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Formação em Teologia

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A CONSTITUIÇÃO DA NATUREZA HUMANA

Introdução

A constituição da natureza humana é outro tema que surge


quando se pergunta o que é o ser humano: um todo unitário, ou ele é
formado por dois ou mais componentes? E se é formado por múltiplos
componentes, quais são eles?

Tricotomia

O ser humano é composto por três elementos. São eles:

• Corpo: físico, parte material;


• Alma: trata-se do elemento psicológico, a base da razão, da
emoção, dos relacionamentos e de aspectos afins. O que o
distingue das plantas e dos animais;
• Espírito: esse é o elemento religioso, transcendente, que
capacita o ser humano a ter percepção das questões
espirituais e a reagir a estímulos dessa natureza. É a sede das
qualidades espirituais do indivíduo, enquanto que os traços
da personalidade residem na alma.

Referências: 1 Tes 5:23; Hb 4:12; 1 Co 2:14ss; 3:4.

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Dicotomia

O ser humano é composto por dois elementos. Um aspecto


material, a parte que morre (o corpo); e um aspecto imaterial, que
volta para Deus depois da morte (a alma ou o espírito).

Muitas vezes o termo “ espírito” e “ alma” são usados de forma


intercambiáveis. (Lc 1:46-47 – cântico de Maria) os termos aparecem
como sinônimos.

Os componentes básicos de uma pessoa são chamados de


corpo e alma (Mt 6:25).

Às vezes, a palavra “ alma” é usada como sinônimo do EU ou da


vida de uma pessoa. (Mt 16:26; Jo 19:30 – a ex clamação de Jesus na
cruz).

O tex to de Lucas 10:27 não apresenta três elementos, mas quatro.

Monismo

Segundo essa teoria, o ser humano não deve ser considerado de


forma alguma, uma composição de partes ou entidades separadas,
mas como uma unidade radical. Sua principal ideia é a ideia hebraica
da personalidade, de um corpo com vida, não de uma alma
encarnada.

(ERICK SON, 1997, pg.512) O homem é um espírito, tem uma alma


e habita um corpo.

Referência: ERICKSON, Millard J. Introdução à teologia


sistemática. São Paulo: Vida Nova,1997.

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É de suma importância conhecermos esses conceitos para


entendermos as visões dos seres humanos. Compreender que somos
uma unidade para que, por ex emplo, ao evangelizar, priorizemos o
homem como um todo, não apenas alimentando o espírito e
ignorando suas outras partes.

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A ORIGEM DOS SERES HUMANOS - PARTE I

Antropologia Cristã

Antropo = homem (no que diz respeito ao ser humano)

Logia = estudo;

Antropologia = Estudo do Ser Humano;

Por que cristão? Pois o estudo do Ser Humano se dará por meio
do entendimento Bíblico acerca da origem do homem.

• A Base Bíblica para o estado original de inocência e perfeição;


• Um estado de virtude e retidão;
• Visão sobrenatural;
• Visão natural;
• Um ambiente perfeito;
• Um estado de domínio;
• Um estado de responsabilidade moral.

A questão sobre a identidade do homem é tema de muitos


debates e inquietações, mas a grande reflex ão aqui é: “ Quem sou
eu?” . A resposta e o entendimento à essa pergunta é o que
procuramos quando estudamos Antropologia, mas ela depende da
sua cosmovisão, ou seja, da visão ampliada que temos de mundo,
crenças e ideias sobre o mundo, e, além disso, essa resposta vai
determinar o seu caminho na vida.

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Todos os teólogos evangélicos creem que os primeiros seres


humanos foram criados diretamente por Deus. E essa é a visão que
nos servirá como preparação do cenário para uma abordagem da
origem da alma de cada ser humano segundo Adão, bem como
servirá como contex to para a compreensão da depravação inerente
herdada pela humanidade, desde a época da criação.

Início versus Origem

O início indica simplesmente o fato de passar a ex istir, enquanto


origem, carrega a ideia de propósito do início dessa ex istência. Pelo
fato do ser humano ter esquecido o seu propósito de origem, fica
perdido no universo em um dilema ex istencial, reconhecendo apenas
que ele está ali, sem saber o porquê. Não somos fruto do acaso, mas
sim, gerados com o propósito da glória de Deus.

A base Bíblica para o Estado Original de Inocência e Perfeição

De acordo com Gênesis 1-2, Adão e Eva foram criados em total


inocência. Não havia nenhum tipo de malícia na sua natureza, ou no
ambiente onde eles estavam inseridos. Eles “não se
envergonhavam” (Gn 2:25), e não conheciam o “bem e o mal” (Gn
3:5). Em suma, além de não conhecerem a culpa por qualquer tipo de
pecado, eles também eram inocentes com relação ao pecado. Além
disso, mesmo a tentação do “sereis como Deus, sabendo o bem e o
mal” (Gn 3:5) implica que eles não conheciam o mal antes de caírem.
Na verdade, foi somente ao ex perimentarem o fruto proibido que
“foram abertos os olhos de ambos, e conheceram que estavam nus;
e coseram folhas de figueira, e fizeram para si aventais” (Gn 3:7). De
acordo com o Novo Testamento, pela desobediência, Adão e Eva se

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tornaram pecadores (Rm 5: 12; 1 Tm 2:14) e troux eram a condenação


sobre si mesmos e sobre toda a sua posteridade:

“ Pois assim como por uma só ofensa veio o juízo sobre


todos os homens para condenação, assim também por
um só ato de justiça veio a graça sobre todos os homens
para justificação de vida.” (Rm 5.18).

Antes disso, eles eram ilibados.

Um Estado de Virtude e Retidão

Além de serem inocentes e sem malícia, Adão e Eva eram


moralmente virtuosos em função do estado em que foram criados,
pois Deus os dotou de perfeição moral.

Salomão escreveu: “ Vede, isto tão somente achei: que Deus fez
ao homem reto, mas ele buscou muitas invenções” (Ec 7:29). A
palavra hebraica para designar “ reto” é ‘’éyashar’’, e significa
honestidade ou integridade, ela é a mesma palavra utilizada em
conex ão com “ justo” (Dt 32:4), “ reto” (Jó 1:1), e “ puro” (Jó 8:6).
Consequentemente, ‘’yashar’’ não denota apenas a ausência de
maldade, mas também, a presença da bondade — não é ausência de
vício, mas presença real da virtude.

Ex istem duas visões básicas a respeito da origem deste estado


de pureza na criação:

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A visão sobrenatural

Tomás de Aquino (1225 - 1274) e os seus seguidores na Igreja


católica, também sustentavam o mesmo ponto de vista, ou seja, que
a retidão original não era natural, mas sobrenatural.

Jonathan Edwards (1703 - 1758) sustentou que esse estado


original, teria sido um estado de graça sobrenatural no qual Adão foi
criado antes da queda, mas que, em função do pecado, foi perdido:
ser perfeitamente inocente e ser perfeitamente íntegro.

A visão natural

Shedd argumentava que esse estado de perfeição na criação era


natural, ou seja, a própria natureza com a qual Deus criara Adão era
moralmente reta e perfeita. Ele observou que a mesma palavra ‘’
yashar’’, é utilizada por Deus para se referir a Jó:

“Este era homem sincero, reto e temente a Deus; e desviava-se


do mal” (Jó 1:1). A justiça original está contida na própria ideia de um
homem que nasceu pelas mãos do Criador. Ela é parte do seu dote de
criação, e de nada precisa ser acrescentado.

A obra do Criador é perfeita, e não precisa de nenhuma espécie


de aperfeiçoamento. Em suma, de acordo com a visão natural, como
Deus é perfeito, Ele é incapaz de criar uma criatura imperfeita. Logo, o
estado natural de Adão e Eva, desde o momento da criação, era,
necessariamente, de perfeição.

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Um ambiente perfeito

Além de uma natureza perfeita, Adão também recebeu um


ambiente perfeito, no Éden não havia imperfeição moral (ou
metafísica), não havia pecado, era um lugar de bondade (Gn 2:8-22;
1:31), não havia nenhuma tendência ao mal do ambiente ao seu redor.

A criação não estava sujeita à corrupção, da forma como ficou


depois da Queda (Rm 8:22). Não havia morte no gênero humano (Rm
5:12) e tanto a natureza interna quanto ex terna eram absolutamente
perfeitas.

Um Estado de Domínio

No estado original da criação, a humanidade não era serva da


natureza, mas ex erce seu senhorio sobre ela. O homem não era
escravo do seu braço forte, ao contrário, a natureza lhe servia, pois
ela estava sujeita à humanidade. “Enchei a terra, e sujeitai-a; e
dominai sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e sobre
todo o animal que se move sobre a terra” (Gn 1:28).

Um Estado de Responsabilidade Moral

Tudo isso não significa que Adão não precisaria prestar contas a
ninguém que estivesse acima dele. Na verdade, ele estava em estado
de subordinação, pois “ E ordenou o senhor Deus ao homem, dizendo:
De toda árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore da
ciência do bem e do mal, dela não comerás; [...]” (Gn 2:16-17).

Adão tinha a responsabilidade de obedecer ao Criador. Como


sabemos, foi ex atamente neste ponto que Adão falhou, de maneira
miserável (Gn 3:1ss; cf. Rm 5:12-21; l Tm 2:14). Adão estava livre no

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sentido em que suas ações foram autodeterminadas (ação de decidir


por si só).

Quando Adão escolheu desobedecer a esta ordem, Deus o


considerou culpado, com a seguinte pergunta: “ Comeste tu da
árvore de que te ordenei que não comesses?” (Gn 3:11).

Os versículos sublinhados claramente indicam que houve um


ato de autodeterminação (cf. v. 13). Tu fizeste isso, disse Deus.
Portanto, tu também serás responsável pelo seu ato, sustentou o
Criador. Ninguém mais fez com que Adão e Eva cometessem o
pecado, nem mesmo o próprio Diabo, que foi o autor da tentação.
Assim é a natureza autodeterminada da liberdade.

Porém, as pessoas perfeitas em um paraíso perfeito não


estavam livres de um intruso imperfeito. Satanás, um arcanjo
decaído, havia se rebelado contra o Criador, levando consigo um
terço dos anjos do céu (Ap 12:4,9).

Por uma decisão livre e não coagida das suas vontades, o casal
perfeito no paraíso perfeito caiu na imperfeição. (Rm 5:19; 1Tm 2:1). A
sua desobediência gerou a morte e a destruição (Rm 5:12-21; 8:20-
23). Nenhum mal interior ou ex terior os levou a transgredir. Mas o uso
grosseiro da liberdade, erroneamente ex ercido, desencadeou a
desobediência e as suas trágicas consequências.

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A ORIGEM DOS SERES HUMANOS - PARTE II

Base Teológica para o Estado Original de Inocência e Perfeição

A condição perfeita do estado originalmente criado deriva da


natureza de Deus como um ser absolutamente perfeito. O argumento
segue a seguinte linha:

• Deus é um ser absolutamente perfeito;


• Um ser absolutamente perfeito é incapaz de produzir uma
criação imperfeita;
• Logo, a criação original foi feita na perfeição.

A base bíblica para a perfeição moral de Deus encontra-se em


diversas passagens:

(Dt 32:4) - Ele é a Rocha cuja obra é perfeita, porque todos os seus
caminhos juízo são; Deus é a verdade, e não há nele injustiça; justo e
reto é” .

(2Sm 22:31) - “ O caminho de Deus é perfeito [...] Deus é a minha


fortaleza e a minha força, e ele perfeitamente desembaraça o meu
caminho” .

(Jó 37:16) - “ Tens tu notícia do equilíbrio das grossas nuvens e


das maravilhas daquele que é perfeito nos conhecimentos?” .

(SI 18:30) - “ O caminho de Deus é perfeito; a palavra do SENHOR é


provada” . (SI 19:7) - “ A lei do SENHOR é perfeita e refrigera a alma” .

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(Mt 5:48) - “ Sede vós, pois, perfeitos, como perfeito é vosso Pai,
que está nos céus” .

Outras Concepções sobre a Origem da Humanidade

• A evolução Clássica;
• A evolução Deísta;
• A evolução Teísta;
• O criacionismo fiat;
• O criacionismo progressivo;

Evolução Clássica

O evolucionismo naturalista, tenta ex plicar a origem do homem


e das demais coisas sem a ação divina. O homem é produto do acaso
num universo sem Deus, ou seja, os processos imanentes na natureza
produziram os seres humanos e tudo o que ex iste.

O mundo é o resultado de combinações atômicas aleatórias e


casuais. Não ex iste participação divina no processo. Os naturalistas
têm em comum a negação de que o homem sobrevive à morte e a
negação de qualquer juízo futuro.

Evolucionismo “ clássico ou ateísta: O universo e a vida se


desenvolveram naturalmente, sem interferência divina nenhuma. O
ser humano é fruto de um processo evolutivo aleatório. Para este
também podemos usar o nome de " materialismo" e " naturalismo" .

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Evolucionismo Deísta

Um Ser superior (pode ser Deus ou não) foi a causa inicial da


origem do universo e da vida. A evolução das espécies, porém,
ocorreu naturalmente ao longo dos milhões de anos. O ser humano é
fruto de um processo evolutivo aleatório, embora teria recebido o
sopro divino ao final de sua evolução.

Evolucionismo Teísta

O real conceito é de um desenvolvimento da vida e do universo


guiado e direcionado por um projetista divino (Deus). O ser humano é
fruto de um processo evolutivo ordenado e regido por Deus, tendo, na
sua conclusão, recebido o sopro divino.

O Criacionismo Fiat

Em latim, quer dizer haja. Assim Jerônimo traduziu a palavra


“ CRIOU” em Gn 1. A ex pressão significa que o Senhor Deus não
precisou de qualquer matéria original para levar o efeito da criação.

Criacionismo Progressivo

Vê a obra criadora como uma combinação de uma série de


novos atos criativos (criou de novo; criou novamente.) entre esses
atos especiais de criação, o desenvolvimento ocorreu por meio da
microevolução, onde a evolução ocorre dentro da mesma espécie e
não macroevolução, onde a espécie evolui para espécie.

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Vemos então nesta introdução, as concepções de Origem dos


Seres Humanos, por meio da visão bíblica e outros conceitos
estudados.

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HAMARTIOLOGIA - PARTE I

A Origem do Pecado

A origem do pecado é considerada uma das mais profundas


discussões da filosofia e da teologia. É um problema que se impõe
naturalmente à atenção do homem, visto que o poder do mal é forte
e universal, uma doença sempre presente na vida e em todas as
manifestações desta, e é matéria da ex periência diária na vida de
todos os homens. É importante estudar sobre o pecado, pois as
consequências dele causou mudanças drásticas no homem e na
sociedade, deix ando-os perdidos, necessitando se reencontrar.

Pressupostos iniciais a respeito da Origem do Pecado

Nos primórdios da igreja, não se falava definidamente da origem


do pecado, todavia a ideia predominante se originou na voluntária
transgressão de uma ordem direta de Deus e queda de Adão no
paraíso, tornando-o de fato o primeiro pecador.

Não se pode considerar Deus como o Autor

O decreto eterno de Deus evidentemente deu a certeza da


entrada do pecado no mundo, mas não faz dEle o seu autor
responsável. Esta ideia é claramente ex cluída pela Escritura. A bíblia,
tanto no AT como no NT, registra várias palavras que descrevem
aspectos diferentes do pecado, na vida do indivíduo e na sociedade.
E tais palavras, procedem de uma mesma atitude básica: A rejeição
da vontade de Deus, em favor da vontade do próprio indivíduo.
(Isaías 59:1-2)

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À luz do que fora dito, não é possível responsabilizar Deus pelo


pecado e sim, o Homem, não somente à Escritura, mas também à voz
da consciência. " Assim, cada um de nós prestará contas de si mesmo
a Deus" (Rm 14:12).

O Pecado Originou-se no Mundo Angélico

A Bíblia nos ensina que, na tentativa de investigar a origem do


pecado, devemos retornar à queda do homem, antes de Gn 3. Após
cada criação, Deus afirmava que era bom e após a criação do Homem
Deus viu que era muito bom, então, de onde surgiu o mal e o pecado?
Deus criou um grande número de anjos, e estes eram todos bons,
quando saíram das mãos do seu Criador, Gn.1.31.

Mas ocorreu uma queda no mundo angélico, queda na qual


legiões de anjos se apartaram de Deus. A ocasião ex ata dessa queda
não é indicada, mas em Jo 8:44 Jesus fala do diabo como assassino
desde o princípio, e em (1 Jo 3:8) diz João que " o diabo peca desde o
princípio" . Sendo assim, o pecado original antecede a queda do
homem, ocorrendo na queda de Satanás.

Dois tex tos são usados para descrever a queda do Diabo: Is 14 e


Ez 28. Em Ez.28, ex iste uma analogia com o Rei de Tiro e a figura de
Satanás. Isto pode ser uma indicação da origem do pecado na vida
de Satanás. O tex to indica que foi o orgulho que deu origem ao pecado
do Diabo. Orgulho na tentativa de ser igual ou superior a Deus,
mesmo motivo usado para a tentação de Adão.

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Todavia a ex ortação de Paulo a Timóteo, " Não seja neófito, para


não suceder que se ensoberbeça, e incorra na condenação do diabo” ,
(1 Tm 3.6), nos permite concluir que foi o pecado do orgulho, de
desejar ser como Deus em poder e autoridade, a causa daqueda
angelical e que os líderes de Igreja não devem ir por este caminho. E
esta ideia parece achar corroboração em (Jd 6), onde se diz que os
que caíram “ não guardaram o seu estado original, mas
abandonaram o seu próprio domicílio” . Não estavam contentes com
a sua parte, com o governo e poder que lhes fora confiado.

Cuidado com o orgulho que nasce no coração, pois esta é a arma


de Satanás para a tentação do Homem.

A Origem do Pecado na Raça Humana

Com respeito à origem do pecado na história da humanidade, a


Bíblia ensina que ele teve início com a transgressão de Adão no
paraíso por meio de um ato perfeitamente voluntário da parte do
homem.

O tentador veio colocando-se em oposição a Deus,


argumentando que o homem poderia tornar-se semelhante a Deus.
E Adão utilizando-se de seu livre arbítrio (autodeterminação) se
rendeu à tentação e cometeu o primeiro pecado, comendo do fruto
proibido.

O homem em Adão era uma espécie de matriz, pelo qual


reproduziu suas cópias em imperfeição; trazendo consigo corrupção
moral permanente que, dada a solidariedade da raça humana, teria
efeito, não somente sobre Adão, mas também sobre todos os seus
descendentes.

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E nesse sentido o pecado de Adão é o pecado de todos. É o que


Paulo ensina em Rm 5:12: “Portanto, assim como por um só homem
entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a
morte passou a todos os homens, porque todos pecaram”.

A Queda envolveu mudanças radicais nas áreas que definem o


ser humano e sua cosmovisão: conhecimento (epistemologia),
ex istência (ontologia), ação (ética), e propósito (origem).

A partir daí, Deus chama a todos os homens à condição de


pecadores culpados em Adão. É o que Paulo quer dizer quando
afirma: " Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus"
(Rm 3:23) e ao citar o confronto interno do Homem de realizar a
vontade de Deus ou sujeitar-se a sua natureza pecadora, dizendo " O
bem que quero este não faço, o mal que detesto esse cometo [...]
Miserável homem que sou!" (Rm 7:19-24).

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HAMARTIOLOGIA - PARTE II

Os Resultados do Primeiro Pecado

A primeira transgressão do homem troux e ao mundo algumas


consequências:

Depravação Total da Natureza Humana

O homem é considerado um ser moral. Ser moral é alguém


responsável diante de Deus (Autodeterminação – Rm 14:12).
Depravação significa a corrupção moral da natureza humana.
Refere-se ao estado de pecaminosidade natural do não regenerado.

O contágio do seu pecado espalhou-se imediatamente pelo


homem todo, não ficando sem ser tocada nenhuma parte da sua
natureza, mas contaminando todos os poderes e faculdades do
corpo e da alma. Essa completa corrupção do homem é ensinada
claramente na Escritura, Gn 6:5; Sl 14:3; Rm 7:18. Na vontade essa
depravação, manifestou-se como incapacidade espiritual.

Perda da Comunhão com Deus

Imediatamente relacionada com a matéria do item anterior,


deu-se a perda da comunhão com Deus mediante o Espírito Santo.
Esta é simplesmente o reverso da completa corrupção mencionada
no parágrafo anterior. Ambos podem ser combinados numa única
declaração, de que o homem perdeu a imagem de Deus no sentido de
retidão original.

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Ele rompeu com a verdadeira fonte de vida e bem-aventurança,


e o resultado foi uma condição de morte espiritual, Ef 2:1; 5; 12; 4:18. Por
isso, surgem as angústias, depressões e falta de propósito,
perguntando-se " Quem eu sou?"

Morte

A morte está intimamente relacionada ao primeiro pecado do


homem. O pecado que ocorre quando Adão infringe a ordem de Deus,
e não quando Eva alimenta-se do fruto proibido, pois a ordem foi
dada diretamente a Adão. A penalidade assim proposta foi
ex ecutada e a morte em sua tríplice forma lhes foi imposta.

• Morte Espiritual: Não significa ex tinção ou aniquilação, mas


separação do homem em relação a Deus e as coisas
espirituais, o qual veio sobre eles no momento em que
pecaram.

• Morte Física: começou imediatamente o seu processo de


desintegração e a eventual separação da alma e espírito do
corpo; bem como, redundou também na necessária
mudança de resistência, fazendo-o envelhecer. O homem foi
ex pulso do paraíso, porque este representava o lugar da
comunhão com Deus, era símbolo da vida mais completa e de
uma bem-aventurança maior reservadas para ele, se
continuasse firme. Foi-lhe vedada a árvore da vida, porque
esta era o símbolo da vida prometida na aliança das obras.

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• Morte Eterna: Havendo pecado, ele foi condenado a retornar


ao pó do qual fora tomado, Gn 3.19. Diz-nos Paulo que por um
homem a morte entrou no mundo e passou a todos os
homens, Rm 5:12, e que o salário do pecado é a morte, Rm 6:23.
A morte eterna nos leva a uma condição, revelando que ainda
estamos em um estado de consciência, reconhecendo que
possuíamos o poder de escolha entre o Céu e a danação
eterna. Omitir-se de escolher o Céu, automaticamente, o faz
escolher a danação eterna.

Consciência do Erro

Esta mudança da condição real do homem refletiu-se também


em sua consciência. Houve, primeiramente, uma consciência da
corrupção, revelando-se no sentido de vergonha, e no esforço que os
nossos primeiros pais fizeram para cobrir a sua nudez. E depois houve
uma consciência de culpa, que achou ex pressão numa consciência
acusadora e no temor de Deus que isso inspirou.

Por todos estes desdobramentos aqui citados, submeta seu


coração a Deus e fuja do pecado. “ Não há ontem tão pecador, que o
hoje no amor de Deus não transforme num amanhã de santidade e de
vitórias."

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HAMARTIOLOGIA - PARTE III

Ideias Bíblicas acerca do Pecado

“Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de


Deus” Romanos 3:23

• Pecado é transgressão - É passar por cima da linha divisória,


traçada por Deus, entre o bem e o mal (I Jo.3:4; I Sm.15).

• Pecado é erro - Como erro, significa desvio do caminho ou


rota proposta (Mt.18:15).

• Pecar é errar o alvo - Na Bíblia, errar o alvo significa não


atingir seu objetivo (Lc.15:18,21). Como tal, denota a falha do
homem em alcançar o padrão ideal divino para o caráter
humano. (Rm.7:17-18).

• Pecado é uma intromissão da vontade própria (contrária a


Deus) na esfera da autoridade divina - O meu querer
interferindo no querer de Deus (Rm.1:18-32).

• Pecado é iniquidade - (Mt.7:23; Rm.4:7). Uma das


manifestações mais comuns do pecado é a descrença ou
Incredulidade.

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Todavia, ao se dar a ideia bíblica do pecado, é necessário


chamar a atenção que:

O Pecado é o Mal em uma Categoria Específica

Hoje em dia ouvimos falar muito do mal, e relativamente pouco


do pecado; e isso é muito enganoso. Não se deve confundir o pecado
com o mal físico, com aquilo que é danoso ou calamitoso.

O pecado é um mal moral. E as palavras utilizadas para pecado,


indicam um teor ético. Não é uma calamidade que sobreveio ao
homem e arruinou sua felicidade, mas um curso que o homem
decidiu seguir deliberadamente e que o leva a ruína.

Fundamentalmente não é uma coisa passiva, como uma


fraqueza, um defeito, ou uma imperfeição pela qual não podemos ser
responsabilizados, mas uma ativa oposição a Deus, e uma
intencionalidade na transgressão da Sua lei, constituindo culpa. O
pecado é o resultado de uma escolha livre, porém má, do homem.
Este é o ensino claro da Palavra de Deus. Gn 3:1-6; Is 48:8; Rm 1:18-32;
1 Jo 3:4.

O Pecado tem Caráter Absoluto

Na esfera ética, o pecado tem um caráter absoluto, de


depravação e corrupção do ser moral, e a transição do bem para o
mal não é de caráter quantitativo, e sim, qualitativo.

Um ser moral bom não se torna mau por uma simples


diminuição da sua bondade, mas somente por uma mudança
qualitativa radical, por um volver ao pecado. O pecado não é um grau

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menor de bondade, mas mal positivo. O homem está do lado certo ou


do lado errado, Mt 10:32, 33; 12:30; Lc 11:23; Tg 2:10.

O Pecado Sempre tem Relação com Deus e sua Vontade

Os mais antigos teólogos compreendem que é impossível ter


uma correta concepção do pecado sem vê-lo em relação a Deus e
Sua vontade e, portanto, acentuavam este aspecto e normalmente
falavam do pecado como “ falta de conformidade com a lei de Deus” ,
transgredindo seus decretos em pensamentos, palavras ou ações.

É a separação, a oposição e o ódio a Deus, e isto se manifesta em


constante transgressão da lei de Deus, em pensamento, palavra e
ato. As seguintes passagens mostram claramente mente que a
Escritura vê o pecado em relação a Deus e Sua lei, quer como lei
escrita nas tábuas do coração, quer como dada por meio de Moisés.
Rm 2:12-14; 4:15; 1 Jo 3:4.

O Pecado inclui a Culpa e a Corrupção

A culpa é o estado de merecimento da condenação ou de ser


passível de punição pela violação de uma lei ou de uma ex igência
moral. Ela ex pressa a relação do pecado com a justiça ou da
penalidade com a lei. E é inseparável do pecado.

Não é inerente ao homem, mas é o estatuto penal do legislador,


que fix a a penalidade da culpa. Pode ser removida pela satisfação
pessoal ou vicária das justas ex igências da lei. Mt 6.12; Rm 3.19; 5.18;
Ef 2.3.

Por corrupção entendemos a corrosiva contaminação inerente,


a que todo pecador está sujeito. É uma realidade na vida de todos os

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indivíduos. Todo aquele que é culpado em Adão, também nasce com


uma natureza corrupta, em consequência. Ensina-se claramente a
doutrina da corrupção do pecado em passagens como, Jó 14:4; Jr
17:9; Mt 7:15-20; Rm 8:5-8; Ef 4:17-19.

O Pecado tem sua Sede no Coração

O pecado não reside em alguma faculdade da alma, mas no


coração, que na psicologia da Escritura é o órgão central da alma,
onde estão as saídas da vida (Pv 4:23). E desse centro, sua influência
e suas operações espalham-se para o intelecto, a vontade, as
emoções – em suma, a todo homem, seu corpo inclusive.

Em seu estado pecaminoso, o homem completo é objeto de


desprazer de Deus. É importante lembrar que havia uma tendência do
coração, quando o pecado entrou no mundo. O que está em perfeita
harmonia com as descrições bíblicas de: Jr 17:9; Mt 15:19, 20; Lc 6:45;
Hb 3:12.

O Pecado não consiste Apenas de Atos Manifestos

O pecado não consiste somente de atos, mas também de hábitos


pecaminosos e de uma condição pecaminosa da alma. Estes três
âmbitos se inter-relacionam do seguinte modo: O estado
pecaminoso é a base dos hábitos pecaminosos, e estes se
manifestam em ações pecaminosas.

Também há verdade, porém, na alegação de que os atos


pecaminosos repetidos levam ao estabelecimento de hábitos
pecaminosos. As ações e as disposições pecaminosas do homem
devem ser atribuídas a uma natureza corrupta, que as ex plica. As

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Formação em Teologia

passagens citadas provam com clareza que o estado ou a condição


do homem é completamente pecaminosa: Mt 5:22, 28; Rm 7:7; Gl 5:17,
24, e outras.

Em conclusão, pode-se dizer que se pode definir o pecado como


falta de conformidade com a lei moral de Deus, em ato, disposição ou
estado.

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Formação em Teologia

TEOLOGIA PRÓPRIA: PROVA DA EXISTÊNCIA DE


DEUS - PARTE I

Introdução

“ E a vida eterna é esta: que te conheçam, a ti só, por


único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem
enviaste.” - João 17:3

Conhecer Deus nos dá oportunidade de ter a qualidade da vida


eterna. Isso não significa que somente teremos esta qualidade post-
mortem, mas sim, no agora.

A Doutrina de Deus

Vivemos num universo cuja imensidão pressupõe um Criador


poderoso, universo cuja beleza, desenho e ordem apontam um sábio
Legislador. Mas quem fez o Criador? Podemos recuar no tempo, indo
da causa para o efeito, mas não podemos continuar nesse processo
de recuo sem reconhecer um ser " Sempiterno" . Aquele ser eterno é
Deus, o Eterno, a Causa e a Origem de todas as coisas boas que
ex istem.

A Existência de Deus

• Existência Declarada

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Formação em Teologia

Em parte alguma, as Escrituras tratam de provar a ex istência de


Deus mediante provas formais. As escrituras apenas reconhecem
Deus como fato auto evidente e como crença natural do homem. As
Escrituras, em parte alguma propõem uma série de provas da
ex istência de Deus como preliminar à fé; elas se iniciam do
pressuposto de que Deus ex iste, declaram o fato de Deus e chamam
o homem a aventurar-se na fé. " O que se chega a Deus, creia que há
Deus" (Hb.11:6), é o ponto inicial na relação entre o homem e Deus.

Assim escreve o Dr. A. B. Davidson: ‘’A Bíblia não tenta


demonstrar a ex istência de Deus, porque em todas as partes da
Bíblia, subentendem-se a sua ex istência. Parece não haver nenhuma
passagem no Antigo Testamento que represente os homens
procurando conhecer a ex istência de Deus por meio da natureza ou
pelos eventos da providência.’’

Por ex emplo, quando um homem diz: " Eu conheço o presidente" ,


ele não quer dizer: " Eu sei que o presidente ex iste," porque isso se
subentende na sua declaração. Da mesma maneira, os escritores
bíblicos nos dizem que conhecem a Deus, e essas declarações
significam a sua ex istência.

Existência Provada

Se as Escrituras não oferecem nenhuma demonstração racional


da ex istência de Deus, por que vamos nós fazer essa tentativa?

Pelas seguintes razões: Para aux iliar aqueles que genuinamente


buscam conhecer a Deus, e, fortalecer a fé daqueles que já creem, e
estudam as provas, não para crer, mas sim porque já creem. Bem
como, para poder enriquecer nosso conhecimento acerca da
natureza de Deus.

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Formação em Teologia

Que maior objeto de pensamento e estudo ex iste do que ele?


Onde acharemos evidências da ex istência de Deus? Na criação, na
natureza humana e na história humana. Dessas três esferas,
deduzimos as cinco evidências da ex istência de Deus.

O Argumento Ontológico (Existir como um ser)

Este argumento infere a ex istência de Deus a partir de ideias


abstratas e necessárias da mente humana.

Um ex emplo são as leis da natureza, as quais são imutáveis. Veja


a ideia de tempo e espaço, os quais são atributos da substância ou do
ser. Tais características presentes no tempo e no espaço, são
características eternas. Portanto, deve haver uma substância
infinita e eterna ou do Ser a quem pertencem tais atributos.

Desta forma, ao olharmos as leis da natureza, podemos


encontrar o Deus das escrituras, a sua trindade, Ele é o autor das leis
e colocou nelas (as leis) suas características, vejamos:

Tempo – passado, presente e futuro;

Espaço – largura, altura e profundidade;

Base da Matéria (átomo) – prótons, nêutrons e elétrons;

Estado básico da Matéria – sólido, líquido e gasoso;

Em suma, podemos encontrar o Deus das escrituras e sua


assinatura na criação.

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Formação em Teologia

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Formação em Teologia

TEOLOGIA PRÓPRIA: PROVA DA EXISTÊNCIA DE


DEUS - PARTE II

O Argumento Histórico ou Antropológico

Este é um argumento da condição moral e mental do homem


para com a ex istência de um Autor, Legislador e um Fim. Às vezes é
chamado de Argumento Moral.

Em geral, este argumento toma a seguinte forma: entre todos os


povos e tribos da terra, independente de primitivas ou avançadas, há
um sentimento religioso que se revela em cultos ex teriores.

Visto que o fenômeno é universal, deve pertencer à própria


natureza do homem. E se a natureza do homem naturalmente leva ao
culto religioso, isto só pode achar sua ex plicação em um ser superior,
que constitui o homem, um ser religioso, na intencionalidade de
relacionar-se com Deus.

Ao avaliar estes argumentos racionais, deve-se assinalar antes


de tudo, que os crentes não precisam deles. Sua convicção a respeito
da ex istência de Deus não depende deles, mas sim, da confiante
aceitação do auto revelação de Deus na Escritura.

Em nossos dias, muitas pessoas acham neles, indicações


satisfatórias da ex istência de Deus, o que indica que eles não são
inteiramente vazios de valor. E são importantes como interpretações
da revelação geral de Deus e como elementos que demonstram o
caráter razoável da fé em um ser divino.

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Formação em Teologia

Além disso. Podem prestar algum serviço na confrontação com


descrentes. Embora não provem a ex istência de Deus ao ponto de
obrigar o assentimento, podem ser elaborados de maneira que
estabeleçam uma forte probabilidade e, por isso, poderão silenciar
muitos incrédulos.

O Argumento Moral

Argumento que se baseia na desigualdade, muitas vezes,


observada entre a conduta moral dos homens e a prosperidade que
eles gozam na vida presente, e acham que isso requer um
ajustamento no futuro que, por sua vez, ex ige um árbitro justo.

A teologia moderna também o usa amplamente, em especial, na


forma da busca de uma ideal moral, ex igem e necessitam a
ex istência de um ser santo e justo, não torna obrigatória a crença em
um Deus, em um Criador ou em um Ser de infinitas perfeições.

O Argumento Cosmológico

Este argumento tem aparecido de diversas formas. Em geral, se


apresenta da seguinte maneira: cada coisa ex istente no mundo tem
uma causa adequada. Sendo assim, o universo também tem que ter
uma causa adequada, isto é, uma causa indefinidamente grande.
Desta forma, o cosmo como o vemos, também tem uma causa, e esta
seria, portanto, a ex istência de Deus.

O desenho inteligente, design inteligente ou projeto inteligente


(sequência de Fibonacci) é uma hipótese pseudocientífica, baseada
na assertiva de que certas características do universo e dos seres
vivos são melhores ex plicadas por uma causa inteligente, e não por

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Formação em Teologia

um processo não direcionado como a seleção natural. Dessa forma,


o universo demonstra forte evidência de ter sido planejado
intencionalmente. O Design Inteligente, chamada de Sequência de
FIBONACCI ou Espiral de FIBONACCI, presente na orelha, no
redemoinho do cabelo, no desenho formado pelo furacão ou ainda,
no Código do DNA - que é uma sequência numérica – 10 5 6 5, que, ao
serem substituídas por letras do alfabeto hebraico, formam a
palavra Javé, que significa Deus em hebraico.

O Argumento Teológico

Este argumento também é causal e, na verdade, é apenas uma


ex tensão do imediatamente anterior. Pode ser ex posto da seguinte
forma: Em toda parte, o mundo revela inteligência, ordem, harmonia
e propósito, e assim, implica a ex istência de um ser inteligente e com
propósito, apropriado para a produção de um mundo como este.

Se você estivesse caminhando e encontrasse uma pedra no


caminho? Não seria de causar surpresa, uma vez que a pedra é uma
estrutura bruta formada de compostos naturais que estão naquele
lugar há milhares de anos!

Mas se, ao caminhar você encontrasse um relógio? Você saberia


que aquele objeto não foi formado naquele lugar, mas sim, por
alguém, uma vez que, devido sua complex idade mecânica, não
poderia ser algo natural daquele ambiente. Esse é o princípio do
Design Inteligente, o fato de ex istir vida e da forma como ela é,
complex a, não poderia ser creditada ao acaso! K ant considera este
argumento o melhor, visto que o mundo contém evidências de
inteligência e propósito.

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Formação em Teologia

OS ATRIBUTOS DE DEUS

O Caráter de Deus- Seus Atributos

Falar de Deus é um desafio gigantesco quando levamos em


conta que é o limitado falando do ilimitado, do natural falando do
divino, temporário falando do eterno. Todavia, se falarmos em
termos de relacionamento e pensarmos em Deus como uma pessoa,
a tarefa de falar acerca dele torna-se branda, pois estamos falando
acerca de alguém que nos relacionamos.

Nossos pensamentos em relação a Deus são pequenos demais!


Albert Einstein, o famoso cientista, era tão cético quanto à religião
organizada, porque sentia que os cristãos estavam diminuindo e
domesticando a Deus.

Houve um tempo em que o tema sobre os atributos de Deus era


considerado tão importantes que eram ensinados na igreja para
crianças, através do uso de catecismos, e todos os adultos também
deveriam conhecê-los, mas hoje, poucos cristãos têm escutado
pregações e lido livros sobre a doutrina do caráter divino.

“ Conhecer a Deus é crucialmente importante para nossa


vida. Para aqueles que não conhecem a Deus, o mundo é
um lugar estranho, louco, penoso, e viver nele é algo
decepcionante e desagradável. Despreze o estudo de
Deus e você estará sentenciando a si mesmo a passar a
vida aos tropeções, como um cego, sem senso de
direção e sem entender aquilo que o rodeia. Deste modo,
poderá desperdiçar a sua vida e perder sua alma.”

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Formação em Teologia

Os atributos de Deus têm sido classificados de diferentes formas,


para relacioná-los entre si e para facilitar a memorização. Aqui
seguiremos Louis Berk hof (1873-1857), que os classifica como
atributos incomunicáveis e comunicáveis.

Os atributos incomunicáveis são assim chamados pois eles não


podem ser atributos à outras criaturas, e os atributos comunicáveis
podem ex istir, de forma limitada, nas criaturas de Deus. Ao falar nos
atributos de Deus, é conveniente dividir os atributos em dois grupos,
sempre relembrando que a divisão nos ajuda a entender o assunto,
mas não representa uma divisão ontológica na natureza de Deus.

Uma palavra de aviso muito importante: todos os atributos de


Deus são compartilhados por todas as pessoas da Santa Trindade, o
Pai, o Filho e o Espírito Santo, e são a própria essência e natureza de
Deus, não podendo ser divididos ou separados dEle!

Os Atributos Incomunicáveis

• A independência e auto existência (asseidade – ex iste por si


só) de Deus (Gn 1.1; Êx 3.14; Is 40.13s; At 17.25).

• A imutabilidade de Deus (1Sm 15.29; Ml 3.6; Tg 1.17; Hb 13.8) (Is


48:12; Ml 3:6; Tg 1:17).

• A infinidade de Deus: (Rm 11.33), (1Tim 6.16), (Sl 90:2, Ef 3:21),


(Hb1:2), (Is 66:1).

• A vontade de Deus e a sua soberania:(Pv 21:1; Is 43:13; Ef 1:11) (Sl


95.6; Ap 4.11) (Pv 21.1; Dn 4.35) (Rm 8.29; Ef 1.4,11) (Lc 22.42; At

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Formação em Teologia

2.23) (Fp 1.29; I Pe 3.17) (At 18.21; Rm 15.32) (Mt 10.29) (Is 45.6;
43.11; 44.8; 45.21) (Gn 17.1; 18.14; Jr 32.27; Lc 1.37; Mc 10.27) (Gn
3.11; Js 7.10-26; 2Sm 12.11; 2Rs 5.26; Sl 56.8; 66.12; 90.2; 139.712; Is
43.2; At 5.1-11; 17.31; 23.11; Gl 6.7; Ap 6.9; 18.24) (Sl 139; Jo 21.17;
Co 2.3; 1Jo 3.20; Ap 20.12).

Os Atributos Comunicáveis

• Inteligência: Conhecimento e Sabedoria


• Veracidade: (Jo 14:6). (1Sm 15:29). Ele é fiel (1Jo 1:9; Ap 19:2).
• Atributos morais:
• Bondade: (Is 6:1-5; Tg 1:1314; Sl 5:4).

Amor: (1Jo 4:8,16) (Atos 14:16-17; Rm 9:22). (Ef 2:8-9 (Ef 2.4; Tt 3.5)
(Dt 7.7s; Sl 86.5; 103; 118.29; Os 3.1s; Lc 11.42; Jo 3.16; Rm 5.8; 8.35; Gl 2.20;
1Jo 4.8-10) (Rm 3.24-25; Tt 2.11) (Ef 2.2-4) (Rm 9.6-21) (Jo 6.37,44;
10.28,30; Rm 8.28-30; Ef 1.10) (Rm 10.17; 1Pe 1.23-25) (Rm 6.1-23; Hb
13.9).

Santidade de Deus (Êx 24:17). (Is 6). (Jó 34:10; Is 59:2) (Sl 78.31; Os
5.10; Jo 3.36; Rm 1.18s; Ef 2.3; 1Ts 1.10; Ap 6.16),

Justiça: Rm 3:23-26 (Rm 1.18-32; 2.1-3.20) (Rm 1.17; 3.21). (Rm 5.12-
21)

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Aplicação

Devemos lembrar de aplicar ao máx imo em nossas vidas, os


atributos comunicáveis que Deus disponibiliza à Seus filhos.

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Formação em Teologia

DOUTRINA DA SALVAÇÃO - PARTE I

Introdução

Para começar a estudar sobre Doutrina da Salvação, precisamos


sistematizar, organizar os tex tos bíblicos referentes a esse assunto.
Quando se vai estudar qualquer tema, precisamos ver como os
tex tos bíblicos conversam sobre, para podermos ter uma opinião
final sobre o que as escrituras dizem a respeito do tema.

Utilizar-se da razão para estudar a Bíblia é muito importante.


Razão, emoção e fé caminham paralelamente, quando a fé faz você
continuar a subir onde a razão e a emoção não conseguem. Cuidado,
pois, haverá momentos em que esses paralelos podem se cruzar. Fé
combatendo a razão e emoção, cabe a nós conseguirmos atingir o
equilíbrio entre ambos. Como ex emplo temos o pietismo que, ao ver
o uso ex cessivo da razão, força a volta para as emoções, o que só
muda o foco, mas sem restaurar o equilíbrio.

Na história da Igreja, podemos ver duas formas que o inimigo


tenta destruir o povo de Deus. Uma delas era o embate físico, que
durou cerca de 300 anos, e a outra é o embate intelectual, ainda
recorrente na atualidade, onde o inimigo tenta combater nossas
doutrinas e nossa fé a nível mental.

Podemos ver que a salvação nos diferentes grupos significa:

• Igreja primitiva grega: ser salvo da morte e do erro.


• Igreja romana: salvação da culpa e das suas consequências,
nesta e noutra vida (purgatório e inferno)

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Formação em Teologia

• No protestantismo clássico: salvo da lei, da ansiedade que


suscita em nós e do seu poder de condenação
• Pietismo e avivamento: salvação é o triunfo sobre o estado de
impiedade através da conversão e transformação
• Teologia liberal: progresso na direção da perfeição moral

Doutrina

É possível olharmos para a doutrina como filosofia, mas nossa


proposta é enx ergar que o ensino bíblico (doutrina) traz respostas
para a vida (ex istencial) as questões mais profundas do ser humano,
estudar sobre doutrina é entender que precisamos ser salvos.

E do que precisamos ser salvos: cada grupo responde da sua


forma. Nós cristãos precisamos ser salvos de nós mesmos, do peso
que carregamos, das nossas aflições na alma, do nosso ego e do
nosso pecado.

Tensão

Quando falamos de salvação, é importante perceber que ex iste


uma tensão entre ex ercer misericórdia e a ex igência de justiça. O
mistério que se desenha é entre a coragem de aceitar-se a si mesmo
a despeito de saber- se inaceitável. A Tensão entre a ira de Deus e o
amor de Deus. Se não percebemos isso o amor se converte em
sentimentalismo e fraqueza se não incluir a justiça. A mensagem de
um amor divino que negligencie a mensagem da justiça divina não
pode dar ao ser humano uma consciência tranquila. Essa tensão
quando mal compreendida gera um ensino baseado em duas
percepções: Risco x Segurança.

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Formação em Teologia

Doutrina e Expiação

Ex piação é o ato pelo qual o pecado é cancelado, o objeto da


ex piação é o pecado. O pecado é o que nos desvia do que deveríamos
ser, nos afastando de Deus e nos esvaziando até não ex istir mais
nada em nosso coração. A Ex piação é criada por Deus de forma
ex clusiva. Há o equilíbrio entre amor reconciliador e ex igência de
justiça.

Eliminação divina da culpa e do castigo não consiste em ignorar


a realidade e profundidade da alienação ex istencial. Deus participa,
assume a alienação ex istencial. O sofrimento de Deus não substitui o
sofrimento humano, apenas o torna coparticipante. O ato divino
supera, a alienação humana se ocupa da culpa e do pecado Rm 3:25.

Salvação

Salvação é: Reunir o que está alienado. Dar um centro ao que


está disperso. Superar a ruptura entre Deus e o homem sendo Cristo
o mediador- aquele que transpõe o abismo que ex iste, Cristo é o que
reune o que está separado e é também o Redentor. Na salvação a
nossa vida será comparada a de Cristo, o que deix a a salvação
inalcançável ao ser humano, necessitando da mediação Dele.

Substituição

A morte de Cristo é também substitutiva, Ele assumiu o nosso


lugar. (Gálatas 3: 10-14)

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Formação em Teologia

Amor e Justiça

Você acreditaria em um juiz que recebesse o seguinte caso: Um


certo homem chega em casa e vê que um assaltante roubou sua casa
e matou toda a família. Em vez de se vingar, o homem leva este ladrão
para julgamento do juiz. O juiz alega ser uma pessoa ex tremamente
misericordiosa e absolve o assaltante. Coloque-se no lugar do
homem que sofreu no assalto, qual o seu pensamento a respeito do
juiz?

Se não acreditamos em um juiz que agisse dessa forma, não


podemos crer que é assim como Deus manifesta justiça em nossa
vida. Todos pecamos, não somos inocentes. E como justificar nós que
somos pecadores? A justiça de Deus não é feita de qualquer forma, na
cruz é onde a justiça e o amor estão perfeitamente equilibrados.

O Amor é sustentado pela Justiça, como por ex emplo, quando


um casal convive e apenas um dos lados faz as tarefas domésticas
de casa. Por mais que eles se amem, o que mais faz em casa se
sentirá injustiçado e o amor não será suficiente para manter o
equilíbrio do casal.

Na maioria das doutrinas da salvação, Amor e Justiça estão


desequilibradas ou desvinculadas. Pessoas que focam na justiça,
afirmam que estamos seguros. Aqueles que focam no amor, nos
dizem que estamos em perigo. Tenha ciência que o amor de Deus
também vem com a Justiça divina, equilibradas na Cruz.

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Formação em Teologia

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Formação em Teologia

DOUTRINA DA SALVAÇÃO - PARTE II

Introdução

Amor e Justiça, em todos os tex tos da bíblia, sempre buscam


estar em equilíbrio. Porém há grupos distintos que enfatizam
somente ou no amor ou na justiça. O primeiro grupo tem como
percepção o Risco, que vem do amor. A segunda percepção é a
Segurança, referente a justiça. Quem acredita no Risco, crê que basta
não cometer pecado nenhum e a salvação está garantida, Jesus
voltará e o levará aos Céus.

Pecamos por atos, pensamentos e omissões, é tão fora do


controle que, às vezes, estamos pecando e não temos consciência
disso. Acreditar que temos o controle da nossa Salvação apenas não
pecando é errôneo. Claro que ex iste riscos que nos permeiam, mas
isso não é o que nos levará a salvação. A salvação é pertinente a
Deus.

A Obra da Salvação

• A lei escraviza
• Carne domina
• Mundo engana

O processo de Salvação: Nascer de Novo

Indicação de livro: K ELLER, Timothy. Ego Transformado. São


Paulo, Editora Vida Nova. 2014.

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Formação em Teologia

Segundo o pastor norte americano, Tim K eller, nosso ego é: vazio,


dolorido, atarefado, frágil, nosso coração está a todo instante
envolvido num projeto falido, de busca por autopromoção, em busca
de satisfação e contentamento, um esforço gigantesco em construir
uma imagem positiva de si mesmo, mas a minha pergunta é: como
ter essa imagem positiva se estivermos mortos pra Deus e vivos para
o mundo? Ou ainda, será que conseguiremos construir essa imagem
usando as mesmas ferramentas que o mundo usa? Isso nos leva a
questão central, é necessário nascer de novo e não maquiar uma
identidade velha para que ela pareça mais agradável?

Entenda, maquiar o ego é radicalmente diferente de nascer de


novo. O nosso ego precisa ser transformado. É não aceitar os
julgamentos dos outros e nem de si mesmo, saber que somente Deus
pode julgar. A sua vida não é sobre você, a sua vida é sobre Cristo,
somente Ele é a chave para a interpretação da vida e o único caminho
para alcançar a salvação.

A falsa segurança não nos deix a perceber o risco que corremos.


Este risco não é o risco de cometer ou não pecados, mas sim de uma
fé bem estruturada ou não. Uma fé crente em Cristo Jesus impedirá a
nossa ruína, nosso desmoronamento perante a Salvação.

O ego caído gera dois cenários:

• Alma inflamada cheia de traumas precisa de cura, resolver os


traumas sem mex er no ego é o risco
• Alma inflada cheia de confiança e arrogância se iludindo
sobre a forma que alcançamos valor, caindo em armadilhas
de conquista e dominação sem transformar ego é risco.

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Formação em Teologia

O evangelho tem transformado seu Ego? Você enx erga sua vida
e a da sua família ex plicada a partir de Cristo? Fundamentada Nele?

Propiciação

Ênfase: pacificar a ira de Deus sobre nós. Rm 3:24-25//I Jo 2:1-2 //


4:10// Heb 9:5

Propiciação é o ato sacrificial no qual Deus se torna propício


(favorável) a nós. O objeto da propiciação é Deus no sentido de que
Deus se torna favorável a nós, obviamente se Ele se torna favorável, é
porque em algum momento Ele não estava. Vemos aqui a ruptura
entre o relacionamento entre o homem com Deus e todo movimento
feito por Deus de resolver essa questão:

• Cristo mediante sua morte propiciou a ira do pai.

• Por ser perfeitamente Santo, Ira é a resposta de Deus contra o


pecado, não é raiva nem descontrole, mas uma reação Santa
diante do pecado!

• Temos o seguinte raciocínio: Nós pecamos, o pecado suscita


ira de um Deus Santo, na cruz Cristo nos propiciou, Jesus
resolveu o problema da ira.

• Como isso nos afeta? Livramo-nos da consequência da ira


(inferno/ nos livrou da culpa)

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Formação em Teologia

• O que provoca a ira do homem é a vaidade ferida (isso não o


afeta)

• O que provoca a ira de Deus é o pecado

• Ira é um fato bíblico não podemos tirar isso da bíblia

“ Pai, afasta de mim esse cálice.” O cálice que Jesus


toma é o cálice da Ira do Pai, o sofrimento da cruz precisa
ser relacionado com essa dura realidade. O filho recebe o
impacto da ira do Pai para que eu e você não tivéssemos
que enfrentar aquilo que seria justo ao nosso respeito,
seria insuportável, mas Ele se deix a esmagar por nós. Ele
se fez enfermar por nós esse é o sentido original da
profecia de Isaías “ o castigo que nos traz a paz estava
sobre Ele” .

No mundo antigo os pagãos ofereciam ofertas para propiciar, ou


seja, para que sua divindade se tornasse favorável em algum
aspecto utilizo um ex emplo usado de D.A. Carson, teólogo: quando
um marinheiro fazia uma viagem, entregava um sacrifício
propiciatório pra Netuno para que Netuno não ficasse irado e
mandasse uma tempestade. Uma vez propiciada o marinheiro faria
uma boa viagem. O contex to bíblico é radicalmente diferente, pois é
o próprio Deus que está fazendo a propiciação.

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Formação em Teologia

“ Deus propôs a Cristo para ser propiciação pelos nossos


pecados” Você acredita que Deus tem o poder de segurar todo o
pecado do mundo na palma de sua mão?

Considere o risco de um falseamento no novo nascimento ou um


falseamento na propiciação, na mesma forma considere a
segurança possível de um novo nascimento verdadeiro e de uma
propiciação verdadeira. O que isso constrói em nossas vidas?

Entenda que no plano de salvação, ex iste risco e segurança. O


risco é que podemos estar dando um falso remédio para a ira de Deus,
mas ex iste segurança, pois fomos propiciados por Cristo que bebeu
do cálice da ira de Deus em nosso lugar.

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Formação em Teologia

DOUTRINA DA SALVAÇÃO - PARTE III

Introdução

Estamos aqui para desconstruir o pensamento de salvação


incrustado em nossa mente. Ambos ex tremos de segurança e risco
são prejudiciais para nós. Pastoralmente, o ex tremo do risco, pode
criar crentes perturbados, com medo beirando a neurose. O ex tremo
da segurança faz o crente ficar tão seguro de si, como se a salvação
estivesse garantida por ele mesmo. Tenha fé que Deus está
trabalhando em nossa salvação, que há riscos, mas temos que ter fé.

Redenção

Ênfase: nosso cativeiro do pecado. Se a propiciação vem de uma


linguagem cerimonial, a redenção vem de uma linguagem comercial
(Comprar ou comprar de volta). Redenção é Resgate, como ex emplo,
o ato de pagar o preço necessário para resgate da hipoteca. Em nossa
vida, esse resgate é feito através da vida de Jesus. Propiciação é
referente ao caráter de Deus, Ele é justo e aplicou sua justiça em seu
filho para que nós pudéssemos obter o perdão. A redenção é o
cativeiro em que se encontra o coração do ser humano, cativeiro este
feito pelo pecado, mal e a morte.

Em Gálatas, capítulo 4, versículos 4 e 5 diz: “Mas, quando chegou


a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher,
nascido debaixo da lei, a fim de redimir os que estavam sob a lei, para
que recebêssemos a adoção de filhos.” É por meio de Jesus que
somos redimidos no cativeiro do pecado que prende nosso coração.

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Formação em Teologia

Imagine você em uma época onde a comercialização de pessoas


como escravos era feita livremente nas praças. Você está ali,
humilhado, nu, tendo sua vida julgada a preços irrisórios. A redenção
é este processo, onde você está em estado de humilhação, preso
pelas algemas do pecado e Jesus paga com a própria vida o preço
para a sua libertação. Jesus pagou para que estas correntes fossem
arrancadas de nossa vida, isso é ser salvo, isso é ser redimido.

Reconciliação

Ênfase: nossa inimizade contra Deus. Reconciliação pressupõe


que há inimizade entre dois lados, pressupõe distância entre dois
lados. É claro que nossos relacionamentos não são perfeitos e
ex perimentamos essas coisas nos nossos relacionamentos também,
afinal de contas somos pecadores, entretanto se não vivemos
reconciliação, não temos autoridade para ministrarmos
reconciliação.

O pecado é o que nos afasta de Deus, o pecado do homem abaix o


e muito acima, a santidade de Deus. Reconciliar significa restaurar
um relacionamento, a consequência imediata disso é entender que o
relacionamento original foi quebrado pelo pecado. O fato que deve
ser percebido é que a própria lei evidenciava ou ainda reforçava a
separação entre judeus e gentios como observa muito bem J. Stott
em seu livro “ A Cruz de Cristo” , a reconciliação que Cristo promoveu
gerou “ cura da separação entre judeus e gentios” .

Esse é o poder da reconciliação, o de quebrar barreiras de


separação entre povos, raças, culturas, a força de juntar o que o
pecado separa, juntar o que a lei torna evidente. No estado de
separação, Cristo é a única possibilidade para nos aprox imarmos do

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Formação em Teologia

nosso semelhante, Ele é a ponte que refaz o acesso entre nós e Deus,
entre nós e os nossos semelhantes e entre nós mesmos, pois da
mesma forma que o pecado constrói muros que nos separa dos
nossos semelhantes e de Deus, também constrói muros que nos
separa de nós mesmos.

O pecado faz com que sejamos separados da nossa própria


identidade, corremos o risco então ou de basear toda nossa vida
numa falsa identidade ou fazer esforços inúteis para nos reconectar.
Cristo é o caminho de volta, de reencontro com nossa própria
identidade. Ainda é relevante dizer que Deus é quem dá o passo para
que isso aconteça, a reconciliação nos traz a benção do acesso, uma
vez destruídos os muros de separação o acesso se torna realidade, a
hostilidade que ex istia, a inimizade que ex istia é curada somente na
cruz, não se esqueça nós somos ex -inimigos aprendendo a sermos
amigos, aprendendo a sermos filhos. Temos diante da nossa frente
duas possibilidades: aceitar em fé a reconciliação em Cristo ou
continuar a viver a inimizade.

Doutrina não é filosofia, doutrina é resposta para vida, ser


reconciliado descobrir que agora temos acesso a presença de Deus,
estamos perto Dele. A interpretação atual do Evangelho é fraca,
muito se prega como criar muros, defesas, e não pontes, acessos aos
próx imos e a Deus. Ser salvo e reconciliado diminuir essas distâncias.

Textos para referência:

• Colossenses 1:20
• Mateus 5: 24-25
• Romanos 5:10,11 e 11:15
• Efésios 2:17,18 e 3:12

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Formação em Teologia

• Romanos 5:1-2

Justificação

Ênfase: nossa culpa. Justificação é uma declaração sobre o que


Ele fez por mim e com base nessa declaração a paz é construída.

Textos para serem estudados:

• Romanos 1:17; 3:10, 20-25; 4:1, 25-26; 5:8-18; 8;34


• Isaías 53: 11
• Lucas 1: 14
• Tito 5: 7

A justificação é uma das quatro ideias que formam o conceito de


salvação: propiciação, redenção, justificação e reconciliação. No
primeiro estudo, começamos a estudar reconciliação, agora
estamos conversando sobre justificação. O que estamos fazendo?
Falando sobre salvação. O que é isso que recebemos? Que salvação é
essa que a Bíblia nos apresenta? Começamos com o para que: Deus
nos torna justos porque ele não pode aceitar receber em si o que é
injusto, como poderia Deus condenar o justo e inocentar o culpado:
não dá!

• Deuteronômio 25: 21
• Êx odo 23: 27
• Provérbios 17: 15
• Isaías 5: 23

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Formação em Teologia

Entender a doutrina da justificação é entender e receber dentro


de nós como Ele nos aceita. Como Ele pode nos aceitar? Como isso é
possível? Um juiz pronuncia dois tipos de sentença: inocente ou
culpada, sendo assim o contrário de justificação pode ser entendido
como condenação. Precisamos ser justificados porque a condenação
que ronda o ser humano, é iminente. A condenação nos persegue,
esse sentimento, essa sentença sempre nos persegue, seja pela
nossa consciência, seja pela consciência dos outros, seja pela fúria
do inimigo, ou seja, pelo caráter de Deus.

“ A prostituta, o mentiroso e o assassino estão destituídos da


glória de Deus, mas você também está. Pode ser que eles estão no
fundo de uma mina e você no cume de um monte, no entanto você
tem a mesma capacidade deles de encostar nas estrelas” Handley
Moule, teólogo.

Nós somos culpados diante de Deus. Recebendo a Justificação é


antecipar a sentença final do juiz. Salvação é uma grande obra que
depende de vários pontos. Se estamos vivendo esta obra de forma
completa, saberemos a declaração final do juiz na Justificação. Toda
a acusação não se justifica, pois, o saldo foi zerado perante o sangue
do Cordeiro de Deus. Ao olhar pra mim, Deus enx erga a justiça do seu
Filho.

O que é afinal justificação:

• A antecipação da sentença final do juiz

• Justificação é uma declaração de que não ex iste nenhuma


base para a aplicação do castigo ou punição para o réu. Agora
cuidado para não confundir, justificação não é santificação, é

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Formação em Teologia

uma declaração de Deus sobre sua identidade como se ELE


tirasse o seu nome do “ SPC SERASA” (relativo à culpa
espiritual) ele limpa seu nome para você viver santificação.

• O que Ele fez por nós. Tornamo-nos justos pela palavra que sai
da sua boca

A fonte da nossa justificação é a graça. A base da nossa


justificação é a cruz porque alguém assumiu a culpa, alguém
assumiu a punição. O meio da justificação é a fé – significa dizer que
pela fé nos tornamos o que Ele declara em obediência e santidade
com temor e tremor não com vangloria porque afinal de contas, não
fizemos nada.

“ A graça e a fé pertencem indissoluvelmente uma a outra, uma


vez que a única função da fé é receber o que a graça livremente
oferece” . John Stott, teólogo.

Na prática a doutrina da justificação nos ensina sobre como


sermos aceitos diante de Deus, se é claro que ELE não pode aceitar o
que é injusto, não poderia nos aceitar a obra de Cristo é tão
importante para nós porque a morte e ressurreição de Cristo nos
possibilitou sermos aceitos por Deus Jesus fez a ponte assumiu a
culpa emitiu uma declaração no nosso nome, naquela cruz Ele emitiu
um documento com o nosso nome.

Abaixo faço um exemplo didático para ilustrar essa declaração


de Deus ao nosso respeito:

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Formação em Teologia

“ Pai se _______________ acreditar em mim no que fiz aqui


nessa cruz aceita a sua vida aceita nos seus braços o enx erga como
justo pois a mim ele me recebeu __________________por fé ele
se rendeu a mim me enx erga aceita _______________ nele
recebe _________________________________ porquê de
fato em fé ele se uniu a mim” E Deus responde:

“ Eu te recebo __________________ porque vejo em você a


fé que te une a meu Filho amado e como eu o recebo, recebo a ti
também o torno justo não pelo que você fez ou vai fazer, mas o torno
justo porque enx ergo meu filho em você.”

As pessoas se esforçam para serem aceitas ou elas têm fé no


cordeiro que nos uniu ao Pai para ex perimentarem essa aceitação.
São dois caminhos diferentes: o primeiro leva ao cansaço e a
frustração e o segundo ao gozo paz e alegria no Espírito Santo, pois
assim o reino de Deus é.

Como você busca ser aceito, por força insistência ou por fé?
Quero te encorajar a que haja ministração nesse sentido quem tem
dificuldade de se sentir aceito que seja encorajado a receber esse
documento que já ex iste seja criativo deix a o Espírito Santo te
surpreender não brigue por aceitação tenha fé entenda que parte das
disputas que ex istem nas famílias nas igrejas acontecem justamente
porque as pessoas continuam brigando para serem aceitas mas uma
vez te admoesto não brigue por aceitação tenha fé. O pai já te aceitou
já te justificou.

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DOUTRINA DA SALVAÇÃO - PARTE IV

Introdução

Vamos começar conhecendo a história de um herói de guerra,


que após o seu retorno, por diversos motivos acabou se tornando um
mendigo, realizando pequenos furtos para sobreviver. Este homem
foi condenado a prisão e, ao efetuar sua prisão, foi visto por baix o de
suas vestes a farda com medalhas da mais alta honraria possível.

Isto faz com que as pessoas que o prenderam, fossem obrigados


a bater continência. Justificação é isso, somos vestidos da mais alta
patente por Jesus, para que, quando o Pai olhar para nós, veja a seu
Filho. Nossas vestes estão muito sujas para nos apresentarmos a
Deus, temos que ser revestidos pelas vestes do Cordeiro.

Somente a justiça do Filho agrada ao Pai. É esta justiça que


ex perimentamos em nossa vida?

Os salvos são:

Regenerados

Usando as palavras do profeta Jeremias, é receber um coração


de carne.

Veja II Coríntios 5: 17-21, que traz a ideia de regeneração


mediante a reconciliação com Deus: "Assim que, se alguém está em
Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se
fez novo. 18 E tudo isto provém de Deus, que nos reconciliou consigo
mesmo por Jesus Cristo, e nos deu o ministério da reconciliação; 19
Isto é, Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não

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Formação em Teologia

lhes imputando os seus pecados; e pôs em nós a palavra da


reconciliação. 20 De sorte que somos embaixadores da parte de
Cristo, como se Deus por nós rogasse. Rogamos-vos, pois, da parte de
Cristo, que vos reconcilieis com Deus. 21 Àquele que não conheceu
pecado, o fez pecado por nós; para que nele fôssemos feitos justiça
de Deus.”

Regeneração também está presente no tex to de João 3: 1-8, que


diz: “E havia entre os fariseus um homem, chamado Nicodemos,
príncipe dos judeus. Este foi ter de noite com Jesus, e disse-lhe: Rabi,
bem sabemos que és Mestre, vindo de Deus; porque ninguém pode
fazer estes sinais que tu fazes, se Deus não for com ele. Jesus
respondeu, e disse-lhe: Na verdade, na verdade te digo que aquele
que não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus. Disse-lhe
Nicodemos: Como pode um homem nascer, sendo velho? Pode,
porventura, tornar a entrar no ventre de sua mãe, e nascer? Jesus
respondeu: Na verdade, na verdade te digo que aquele que não
nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus. O que
é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito.
Não te maravilhes de te ter dito: Necessário vos é nascer de novo. O
vento assopra onde quer, e ouves a sua voz, mas não sabes de onde
vem, nem para onde vai; assim é todo aquele que é nascido do
Espírito.”

Ser salvo, pensando em todas as questões, se implica em nascer


novamente, ter o ego transformado ser regenerado.

Vamos a um ex emplo, imagine um porco comendo sua lavagem.


Nós oramos por ele tanto, a ponto que ele vira um homem. A primeira
reação deste homem transformado, será ter vergonha da situação
em que está, com vergonha perante nós.

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Formação em Teologia

A segunda será vomitar toda esta lavagem pois seu estômago


de ser humano não foi feito para tal alimento. Regeneração é uma
mudança de apetite, uma mudança de estômago que nos faz
necessariamente nos alimentar daquilo que é puro. Agora seu
coração é de carne sensível ao Espírito Santo, atento a fala de Deus,
competente de colocar para fora todo mal que porventura invadir o
corpo.

Santificados

Conforme vemos em Hebreus capítulo 7, 16-19, a lei não


aperfeiçoa ou ainda ela não nos santifica, nossa santidade é
construída a cada dia na força do Espírito Santo se evidenciando nos
nossos relacionamentos.

Acompanhe a leitura: “Que não foi feito segundo a lei do


mandamento carnal, mas segundo a virtude da vida incorruptível.
Porque ele assim testifica: Tu és sacerdote eternamente, segundo a
ordem de Melquisedeque. Porque o precedente mandamento é ab
rogado por causa da sua fraqueza e inutilidade (Pois a lei nenhuma
coisa aperfeiçoou) e desta sorte é introduzida uma melhor
esperança, pela qual chegamos a Deus.”

Se não é a lei que nos aperfeiçoa, quem é? Voltamos a Cristo,


somente ele nos aperfeiçoa. A morte e o sangue de Cristo é que irá nos
santificar. Acompanhe o tex to de Romanos 12: 1-2: “Rogo-vos, pois,
irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos
em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto
racional. E não sede conformados com este mundo, mas sede
transformados pela renovação do vosso entendimento, para que

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Formação em Teologia

experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de


Deus.”

A santificação é a realidade de quem está sendo alcançado pela


salvação. Algumas pessoas tratam a santificação como se fosse
uma escolha, algo que podemos deix ar para depois. É um desejo
ardente que temos, se você não o sente, repense o seu
relacionamento com Deus e a sua busca pela salvação.

Ser crente é ser regenerado e também buscar constantemente a


santificação. O pensamento sobre salvação, segue um conceito
linear em nossa mente, porém na Bíblia ela fala sobre um grupo de
coisas que fogem ao tempo. No passado, utilizando o termo de
justificação. No presente, a Bíblia traz a salvação como santificação
e no futuro é diz respeito a glorificação. Tentar encaix ar esse
raciocínio linear a salvação não encaix a. O conceito de Salvação
engloba muitas coisas, tornando-a complex a e de ex trema
profundidade.

Ex iste Risco e Segurança na Salvação. Doutrina não é filosofia, é


a resposta para a vida. Nós somos salvos pelo amor do Cordeiro, a
justiça se equilibra com o amor de uma forma perfeita perante um
Deus Justo e Amoroso que revela o máx imo do caráter de Deus.

Pense sobre propiciação, tudo aquilo referente aos nossos


relacionamentos, o que não deveríamos ter dito ao pai, o que fiz ou
deix ei de fazer ao meu irmão. Entenda a sua culpa e que ex iste
remédio para sua culpa, Jesus resolve este problema, salvando pela
propiciação.

As algemas também que nos prendem, em fatos do passado,


sentimentos que corroemos, que nos arrastam para trás, um preço já
foi pago por essas correntes. Seja redimido, entenda que Jesus pagou

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com seu sangue para nos libertar. A doutrina da redenção nos livra
de todas as correntes que nos pux am para trás.

A vida é difícil quando somos esmagados pela inimizade que


ex iste no universo. O ambiente é hostil e rude. Saiba que no plano
perfeito de Jesus há a resposta para o livramento disso, a
reconciliação.

Leia Colossenses, capítulo 2. Deus risca a nossa cartela de culpa,


e Jesus nos veste com seu manto, nos deix ando dignos de estar na
presença de Deus. Precisamos dessa Justificação vinda de Jesus.
Entender a salvação pela justificação, é compreender que temos em
mãos uma arma poderosa, que somos justificados pelo cordeiro e
agora saber nos posicionar perante o inimigo.

Todos esses pilares da salvação: Propiciação; Remição;


Regeneração; Santificação; Justificação; Reconciliação. Como você
os alimenta? São verdades plenas em seu coração? Essa obra é
verdadeira? Não se deix e enganar, apenas a obra verdadeira
construída em seu coração muda e traz a novidade de Deus a você.

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Formação em Teologia

CRISTOLOGIA - PARTE I

Por que estudar Cristologia

Sempre se disse muita coisa sobre quem foi o Cristo e a pergunta


que faço é: de que Cristo estamos falando, quem é essa pessoa?
Estudar cristologia significa definir o objeto da nossa fé, quem é esse
Cristo de quem falamos.

Um escritor notável, C. S. Lewis (Clive Staples Lewis) diz que só


ex istem três possibilidades para pensar em Jesus Cristo: ou ele era
um lunático que estava iludido, como por ex emplo, na nossa
atualidade temos o Álvaro Thais, conhecido como Inri Cristo,
provavelmente você já deve tê-lo visto em algum programa de
televisão dando entrevista e ele realmente acredita que ele é Jesus
Cristo. Então a primeira alternativa é que Jesus Cristo tenha sido
alguém como esse sujeito, alguém iludido, alguém que tinha uma
opinião equivocada sobre si mesmo. A segunda possibilidade é que
ele era intencionalmente enganador, ele estava enganando as
pessoas e a terceira possibilidade e é a que os cristãos creem, que ele
era Deus. C. S. Lewis desenvolve um argumento que nos conduz a um
desses três caminhos.

A tese de C. S. Lewis é muito importante porque há muitas


pessoas que pensam em Jesus Cristo como sendo um mestre da
moral, um revolucionário, alguém que foi bom, mas não tinha nada
de divino, para eles, Jesus era alguém com conselhos úteis. A
questão é que ao considerar tudo o que Jesus disse acerca de si
mesmo, não tem como simplesmente ele ter sido um bom mestre da
moral porque ele se denominou como o próprio Deus, ele disse que

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Formação em Teologia

era o próprio Deus, ou ele era um charlatão, ou alguém lunático ou era


o próprio Deus.

Estudar cristologia ajudará muita gente a sair de cima do muro e


definir de uma vez por todas quem você crê ser o Cristo.

Vou ler um trecho do livro de C. S. Lewis chamado Cristianismo


Puro e Simples sobre isso que acabamos de conversar. “ Estou
tentando impedir que alguém repita a rematada tolice dita por
muitos a seu respeito: " Estou disposto a aceitar Jesus como um
grande mestre da moral, mas não aceito a sua afirmação de ser
Deus." Essa é a única coisa que não devemos dizer. Um homem que
fosse somente um homem e dissesse as coisas que Jesus disse não
seria um grande mestre da moral. Seria um lunático, no mesmo grau
de alguém que pretendesse ser um ovo cozido, ou então o diabo em
pessoa.

Faça a sua escolha. Ou esse homem era, e é, o Filho de Deus, ou


não passa de um louco ou coisa pior. Você pode querer calá-lo por ser
um louco, pode cuspir nele e matá-lo como a um demônio; ou pode
prosternar-se a seus pés e chamá-lo de Senhor e Deus. Mas que
ninguém venha, com paternal condescendência, dizer que ele não
passava de um grande mestre humano. Ele não nos deix ou essa
opção, e não quis deix á-la. [...] Agora, parece-me óbvio que Ele não
era nem um lunático nem um demônio, consequentemente, por mais
estranho, assustador e inacreditável que possa parecer, tenho que
aceitar a ideia de que Ele era e é Deus.”

C. S. Lewis é um escritor britânico e provavelmente você deve


conhecê-lo como autor de Crônicas de Nárnia. Esta é a minha
primeira sugestão de livro, Cristianismo Puro e Simples que te

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Formação em Teologia

ajudará a pensar sobre o tema cristianismo e, consequentemente,


quem é esse Cristo que estamos falando.

A Importância da História

John Stott, um outro autor que também já recomendo, dizia o


seguinte: “ Desrespeitar a tradição e a teologia histórica é
desrespeitar o Espírito Santo que tem ativamente iluminado a igreja
em todos os séculos.”

Stott faz essa afirmação pois ele crê que o Espírito Santo é
coerente. Imagine, temos dois mil anos de tradição de igreja, há uma
linha do que a igreja tem dito ao longo desses dois mil anos. Ignorar a
história é simplesmente começar a dizer uma coisa que é totalmente
contraditória aos dois mil anos de história e isso significa dizer que o
Espírito Santo é incoerente. Pense, você chamar o próprio Deus de
incoerente não é uma coisa muito sensata, se queremos ser
coerentes, precisamos olhar para história.

Teologia é uma coisa que se faz olhando para trás e para frente.
Se realmente quisermos dizer algo diferente para esse tempo,
precisamos estar abertos para estudar e entender o que a igreja tem
dito ao longo de mais dois mil anos sobre a essência de Jesus, quem
a igreja diz que Jesus Cristo é.

Os cinco primeiros séculos da história, todos os pais da igreja,


vários homens e mulheres, trabalharam, se esforçaram para trazer
esse conceito mais limpo, mais claro possível de quem é Jesus. Quem
é Jesus Cristo? Ele é Deus? Se ele é Deus, como se relaciona essa
natureza do Divino e do humano?

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Formação em Teologia

A questão se desenvolve da seguinte maneira: Jesus Cristo é


homem ou Jesus Cristo é Deus? Em cima da humanidade de Cristo,
em cima da divindade de Cristo, todo o debate é construído, hora
defendendo Jesus Cristo homem e hora defendendo Jesus Cristo
Deus. Ao longo desses cinco primeiros séculos a igreja entendeu que
precisava harmonizar essas duas naturezas de Cristo.

Por que é difícil explicar quem foi jesus?

O grande problema que temos para ex plicar é que o ser humano


tem uma estrutura que é finita e, quando se fala de Deus, estamos
falando de alguém que é infinito. Então a pergunta: como que ex iste
essa relação dessas duas naturezas, Divino e humana? Pensar sobre
isso é incrivelmente útil para nossa fé, para entender aonde a
humanidade de Cristo nos leva e onde a divindade de Cristo nos leva.

A primeira geração de cristãos não teve tantos problemas como


as gerações seguintes tiveram, porque eles viram a Cristo,
testemunharam, viveram o evangelho e não tiveram que defender de
uma forma profunda sobre essas questões que estamos debatendo.
Simplesmente, eles viram, andaram, creram, testemunharam.

A segunda geração enfrentou um dilema diferente. Na medida


que eles foram questionados sobre quem era Deus, eles precisaram
não só testemunhar, não só crer, mas ex plicar de forma profunda.
Essa segunda geração teve um problema que a primeira geração não
chegou a tanto, por mais que vemos Paulo desenvolvendo teologia,
João desenvolvendo teologia, eles não gastaram tanto tempo
desenvolvendo maneiras concretas e lógicas de quem era o próprio
Cristo, então, isso coube a gerações que vieram depois.

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Formação em Teologia

Pedro, que fazia parte da primeira geração, respondia de forma


especial de quem é Cristo dizendo: “ Tu és Cristo, o Filho do Deus Vivo.”
Não ex iste nenhuma crise para o apóstolo Pedro, nenhuma crise para
o apóstolo Paulo sobre responder quem era Cristo, mas ao morrer
essa geração, várias questões foram levantadas. A segunda
geração, pessoas que não viveram, não caminharam com Cristo,
precisavam ex plicar como que alguém é homem e Deus ao mesmo
tempo, porque as pessoas simplesmente não aceitavam ouvir que
Ele era um homem e Deus ao mesmo tempo sem que houvesse um
esclarecimento, eles queriam uma ex plicação concreta. A partir
deste momento, nasce um esforço da igreja e dessas gerações de
cristãos de não só viver, crer, evangelizar, mas ex plicar quem é esse
objeto da fé.

Querendo ou não, fazemos isso até hoje, da nossa forma,


ex plicamos quem é Deus. Vemos testemunhos no YouTube, em
igrejas, falando que não acredita num Deus que é raivoso, que deix a
as pessoas sofrerem. Quando as pessoas dizem isso, estão definindo
o que tipo de Deus elas creem.

Mesmo que você não tenha nenhum gosto por filosofia, nenhum
gosto por teologia, você irá dizer e escutará pessoas declarando que
o Deus que eu acredito é assim, o Deus que eu acredito é assim, ou
seja, essas pessoas estão delimitando o que elas entendem ser o que
é o próprio Deus. Parece espiritual dizer que não ex plicamos a Deus,
mas na prática todos passam o tempo todo ex plicando qual é o Deus
em quem eles acreditam, a questão que surge é se a ex plicação que
damos coincide com a ex plicação da Bíblia.

Como cristãos, não temos o direito de fazer isso sozinhos, por


isso citei a frase de Stott. Se quisermos falar sobre Deus, sobre a
essência de Cristo, precisamos ser coerentes com que a igreja tem

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Formação em Teologia

falado ao longo de todos esses séculos, o porquê de a igreja ter


afirmado certas coisas, o porquê a igreja teve que ex plicar, porque a
igreja usou essas categorias tão filosóficas. A igreja sabe quem é
Cristo?

Cristo é Homem, Deus, ou os Dois?

A primeira coisa que precisamos entender agora, é o caminho


cristológico para tentar ex plicar esse conceito. Ex iste um debate que
começou mais ou menos no ano de 1800 e vem se estendendo até
hoje em diversos grupos essa discussão ainda vive, o pensamento
que crê Cristo de cima para baix o e o pensamento que crê Cristo de
baix o para cima, uma separação da imagem de Jesus, sendo homem
ou divino e não os dois ao mesmo tempo.

Até 1800, o pensamento básico dentro da ortodox ia, um conjunto


da fé cristã daquilo que a igreja entende ser a fé saudável, genuína,
defende que o Jesus da história é o mesmo que o Cristo da fé, não tem
separação entre essa questão subjetiva de um Cristo que você crê
daquele homem histórico. Após esse período, alguns filósofos
começaram a fazer esta separação, essa desconstrução entre o
Cristo da fé e o Jesus histórico, mas antes chegaram até mesmo a
questionar se o Jesus da história era real.

A quantidade de evidências (documentos históricos) de um


Jesus histórico é tão gigantesca, que eles não conseguiram negar o
fato que ex istiu Jesus na história, então o que eles fizeram, o segundo
passo foi dizer que o Jesus da história é diferente do Jesus da Bíblia,
que esse Jesus da Bíblia foi fantasiado por uma geração de pessoas.

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Formação em Teologia

➔ Pesquise: Era impossível negar contra uma centena de


documentos históricos, como ex emplo uma “ espécie de ata” de que
Jesus padeceu sob a mão de um Pôncio Pilatos, temos provas
históricas de que Jesus morreu na cruz, ex istem documentos
suficientes que garantam o que chamamos de historicidade. Não
deix e ninguém te enganar, nenhum cientista sério do ramo da
antropologia, irá dizer que Jesus não ex istiu, o que ele afirmará
acreditar é que Jesus não é Deus. Ninguém com base na ciência pode
dizer que não houve um Jesus, isso é uma mentira, uma fraude sem
tamanho. Temos inúmeros recursos, livros, autores, instituições que
você pode pesquisar, até mesmo em muitos canais no YouTube,
inclusive falando especificamente sobre esta questão.

O motivo que levou esses filósofos a desconstruírem a imagem


de Jesus Cristo, dividindo-o em Jesus da história e Cristo da fé, é
porque eles não conseguiam acreditar em tudo que era sobrenatural
na narrativa bíblica. Falando sobre o Jesus da história, temos os
filósofos como Friedrich Schleiermacher, Adolf von Harnack e,
assumindo o Cristo da fé, temos os filósofos do outro lado Søren
K ierk egaard, Paul Tillich, que é um teólogo também.

Ao falar somente sobre o Cristo da Fé, temos o pensamento de


que não importa aquele homem na história, Jesus é qualquer figura
religiosa que consegue agregar esse valor do Cristo da Fé.

Buda poderia ter sido um Cristo da Fé, Maomé pode ser um Cristo
da fé, qualquer coisa, qualquer ser, qualquer personagem da história
pode capitalizar ou pode internalizar esses requisitos do Cristo da fé.
Uma vez que foi separado do Jesus histórico deste Cristo da Fé abriu-

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Formação em Teologia

se uma série de caminhos de filosofias para ex plicar. Um grande


grupo de teólogos defendem essa divisão de que o Jesus da história é
uma coisa e o Cristo da Fé é outra coisa.

Dentro da ortodox ia cristã, daquilo que cremos como cristãos,


como evangélicos, e podemos incluir sem nenhuma dúvida, sem
nenhum medo, os católicos, acreditamos na mesma coisa de que na
essência da pessoa de Cristo não ex iste divisão entre o Jesus da
história e o Cristo da Fé. Afirmamos que o Jesus da história é
ex atamente igual ao Cristo da Fé.

Ao ler alguma literatura, uma coisa que você pode notar é o


posicionamento daquele teólogo, daquele escritor, se acredita que o
Cristo da fé e o Jesus da história se encontram na mesma pessoa ou
se escritor separa essas duas coisas, dando mais ênfase para este
homem que viveu na história ou para esse símbolo espiritual.

A Metodologia Histórica Crítica

“ A busca pelo Jesus histórico, no século XIX, envolveu a


utilização da metodologia histórica-crítica na tentativa de descobrir
quem era o Jesus da história. Eles trabalharam com o pressuposto de
que o Jesus da Bíblia não era o Verdadeiro Jesus histórico.” Alan
Myatt & Franklin Ferreira.

Em vários momentos, em outras matérias e outras disciplinas,


comentei com você sobre uma metodologia chamada histórica
crítica. A gênesis, a essência dessa metodologia, é este conceito de
desconstruir, de separar as coisas. Nosso material, não trabalha com
essa metodologia histórica-crítica, uma metodologia que separa,

94
Formação em Teologia

desconfia dessa união entre história e a essência da Fé não é o que


nós cremos ser cristianismo.

Ex iste diversas categorias dessa busca pelo Jesus histórico ou


essa busca pelo Cristo da Fé.

Razão e Fé

A Teologia liberal é alguma coisa que se opõem ortodox ia, se


opõe em relação a percepção de como olhar para fé, como olhar para
a Bíblia. São maneiras radicalmente diferentes de analisar a Bíblia e
o Jesus da Fé. Trago dois autores que são importantes nesses
apontamentos e vale a pena você pesquisar sobre eles, Millard
Erick son e Cornelius Van Til.

Erick son usa o método Agostiniano enfatizando “ a fé antes da


razão, mas não independente da razão” , o que resume nossa postura.
Falar de cristianismo é falar inicialmente de Fé, mas não de fé que não
usa a razão. Em Coríntios 12, eu gosto muito usar esse tex to, a palavra
no original é logik os (ογ ός), o culto racional, o culto que ex ige a
presença da razão. Falar de fé é também falar de racionalidade, mas
uma racionalidade a partir da fé, a fé vem antes da razão e a razão
não é ex cluída do processo.

As pessoas que estão buscando o Jesus histórico, separado do


Cristo da fé, afirmam que a fé fica a serviço da razão, quem manda é
a razão. Na ponta de cima, acaba funcionando a mesma coisa,
quando se procura o Cristo da fé que pode ser qualquer coisa, pode
ser qualquer entidade de qualquer religião, é uma que não está tão
preocupada assim com a razão.

95
Formação em Teologia

O cristianismo propõe um equilíbrio entre fé e razão de uma


maneira onde ex iste uma subordinação, mas não ex iste uma
independência entre racionalidade e fé.

Razão e Fé no Brasil

Infelizmente, ao pensar em cristianismo no Brasil percebemos


que a razão é uma coisa colocada no escanteio. O brasileiro acredita
que não precisa pensar para ter fé, você não precisa ser racional para
crer, o brasileiro acredita que é uma questão completamente
intuitiva, você não precisa pensar para ter fé. Cuidado, se você pensa
assim, de que Cristo está falando? De que religião você está falando?
Deus é o criador e Ele te deu uma razão e você começa a ex cluir a sua
razão do seu processo de fé, cuidado, você pode chegar em lugares
tremendamente perigosos!

Cornelius Van Til sugere a ideia de um pressuposto que a partir


de todos os seus pensamentos, você irá fazer uma construção
racional, mas essa construção, essa reflex ão, esse debate, parte de
saber que ex iste um Deus, você sabe que ex iste um Deus e é a partir
Dele que você começa a construir as suas teorias e os seus
argumentos.

Ao defender o Jesus histórico separado do Cristo da fé, você


colocou a razão acima de qualquer coisa, correndo risco de destruir
qualquer possibilidade de fé. Ao enfatizar o Cristo da fé independente
do Jesus histórico, você coloca a fé de uma maneira tão abstrata que
você destrói esse link , o elo com a história.

Pensando nisso, podemos remontar essa cristologia, essa


relação de Fé e a Razão com algumas seitas que temos no nosso
tempo. A cristologia das Testemunhas de Jeová, por ex emplo, não

96
Formação em Teologia

acredita na Trindade, no equilíbrio entre humanidade e divindade de


Jesus e eles usam as referências dos Pais da igreja, Justino, Irineu,
Clemente de Alex andria, para atestar o que afirmam. Eu te convido a
pesquisar, estudar sobre o que as Testemunhas de Jeová falam,
como nos folhetos que eles distribuem Deve-se Acreditar na
Trindade? E o que os Pais da igreja realmente afirmavam,
visivelmente ex iste uma distorção do que foi dito. Você encontrará
sobre isso no livro Padres Apostólicos, do original em inglês, Ante-
Nicene Fathers, por Philip Schaff.

O segundo grupo que vale a pena pensar são os Mórmons. Os


Mórmons têm uma cristologia estranhíssima, eles afirmam, pelo
menos inicialmente, que Lúcifer era irmão de Jesus e eles fizeram
uma votação e Jesus ganhou para ser o salvador, assim os espíritos
bons se encarnaram em pessoas de pele branca e os espíritos maus
encarnaram em pessoas de pele negra. A cristologia deles é
ex tremamente fantasiosa, a relação entre fé e razão está muito
descaracterizada.

➔ Desafio pastoral: Eu te convido a desmontar o raciocínio que


os Mórmons têm sobre essa questão de que Jesus era irmão de
Lúcifer, que houve uma votação e Jesus ganhou e houve as
encarnações em pessoas de pele branca e pele negra. Qual o
fundamento racional dessa cristologia? Vemos que isso é um
processo mais mitológico do que qualquer outra coisa, é
perfeitamente possível desmontar racionalmente essas afirmações.
Lembre-se, não estou falando de respeito, estou falando de
racionalidade.

97
Formação em Teologia

Podemos falar ainda sobre um terceiro grupo, a teologia da


libertação. Aqui, vemos esse mesmo debate, mesmo dilema entre a
ênfase na história e a questão de Jesus humano. Por mais que
tenhamos visto grandes coisas, muitas coisas positivas que a
teologia da libertação fez nas áreas sociais, vemos uma ênfase
demasiada na questão humana e, aquilo que é Divino, fica em
segundo plano. Essa preocupação com aquilo que é humano,
aprisiona toda a fé nas dores e necessidades físicas, salvação é
simplesmente recuperar a dignidade de ser humano o que é muito
bonito e necessário, mas cremos que evangelho é muito mais do que
um projeto político social.

Cada uma dessas teorias acaba dando ênfase demais na


natureza humana ou na natureza Divina, desequilibrando o processo,
por ex emplo, é a própria ideia do Cristo da nova era como se fosse um
Avatar, um ser tão sobrenatural, tão místico que perde todo o caráter
humano da fé. A relação da Fé perde tudo aquilo de que tem a ver em
tocar a nossa realidade, a nossa essência. Reitero, cada uma dessas
teologia acabam batendo em um dos dois polos, ou dando ênfase
ex agerada na questão humana ou dando ênfase ex agerado na
questão Divino.

O cristianismo faz, historicamente, uma defesa de equilibrar as


duas naturezas. A seguir abordaremos esse assunto mais
profundamente.

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Formação em Teologia

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Formação em Teologia

100
Formação em Teologia

CRISTOLOGIA - PARTE II

Introdução

Continuaremos falando sobre cristologia, mas antes, faremos


um pequeno desvio proposital. Vamos falar sobre o Espírito Santo.

A Importância do Espírito Santo

É impossível uma boa cristologia que não fala da pessoa do


Espírito Santo porque, quando vemos essa relação da natureza
humana de Jesus com Espírito Santo, você percebe no tex to bíblico
que o Espírito Santo capacitou Jesus Cristo como homem até para
fazer os milagres. Na tentação ex iste um fato importante quando
Satanás diz “ Chame os anjos para te fortalecer, te ajudar” ,
justamente batendo na condição humana de Jesus uma das coisas
que pretende é que Jesus por conta de suas necessidades
reconfigure sua relação com Espirito Santo, Jesus está sendo tentado
a desenvolver seu ministério de forma autônoma em relação ao
Espírito Santo. Para estabelecer uma boa cristologia, precisamos
fazer essa relação, essa conex ão entre a natureza humana de Jesus
e o Espírito Santo.

Vamos lembrar da passagem em Mateus Capítulo 3 Versículo 16.


Quando Jesus é batizado nitidamente percebemos o Espírito Santo
entrando em ação na vida de Jesus de uma maneira muito
específica. Outro ex emplo, na tentação em Lucas Capítulo 4, mais
uma vez o tex to diz que o Espírito conduziu Jesus para o deserto. Note
que, mesmo tendo a natureza de homem e a natureza Divina, é o
Espírito Santo que conduz.

101
Formação em Teologia

Apesar de ser Deus, Jesus tem uma relação tão íntima, tão
pessoal com essa parte, essa característica humana, que Ele se deix a
conduzir, como no batismo, na tentação. Nas realizações dos
milagres, todas são atribuídas nos Evangelhos ao Espírito Santo,
vemos isso em Mateus 12:28, Atos 10:38, quando os milagres
acontecem na vida dos Apóstolos e na vida de Jesus, vemos uma
ação do Espírito Santo, o tex to bíblico é claro em fazer essa
associação.

“E toda a multidão se admirava e dizia: Não é este o


Filho de Davi? Mas os judeus, ouvindo isto, diziam: Este
não ex pulsa os demônios senão por Belzebu, príncipe
dos demônios. Jesus, porém, conhecendo os seus
pensamentos, disse-lhes: Todo o reino dividido contra si
mesmo é devastado; e toda a cidade, ou casa, dividida
contra si mesma não subsistirá. E, se Satanás ex pulsa a
Satanás, está dividido contra si mesmo; como subsistirá,
pois, o seu reino? E, se eu ex pulso os demônios por
Belzebu, por quem os ex pulsam então vossos filhos?
Portanto, eles mesmos serão os vossos juízes. Mas, se eu
ex pulso os demônios pelo Espírito de Deus, logo é
chegado a vós o reino de Deus. Ou, como pode alguém
entrar na casa do homem valente, e furtar os seus bens,
se primeiro não maniatar o valente, saqueando então a
sua casa? Quem não é comigo é contra mim; e quem
comigo não ajunta, espalha. Portanto, eu vos digo: Todo
o pecado e blasfêmia se perdoará aos homens; mas a
blasfêmia contra o Espírito Santo não será perdoada aos
homens. E, se qualquer disser alguma palavra contra o
Filho do homem, ser-lhe-á perdoado; mas, se alguém

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Formação em Teologia

falar contra o Espírito Santo, não lhe será perdoado, nem


neste século nem no futuro.” Mateus 12:23-32

Perceba que a blasfêmia acontece porque esses milagres, essas


realizações estão sendo feitas pelo Espírito Santo através da vida de
Jesus e aqueles homens estão simplesmente zombando. Zombar
dessas obras da ação do Espírito Santo se configura de alguma forma
como blasfêmia contra Espírito Santo, Jesus está se posicionando
contra esses homens essencialmente porque eles estão zombando
ou desmerecendo as obras do Espírito Santo.

Jesus não está preocupado em defender as suas obras, que se


alguém falar das obras dele, essa pessoa estará blasfemando contra
o filho. A humildade de Jesus era tão grande, que a preocupação de
Jesus é quando a obra do Espírito Santo está sendo questionada.
Jesus afirma que as ações que ele realiza, as realiza na força do
Espírito Santo e aqueles homens estão desmerecendo, questionando
e blasfemando contra o Espírito Santo ao não enx ergar o autor
daquelas obras.

O tex to de Romanos 8 Versículo 11 também surpreende. Paulo


fala em romanos que a ressurreição é atribuída ao Espírito Santo.
Pensa comigo, Jesus é Deus e Jesus é homem, então Jesus enquanto
homem não tinha nenhum poder Sobrenatural enquanto Ele estava
no sepulcro. Agora, Jesus nunca deix ou de ser Deus, Ele mesmo
poderia ressuscitar a si próprio, entende a lógica? Ele mesmo poderia
realizar qualquer atitude, qualquer ação, mas o tex to bíblico é muito
claro ao dizer que Jesus fica num estágio de dependência, pois Ele
sendo Deus e homem, espera que o Espírito Santo aja para que ele
ressuscite. Isso é fantástico! a bíblia está dizendo que como homem

103
Formação em Teologia

a dependência de Jesus, do Pai, do Espírito Santo é tão grande, que Ele


aceita ser conduzido mesmo sendo Deus.

➔ Analogia com a atualidade: Lembrei do meu filho, que gosta de


assistir a série The Flash. Imagine que você é um super-herói The
Flash, seu superpoder é a alta velocidade, e você irá correr contra
outras pessoas. Em vez de você usar essa força de ser o homem mais
rápido do mundo, você corre ex atamente na mesma velocidade que
todos os outros. É esta a ideia, que Jesus não está trapaceando
usando o seu poder acima de qualquer coisa e sem limites, mas tudo
que Ele faz, o faz na dependência do Espírito Santo então. Para
entender a cristologia, precisamos entender do Espírito Santo, por
que na sua parte que é humana, Jesus depende ex clusivamente e
totalmente do Espírito Santo.

Um teólogo puritano chamado Herman Bavinck , nos ajuda a


pensar justamente nessa questão de que uma boa cristologia é
impossível sem pensar no Espírito Santo. Vou fazer uma relação com
alguns tex tos, de Jesus como homem e Jesus como Deus, para você
refletir.

• Jesus como Deus, em Mateus 2: 2,11; 14: 13; 28: 9 foi adorado.
Jesus como homem adorou o pai.

• Jesus como Deus recebeu orações dirigidas a Ele e como um


homem Ele orou o pai.

• Como Deus foi chamado de Deus, como o homem foi


chamado de homem.

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Formação em Teologia

• Como Deus foi chamado de filho de Deus. Como homem foi


chamado de filho do homem.

• Como Deus era Sem Pecado. Como homem ele foi tentado.

• Como Deus sabe de todas as coisas. Como o homem cresceu


em sabedoria.

Os Ofícios de Cristo

Quando Jesus assume essa natureza, essa Encarnação, tem


propósito, uma missão. Falar dos ofícios de Cristo é falar do que ele
veio para fazer como Deus, do que que ele veio fazer como um
homem.

1º Ofício: Sacerdote. Primeiro, precisamos entender que o


sacerdócio de Jesus é eterno, ele aconteceu e ele continua
acontecendo por toda eternidade. Temos duas palavrinhas
importantes e talvez você não esteja familiarizado com elas: oblação
e intercessão. A segunda é mais fácil, quando se fala de oblação, é
referente ao sacrifício, de sacrificar. Já intercessão, refere-se a orar.

Nem todos os mediadores são sacerdotes, mas todos sacerdotes


são mediadores. A função ou ofício do sacerdote tem a ver com
mediação e por isso, quando Jesus se apresenta para nós como o
sacerdote, estamos baseados no sacrifício e na intercessão. Agora
pensa na eficiência disso, pensa na eficiência de um sacerdote
perfeito ou de um sacerdócio perfeito e, se ex iste um sacerdócio
perfeito, ex iste uma mediação perfeita e ex iste uma interseção
perfeita.

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Formação em Teologia

Estamos fazendo 500 anos da reforma protestante e um dos


lemas da reforma protestante é justamente dizer a suficiência de
Cristo. O sacerdócio de Cristo é suficiente como aquele que faz a
mediação e ele é suficiente como aquele que faz a intercessão. É
muito importante entender sobre a essência do sacerdócio de Cristo.

No antigo testamento, o sumo sacerdote entrava no Santíssimo


lugar uma vez por ano. Ele colocava aquelas vestimentas bonitas e
no seu peito e nos ombros tinha gravado o nome das doze tribos. eu
gosto muito dessa imagem, porque se pensamos no Sumo Sacerdote
do Antigo Testamento como sendo aquela pessoa com aquela
vestimenta perfeita com os nomes das Tribos gravado nas suas
vestes, isso me faz pensar que o sacerdote perfeito também tem o
nome do seu povo gravado nas suas vestes, ele carrega consigo no
seu ato de mediação, aquele que faz esse sacrifício, essa oblação e
essa intercessão por nós, assim como aquele sacerdote do Antigo
Testamento, carrega consigo o nosso nome, Ele carrega consigo a
nossa necessidade de perdão de pecados.

Oblação é uma humilhação completa, de alguém que estava


disposto a se humilhar para obedecer à lei, se humilhar para morrer
e sabemos que é em morte de cruz.

Estamos acostumados a pensar no Espírito Santo como


intercessor, aquele que quem tem os gemidos inex primíveis, que que
testifica Aba Pai, mas quando estamos pensando numa cristologia
completa, a interseção se torna uma coisa mais profunda porque se
o Espírito Santo tem o papel de interceder, o próprio Jesus Cristo
também tem o mesmo papel de intercessor e essa é uma intercessão
eterna. O eco do sacrifício de Cristo é um eco que permanece.

106
Formação em Teologia

Em outras palavras, o que que a Bíblia está querendo dizer: o


momento da oração é o momento onde você é introduzido no seio da
Trindade, e o Espírito Santo e Jesus Cristo estão falando sobre você
com Pai. Quando se pensa que cristologicamente sobre intercessão,
imaginamos triângulo e você no meio do Triângulo, o pai na frente, e
isto é apenas uma questão estrutural, não ex iste uma hierarquia,
mas uma comunidade.

Na oração, o Espírito Santo está falando sobre as suas


necessidades, sobre as suas carências, e Jesus Cristo intercedendo
pelo sacrifício que ele fez, falando em seu favor. Gosto de pensar “ Se
Espírito Santo está falando bem de você, se Jesus Cristo intercede por
você, a sua chance de ser ouvido é muito grande” . Se temos esse
processo cristológico bem definido na Bíblia, significa que não
precisamos de nenhuma outra mediação, porque a própria Trindade
toma conta, por isso evitamos trazer qualquer outro elemento. Por
mais incrível que tenha sido essa pessoa, a Trindade é suficiente, o
Pai, o Filho e o Espírito Santo e você, isso é totalmente suficiente para
o seu relacionamento com Jesus Cristo.

João Capítulo 17, a oração que Jesus faz em nome dos seus, em
nome da sua igreja, penso como que fosse um eco por toda
eternidade.

“Eles não são do mundo, como eu também não sou.


Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade.
Assim como me enviaste ao mundo, eu os enviei ao
mundo. Em favor deles eu me santifico, para que
também eles sejam santificados pela verdade. Minha
oração não é apenas por eles. Rogo também por aqueles
que crerão em mim, por meio da mensagem deles, para

107
Formação em Teologia

que todos sejam um, Pai, como tu estás em mim e eu em


ti. Que eles também estejam em nós, para que o mundo
creia que tu me enviaste.” João 17:16-21

Esse Eco da oração de João 17, ecoa por toda eternidade, Jesus
está clamando por você e por mim.

2º Ofício: Rei. Rei no sentido de aquele que subjuga, naquele que


governa, que defende, mas que restringe e vence os inimigos dele e
os nossos também.

A Bíblia traz junto a palavra Basileia (Em grego: βασιλεία)


que significa reino. O novo testamento está repleto dessa palavra
“ reino” , mas em Mateus capítulo 5, quando o tex to nos fala sobre
Basileia duas coisas chamam a atenção, a primeira é que o reino está
relacionado com os pobres de espírito, “ bem-aventurados os pobres
de espírito porque deles é o reino dos céus” , e a segunda é., “ bem-
aventurados aqueles que foram perseguidos por causa da justiça” .

O reino está relacionado com domínio, com governo. O ofício de


Jesus como um governo, é um ofício que precisa ser demonstrado
pela igreja, porque se você olhar na estrutura de um país, de uma
nação da sociedade, você não vê, não é perceptível Deus governando
todas as coisas. Jesus Cristo como rei é aquele que usa a igreja e o
seu sacrifício para entrar na história, rasgar história e mostrar o seu
governo através do seu reino.

Onde se pode ver Jesus governando? Jesus governa em todos os


lugares? Teologicamente sim apesar de não percebermos, sendo
assim a igreja deveria ser esse lugar, onde o reino é manifestado. A
igreja não é necessariamente a mesma coisa que reino, mas a igreja

108
Formação em Teologia

é aquela que se move na direção do reino e Jesus como rei é aquele


que governa, é aquele que ex erce domínio.

A Bíblia então apresenta Jesus como o governador, aquele que


faz parte da criação e tem domínio sobre a criação, sobre os espíritos,
ele tem domínio sobre as potestades, sobre o tempo, sobre a morte e
ele tem domínio sobre a vida. Este ofício que estamos falando nos
mostra como o governo, a esfera de governo de Jesus Cristo é
ilimitada, mas, embora seja ilimitada, é invisível e justamente por ser
invisível ela pode ser ignorada muitas vezes. O papel da igreja é
manifestar o reino, por isso que a oração do Pai Nosso, Jesus nos
ensina a orar “ Pai nosso que estais no céu, santificado seja teu nome,
venha o teu reino” para que seja estabelecido, para que seja
marcado o ofício dele como o rei.

3º Ofício: Profeta: O sacerdote recebe ofertas, faz ofertas e


cumpre esse papel de mediação entre Deus e os homens. Um rei
governa e um profeta é aquele que traz a palavra.

Mais uma vez, como todos os outros ofícios, o Ministério Profético


de Jesus não cessa com a morte, ele continua para sempre. De uma
forma simples, mas poderosa, Jesus continua revelando Deus no
coração do ser humano por toda eternidade, Jesus continua
revelando sobre a essência de quem é Deus, do que Deus espera de
nós, sobre a sua vontade, vontade do pai. Jesus continua revelando
em vida, em morte, eternamente a vontade e o poder do Pai.

Olhar para Jesus é necessariamente conhecer mais sobre a


vontade do pai.

109
Formação em Teologia

Os Estados de Cristo

1º Estado: Humilhação

O Logos → O Esperado → O Encarnado → Nascido da Virgem →


Batizado → Anunciados do Reino → Servo Sofredor → Crucificado →
Morto → Sepultado

O Logos, aquele que era desde o princípio e que é eternamente.


Ele foi o esperado, desejado, essa ex pectativa Messiânica ex iste
desde Gênesis 3 a partir da queda podemos ver no tex to bíblico,
mesmo no antigo testamento, que havia uma ex pectativa
Messiânica da vinda de Jesus.

Então esse Logos que sempre ex istiu e é esperado. Ele se encarna,


no sentido espiritual e o sentido carnal, físico. Ele nasce, é batizado,
Ele é anunciador do reino, ele é o servo sofredor, crucificado, morto e
sepultado. Você verá isso no livro de Filipenses, esses esvaziamentos,
Ele sai do ponto auge ao ponto mais inferior que se pode ex istir.

Quando o tex to bíblico fala que Ele não usurpou, nos revela que o
amor dEle pela humanidade era tão radical, que Ele não considerou o
fato de ser Deus. Ele não deix ou de ser Deus, mas ele colocou esse fato
em stand by (do inglês, em reserva).

Vemos essa estrutura de um esvaziamento daquele que é o rei


perfeito e agora se tornam o rei mais humilhado de todos os tempos.
Aquele profeta que era o mais puro, mais poderoso, aquele que tinha
as melhores palavras, é esvaziado e sai desse nível de glória para
esse nível de murchar, de esvaziar.

110
Formação em Teologia

➔ Para pensar: Agora pensa nas duas naturezas de Cristo


passando pelo Estado de Humilhação. O que significa o Divino sendo
esvaziado e o que significa humano sendo esvaziado? Nesse
momento, essas duas naturezas estão vivendo a mesma realidade,
as duas naturezas estão sendo humilhadas, esvaziadas. É impossível
pensar em cristologia sem pensar que essas duas naturezas de Cristo
sofrem esse processo de esvaziamento. É impossível ex ercer uma fé
cristã sem esvaziamento, a fé cristã é uma fé que esvazia para depois
encher, não a que enche para depois nos esvaziar. Isso faz toda a
diferença no sentido de percepção espiritual.

2º Estado: Exaltação

Ressurreição → Ascendido dos Céus → Sentado à Direita do Pai →


Intercessor → Aquele que voltará

Agora ele ressurreto, ascende aos céus senta a direita de Deus e


nessa posição Ele é o nosso intercessor, nosso “ paracleto” , nosso
advogado, é aquele que voltará um dia e no juízo final é aquele que
julgará a todos.

Pensando na relação desses dois estados, aquele que se esvazia


de toda glória, chega no ex tremo oposto do esvaziamento e agora
atinge uma glória incomparável.

Esta glória desse Cristo ressurreto é uma glória que afeta a


humanidade num sentido muito mais radical do que a glória daquele
Cristo que estava longe, no primeiro estado. Esta segunda é uma
glória que afeta o ser humano no seu dia a dia, que afeta a
continuidade da ex istência. Deus está querendo dizer que glória

111
Formação em Teologia

longe é uma glória que só iria fazer bem para Ele, assim Ele se
esvaziou daquela glória para que a glória pudesse alcançar sua vida
e minha vida.

Esse ex emplo dos Estados, de um ex tremo ao outro, nos


aprox ima da Trindade, nos aprox ima da identidade de Cristo, nos
aprox ima da Glória de Cristo e nos mostra um caminho. Se um
discípulo não pode ser maior do que o seu senhor, isso significa que
esse estado de Humilhação e Ex altação também está presente na
vida de qualquer cristão. Logo, não começamos com ex altação, se
começa com a humilhação, por isso que o cristianismo começa com
uma morte. No batismo você é batizado e você morre para o mundo.

Querido, por favor, não confunda isso no sentido de uma falsa


humildade, mas uma humildade no sentido de que você é primeiro
amassado, transformado em barro, apequenado, você diminui o
valor do seu ego para depois Cristo ser ex altado em você.

Esse mesmo movimento de Humilhação e Ex altação precisa


acontecer na sua vida num sentido ainda mais radical. Pense, Cristo
mora aonde? Se Cristo deveria ser aquele que habita no nosso
coração, uma vez que esses estados aconteceram no tempo e na
história, esses movimentos de ex altação e humilhação precisam
acontecer agora no seu próprio coração.

Pense naquele incrédulo, no ateu ou qualquer pessoa de


qualquer grupo religioso, a fé cristã passa necessariamente por esse
vale, por essa parábola.

112
Formação em Teologia

Reflita a Sua Vida Cristã

Como saber se estou amadurecendo na minha vida cristã?


quando eu sei que, como cristão, estou andando para frente não
andando para trás. Percebe a influência de cada um desses aspectos
dos estados de Cristo na sua vida pessoal? Desde aquele que começa
na humilhação, o caminho da vida cristã irá seguir esse vale, esse
arco, até chegar na glorificação, no momento onde você estará com
Jesus Cristo na eternidade.

Qual será o melhor momento da história? É o Juízo Final. Talvez


nós crentes não tenhamos tanta facilidade para pensar assim,
porque na hora do juízo final, teremos a nossa sentença ao lado do pai
e, teoricamente, o juízo final é a parte mais assustadora da história.
Não deveria ser assim porque o juízo final é o momento onde Cristo
vai ser máx imo glorificado e ex altado na sua vida, o auge da sua
glória o auge do seu relacionamento com Deus. Você irá
ex perimentar o auge da ex altação de Jesus Cristo em você.

Espero que isso te ajude a ter menos medo do juízo porque, no


final das contas, quando se pensa em humilhação e ex altação, o juízo
é a porta que nos diz “ Bem-vindo ao lar, você chegou.”

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Formação em Teologia

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Formação em Teologia

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Formação em Teologia

CRISTOLOGIA - PARTE III

Introdução

Quando conversamos sobre cristologia, precisamos falar sobre


heresias dentro do próprio cristianismo, de movimentos de pessoas
que não fizeram essa consideração da maneira como entendemos
hoje. Lembra que Jesus tem duas naturezas, a natureza Humana
natureza Divina. A primeira geração não teve esse problema que a
segunda geração teve, a necessidade de ex plicar.

Surgiram diversos líderes defendendo várias coisas, ora


afirmando as duas naturezas, ora negando uma das duas. Por
ex emplo, Eutiques, Bispo de Alex andria que confunde as duas
naturezas, humana e divina, de forma que quando ele foi ensinar
sobre quem era Cristo, dizia que uma natureza engoliu a outra. Ele foi
condenado, no sentido de refutar o seu pensamento, no ano de 451.

Heresias: Docetismo

O docetismo traz essa ideia grega de que a matéria é má, então


se a matéria é má, como que Jesus poderia vir em carne? obviamente
isso que é humano não é bom e Ele não podia ter um corpo humano.
Docetismo vem de uma palavrinha do grego chamada δοκέω
[dok eō], " parecer" , ou seja, ele parecia humano, mas não era
humano. O gnosticismo tem essa cristologia docética.

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Formação em Teologia

Heresias: Ebionismo

O ebionismo, já no primeiro século, negava a pré-ex istência.


Jesus não ex istiu sempre, ele começou a ex istir em um determinado
momento, a ideia de que quando ele foi batizado começou a ex istir.
Ainda tem muita igreja em nossos dias que defende um pouco essa
ideia ebionista, de que Jesus se tornou Deus, que ele recebeu o
Espírito Santo e nesse momento é que ele se conscientiza que é o
messias.

Você verá alguns pastores passeando por esse território


justamente por não saber. Por isso que eu gosto muito da pergunta e
repito “ Se você não conhece uma boa teologia, de que Cristo você
está falando?” Num Cristo que parece homem, de um Cristo que
parece Deus, em um Cristo que a natureza humana e a divina são
confusas.

No pensamento ebionista Jesus era um profeta ex traordinário,


conforme vimos na primeira fala de C.S. Lewis, quando falamos de
teologia da libertação, é possível o mesmo raciocínio. Você está
falando de alguém que é ex traordinário, mas não é Deus, é alguém
muito legal, muito bacana, mas ex iste essa diminuição do lado divino
de Jesus Cristo.

Heresias: Nestorianismo

Nestor era um bispo, pastor, um líder local da igreja em


Constantinopla. Nestor tem uma ideia muito interessante que Jesus
Cristo fosse super habitado, é humano, mas é como se recebesse
uma mega energia espiritual. Era um humano tão cheio de espírito
que Ele fez o que fez.

117
Formação em Teologia

Em 451 questionaram Nestor, pois ele tentava ex plicar as


naturezas de Cristo como se Ele fosse ''O Incrível Hulk '', a qualquer
momento surge uma natureza dentro de Jesus que ele virava mesmo
divino, era uma coisa meio sem controle, uma natureza atropelava
outra. Uma hora ele era Bruce Banner, outra hora ele era Hulk , uma
hora ele era homem, outra era Jesus. Estava muito mal resolvido
entre o que que era humano e o que era divino.

Ao longo dos séculos esse tipo de confusão foi muito comum.


Particularmente eu tenho muita dificuldade de acusar Nestor como
um charlatão. Ele era alguém que na sua época, ano de 428, que
assumiu a igreja e está tentando ex plicar, que estava tentando olhar
para trás, criando significados de que se Ele era Deus, era homem.
Nessa dificuldade, Nestor começa a ensinar mesmo não tendo
certeza e outras pessoas precisaram vir para ex plicar que Nestor
havia entendido errado.

Por isso a necessidade dos concílios e das reuniões daquela


época, são fundamentais para que a nossa fé cristã tenha sido
preservada ao longo desses séculos.

Heresias: Ceretianismo

Essa próx ima heresia defende a ideia de que Jesus Cristo ganhou
a divindade na imersão do batismo, mas na morte ele a perde. Ele não
foi sempre Deus e sempre homem, teve uma hora de ser homem e
teve uma hora de ser Deus.

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Formação em Teologia

Heresias: Apolinarismo

Apolinário defende que Jesus tinha um corpo físico, mas ele não
tinha uma mente humana. A ideia é como se Jesus fosse um folheado
de divindade, ele não é necessariamente as duas coisas, então ele é
um híbrido.

É difícil ver em Apolinário as duas naturezas de bem desenhadas.


Apolinário foi desmentido no Concílio de Constantinopla no ano de
381.

Heresias: Adocinismo

Aqui, se nega a divindade de Cristo. Jesus era alguém tão


submisso ao Pai que se tornou Cristo por essa obediência tão perfeita.
Muitos liberais de hoje usam essa ideia meio adocionista.

Heresias: Arianismo

Está na base do Concílio. Diácono de Alex andria, Ario defendia


que Ele era apenas uma criatura e não era um Deus.

Você perceberá um pêndulo de heresia para heresia, de


ensinamento para ensinamento, hora não sabendo como se
equaciona a questão da divindade, hora não sabendo como se
equaciona questão da humanidade. Vez após vez cada uma dessas
teorias falha.

Nós temos alguns documentos históricos que valem a pena


olhar, para que você se posicione, entenda mais um pouco sobre essa
questão das naturezas e de como essas heresias distorcem o
ensinamento bíblico da natureza de Cristo.

119
Formação em Teologia

No ano de 1529 foi publicado o Catecismo Menor. Vale a pena


você ler esses documentos para que você consiga basear a sua fé e
decidir em que Cristo Você acredita.

Vou ler um trecho deste Catecismo Menor, publicado em


1529: “ Eu creio que Jesus Cristo, verdadeiro Deus gerado
do Pai na Eternidade e também verdadeiro homem
nascido da virgem Maria, seja, meu Senhor, o qual
redimiu a mim, uma pessoa perdida e condenada,
adquiriu, recuperou de todo o pecado, da morte e do
controle do diabo[...]”

Cada uma das funções desses catecismos, são tentativas de


elaborar o mistério de um Cristo que é plenamente homem e um
Cristo que é plenamente Deus. Cuidado, por mais que isso seja um
discurso filosófico, deve-se ao fato esse período histórico era
composto de inúmeros pensadores filósofos bem-conceituados.
Roma domina a Grécia, mas os pensadores da época são herdeiros
dessa tradição da filosofia grega.

Essa filosofia grega presente no Império Romano é intrínseca à


vida cotidiana, pensar em filosofia era absolutamente comum. Para
alguém defender a sua fé naquela época faria uso da filosofia, seria o
equivalente a alguém usar o YouTube hoje para defender sua
posição. Se eu quero falar alguma coisa hoje, eu vou no YouTube e
gravo um vídeo e naquela época, se eu quisesse defender alguma
coisa, eu falava através da filosofia, isso é um dado cultural. Se eles
queriam se fazer entender, tinham que usar a linguagem da época.

120
Formação em Teologia

Então os catecismos (ensinos) foram aparecendo, os


documentos foram aparecendo, que tentaram definir acerca do
mistério, porque cada vez que uma dessas pessoas, um desses
homens tentava ex plicar, quem era Cristo, eles deformavam um lado
da natureza. Apesar dessa linguagem filosófica, é como se fosse uma
capa, uma proteção, para que o mistério de um Deus que é homem e
Deus, de um Jesus que é homem e Deus, permaneça intacto. Por mais
que tudo isso tenham um linguajar filosófico, é uma teologia
cristológica, é uma tentativa para não romper o mistério.

Enquanto se constrói esses discursos, estamos tentando evitar


que todas essas teorias acabem com o mistério da afirmação bíblica
que essa primeira geração não precisou se aprofundar. Todas as
gerações que lutaram, usaram esses argumentos filosóficos.

O próx imo documento que vou citar é a Confissão De Augsburgo,


de 1530. “ Ensinam outrossim que o Verbo, isto é, o Filho de Deus,
assumiu a natureza humana no seio da bem-aventurada Virgem
Maria. De sorte que há duas naturezas, a divina e a humana,
inseparavelmente conjungidas na unidade da pessoa, um só Cristo,
verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem, que, nascido da
Virgem Maria, veramente sofreu, foi crucificado, morreu e foi
sepultado.”

Esses documentos atestam, testificam a necessidade de


proteger esse significado maior do que significa um Cristo
encarnado. Se você quer se aprofundar na cristologia, vale a pena
separar um tempo e ler cada um desses artigos para que você se
familiarize com essa linguagem filosófica e a partir dela, você possa
traduzir para o tempo de hoje.

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Formação em Teologia

Um dos documentos mais conhecidos, mais famosos, é a


Confissão de Fé de Westminster, de 1646, muito usado pelos
presbiterianos até hoje. “ Aprouve a Deus, em Seu eterno propósito,
escolher e ordenar o Senhor Jesus, Seu Filho Unigênito, para ser o
Mediador entre Deus e o homem; o Profeta, o Sacerdote, o Rei e o
Cabeça e Salvador de Sua Igreja[..]”

Documento que vale a pena ler, de 1647, o breve Catecismo Na


Assembleia De Westminster, que são documentos fantásticos,
fabulosos, não tem como não os estudar se queremos aprofundar
esse assunto. Por favor, vença o desafio de uma linguagem cansativa
filosófica e se aprofunde nestes documentos.

Quando se está pensando nessa formulação clássica, nesse


raciocínio filosófico, afirmamos que Cristo é verdadeiramente

Deus, Cristo é verdadeiramente humano, Cristo é uma só


pessoa. “ Há nele duas naturezas, divina e humana, claramente
distintas e substancialmente diferentes, mas inconfundíveis e
imutáveis, indivisíveis e inseparáveis” . Louis Berk hof.

Hoje, ao falar sobre isso na igreja, resumimos séculos e séculos e


séculos e séculos de história e debates, de gente que morreu, gente
que sofreu, gente que defendeu isso com a própria vida, com a frase
dizendo que Jesus foi 100% homem e Jesus Cristo foi 100% Deus. No
púlpito, passamos pela cristologia e afirmamos o consenso que
Jesus Cristo, por ser um mistério, era 100% homem e 100% Deus, essa
é a formulação clássica.

➔ Católicos X Protestantes: Vivemos no Brasil o clima de anti


protestantismo e anti catolicismo. Ainda se vê muito quem é católico

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Formação em Teologia

ser antiprotestante ou anti evangélico e vice-versa, com esse


raciocínio de ser contra mais do que se é a favor as suas próprias
crenças. Ex istem muitas coisas que separam essas duas linhas de
pensamento, mas quando se fala de fé cristã, há um ponto de
interseção entre catolicismo e protestantismo e visivelmente ambos
tentam negar que esse ponto ex iste. Quando um católico está
negando isso, ele desconhece a história, quando o protestante está
falando isso, ele também desconhece a história, porque ex iste um
pacote filosófico que a igreja sempre defendeu. Isso se deve então a
natureza o conceito que foi defendido pela igreja no ano de 381.

Concílios

O concílio da Calcedônia, criado pelo Imperador chamado


Marciano, tinha um objetivo político. O imperador não era religioso,
mas percebeu que as igrejas estavam com algumas divergências e
reuniu a liderança, os bispos da época com o objetivo de organizar a
crença para igreja não rachar. O concílio nasce da preocupação de
um político que não quer ver o seu Reino dividido porque isso seria
pior para ele, Marciano reúne este concílio para colocar em pratos
limpos e saber o que a Igreja Cristã crê.

Esse Concílio foi muito importante pois organizou essas


controvérsias que foram formuladas no primeiro concílio de Nicéia,
onde pela primeira vez se foi debatido sobre as duas ideias: homem,
Deus. Jesus Cristo tem essas duas naturezas.

A resolução desses concílios é muito importante porque definem


a fronteira do que iremos crer. Você pode não saber, mas a sua fé de
acreditar no Jesus Cristo é respaldo desses Concílios.

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Formação em Teologia

Vou ler esse tex to a respeito da sistematização do pensamento


cristológico no concílio de Niceia e confirmado no concílio de
Constantinopla: “ O unigênito Filho de Deus, gerado pelo Pai antes de
todos os séculos, Deus de Deus, Luz da Luz, verdadeiro Deus de
verdadeiro Deus, gerado não criado, de uma só substância com o Pai;
pelo qual todas as coisas foram feitas; Esse mesmo senhor Jesus
Cristo por nós homens e por nossa salvação, desceu dos céus, foi feito
carne pelo Espírito Santo da Virgem Maria tornou-se homem.”

Em Calcedônia, 451, essa ideia é ex pandida um pouco, mas a


base continua a mesma. Acompanhe comigo parte do tex to: “ Um só
e mesmo Cristo, Filho, Senhor, Unigênito, que se deve confessar, em
duas naturezas, inconfundíveis e imutáveis, inseparáveis e
indivisíveis; a distinção das naturezas de modo algum é anulada pela
união, antes é preservada a propriedade de cada natureza,
concorrendo para formar uma só pessoa e em uma subsistência; não
separado nem dividido em duas pessoas. Mas um só e mesmo Filho
Unigênito, Deus Verbo, Jesus Cristo Senhor”

Esses três concílios definem o conceito filosófico do pensamento,


organizaram sistematicamente, filosoficamente, o tempo que se
discutia sobre essas questões.

Seja qual for seguimento da igreja, pode ser ortodox a, pode ser a
católica, pode ser protestante, todos nós viemos desse mesmo ponto.
Não tem como ser cristão e rasgar esses três concílios.

A igreja de Antioquia dá uma ênfase para falar sobre as


naturezas, logo, quando você fala de natureza está falando de
natureza humana de natureza Divina. A igreja de Alex andria dava
ênfase de falar sobre a pessoa e quando estamos falando de pessoa

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Formação em Teologia

hoje, dizemos que só ex iste uma pessoa, uma pessoa e duas


naturezas.

Esse é o mistério que a primeira geração nunca teve que


ex emplificar para ninguém, já as próx imas gerações tinham que
ex plicar para as pessoas que ex iste um ser transcendental, Deus o
nosso Deus, que é uma pessoa só, mas tem duas naturezas.

➔ Questionamentos: Há alguma coisa da natureza Divina que


passa para humana e vice-versa? Elas se comunicam, será que
ex iste alguma coisa do divino que fica marcado para o humano?
quando eles estão colocados juntos no mesmo corpo, o que
acontece?

Cristologia é pensar como que eu administro essas duas


naturezas dentro de uma pessoa só. O estudo da cristologia é um
estudo que gasta tempo e temos uma quantidade de raciocínios e
argumentos para ex plicar o mistério, o que não é uma tarefa fácil ou
simples.

A pergunta que eu faço é: o que se comunica do humano com


divino? o que não se comunica? Sabemos que ex iste coisas em Deus
que estão só em Deus, um homem é muito pequeno para abrigar em
si tudo que há em Deus, mas sabemos que há alguma coisa que está
se comunicando. O estudo da cristologia nos leva a saber o que se
comunica e o que não se comunica.

Ao longo de todos esses séculos a igreja defendeu a sua posição,


por isso mencionei os documentos, dos concílios, eles sintetizam

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Formação em Teologia

tudo o que a igreja definiu sobre esse assunto. É importante ler, é


importante conhecer o que a Igreja defendeu.

Terminarei citando um puritano, John Owen. Em 1500, ele


levanta uma polêmica muito interessante, se estamos pensando de
uma pessoa que tem duas naturezas, consequentemente estamos
pensando em alguém que tem duas vontades, dois conhecimentos, e
duas outras coisas.

A seguir veremos tex tos referentes a isso, que diz que Jesus é
chamado de bom e Ele diz eu não sou bom, o Pai é bom. Ou quando
Jesus é confrontado e Ele disse: eu não sei a hora só o Pai sabe.
Tentaremos fazer encaix e final de como essas naturezas estão
conversando entre si e, se ex iste uma vontade humana e se ex iste
uma vontade divina, elas estão ali dentro do nosso salvador e elas
conversam.

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Formação em Teologia

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Formação em Teologia

CRISTOLOGIA - PARTE IV

Introdução

Aqui finalizamos nossos estudos sobre Cristologia, ex plorando


as relações da natureza de Cristo.

União Hipostática

Na teologia, a união dessas duas naturezas é chamada de União


hipostática. Podemos vê la em João 1: 14 ou Romanos 1: 2 – 5;
filipenses 2- 6; 11: 1; Timóteo 13: 16; Hebreus 2: 14, a ideia de que essa
união entre as duas naturezas não é desfeita após a ressurreição,
essa união que começa no Nascimento. Note que quando Cristo
ressuscita, ele ressuscita em um corpo. Tão misteriosamente o Cristo
ressurreto ainda é um homem e continua sendo Deus que Ele sempre
foi.

Quando se fala de União das duas naturezas, precisamos


entender que não ex iste uma independência no sentido de que ele
atua ora como um homem, ora com Deus, as duas coisas estão
funcionando ao mesmo tempo, mas o seu lado divino acaba se
limitando, ele acaba concedendo.

Lembra quando conversamos sobre a dependência do homem


ao Espírito Santo? Como homem ele tinha um conhecimento limitado,
mas como Deus Ele tinha conhecimento ilimitado. Essas duas
realidades estão ali dentro desse mistério cristológico que não se
consegue ex plicar, então uma boa cristologia precisa ser uma
cristologia que mantém o mistério, não acaba com ele. Cada uma
das heresias destruiu esse mistério, por isso foram rejeitadas.

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Formação em Teologia

Jesus não deix ou de ser Deus, então ele se limita não porque ele
não pode, mas porque ele quer, é um ato voluntário para que as duas
naturezas estejam funcionando ao mesmo tempo.

Temos alguns tex tos que justamente vão trabalhar essa ideia
por ex emplo: “ Jesus não é Deus porque ex istem coisas que ele não
sabia e Jesus disse ser inferior ao Pai logo não pode ser Deus.” As
pessoas usam esse tipo de tex to para tentar negar uma coisa ou
outra.

“Deus nunca foi visto por alguém, o filho foi logo ele não
pode ser Deus, como filho pode ser Deus visto que a
Bíblia diz que Deus é o cabeça de Cristo, Jesus não pode
ser Deus porque é chamado na Bíblia de o primogênito
da criação de Deus, Jesus não é Deus porque ele mesmo
disse que ninguém é bom senão o Pai.”

Quando lemos esses tex tos e a nossa cristologia está fraca, está
frágil, somos tentados a fazer um posicionamento entre humanidade
e divindade, mas a Bíblia vai afirmar as duas coisas.

Embora eu não consiga ex plicar com clareza e perfeição, vemos


essas duas coisas de um Deus que se revela através da pessoa de
Jesus Cristo, mas também de um homem que se revela. Esse homem
é um homem perfeito, não é um homem em um estado pecaminoso.
Não estamos falando de um homem pecador, mas de um homem
sem culpa, sem mágoa, sem dolo.

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Formação em Teologia

➔ Não se confunda: Esses tex tos não devem servir para


confundir, mas simplesmente ilustram que as duas naturezas estão
presentes. A Bíblia trabalha com a linguagem do paradox o e tirar o
paradox o da Bíblia, tendemos a pender só para um lado. Um tex to
simples que eu gosto de ver, quando a Bíblia diz que Deus não é
homem para se arrepender e após algumas páginas, diz que Deus se
arrependeu. A bíblia o tempo todo está usando linguagem paradox al,
precisamos tomar muito cuidado ao ler o tex to bíblico para não
arrancar o paradox o, não arrancar o mistério da Bíblia.

A Bíblia afirma a natureza humana de Jesus e a natureza Divina


de Jesus, como conciliar, esse o mistério. O tex to bíblico traz as duas
coisas para nossa fé e o esforço daqueles homens no passado precisa
continuar sendo o nosso esforço, de manter esse mistério vivo um
Deus 100% homem 100% Cristo.

Cristo, a Lei e o Evangelho

Usarei o tex to de Gálatas Capítulo 2 Versículo 19 e uma figura de


três casamentos e um funeral para imaginar como Cristo se
relaciona com o evangelho, como se Cristo se relaciona com a lei. O
ser humano pode estar em uma dessas três categorias:

1ª Categoria: casado consigo mesmo:

Esse ser humano está casado consigo, curiosamente a Bíblia diz


que esse homem está vivo, mas a lei está morta, o seu
relacionamento com Deus está morto apesar desse homem se
perceber como alguém vivo. Essa é a primeira possibilidade, primeiro

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Formação em Teologia

cenário de um ser humano na sua relação espiritual, alguém que está


casado com sua própria vontade, com a sua própria liberdade, com
a sua própria fé em si mesmo.

2ª categoria: casado com a Lei:

Paulo vai dizer que quando a lei me acorda e eu percebo a cobiça


eu morro, a lei mata minha consciência porque começo a sentir
culpa, eu começo a perceber que não consigo cumprir tudo que eu
preciso. Romanos 7 Versículo 10, Paulo fala de uma forma muito
específica, muito precisa de que, vindo a lei, revive o pecado.

Curiosamente quando a lei entra, o pecado fica vivo. Paulo


falando aos Gálatas, chega dizer que enquanto eu estiver vivo para
lei, sou sujeito debaix o da autoridade da Lei, como se fosse um
marido ogro, bem severo e o ser humano estivesse debaix o dessa
autoridade desse marido severo que oprime, mas ao mesmo tempo
traz uma consciência do que é certo e o que é errado.

Em Lucas 6 Versículo 11, também temos a ideia justamente dessa


relação de morte de vida, de Lei e evangelho. Note que no evangelho,
Jesus vem para cumprir a lei e acaba com a necessidade de eu estar
subordinada lei e nesse sentido, agora eu estou livre para um terceiro
casamento.

3ª Categoria: casado com Cristo:

Morrer para lei não é desvalorizar a lei, ou ficar acima da Lei,


dizendo que ela é desnecessária. Estar morto para lei para estar vivo
para Deus, significa entender o sacrifício que Jesus fez por nós.

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Formação em Teologia

Quando Jesus vem, é necessário um funeral que eu morro para lei,


pois Jesus vem cumprir a lei e me desobriga desse segundo marido.

Agora eu estou casado com Cristo. No sentido espiritual, é


impossível poligamia. Ou você está casado com você mesmo, ou
você está casado com a lei ou você está casado com Cristo, não tem
como você estar casado com mais de uma coisa ao mesmo tempo.

O Casamento na Prática

Infelizmente temos dentro das igrejas muito esse pensamento


da culpa, dos diversos " não pode" . Aos olhos do livro de Gálatas, esse
é o casamento da lei, essas pessoas que são presas, estão dentro da
igreja porque estão casados com a Lei e a Bíblia ex plica isso de uma
forma bem clara, é impossível estar vivo para Deus e vivo pra lei. Ou
você está vivo para um ou você está vivo para outro.

Em algumas posturas ex tremamente religiosas, é notório de


entender que a obra e o sacrifício de Cristo ainda não troux eram
liberdade para vida dessas pessoas. Como falei, morrer para lei não
significa desvalorizar, desonrar ou se sentir acima, significa entender
que a única possibilidade de salvação está no nosso casamento com
Cristo e não tem como estar casado com a lei e casado com Cristo ao
mesmo tempo. Por isso que eu preciso tomar a minha Cruz a cada dia
para seguir a Cristo, porque a minha morte significa minha vida, a
morte de Cristo significa uma nova vida em Cristo Jesus.

➔ Preocupação pastoral: Pensando pastoralmente nessa


conversa, é muito importante que você perceba onde você está,

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Formação em Teologia

porque Jesus Cristo veio para redefinir a ligação do ser humano com
a sua história e em um desses três pontos você se encaix a.

O Logos

João apresenta Jesus Cristo como Logos. No prefácio do


Evangelho de João, o conceito de Logos, do grego, trazia a ideia de que
Logos era a causa, o que organizava a vida, o que colocava as coisas
em seu devido lugar. É muito importante que João está usando um
conceito filosófico da época, quando se falava em Logos a um grego,
ele entendia.

Logos era o motor do universo, era o que organizava, o que


sustentavam universo, eles usavam esse termo na conversa dos
intelectuais, dos inteligentes, eles usavam essa palavra para
ex plicar a vida, de onde viemos e para onde vamos. Quando João
está ex plicando para igreja quem é Jesus, ele usa um conceito que já
ex iste daquilo que organiza, isso é muito importante. O conceito
grego dessa organização, da sustentação é organizado pela palavra,
pela palavra em ação ou palavra em movimento.

João curiosamente em vez de destruir essa filosofia, a usa para


ex plicar quem é Jesus. Ele conseguiu olhar para dentro da cultura,
pegou um elemento da cultura de que eles percebem que ex iste algo
que organiza tudo e esse algo, tem a ver com que é dito, com a
palavra que é falada e cada vez que isso é dito as coisas vão para o
lugar, como se fosse um pai falando e os filhos obedecendo. João
identifica Jesus como o verbo, o verbo que sempre ex istiu, o verbo
que é o próprio Deus.

João faz duas afirmações poderosíssimas o Logos era e o Logos


estava. João entende o mistério que precisamos continuar

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Formação em Teologia

ex plicando por gerações sem fim. João está afirmando que Jesus é o
próprio Deus, mas João está dizendo que, apesar de ele ser o próprio
Deus, ele estava com Deus. Aqui já está se desenhando a trindade.
João continua dizendo que esse Logos que estava com Deus, que era
com Deus, mas que ex iste uma distinção entre as duas coisas. Esse
que era Deus, que estava com Deus, se fez carne, fez um tabernáculo,
uma tenda, uma habitação entre nós, para morar conosco, para
podermos ver a sua luz e a sua glória.

A afirmação de João é muito importante para a cristologia,


porque ele afirma que o Logos, a palavra era Deus estava com Deus,
essa palavra virou carne e veio trazer a luz, ela veio trazer salvação.
impossível pensar em cristologia, sem pensar nessa afirmação de
João. Impossível pensar em Jesus Cristo e não pensar no Logos, na
palavra.

Quanto mais se quiser conhecer sobre quem é o Cristo, mais se


precisa ser humilde, para enx ergar o Cristo que se revela na palavra.
A revelação que Cristo nos deu através dos Apóstolos, deu através da
igreja, deu através da história, é fundamentada, baseada na palavra.

O Cristo da bíblia é um Cristo da palavra, então quando você


começa a construir outros cristos que tem a ver com a sua vontade,
que tem a ver com as suas necessidades, cuidado. Na igreja cristã, o
Cristo se conhece a partir da palavra, pode haver vários cristos, mas
ex iste um Cristo de sara, liberta, cura e salva. Esse Cristo é o Logos
encarnado.

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