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Nome da Disciplina: Fundamentos da Educação Inclusiva

Apresentação do professor: Roney Cozzer é Licenciado em Pedagogia e História,


Bacharel em Teologia, possui formação em Psicanálise e Mestrado em Teologia
pelas Faculdades Batista do Paraná (FABAPAR). No ensino superior atua como
docente, coordenador pedagógico, Tutor EaD e conteudista. Autor, palestrante e
professor nas áreas de Educação e Teologia. Contato:
roneyricardoteologia@gmail.com.
Link para o currículo lattes: http://lattes.cnpq.br/3443166950417908

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO
2 FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA
2.1 O que é Educação Inclusiva?
2.2 A inclusão pensada em relação ao aluno
2.3 Teorias do desenvolvimento da aprendizagem (abordagens do ensino) e
inclusão escolar
2.4 O problema da ignorância a respeito do assunto
3 CONCLUSÃO
4 REFERÊNCIAS

1 INTRODUÇÃO
O acesso à Educação é um direito de todos os cidadãos, assegurado pelo
Estado. A Educação é entendida como um dever do Estado e da família. E neste
aspecto, não se deve deixar de levar em conta a inclusão educacional. A insistência
em modelos pedagógicos padronizados coloca-se como uma iniciativa antagônica à
inclusão escolar, uma vez que há uma enorme diversidade de transtornos de
aprendizagem que acometem as pessoas, bem como uma variedade de limitações
físicas que demandam o Atendimento Educacional Especializado (AEE).
Considerando isto, pode-se afirmar que a Educação Inclusiva deve ser
versátil e dinâmica, para poder ser eficiente, de fato. E esse modelo de educação
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representa, na verdade, um grande avanço para a Educação, pois quando levado a
efeito contribui para que a Educação cumpra seu real papel, em sua abrangência
prevista em documentos normativos, como a Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional (BRASIL, 1996).
Além da LDB, deve-se lembrar que há outros documentos importantes, de
âmbito nacional e internacional, que foram publicados e que são o reflexo da
mobilização de diversas instituições, como por exemplo a Organização das unidas
para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), em favor dos direitos das
pessoas com algum tipo de deficiência, e do seu acesso à Educação. Podem ser
mencionados também eventos marcantes que ocorreram, em prol da inclusão
educacional, como o evento que foi promovido pela Organização das Nações
Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), que deu origem à
Declaração de Salamanca. Essa declaração destaca que as escolas devem
dedicar-se a acolher todas as crianças a despeito das deficiências que possam
possuir. E ela destaca ainda a necessidade dessa diversidade ser valorizada, não
estigmatizada. A Declaração de Salamanca foi resultado da anuência de 92
governos e de 25 organizações internacionais que participaram do evento em
Salamanca, na Espanha.
Mas a lista não para por aí. Há diversas leis e documentos que versam, direta
ou indiretamente, sobre a importância da inclusão na Educação e na sociedade. A
própria Constituição da República Federativa do Brasil que, no artigo 3º inciso IV,
visa “promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade
e quaisquer outras formas de discriminação”. Outro importante documento de
grande relevância foi o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069/90). O
artigo 55 preconiza que “os pais ou responsáveis têm a obrigação de matricular seus
filhos ou pupilos na rede regular de ensino”.
Esses e outros documentos e dispositivos legais contribuíram e contribuem
para o melhoramento da questão da inclusão na Educação. E o conhecimento do
conceito de Educação Inclusiva passa, necessariamente, pela consideração em
torno desses documentos e dispositivos legais. Eles sinalizam, inclusive, para os
fundamentos conceituais da Educação Inclusiva. Na verdade, não só sinalizam para
eles, como dependem deles também para sua elaboração.

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2 FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA
Neste tópico refletiremos sobre alguns fundamentos da inclusão em
Educação. Esses fundamentos são de natureza conceitual e legal, como
mencionado acima. Aqui, vale citar as palavras de Sueli Fernandes (2011, p. 66): “A
concepção de educação especial como uma modalidade de educação escolar,
intimamente ligada à estrutura e ao funcionamento da educação básica e superior, é
uma construção histórica do século XX”. A mesma autora prossegue explicando que
“nesse período é que a escola regular passa a compartilhar algumas das
preocupações comuns ao contexto do atendimento especializado, como é o caso
dos atrasos na aprendizagem, a proposição de metodologias específicas, ou
adaptações didáticas para atendimento a diferenças individuais”.
Como se pode notar a partir das observações de Fernandes (2011), acima
citadas, nós nos colocamos na ponta de um processo que vem sendo desdobrado
ao longo do século XX. E deve-se mencionar ainda que essa busca por inclusão
(educacional e social) é reflexo também dos esforços em prol dos direitos humanos.
Todos esses esforços colaboraram e continuam colaborando para que ocorra uma
mudança estrutural na forma como a Educação e a sociedade enxergam a pessoa
com deficiência.

2.1 O que é Educação Inclusiva?


A Educação Inclusiva pode ser entendida como a Educação pensada e
adequada para atender alunos com algum tipo de necessidade especial, seja essa
necessidade de natureza física ou cognitiva. A Educação Especial e Inclusiva busca
integrar os alunos ao sistema educacional, atendendo-os assim no sentido de fazê-
los participar de maneira mais plena do processo de ensino-aprendizagem.
As necessidades especiais são entendidas como necessidades decorrentes
de alguma limitação, que pode ser de natureza intelectual/cognitiva e/ou física.
Deste modo, essas limitações/deficiências podem ser visuais, auditivas, física e
mental. Essa é uma “classificação” geral, uma vez que são muitas as deficiências
dentro dessas categorias gerais. O Manual diagnóstico e estatístico de
transtornos mentais: DSM-5 (2014, p. 33) afirma que “[...] apoio continuado, os

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déficits de adaptação limitam o funcionamento em uma ou mais atividades diárias,
como comunicação, participação social e vida independente, e em múltiplos
ambientes, como em casa, na escola, no local de trabalho e na comunidade”.
Quando se reflete sobre inclusão escolar somos levados e pensar também a
possível distinção entre “Inclusão na Educação” e “Educação Especial”. Esta última,
a Educação Especial, pode ser entendida como a Educação adaptada às pessoas
com algum tipo de necessidade especial. É chamada Educação Especial porque é
pensada, articulada e praticada para pessoas especiais. E também é especial
porque é ministrada por pessoas foram preparadas para essa finalidade.
O conceito de inclusão na Educação nos leva, por sua vez, a refletir na
necessidade de que o discente portador de alguma necessidade especial tem de
participar do processo de ensino-aprendizagem. E participar de fato! Participar como
indivíduo capaz, ao seu modo e no seu tempo, de aprender, de refletir, de produzir e
de interagir com os demais colegas de classe.
A Educação Inclusiva pressupõe ainda a ruptura com modelos educacionais
obsoletos, engessados e que excluem o aprendente do processo. O modelo
tradicional de ensino, que ainda perdura nas instituições educacionais, preconiza o
docente e abre pouco espaço para o discente. O professor acaba se colocando
como o centro da aula e do saber, quando na verdade os alunos são colaboradores
na construção do saber. Se para a Educação não especial é fundamental incluir o
aluno, na Educação Especial e Inclusiva esse fator é ainda mais necessário.
A aceitação da Educação Inclusiva e a adequação de uma instituição escolar
a essa modalidade educativa requer mudanças profundas de paradigmas e mesmo
de posturas. É preciso conhecer o aluno com necessidades especiais, identificando
assim suas potencialidades, capacidades, aptidões, interesses, condições sociais e
familiares, dentre outros fatores que tem implicação em sua aprendizagem.

2.2 A inclusão pensada em relação ao aluno

Um princípio fundamental que se destaca quando refletimos sobre a inclusão


em Educação é que ela é pensada em relação ao aluno, e nem tanto o aluno em
relação a ela, no quesito adaptação. Dito de outra forma, o entendimento básico que

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se tem de Educação Inclusiva é que ela, por meio de suas instituições, agentes
educadores (professores e gestores) e estruturas e instalações sejam adequados ao
aluno com necessidades especiais, e não o contrário.
Tempos atrás, havia a compreensão de que o aluno com necessidades
especiais é que precisava adequar-se ao ambiente escolar e ao ensino. Mas essa
concepção tem sido superada de maneira praticamente definitiva, de modo que
pode-se afirmar que a inclusão escolar, para ser corretamente entendida, precisa ser
pensada sempre em termos da escola, dos agentes educacionais e do ensino se
adaptando para receber o aluno com necessidades especiais.
Compreender esse princípio implica compreender um dos principais
fundamentos da Educação Inclusiva. E sabemos que no cotidiano escolar, a
inclusão não é tão simples de se praticar. Ela, quando levada a sério, requer
investimento, mudanças, adaptações e qualificação profissional. Requer dos
profissionais o esforço no sentido de prepararem para esse tipo de atendimento
educacional, o que implica deixar a zona de conforto, sobre o que se comentará no
tópico seguinte.
Ainda outro fundamento da Educação Inclusiva é a compreensão do que é a
aprendizagem e a consideração de como ela se dá pelos alunos com necessidades
especiais. Trata-se de um assunto amplo, que tem sido profundamente pesquisado
por estudiosos da área da Psicologia da Educação e de outras áreas.
A aprendizagem pode ser definida como um processo contínuo. O indivíduo
vai assimilando novos conhecimentos e integrando-os, na medida em que ouve, vê,
sente, lê, dialoga, convive, etc. E gradativamente esses conhecimentos vão
ganhando sentido para ele e uma utilidade concreta em sua cotidianidade.
A questão da aprendizagem perpassa diversas disciplinas da Pedagogia e de
outras áreas de conhecimento, dada a sua importância, inclusive para o processo
formativo de professores e demais profissionais. Na disciplina Didática, por exemplo,
considerada por José C. Libâneo (2013, p. 25) “[...] o principal ramo de estudos da
Pedagogia”, a aprendizagem é compreendida como um processo no qual o aluno
participa ativamente, assimilando conteúdos e habilidades que poderá reproduzir, na
práxis, na vida. Daí falar-se em “aprendizagem significativa”.

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2.3 Teorias do desenvolvimento da aprendizagem (abordagens do ensino) e
inclusão escolar
Na compreensão do que vem a ser a aprendizagem, deve-se levar em conta
as diversas contribuições teóricas dos pensadores da Educação. Não é objetivo
deste trabalho discorrer sobre esse assunto, até porque isso demandaria uma
pesquisa mais extensa. Mas é importante fomentar o estudante e o professor a que
aprofundem seu conhecimento a respeito. Dentre essas diversas abordagens,
mencionamos aqui pelo menos três: a cognitivista, a comportamentalista
(behaviorismo) e sociocultural.
A abordagem cognitivista da aprendizagem tem o psicólogo suíço Jean
Piaget (1896-1980) como um de seus principais representantes. Piaget se coloca
como um dos estudiosos mais importantes a respeito da formação da personalidade
humana, na segunda metade do século 20. Seus estudos permanecem como
referência até os dias de hoje.
Ele começa a desenvolver sua teoria, chamada de epistemologia genética, a
partir da década de 1920. Ela ganha notoriedade, contudo, na década de 1960 e no
Brasil, em 1980. Seu pensamento (sua teoria) tornou-se fundamental na educação e
Piaget se coloca como um dos teóricos da Educação mais relevantes ao lado de Lev
Semionovitch Vygotsky (1896-1934).
Sua teoria busca compreender o desenvolvimento humano em suas diversas
fases, considerando a conjugação entre o físico e o mental (ou psíquico). A teoria
piagetiana busca conciliar duas áreas – materialismo mecanicista e idealismo – que
separam o físico do psíquico. Um fato muito interessante a respeito do trabalho de
Piaget é que ele não se propõe como um método, a despeito de ser uma construção
teórica que prima pelo rigor científico ao longo de 70 anos.
A abordagem comportamentalista ou behaviorista tem como um de seus
principais proponentes o psicólogo Burrhus Frederic Skinner (1904-1990). O
behaviorismo entende que o ambiente determina o comportamento humano. Em
sua pesquisa, leva em conta diversos fatores, como a cultura na qual o indivíduo
está inserido, questões genéticas (tendências), bem como a própria história de vida
de cada indivíduo.

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A abordagem sociocultural tem Paulo Freire (1921-1997) como seu grande
representante. Paulo Freire tem sido considerado, ao longo de muitos anos, como
um dos mais importantes educadores brasileiros. A abordagem sociocultural está
apoiada, epistemologicamente, em grande medida, no pensamento desse educador.
Diversos fatores são articulados com os aspectos da proposta educacional de Paulo
Freire.
Essa abordagem entende o sujeito como elaborador do seu próprio
conhecimento e que o homem cria a cultura na proporção em que vai, ele próprio, se
integrando a ela. Essa perspectiva compreende que o sujeito deve responder aos
desafios que são colocados pela realidade que o envolve, no sentido de contribuir
para a mudança da realidade. E é por meio da Educação que se reflete sobre o
homem e sobre o meio no qual ele vive, seu tópos, seu lugar vivencial.
Na busca pelos fundamentos da Educação Inclusiva é necessário levar em
conta essas perspectivas e abordagens educacionais, para que se possa entender
melhor o aluno com necessidades especiais. Em geral, pensamos sempre essas
abordagens do ensino em relação ao discente que não possui nenhuma
necessidade especial, mas o aluno com necessidades especiais opera também com
processos cognitivos, comportamentais e socioculturais comuns aos alunos que não
possuem essas necessidades. É claro que no caso do aluno com necessidades
especiais, é preciso levar em conta determinadas especificidades. Mas há muitos
fatores comuns. Daí decorre a necessidade de que os educadores busquem
conhecer esses aportes teóricos.

2.4 O problema da ignorância a respeito do assunto


É interessante ainda levar em conta aqui o fato de que um dos maiores
entraves ao progresso da Educação Especial e Inclusiva é justamente a ignorância,
em seus diversos aspectos, a respeito dos assuntos envolvidos nessa temática. Até
mesmo educadores por vezes fazem confusão quanto a conceitos de grande
importância, como por exemplo, tratar determinados transtornos de maneira
reducionista e preconceituosa.
A ignorância a respeito da inclusão acaba por servir de base também para o
preconceito contra portadores de necessidades especiais. É claro que esse

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preconceito não ocorre exclusivamente no ambiente escolar, mas ele se faz sentir
no cotidiano, na sociedade, o que acaba por refletir na escola. Nilza Sanches
Tessaro (2011) indica alguns fatores que apontam justamente para a dificultação da
inclusão escolar na prática, sendo um desses fatores a discriminação social:

Discriminação social: refere-se às respostas que versaram sobre as


situações que evidenciam a falta de aceitação, ou seja, o preconceito com o
deficiente e a deficiência. Exemplos: “a rejeição”, “o fato do aluno se ver
como diferente”, “a ignorância de certas pessoas”, “discriminação”,
“preconceito”, “a falta de respeito”, “as pessoas acharem que o deficiente é
incapaz”, “as pessoas não fazerem amizade com o deficiente”, “a
superioridade” etc. (TESSARO, 2011, p. 139).

Não é justificável que se permaneça na ignorância, especialmente para quem


pretende trabalhar ou já trabalha com a Educação. O conhecimento deste assunto,
mesmo que de maneira elementar, é necessário até para que se evite perpetuar
determinados complexos de ignorância, que infelizmente ainda constatamos em
nossos contextos educacionais e sociais.

3 CONCLUSÃO

Nesta disciplina vimos que a Educação Inclusiva deve ser versátil e dinâmica, para
poder ser eficiente, e que esse modelo de educação representa, na verdade, um
grande avanço para a Educação, pois quando levado a efeito contribui para que a
Educação cumpra seu real papel. Papel esse que é previsto em normativos e
legislações. Vimos diversas abordagens da respeito da inclusão escolar e por fim
terminamos discutindo a questão da ignorância a respeito da educação inclusiva,
que muitas vezes tem sido um entrave e levado à discriminação.

4 REFERÊNCIAS

BRASIL. LDB: Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional: Lei nº 9.394, de


20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação
nacional. 13ª ed. Brasília: Câmara dos Deputados: Edições Câmara, 2016.

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CHALITA, Gabriel. Educação: a solução está no afeto. São Paulo: Editora Gente,
2001.

Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5. 5ª ed. Trad.:


Maria Inês Corrêa Nascimento et al. Porto Alegre: Artmed, 2014.

NEVES, Libéria Rodrigues. RAHME, Mônica Maria Farid. FERREIRA, Carla Mercês
da Rocha Jatobá. Política de Educação Especial e os Desafios de uma Perspectiva
Inclusiva. Educação & Realidade [online]. 2019, vol. 44, nº 1. Disponível em:
<https://doi.org/10.1590/2175-623684853>. Acesso em 14 dez. 2021.

TESSARO, Nilza Sanches. Inclusão escolar: concepções de professores e


alunos da educação regular e especial. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2011.

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