas mais
altas aspirações. Nenhum tesouro pode ser comparado
àquela riqueza moral que é constituída pelo segredo.
Este tem tanto mais valor quanto mais indica uma alma
que passa para outra alma, um coração que se
transfunde em outro coração, revelando aquilo que
pode haver nele de mais guardado e de mais íntimo.
Qual, portanto, não seria o valor do segredo que é
confidenciado por uma parte altíssima!

Aqui o segredo é começado pela Santíssima Trindade,


aqui se contém o segredo de Deus escondido nas
profundidades da divindade, da Trindade,
nos infinitos e impenetráveis mistérios do
Pai, do Filho e do Espírito Santo: é o
mistério, o segredo da Divina Encarnação
e da Redenção, que a Divina Trindade
revela ao homem. Realmente mais alto
não se pode ir. Estamos na ordem da
Redenção, da Encarnação, na ordem
da União Hipostática, da União Pessoal
de Deus com o homem! É neste
instante que o aceno de Deus nos
convida a considerar o humilde e
grande Santo, é nesse instante que Ele
dita a palavra que explica tudo na
relação entre S. José e todos os grandes
Profetas e todos os outros grandes
Santos, mesmo aqueles que tiveram
altos ofícios públicos como os
Apóstolos: nenhuma outra celebridade
pode superar aquela de ter tido a
Revelação da União Hipostática do
Verbo Divino.

E eis-nos ao ponto em que S. José nos


leva de volta a sua heroica devota. A
Venerável Vialar viu, intuiu estas
grandezas contemplando e considerando
a Aparição a S. José, e não apenas — o
temos inclusive mencionado — o S. José e a Santíssima Trindade
fenômeno em si, mas o conteúdo daquele grande acontecimento, a saber: a Divina Encarnação, a
Redenção, a União hipostática do Homem-Deus, que deveria dirigir a Humanidade redimida.
Confiança em uma intercessão excepcional. A partir desta consideração, é óbvia também
alguma dedução prática: é o momento de nos perguntarmos qual seria a nossa devoção, qual o nosso
conceito por este Santo tão sublime, no lugar em que a mão de Deus o colocou. De fato, nada mais do
que a supramencionada consideração demonstra e pede a veneração, a confiança que nós devemos ter
na intercessão de S. José. Fonte de toda a graça é o Redentor Divino; a seu lado está Maria Santíssima,
dispensadora dos divinos favores. Mas se há algo que deve suscitar uma confiança ainda maior de nossa
parte é, de alguma maneira, a reflexão de que é S. José aquele que “comanda” a Um e à Outra; aquele
que tudo pode junto do Divino Redentor e junto da Mãe Divina, de uma forma e de um poder não
apenas de custodia solícita. Certamente, Maria e o próprio Divino Redentor tiveram não apenas um
Anjo da Guarda, mas todo um séquito de Espíritos celestes, colocado a seu serviço: isso é dito pelo
Evangelho quando, falando de Jesus depois do jejum de 40 dias, fala dos Anjos que ministrabant ei:
“Os Anjos O serviam”. E o Anjo da Anunciação, entre todos os Anjos que serviram Maria, é retratado
em humilde e devota atitude junto dEla.

Mas a S. José é confiada a custódia de Jesus com uma tarefa motivada na mente paterna: Ele é o lugar-
tenente do Pai Celeste. Para nós, os Anjos da guarda são os protetores especiais, e a eles devemos honra
e devoção, como diz a bela palavra de S. Bernardo: venerationem pro praesentia. Por Jesus, ao invés, e
por Maria são os anjos que têm respeito e veneração. Mas, por sua vez, Jesus e Maria obedecem e
obsequiam a José: são Eles a reverenciar aquilo que a mão de Deus havia nEle constituído: a autoridade
de Esposo, a autoridade de Pai. Portanto, grandíssima deve ser a confiança que nós deemos ter para
com o Santo que está em tão prolongadas, aliás, únicas relações com as próprias fontes da graça e da
vida, a Santíssima Trindade”[43].

PIO XI, em 19 de março de 1935.

Fonte primária: Livres mystiques.


Fonte para tradução: Pro Missa Antiqua.
Tradução: Giulia d’Amore di Ugento

NOTAS
[1] Sermo in nativitatem Virginis Mariae, IV Consideratio.
[2] Sermo I de S. Joseph, c. 3, Opera, Lyon, 1650, t. IV, p. 254.
[3] In Summam S. Thomae, III, q. 29, disp. 8, sect. 1.
[4] S. Alfonso Maria de Ligório, Settenario di meditazioni in onore di S. Giuseppe nei sette mercoledì
che precedono la sua festa, Nápoles, 1758. [Ler aqui. NdTª.]
[5] Cf. Isodoro Isolani, O.P., Summa de donis S. Joseph, nova ed. de P. Berthier, Roma, 1807. — Ch.
Sauvé, Saint Joseph intime, Paris, 1920. — Card. Lépicier, Tractatus de S. Joseph, Paris (s.d.) 1908. —
Artigo Saint Joseph de M.A. Michel, em Dictionnaire de Théologie Catholique. — Sobretudo, Mons.
Giacomo Sinibaldi, La Grandezza di San Giuseppe, Roma, 1937, p. 36 e ss.
[6] Leão XIII, Enc. Quamquam pluries de 15 de agosto 1899: “Certe matris Dei tam in excelso dignitas
est, ut nihil fieri majus queat. Sed tamen quia intercessit Josepho cum Virgine beatissima maritale
vinculum, ad illam praestantissimam dignitatem, qua naturis creatis omnibus longissime Deipara
antecellit, non est dubium quia accesserit ipse, ut nemo magis. Est enim conjugium societas
necessitudoque omnium maxima, quae natura sua adjunctam habet bonorum unius cum altero
communicationem. Quocirca si sponsum Virgini Deus Josephum dedit, dedit profecto non modo vitae
socium, virginitatis testem, tutorem honestatis, sed etiam excelsae dignitatis ejus ipso conjugali foedere
participem”. [Texto oficial em espanhol, no site do Vaticano. Não oficial, em português. NdTª.]
[7] Cf. S. Tomás de Aquino, Ia, q. 94, a. 3.
[8] Cf. S. Tomás de Aquino, IIIa, q. 7, a. 9: “Christus habuit gratiae plenitudinem… quia habuit eam in
summo, secundumn perfectissimum modum quo haberi potest. Et hoc quidem apparet primo ex
propinquitate animae Christi ad causam gratiae. Dictum est enim (a. 1) quod quanto aliquod
receptivum propinquius est causae influenti, tanto abundantius recipit. Et ideo Christi anima, quae
propinquius conjungitur Deo inter omnes creaturas rationales, maximam recipit influentiam gratiae
ejus. Secundo ex comparatione ejus ad effectum. Sic enim recipiebat anima Christi gratiam, ut ex ea
quodammodo transfunderetur in alios… Conferebatur ei gratia, tanquam cuidam universali principio in
genere habentium gratiam”.
— IIIa, q. 9, a. 2: “Illud quod est in potentia, reducitur in actum per id quod est in actu, oportet enim
esse calidum id per quod alia calefiunt. Homo autem est in potentia ad scientiam beatorum quae in Dei
visione consistit et ad eam ordinatur sicut ad finem… Ad hunc autem finem beatitudinis homines
reducuntur per Christi humanitatem… Et ideo oportuit quod cognitio beata, in Dei visione consistens,
excellentissime Christo homini conveniret: quia semper causam oportet esse potiorem causato”.
[9] Cf. S. Tomás de Aquino, IIIa, q. 27, a. 5: “Quanto aliquid magis appropinquat principio in quolibet
genere, tanto magis participat effectum illius principii… Christus autem est principium gratiae,
secundum divinitatem quidem auctoritative, secundum humanitatem vero instrumentaliter… Beata
autem Virgo Maria propinquissima fuit Christo secundum humanitatem, quia ex ea accepit humanam
naturam. Et ideo prae caeteris majorem debuit a Christo gratiae plenitudinem obtinere”. — Ibid., ad 3:
“non est dubitandum, quin B. Virgo acceperit excellenter donum sapientiae et gratiam virtutum et etiam
gratiam prophetiae… secundum quod conveniebat conditioni ipsius”.
[10] Cf. IIa IIae, q. 1, a. 7, ad 4: “Illi qui fuerunt propinquiores Christo, vel ante, sicut Joannes Baptista,
vel post, sicut Apostoli, plenius mysteria fidei cognoverunt”.
[11] Em Ep. ad Rom., VIII, 23, circa haec verba: “Nos ipsi primitias Spiritus habentes”: “Spiritum
Sanctum et tempore prius et caeteris abundantius Apostoli habuerunt”. Item in Ep. ad Ephes., IV, 11,
circa haec verba: “Et ipse dedit quosdam quidem apostolos, quosdam autem prophetas, alios vero
evangelistas, alios autem pastores et doctores”.
[12] S. Tomás, em Mattheum, XI, 11, escreve: “Si (Joannes Baptista) dicitur major omnibus patribus
veteris Testamenti, non est inconveniens. Ille enim major et excellentior est, qui ad maius officium est
assumptus: Abraham enim major est inter patres quoad probationem fidei: Moyses vero quoad officium
prophetiae, ut habetur in Deut., XXXIV, 10: ‘Non surrexit propheta ultra in Israel sicut Moyses’.
Omnes isti praecursores Domini fuerunt; nullus autem fuit in tanta excellentia et favore; ideo ad majus
officium est assumptus. Cf. Luc, I, 15: “Erit enim magnus coram Domino”. Ver a favor desta
interpretação do texto de S. Mateus XI,11: Lagrange, Évangile selon S. Matt., p. 222; Évan. selon S.
Luc, P. 221; Knabenbauer, Evangelium secundum Mattheum, t. 1, pp. 429-431.
[13] S. Tomás, em Mattheum, XI, 11, diz a respeito: “Potest haec locutio ‘qui autem minor est in
regno coelorum, major est illo’ exponi tripliciter. — Primo, ut per regnum coelorum ordo beatorum
intelligatur: et qui inter illos est minor, major est quolibet viatore… Et hoc verum est intelligendo de
majoritate actuali: actu enim major est qui comprehensor est. Secus de majoritate virtuali, sicut una
parva herba major dicitur virtute, licet alia major sit quantitale. — Aliter potest exponi, ita quod per
regnum coelorum praesens Ecclesia designetur: et hoc est, quod minor non dicitur universaliter, sed
minor tempore… Unde ille qui minor est, major est illo. — Vel aliter potest exponi, quod aliquis dicitur
rnajor dupliciter: vel quantum ad meritum, et sic multi Patriarchae sunt majores aliquibus novi
Testamenti…, aut comparando statum ad statum, sicut virgines meliores sunt conjugatis; non tamen
quaelibet virgo melior quolibet conjugale”.
[14] Cf. O artigo de M. A. Michel sobre S. José, no Dictionnaire de Théologie catholique, col. 1515,
onde são citados muitos autores a respeito, p.ex. Fillion, Évangile selon S. Matthieu, p. 222, e D. Busy,
Saint Jean Baptiste, Paris, 1922, part. 3, c. 3.
[15] Cf. S. Tomás de Aquino, Ia IIae, q. 66, a. 2: “Omnes virtutes unius hominis sunt aequales quadam
aequalitate proportionis, in quantum aequaliter crescunt in homine; sicut digiti manus sunt inaequales
secundum quantitatem, seul sunt aequales secundum proportionem, cum proportionaliter augeantur”.
[16] S. Bernardo, Homil. 2, super Missus est, prope finem: “Fidelis, inquam, servus et prudens, quem
constituit Dominus suae Matris solatium, suae carnis nutritium, solum denique in terris magni consilii
coadjutorem fidelissimum”.
[17] S. Bernardino di Sena, Serm. 1 de S. Joseph: “Omnium singularium gratiarum, alicui rationabili
creaturae communicatarum, generalis regula est: quod quandocumque divina gratia eligit aliquem ad
aliquam gratiam singularem, seu ad aliquem sublimiorem statum, omnia charismata donet, quae illi
personae sic electae et ejus officio necessariae sunt atque illam copiose decorant. Quod maxime
verificatum est in sancto Joseph, putativo Patre Domini nostri Jesu Christi, et vero Sponso Reginae
mundi et Dominae angelorum, qui ab aeterno electus et fidelis nutritius atque custos principalium
thesaurorum suorum scilicet Filii ejus et Sponsae suae: quod officium fidelissime prosecutus est… Si
compares eum ad totam Ecclesiam Christi, nonne iste est homo electus et specialis, per quem et sub
quo Christus est ordinater et honeste introductus in mundum ? Si ergo Virgini Matri tota Ecclesia
sancta debitrix est, quia per eam Christum suscipere digna facta est; sic profecto, post eam, huic debet
gratiam et reverentiam singularem… Omnibus electis Panem de coelo, qui coelestem vitam tribuit, cura
et multa solertia enutrivit”.
[18] Em 1522, Isidoro de Isolanis, O.P., na obra muito elogiada por Bento XIV: Summa de donis
sancti Joseph, escreveu, Pars IIIa, cap. XVIII “Sunt quatuor proprietates apostolicae dignitatis:
annunciatio (Matthaei ultimo: Euntes praedicate Evangelium omni creaturae), illuminatio (Matthaei, 5:
Vos estis lux mundi), reconciliatio (Quorum remiseritis peccata, remittuntur eis. Marci, ultimo), et per
Spiritum Sanctum locutio (Jean., 15: Non vos estis qui loquimini, sed Spiritus Patris mei qui loquitur in
vobis). Hae autem proprietates dignissimae sunt, quia sunt immediate a et sub et propter Christum. -
Proprietates vero sancti Joseph fuere desponsatio Reginae coelorum, nominatio patris Regis
angelorum, defensio Messiae promissi in Lege Judoeorum, educatio Salvatoris omnium. Et hae
proprietates sunt immediate super, ad et propter Christum. Quisquis ergo ingenio pollens, rerum
divinarum praemissa veritate discurre, argue, conclude ab apostolicae comparatione majestatis ad
coelestem Joseph dignitatem, quanta sit illius praestantia, dignitas, sanctitudo, ac virtutum inexplicabilis
perfectio. Accede ad cor altum et non deprimetur aut humilior erit apud te majestas apostolici culminis;
sed exaltabitur Deus in latentibus donis patris sui putativi Joseph”. — Cf. ibid., cap. XVII: De dono
plenitudinis gratiae (in S. Joseph), et Ia Pars, cap. IV: De donis admirabilium virtutum cognitarum in
sancto Joseph propter conjugium beatissimae Virginis; — cap. V: De dono praestantissimae justitiae;
— cap. IX: De dono privilegii amoris quo Joseph dilectus fuit a beata Virgine super caeteros mortales.
[19] SUAREZ, em Summam Theologicam, III, q. 29, disp. VIII, sect. 1.
[20] Mons. Sinibaldi, op. cit., p.36 sq.
[21] Cf. S. Tomás de Aquino, IIIa, q. 29, a. 2.
[22] Cf. S. Tomás de Aquino, in IV Sent., dist. 30, q. 2, a. 2, ad 4: “Proles non dicitur bonum
matrimonii, solum in quantum per matrimonium generatur, sed in quantum in matrimonio suscipitur et
educatur, et sic bonum illius matrimonii fuit proles illa, et non primo modo. Nec tamen de adulterio
natus, nec filius adoptivus qui in matrimonio educatur, est bonum matrirnonii, quia matrimonium non
ordinatur ad educationem illorum, sicut hoc matrinionium (Mariae et Joseph) fuit ad hoc ordinatum
specialiter quod proles illa susciperetur in eo et educaretur”.
[23] Cf. S. Tomás de Aquino, IIIa, q. 2, a. 11, ad 3: “Beata Virgo… meruit ex gratia sibi data illum
puritatis et sanctitatis gradum ut congrue posset esse mater Dei”. — Ibid: “Ex congruo meruerunt
sancti Patres (Veteris Test.) incarnationem, desiderando et petendo”.
[24] Primo penerigico di San Giuseppe, p. 1.
[25] Cf. IV Sent., loc. cit.
[26] Podemos afirmar que José foi confirmado na graça desde o momento do seu matrimônio com a
Santíssima Virgem. Cf. Dictionnaire de Théologie catholique, artigo citado, c. 1518.
[27] Cf. La Grandezza di San Giuseppe, por Mons. G. Sinibaldi, Bispo titular de Tiberíades, Secretário
da S. Congregação dos Seminários e das Universidades, Roma, 1927, p. 36 ss: “Il ministero di San
Giuseppe e l’ordine della Unione ipostatica… Per ministero… si deve intendere un officio, una
funzione, che impone e produce una serie di atti diretti a raggiungere une scopo determinato… Maria è
nata per essere la Madre di Dio… Ma lo sposalizio verginale di Maria dipende da Giuseppe… Laonde
il ministero di Giuseppe ha une stretto rapporte con la costituzione dell’ordine della Unione ipostatica…
Celebrando il sue connubio verginale con Maria, Giuseppe prepara la Madre di Dio, come Dio la vuole
; e in ciò consiste la sua cooperazione nell’attuazione del grande mistero. - Da ciò appare che la
cooperazione di Giuseppe non uguaglia quella di Maria. Mentre la cooperazione di Maria è intrinseca,
fisica, immediata, quella di Giuseppe è estrinseca, morale, mediata (per Maria) ; ma è vera
cooperazione”.
[28] Cf. S. Tomás de Aquino, C. Gentes, l. IV, c. 45: “Toute coopération physique, même
instrumentale, est exclue du côté de Joseph ; les paroles du Credo : ‘conceptus est de Spiritu Sancto’,
ont toujours été entendues de solo Spiritu Sancto”.
[29] Refere-se ao censo. Texto italiano: “ma con quello di José fu censito”. NdTª.
[30] S. Efrem da Síria, citado por P. J.-M. Bover, S. J., em Ephemerides lheologicae Lovanienses, abril
1928: “Filius David, Joseph, davidicam sibi desponsavit filiam, ex qua prolem sine semine habuit…
Turpe profecto erat Christum ex viri semine procreari, nec honestum, ut idem ex femina titra conjugium
nasceretur. Edidit Maria infantem, qui non sub ipsius, sed sub Josephi nomine scriptus est, licet ex hujus
semine non derivatus. Ortus est sine Josepho Josephi filius, qui Davidis filius simul et parens exstitit”.
(édit. de Rome, 1732-1746, syr.-lat. III, 601). “Evangelium illam (Mariam) matrem appellat et non
nutricem. Sed et Joseplium quoque patrem vocat, cura nullarn in ea generatione partem haberet…
Non appellatio naturam tribuit; nam et nos crebro patres nuncupamus, non quidem genitores, verum
senio conspicuos. Porro ipsi Joseph natura appellationem indidit…: quoniam Virginis et Joseph
sponsorum arrhabones, ut hoc nomine vocaretur, effecerunt; patrem autem, qui non genuerit”. Ibid.,
grec.-lat. II, 276-277.
[31] S. Agostinho: “Non ergo de semine Joseph Dominus, quamvis hoc putaretur: et tamen pietati et
caritati Joseph natus est de Maria virgine filius”. (M. L., 38, 351). – La vraie pensée de l’Église est
admirablement exprimée par saint François de Sales, sous un symbole qui se trouve déjà chez saint
Ephrem (lot. cit., gr.-lat. II, 277) : ‘Saint Joseph donc fut comme un palmier, lequel ne portant point de
fruit, n’est pas toutefois infructueux…, non que saint Joseph eût contribué aucune chose pour ceste
sainte et glorieuse production, sinon la seule ombre du mariage, qui empêchait Nostre Dame et
glorieuse Maîtresse de toutes sortes de calomnies…’. Em Œuvres de saint François de Sales, t. VI,
Annecy, 1895, p. 354 ss.
[32] Œuvres de saint François de Sales, t. VI, Annecy, 1895, p. 354 ss.
[33] [Por causa disso, foi cunhado o termo protodulia para o culto devido a S. José. NDT original].
[34] Mons. G. Sinibaldi, op. cit., p. 242; Card. Lépicier, op. cit., p. 287.
[35] Na oração “A cunctis” – “A cunctis nos quæsumus Dómine mentis et córporis defénde perículis: et
intercedénte beáta et gloriósa semper Vírgine Dei Genitrice María, cum beáto Joseph, beátis Apóstolis
tuis Petro et Paulo, et ómnibus Sanctis, salútem nobis tríbue benígnus et pacem; ut destrúctis
adversitátibus et erróribus univérsis, Ecclésia tua secúra tibi sérviat libertáte. Per Dóminum nostrum
Jesum Christum Fílium tuum, qui tecum vivit et regnat in unitáte Spíritus Sancti, Deus, Per omnia
saecula saeculorum. R. Amen” –, Pio VII havia especificado que, quando fosse o caso, S. José deveria
seguir os Anjos e S. João Batista, como foi o caso na Ladainha dos Santos. Em Inclytum Patriarcham,
Pius IX repetiu isto, como também o fez S. Pio X, em 1911, estabelecendo a ordem de precedência a
ser seguida na celebração das festas litúrgicas, e como ainda ocorre na ordem dos Prefácios do Missal
Romano atual (Pio V). Em todos os casos acima, São José precede os apóstolos, mártires e todos os
outros santos; ocorrem algumas exceções, quando a ele foi dada precedência sobre João Batista ou o
arcanjo Miguel. Em 1922, a fórmula Marista de votos foi aprovada, colocando São José depois de
Maria e antes do Arcanjo Miguel e outros anjos e santos. Nesse mesmo ano e novamente em 1925 e
1926, quando Pio XI celebrava solenes missas pontificais na Basílica de São Pedro, as invocações
colocavam S. José depois de Maria e antes de São Miguel e todos os outros. Vide. NdTª.
– E também na oração “Deus, refugium nostrum et virtus” – “Deus, refugium nostrum et virtus,
populum ad te clamantem propitius respice; et intercedente gloriosa, et immaculata Virgine Dei
Genitrice Maria, cum beato Joseph, ejus Sponso, ac beatis Apostolis tuis Petro et Paulo, et omnibus
Sanctis, quas pro conversione peccatorum, pro libertate et exaltatione sanctae Matris Ecclesiae, preces
effundimus, misericors et benignus exaudi. Per eundum Christum Dominum nostrum. Amen” –, de
Leão XIII, que se recita depois do Salve Regina, na Missa Tridentina. NdTª.].
[36] Isso ocorre apenas na Missa Nova, e consta do Missal posterior a 1962. NdTª.
[37] Discorsi di Pio XI - Bertetto, SEI, vol. I, 780. Decreto da heroicidade das virtudes da Beata Jeanne-
Elisabeth Bichier des Ages.
[38] Discorsi di Pio XI, Bertetto, SEI, vol. I, 574.
[39] Cf. S. Tomás de Aquino, Ia IIae, q. 66, a. 2.
[40] Cf. S. Tomás de Aquino, IV Sent., dist. 30, q. 2, a. 2, ad 5: “Joseph noluit Mariam dimittere quasi
aliam ducturus vel propter aliquam suspicionem, sed quia timebat tantae sanctitati cohabitare propter
reverentiam, unde dictum est ei: Noli timere, Matth., I, 20”.
[41] S. Tomás de Aquino, Ia q. 20, a. 2.
[42] Biografia.
[43] Publicado em “L’Osservatore Romano”, 20-21 março de 1935.

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