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INTRODUÇÃO
Atravessamos um momento em que a educação afirma-se um direito para todos: inclusão de todo
ser humana no processo da educação formal. O que significa que a escola deve estar preparada
para acolher a todos os alunos incluindo aqueles que, por uma série de motivos, não se
enquadram nos padrões de prestação que geralmente a escola promove e avalia.
Aos alunos que por várias razões enfrentam problemas de adaptação ao mundo escolar e por
causa disso, por vezes, não conseguem passar de classe e abandonam a escola chamaremos
alunos com Necessidades Educativas Especiais (NEE).
A educação de pessoas com NEE tem uma longa história. Em alguns períodos históricos, alunos
que hoje acreditamos reunirem condições mínimas para serem escolarizados eram considerados “
ineducáveis”. Quando recentemente essa questão foi superada colocou-se o difícil problema de
definir a tipologia da educação adequada a estes alunos: escola especial, integração, inclusão?
Como objecto de estudo encontra a sua razão de ser nas ciências de educação e mais
concretamente na Pedagogia Especial.
Enquanto disciplina de estudos, as NEE não são uma ciência (como seria a Pedagogia,
Psicologia, História, etc.) nem mesmo um grupo de ciências. Constitui antes de mais objecto de
estudo multiforme e de certo modo “ interdisciplinar da Pedagogia Especial”.
O que torna esta área especial é justamente o facto de ocupar-se dos problemas que os sujeitos
enfrentam durante as suas aprendizagens e na tentativa de adaptação ao mundo circundante.
Enfrentando pela primeira vez o conceito de Pedagogia especial incorre-se o risco de pensar que
estamos a falar unicamente de educação para pessoas portadoras de deficiência (surdos, mudos,
cegos, sujeitos mentalmente débeis, etc.) por consequência, passa-se a estudar esta problemática
de um ponto de vista mais ao menos médico. A nossa opção no presente curso é explorar a
dimensão pedagógica do fenómeno. Nesta perspectiva, todos os alunos, em algum momento da
vida podem apresentar NEE, mesmo que não estejam doentes ou sejam portadores de
deficiência.
Esta categoria vai para além da simples presença de distúrbios físicos que possam ser motivos de
dificuldade de aprendizagem. Então podemos dizer que as NEE são um problema antropológico
que se manifesta na inaptidão do sujeito ao meio escolar.
Para além da Pedagogia especial, as principais disciplinas que estudam as NEE são a Psicologia,
a biologia/Medicina, Sociologia, antropologia, entre outras.
A pedagogia especial recebe contributos de todas essas áreas porque as NEE podem surgir de
factores biomédicos (biologia/medicina), sociais (sociologia), psicológicos (psicologia).
Embora as demais disciplinas sejam úteis, a medicina, a psicologia e a sociologia parecem ter
uma relação mais evidente com a Pedagogia especial.
Conceitos afins:
Deficiência – é termo usado para designar a ausência ou disfunção de uma estrutura psíquica,
fisiológica ou anatómica.
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De acordo com a Política para a Pessoa Portadora de Deficiência de 1999 (PPPD), a deficiência é
qualquer redução ou perda de capacidade normal para um ser humano resultante de um
impedimento, a incapacidade traduz-se na limitação de um dado indivíduo que restringe ou
impede uma interacção social que é normal para um indivíduo daquela idade e meio ambiente
resultante de uma deficiência. A desvantagem significa a perda ou a limitação das possibilidades
de tomar parte da vida da comunidade em condições de igualdade em relação aos demais
cidadãos.
Em Moçambique, os termos oficiais que são utilizados são: Pessoa com Deficiência (PcD) e
Pessoas com Necessidades Educativas/Educacionais Especiais (PNEE), este último é utilizado
para se referir a PcD na área da educação. O termo Pessoa Portadora de Deficiência ( PPD)
entrou em desuso, porém ainda consta em vários documentos legais que devem ser actualizados.
Considera-se que a PcD não porta a sua deficiência, não pega nela e mete no bolso como afirma
Romeu Sassaki. A deficiência é algo que acompanha a pessoa no seu quotidiano e faz parte dela.
Portanto, PcD é aquela que é incapaz de assegurar por si mesma, total ou parcialmente, as
necessidades de uma vida individual e social normal, em decorrência de uma deficiência,
congénita ou adquirida, de natureza fisiológica, anatómica, sensorial ou mental e esteja em
situação de desvantagem ou impossibilitada.
O termo deficiente para denominar pessoas com deficiência tem sido considerado por algumas
ONGs e cientistas sociais inadequado, pois o termo leva consigo uma carga negativa depreciativa
da pessoa, facto que foi ao longo dos anos se tornando cada vez mais rejeitado pelos especialistas
da área e em especial pelos próprios indivíduos a quem se refira. Assim em alguns contextos tem
sido proposto o termo “diversidade funcional”, enquanto todas as pessoas precisam de ajuda em
algum momento de suas vidas especialmente na infância e na velhice.
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A pessoa com deficiência geralmente precisa de atendimento especializado, seja para fins
terapêuticos, como fisioterapia ou estimulação motora, seja para que possa aprender a lidar com
deficiência e a desenvolver as potencialidades.
A educação especial tem sido uma das áreas que tem desenvolvido estudos científicos para
melhor atender estas pessoas, no entanto, o que inclui pessoas com deficiência além das
necessidades comportamentais, emocionais, ocupacionais e sociais.
Desde o termo NEE, que veio a substituir o termo criança especial, anteriormente utilizado em
educação para designar a criança com deficiência. Porem, este novo termo não refere-se apenas a
pessoa com deficiência, pois engloba toda e qualquer necessidade considerada atípica que
demande algum tipo de abordagem específica por parte das instituições, seja social, ocupacional,
física, emocional ou familiar.
Diversidade – do latim: “diversitate” significa diferente. Alude ao que nos faz diferentes as
pessoas e grupos, em função de características pessoais, físicas e culturais. Ao longo da história,
como anteriormente se referiu, a “diferença” foi vista como algo desviante, negativo, pejorativo
e/ou depreciativo. Muito da justificação da prática social do preconceito e da discriminação
encontra acento nessa visão distorcida em relação a pessoa “diferente”.
A história da educação especial conheceu várias fases ao longo dos tempos. Antigamente pessoas
que nasciam com alguma deficiência eram separadas, afastadas de qualquer convívio social, pois
sua diferença era vista como, maldição, destino, marca do demónio e de todo tipo de crendice,
Mittler (2000) apud Santana (2003). Predominava filosofia da eugenia e as pessoas excepcionais,
consideradas degeneração da raça humana, deveriam ser eliminadas devido ao transtorno que
geravam à sociedade (Ribeiro, 2003, p. 42). Esta fase é chamada de exclusão. Praticam-se
aniquilação.
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Fase da segregação
Com a influência da doutrina cristã, passou a existir uma certa tolerância e numa aceitação
caritativa, devendo essas pessoas ficarem segregadas.
Este movimento começou a partir da década 50 e mais intenso nos anos 60. Surgiram então as
escolas especiais e mais tarde, as classes especiais dentro de escolas comuns.
Associação de pais rejeita a especificação das escolas com apoio da Dinamarca (na década de
50), na legislação do conceito de “normalização”. Este conceito parte do princípio da
possibilidade do deficiente poder ter vida Normal quanto possível.
Em seguida verifica-se a desinstitucionalização (nos anos 60) : este movimento defendia que as
instituições para indivíduos com deficiência deveriam ser fechadas, e que os utentes deveriam ser
colocados em instalações mais pequenas (Salend, 1998) ou em casa de familiares.
Fase da Integração
A década de 70 constitui fase de integração, onde houve uma mudança filosófica em direcção a
ideia de educação integrada. Nesta fase o aluno com a deficiência se adaptava ao regime da
escola, sem modificações ou adaptações do sistema.
De acordo com Sassaki (1997, p. 30-31) "A ideia de integração surgiu para derrubar a prática
de exclusão social a que foram submetidas as pessoas deficientes por vários séculos. A exclusão
ocorria em seu sentido total, ou seja, as pessoas portadoras de deficiências eram excluídas da
sociedade para qualquer actividade porque antigamente elas eram consideradas inválidas, sem
utilidade para a sociedade e incapazes para trabalhar, características estas atribuídas
indistintamente a todos que tivessem alguma deficiência."
Fase da Inclusão
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No final dos anos 80 e princípio dos anos 90, surgiu a ideia de adaptar o sistema escolar, as
necessidades dos alunos, desde que a inclusão propicie uma educação de qualidade e igual para
todos, aceitando as diferenças individuais como atributo e não como obstáculo e valorizando a
diversidade para o esquecimento das pessoas.
A inclusão na década de 90, o aluno independentemente da gravidade da sua NEE é, sempre que
possível, educado na classe regular, em ambientes apropriados a sua idade e nível de ensino.
Birch(1974) define a integração escolar como um processo que pretende unificar a educação
regular e a educação especial com o objectivo de oferecer um conjunto de serviços a todas as
crianças, com base nas suas necessidades de aprendizagem.
Assim, nota-se actualmente que a educação tem um carácter mais ou menos integrador à medida
que procura oferecer as crianças e jovens com necessidades educativas especiais e não
deficientes uma educação e ensino de forma conjunta mediante as suas necessidades de
aprendizagem.
Como antecedente filosófico, significa valorização das diferenças humanas. Isto é, aceitar as
diferenças individuais dos alunos oferecendo a cada um dos alunos as melhores condições para o
seu desenvolvimento máximo das suas capacidades, e colocado a sua disposição os mesmos
benefícios e oportunidades de vida normal. (Beeny, 1975).
A integração escolar nesse contexto baseia-se no princípio de normalização. Tornar a vida dos
alunos com deficiência num ritmo “igual” a vida dos alunos sem deficiência. Tornar normal a
vida da pessoa com deficiência significa aceita-lo tal como é, com suas deficiências, dando os
mesmos direitos que os outros e serviços pertinentes que o ajudam a desenvolver suas
potencialidades e ter vida tão normal quanto possível.
Uma criança que frequenta a escola pela primeira vez e que, pelas suas características,
poderia ter sido colocada num centro de ensino especial, é acolhida na escola regular;
Crianças que frequentam centros de ensino especial passam para escolas regulares numa
determinada modalidade de integração.
Crianças que frequentam uma classe regular e que noutras circunstâncias passariam para
uma classe especial ou centro especializado, continuaram assim na classe regular.
1.1 O que terá motivado para a mudança de atitude ao tratamento dado aos alunos com
deficiências na nossa actualidade?
A cultura e a educação são produtos de ambientes não apenas formais e tornam-se mais
eficazes (benefício mútuo) quando se desenvolvem entre indivíduos com capacidades
diferentes.
Integração social: diz respeito a partilha de espaços comuns como refeitório e espaço
de recreio, no sentido de favorecer valores de amizade estimulando o
desenvolvimento pessoal de todos.
Contudo, a integração escolar existe quando a criança com necessidades educativas especiais
participa de um modelo educativo único e geral que contempla as diferenças e se adapta às
características de cada aluno.
Para Bautista(1997), porem faz notar que um aluno apesar de estar colocado a tempo inteiro
numa turma regular, pode não estar integrado. Para este autor, é imprescindível a participação
em actividades conjuntas para que haja uma integração efectiva.
2.1.Educação Especial
Tem sido tradicionalmente utilizado para designar um tipo de educação diferente da praticada no
ensino regular e que se desenrola paralelamente a esta sendo a criança a quem era diagnosticada
uma deficiência, incapacidade ou diminuição, segregada para unidade ou centro específico
(Jimenez, 1997).
Por outro lado, Alencar (1994:30) afirmou que educação especial era um “processo de
desenvolvimento global das potencialidades de pessoas portadoras de necessidades e que
abrange os diferentes níveis e graus do sistema de ensino”. A educação especial fundamenta-se
em referências teóricas e praticas que sejam compatíveis com as necessidades educativas
especiais dos alunos, considerando em que circunstância deve decorrer.
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2.2.Escola Especial
É uma instituição que oferece atendimento especializado para alunos que apresentam NEE e que
queiram atenção individualizada, bem como ajuda e apoio intenso na aquisição de habilidades
básicas, beneficiando de apoio de especialistas.
De salientar que as escolas especiais são consideradas em última instância como um perigo para
as crianças deficientes pelo seu carácter restrito e empobrecedor e acarreta elevados custos para
atingir a eficácia e cria condições de segregação (Brown e Col. apud Mayor 1989).
3.Educação inclusiva
Inclusão
É inserção do aluno com NEE na classe regular onde, sempre que possível, deve receber todos os
serviços educativos adequados, contando-se para esse fim com o apoio apropriado (de docentes
especializados, de outros profissionais, de pais…) as suas características e necessidades (Correia,
1997). A educação inclusiva se assenta na formulação de respostas educativas eficazes para
alunos com NEE nas escolas regulares.
As escolas inclusivas resultam da reflexão e criticas que foram sendo feitas a integração escolar,
que excluía uma parte considerável dos alunos por estes não terem resposta adequada por parte
das escolas regulares (Madureira e Leite, 2003), começa a vislumbrar-se uma perspectiva
inclusiva.
O princípio fundamental das escolas inclusivas consiste em todos os alunos aprenderem juntos,
sempre que possível, independentemente das dificuldades e diferenças que apresentem. Estas
escolas devem reconhecer e satisfazer as necessidades diversas dos seus alunos, adaptando-se a
vários estilos e ritmos de aprendizagem, de modo a garantir um bom nível de educação para
todos através de currículos adequados, de uma boa organização escolar, de estratégias
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Tradicionalmente o aluno é visto como problema. Isto leva as escolas e os professores a tentarem
criar soluções para mudar o aluno, para tentar cura-lo, ou de alguma forma torna-lo compatível
com o sistema existente. Numa abordagem inclusiva, o aluno nunca é problema, é sempre o
sistema que é o problema. De acordo com o entendimento do historial da educação especial
distinguimos dois modelos da concepção da deficiência: O modelo Individual que se subdivide
em médico e caridade, colocam o foco no aluno; e, modelo social que tem o seu foco o sistema
de ensino. Nas abordagens teóricas fala-se de abordagem médica e social; conforme as suas
apologias favoritas ao aluno ou a mudança do sistema do ensino respectivamente. Observe o
resumo na figura abaixo:
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Modelo de
abordagem da
deficiencia
2. Modelo Social(foco no
sistema de ensino) O
1.Modelo individual(foco
sistema de ensino torna-se
no aluno)
flexivel e adapta-se para
acomodar todos os alunos.
Modelo de Caridade: o
Modelo Medico: o aluno
sistema cria um cantinho
deve ser curado para poder
para o aluno; é excluido do
entrar no sistema
sistema de ensino
O modelo médico da deficiência deu pouco peso as forças das pessoas com deficiência, o que
resultou em que elas se sentissem compadecidas e consideradas fracas e necessitadas de cuidados
de benevolência. As organizações religiosas e de caridade comprometeram-se então a cuidar e a
educar as pessoas com deficiência, dando origem ao modelo de caridade da deficiência
(Malhotra, 2001, Rieser 2008). Aqueles que cuidavam de pessoas com deficiência eram
reverenciados e admirados pela sua boa natureza. Contudo, a perspectiva caritativa da deficiência
era igualmente opressora sem garantir o devido empoderamento, considerando as pessoas com
deficiência como cidadãos de segunda classe e defeituosos, necessitados de cuidados de pessoas
especialmente virtuosas, e não de pessoas comuns.
Ofereceu uma visão mais autêntica da deficiência, afirma que a deficiência em si não é
incapacitante, mas que a deficiência e as suas consequências sociais, nomeadamente pobreza,
desemprego e isolamento, são o resultado das barreiras ambientais e atitudinais da sociedade.
Por exemplo no modelo médico atribuiria a falta de progresso escolar de um aluno à sua
deficiência, e a uma falta de reabilitação ou terapia correctiva, em vez de olhar tanto para
factores intrínsecos como extrínsecos que promovem e dificultam o desenvolvimento do aluno.
O modelo social na sua forma mais simples, consiste em mudar o sistema para se adaptar ao
aluno, não em mudar o aluno para se adaptar ao sistema. Localiza firmemente o “ problema” da
exclusão dentro do sistema, não dentro da pessoa ou das suas características. Tem a as suas
origens nos primeiros tempos do movimento dos direitos civis das pessoas com deficiência e
forneceu uma definição radicalmente diferente de deficiência que influenciou a compreensão e a
prática. Afirma que a sociedade é deficiente, não a deficiência ou a condição particular que uma
pessoa possa ter.
Actividade: