ANTROPOLOGIA CULTURAL

ANTROPOLOGIA APLICADA À LEITURA BÍBLICA – PARTE I (GÊNESIS 1- 4)

unidade 7

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SUMÁRIO

7 Antropologia Bíblica I ............................................................................................................................ 03

7.1 Introdução ........................................................................................................................................... 03

7.2 O Relato da Criação e a Antropologia Bíblica (Gênesis 1-2) .......................................................... 03

7.3 A Queda e as implicações Socioculturais e Religiosas (Gênesis 3-4) ............................................ 05

7.4 Conclusão ............................................................................................................................................ 05

REFERÊNCIAS .............................................................................................................................................. 06

GLOSSÁRIO ................................................................................................................................................. 06

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7. ANTROPOLOGIA APLICADA À LEITURA
BÍBLICA – PARTE I - GÊNESIS 1- 4
7.1 Introdução
Caros alunos, vimos nas unidades anteriores o
surgimento da antropologia com as respectivas
abordagens a partir do Evolucionismo Cultural,
do Funcionalismo, do Estruturalismo e a Relação
entre Cultura e Religião. Todas elas procuraram
dar acento específico ao que a própria
Antropologia Cultural propõe, em perspectiva
científica.
Isso exigiu um esforço considerado de nossa
parte (docente e discente) em compreender que,
em paralelo às interpretações que realizamos,
a partir de nossas confissões religiosas e de fé,
há a ciência que, de acordo com seus próprios
postulados, nos permite ver a sociedade, a
cultura sob outro olhar. Isso significa uma
abertura no diálogo para com as ciências, ao
mesmo em tempo que uma fundamentação que
legitime o entendimento daqueles com os quais
a fé pode dialogar.
Nesta unidade, procuraremos, de modo diverso
ao que até aqui propusemos, analisar, por meio
de critérios presentes à fé, a narrativa bíblica que
está presente no contexto da Criação, Queda
e o caminho de Deus com a humanidade nos
registros compreendidos nos capítulos 1- 4 do
livro do Gênesis.
7.2 O relato da criação e a Antropologia
Bíblica: Gênesis 1 - 2
Ao depararmos com os relatos iniciais da Bíblia,
há de se procurar entender o sentido que o
texto deseja descrever. O Gênesis se apresenta
como o livro que narra os começos dos
primórdios da história. Como possui pano de
fundo religioso, o autor não está interessado em
prever, elementos dos quais a ciência moderna
poderia se aventurar. A moldura maior, na qual
o sentido expresso pelo livro quer nos passar, é
a existência de Deus como pressuposta em cada
ação que vai desdobrando no ato da criação.
Se uma primeira leitura, que se extrai da narrativa
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do Genesis, é o pressuposto da existência de
Deus, por outro lado, há que se atentar para uma
compreensão de como esse Deus se mostra.
No evento inicial da Criação, Deus é visto como
criador de todas as coisas. D’Ele brota o que está
manifesto na criação. Assim,
“os relatos da criação têm, como seu
tema inicial, a ordem na criação, e ainda
mais especificamente, o reino de Deus
que dá sentido à ordem criativa. Este é
o tema que permanece através de todo
o escopo da Bíblia e que é fundamental
para a compreensão de nossa tarefa no
mundo” (CARRIKER, 2005, p.15).
A percepção, encontrada no relato da Criação,
se constitui em prerrogativas basilares para a
afirmação de que o Deus age na história, e, por
direito, governa soberanamente. Rocha (2013, p.
97) aponta que
“criada à imagem de Deus, a pessoa
humana tem a possibilidade de
desenvolver, por meio das suas obras,
a vida que recebera. Há uma dimensão
profundamente clara de que o humano
recebe em seu estabelecimento inicial a
imagem de Deus que o guiará nas escolhas
que fará durante sua existência”.
A imagem de Deus no homem e na mulher
comunica potencialidade para desenvolvimento
pessoal e coletivo. Por isso, ao receber a imagem
de Deus (Gn. 1, 27-28) homem e mulher recebem
a responsabilidade de atuar sobre as demais
coisas criadas. Isso pressupõe uma ética de que
deverá acompanhar o humano em todas as suas
esferas de vida.
Reprodução a óleo em tela de Criação de Adão, Michelangelo
Buonarroti (Fonte: https://www.museudasartes.com.br)
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Assista ao vídeo: Conheça a Capela
Sistina (https://www.youtube.
com/watch?v=DvH7Zp8JRPI).
“Desta forma, a ética bíblica é
fundamentalmente uma ética de
imitação essencial; e unicamente os seres
humanos são capazes e responsáveis de
imitar a Deus no nível de criatura. [...] É
por isso que a imagem de Deus no ser
humano é tão essencial para definir a
própria natureza da humanidade e ao
mesmo tempo estabelece os parâmetros
de seu comportamento” (CARRIKER,
2005, p.20).
Ao tratar da semelhança entre o homem e Deus,
por meio de sua imagem, Smith (2002, p. 229)
escreve:
“o ser humano está constantemente
pesquisando, investigando e destacam-se nas formas da experiência social
transformando o mundo à sua volta,
sem encontrar descanso duradouro
em suas próprias criações, que deixa
para trás como meros pontos de
transição em sua busca”. De fato,
a imagem de Deus no homem o
possibilita transgredir os próprios
limites criados por ele.
A centralidade humana diante da criação sinaliza
esse caminho de expansão da própria existência,
pela via da imitação de Deus. Ladaria citado por
Rocha (2013, p.98) enfatiza que
[...] a condição de imagem referir-se-
ia, assim, a todos os aspectos do ser
humano, e não apenas um deles. Pelo
contrário, observa-se ainda, que não é
unicamente a condição do homem que
é importante no Gênesis, mas antes de
tudo, o que nos é dito sobre a ação de
Deus, ou seja, que ele cria o homem à sua
imagem e semelhança. A condição do
homem é o resultado da ação de Deus;
é preciso, pois, ver o que Deus quer ao
criar o homem assim. A criação é um
acontecimento entre Deus e o homem;
o homem, cada homem, foi criado
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para existir em relação com Deus, nisto
consistirá sua condição de imagem.
Comentando acerca da imagem de Deus e a
responsabilidade do homem entendida como
mandato cultural em Gn 1,27 e 28, Carriker
(2002, p. 21) verifica que
[...] o versículo 27 esclarece que essa
tarefa pertence ao homem no sentido
genérico, isto é, ao homem e à mulher.
Somente os dois juntos realizam a
primeira ordenança de Deus e, nenhum
dos dois só, é capaz de realizá-la. Esta
pequena observação já possui grandes
implicações tanto para o machismo
como para o feminismo, pois o homem
e a mulher que se impõem um contra o
outro, o faz contra o intento original de
Deus.
As implicações dessa missão em conjunto
e familiar (encher, multiplicar, dar nome),
a responsabilidade ecológica e econômica
(sujeitar, cultivar e guardar) e também de
governo (dominar e dar nome). O homem e a
mulher dependem de Deus para projetar as
responsabilidades recebidas na história.
Essa dependência ou desassossego é
uma das raízes de toda vida religiosa, e
por essa razão a religião é mais que uma
simples criação humana. A dependência
dos animais do seu ambiente corresponde
à dependência do ser humano de Deus
(SMITH, 2002, p. 231).
A antropologia bíblica concebe o
homem e a mulher como seres
criados por Deus, possuem
semelhança com Ele por meio
de sua imagem que os habilita a
tornarem-se seres sociais. Criado
à imagem de Deus, a pessoa
humana tem a possibilidade de
desenvolver, por meio das suas
obras, a vida que recebera. Há
uma dimensão profundamente
clara de que o humano recebe,
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em seu estabelecimento inicial, a
imagem de Deus que o guiará nas
escolhas que fará durante sua
existência.
7.3 A queda e as implicações Socioculturais e
Religiosas (Gênesis 3 e 4)
Os capítulos iniciais do livro de Gêneses mostram
certa harmonia no ato posterior à criação. Essa
harmonia tinha uma razão de ser: o humano,
assim como Deus governa sobre toda criação,
haveria de cuidar com responsabilidade do
mundo criado, responsabilidade recebida por
conta da imagem de Deus lhes dispensada.
Deduz-se na harmonia da criação, o governo de
Deus presente na ordem criada.
Dessa maneira, a referência que garantiria a
condição de representante e administradores
da coisa criada só seria possível na observação
de suas responsabilidades pelo homem e
mulher. Inclusa nas responsabilidades estava a
administração de sua liberdade. A liberdade só
se estabelece a contento com o exercício devido
das responsabilidades.
Gênesis capítulo 3 descreve a queda humana.
A liberdade humana que possibilitaria sua
criatividade e desfrute das demais coisas criadas
precisa de exercício da moralidade. A escolha
em negligenciar o exercício da moralidade nos
moldes instruídos por Deus favoreceu a entrada
do pecado e, consequentemente, do mal na
história humana. O mal, e sua configuração
histórica, conforme descrito nesses relatos,
sempre tornará manifesto na cultura por meio
da combinação do desejo humano por viver
autorreferenciado à sua própria condição e as
influências negativas externas presentes no
meio da cultura.
O pecado é a denominação dada pela bíblica para
essa condição de queda humana. O humano fora
dos parâmetros estabelecidos por Deus viverá
uma humanidade corrompida pelo pecado.
Só existe humanidade, de fato, na referência
que o humano se estabelece para com Deus,
imitando-o e escutando-o. A imagem de Deus no
homem, agora opera de modo restrito.
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Os impactos no modo de vida e,
consequentemente, na relação entre o homem
e seu semelhante, o homem e Deus e, o homem
para consigo mesmo passam a ser percebidas.
A corrupção no relacionamento com Deus (que
antes era de comunhão e amizade) é alterada
e o medo torna-se o fator preponderante. A
dimensão da espiritualidade é afetada.
O mesmo medo que afasta o homem de um
relacionamento com Deus é o mesmo que o
oprime, gerando-lhe culpa. Assim, a liberdade
individual torna-se prejudicada ao passo que sua
autopercepção consciente lhe reporta ao medo
de ser.
Perceptível é também o impacto causado
no relacionamento social ou interpessoal. A
condição inicial do homem e da mulher em
entes complementares no desenvolvimento
das responsabilidades recebidas, nesse quadro
presente, ocorre no desarranjo que vai colocar no
outro culpa, acusando-lhe. O nível de desarranjo
social apresentado pelo capítulo 3 do Gênesis
chega à sua forma mais cabal com o fratricídio
que elimina o outro do espaço de convivência e
partilhas mútuas.
A consequência do pecado, enquanto ato
de separação de Deus, é precisamente
a alienação, isto é, a ruptura do homem
não só com Deus, como também consigo
mesmo, com os demais homens e com
o mundo circunstante: « a ruptura com
Deus desemboca dramaticamente na
divisão entre os irmãos (GS apud ROCHA,
2013, p. 101).
Esse caminho enverado pelo humano só lhe
conduzirá a mais mazelas, necessitando este
de ser novamente restabelecido. Isso só será
possível pela própria gratuidade divina que
possibilitará, ao longo da história e no futuro
inaugurado no evento Cristo e plenificado na
Parousia, o retorno àquela condição inicial
humana que será restaurada.
7.4 Conclusão
Da narrativa que compreende os capítulos
1- 4, fica clara a existência da cultura e da
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espiritualidade humanas de dois projetos. Um remete à dimensão da existência que pode

pautar-se sob a imitação e orientação divina e outro, construído pela ação humana em
conflito do Deus. Esses dois projetos, ao longo das narrativas bíblicas, marcarão, com toda
ênfase, a história de Deus com os homens sobre a terra.

Vimos que, antropologicamente, a leitura bíblica pode dialogar com as ciências sociais,
dando-lhe sentido que confere à historicidade elementos de ação para a prática humana.
Diferentemente do que as ciências antropológicas tentaram descrever, a relação entre
religião e cultura pode ser plausível e frutífera, na medida em que se considera a pluralidade
de saberes, intentando, com isso, a busca pela realização da vida humana de modo pleno
sobre a terra.

Aprofunde seus conhecimentos:

Leia o artigo “A antropologia da imagem de Deus: uma aproximação bíblico
teológica” http://periodicos.pucminas.br/index.php/interacoes/article/
view/6130/5688

REFERÊNCIAS

CARRIKER, Timóteo. O caminho missionário de Deus: uma teologia bíblica de missões.

Brasília – DF: Editora Palavra, 2005.

ROCHA, Ozenildo Santos Xavier da. Gestão Humanizadora nas empresas à luz da fé cristã.
Dissertação de Mestrado apresentada ao Departamento de Pós-Graduação em Teologia da
Faculdade Jesuíta de Teologia e Filosofia, 2013. Disponível em http://www.faculdadejesuita.
edu.br/documentos/230114-adrM9mGF0o2e5.pdf. Acesso em 30 de março de 2015.

SMITH, Ralph. Teologia do Antigo Testamento: História, Método e Mensagem. 2. ed. São
Paulo, Vida Nova, 2002.

GLOSSÁRIO

Fratricídio: Fratricídio (lat. fratricidium) é um termo que descreve o homicídio de um ser

humano por seu próprio irmão; podendo referir-se igualmente à mesma ocorrência entre
dois membros de um mesmo grupo social minoritário. Fonte: (http://pt.wikipedia.org)

Alienação: No texto estudado, pressupõe a perda da identidade doada por Deus quando
a imagem foi recebida pelos humanos. A queda corrompeu essa identidade que carecerá
de restauração. O novo testamento vê a imagem Adâmica aperfeiçoada em Cristo, que é a
imagem de Deus encarnada.

Parousia: Segunda vinda de Cristo, Segundo Advento ou Parúsia (do grego Παρουσία,
«presença») é termo usualmente empregado com a significação religiosa de «volta gloriosa
de Jesus Cristo, no fim dos tempos, para presidir o Juízo Final», conforme creem os cristãos.

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