Você está na página 1de 9

1

Origem etimológica da Didáctica


A palavra Didáctica deriva da palavra grega didactos, que significa “instrução”. Visto
deste modo, a Didáctica desenvolveu-se como a teoria de instrução. Etimologicamente,
a Didáctica é a teoria de instrução. Na sua opinião, seria suficiente qualificarmos a
actividade do professor apenas como “instrução”? Ao falarmos de instrução, no
processo de formação humana, estamos a posicionar-nos principalmente do lado do
desenvolvimento, no indivíduo, do:
• saber (conhecimentos)
• saber fazer (capacidades e habilidades).
Quer dizer, deixamos de parte o saber ser (atitudes, valores, convicções), assim como o
saber estar (comportamentos e hábitos) que são também importantes para se conseguir o
desenvolvimento integral do homem.

Alias, quando falamos da Didáctica, um aspecto que merece o nosso maior apreço é o
de que o processo didáctico se refere à actividade do professor e, neste sentido, o ensino
(e aprendizagem) tem lugar, na sua máxima intensidade e expressão, na sala de aulas,
razão pela qual a Didáctica também se designa de “teoria de ensino”. Assim, através
dos seus objectivos de formação, o ensino deve incorporar a instrução (saber, saber
fazer) e a educação (saber ser e estar).

Conceito de Didáctica
Então, reconhecendo esta limitação epistemológica, como podemos definir a Didáctica
hoje?
1. Antes de responder a questão acima, diga: Onde ouviu, pela primeira vez, ouvir falar
desta palavra?

2. Por suas próprias palavras, apresente o conceito de didáctica.


Estamos a imaginar que são múltiplas as situações em que os estudantes deste módulo
terão ouvido pela primeira vez falar do termo “didáctica”:

Didáctica Geral : Aprender a ensinar


na escola, na instituição de formação de professores, na conversa entre professores ou
trabalhadores da educação, etc.
2

Para estes diferentes casos, pode compreender que a didáctica é uma ciência
dimensionada para o humano, que se propõe a ajudar e educar o homem, necessitando,
por isso, de se fundamentar nos princípios da educação. Por isso, onde quer que se
procure falar e/ou definir a didáctica a sua essência reside na questão de ensino e
formação, no mesmo sentido em que deve estar a conceitualização que acabou de
apresentar em relação à didáctica.

Olhando para outros autores que procuraram apresentar um conceito de didáctica,


chegamos à conclusão de haver várias definições. Por exemplo, Libaneo (1994: 25/6)
diz que a Didáctica investiga os fundamentos, condições e modos de realização da
instrução e do ensino. A ela cabe
converter os objectivos sócio políticos e pedagógicos em objectivos de ensino,
seleccionar conteúdos e métodos em função desses objectivos, estabelecer os vínculos
entre o ensino e aprendizagem, tendo em vista o desenvolvimento das capacidades
mentais dos alunos. E se definimos a acção educativa pelo seu carácter intencional,
também a acção docente se caracteriza como direcção consciente e intencional do
ensino, tendo em vista a instrução e educação dos indivíduos, capacitando-os para o
domínio de instrumentos cognitivos e operativos de assimilação da experiência social e
culturalmente organizada.
Por seu turno, Sant’Anna e Menegolla (2000: 25) numa longa dissertação e com algum
sentido de ironia fazem notar que:

a A Didáctica não pode ser entendida simplesmente como um rol deprincípios, de


teorias de ensino ou teorias de aprendizagem. Não pode ser concebida como ciência que
somente estabelece uma série de métodos e técnicas de ensino a ser apresentada como
solução para todos os problemas no processo de ensino e aprendizagem.

b Engenharia educacional.
A didáctica não é apenas a rígida e inflexível planificação do ensino, a listagem
quantitativa de objectivos que não passam de um rol de intenções e utopias inúteis,
desvirtuados pela irrealidade, não é um rol de conteúdos chamados mínimos, por vezes
insignificantes, por sugestões de recursos materiais e humanos, que vão desde o mais
simples cartaz até os mais sofisticados meios.
3

c A didáctica não pode ser vista como a orientadora infalível dos fantásticos métodos e
técnicas de avaliação, que pretendem medir o conhecimento dos alunos e que capacitam
o professor a decidir,
“cientificamente”, da atribuição de uma nota que reprova ou promove. A didáctica, nos
processos de avaliação, não deve somente estabelecer formulas para medir e quantificar
o conhecimento através de um instrumento que, por vezes, não passa de algumas
perguntinhas com respostas de múltipla escolha.

d A didáctica não visa apenas a métodos, técnicas e meios rígidos e estáticos. Não se
constitui somente por um conjunto de princípios que, se aplicados, dariam resultados
imediatos e claramente observáveis e mensuráveis.

e A didáctica não é uma pura mecanização e manipulação de métodos e técnicas de


ensino que, por vezes, são empreguesmsubtilmente ao serviço de ideologias. Ela deve
pôr-se ao serviço do educando como uma totalidade pessoal, que compreende os
domínios cognitivo (saber), psicomotor (saber fazer) e afectivo (saber ser e estar).

Sumário
Depois de (re)vistos estes aspectos vê-se que cada um deles aponta uma parte da
actividade didáctica, mas que isoladamente não representam o “verdadeiro acto
didáctico. Eis porque os autores acima concluem que “a didáctica objectiva resultados,
aprendizagens, mudanças significativas de comportamento”; “a didáctica deve ser uma
disciplina altamente questionadora da realidade educacional, da escola, do professor,
do ensino, das disciplinas e conteúdos, das metodologias, da aprendizagem, da
realidade cultural, da política educacional. Ela não é uma disciplina com verdades
prontas e acabadas, mas uma disciplina que busca, que investiga o universo da
educação. Ela quer saber desencadear novos processos”.

Em todo o caso, para todos os autores, emerge a ideia de que o “objecto de estudo da
didáctica é o processo de ensino e aprendizagem” em suas relações com finalidades
educativas. O que significa que o ensino é “uma pratica humana que compromete
moralmente quem a realiza”, assim como é uma pratica social, uma vez que “responde a
necessidades, funções e determinações que estão para além das intenções e previsões
dos actores directos da mesma. Além disso, a didáctica implica processos de relação e
4

comunicação intencional, portanto, intercâmbios de significados que caracterizam a


relação entre professor e alunos e destes entre si. E é dentro desta relação que se faz a
regulação e o equilíbrio entre a actividade do professor e do aluno, na medida em que as
acções do professor devem ser no sentido de desencadear processos físicos e cognitivos
necessários para a aprendizagem do aluno. Logo, a didáctica pode ser definida como “a
capacidade de tomar decisões acertadas sobre o que e como ensinar, considerando
quem são os nossos alunos e por que o fazemos; considerando ainda quando e onde e com que
se ensina”.

A capacidade de tomar decisões acertadas sobre o que e como ensinar inclui


capacidades didácticas essenciais, envolvendo, dentre outros aspectos, o seguinte:
a. Capacidade de tomar decisões
b. O que ensinar
c. Falar e ler
d. Aprender a escrever
e. Aprender a contar
f. Porque ensinar
g. Como ensinar
h. Quando ensinar
i. Com que ensinar
j. Onde ensinar, senão na escola?
k. O professor que ensina
Explique o significado de cada um destes aspectos, sob o ponto de vista do que o
professor deve ser capaz como actor didáctico.

É interessante que você apresentou as suas ideias sobre os aspectos acima indicados,
mesmo sem termos dado grande importância à ordem. O mais essencial são as
conclusões a que chegou no sentido em que, para cada um destes aspectos, a capacidade
do professor consiste no seguinte:

a Capacidade de tomar decisões. A habilidade de tomar decisões é saber escolher as


melhores alternativas, decidir-se por aquilo que é melhor para si e para os outros, para o
agora e para o futuro. Tomar decisões é uma das grandes habilidades que toda a pessoa
deveria possuir num grau altamente desenvolvido. O professor que sabe tomar decisões
5

não se prende de forma categórica a uma só alternativa. Ele busca muitas soluções
possíveis, e, após uma análise profunda e criteriosa, vai optar pela mais segura e real.

b O que ensinar. Eis a grande questão que os professores enfrentam no momento em


que pretendem ensinar a alguém que está ali para aprender, mas que não tem visão clara
do que é necessário aprender. Escolher o que ensinar é, muitas vezes, uma atitude crítica
do professor. O que deve ser ensinado para que o aprendizado seja útil à vida? É preciso
seleccionar os conteúdos que transformem e acompanhem a vida da criança. Conteúdos
que sejam significativos e que surjam da própria realidade em que a criança vive, que
não sejam puras abstracções. Devemos deixar a vida jorrar nos programas, nos
conteúdos, nos métodos utilizados, no clima de trabalho, nas pessoas presentes. Ensinar
não é só ministrar conteúdos que sejam assimilados pelos alunos. Todo o conteúdo deve
ser educativo e formador de personalidades. A dimensão da pessoa não se limita ao
intelectual. A pessoa também é emoção, sentimentos e habilidades. Por isso o ensino
deve ocupar-se da formação da pessoa como totalidade.

c Falar e ler: Uma das primeiras necessidades da pessoa é comunicar-se, falar, entender
e fazer-se entender. Saber dizer o que pensa, com firmeza e espírito critico, e
comunicar-se através da escrita. Aprender a falar, ler e escrever passam a ser os
rudimentos da história do ensino, que ainda não foram superados por outras
necessidades mais importantes. Aprender a ler, para interpretar, de forma critica e
segura, os embustes da propaganda, que criam necessidades incansáveis. Ler
criticamente a sociedade, o mundo, o trabalho, a vida, a realidade. Ler a vida na escola,
na rua, em casa, na vida social, no desporto, na religião.

d Aprender a escrever. A escrita é a comunicação gráfica. Com a escrita a pessoa pode


registar ideias, pensamentos, conhecimentos.
Porque não ensinar a quem provavelmente abandonará a escola a dar um recado por
escrito, a escrever um bilhete aos pais, aos amigos e, futuramente, uma cartinha ao
namorado ou namorada, a elaborar um requerimento, a preencher um cheque? A
aprendizagem da escrita é um acto educativo e de afirmação pessoal, livrando-o da
vergonha de não saber registar o pensamento de forma clara.
6

e Aprender a contar. Assim como o falar e escrever, contar é uma necessidade básica. A
matemática é uma ciência imbricada no quotidiano. O número não é uma abstracção,
mas concretização da realidade. São infinitas as situações em que se necessita da
matemática para a solução de inúmeros problemas. Grande parte da vida é regida pela
matemática. Para contar os anos da vida usa-se a matemática. A todo o momento todo o
mundo pergunta-se: quanto é possível? Quanto posso fazer? Quanto é necessário?
Quanto ganhei? Quanto perdi? E diz: isso é demais; isso é pouco; está faltando; está
sobrando; é muito caro; é mais barato; por este preço não é possível; os juros estão
muito altos; é melhor comprar lá e não aqui; isso deve ser somado, subtraído, dividido,
multiplicado....

f Porque ensinar. Ensinamos, mas não sabemos claramente porque ensinamos; o aluno
quer aprender, mas não sabe bem para quê. Ensinar por ensinar, aprender por aprender
parecem ser propostas pedagogicamente inconscientes. Ensina-se para difundir a
cultura, para converter a ignorância em sabedoria, para adquirir muitos e sábios
conhecimentos. Toda a acção educativa visa sempre propósitos definidos. Qualquer
actividade deve ser dirigida e orientada em função daquilo que se quer alcançar. As
acções docentes e discentes devem agir em função dos objectivos que devem ser
alcançados. O primeiro passo a ser dado na acção educativa é a definição dos resultados
e propósitos que se querem alcançar: os objectivo determinam as prioridades, indicam o
que se pretende e como se pretende.

g Como ensinar. Muitos professores afirmam: Foi assim que me ensinaram, portanto, é
assim que ensino. Se sempre foi assim, porque fazer diferente? Diferentemente desse
raciocínio, temos que defender que o professor deve ser capaz de seleccionar
adequadamente o método didáctico e organizar todos os procedimentos e técnicas,
visando propiciar aos alunos a melhor aprendizagem. No ensino, sempre se estabelecem
certas prioridades. Para atingi-las, traçam-se estratégias que dirigem toda a acção. Os
procedimentos didácticos devem estar intimamente relacionados com os objectivos do
ensino, com os conteúdos a serem ensinados e com as características e habilidades dos
alunos. O melhor procedimento é aquele que atende às características individuais ou
grupais.
7

h Quando ensinar. A habilidade de tomar decisões acertadas sobre quando ensinar


parece ser uma proposição sem muito significado.
Ensina-se a partir do momento em que a criança ingressa na escola, tendo como
referencia a idade e não tanto a maturidade intelectual, psicológica e motora. Ano após
ano, segundo uma escala cronológica, vão-se ensinando as mais diversas disciplinas e
conteúdos, vai-se povoando a mente da criança com conhecimento, normas, regras,
princípios e fórmulas que um dia podem ser úteis, como também podem ser inúteis.

Mas, quando a criança está preparada para aprender determinados conteúdos e realizar
determinadas tarefas e actividades escolares?
Qual a maturidade intelectual e psicológica para entender e analisar determinados
conteúdos e ideias? A questão é saber quando a criança está pronta e apta a aprender.
Será que a criança, se não souber um conteúdo hoje, não poderá aprendê-lo futuramente
na escola ou fora dela?

Será que a sociedade, os pais e a escola não querem forçar a criança a aprender coisas
que não são do seu interesse e inatingíveis devido à falta de certas habilidades?

i Com que ensinar. Os meios e recursos para ensinar auxiliam o professor e o aluno no
processo de ensino e aprendizagem. Para Gagné, “ os recursos ou meios para o ensino
referem-se aos vários tipos de componentes do ambiente de aprendizagem que dão
origem à estimulação para o aluno”. Quem planifica o ensino deve partir de uma análise
dos objectivos, dos conteúdos, dos procedimentos e de todas as possibilidades humanas
e materiais que o ambiente escolar pode oferecer em termos de meios a empregar no
processo de ensino e aprendizagem. Os objectivos de ensino não só determinam os
conteúdos e procedimentos, como também os recursos e meios de ensino, pois deles
depende, em parte, a consecução daqueles. O ensino fundamenta-se na estimulação, que
é favorecida por recursos didácticos que facilitam a aprendizagem. Esses meios
despertam o interesse e provocam a discussão e debates, desencadeando perguntas e
gerando ideias.

j Onde ensinar, senão na escola? A escola sempre foi o habitat do ensino. Sempre se
afirmou que é na escola que se deve aprender. A escola, ironicamente, tornou-se o
santuário do saber. O aluno,
8

contaminado pela ignorância, tenta nela ingressar para, depois, sair santificado pela
auréola do saber. A escola é uma das muitas condições para se aprender, mas não a
única, pois a criança adquire maior quantidade de conhecimentos fora da escola: a
verdade é que em todo lugar se pode aprender; assim como todas s pessoas podem
ensinar de uma ou de outra forma. Parece, neste sentido,
claro percebermos que a escola participa no desenvolvimento do saber enquanto
instituição e nela o processo é planificado e sistemático. Eis porque, quando falamos de
escola como local do ensino, é pertinente colocarmo-nos questões tais como:
como se estruturam administrativamente as nossas escolas?
Quais as condições das escolas, das salas de aulas, seu mobiliário, da biblioteca, do
laboratório, das salas especializadas e seu instrumentos básicos para que se possa
ensinar? Sabemos que há escolas que não têm livros, mapas, giz, etc. São questões sobre
as quais a didáctica deve reflectir.

k O professor que ensina. Deve-se encarar o “mestre” não apenas como explicador de
matérias, mas como educador apto a desempenhar a sua complexa função de estimular,
orientar e controlar com habilidade o processo educativo e a aprendizagem dos seus
alunos, com vistas a um real e positivo rendimento para os indivíduos e para a
sociedade. O professor compromete-se a defender e testemunhar a verdade e a vida dos
outros.
Segundo Gusdorf, do professor exige-se “que não se limite a apresentar-se como
homem de um determinado saber, mas como testemunha da verdade e afirmador dos
valores”. A responsabilidade principal do professor é com a verdade. A verdade e o
saber não são dados de modo definitivo e acabado. Devem ser procurados. Por isso o
professor não é aquele que nos dá a verdade feita e pronta, porque ele não é apenas um
reprodutor ou repetidor da verdade. Ele é o que abre uma perspectiva sobre a verdade, o
exemplo de um caminho para o verdadeiro que ele designa. Porque a verdade é
sobretudo o caminho da verdade.

Sumário
As situações didácticas, ou seja, aquelas em que se presume que ocorra o ensino
aprendizagem, devido à sua complexidade, requerem do professor a tomada de decisões
em função da realidade do que se vive na aula concreta, mas também tendo em conta as
particularidades dos alunos, os meios de ensino, o conteúdo, os objectivos. Ao mesmo
9

tempo que o professor deve ser alguém que se questiona sobre os propósitos e alcance
da sua actividade, o acto didáctico recomenda que se questione sobre onde decorre o
processo de ensino e aprendizagem. Ao mesmo tempo, ainda, o professor deve ser
aquele que não se limita apenas a dar verdades feitas e prontas, mas sim abre uma
perspectiva sobre a verdade, mostrando aos alunos o caminho para chegar a essa
verdade.

Você também pode gostar