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Acidentes Ofídicos no Brasil- Epidemiologia

Resumo:
O estudo analisa a contribuição do cientista Vital Brazil ao campo do ofidismo, destacando sua
análise epidemiológica de 100 anos. Homens, trabalhadores rurais de 15 a 49 anos,
predominantemente afetados nos membros inferiores por serpentes do gênero Bothrops,
compõem o perfil epidemiológico constante.
A discussão apresenta uma tabela que confirma as observações de Vital Brazil em 1911,
enfatizando a predominância da jararaca e o perfil das vítimas. Conclui-se que as análises
epidemiológicas continuam relevantes para prevenir acidentes com serpentes no Brasil.
A conclusão destaca os esforços de Vital Brazil na obtenção de reconhecimento científico e
destaca a eficácia do soro antiofídico. Contudo, ressalta a escassez de informações recentes
sobre acidentes ofídicos, indicando uma baixa prioridade política para esse problema de saúde.
O período de 1986 a 1993 concentra a maioria dos estudos, refletindo a integração eficiente do
sistema de informação sobre acidentes por animais peçonhentos.

Palavras-Chave:
- Serpentes
- Acidentes Ofídicos
- Estudo Epidemiológico
- Soro Antiofídico
- Vital Brazil

Introdução:
Existem cerca de 3000 espécies de serpentes no mundo, das quais 10% a 14% são
consideradas peçonhentas. A OMS (Organização Mundial de Saúde) estima que ocorram entre
1.250.000 e 1.665.000 acidentes por ano causados por serpentes peçonhentas no mundo,
resultando em 30.000 a 40.000 mortes. A mortalidade varia em diferentes regiões do mundo.
Na Ásia, especialmente na Índia, Paquistão e Birmânia, os acidentes ofídicos causam 25.000 a
35.000 óbitos anualmente, com a Vipera russeli sendo uma das serpentes mais importantes.
Na Nigéria, ocorrem 500 casos por 100.000 habitantes, com uma taxa de mortalidade de 10%.
Nos Estados Unidos, de 12 a 15 dos 8.000 casos anuais são fatais, resultando em uma
mortalidade de 0,2%. Na África, ocorrem de 400 a 1.000 mortes por ano, principalmente
causadas pelas serpentes conhecidas como Naja.
No Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde, ocorrem entre 19.000 e 22.000 acidentes
ofídicos por ano. Existem aproximadamente 250 espécies de serpentes, das quais 70 são
peçonhentas. A maioria desses acidentes envolve serpentes dos gêneros Bothrops (jararaca,
jararacuçu, urutu e outros) e Crotalus (cascavel), sendo raros os causados por Lachesis
(surucucu, surucutinga) e Micrurus (coral).
A Coordenação Nacional de Controle de Zoonoses e Animais Peçonhentos (CNCZAP) do
Ministério da Saúde registrou 81.611 acidentes no período de 1990 a 1993, com uma média de
20.000 casos por ano no país. A incidência média foi de 13,5 acidentes por 100.000 habitantes,
com a região Centro-Oeste apresentando o maior índice (33 acidentes por 100.000 habitantes).
A região Norte teve 24 acidentes por 100.000 habitantes, a Sul teve 16, a Sudeste teve 13 e o
Nordeste registrou o menor índice (7 acidentes por 100.000 habitantes), possivelmente devido
à subnotificação de casos devido às dificuldades de acesso aos serviços de saúde.

Métodos:
Vital Brazil, um renomado cientista no campo do ofidismo, teve sua significativa contribuição
reconhecida. Inicialmente, realizou-se uma análise detalhada de toda a sua produção científica,
compilada em um único livro. Esse trabalho abrange desde sua tese de doutorado, publicada
em 1892, até seu último artigo, lançado em 19411.
Em seguida, conduziu-se uma revisão bibliográfica para identificar trabalhos de outros autores
sobre acidentes ofídicos no Brasil, publicados entre 1901 e 2000.
A relevância das análises epidemiológicas realizadas nos últimos 100 anos permaneceu
consistente, refletindo as variáveis identificadas por Vital Brazil em seu pioneiro Boletim para
Observação de Accidente Ophidico. Essas variáveis abrangem características do indivíduo, do
evento e do atendimento. O perfil epidemiológico desses acidentes também se manteve
constante: são mais comuns em homens, trabalhadores rurais, na faixa etária de 15 a 49 anos,
afetando principalmente os membros inferiores e sendo atribuídos principalmente às serpentes
do gênero Bothrops.

Discussão:
A tabela apresenta o perfil epidemiológico dos acidentes ofídicos, com base nas principais
variáveis analisadas em 30 artigos. As conclusões dessa tabela estão em consonância com o
perfil descrito por Vital Brazil em seu livro datado de 1911:

1. A jararaca é a espécie responsável pela maior parte dos acidentes, o que está alinhado
com sua abundância e distribuição geográfica na região Sul Americana.
2. Homens são mais frequentemente vitimados do que mulheres, provavelmente devido
aos tipos de trabalho adotados por cada gênero.
3. Indivíduos com mais de 15 anos são mais propensos a sofrer acidentes ofídicos.
4. Membros inferiores são os mais afetados, ocorrendo em cerca de 75% dos casos.
Essas observações reforçam a relevância contínua das análises epidemiológicas,
estabelecendo uma base sólida para compreender e prevenir acidentes relacionados a
serpentes no Brasil.

Conclusão:
Os pesquisadores Benchimol & Teixeira (1993) e Pereira Neto (2000) destacam os esforços de
Vital Brazil para obter reconhecimento na comunidade científica e junto ao Estado, bem como
para convencer a sociedade sobre a importância e eficácia do soro antiofídico. Vital Brazil
dedicou atenção especial à produção e divulgação de dados sobre acidentes ofídicos. No
entanto, seus trabalhos publicados em 1901 e 1909 abordaram apenas óbitos registrados no
Estado de São Paulo entre 1897 e 1900. Seu livro de 1911 marcou o primeiro estudo
epidemiológico baseado em casos, embora os dados utilizados em sua análise não tenham
sido detalhados e o período de referência não tenha sido especificado.
Tanto Vital Brazil (1911) quanto Magalhães (1918) utilizaram relatos de casos para demonstrar
a eficácia do tratamento com soro antiofídico.
Neste estudo, foram analisados apenas quatro trabalhos nacionais, sendo dois publicados em
1989, um em 1993 e o último em 1998, com republicação em 2001. Preocupante é o fato de o
Ministério da Saúde (MS) ter publicado um trabalho em 1998, reeditado em 2001, com dados
referentes aos anos de 1990 a 1993, evidenciando a escassez de informações atualmente
devido à pouca importância política dada a esse tipo de agravo à saúde.
O período de 1986 a 1993 concentra o maior número de estudos, refletindo o bom
funcionamento do sistema de informação sobre acidentes por animais peçonhentos, graças à
integração das notificações de casos com a distribuição do soro antiofídico.

Referências Bibliográficas:
‌Animais Peçonhentos: o que são, exemplos, veneno e casos de acidentes. Disponível em:
<https://www.todamateria.com.br/animais-peconhentos/>. Acesso em: 13 nov. 2023;
ARAÚJO, É. A. Vital Brazil e as estratégias de “defesa contra o
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‌BOCHNER, R.; STRUCHINER, C. J. Epidemiologia dos acidentes ofídicos nos últimos 100
anos no Brasil: uma revisão. Cadernos de Saúde Pública, v. 19, p. 07-16, 1 fev. 2003;
COSTA, Y. D. Cobras peçonhentas - principais espécies, fotos e características.
Disponível em: <https://www.infoescola.com/repteis/cobras-peconhentas-venenosas/>. Acesso
em: 13 nov. 2023;
‌MOTT, M. L. et al. A defesa contra o ofidismo de Vital Brazil e a sua contribuição à Saúde
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‌Serpentes - o que são, características, venenosas - Toda Biologia. Disponível em:
<https://www.todabiologia.com/zoologia/serpentes.htm>. Acesso em: 13 nov. 2023.

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