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Disciplina |

Apresentação

CRISTOLOGIA, ANTROPOLOGIA
TEOLÓGICA E HAMARTIOLOGIA

UNIDADE 2
ANTROPOLOGIA TEOLÓGICA: A DOUTRINA DO
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SER HUMANO
Antropologia Teológica: A Doutrina do Ser Humano |

Sumário

Sumário
Sumário ----------------------------------------------------------------------------------------------------- 2
Apresentação ---------------------------------------------------------------------------------------------- 3
1 Imagem de Deus no Ser Humano --------------------------------------------------------------- 4
2 Natureza Humana na Tradição Bíblica e Histórica ----------------------------------------- 5
3 Dignidade e Valor do Ser Humano -------------------------------------------------------------- 7
4 Relações Humanas e Sexualidade na Perspectiva Teológica ---------------------------- 8
5 Referências ------------------------------------------------------------------------------------------- 12

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Antropologia Teológica: A Doutrina do Ser Humano |

Apresentação

Apresentação
A unidade de Antropologia Teológica se dedica a explorar a compreensão
teológica da natureza e dignidade do ser humano. Começamos nosso estudo com a
"Imagem de Deus no Ser Humano", uma investigação profunda sobre como a teologia
percebe a humanidade refletindo a divindade. Esta unidade proporciona uma base
fundamental para toda a nossa jornada, estabelecendo um elo intrínseco entre a
divindade e a humanidade.

Avançamos para uma análise da "Natureza Humana na Tradição Bíblica e


Histórica", onde nos aprofundamos na evolução do pensamento teológico ao longo
das eras. Esta seção não apenas nos oferece uma visão do desenvolvimento histórico
da compreensão da natureza humana, mas também destaca a interação contínua
entre a teologia e o contexto histórico-cultural em que foi formulada.

À medida que aprofundamos nossa compreensão, passamos para o estudo da


"Dignidade e Valor do Ser Humano". Aqui, examinamos as múltiplas facetas da
dignidade humana sob a ótica teológica, analisando como a crença na sacralidade da
vida humana influencia a ética, a moral e as interações sociais. Este módulo serve como
um lembrete constante da importância inerente de cada indivíduo e do respeito que
cada vida merece.

Abordaremos as "Relações Humanas e Sexualidade na Perspectiva Teológica".


Nesta unidade, discutiremos a complexidade das relações humanas e a sexualidade,
sempre buscando entender como a teologia informa, interpreta e orienta esses
aspectos fundamentais da experiência humana. Através desta disciplina, os estudantes
são convidados a refletir profundamente sobre a essência do ser humano, sua relação
com o divino e o papel da teologia na formação de uma compreensão holística da
humanidade.

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Imagem de Deus no Ser Humano

1 Imagem de Deus no Ser Humano


No fim da criação divina, Deus proclamou:

Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança. Domine


ele sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre os grandes animais
de toda a terra e sobre todos os pequenos animais que se movem rente ao
chão.

(Gênesis 1, 26)

E com um carinho especial, formou o homem da terra, insuflando nele vida


através de Seu sopro divino (Gênesis 2, 7). Assim, o ser humano se destaca na obra
divina, possuindo uma dimensão física (corpo) e uma espiritual (alma/espírito). De
maneira simplificada, ser à imagem e semelhança de Deus sugere que fomos
moldados à Sua igualdade. Adão não era uma cópia física de Deus, pois Deus é
incorpóreo. O versículo "Deus é espírito" (João 4, 24) ressalta essa natureza. Contudo,
Adão refletia o vigor divino, sendo concebido em plenitude e imune à finitude.

Essa figura divina se manifesta na dimensão espiritual do ser humano. Distingue-


nos dos demais seres, eleva-nos à responsabilidade dada por Deus (Gênesis 1, 28) e
permite nossa conexão direta com Ele. Somos espelhos da inteligência, da ética e da
sociabilidade divinas.

Deus os abençoou e lhes disse: "Sejam férteis e multipliquem-se! Encham e


subjuguem a terra! Dominem sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu e
sobre todos os animais que se movem pela terra".

(Gêneses 1, 28)

No aspecto intelectual, fomos dotados de raciocínio e livre arbítrio, características


que espelham a sabedoria e autonomia divinas. Cada ato criativo, seja ao compor,
calcular, ou nomear, ecoa nosso desígnio divino. Eticamente, fomos concebidos na
retidão e pureza, reflexos da perfeição divina. Nosso senso moral atesta essa origem,
e sempre que promulgamos leis, repudiamos o erro ou celebramos a virtude,
reverberamos essa natureza singular.

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Natureza Humana na Tradição Bíblica e Histórica

No âmbito social, a busca por conexões reflete o amor e a trindade divina. A


primeira interação de Adão foi com Deus, e a criação de Eva refletia a premissa de que
"Não é bom que o homem esteja só; farei para ele al-guém que o auxilie e lhe
corresponda" (Gênesis 2, 18). Nossas relações interpessoais reafirmam essa herança
divina.

Ser moldado à figura divina também conferiu a Adão o dom da escolha. Apesar
de sua natureza íntegra, ele optou pelo desafio à vontade divina, obscurecendo essa
essência em si e nas gerações subsequentes (Romanos 5, 12). Hoje, essa essência
persiste, embora entrelaçada com as marcas da falibilidade. Em diversos aspectos,
evidenciamos essa dualidade. A grande mensagem é que ao redimir um ser, Deus
inicia o processo de reavivar sua essência original, moldando-o novamente em
verdadeira retidão e pureza (Efésios 4:24; também em Colossenses 3:10).

2 Natureza Humana na Tradição Bíblica e Histórica


O ser humano, conforme ensinam as Sagradas Escrituras, é um ser de comunhão
e, ao contrário de mero entendimento através de preceitos ou doutrinas, o
conhecimento humano se realiza pela verdade original que molda sua história de vida.
Essa compreensão provém da constante relação com Deus, sendo que a busca pela
comunhão com Ele é essencial para a vocação humana. O ser humano está sempre
em evolução, crescendo e desenvolvendo-se de maneira que se permite envolver pelo
Espírito de Deus, e este crescimento e desenvolvimento são tão significativos que o
sexto dia da criação indica a plenitude do ser humano, enquanto o sétimo dia ilustra
o caminho contínuo de realização humana. Esta jornada de realização é uma
celebração, pois, para o ser humano, a vida tem um propósito vital: ser em comunhão,
amar e ser amado.

As Sagradas Escrituras revelam a essência mais profunda do ser humano,


proporcionando uma compreensão de sua identidade e do caminho que a
humanidade deve seguir. Sem esta identidade, a humanidade se perde e autodestrói,
como visto nas histórias de Adão e Eva, e mais tarde de Caim e Abel. Em oposição a
essa autodestruição, a Bíblia nos ensina que o ser humano foi criado para comunhão.
Somos criados à imagem de Deus, que é, em Sua essência, um Ser de comunhão, que
cria e recria em um estado de comunhão perpétua.

De acordo com a visão bíblica, o ser humano se realiza através de uma relação
autêntica de comunicação, sendo esta tão poderosa que pode criar e recriar. No

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Natureza Humana na Tradição Bíblica e Histórica

núcleo desta relação está o amor, que nas Escrituras é descrito como a verdadeira
comunicação entre dois seres. A Bíblia nos mostra que Deus cria através da palavra e
que o ser humano, criado à Sua imagem, só se realiza verdadeiramente em comunhão
e através dela. Em Adão e Eva, percebemos a singularidade e a capacidade de
comunicação entre os seres humanos, que é inspirada pelo Espírito de Deus.

As Sagradas Escrituras, ainda, nos ensinam que macho e fêmea são criados para
completar-se mutuamente em suas diferenças. Estas diferenças não são meramente
biológicas, mas essenciais para a evolução e plenitude do ser humano. A importância
desta alteridade é sublinhada pelos termos hebraicos para macho e fêmea, que nos
remetem à memória, identidade e à dinâmica da aprendizagem e da transmissão de
geração em geração.

O ser humano, em sua essência, é marcado pela igualdade. Eva e Adão, embora
se destaquem em sua alteridade, carregam em si a mesma humanidade. Ambos, em
sua essência, recebem de Deus a mesma dignidade, que não é, senão, um reflexo da
dignidade divina que os cria, manifestada na expressão sublime da natureza de Deus,
que é plenamente comunhão, respeito e amor criador. Assim, qualquer tema que
sugira diferença, hierarquia ou sexismo está além do projeto original de Deus para a
humanidade.

Deus criou e continua a recriar o ser humano, masculino e feminino, sem


estabelecer diferenças de valor ou importância entre eles. Nesta perspectiva, a
masculinidade e a feminilidade, em suas particularidades, são incomparáveis, não
havendo hierarquia ou grandeza entre eles. A verdadeira grandeza de um não diminui
a do outro; ao contrário, um completa e se realiza no outro. Este reconhecimento da
dignidade intrínseca do outro reflete a dignidade que carregamos em nós mesmos, e
essa reciprocidade enriquece nossa humanidade. Com Adão e Eva, Deus estabeleceu
a fundação para seu projeto criativo, em que todos os seres humanos são irmãos em
uma família, sem discriminação. O ser humano possui o poder de conhecer e ser livre,
e é nessa liberdade que encontra a dimensão mais profunda de seu ser. Tal liberdade
se traduz na capacidade de reconhecer o valor próprio e o do próximo.

A narrativa bíblica ressalta a complementaridade entre masculino e feminino. Eva,


cujo nome significa vida, é vista como a mãe de todos os seres vivos, enquanto Adão,
associado à terra, demonstra a natureza geradora da humanidade. Juntos, eles
representam a plenitude da criação humana, destacando a essência complementar de
masculino e feminino. A capacidade de gerar, presente na união de ambos, excede a
simples biologia e ressoa nas dimensões mais profundas da existência humana.

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Dignidade e Valor do Ser Humano

O ser humano, conforme retratado nas Escrituras, é essencialmente sagrado. Ele


não é um ser isolado, mas sim, por natureza, um ser transcendente, integrado em um
tecido social e, sobretudo, em relação com o Divino. Esta transcendência implica em
uma abertura constante para o outro e para Deus, permitindo um desenvolvimento e
crescimento contínuos. A sacralidade do ser humano é, portanto, destacada na
chamada unicidade e realização plena, sempre em sintonia com a abertura ao
transcendente e ao Criador, que constantemente o molda.

3 Dignidade e Valor do Ser Humano


Para nós, cristãos, a dignidade não se limita a uma reflexão filosófica, mas é
também teológica. Nas duas narrativas bíblicas da criação, a dignidade humana
aparece intrinsecamente ligada ao Criador. Na primeira, o ser humano, tanto o homem
quanto a mulher, são descritos como o ápice da criação, com apenas Deus acima
deles; na segunda, o ser humano é retratado como o centro da criação, responsável
por proteger tudo o que foi criado.

A Bíblia, portanto, oferece uma perspectiva democratizante sobre a imagem de


Deus, algo que, no antigo Oriente, era exclusivamente associado a imperadores, reis
e faraós, que eram venerados como divindades encarnadas. Segundo as escrituras,
todas as pessoas são feitas à "imagem” e "semelhança" de Deus, e daí surge sua
proeminente dignidade. Quando se fala em "imagem", muitos de nós interpretam isso
como uma representação externa. Assim como ao nos olharmos no espelho, a
percepção parte do observador para a imagem refletida. No entanto, no contexto
bíblico oriental, a ideia é justamente o oposto: Deus observa o ser humano e
reconhece sua imagem nele.

Este conceito de dignidade foi enfatizado pelo Papa João Paulo II na encíclica
Centesimus Annus. Ele destacou que, embora os seres humanos sejam
intrinsecamente dignos por design divino, essa dignidade pode ser realçada ou
suprimida dependendo das condições sociais, da educação recebida e do ambiente
em que vivem. E é precisamente esta compreensão que motiva o compromisso social
cristão de transformar estruturas sociais injustas, garantindo que a dignidade de todos
seja respeitada e preservada.

Hoje, contudo, essa dignidade é frequentemente menosprezada. Vemos


imigrantes, escapando dos terrores da guerra e da fome, perdendo suas vidas no mar
em busca de melhores oportunidades, ou sendo impedidos de entrar na Europa.

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Relações Humanas e Sexualidade na Perspectiva Teológica

Ainda, na situação em que os Estados Unidos optem por erguer um muro para se
separar do México e endureçam suas políticas de imigração. O contraste de crianças
e idosos marcados pela pobreza, vivendo ao lado de extravagantes riquezas, bem
como as discriminações sofridas por indivíduos devido à cor, origem ou status social,
são dolorosas manifestações dessas injustiças.

Porém, com base nessa profunda compreensão da dignidade humana, o


cristianismo pode servir como uma luz de esperança. Sua influência na sociedade pode
transformar estruturas de opressão em sistemas mais humanizados, promovendo um
desenvolvimento integral, libertando indivíduos de quaisquer constrangimentos que
manchem sua inerente dignidade.

4 Relações Humanas e Sexualidade na Perspectiva Teológica


As percepções e valores da sociedade em relação ao sexo têm oscilado entre dois
extremos ao longo dos séculos, revelando uma complexidade inerente à forma como
o indivíduo contextualiza a própria sexualidade no seio da sociedade. No período
vitoriano, a busca era por um amor desprovido de conotações sexuais, enquanto hoje,
muitos almejam um sexo que não seja acompanhado de emoções profundas ou
compromissos amorosos. Estas transições, por vezes drásticas, dos ideais sociais em
relação ao sexo, levantam questões sobre a verdadeira natureza da conexão entre
amor e desejo e sobre o papel que a sexualidade desempenha em nossa identidade e
bem-estar.

Estas evoluções nas atitudes em relação ao sexo não são apenas reflexos de
mudanças culturais, mas também estão profundamente entrelaçadas com questões
de moral e espiritualidade. Enquanto uma visão mais puritana retrata o sexo como
uma necessidade restrita à procriação, a modernidade, muitas vezes, o vê como uma
forma de lazer desprovida de significado emocional profundo. Tais perspectivas
extremas não só moldam comportamentos, mas também influenciam a satisfação e a
percepção individual sobre o ato em si. Dentro desse contexto, torna-se imperativo
refletir sobre a orientação que a Sagrada Escritura oferece a respeito da sexualidade e
de como os fiéis podem encontrar um equilíbrio na relação com o sexo.

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Relações Humanas e Sexualidade na Perspectiva Teológica

A Bíblia, em sua sabedoria atemporal, proporciona um olhar profundo sobre a


natureza da sexualidade humana. Em Gênesis 1, 27, somos introduzidos à ideia de que
"Criou Deus o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os
criou." Este versículo não apenas estabelece a dualidade de gênero, mas sugere que
ela é uma expressão divina da criação. Esta noção é fortalecida pela declaração
subsequente de Deus sobre a humanidade ser "muito boa", indicando que a distinção
de gênero é uma parte essencial e intrinsecamente boa da criação divina.

Gênesis 2, 24 leva essa compreensão um passo adiante, explicando a


profundidade da relação entre um homem e uma mulher: "Por essa razão, o homem
deixará pai e mãe e se unirá à sua mulher, e eles se tornarão uma só carne." Aqui, a
ideia de “uma só carne” representa a integração não apenas física, mas também
emocional, espiritual e mental que ocorre entre um casal. A sexualidade, dentro deste
contexto, torna-se a expressão mais elevada dessa união, sendo algo distinto e
singular em relação a outros relacionamentos humanos, destacando a profundidade
e exclusividade da conexão conjugal.

Ademais, o ato da relação sexual oferece aos parceiros uma oportunidade de se


conhecerem de uma forma que transcende a simples conexão física. De acordo com
as Escrituras, o sexo é frequentemente referido como "conhecer", uma linguagem que
também é usada para descrever o relacionamento profundo do homem com Deus.
Este paralelo sugere que, assim como a busca espiritual é uma jornada de descoberta
e compreensão, a relação sexual, quando vivenciada em seu sentido mais profundo e
verdadeiro, é uma revelação mútua, onde ambos os parceiros se abrem
completamente, compartilhando a expressão mais íntima de seu amor e
compromisso.

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Relações Humanas e Sexualidade na Perspectiva Teológica

Ainda, a Bíblia enfatiza a sacralidade do ato sexual dentro do contexto do


casamento, ressaltando que esse ato representa a relação mais íntima entre seres
humanos. Assim, o sexo sem o compromisso e a proteção do casamento é visto como
uma forma de imoralidade, baseando-se na ideia de que o sexo casual, seja por
diversão ou fins comerciais, não reflete a profundidade e a devoção que o sexo deve
simbolizar. São Paulo, em suas cartas, destaca a gravidade da imoralidade sexual,
mencionando que é um pecado que afeta o corpo e a alma de maneira única,
diferentemente de outros pecados. Embora pecados como a gula ou a embriaguez
possam ter consequências para o corpo, a imoralidade sexual tem um impacto
duradouro na personalidade de alguém.

Outra preocupação é a maneira como o sexo casual pode desvalorizar uma


pessoa, reduzindo-a a um objeto. Esta desvalorização pode levar a sentimentos de
exploração ou trauma, afetando a capacidade de uma pessoa de se envolver em
relações significativas no futuro. Mesmo no caso de noivos, a Bíblia orienta a
abstenção do ato sexual até o casamento, para preservar o compromisso e a
integridade da relação.

A moral cristã tem enfrentado desafios, principalmente no que tange à


sexualidade fora do casamento. Enquanto a sociedade moderna pode renomear ou
recontextualizar atos como a fornicação ou o adultério, a visão bíblica permanece clara
sobre sua condenação. Os argumentos que sugerem que o "amor justifica tudo",
inclusive o sexo pré-marital, são vistos como reducionistas, uma vez que simplificam
o ato sexual a uma experiência meramente física, desprovida do comprometimento e
da profundidade que deveria caracterizá-la.

Então, a perspectiva cristã sobre sexo é multifacetada, englobando tanto a


procriação quanto a relação interpessoal. Historicamente, o propósito da procriação
presente no ato sexual era amplamente enfatizado, porém, ao longo do tempo, o
aspecto relacional e unificador do sexo ganhou destaque. A Bíblia reconhece ambas
as funções do sexo e enfatiza a necessidade de equilíbrio entre elas. A visão bíblica
celebra o sexo como uma dádiva divina, reservada para ser desfrutada dentro dos
limites do casamento. O apóstolo Paulo, em suas cartas, incentiva casais a respeitarem
seus deveres conjugais, sublinhando que eles devem priorizar as necessidades um do
outro.

Por fim, a Escritura destaca que a união sexual não apenas cria uma ligação
misteriosa entre os parceiros, mas também abre caminho para o nascimento de novas
vidas. A instrução do Gênesis ressalta: "Deus os abençoou e lhes disse: ‘Sejam férteis

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Relações Humanas e Sexualidade na Perspectiva Teológica

e multipliquem-se![...]" (Gênesis 1, 28). Ainda que existam casais que, devido a variadas
razões como idade avançada, infertilidade ou condições genéticas, não possam ou
não devam ter filhos, para muitos, a parentalidade é um aspecto intrínseco do
matrimônio. Não é essencial que cada encontro íntimo leve à concepção, mas aqueles
que se abstêm permanentemente da procriação por escolha pessoal podem desviar-
se do propósito divino, priorizando o egoísmo e o prazer individual.

Todavia, não há de ser descartada a questão do controle de natalidade. Será que


o chamado à multiplicação implica em uma procriação indiscriminada? A Bíblia não
oferece um direcionamento explícito. Sabemos que a união sexual visa não só a
geração de descendentes, mas também a expressão e vivência do amor e
compromisso, o que sugere a possibilidade de regulação da capacidade reprodutiva.
Portanto, a questão é: Podemos interferir no processo reprodutivo determinado por
Deus? A Igreja Católica Romana tradicionalmente responde com um "NÃO".
Entretanto, a encíclica Humanae Vitae, do Papa Paulo VI, trouxe nuances ao debate,
aceitando o ato conjugal sem a intenção de procriação, mas condenando métodos
contraceptivos artificiais e aceitando apenas os naturais, como o "método do ritmo”1.

Método rítmico; método da tabelinha.

1
O método rítmico, também conhecido como o método da tabelinha ou método de Ogino-Knaus, é um
processo contraceptivo que consiste em estimar a data da ovulação, de forma a evitar contatos sexuais durante
o período fértil da mulher.

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Referências

A tentativa de categorizar os contraceptivos entre "naturais" e "artificiais", de


acordo com sua moralidade, parece um tanto arbitrária. Em ambas as situações, a
ciência humana interfere na fertilização. Desaprovar os métodos artificiais poderia,
então, levar à rejeição de várias outras intervenções médicas. O foco deve estar na
maneira como os utilizamos, ou seja, se forem aplicados respeitando a saúde e o bem-
estar do parceiro e da família, podem fortalecer o vínculo matrimonial, evitando
tensões decorrentes de gestações indesejadas e permitindo que a união se solidifique
através do ato amoroso.

Quanto à questão da sexualidade, seu conceito foi enfatizado com as


descobertas de Freud, mas, antes disso, a experiência carnal, associada ao pecado, era
relevante pois visava reprimir o sexo e removê-lo da consciência individual,
especialmente em contextos cristãos. A Teoria Psicanalítica frequentemente apontava
essa ideia como um ponto focal.

Biologicamente, os humanos são seres instintivos. Há uma distinção entre


instinto e pulsão, com o último referindo-se a impulsos, ou seja, a pulsão sexual,
embora originada da excitação corporal, não se restringe à biologia. Seu objetivo é
aliviar a tensão interna, impulsionando o aparelho psíquico. Freud diferenciava
pulsões sexuais de autopreservação, mas mais tarde revisou essa dualidade
introduzindo pulsões de vida e morte. A sexualidade freudiana, assim, vai além da
simples relação genital.

Comumente, vê-se a sexualidade pelo viés genital. Mas sexo, biologicamente, diz
respeito ao gênero. No entanto, a sexualidade engloba mais, considerando cultura,
história e a totalidade dos sentidos. Freud sugeriu que a pulsão sexual opera entre o
corpo e a mente. Em um nível biológico, ela serve à reprodução, e psicologicamente,
busca satisfação e prazer, diferenciando-se do instinto.

Do ponto de vista teológico, a sexualidade é vista como uma expressão da


divindade, revelando a humanidade de cada um e a interdependência com os outros.
Ela é vista como um sinal de nossa incompletude e da necessidade de conexão com
os outros. Esta perspectiva oferece uma visão transcendental da sexualidade,
fundamental para quem opta pela vida religiosa consagrada.

5 Referências
BACCHIOCCHI, Samuele. Uma Perspectiva Cristã do Sexo. Bíblia.com.br. s/d.

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Referências

BÍBLIA ON. Bíblia Sagrada Online. s/d.

D’ALMEIDA, Bernardo Corrêa. Um Olhar Sobre o Ser Humano Segundo as Sagradas


Escrituras. Revistas Humanística e Teologia, p.49-59, 2018.

GOMES, Nilvete Soares e LISBOA, Carolina Saraiva de Macedo. Sexualidade e Suas


Vicissitudes na Escolha de Vida Religiosa Consagrada. Porto Alegre/RS: PUR-RS,
2015.

KRAUS, Heinrich; KÜCHLER, Max. As Origens: Um estudo de Gênesis 1-11. São Paulo:
Paulinas, 2007, p. 44.

MIGALLÓN, Sergio Sánchez. O Ser Humano, Imagem de Deus. Sínteses da Fé, 2022.

TILLARD, Jean Marie R. A Teologia subjacente à Constituição Gaudium et Spes: A


Igreja e os valores terrenos. In: BARAÚNA, Guilherme. A Igreja no Mundo de Hoje.
Petrópolis: Editora Vozes, 1967, p. 215-252.

WIKIPÉDIA. Método Rítmico. A Enciclopédia Livre. 2022.

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Referências

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