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CURSO DE PÓS GRADUAÇÃO LATO SENSU

NÚCLEO DE PÓS GRADUAÇÃO E EXTENSÃO


FAVENI

A REVELAÇÃO DO DIVINO ATRAVÉS DO MITO DA CRIAÇÃO


NA PERSPECTIVA JUDAICO CRISTÃ

ELIAS VALÉRIO DAMASIO

BELO HORIZONTE 2018


A REVELAÇÃO DO DIVINO ATRAVÉS DO MITO DA CRIAÇÃO
NA PERSPECTIVA JUDAICO CRISTÃ

ELIAS VALÉRIO DAMASIO

Artigo científico apresentado a FAVENI como


Requisito parcial para a obtenção do título de
Especialista em Ciências das Religiões

BELO HORIZONTE 2018


A REVELAÇÃO DO DIVINO ATRAVÉS DO MITO DA CRIAÇÃO
NA PERSPECTIVA JUDAICO CRISTÃ

Elias Valério Damasio1

Resumo

Este artigo elabora uma análise sobre a narrativa do mito da criação na perspectiva
judaico- cristã e a revelação do Divino através da mesma. Iremos abordar e analisar outras
fontes teóricas sobre o mito da criação e a revelação do Divino em diferentes culturas e
contextos. Serão comparadas e discutido o mito criacionista e o Divino criador e sustentador
dessa criação na perspectiva monoteísta judaica- cristã e politeísta mitológica.
Há varias narrativas sobre a criação e a revelação de um criador que se relaciona com
o mundo criado. Neste aspecto, iremos discutir se o criador é a própria criação dentro de uma
perspectiva panteísta, ou se Ele é um ser autônomo, e se de fato é um ser independente da sua
criação, como acontece sua forma de interação com a sua criação.
A presente pesquisa tem como base diversas fontes bibliográficas que aborda o tema,
fomentando discursões sobre o presente assunto e possibilitando uma investigação que seja
capaz de trazer novos conceitos e teorias acerca do mesmo.
O mito criacionista e a revelação do divino tem se sujeitado a diversas discuções desde os
primórdios das suas formulações para uma melhor compreensão.

Palavras-chaves: Mito. Criação. Judaico Cristã. Divino.


1
Minicurrículo do autor- Graduado em Teologia pela Faculdade Unida de Vitória.
Graduado em licenciatura plena em filosofia pela Faculdade Entre Rios do Piauí- FAERPI
Pós graduado em Teologia e Direitos Humanos pela FAVENI
Bacharel em Teologia (livre) pela Faculdade teológica Nacional
Bacharel em Teologia (livre) pela Escola de Teologia Minas Gerais
Pós graduado em Psicanálise pela FAVENI
Pós graduado em Terapia Familiar pela FAVENI
Pós graduando em Psicanálise e Saúde Mental pela FAMET
Pós graduando em Análise Comportamental pela FAVENI
Mestrando em Ciências da Educação pela FAMET
Mestre em Teologia pela Faculdade Teológica Nacional (livre)
Doutor HC em teologia e Humanidades
Professor de Teologia no Instituto Educacional Teológico Valerius

E-mail: eliasdamasiovalerio@gmail.com
1- Introdução

O objetivo do presente artigo é a discussão no campo mitológico criacionista na


perspectiva judaico-cristã e a revelação do Divino através da criação. Discutiremos a narrativa
criacionista e a revelação do divino dentro do conceito mitológico judaico- cristã, já que,
abordar a teoria criacionista na sociedade contemporânea e cair em um vazio provocado pelo
relativismo ateísta da pós modernidade.
A ciência defende que o mundo se formou através da teoria do big- bang. A filosofia
através da teleologia, ou seja, o estudo da finalidade do universo. Por outro lado, a mitologia
através do empirismo advoga para si a responsabilidade de apresentar esse aspecto revelador
do divino através da criação.
Na perspectiva judaico-cristã, não se difere, o mito criacionista judaico- cristã assume essa
tarefa de explicar e apresentar esse processo de criação e revelação.
Neste aspecto, comparam-se e estabelecem-se as diferenças conceituais mitológicas
entre o pensamento criacionista judaico- cristã e as outras narrativas, analisando as linhas de
pensamentos dos principais mitos criacionistas desde a Grécia Antiga até a pós modernidade,
e as suas principais formulações teóricas.

2- MITO, FUNÇÃO E DEFINIÇÃO

O mito criacionista ainda é um dos principais assuntos discutidos na pós


modernidade, existem vários debates na contemporaneidade que envolve o mito criacionista,
são debates inesgotáveis que anseiam responder os questionamentos humanos sobre a criação
e o seu criador,
A ciência não foi capaz de provar e fundamentar teoricamente de forma satisfatória a origem
de toda criação. Nesse sentido os mitos procuram explicar a origem das coisas existentes.
No decorrer da existência da humanidade, a palavra “mito” foi conduzida a uma
ambiguidade no sentido etimológico da palavra. Na pós modernidade as vezes é usada para
descrever uma mentira ou crença estúpida. “Isso é um mito” é uma forma de que alguma coisa
não é verdade, na realidade “mito” é verdade.
Neste aspecto precisamos entender a etimologia da palavra mito de acordo com
BARTLETT (2011, p 10), mito vem do grego mythos, que simplesmente significa “palavra”,
“narrativa, “conto” ou “discurso”. O termo era usado para descrever uma verdade.
Compreende-se que a palavra mito não é uma mentira, mas uma narrativa ou discurso acerca
de crença ou acontecimento.

3- A CRIAÇÃO NA PERSPECTIVA JUDAICO- CRISTÃ

Neste sentido o mito judaico- cristã sobre a criação tem o objetivo de enunciar o
Criador que se revela através da sua criação. Neste sentido a Bíblia narra quem é o Criador e
destaca que no princípio Deus criou o céu e a terra. Segundo a narrativa registrada em Gênesis
1:1,2 o autor destaca a ação criadora de um Ser supremo e absoluto.
1 No princípio criou Deus o céus e a terra. 2 A terra era sem forma e vazia, as
trevas cobriam a face do abismo, e o Espirito de Deus se movia sobre a face
das águas. (Bíblia de Estudo Arqueológica NVI, 2013, p. 4).

Logo após criar os céus e a terra Ele criou a luz e viu que ela era boa por isso a
separou das trevas, a luz chamou-a de dia e as trevas de noite. Entre as águas ele fez o
firmamento e separou as águas que ficaram abaixo do firmamento das que ficaram por cima.
O firmamento Ele chamou de céu, as águas em foram ajuntadas todas em um só lugar e
apareceu a parte seca que Ele a chamou de terra. No livro do Salmos 33. 6,7,9 encontramos
uma narrativa que destaca o poder da palavra criadora desse Criador.

6 Mediante a palavra do Senhor foram feitos os céus, e os corpos celestes,


pelo sopro da sua boca.7 Ele ajunta as águas do mar em um só lugar; das
profundezas faz reservatórios. 9 Pois Ele falou, e tudo se fez; Ele ordenou, e
tudo surgiu. (Bíblia de Estudo Arqueológica NVI, 2013, p. 824).

Ele criou os luminares e as estrelas e colocou no firmamento do céu para iluminar a


terra. Fez também dois grandes luminares, o maior para governar o dia e o menor para
governar a noite, criou as vegetações e toda a sorte de animais terrestres e aquáticos e por fim
criou o homem a sua imagem e semelhança.
O autor sacro destaca que toda a criação foi arquitetada e executada por Deus através
de sua palavra, e que essa criação apesar de ser sem forma e vazia foi organizada por Ele e
que esse Ser supremo não é a criação mas se interage com ela.
O mesmo destaca que o Deus dos hebreus criou todas as coisas a partir do nada, pois o texto
supracitado em Gênesis 1:1 usa a palavra hebraica bara que significa criar a partir do nada, tal
palavra suplanta a teoria do Big- Bang.
Pela fé entendemos que os mundos, pela palavra de Deus, foram criados; de
maneira que aquilo que se vê não foi feito do que é aparente. (Hebreus 11:3,
Bíblia de Estudo Arqueológica NVI, 2013, p.1994).

Segundo Hoff, (2007, 31), a ciência ensina-se que se pode transformar matéria em
energia, mas parece que Deus converteu energia em matéria. A compreensão do mito
criacionista na narrativa judaica cristã vai além da racionalidade humana, segundo o escritor
aos Hebreus exige fé para a compreensão desse ato criacionista.
Através da criação, Deus se revela ao humano de forma progressiva, a natureza revela
um criador e anuncia as obras de suas mãos. O fornecimento de alimentos por parte das
vegetações revelam um Deus cuidador e sustentador que vela e zela pela sua criação. O
salmista evidencia a revelação desse Criador através da criação no salmo 19, 1

Os céus proclamam a glória de Deus; o firmamento a obra de suas mãos.


(Bíblia de Estudo Arqueológica NVI, 2013, p. 809).

Nessa perspectiva Deus se revela ao homem através da sua criação e se interage com
ambos. Para os judeus e cristãos, Deus é o criador de todas as coisas e sustentador e tudo.

4- A CRIAÇÃO NA NARRATIVA GREGA

Na mitologia grega, antes de serem criados o mar, a terra e o céu, todas as coisa
apresentavam um aspecto a que se nomeava de Caos. Segundo BULFINCH (2006, p. 23),
nessa narrativa a terra, o mar e o ar estavam todos misturados; assim a terra não era sólida, o
mar não era líquido e o ar não era transparente. Houve uma interferência de Deus e da
natureza para suplantar a discórdia separando a terra do mar e o ar de ambos.
Nessa perspectiva esse deus não identificado foi o supremo organizador e regente para
que tudo funcionasse em harmonia na terra. Ele determinou que os rios e lagos estivessem em
seus respectivos lugares, ergueu montanhas, escavou vales, distribuiu os bosques, as fontes, os
campos férteis e as áridas planícies, os peixes tomaram posse do mar, as aves do ar, e os
quadrúpedes da terra. Ainda segundo essa narrativa o Criador coroou a sua criação com o
animal mais nobre e elegante de todos, o homem, não se sabe por certo qual a matéria que foi
usada, se divina ou terrena, ou de alguma matéria celestial oculta. Há uma narrativa que
Prometeu, que era um dos titãs que habitou a terra antes dos homens, tomou um pouco de
terra e misturando-a com água, fez o homem à semelhança dos deuses. Deu- lhe o porte ereto
de forma que enquanto os outros animais têm o rosto voltado para baixo, olhando a terra, o
homem levanta a cabeça para o céu e olha as estrelas.

5- A CRIAÇÃO NA MITOLOGIA BABILÔNICA

O mito babilônico narra que no início, Apsu o oceano, e Tiamar, as águas primordiais
produziram muitos descendentes no início dos tempos quando tudo era caos. Segundo
BARTLETT (2011, p. 232), os deuses mais jovens, incluindo Ea, pai de Marduk, rebelaram e
mataram Apsu. Tiamat se casou com o monstro Kingu que enviou uma raça de demônios e
monstro para se vingar dos jovens deuses. Marduk se ofereceu para ser o campeão dos deuses
e matar Tiamar e Kingu, se a ele fosse dado o papel de deus supremo. Armado com um arco,
a força de um raio e uma rede sustentada quatro ventos, Marduk montou em um furacão e
partiu para a batalha com Tiamar.
Marduk encontrou Tiamar e quando ela abriu a boca para devora-lo, atirou os quatro ventos
em sua garganta, em seguida, disparou flechas em seu ventre inflado antes que ela pudesse
arrota-los de volta. Uma seta perfurou seu coração e ela morreu instantaneamente, soltando
um arroto tão grande que arremessou Marduk para trás.

Roubando as Tábuas do Destino de Kingu para se certificar de que seria o mais


poderoso de todos os seres, Marduk iniciou a criação do universo. Ele cortou Tiamat ao meio
e ergueu metade dela para fazer o céu e colocou a outra metade diante da face aquosa de Ea
para formar a terra. Marduk executou Kingu e, sob a orientação, Ea tomou-lhe o sangue para
criar a raça humana para ser escrava dos deuses.

6- A CRIAÇÃO NA MITOLOGIA AFRICANA


Na mitologia africana, na eternidade do nada, algo despertou e o tempo foi criado. Em
uma fração de segundo, o céu e a terra foram criados, e uma tempestade de raios enviou á
terra a mulher criadora Woyengi.
A terra era vazia, não existia vida alguma, nem vento, nem movimento, nada.
Mas havia uma cadeira, uma mesa enorme e uma pedra plana chamada de pedra da criação.
Woyengi juntou um punhado de lama e sentou-se na cadeira, porque ela não sabia o que mais
podia fazer e, em seguida, colocou o barro sobre a mesa e os pés sobre a pedra. Com a lama
ela moldou e formou muitos bonecos. Ela perguntava se eles gostariam de ser homem ou
mulher e soprou no rosto dos bonecos e se tornaram seres viventes e povoaram a terra.

6- CONCLUSÃO

Após analisarmos várias mitologias sobre a criação do mundo, em diversas culturas,


observamos que algumas narrativas se assemelham. Os mitos tem a função de trazer luz sobre
a escuridão do conhecimento e verdade ainda não revelada, é inerente, para o humano a
necessidade de compreender, discutir e ser portador da verdade absoluta para eliminar a
ambiguidade que assalta a sua mente e angustia a sua alma.
Algumas mitologias supra citadas se tornaram filmes para entretenimento, mas jaz no campo
dos debates acadêmicos, a mitologia criacionista grega por exemplo. Outras narrativas não
passam de copias com uma melhor elaboração.

Entre monstros e heróis, deus sem nome, a narrativa Judaico- Cristã demonstra uma
preocupação em apresentar uma narrativa consistente, plausível e identifica quem é esse
criador. O Deus judaico-cristão sempre foi o criador absoluto de todas as coisas, segundo
BERKHOF (2011, p. 120), toda a escritura narra o ato desse Deus criador, Ele é antes de
tudo, as narrativas bíblicas se corroboram entre si, são consistentes e sistemáticas. A criação é
um ato temporal de Deus e a mitologia judaica- cristã apresenta de forma fidedigna esse
criador que se revela através da criação.
REFERÊNCIAS

A Bíblia da mitologia: Tudo que você queria saber sobre mitologia/ Sarah Bartlett; tradução
Jacqueline Damásio Valpassos, - São Paulo: Pensamento, 2011
Bíblia de Estudo NVI / organizador geral, Kenneth Barker, coorganizadores, Donald
Burdick. São Paulo: Editora Vida, 2003
O Livro de ouro da mitologia: história de deuses e heróis/ Thomas Bulfinch; tradução David
Jardim. - Rio de Janeiro: Ediouro, 2006
Teologia Sistemática/ Louis Berkhof; tradução Odayr Olivetti. – 4 ed. Revisada_ São Paulo:
Cultura Cristã, 2012.

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