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Crianças com NEE

UFCD 3290

Princípios fundamentais
“Lutar pelos direitos dos deficientes é uma forma

de superar as nossas próprias deficiências”

J.F.Kennedy

Cada criança é especial, quer em termos de desenvolvimento, quer no que


respeita a cuidados e necessidades educativas. Há crianças que dadas as suas
características, são simultaneamente semelhantes e diferentes dos seus parceiros da
mesma faixa etária. As características das diferenças assentam, fundamentalmente, na
presença de fatores diferenciais de ordem física, cognitiva, linguística social e afetiva, os
quais dificultam a realização do seu potencial funcionamento (Pires, 1998).
Assim, o termo “Necessidades Educativas Especiais” (NEE) vem responder ao
princípio de democratização das sociedades, refletindo o postulado da integração e
proporcionando uma igualdade de direitos a todas as crianças e adolescentes em idade
escolar, independentemente da raça, religião, opinião, género, características
intelectuais e físicas (Correia, 1997). De acordo com Hallahan e Kauffman (1994) ”para
efeitos da sua educação, as crianças e jovens com dificuldades especiais, ou com NEE,
são aquelas que requerem educação especial e serviços específicos de apoio para a
realização total do seu potencial humano. As crianças e jovens que necessitam de
educação especial podem ser muito diferentes dos outros por terem atraso mental,
dificuldades de aprendizagem, desordens emocionais ou comportamentais,
incapacidades físicas, problemas de comunicação, autismo, lesões cerebrais, deficiência
auditiva, deficiência visual, ou mesmo dotes e talentos especiais”. Segundo a Declaração
de Salamanca de 1994, (UNESCO, 1994) definem-se como crianças e jovens com NEE
todos aqueles ”cujas carências se relacionam com deficiência ou dificuldades escolares
e consequentemente têm necessidades educativas especiais em determinado momento
da sua escolaridade”. Considera ainda as crianças com deficiência ou sobredotadas,
crianças de rua ou que trabalham, as crianças de populações remotas ou nómadas, as
crianças de Multideficiência: Atividade Física como contributo para o Desenvolvimento
Global.
A evolução dos conceitos relacionados com a educação especial, que se tem
processado na generalidade dos países, as profundas transformações verificadas no
sistema educativo português decorrentes da publicação da Lei de Bases do Sistema

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Benilde Fernandes
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Educativo, as recomendações relativas ao acesso dos alunos deficientes ao sistema


regular de ensino emanadas de organismos internacionais a que Portugal está vinculado
e, finalmente, a experiência acumulada durante estes anos levam a considerar os
diplomas vigentes ultrapassados e de alcance limitado. Conforme o Warnock Report
(1978), um aluno com NEE é aquele que apresenta algum problema de aprendizagem
no decorrer da sua escolarização, e por isso vai exigir uma atenção específica e maiores
recursos educativos relativamente aos utilizados com os companheiros da mesma faixa
etária.
No mesmo relatório são consideradas três necessidades educativas especiais:

 Necessidades de encontrar meios específicos de acesso ao


Currículo/Programa. (ex. Sistema Braille, Língua Gestual, Sistemas Computorizados de
apoio);

 Necessidades de um currículo/programa especial modificado. (a alunos com


desenvolvimento intelectual fora da média);

 Necessidade de dar maior atenção à estrutura especial e ao clima emocional


no qual a educação decorre, (de alunos com dificuldades de adaptação e rejeições).
“Minorias linguísticas, étnicas ou culturais e as crianças de áreas ou grupos
desfavorecidos ou marginais.”
Este mesmo autor salienta que estes tipos de necessidades especiais não
correspondem a agrupamentos de alunos, mas sim aos meios e estratégias de apoio à
educação para que aqueles possam ultrapassar as dificuldades escolares. Ao adotar-se
uma classificação baseada nas necessidades, abandonando a classificação por
categorias, verificou-se um avanço qualitativo significativo. Este é um aspeto importante
para a evolução das perspetivas educacionais dos alunos ditos “não normais”. (Fortes
Ramires, 1994). Atualmente, a evolução deste conceito, possibilita ao aluno com
necessidades educativas especiais receber uma educação mais adequada às suas
características individuais, apesar das carências do sistema.

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Necessidades específicas de educação


– evolução e modelos
Evolução histórica do conceito de Necessidades
Educativas de Educação

As ideologias e práticas correntes de raciocínio sofreram alterações desde os


tempos mais remotos, sendo que a problemática da aceitação do indivíduo com
deficiência na sociedade não foi exceção.
Numa primeira fase foram encarados como entidades possuídas e desprovidas
de qualquer significado e importância; seres perseguidos e aniquilados por não
atenderem aos padrões previamente estabelecidos pela norma social. O indivíduo com
deficiência era assim caracterizado como ser estigmatizado, que expressa desvantagem
e descrédito diante de oportunidades direcionadas para os padrões de qualidade de
vida.
No domínio da saúde, a Organização Mundial de Saúde (OMS) (1989), caracteriza
deficiência como “(...) uma perda de substância ou alteração de uma função ou de uma
estrutura psicológica, fisiológica ou anatómica”. Numa sociedade elitista e competitiva
por natureza, cujos valores se centram em características pré-definidas que tendem a
normalizar e homogeneizar individualidades, os seres com deficiência surgem como
aqueles que se destacam. Esta população, pelos desvios negativos que apresenta nos
padrões de referência, é relegada para um plano desviante de qualquer sistema social.
É empurrada para o isolamento e separatismo, pois mesmo quando não é encarada
como doença social, encontra-se ou é colocada na fronteira da exclusão. Com a evolução
das mentalidades e dos valores (desprovidos de correlação entre deficiência e
demonologia), os indivíduos rotulados de “deficientes” são revitalizados no panorama
social. O próprio conceito de deficiência evolui: passa de limitação severa e causadora
de controvérsia, a dimensão de carácter individual e enriquecedora, à qual a
comunidade deve dar resposta (Lebres, 2010). O preconceito é abolido em detrimento
do respeito individual, sendo que a própria delimitação conceptual é redefinida,
surgindo o conceito de Necessidades Educativas Especiais (NEE).
De acordo com a Declaração de Salamanca (1994), todos os indivíduos que em
algum período do seu percurso escolar necessitem de adaptações específicas e próprias
para o seu desenvolvimento educativo, pessoal e sócio-emocional, constituem-se como

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elementos abrangidos pelo conceito NEE. Surgem assim novos discursos políticos,
tendências académicas e pedagógicas, que se alteram pela desmistificação de
determinados preconceitos, originando um novo quadro conceptual.
O conceito de integração emerge nas sociedades desenvolvidas atuais, indicando
que o individuo anteriormente “inexistente” aos olhos do mundo, recolhido em
instituições assistenciais e sem fins educativos, é agora encarado como ser que necessita
de respostas próprias, específicas e direcionadas para o seu ingresso na comunidade
social. O conceito de inclusão é enunciado pela primeira vez na Declaração de
Salamanca, redigida pela Conferência Mundial de Educação Especial. Surge como uma
evolução do conceito integrativo, na medida em que não pretende colocar o aluno na
“normalidade”, mas assumir perante todos que a diversidade e heterogeneidade são
fatores positivos e promotores do desenvolvimento dos alunos com e sem NEE (Lebres,
2010). É reafirmado o princípio de uma “educação para todos”, cabendo às escolas
regulares o compromisso de se moldarem e adaptarem às exigências e características de todos
os alunos (UNESCO, 1994).

Em Portugal, a Educação Especial ensaia os primeiros passos na década de 70. Até então
tinham sido criados vários estabelecimentos que asseguravam a assistência, despiste,
observação e educação de crianças e jovens deficientes. A educação destes foi orientada em
duas vertentes: uma assistencial para a qual foram criados asilos e outra orientada numa
vertente educativa, sendo para o efeito criados institutos para cegos e surdos.

A Revolução de 25 de Abril de 1974 e as consequentes alterações políticas revelam de


novo os movimentos associativos e cooperativos trazendo à superfície as insuficiências
existentes na área da educação especial. A liberdade de associação e de expressão, depois de
recuperadas, possibilitam esta tomada de consciência. Embora tivessem sido observados
progressos assinaláveis, a situação na época avaliava-se com base em três pressupostos
fundamentais: taxa reduzida, ou inexistência, de cobertura da educação especial no País;
assimetrias acentuadas entre zonas; e colégios particulares de ensino especial em número
reduzido.

Em 23 de Maio de 1974, um grupo de técnicos ligados à educação especial elaborou um


documento-base, entregue às entidades governamentais, contendo um conjunto de princípios
e de medidas orientadoras da educação especial.

O movimento CERCI surge como resultado de um conjunto de cidadãos, que possuíam


um sentimento comum e foram movidos por razões pragmáticas, inspirando as fontes da ação
do movimento de pais que a partir daqui conduziu à criação das Cooperativas de Educação e
Reabilitação de Crianças Inadaptadas.

Como aspetos essenciais da implicação direta na educação especial, destacamos, o


alargamento da escolaridade obrigatória para nove anos; o despiste, orientação e
encaminhamento das crianças deficientes desde o Pré-escolar; e a integração de objetivos
específicos desta área no Ensino Básico.

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Podemos verificar que os princípios orientadores desta política educativa promovem


sistematicamente o modelo da integração da criança deficiente no ensino regular, pretendendo
a integração da educação especial no sistema educativo nacional.

Decorrentes da Lei de Bases do Sistema Educativo, surgiram, documentos fundamentais


como o Decreto-Lei nº 286/89 de 29 de Agosto que veio fundamentar a organização curricular
do ensino básico e secundário e o Decreto-Lei nº 319/91 de 23 de Agosto que regula a integração
dos alunos portadores de deficiência.

As transformações do sistema educativo português decorrentes da publicação da Lei de


Bases do Sistema Educativo, as recomendações para o ensino especial emanadas de organismos
internacionais a que Portugal está vinculado e a experiência acumulada levam a considerar os
diplomas vigentes ultrapassados e de alcance limitado.

Por estes motivos salientamos: a substituição da classificação em diferentes categorias


pelo conceito de alunos com necessidades educativas especiais, baseado não em critérios
médicos mas em critérios pedagógicos; o aumento da responsabilização da escola regular pelos
problemas dos alunos com deficiência ou dificuldades de aprendizagem; a abertura da escola a
alunos com necessidades educativas especiais, numa perspetiva de escolas para todos; um
reconhecimento mais explícito do papel dos pais na orientação educativa dos seus filhos; e por
fim a consagração, de uma educação processada no meio menos restritivo possível, que se
revele indispensável para atingir os objetivos educacionais definidos. Definem-se, assim, as
medidas do regime educativo especial, os equipamentos especiais de compensação, as
adaptações materiais, as adaptações curriculares, as condições especiais de matrícula, entre
outras. São ainda especificados os elementos que devem constar do Plano Educativo Individual
e do Programa Educativo tendo em conta que os Encarregados de Educação devem manifestar
sempre a sua opinião e participar na elaboração dos documentos e os mesmos carecem da sua
anuência.

Em Junho de 1994, Portugal assina, em conjunto com 22 outros países, a Declaração de


Salamanca. O seu objetivo consiste em desenvolver uma abordagem da educação inclusiva,
promotora de um atendimento a todas as crianças, sobretudo as que têm necessidades
educativas especiais, nas escolas. Este documento indica ainda que a educação de crianças e
jovens com necessidades educativas especiais deve progredir sempre dentro de uma estratégia
global de educação.

Foi publicado em 7 de janeiro de 2008 o decreto-lei 3/2008. Esta lei revogou a legislação
que até então existia (nomeadamente o Dec. Lei 319/91) já com 19 anos de publicação. Vários
pontos são determinantes na comparação destes dois documentos. A população abrangida
pelos serviços de Educação Especial passa a ser definida pelo âmbito proposto na Classificação
Internacional de Funcionalidade (CIF) da Organização Mundial de Saúde.

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Benilde Fernandes

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