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ISSN: 2525-8761
RESUMO
Animais peçonhentos são aqueles que possuem a capacidade de produzir e inocular veneno,
sendo comuns acidentes com esses animais em regiões tropicais, como o Brasil. Os acidentes de
maior relevância clínica no Brasil são os envolvendo serpentes, aranhas, escorpiões, lagartas e
abelhas. Trata-se de um estudo retrospectivo e descritivo, de natureza epidemiológica, baseado
em levantamento de dados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) para
o Estado de Rondônia entre os anos de 2009 a 2019. Nos 11 anos estudados foram notificados
10.984 casos, com incidência média de 58,54 acidentes para cada 100.000 habitantes. Essa alta
incidência de acidentes pode ter relação com as cheias dos rios na região, a construção de
hidrelétricas nos estados e a melhoria dos sistemas de notificação. Ademais, o sexo masculino
foi o mais acometido pelos acidentes no presente estudo, tendo representado 72,26% dos casos,
e as faixas etárias de 20-39 anos e 40-59 anos foram as mais afetadas. Já em relação ao animal
responsável pelos acidentes, as cobras representaram 50,41% dos casos, sendo o gênero Bothrops
o mais prevalente, com uma porcentagem de 76,58%. Quanto ao estado clínico dos pacientes, a
maior parte dos casos foi classificada como leve (63,58%), e 90,04% dos casos evoluíram para
cura. Dentre as taxas de letalidade, embora os valores sejam relativamente baixos, os acidentes
com abelhas foram considerados os mais letais, com a taxa de 6,02. Constatou-se, ao realizar o
perfil epidemiológico dos acidentes com animais peçonhentos no estado de Rondônia, aumento
do número de acidentes ao longo do período analisado e taxa de incidência acima da média em
determinados anos, havendo a necessidade de medidas de controle e prevenção.
ABSTRACT
Venomous animals are those that have the ability to produce and inoculate poison, and accidents
with these animals are common in tropical regions, such as Brazil. The most clinically relevant
accidents in Brazil are those involving snakes, spiders, scorpions, caterpillars and bees. This is a
retrospective and descriptive study, of an epidemiological nature, based on data collection in the
Notifiable Diseases Information System (SINAN) for the State of Rondônia between the years
2009 to 2019. In the 11 years studied, 10,984 were reported, with an average incidence of 58.54
accidents per 100,000 inhabitants. This high incidence of accidents may be related to the flooding
of rivers in the region, the construction of hydroelectric plants in the states and the improvement
of notification systems. In addition, males were the most affected by accidents in the present
study, representing 72.26% of cases, and the age groups of 20-39 years and 40-59 years were the
most affected. Regarding the animal responsible for the accidents, snakes represented 50.41% of
the cases, with the Bothrops genus being the most prevalent, with a percentage of 76.58%. As
for the clinical status of the patients, most cases were classified as mild (63.58%), and 90.04%
of the cases progressed to cure. Among the lethality rates, although the values are relatively low,
accidents with bees were considered the most lethal, with a rate of 6.02. It was found, when
carrying out the epidemiological profile of accidents with venomous animals in the state of
Rondônia, an increase in the number of accidents over the analyzed period and an incidence rate
above the average in certain years, with the need for control and prevention measures.
1 INTRODUÇÃO
Animais peçonhentos são aqueles que possuem não somente a capacidade de produzir
um veneno como também estruturas especializadas capazes de fazer a inoculação do mesmo. Os
acidentes com esse tipo de animal são comuns em diversas partes do mundo, em especial nas
regiões tropicais (KASTURIRATNE, 2008).
No Brasil, os ataques de animais peçonhentos constituem um grave transtorno à saúde
pública, sendo a segunda maior causa de envenenamento humano (MINISTÉRIO DA SAÚDE,
2 METODOLOGIA
Trata-se de um estudo retrospectivo e descritivo, de natureza epidemiológica, baseado em
levantamento de dados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), situado
no banco de informações de saúde TABNET, disposto no Departamento de Informática do
Sistema Único de Saúde (DATASUS), voltado para acidentes entre animais com peçonha e
pessoas residentes no estado de Rondônia, composto por uma população estimada em 1.796.460
habitantes em 2020, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Não
obstante, além dos dados, foi feito um levantamento bibliográfico e comparação de dados com
outros estudos.
Para o presente estudo, foram analisados os 10.984 casos notificados de acidentes
ocorridos com animais peçonhentos no Estado de Rondônia durante um período de 11 anos, entre
1 de janeiro de 2009 e 31 de dezembro de 2019. Além disso, informações sobre os animais
peçonhentos mais envolvidos, situados na mesma plataforma, também foram analisados e
incluídos no estudo.
Para atingir o objetivo de determinar um perfil sociodemográficos e as espécies mais
envolvidas nos acidentes, levou-se em consideração: taxa de incidência, sazonalidade, sexo, faixa
etária, escolaridade, animal causador do acidente, gênero dos animais peçonhentos
predominantes nos acidentes, tempo entre picada e atendimento, classificação, evolução e
letalidade. Casos sem confirmação, fora do período ou do grupo analisado ou confirmados em
outros estados foram excluídos do estudo.
Os dados sobre acidentes notificados coletados a partir do DATASUS e os dados
populacionais necessários para calcular a taxa de incidência coletados no IBGE foram inseridos
em planilhas do Microsoft Excel e posteriormente analisados de forma descritiva.
Por tratar-se de uma pesquisa baseada em dados secundárias e de acesso público,
vinculadas ao Ministério da Saúde, sem informações que possibilitem identificação individual, o
presente estudo segue as diretrizes nacionais da nº 510/2016 do Conselho Nacional de Saúde e
das diretrizes éticas internacionais e, portanto, não foi necessário a submissão à nenhum Comitê
de Ética em Pesquisa.
3 RESULTADOS
No período de 2009 a 2019 foram notificados 10.984 casos de acidentes envolvendo
animais peçonhentos no estado de Rondônia. Na série temporal estudada a taxa de incidência
anual variou de 45,21 casos/100.000 habitantes (2009) a 82,88 casos/100.000 habitantes (2019),
apresentando uma média de 58,54 acidentes para cada 100.000 habitantes (FIGURA 1).
Figura 1 - Distribuição da incidência anual de acidentes envolvendo animais peçonhentos notificados em Rondônia,
2009-2019
Fonte: Ministério da Saúde/SVS - Sistema de Informação de Agravos de Notificação - Sinan Net (2020)
Figura 2 - Distribuição mensal dos acidentes por animais peçonhentos em Rondônia, 2009-2019
Fonte: Ministério da Saúde/SVS - Sistema de Informação de Agravos de Notificação - Sinan Net (2020)
Nesses 11 anos analisados, o sexo masculino apresentou maior frequência (72,26%) que
o feminino (27,74%) em acidentes com animais peçonhentos. Com relação a variável raça/cor a
maioria dos pacientes (59,92%) se autodeclararam pardos, e em 6,20% dos casos essa variável
foi ignorada ou deixada em branco no formulário do SINAN (TABELA 1).
Quanto às outras variáveis sociodemográficas, a faixa etária predominante foi 20 a 39
anos (37,07%), seguida pela de 40 a 59 anos (28,27%). Já em relação ao nível educacional, não
havia informações de 30,31% dos pacientes, e dos casos com escolaridade registrada a maioria
(15,95%) declarou possuir 1ª a 4ª série incompleta do ensino fundamental (TABELA 1).
Tabela 1 - Número e proporção de notificações de acidentes por animais peçonhentos, segundo sexo, raça, faixa
etária e escolaridade, em Rondônia, 2009-2019
Variáveis Total
n %
Sexo
Raça/Cor
Faixa Etária
Em branco/Ign 2 0,02
1--4 439 4
80 e + 46 0,42
Escolaridade
Na distribuição do tipo de acidente no período estudado, pode ser observado que os três
principais animais envolvidos foram as serpentes, os escorpiões e as aranhas, com dominância
dos acidentes ofídicos. Já as notificações de acidentes devido a abelhas, lagartas e outros animais
foram menos predominantes em Rondônia nesses 11 anos investigados (FIGURA 3). .
Figura 3 - Distribuição dos acidentes de acordo com o tipo de animal em Rondônia, 2009-2019
Fonte: Ministério da Saúde/SVS - Sistema de Informação de Agravos de Notificação - Sinan Net (2020)
Tabela 2 - Número e proporção de acidentes causados por serpentes, segundo a espécie, em Rondônia, 2009-2019
Total
Tipo de Serpente n %
Crotalus 59 1,07%
Micrurus 56 1,01%
Tabela 3 - Número e proporção de acidentes causados por aranhas, segundo a espécie, Rondônia, 2009-2019
Total
Tipo de Aranha
n %
Latrodectus 9 0,69
Ao analisar o tempo decorrido entre a picada e o atendimento, foi visto que 63,84% dos
casos ocorreram entre os períodos de 0 a 1 h e 1 a 3 horas, sendo o intervalo de 12 a 24 horas
(3,91%) a menor frequência. Além disso, conforme apresentado na tabela 4, quanto à
classificação final, os casos leves (63,58%) predominaram, seguidos pelos moderados (24,25%)
e graves (6,50%). Já no tocante à evolução clínica dos pacientes, a maioria (90,04%) progrediu
para cura e só foram registrados 41 (0,37%) óbitos pelo agravo (TABELA 4).
Tabela 4 - Número e proporção das notificações de acidentes por animais peçonhentos, segundo tempo de
picada/atendimento, classificação final e evolução, no estado de Rondônia, 2009-2019
Total
Variáveis
n %
Tempo de picada/Atendimento
Classificação Final
Evolução
Tabela 5 - Distribuição do tipo de acidente com animal peçonhento, de acordo com a classificação final e evolução,
Rondônia, 2009-2019
Ign/Branco Serpente Aranha Escorpião Lagarta Abelha Outros Total
Classifica. Final
Evolução
Entretanto, no que concerne à letalidade de cada tipo de acidente, observou-se que a maior
taxa foi por incidentes envolvendo abelhas (6,02), seguida por escorpiões (3,95) e outros animais
não especificados (3,86). As menores taxas de letalidade corresponderam às serpentes (3,79) e
aranhas (3,07) (FIGURA 5).
Fonte: Ministério da Saúde/SVS - Sistema de Informação de Agravos de Notificação - Sinan Net (2020)
4 DISCUSSÃO
A compreensão do perfil epidemiológico dos envenenamentos por animais peçonhentos
é essencial para a criação de medidas que promovam a prevenção desses ataques, e que melhorem
as medidas terapêuticas ofertadas aos acometidos. Foram registradas, no período estudado,
10.984 notificações relativas a esse tipo de acidente.
O presente estudo mostrou o aumento no número de acidentes ao longo de todo o período
analisado, o que pode estar relacionado a diversos fatores, como melhorias intrínsecas ao sistema
de notificação, maior busca de atendimento por parte da população, ou mesmo o crescimento
populacional. O que descarta essa última possibilidade é o aumento concomitante da incidência
dos casos de envenenamento. Um evento que pode estar relacionado ao aumento observado foi
a construção das usinas hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau, que ocorreram entre os anos de
2008 a 2013.
Ao se analisar a taxa de incidência dos casos notificados de acidentes com animais
peçonhentos em Rondônia, nota-se que alguns anos apresentaram uma taxa maior que a média
(58,54) entre os 11 anos estudados, sendo eles de 2014 (60,57), 2015 (58,76), 2017 (68,67), 2018
(78,69) e 2019 (82,88). Sabe-se que locais banhados por rios possuem períodos de cheias e são
nesses momentos que diversos animais saem de locais alagados buscando proteção e abrigos
secos, o que aumenta a proximidade do animal peçonhento e do homem, principalmente
indivíduos inseridos em populações ribeirinhas, favorecendo os acidentes. Embora o estado já
convivesse com as cheias do rio Madeira e seus afluentes, a partir da construção das usinas
hidrelétricas de Jirau e Santo Antônio (2012) que pode-se perceber que houve um aumento médio
de novos casos. Outrora, o mesmo não foi observado no município de Bacabal- MA que, por
mais que seja banhado também por um rio, tenha seus períodos de cheia e população ribeirinha,
apresenta uma taxa de incidência de 33,05 casos por 100.000 habitantes (PAULA et al, 2020),
ou seja, uma taxa muito menor.
Chippaux (2015) afirma que a incidência dos acidentes por animais peçonhentos vai ser
constante ao longo do ano na região norte do Brasil. Apesar disso, com relação a sazonalidade
desses acidentes no período estudado, notou-se que as serpentes, diferentemente dos outros
animais estudados, vão apresentar uma variação. A predominância dos ataques ofídicos ocorreu
de dezembro a maio, com um pico março. Já os meses de menor incidência foram julho e
setembro. Essa tendência é semelhante à observada por Ferreira et al (2020) em seu estudo sobre
a incidência das mordidas de cobras no estado de Rondônia, onde foi observado que a maior
parte dos ataques se concentram nos primeiros meses do ano tendo seu pico em março, enquanto
o menor número desses ocorre a partir de julho. Esse cenário é indicativo de um padrão de
sazonalidade, no qual ocorre a coincidência entre os períodos com maior número de acidentes e
os períodos com as com maiores níveis de umidade em Rondônia (FRANCA ,2015). Oliveira et
al (2020) vai associar o aumento da atividade ofídica em estações chuvosas ao fato de que nesses
períodos ocorre a reprodução desses animais, e que existirá uma maior presença humana
relacionada à agricultura e ao extrativismo.
O sexo masculino foi o mais acometido pelos acidentes no presente estudo, tendo
representado 72,26% dos casos. Esse achado é consistente com diversos outros estudos (SILVA
et al., 2017) (SILVA; BERNARDE; ABREU, 2015) (SARAIVA et al., 2012) (LOPES; LISBÔA;
SILVA, 2020) (SILVEIRA; MACHADO, 2017) (LOPES et al., 2017). Uma possível causa para
esse cenário é a forte presença dos indivíduos do sexo masculino em atividades como a
agricultura, pecuária, pesca e caça, facilitando assim os encontros desses com animais
peçonhentos. Por outro lado, os estudos de Barbosa (2016) e Tavares et al (2020) encontraram o
sexo feminino como o mais acometido, importante destacar que ambos os estudos avaliaram o
Rio Grande do Norte, em recortes temporais semelhantes.
Considerando a associação da faixa etária com acidentes com peçonhas, pode-se notar
que as idades compreendidas entre 20-39 anos e 40-59 anos são as que mais se destacam em
porcentagem de acidentes em Rondônia, sendo 37,07% e 28,27% respectivamente. O estudo de
Silva et al ( 2017) feito no estado de Minas Gerais indica também que as maiores taxas de
acidentes com animais peçonhentos na faixa etária citada. Tal observação pode ser compreendida
pelo fato de essas faixas etárias serem compostas por trabalhadores, especialmente os rurais, e
isso os expõe mais ao risco de encontrar animais peçonhentos e gerar acidentes. Pode-se inferir
ainda uma possível carência de EPI 's para esses trabalhadores.
Quando analisado o nível educacional, segundo os dados obtidos, boa parte da
porcentagem se refere aos casos onde não há relatos de escolaridade (30,31%), fato que por si já
indicaria uma falha no processo de notificação. Porém, dentre os que citam o nível de
escolaridade, tem-se que 39,11% das pessoas envolvidas em acidentes possuem o ensino
fundamental incompleto, o que corrobora para maior causa de acidentes, uma vez que, quanto
mais informações o indivíduo apresenta, maior é a prevenção dos fatores de risco ambiental que
contribuem para o desenvolvimento ou migração desses agentes causadores (SILVA et al, 2017).
Em algumas análises em relação à totalidade dos acidentes por animais peçonhentos no
Brasil como as de Chippaux (2015) e a de Silva, Bernarde e Abreu (2015) os escorpiões
aparecem como os principais responsáveis pelos casos de envenenamento. Já em relação a análise
realizada nesse trabalho as cobras foram os animais mais relevantes, representando 50,41% dos
acidentes, enquanto os escorpiões ocasionaram 18,45%. De acordo com o Guia de Vigilância
em Saúde do Ministério da Saúde (2019), a presença dos escorpiões é intensa nas regiões
Nordeste e Sudeste. O grande volume populacional nessas áreas é, provavelmente, o que
ocasiona essa diferença entre os animais mais incidentes. Além disso, as aranhas representaram
11,87% dos acidentes, enquanto 7,08% foram classificados como outros, dessa forma não sendo
identificados. Silva (2019) realizou um estudo sobre a incidência de acidentes com animais
peçonhentos no estado do Pará, outro estado da região Norte do Brasil, tendo obtido resultados
semelhantes aos do presente estudo.
Segundo os dados obtidos em Rondônia, a serpente do gênero Bothrops é a que apresenta
maior envolvimento com acidentes ofídicos, com uma porcentagem de 76,58%. Resultado este
que já era esperado, uma vez que, segundo Turci et al (2009), este gênero é o mais abundante das
serpentes na floresta amazônica. Quanto aos aracnídeos, nota-se uma incidência envolvendo o
gênero Phoneutria, com 13,57%. Dos dados ofídicos e aracnídeos observados, nota-se uma
subnotificação ou pouca informação registrada e dos dados relacionados ao escorpionismo, as
informações encontradas em registro no SINAN foram insuficientes para uma análise.
O tempo decorrido entre o acidente por animal peçonhento e o atendimento à vítima do
ataque é um importante fator prognóstico (Ministério da Saúde, 2001). Nota-se que 32,08% dos
atendimentos foram realizados na primeira hora após o acidente, e 31,76% entre 1 a 3 horas,
sendo esses os períodos com maior volume de atendimentos. Esse achado está em concordância
com a análise de Lopes et al (2017) que verificou o perfil epidemiológico dos acidentes por
animais peçonhentos na região Norte do Brasil. Os estudos de Santana e Suchara (2015) e Silveira
e Machado (2017) realizados nas regiões Centro-Oeste e Sudeste, respectivamente, apresentaram
um maior número de atendimentos nas horas iniciais depois dos acidentes em comparação aos
achados neste trabalho. Esses achados podem estar relacionados a desigualdades existentes entre
as redes de atenção à saúde presentes em diferentes regiões do país.
Em relação a classificação dos atendimentos, foi observado que a maior parte dos mesmos
foram classificados como leves (63,58%), os casos moderados e graves representaram,
respectivamente, 24,45% e 6,5% do total de atendimentos, sendo os restantes não identificados.
Interessante destacar o fato das cobras serem responsáveis por 86.69% dos casos graves e 66.72%
dos casos moderados.
A análise dos dados quanto à evolução dos acidentes com animais peçonhentos mostra
que, em Rondônia, 90,04% dos casos evoluíram para cura, similar ao estudo realizado por Silva
et al (2017) em Minas Gerais, onde 95,89% dos casos também evoluíram para cura. Os dados
obtidos sobre os óbitos ocorridos diretamente pelo acidente não chegaram a 1% dentre os casos
notificados.
5 CONCLUSÃO
Os achados do presente estudo ilustram o perfil epidemiológico dos acidentes com
animais peçonhentos em RO. Observou-se o aumento do número de acidentes ao longo do
período analisado, taxa de incidência acima da média em determinados anos e o favorecimento
dos rios, períodos chuvosos, população ribeirinha e crescimento populacional para maior
notificação e ocorrência desses acidentes.
Constatou-se que pessoas do sexo masculino, com faixa etária entre 20-39 e 40-59 anos
são as principais afetadas; achados, esses, também expostos em demais estudos realizados em
outros estados do Brasil. O nível educacional não foi informado em, aproximadamente, um terço
dos casos, sendo que, naquelas ocorrências onde essa informação foi comunicada quase 40%
possuíam ensino fundamental incompleto.
Evidenciou-se, ainda, que mais da metade dos acidentes notificados foram de origem
ofídica, predominando no estado de RO os acidentes com serpentes do gênero Bothrops e
contrastando com análises realizadas em outras regiões do país como, por exemplo, o sudeste
onde os escorpiões são os principais responsáveis pelos casos de envenenamento. Em geral, o
atendimento foi prestado nas primeiras três horas após os acidentes e foram classificados como
casos leves; mais de 90% evoluíram para cura.
Os resultados destacam a necessidade de medidas para conter o aumento dos casos de
acidentes com animais peçonhentos em Rondônia. É preciso esclarecer a importância do uso de
equipamentos de proteção aos indivíduos que trabalham e habitam em áreas comuns a esses
animais, bem como orientar demais medidas de prevenção em casos de cheias e alagamentos.
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