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TECNOLOGIAS ASSISTIVAS
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Para Santos e Mendes (2018), a organização da proposta pedagógica deve
permitir que o alunado efetivamente aprenda a respeitar as diferenças. No
entanto, essas questões não eximem as escolas de darem acesso ao currículo a
todos os alunos, pois a presença dos alunos público-alvo da Educação Especial
nas escolas comuns deve ir além da convivência e da socialização.
Do mesmo modo, são equivocadas o uso de expressões como “aluno de
inclusão” e “sala de inclusão”, pois todos devem estar incluídos nas propostas
curriculares e pedagógicas da escola. Ou mesmo quando afirmamos que em uma
sala de 30 alunos, quatro são especiais. Pergunta-se: e os 26 não seriam
igualmente especiais? Nesse caso, parece haver uma confusão com os alunos
público-alvo da Educação Especial. O conceito de inclusão não se restringe aos
estudantes com deficiência, transtornos do espectro autista e altas habilidades.
Desta forma, quando nos referimos à inclusão escolar, fazemos referência
a todo o processo educacional e social visando à aprendizagem e participação de
todos os alunos respeitados em suas diferenças culturais, áreas de habilidades e
dificuldades, estilos e ritmos de aprendizagem. Ou seja, é papel da escola
inclusiva modificar-se para atender a todos, garantindo o acesso ao conhecimento
historicamente produzido para toda a população de estudantes. Assim como o
ambiente escolar, os recursos didáticos e metodologias devem atender a toda
população de estudantes.
Para Camargo (2017, p. 1), na inclusão educacional, “o trabalho com
identidade, diferença e diversidade é central para a construção de metodologias,
materiais e processo de comunicação que deem conta de atender o que é comum
e o que é específico entre os estudantes”. Como já afirmava o professor
Boaventura (Santos, 2003, p. 56), “as pessoas e os grupos sociais têm o direito a
ser iguais quando a diferença os inferioriza, e o direito a ser diferentes quando a
igualdade os descaracteriza”.
O conceito de inclusão educacional apresenta conotações amplas e
vinculados aos diferentes grupos, minorias sociais e não se restringe ao alunado-
alvo da Educação Especial. Já, conforme a Política Nacional de Educação
Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (Brasil, 2008), o atendimento
educacional especializado dado pela Educação Especial tem como seu público-
alvo estudantes com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas
habilidades/superdotação.
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O grande desafio para a implementação de sistemas inclusivos é a de
prever e disponibilizar recursos de acessibilidade na educação, oferecer
condições estruturais de ensino para todos os alunos, por exemplo, indígenas,
quilombolas, órfãos, ciganos, imigrantes e as pessoas com deficiência (intelectual,
física, sensorial), altas habilidades/superdotação, transtorno do espectro autista.
Além enfoque dado ao alunado-alvo a que se destina, é importante
considerar a natureza da Educação Especial na atualidade. No sistema
educacional atual, com a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva
da Educação Inclusiva (Brasil, 2008), a Educação Especial se insere na
transversalidade de todos os níveis e modalidades de ensino, da Educação Infantil
ao Ensino Superior, integrada a um projeto político-pedagógico mais amplo de
educação inclusiva.
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Anteriormente, pela Resolução 02/2001, a Educação Especial cumpria
quatro finalidades (apoio, complementação, suplementação e substituição dos
serviços educacionais comuns), a saber:
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Baptista (2015, p. 22) destaca ainda que “quando analisamos a legislação
brasileira relativa à educação, essa tendência que corrobora a inclusão como
diretriz é evidente”.
Neste sentido, temos a Resolução n. 4 de 13 de julho de 2010 do Conselho
Nacional de Educação-Câmara de Educação Básica que define as Diretrizes
Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica, reafirmando, em seu art.
29, a concepção de Educação Especial como uma “modalidade transversal a
todos os níveis, etapas e modalidades de ensino, é parte integrante da educação
regular, devendo ser prevista no projeto político-pedagógico da unidade escolar”
(Brasil, 2010).
Você já deve ter ouvido falar sobre o Estatuto da Pessoa com Deficiência,
mais conhecido como a Lei Brasileira de Inclusão (LBI). Trata-se da Lei n. 13.146,
aprovada em 6 de julho de 2015, institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa
com Deficiência e aborda os diversos aspectos relacionados à inclusão das
pessoas com deficiência (Brasil, 2015).
Rocha e Oliveira (2022) descrevem que foi no ano 2000 que o texto da LBI
foi apresentado, e até a sua aprovação final, um longo caminho de 15 anos foi
trilhado num processo de construção coletiva do texto com a sociedade civil,
dialogando com movimentos sociais tradicionais, favoráveis ao modelo biomédico
e discurso da tutela bem como os movimentos ligados aos direitos humanos e
modelo social. Sendo que, segundo os mesmos autores, as “disputas políticas e
ideológicas para a publicação da LBI, em 2015, foram acirradas, pois, em jogo,
estavam a vida de milhões de brasileiros com alguma deficiência (p. 2).
É importante considerar que a LBI representa, sobretudo, uma conquista
social e apresenta a pessoa com deficiência como um ser independente,
autônomo, tendo as suas escolhas, não sendo reduzido a uma doença numa
vertente clínica ou numa perspectiva meramente biomédica (Rocha; Oliveira,
2022).
No primeiro capítulo da LBI, encontramos as disposições gerais com
definições para os profissionais que atuam junto às pessoas com deficiência
apresentados no quadro a seguir:
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Quadro 1 – Definição de funções
Profissional Definição
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XI – formação e disponibilização de professores para o atendimento
educacional especializado, de tradutores e intérpretes da Libras, de
guias intérpretes e de profissionais de apoio;
XII – oferta de ensino da Libras, do Sistema Braille e de uso de recursos
de tecnologia assistiva, de forma a ampliar habilidades funcionais dos
estudantes, promovendo sua autonomia e participação.
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brasileiro. Vejamos, a seguir, as principais leis e diretrizes nacionais para a
implementação de políticas públicas relacionadas à Educação Especial (Brasil,
2008; Fernandes, 2013; Gil, 2017; Pernambuco, 2019).
Nesta última referência à Meta 4 do PNE (Brasil, 2014), que define as bases
da política educacional nestes dez anos, Gil (2017) chama a atenção para o termo
preferencialmente em relação ao atendimento educacional especializado para
estudantes com deficiência o que contraria a Convenção sobre os Direitos da
Pessoa com Deficiência, a Constituição Federal e o texto votado anteriormente à
redação final desta meta: universalização da educação básica para todas as
pessoas entre 4 e 17 anos em escolas comuns.
Destacamos a análise sobre as alterações nas políticas educacionais
direcionadas ao atendimento da pessoa com deficiência apontada por Raiol,
Costa e Guimarães (2021):
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anos, como metas oficializadas na Lei n. 10.172 de 9 de janeiro de 2001, que
institui o Plano Nacional de Educação” (Fernandes, 2013, p. 81).
A Declaração de Nova Delhi sobre Educação para Todos, em 1993, tem
seu importante papel, juntamente com a Declaração de Jomtien, no processo
histórico de consolidação de ações para eliminar disparidade de acesso à
educação básica, melhoria de condições de trabalho do magistério e
implementação de reformas dos sistemas educacionais em prol da educação para
todos. O Brasil é signatário deste compromisso juntamente com Indonésia, China,
Bangladesh, Egito, México, Nigéria, Paquistão e Índia (UNESCO, 1998).
Além destes, temos em nossos documentos legais a influência da
Declaração de Dakar, resultante da Cúpula Mundial de Educação realizada na
cidade de Dakar, Senegal, em 2000. É também uma conferência organizada e
publicada pela UNESCO (2001); aliando-se ao compromisso de uma “educação
para todos” apoiada pela Declaração Universal dos Direitos Humanos, ratificou a
equidade e a qualidade na educação para a população em situação de
vulnerabilidade.
Como forma de ampliar a discussão sobre a educação para todos, realizou-
se na cidade de Salamanca, Espanha, a Conferência Mundial sobre
Necessidades Educativas Especiais, onde foi elaborada a Declaração de
Salamanca em 1994 para reforçar os encaminhamentos educativos visando à
educação inclusiva. Para Breitenbach, Honnef e Costas (2016, p. 373), a proposta
de educação inclusiva, pela Declaração de Salamanca, “em sua primeira
tradução, implica na garantia de acesso, permanência e qualidade no ensino para
as pessoas que, historicamente, ficaram fora da escola ou nela não aprenderam”.
Na mesma direção, temos a Convenção de Guatemala, em 1999,
transformada no Decreto n. 3.956/2001 reafirma que as pessoas com deficiência
têm os mesmos direitos humanos e liberdades fundamentais, repudiando todas
as formas de discriminação. Define discriminação como:
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REFERÊNCIAS
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_____. Resolução n. 4, de 13 de julho de 2010. Define Diretrizes Curriculares
Nacionais Gerais para a Educação Básica. Brasília, 2010. Disponível em:
<http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/rceb004_10.pdf>. Acesso em: 13 jan.
2023.
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MIRANDA, C. J.; HASHIZUME, C. M. Legislação na educação inclusiva:
analisando as políticas públicas a partir de dados do censo escolar. Cadernos de
Educação, v. 19, n. 38, p. 19-43, jan./jun. 2020.
_____. Declaração de Nova Delhi sobre Educação para Todos. Nova Dehli, 6
de dezembro de 1993. UNESCO, 1998.
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