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CURSO DE PEDAGOGIA

Queli De Oliveira Cardoso Zanoti

O ENSINO DE LIBRAS COMO MECANISMO DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA: OS


DESAFIOS DA INCLUSÃO NO CONTEXTO ESCOLAR

CAPÃO DA CANOA
2023
1 INTRODUÇÃO

Abordar a educação inclusiva é algo desafiador para o sistema de ensino brasileiro,


uma vez que, a educação não é restrita unicamente ao acesso as escolas, mas também a
inclusão em todas as suas esferas buscando garantir a participação, aprendizagem e o
desenvolvimento dos alunos com deficiência auditiva na qualidade de sujeitos.
A educação inclusiva expõe temáticas a serem abordadas, repensadas e analisadas nas
instituições de ensino, as adversidades encontradas nas escolas trouxeram o carecimento em
afrontar as práticas que excluem e separam aqueles que tem alguma deficiência nas salas de
aula regulares. Por sua vez, visando maior qualidade na aprendizagem, o acesso e a
permanência desses alunos nas escolas, alcançando igualdade nas oportunidades, emerge a
necessidade de ser reformulada as formas de educar de maneira a atender a tais necessidades.
Segundo ressalta a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, determina-se que toda
instituição de ensino deve adequar seu plano de ensino aderindo a métodos e estratégias
eficazes, no entanto ainda é possível serem observados problemas devido à falta de materiais
e indivíduos capacitados bem como a ausência da acessibilidade. Partindo deste ponto, o
presente trabalho tem como foco analisar a Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS- como
instrumento de comunicação e desenvolvimento em face às dificuldades encontradas pelas
instituições de ensino em aderir a lei da inclusão e alcançar profissionais capacitados para
compor o quadro de profissionais da educação qualificados para ensinar alunos surdos de
maneira que estes tenham o mesmo desempenho dos demais.
2 A FORMAÇÃO DOS PROFESSORES E A EDUCAÇÃO INCLUSIVA

A educação possibilita o desenvolvimento ético, moral e intelectual carregando uma


indispensável carga psicossocial para total prática da cidadania (SILVA; FERREIRA, 2014).
Pode-se afirmar que, a educação o um método pelo qual se torna possível viabilizar a inclusão
da pessoa dentro de um contexto histórico, político, social e econômico, naquele em que está
introduzido.
A principal base educacional legislativa está na Constituição Federal de 1988, que em
seu texto estabelece a educação como um direito:

Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia,


o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à
infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição (BRASIL,
1988, n.p).

Ainda, o texto constitucional aborda em seu art. 22, XXIV que é competência privativa
a União legislar sobre as “diretrizes e bases da educação nacional” (BRASIL, 1988, n.p), o
que torna total responsabilidade do Estado a implementação de políticas que viabilizem a
igualdade, a inclusão dentro das escolas regulares.
Incluir pessoas com deficiência não apenas nas escolas, mas também na sociedade não
pode ser qualificado como um tema recente, no entanto a atenção que requer proporcionar
acessibilidade as pessoas com deficiência vêm sendo mascarada gerando de modo automático
a exclusão destes indivíduos.
Para Montoan (2005) a educação inclusiva é aquela em que são acolhidos todos os
indivíduos, sem quaisquer exceções, sendo tanto para aqueles que possuem alguma deficiência
física quanto para aqueles que possuem comprometimento mental, para aqueles superdotados
e para todas aquelas crianças que são discriminadas ou menosprezadas independente da razão.
Conforme aborda o Portal Educação (2016), inclusão escolar é, amparar todos aqueles
que queiram estudar, sem distinção, sendo-lhes oferecida a oportunidade ao acesso e
permanência a educação. Ao se pensar em indivíduos com deficiência há o reconhecimento
deste como sujeito de direitos bem como o direito ao acesso à educação, portanto, é possível
entender-se que tudo o que fora determinado pelas leis que abrangem a educação inclusiva
engloba todos os indivíduos e a estes dever-se-á atender de acordo com a sua individualidade.
A Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional, Lei 9.394/96 no artigo 59 revela que
os sistemas de ensino devem oferecer currículo, métodos, recursos, organização específicos
para atender as necessidades dos educandos, sempre considerando as características do aluno,
seus anseios, condições de vida e de trabalho, mediando cursos e avaliações.
A inclusão de todos na escola independentemente do seu talento ou deficiência,
reverte-se em benefícios para os alunos, para os professores e para a sociedade em
geral. O contato das crianças entre si reforça atitudes positivas, ajudando-as a
aprenderem a ser sensíveis, a compreender, respeitar, e crescer, convivendo com as
diferenças e as semelhanças individuais entre seus pares. Todas as crianças, sem
distinção, podem beneficiar-se das experiências obtidas no ambiente educacional
(FERREIRA, 2005, p. 124).

Desta feita, o Ministério da Educação com o apoio da Secretaria de Educação Especial,


desenvolve uma Política Nacional de Educação Especial de acordo com a perspectiva da
Educação Inclusiva (2008) tendo como objetivo constituir políticas públicas de uma educação
de qualidade para todos os alunos. Onde as escolas precisam estar preparadas para receber
todos os alunos e que tenham uma educação de qualidade, com profissionais de educação
qualificados para atender as necessidades dos discentes.
A Lei nº 10.439/02 reconhece a Língua Brasileira de Sinais-LIBRAS como meio legal
de comunicação e expressão e determina que se tenha o apoio e difusão da mesma.
Reafirmando tal lei, o Decreto 5.626/05 regulamenta que alunos surdos tenham a sua
disposição a inclusão da Libras como disciplina no currículo escolar, abordando ainda que a
formação e a certificação de professor, instrutor e tradutor de Libras, colocando ainda como
obrigatória a inclusão de Libras na grade curricular na educação superior na formação de
professores e fonoaudiólogos e será facultativa nos demais cursos de graduação.

O contexto bilíngue da criança surda configura-se diante da coexistência da língua


brasileira de sinais e da língua portuguesa. No cenário nacional, não basta
simplesmente decidir se uma ou outra língua passará a fazer ou não parte do programa
escolar, mas sim tornar possível a coexistência dessas línguas, reconhecendo-as de
fato, atentando-se para as diferentes funções que apresentam no dia-a-dia da pessoa
surda que está se formando (QUADROS & SCHMIEDT, 2006, p.13).

Nas escolas inclusivas os conceitos normas e igual devem ser dissociados e associados
ao conceito de diversidade, tornando assim capaz o desenvolvimento de um trabalho
qualificado com a diversidade humana, uma vez que, não percebem as pessoas com deficiência
como um grupo homogêneo, e sim um grupo heterogêneo.
Para Lourenço (2010) a formação continuada deve ser analisada como uma viável
possibilidade, uma alternativa para os professores, uma vez que há pessoas que se opõem a
educação inclusiva arguindo que esta é fadada ao fracasso pois os professores não estão
devidamente capacitados.
Em um primeiro momento é necessário que o professor lance um olhar diferenciado
para cada aluno, tentando desta maneira identificar e compreender as suas limitações e
dificuldades de aprendizado, elaborando estratégias didáticas que possam tornar a aquisição e
compreensão dos conteúdos mais prazerosos e estimulantes, promovendo propostas de
trabalho em conjunto, solidário e entre os alunos da escola, rompendo atitudes preconceituosas
e que possam vir a atrapalhar o desenvolvimento e a interação da turma no decorrer do
processo de aprendizagem (LOURENÇO, 2010).
A inclusão impõe um olhar para cada um como ser em desenvolvimento, que precisa
de caminhos para desenvolver seu potencial [...]. A inclusão é um movimento que pretende
aproximar a todos, sem que ninguém fique de fora. Todos nós a queremos e temos uma
responsabilidade muito grande, porque ela depende de cada um de nós para existir
(LOURENÇO, 2005. p. 520).
De acordo com Veiga (2005. p. 59) não basta falar de acolher as diferenças ou da escola
como uma escola para todos, se não conseguimos fazer o acolhimento adequado de nossos
alunos, se a nossa postura é apenas de “tolerar” a diversidade. Isso seria o mesmo que “incluir”
para manter o “excluído”. A proposta é que estejamos dispostos a fazer um acolhimento crítico;
capaz de transformar a escola em “um ambiente de tradução entre experiências culturais e
formas de vida diferentes”.
No contexto da inclusão os professores estão despreparados para lidar com os alunos
surdos devido à ausência de procedimentos metodológicos que privilegiem as experiências
visuais do surdo no processo de ensino e aprendizagem, Machado (2006, p. 58). Isso reflete a
uma falta de formação nesta perspectiva acima citado por Machado (2006). As estratégias
metodológicas que se aplicam aos alunos ouvintes estão intimamente ligadas à oralidade, a
concepção de mundo do ouvinte é sonora. Seria este o ponto que difere e determina as
especificidades do aluno ouvinte do aluno surdo, este último percebe o mundo visualmente,
são a formas, as cores, o brilho de tudo que se pode ver e sentir que falam, cantam, até gritam
aos olhos (fonte receptora desse som/visual) dos surdos.
Trabalhar com o aluno entendendo esse diferencial na sua aquisição de conhecimento
e entender que insistir tratá-lo como um aluno ouvinte é uma perda de tempo, principalmente
para ele, é de extrema importância para que haja um aprendizado deste aluno e um
aproveitamento do mesmo nas outras áreas de ambiente comum aos outros que não seja a sala
de recursos ou multifuncionais. A formação de professores, portanto, precisa ser de forma
menos aligeirada e mais eficaz quanto ao desenvolvimento de suas capacidades e habilidades,
principalmente quando se trata de uma nova realidade da escola que é para todos (TEDESCO,
1998).
3 CONCLUSÃO

As dificuldades enfrentadas pela escola para incluir o aluno surdo no seu âmbito
educacional e lhe oferecer um serviço de qualidade, perpassa as estruturas físicas, de uma
visão inclusiva da gestão ou do quadro de docentes que tem a preocupação no aprendizado
desse aluno.
A ausência de formação continuada dos funcionários da secretaria, desde o porteiro até
a merendeira, e o mais grave, dos professores, reflete o quanto as ações do Estado precisam
agilizar essa questão que já ultrapassa uma década para o sujeito surdo receber os benefícios
que lhes são garantidos por lei, mas em que ainda continua na marcha lenta da burocrática
ação dos órgãos públicos.
As demandas da escola são muitas e para cumprir cabalmente cada uma das exigências,
há de compreender que o cumprimento em muitas esferas não depende só da ação da gestão
da escola, dos docentes, da família, ou até mesmo de um sistema público que funciona,
depende sim da participação de todos, de uma ação em conjunto em benefício de quem tem
todo direito de usufruir de um espaço que também pertence a ele.
REFERÊNCIAS

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1988.

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www.planalto.gov.br acesso em 22 de set. 2023.

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FERREIRA, Maria Elisa Caputo. Reflexões críticas acerca de alguns conceitos


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