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EDUCAÇÃO

FÍSICA
INCLUSIVA
E ESPORTES
ADAPTADOS

Beatriz Paulo Biedrzycki


Procedimentos
pedagógicos e adaptação
às necessidades especiais
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Analisar os procedimentos pedagógicos específicos para necessidades


especiais.
„„ Identificar os diferentes níveis de orientação e instrução adaptados
às necessidades especiais.
„„ Descrever o funcionamento de uma sala de atendimento educacional
especializado às diferentes necessidades especiais.

Introdução
A participação de pessoas com deficiência em atividades físicas e desporti-
vas, bem como em atividades do cenário educacional, acontece hoje após
muitas lutas sociais e avanços na legislação brasileira. Com isso, torna-se
necessário entender essas mudanças e atender essa população para tornar
os espaços inclusivos, permitindo sua participação, independentemente
da deficiência, e visando atender seus direitos reconhecidos por lei.
Neste capítulo, você analisará os procedimentos pedagógicos espe-
cíficos para atender as pessoas com deficiência, e identificará os níveis
de orientação e instrução adaptados às necessidades dessas pessoas.
Você também conhecerá e descreverá o funcionamento e o material
de uma sala de recursos multifuncionais e de atendimento educacional
especializado (AEE).
2 Procedimentos pedagógicos e adaptação às necessidades especiais

1 A pessoa com deficiência e


a educação inclusiva
Sobre diversidade, Maior (2015, documento on-line) discorre:

Desde a origem da raça humana, as pessoas diferem entre si. A diversidade


manifesta-se, por exemplo, na distinção entre homens e mulheres, nas etapas
do ciclo da vida e na própria fragilidade humana, fatores que podem determi-
nar limitação no desempenho de algumas atividades. Como consequência da
supervalorização da capacidade física, sensorial e cognitiva, as pessoas com
deficiência enfrentaram a eliminação, a exclusão, e muitas formas de segre-
gação como prova do preconceito, da discriminação e da desvalorização de
suas vidas. Em todas as situações manifesta-se a opressão sobre os indivíduos
de grupos minoritários em situação de vulnerabilidade.

Atualmente, 24% da população brasileira (cerca de 45 milhões de pessoas)


possuem algum tipo de deficiência, sendo que apenas 1% está atuante no mer-
cado de trabalho formal (VERDÉLIO, 2017) e 10,8% estão matriculados em
escolas da rede regular de ensino (TOKARNIA, 2019). Vale a pena ressaltar
que este número vem crescendo com o avanço das políticas de inclusão.
A deficiência é um conceito em evolução, visto que é uma construção
social; ela avança para além dos atributos biológicos, uma vez que se refere à
interação entre a pessoa e as barreiras ou os elementos facilitadores existentes
nas atitudes e na provisão de acessibilidade e de tecnologia assistiva. Sendo
assim, o conceito de pessoa com deficiência abrange as limitações físicas,
mentais, intelectuais ou sensoriais. Essas limitações passam a ser considera-
das atributos das pessoas, e podem ou não gerar restrições para o exercício
dos direitos, impondo a necessidade de adaptação da sociedade para que as
pessoas com deficiência possam gozar de seus direitos civis e entendendo a
deficiência como uma questão pública e coletiva (MAIOR, 2015).
Entre esses direitos, podemos citar o acesso à educação como um direito
constitucional, atendendo, assim, suas necessidades educacionais para a apren-
dizagem. De acordo com o artigo 4º da Resolução CNE/CEB nº 2, de 11 de
setembro de 2001, o atendimento aos alunos com necessidades educacionais
especiais deve ser realizado em classes comuns do ensino regular, em qualquer
etapa ou modalidade da educação básica, considerando as situações singulares,
os perfis dos estudantes, as características biopsicossociais dos alunos e suas
faixas etárias. Esse atendimento é pautado em princípios éticos, políticos e
estéticos, de modo a assegurar:
Procedimentos pedagógicos e adaptação às necessidades especiais 3

I — a dignidade humana e a observância do direito de cada aluno de realizar


seus projetos de estudo, de trabalho e de inserção na vida social;
II — a busca da identidade própria de cada educando, o reconhecimento e
a valorização das suas diferenças e potencialidades, bem como de suas neces-
sidades educacionais especiais no processo de ensino e aprendizagem, como
base para a constituição e ampliação de valores, atitudes, conhecimentos,
habilidades e competências;
III — o desenvolvimento para o exercício da cidadania, da capacidade de
participação social, política e econômica e sua ampliação, mediante o cum-
primento de seus deveres e o usufruto de seus direitos (BRASIL, 2001, do-
cumento on-line).

Diante dessa realidade, podemos afirmar que todos os alunos são diferentes
em suas capacidades, dificuldades, motivações, comprometimentos, ritmos,
desenvolvimentos, maneira de aprender e contextos sociais. Por isso, a escola
precisa ser inclusiva e pensada para oferecer qualidade de ensino para todos,
a partir de propostas pedagógicas eficazes e diretamente relacionadas às
necessidades dos alunos, contemplando os diversos níveis de aprendizagem
(FRANTIOZI, 2014).

Segundo Frantiozi (2014, documento on-line), educação inclusiva significa “[…] ensinar
todas as crianças no mesmo contexto escolar, isso não significa negar as dificuldades
dos alunos e sim, com a inclusão as diferenças não são vistas como problemas, mas
como diversidade [...]”. Mas, para que a inclusão educacional se concretize, é necessário
um olhar diferenciado por parte dos professores, da equipe gestora e da comunidade
escolar do ensino comum em relação ao trabalho realizado em sala de aula com alunos
também inclusos que apresentam deficiência intelectual (FRANTIOZI, 2014).

Sendo assim, a educação cooperativa surge como uma ferramenta possí-


vel e interessante, uma vez que os alunos aprendem mais e melhor quando
trabalham em cooperação com companheiros mais capazes, ao atuar na zona
de desenvolvimento proximal (ZDP). Ou seja, ele não constrói o seu conheci-
mento na forma puramente individual, mas sim por meio da interação social
(SILVA, 2017). Leitão (2006, p. 8) define a aprendizagem cooperativa como
a estratégia de ensino que se:
4 Procedimentos pedagógicos e adaptação às necessidades especiais

[…] organiza e desenvolve com a criação de grupos de alunos que têm em


comum, o fato de serem todos diferentes, sendo um potencializador para
o desenvolvimento de uma diversidade de tarefas, de atividades, forma e
contextos sociais de aprendizagem, para ajudar os alunos a, ativa e solida-
riamente, crítica e reflexivamente, construírem e aprofundarem a sua própria
compreensão do mundo em que vivem.

Essa metodologia pode ser de grande valia para os alunos com deficiência,
uma vez que são agentes ativos em todo o seu processo de ensino e aprendiza-
gem. Eles são constantemente chamados a intervir e a tomar decisões sobre os
mais diferentes aspectos: vida escolar, resolução de problemas, formação dos
próprios grupos e definição dos próprios objetivos de aprendizagem. Assim,
ela é uma facilitadora para a criação de um espaço inclusivo, onde cada um
compreende suas dificuldades e diferenças, atuando em conjunto para um
objetivo em comum. Espera-se que todos os estudantes tenham interação,
não havendo espaço para a exclusão (SILVA, 2017).
É claro que cada estudante deve ser avaliado individualmente. Mesmo
que seja utilizado um sistema pautado na educação cooperativa, por vezes
pode ser necessário fazer adaptações curriculares, que devem ser planeja-
das e construídas tendo como referência os conteúdos curriculares oficiais
para a série/ciclo em que se está trabalhando. Nesse contexto, deve-se levar
em consideração a Base Nacional Comum Curricular (BRASIL, 2017) e o
plano de trabalho do professor — atendendo os objetivos fundamentais e os
conteúdos mínimos essenciais, aos quais os alunos devem ter acesso para
alcançar sucesso e promoção para o ano/ciclo superior. Assim, é necessário
que a adaptação aconteça a partir do planejamento para o ano/turma em que
o aluno está inserido, criando a possibilidade de adaptar a maneira como eles
serão abordados e desenvolvidos, sem modificar os objetivos previamente
estabelecidos (LOPES, 2008).

Criar uma perspectiva de educação inclusiva pode perpassar inúmeros fatores, como
criar mecanismos que permitam que os estudantes realizem atividades simples e
diárias. Um estudante com baixa visão apresenta dificuldade para atividades de leitura,
e isso pode ser um fator excludente nas aulas. Essa dificuldade pode ser sanada ao
desenvolver materiais com letras de tamanhos maiores, permitindo que o estudante
possa realizar as atividades com os colegas.
Procedimentos pedagógicos e adaptação às necessidades especiais 5

Dessa forma, a escola deve estar preparada para receber diferentes es-
tudantes e atender suas necessidades individuais. Não é possível prever as
deficiências e necessidades de adaptação que cada estudante pode apresentar
e estar preparado para todas elas, mas é importante que a escola tenha um
pensamento inclusivo e esteja disposta a fazer as adequações necessárias
para atender o aluno com deficiência, com o objetivo de proporcionar sua
aprendizagem e pertencimento ao espaço, agindo com autonomia.
A seguir, você irá compreender como acontece a adaptação dos procedi-
mentos pedagógicos a serem utilizados de acordo com os tipos das deficiências
existentes.

2 Educação inclusiva: abordando


as diferentes deficiências
A educação física escolar tem sido considerada como um importante facilitador
de atitudes inclusivas ao promover o contato e o relacionamento social entre
os estudantes. É possível criar e proporcionar um ambiente inclusivo, que
necessita da mudança de atitudes em toda a comunidade educativa. Para isso,
deve-se investir na formação humana dos professores e alunos, predominando
a cooperação entre todos os envolvidos (MARTINS, 2014).

O conceito de ambiente inclusivo propõe o atendimento simultâneo de alunos com


e sem deficiência, respeitando as individualidades e atendendo-os dentro das suas
particularidades, mas dentro de uma mesma proposta, com um olhar diferenciado
para cada estudante. Esse ambiente é mais propício para a aprendizagem, uma vez
que tem estímulos diferenciados e proporciona uma convivência social aumentada
e diversificada, pautada no respeito às diferenças.
6 Procedimentos pedagógicos e adaptação às necessidades especiais

Cada tipo de deficiência tem particularidades e especificidades a serem


observadas. Segundo Sá, Campos e Silva (2007), a educação formal privilegia
a visualização dos conteúdos em todas as áreas de conhecimento, em um
universo permeado de símbolos gráficos, imagens, letras e números. Assim,
necessidades decorrentes de limitações visuais, que afetam as pessoas com
deficiência intelectual, não devem ser ignoradas, negligenciadas ou confundidas
com concessões ou necessidades fictícias.
Sá, Campos e Silva (2007) também afirmam que pessoas com deficiência
visual necessitam de um ambiente estimulador, de mediadores e de condições
favoráveis à exploração de seu referencial perceptivo particular, uma vez que
não têm acesso a todos os estímulos visuais que os as outras pessoas possuem.
É importante esclarecer que o fato de não enxergarem não os diferencia dos
demais no que diz respeito ao desejo de aprender, aos interesses, à curiosidade,
às motivações, às necessidades gerais de cuidados, proteção, afeto, brincadeiras,
limites, convívio e recreação, entre outros aspectos relacionados à formação
da identidade e aos processos de desenvolvimento e aprendizagem.
Pessoas com deficiência visual devem ser tratadas como qualquer educando
no que se refere aos direitos, deveres, normas, regulamentos, combinados,
disciplina e demais aspectos da vida escolar, utilizando experiências — táteis,
olfativas e sonoras — como uma possibilidade além das imagens (SÁ; CAM-
POS; SILVA, 2007). Na aula de educação física, devem ser utilizadas bolas
com guizos, marcações na quadra com relevo e cores chamativas para o caso
de baixa visão. Também se deve explicar, com calma e clareza, as informações
e instruções, criando um espaço que permita a sua participação. Caso seja
possível, deve-se escolher um aluno para acompanhar o aluno com deficiência
visual até que este conheça o espaço e possa deslocar-se com autonomia.
Quando falamos em deficiência auditiva, a Língua Brasileira de Sinais
(Libras) é um fator imperativo para a comunicação, e é necessário que a
escola esteja preparada, com profissionais capacitados. Apesar de trazer
uma nova linguagem para a aula, quando se trata do contexto da educação
física escolar, indivíduos com deficiência auditiva não apresentam atraso de
desenvolvimento motor. Ainda assim, alguns estudos (GOLDFELD, 1997;
LAFON, 1989; PASETTO, 2004; SANTANA et al., 2008) mostraram que
existe uma interdependência entre gesto e língua em termos simbólicos,
interativos e cognitivos. Isso significa que a criança com deficiência auditiva
não fica alerta a sons que não identifica, e utiliza apenas a visão para detectar
o ambiente à sua volta na expectativa de mudanças. Assim, ela distrai-se
facilmente — ou seja, é possível que a criança não entenda os estímulos e a
tarefa, e ela diminui o interesse pela prática. Esses estudos também apontam
Procedimentos pedagógicos e adaptação às necessidades especiais 7

para a necessidade de utilizar gestos, sinalização em Libras, imagens, toque


e toda a gama de possibilidades visuais, buscando manter a atenção dessa
população, garantindo que a aprendizagem aconteça.
A deficiência física pode ser entendida como uma dificuldade de locomoção,
podendo apresentar diferentes graus e acometimentos. Porém, as maiores difi-
culdades dessa população talvez estejam no componente curricular da educação
física. Isso porque a deficiência física não está necessariamente vinculada
a outros acometimentos cognitivos, visuais ou auditivos, não interferindo
diretamente no processo de ensino–aprendizagem do sujeito.
Ao pensarmos que pessoas com deficiência intelectual possuem limitações,
mas devem ser estimuladas para que haja o desenvolvimento cognitivo de
estruturas superiores, é natural incluí-las no planejamento das aulas, pensando
em propostas para facilitar o seu processo de ensino–aprendizagem. Uma
dessas estratégias pode ser entendida como a mediação. Mediar é um processo
educacional que leva em consideração o conhecimento, o desenvolvimento,
o respeito e a percepção de que todo indivíduo está apto para aprender. A me-
diação deve ter uma intencionalidade e deve sempre desenvolver a habilidade
do processo de aprender. Assim, cabe ao professor pensar em estratégias para
tornar o conteúdo acessível ao estudante, elaborando ferramentas alternativas
para expor, manusear e vivenciar o conteúdo programado (SANTOS; CAR-
VALHO; ALECRIM, 2019).
O professor da educação física escolar deve, a partir da necessidade existente
do aluno, pensar em estratégias para que este possa participar ativamente da
aula. Para isso, podem ser utilizadas modalidades esportivas adaptadas, como o
vôlei sentado, o basquete em cadeira de rodas, a bocha e o goalball, colocando
os demais alunos da turma na mesma condição que o aluno com deficiência.
Cabe, ao professor de educação física, criar espaços de conhecimento e
partilha entre os estudantes, gerando, no espaço da aula de educação física,
um local de experimentação e (auto)conhecimento da turma — inclusive
do aluno com deficiência. Assim, permite-se que o aluno com deficiência
extrapole suas potencialidades, buscando criar estratégias para que elas se
desenvolvam de maneira integral, preservando sua identidade e garantindo
seu aprendizado. A educação física é um espaço rico, uma vez que desenvolve
o corpo, os movimentos expressivos e o trabalho em equipe. O jogo é o ele-
mento principal, e parece ser a ferramenta mais indicada para lidar com as
diferentes deficiências, uma vez que permite que, de maneira lúdica, vivencial
e concreta, o estudante seja capaz de compreender conceitos complexos e
abstratos (FRANTIOZI, 2014).
8 Procedimentos pedagógicos e adaptação às necessidades especiais

3 Atendimento educacional especializado:


uma estratégia para o ensino inclusivo
A educação especial é uma modalidade de ensino que perpassa todos os níveis,
etapas e modalidades, incluindo o atendimento educacional especializado
(AEE). Essa atividade tem como objetivo disponibilizar os recursos e serviços
necessários, bem como orientar quanto à sua utilização no processo de ensino
e aprendizagem nas turmas comuns do ensino regular (BRASIL, 2008).
É obrigatória a matrícula, no sistema de ensino, de alunos com deficiên-
cia, com transtornos globais do desenvolvimento e com altas habilidades/
superdotação nas escolas comuns do ensino regular. Deve-se ofertar o AEE,
garantindo meios de acesso e condições para uma educação de qualidade
regular (BRASIL, 2008).
O AEE tem como funções, segundo as Diretrizes Operacionais da Educação
Especial para o Atendimento Educacional Especializado na Educação Básica
(BRASIL, 2008, documento on-line):

[…] identificar, elaborar e organizar recursos pedagógicos e de acessibilidade


que eliminem as barreiras para a plena participação dos alunos, conside-
rando suas necessidades específicas. Esse atendimento complementa e/ou
suplementa a formação dos alunos com vistas à autonomia e independência
na escola e fora dela.

É importante salientar que a oferta do AEE deve constar no projeto peda-


gógico da escola de ensino regular. É importante salientar que os serviços e
recursos presentes em uma sala de AEE são diversos, uma vez que buscam
atender as dificuldades de aprendizagem dos estudantes. Logo, cada escola
possui suas necessidades, e pode ter diferentes materiais didáticos, espaços e
equipamentos, trabalhando em conjunto com as atividades escolares. A escola
deve, portanto, atender algumas exigências:

„„ possuir sala de recursos multifuncional destinada exclusivamente para


o AEE, contando com: espaço físico, mobiliários, materiais didáticos,
recursos pedagógicos e de acessibilidade e equipamentos específicos,
conforme a demanda;
„„ garantir a matrícula do aluno no AEE, que é condicionada à matrícula
no ensino regular da própria escola ou de outra escola, sendo que o
aluno participa desse atendimento no contraturno escolar;
Procedimentos pedagógicos e adaptação às necessidades especiais 9

„„ elaborar um plano do AEE, contendo a identificação das necessidades


educacionais específicas dos alunos, a definição dos recursos necessários
e das atividades a serem desenvolvidas e o cronograma de atendimento
dos alunos;
„„ possuir professor capacitado para o exercício da docência do AEE,
articulado com os professores do ensino comum;
„„ disponibilizar profissionais de educação para atuar dando apoio às
atividades de alimentação, higiene, locomoção e intérprete, quando
necessário;
„„ construir uma rede de apoio, atuando multidisciplinarmente, com toda
a equipe de profissionais e familiares que atendem o estudante.

Além das regras e necessidades que tangem a sala de recursos para o AEE,
o professor de AEE possui algumas atribuições que devem ser observadas
(BRASIL, 2010), além da formação de pós-graduação que o permite atuar
nessa área, sendo elas:

„„ elaboração, execução e avaliação do plano de AEE do aluno;


„„ definição do cronograma e das atividades que serão desenvolvidas
pelo aluno;
„„ organização de estratégias pedagógicas e identificação e produção de
recursos acessíveis de acordo com as necessidades do aluno;
„„ ensino e desenvolvimento das atividades próprias do AEE, como: Libras,
Braille, orientação e mobilidade, língua portuguesa para alunos surdos,
informática acessível, comunicação alternativa e aumentativa (CAA),
atividades de desenvolvimento das habilidades mentais superiores e
atividades de enriquecimento curricular;
„„ acompanhamento da funcionalidade e usabilidade dos recursos de
tecnologia assistiva na sala de aula comum e ambientes escolares;
„„ articulação com os demais professores das classes comuns, nas diferentes
etapas e modalidades de ensino, criando uma unidade entre o que está
sendo desenvolvido na sala de aula e no AEE;
„„ orientação aos professores do ensino regular, bem como às famílias,
sobre os recursos utilizados pelo aluno;
„„ efetivação da interface com as áreas da saúde, assistência, trabalho e
demais redes de apoio do aluno.
10 Procedimentos pedagógicos e adaptação às necessidades especiais

Quanto aos materiais necessários para uma sala de recursos multifuncionais,


é necessário esclarecer que existem duas possibilidades, que variam con-
forme os tipos de deficiência dos alunos por ela atendidos. A sala de recursos
multifuncionais tipo I atende a maioria das deficiências, exceto a deficiência
visual. É importante esclarecer que a sala de recursos multifuncionais tipo II
deve ter todo o material previsto na sala tipo I, mais os previstos para a sala
tipo II, sendo, então, mais completa. Veremos, no Quadro 1, cada uma delas.

Quadro 1. Sala de recursos multifuncionais tipo I e tipo II

Sala de recursos multifuncionais tipo I

Equipamentos Materiais didático Mobiliários


e pedagógico

„„ 2 microcomputadores „„ 1 material dourado „„ 1 mesa redonda


„„ 1 laptop „„ 1 esquema corporal „„ 4 cadeiras
„„ 1estabilizador „„ 1 bandinha rítmica „„ 1 mesa para
„„ 1 escâner „„ 1 memória de numerais impressora
„„ 1 impressora a laser „„ 1 tapete alfabético „„ 1 armário
„„ 1 teclado com encaixado „„ 1 quadro branco
colmeia „„ 1 software de „„ 2 mesas para
„„ 1 acionador de comunicação computador
pressão alternativa „„ 2 cadeiras
„„ 1 mouse com entrada „„ 1 sacolão criativo
para acionador monta-tudo
„„ 1 lupa eletrônica „„ 1 quebra-cabeças —
sequência lógica
„„ 1 dominó de associação
de ideias
„„ 1 dominó de frases
„„ 1 dominó de animais
em Libras
„„ 1 dominó de frutas em
Libras
„„ 1 dominó tátil
„„ 1 alfabeto Braille
„„ 1 kit de lupas manuais
„„ 1 plano inclinado —
suporte para leitura
„„ 1 memória tátil

(Continua)
Procedimentos pedagógicos e adaptação às necessidades especiais 11

(Continuação)

Quadro 1. Sala de recursos multifuncionais tipo I e tipo II

Sala de recursos multifuncionais tipo II

„„ 1 impressora Braille — „„ 1 reglete de mesa


pequeno porte „„ 1 punção
„„ 1 máquina de „„ 1 soroban
datilografia Braille „„ 1 guia de assinatura
„„ 1 calculadora sonora „„ 1 kit de desenho
geométrico

Fonte: Adaptado de Ministério da Educação (BRASIL, 2010).

Alguns materiais são bastante específicos do AEE, portanto, apresenta-


remos alguns desses recursos.

„„ Teclado com colmeia — a colmeia é uma sobreposição ao teclado


que possui orifícios apenas em cima das teclas, permitindo que seja
acionada a tecla de maneira individual.
„„ Acionador de pressão — é um acessório para acessibilidade do com-
putador que fica conectado ao mouse, facilitando o clique.
„„ Material dourado — pode ser feito de diferentes materiais, mas o mais
comum é em madeira, e possui representações concretas dos conceitos
de unidade, dezena e centena.
„„ Plano inclinado — é uma estrutura onde é possível apoiar o material
de leitura, posicionando-o no plano de visão, em um ângulo ideal para
a leitura.
„„ Reglete de mesa e punção — são instrumentos para o aprendizado e
escrita do sistema Braille. Têm baixo custo e são muito funcionais, uma
vez que são utilizados de maneira parecida com lápis e papel.
„„ Soroban — muito parecido com o ábaco, auxilia a realizar cálculos
matemáticos. É utilizado principalmente para o ensino de alunos cegos,
auxiliando na compreensão do número a partir de material concreto,
bem como na realização de cálculos matemáticos.
12 Procedimentos pedagógicos e adaptação às necessidades especiais

Assim, é possível perceber que o AEE busca atender as diferentes necessi-


dades dos estudantes, sendo uma obrigatoriedade legal que deve ser cumprida
em todas as escolas. Como essas alterações e legislações são recentes, existe
no mercado uma falta de professores capacitados para o AEE, sendo um ramo
em expansão e de suma importância para o desenvolvimento da educação
especial séria e de qualidade.
Ao lermos todo o material, percebemos que cada tipo de deficiência possui
suas particularidades quanto à necessidade de adaptações e, em certas ativi-
dades e deficiências, as adaptações não são sequer necessárias, mas o olhar
do professor deve ser diferente diante do progresso que cada estudante fará
ao receber os mesmos estímulos.
Além disso, é importante que o professor se aprofunde e conheça o estu-
dante, buscando entender suas dificuldades e potencialidades, para pensar em
maneiras de adaptar o conteúdo para ele. Quando se fala sobre o componente
curricular da educação física, a participação e a socialização são tão impor-
tantes quanto as demais habilidades e competências previstas, ou seja, sempre
se deve tentar realizar a mesma atividade, buscando realmente incluir o sujeito
nas atividades propostas e criando uma unidade com a turma. Deve-se ter
em mente sempre que o diálogo e a explicação das diferentes necessidades
do aluno com deficiência podem ser extremamente esclarecedores e ricos
para os demais alunos, uma vez que o conhecimento diminui o preconceito.

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Diretrizes opera-


cionais da educação especial para o atendimento educacional especializado na educa-
ção básica. 2008. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_
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BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Manual de orientação:
programa de implantação de sala de recursos multifuncionais. 2010. Disponível em: http://
portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=9936-ma-
nual-orientacao-programa-implantacao-salas-recursos-multifuncionais&Itemid=30192.
Acesso em: 03 maio 2020.
BRASIL. Resolução CNE/CEB nº 2, de 11 de setembro de 2001. Institui diretrizes nacionais
para a educação especial na educação básica. 2001. Disponível em: http://portal.mec.
gov.br/cne/arquivos/pdf/CEB0201.pdf. Acesso em: 03 maio 2020.
Procedimentos pedagógicos e adaptação às necessidades especiais 13

FRANTIOZI, S. A. Escola inclusiva: adaptações necessárias para contemplar a diversidade.


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GOLDFELD, M. A criança surda: linguagem e cognição numa perspectiva sóciointera-
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LAFON, J. C. A deficiência auditiva na criança: incapacidades e readaptações. Barueri:
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LOPES, E. Flexibilização curricular: um caminho para o atendimento de aluno com de-
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14 Procedimentos pedagógicos e adaptação às necessidades especiais

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Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-humanos/noticia/2017-08/
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Leituras recomendadas
BISOL, B. A. et al. Desafios para a inclusão de estudantes com deficiência física: uma
revisão de literatura. Conjectura: Filosofia e Educação, Caxias do Sul, v. 23, n. 3, p. 601–619,
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view/6711/pdf. Acesso em: 03 maio 2020.
GAUDENZI, P.; ORTEGA, F. Problematizando o conceito de deficiência a partir das
noções de autonomia e normalidade. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 21,
n. 10, p. 3061–3070, 2016. Disponível em: https://www.scielosp.org/article/csc/2016.
v21n10/3061-3070/. Acesso em: 03 maio 2020.

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