Você está na página 1de 30

CENTRO UNIVERSITÁRIO REGIONAL DO BRASIL

MEDICINA VETERINÁRIA

ANDREZA ALVES PORDEUS

ACIDENTES OFÍDICOS: UMA REVISÃO DE LITERATURA


INTEGRATIVA

Barreiras – BA
2021
ANDREZA ALVES PORDEUS

ACIDENTES OFÍDICOS: UMA REVISÃO DE LITERATURA


INTEGRATIVA

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado ao Curso de Medicina
Veterinária, Centro Universitário
Regional do Brasil, como requisito
parcial para aprovação da disciplina
Trabalho de Conclusão de Curso II.

Orientadora: Esp. Ana Manuella Souza


de Babo.

Professor de TCC II: Me. Marcus


Lessandro Costa Delazzeri.

Barreiras - BA
2021
RESUMO

Acidentes ofídicos e seu consequente envenenamento por serpentes representam um grave


problema de saúde pública em países de clima tropical, principalmente em ambientes rurais.
O presente trabalho descreve as espécies de serpentes peçonhentas presentes no Brasil bem
como a ação de seus venenos; analisa de forma quantitativa, retrospectiva e descritiva os
números de notificações sobre os acidentes ofídicos, em especial o botrópico e o crotálico, no
estado da Bahia entre os anos de 2010 a 2017 em comparação com a literatura existente. As
variáveis estudadas foram: faixa etária, raça/cor, sexo, município de notificação, ano de
notificação, tipo de serpente, escolaridade, classificação final e evolução do quadro. Concluiu-
se que a maioria das vítimas dos acidentes foram adultos de 20 a 59 anos do sexo masculino,
com nível de escolaridade baixo ou desconhecido, pardos e pretos, residentes da zona rural. A
gravidade do quadro da maioria dos acidentes foi classificado de moderado a leve e em 85%
dos casos evoluiu para a cura.

Palavras-chaves: Acidentes Ofídicos. Epidemiologia. Saúde Pública.


ABSTRACT

Snake accidents and their consequent poisoning represents a serious public health problem in
tropical countries, especially in rural environments. The present work decribes the species of
venomous snakes presents in Brazil as well as the action of their venoms; analyzes in
quantitative, retrospective and descriptive ways the numbers of notifications on snakebites,
especially bothropic and crotalic, in the state of Bahia among the years 2010 to 2017
compared to the existing literature. The variables studied were: age group, race/color, sex,
municipality of notification, year of notification, type of snake, education level, final
classification and evolution of the condition. It was concluded that the majority of victims
caused by the accidents were male adults aged 20 to 59 years, with low or unknown level of
education, brown and black, living in rural areas. The severity of the health chart of the most
accidents was classified from moderate to mild level and in 85% of cases progressed to cure.

Keywords: Ophidian accidents. Epidemiology. Public Health.


LISTA DE QUADROS

Quadro 1 Serpentes responsáveis pelo envenenamento Botrópico, 14


Crotálico, Laquético e Elapídico com suas nomenclaturas
científicas/família, distribuição geográfica no Brasil e bioma
encontrado
LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Bothrops atrox (Jararacaquinha-do-rabo-branco). 10

Figura 2 Caudisona durissa (Cascavel). 11

Figura 3 Lachesis muta (Surucucu ou Pico-de-jaca) 11

Figura 4 Micrurus lemniscatus (Coral verdadeira) 11

Figura 5 Dentição Serpentes 13

Figura 6 Biomas por Unidades Federativas 16


LISTA DE SIGLAS

CPK – Creatinofosfoquinase
DATASUS - Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde
DH – Desidrogenase láctica
SIM – Sistema de Informações sobre Mortalidade
OMS – Organização Mundial da Saúde
SINAN – Sistema de Informação de Agravos de Notificação
TGP – Aspartato Amino Transferase
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.................................................................................................... 9
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA...................................................................... 10
2.1 BIOLOGIA DAS SERPENTES............................................................................ 10
2.1.1 Classificação Taxonômica..................................................................................... 10
2.1.2 Distribuição Geográfica......................................................................................... 13
2.2 AÇÃO DOS VENENOS....................................................................................... 16
2.2.1 Veneno Botrópico.................................................................................................. 17
2.2.2 Veneno Crotálico................................................................................................... 17
2.2.3 Veneno Laquético.................................................................................................. 17
2.2.4 Veneno Elapídico................................................................................................... 18
3 METODOLOGIA................................................................................................ 18
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO......................................................................... 19
5 CONCLUSÃO...................................................................................................... 27
REFERÊNCIAS................................................................................................... 28
9

1 INTRODUÇÃO

Acidentes ofídicos são quadros de envenenamento decorrentes da inoculação de uma


peçonha através do aparelho inoculador de serpentes peçonhentas (SOUZA et al., 2021).
Segundo Giovane M. A. et al, (2016),o envenenamento por serpentes representa um
grave problema de saúde pública em países de clima tropical, especialmente em áreas rurais,
devido à alta frequência de morbimortalidade. Trata-se de uma ocorrência comum em
humanos e em animais, porém nestes, há poucos relatos descritos na literatura devido à falta
de obrigatoriedade da notificação compulsória. Acidentes ofídicos são classificados com uma
situação emergencial.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2009 incluiu o ofidismo (acidente com
serpentes) na lista de Doenças Tropicais Negligenciadas, estimando que ocorrem anualmente
no planeta 1.841.000 casos de envenenamentos resultando em 94.000 óbitos (MENDES, J. S.
et al., 2020).
Ressalta-se a importância da identificação da serpente envolvida no acidente para
assegurar medidas terapêuticas adequadas, uma vez que, na maioria dos casos, são baseadas
na análise do quadro clínico do paciente em decorrência da avaliação das atividades tóxicas
do veneno conforme a espécie que ocasionou o acidente. Isso é válido porque a produção do
soro antiofídico é realizada conforme o gênero, para utilização de soro específico (LEITE, J.
E. F, et al, 2016)
Dentre os animais peçonhentos, as serpentes possuem as substâncias mais complexas,
pois contêm vinte ou mais componentes diferentes em seus venenos, sendo mais de 90% de
seu peso seco constituído por enzimas, toxinas não enzimáticas, proteínas e proteínas não
tóxicas. (SCHULZ, R. S., et al, 2016).
Para Oliveira et al., (2017) a maioria dos acidentes ofídicos são associados aos gêneros
Bothrops e Crotalus, e, apesar de serem menos relatados que em humanos, também
acontecem com frequência em animais domésticos. Em relação aos pequenos animais,
principalmente os cães, Giovane M. A. (2016), diz que podem ser vítimas de acidentes
ofídicos por conta de seu comportamento curioso sendo os locais de picada mais comuns o
focinho e membros torácicos, já os grandes são mais propícios a sofrerem este tipo de
acidente devido ao seu habitat.
10

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 BIOLOGIA DAS SERPENTES

2.1.1 Classificação Taxonômica

De acordo com Cubas, Z. S; Silva, J. C. R; Catão-Dias, J. L. (2014), as serpentes


pertencem à Ordem Squamata e Subordem Serpentes, atualmente com cerca de 2.900 espécies
no mundo. São encontradas em quase todas as partes do planeta, com exceção das calotas
polares e habitam principalmente as regiões temperadas e tropicais, em razão da dependência
do calor. Por se tratarem de animais ectotérmicos, ocupam praticamente todos os ambientes
disponíveis. A maioria das serpentes possui peçonha, uma substância tóxica, produzida por
uma glândula especializada e que pode ser inoculada no tecido de suas presas.
Tokarnia, C. H. e Peixoto, P. V. (2006), afirmam que apenas 410 espécies são
venenosas, sendo que no Brasil, existem catalogadas 256 espécies, dessas, 69 são venenosas e
187 não-venenosas. Das venenosas, 32 pertencem ao gênero Bothrops (Figura 1), 6 ao gênero
Crotalus (Figura 2), 2 ao gênero Lanchesis (Figura 3) e 29 ao gênero Micrurus (Figura 4).

Figura 1 Bothrops atrox (Jararaquinha-do-rabo-branco). (Fonte: BENTO, 2020).


11

Figura 2 Caudisona durissa (Cascavel). (Fonte: BENTO, 2020).

Figura 3 Lachesis muta (Surucucu ou Pico-de-jaca). (Fonte: BENTO, 2020).

Figura 4 Micrurus lemniscatus (Coral verdadeira). (Fonte: BENTO, 2020).


12

Quanto às famílias das serpentes venenosas, os autores Tokarnia, C. H. e Peixoto, P. V.


(2006, pág. 56) definem:

• Elapidae (proteróglifas) - As cobras desta família, responsáveis por


uma ínfima parte de acidentes no Brasil, são representadas no Brasil
pelas corais-verdadeiras, gênero Micrurus. Dentro dessa família, que
ocorre principalmente na Austrália, África e Ásia e não existe na
Europa, estão incluídas ainda as mambas (Dendroapis spp), najas ou
“cobras” (Najas spp), taipans (Oxyuranus scutellatus), “kraits”
(Bungarus spp), “tiger snake” - cobra-tigre (Notechis scutatus) e a
“death adder” - víbora-da-morte (Acantophis antarcticus); esta última,
apesar de seu nome e sua aparência, é uma serpente da família
Elapidae.
• Viperidae (solenóglifas, sem fosseta loreal) - As cobras desta família
só existem na Europa, África e Ásia e não ocorrem no Brasil. São as
víboras (adder) verdadeiras.
• Crotalidae (solenóglifas, com fosseta loreal) - São encontradas nas
Américas e na Ásia. A estas famílias pertencem as serpentes
venenosas mais importantes do Brasil, quais sejam as jararacas, urutus
e cruzeiras (Bothrops), cascavéis (Crotalus) e a surucucu (Lachesis).
Nos Estados Unidos essa família é representada pelas “rattle snakes” –
cobras-de-chocalho (Crotalus) e moccasins (Akistrodon). Deve-se
ressaltar que muitos autores consideram a família Crotalidae apenas
como uma subfamília da família Viperidae, denominada Crotalinae.

Para Araujo et al. (2018), animais ofídios além dos dentes comuns, apresentam presas
no maxilar superior, as quais possibilitam a inoculação de venenos, elas podem ser dobradas
para trás quando a boca se fecha. Apenas as serpentes solenóglifas possuem dentes
inoculadores móveis na posição anterior; as proteróglifas possuem presas anteriores fixas; as
opistóglifas possuem presas fixas na região posterior; e as áglifas não apresentam presas
(Figura 5).
13

Figura 5 Dentição Serpentes (Fonte: BENTO, 2020).

No Brasil, as serpentes com dentição solenóglifa e proteróglifas são serpentes


peçonhentas de importância em saúde pública, pois têm aparato especializado eficiente para
inocular peçonha, que causa lesões graves no organismo humano (CUBAS, Z. S; SILVA, J.
C. R; CATÃO-DIAS, J. L., 2014).
Segundo Sampaio, L. C. L. et al. (2018), estima-se que um terço da fauna mundial de
répteis se encontra no Brasil, tornando-o o segundo país com número total desse grupo.
Existem cerca de 2.900 espécies de serpentes catalogadas no mundo, sendo as famílias
Elapidae e Viparidae as mais conhecidas pelas características dos seus venenos.
Giovane, M. A. et al. (2016), relatam que os grandes animais são susceptíveis a
sofrerem acidentes ofídicos devido ao seu habitat, porém necessitam de quantidade maior de
veneno inoculado para virem a óbito em comparação a pequenos animais. Além disso, dados
sobre acidentes ofídicos em animais domésticos não possuem obrigatoriedade da notificação
compulsória e são escassos, devido aos poucos estudos e relatos na literatura.

2.1.2 Distribuição Geográfica

Para Tokarnia, C.H ; Peixoto, P.V. (2006), as serpentes podem ser subdividas em
aquáticas, terrestres e as anfíbias. As terrestres, podem ser encontradas em árvores e são
denominadas de dendrícolas, no solo e em locais subterrâneos. As que se destacam são as dos
gêneros botrópico, crotálico e laquético. As Botrópicas têm preferência por árvores e
preferem locais úmidos, como beiras de rio e lagos. As crotálicas, possuem preferência por
14

lugares secos e pedregosos, enquanto o grupo laquético possui vida preferencialmente


subterrânea. A distribuição das principais serpentes peçonhentas do Brasil foi especificada no
quadro 1.

Quadro 1 – Serpentes responsáveis pelo envenenamento Botrópico, Crotálico, Laquético e


Elapídico, com suas nomenclaturas científicas/família, distribuição geográfica no Brasil e
bioma encontrado:
NOMENCLATURAS DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA BIOMA
CIENTÍFICAS/FAMÍLIA
Bothropoides mattogrossensis MT, MS, RO, GO, TO, SP, AM Cerrado, Pantanal.
VIPERIDAE
Bothropoides neuwiedi BA, MG, GO, SP, RJ, ES, PR. Cerrado, Mata Atlântica
VIPERIDAE
Bothropoides pauloensis SP, MG, GO, MT, MS, PR Cerrado, Pantanal
VIPERIDAE
Bothropoides pubescens RS Pampa
VIPERIDAE
Bothrops atrox AM, PA, AC, RO, TO, AP, MA, RR, MT, Amazônia
VIPERIDAE
Bothrops brazil PA, AM, RO, MT Amazônia.
VIPERIDAE
Bothrops jararacussu MG, ES, RJ, RS, SP, SC, BA, MS Mata Atlântica
VIPERIDAE
Bothrops leucurus ES, BA, SE, AL, PE, PB, CE, RN Mata Atlântica
VIPERIDAE
Bothrops marajoensis PA Mata Atlântica
VIPERIDAE
Bothrops moojeni TO, GO, DF, PA, PI, PR, SP, MA, BA, MT, Cerrado, Caatinga
VIPERIDAE MS,
Bothrops muriciensis AL Mata Atlântica
VIPERIDAE
Bothrops pirajai BA Mata Atlântica
VIPERIDAE
Bothriopsis bilineata AM, AC, RR, BA, RJ, MG, MT, RO, ES, Amazônia,
VIPERIDAE MA, PA, AP, TO Mata Atlântica
Bothriopsis taeniata PA, AM, Amazônia
VIPERIDAE
Bothrocophias hyoprora AM, RO, PA, AC Amazônia
VIPERIDAE
Bothrocophias microphthalmus RO Amazonia
VIPERIDAE
Bothropoides alcatraz SP Mata Atlântica
VIPERIDAE
Bothropoides diporus SP, PR, SC, RS, MS Mata Atlântica
VIPERIDAE
Bothropoides erythromelas AL, BA, CE, MA, Caatinga
VIPERIDAE MG, PB, PE, RN, SE, PI
Bothropoides insularis SP Mata Atlântica
VIPERIDAE
Bothropoides jararaca BA, ES, RJ, MG, SP, PR, SC, RS, MT Mata Atlântica
VIPERIDAE
Bothropoides lutzi MG, BA, GO, TO, PI, PE, CE Cerrado, Caatinga
VIPERIDAE
Bothropoides marmoratus GO Cerrado
VIPERIDAE
Rhinocerophis alternatus GO, MG, MS, SP, PR, SC, RS Cerrado, Pampa
VIPERIDAE
Rhinocerophis cotiara SP, PR, SC, RS, Mata Atlântica, Pampa
VIPERIDAE
15

Rhinocerophis fonsecai SP, RJ, MG Mata Atlântica


VIPERIDAE
Rhinocerophis itapetiningae MG, GO, MT, SP, PR Cerrado, Pampa, Mata Atlântica
VIPERIDAE
Crotalus durissus MT, MS, RO, AM, AP, PA, RR, SP, MG, Cerrado, Caatiga e em áreas
VIPERIDAE DF, GO, TO, BA, MA, PI, CE, PE, PB, RN, antropizadas, como pastos e
AL, PR, SC, RS plantações
Lachesis muta RJ, MG, BA, AC, AM, PA, RR, RO, MT, Amazônia
VIPERIDAE CE, ES, PE, AL, AP, MA Mata Atlântica
Leptomicrurus collaris RR, AP Amazônia
ELAPIDAE
Leptomicrurus narduccii RO Amazônia
ELAPIDAE
Leptomicrurus scutiventris AM Amazônia
ELAPIDAE
Micrurus albicinctus MT, RO, AM Amazônia
ELAPIDAE
Micrurus altirostris PR, RS, SC. Mata Atlântica, Pampa
ELAPIDAE
Micrurus averyi PA, AM, RR Amazônia
ELAPIDAE
Micrurus brasiliensis GO, MG, BA Cerrado
ELAPIDAE
Micrurus corallinus BA, ES, RJ, SP, MS, PR, SC, RS Mata Atlântica
ELAPIDAE
Micrurus decoratus SP, MG, RJ, PR Mata Atlântica
ELAPIDAE
Micrurus filiformis PA, AM, MA, RO Amazônia
ELAPIDAE
Micrurus frontalis TO, MT, MS, GO, DF, BA, MG, SP, PR, SC, Cerrado, Pampa
ELAPIDAE RS
Micrurus hemprichii PA, RO, AM, M Amazônia
ELAPIDAE
Micrurus ibiboboca BA, SE, MA, PE, PI, AL, CE, PB Caatinga
ELAPIDAE
Micrurus langsdorffii AM Amazônia
ELAPIDAE
Micrurus lemniscatus GO, AM, AP, MA, RO, RR, MT, MS, TO, Cerrado, Amazônia, Mata
ELAPIDAE MG, RJ, PA, SP, PI Atlântica
Micrurus nattereri AM Amazônia
ELAPIDAE
Micrurus mipartitus AM, RR Amazônia
ELAPIDAE
Micrurus pacaraimae RR Amazônia
ELAPIDAE
Micrurus paraensis MT, PA Amazônia
ELAPIDAE
Micrurus psyches RR Amazônia
ELAPIDAE
Micrurus putumayensis AC Amazônia
ELAPIDAE
Micrurus pyrrhocryptus MT, MS Pantanal
ELAPIDAE
Micrurus remotus PA Amazônia
ELAPIDAE
Micrurus silviae RS Pampa
ELAPIDAE
Micrurus spixi AM, PA, TO, MT, MA, RO, AC Amazônia
ELAPIDAE
Micrurus surinamensis MT, TO, RO, AC, AM, RR, MA, PA, AP Amazônia
ELAPIDAE
Micrurus tricolor MT, MS Pantanal
ELAPIDAE
Fonte: Adaptado de Costa, R. S. (2012).
16

A diversidade de espécies que causam estes acidentes é determinada pela variedade de


paisagens naturais no país, influenciada pelas características naturais intrínsecas e pelo clima
(Figura 6).

Figura 6 – Biomas existentes em cada Unidade Federativa do Brasil.

Fonte: SILVA, S. I. L., 2021.

2.2 AÇÃO DOS VENENOS

A ação da peçonha se diferencia de acordo com o gênero da serpente (SOUZA et al.,


2021). Os venenos das serpentes contêm inúmeras enzimas, proteínas e peptídeos, além de
toxinas não proteicas, carboidratos, lipídeos, aminas e outras moléculas pequenas e podem ter
funções de paralisar, matar e digerir a presa ou defender a serpente contra predadores.
(GIOVANE, M. A., et al., 2016)
Soto L. A. P. (2005), diz que em caso de envenenamento, a fisiopatologia tem uma
forma complexa de manifestação e apresenta desde alterações locais, como neurotoxicidade,
dermonecrose, hemorragia, edema e dor, até alterações sistêmicas, como coagulopatias,
17

hemorragias, choque cardiovascular e insuficiência renal aguda. A reação imunológica


desencadeada pela ativação direta dos antígenos presentes no veneno e pela ativação indireta
gerada devido ao dano tecidual pode, em último grau, evoluir ao choque anafilático (SOUZA,
F. S., et al., 2021).

2.2.1 Veneno Botrópico

De acordo com Sampaio, L. C. L. et al. (2018), o veneno botrópico é muito potente e


causa muita dor, edema e até sangramento local. Sua composição é uma mistura complexa
que inclui proteínas, peptídeos, aminoácidos, nucleotídeos, lipídios e carboidratos.
Os sinais clínicos evidenciados em casos de acidentes ofídicos com envolvimento de
serpentes do gênero Bothrops são dor; edema; eritrema; petéquias; hemorragia necrose;
hematúria; epistaxe e hematêmese (OLIVEIRA et al., 2017).

2.2.2 Veneno Crotálico

Acidentes causados por cascavéis (Crotalus durissus) estão associados à


neurotoxicidade, miotoxicidade, nefrotoxicidade, sendo observados como sinais clínicos
paralisia dos membros, ptoses palpebral e mandibular, ataxia, sonolência, paralisia do globo
ocular, dificuldade na deglutição, mialgia, insuficiência respiratória e mioglobinúria
(GIOVANE, M. A., et al., 2016).
O veneno atua em diversas áreas do corpo, tendo atuação no tecido muscular através
de substâncias denominadas Fosfolipase A e Cropatina que unidas formam a Crotoxina. Essas
substâncias causam danos a parede da membrana plasmática dos tecidos (CASTRO, I. 2006).
Quanto à atividade miotóxica sistemática, para Castro, I. (2006), caracteriza-se pela
liberação de mioglobina no sangue e linfa, o que pode resultar em rabdomiólise, com elevação
dos níveis de creatinofosfoquinase (CPK), desidrogenase láctica (DHL) e aspartato amino
transferase (TGP).

2.2.3 Veneno Laquético

Acidentes causados por surucucu pico-de-jaca (Lachesis muta) são baixos, pois esta
serpente possui um temperamento menos agressivos quando comparado as demais, entretanto
são serpentes grandes que podem atingir até 3,5 m de comprimento, o veneno desta serpente
18

possui atividade coagulante, hemorrágica e inflamatória aguda. (GIOVANE, M. A. et al.,


2016).

2.2.4 Veneno Elapídico

De acordo com Giovane, M. A. et al., (2016), as manifestações clínicas causadas por


acidentes elapídicos incluem náuseas, vômitos, ptose palpebral, oftalmoplegia, fácies
miastênicas, insuficiência respiratória e apneia decorrentes da ação ofídica na junção
mioneural, podendo ser pré-sinápticas (inibem a liberação da acetilcolina) ou pós-sinápticas
(combinam-se com os receptores da placa terminal) e são considerados graves.

3 METODOLOGIA

O presente estudo tem caráter epidemiológico, exploratório, retrospectivo e descritivo.


Os dados foram disponibilizados no sitio eletrônico do Departamento de Informática do
Sistema Único de Saúde (DATASUS) secundários do Sistema de Informação de Agravos de
Notificação (SINAN), sendo analisados os números de notificações sobre os acidentes
ofídicos, em especial o botrópico e crotálico, no estado da Bahia entre os anos de 2010 a
2017.
Nesse contexto, o SINAN é um sistema que disponibiliza dados gerados pelo Sistema
Nacional de Vigilância Epidemiológica para a investigação de doenças e agravos da lista
nacional de doenças de notificação compulsória por meio de uma rede informatizada
(NOBRE, 2019). Por outro lado, o DATASUS, fornece uma análise sanitária que integra
dados em saúde que favorece nas decisões baseadas em evidências (SALDANHA; BASTOS;
BARCELLOS, 2019).
As variáveis estudadas foram: faixa etária, raça/cor, sexo, município de notificação, ano
de notificação, tipo de serpente, escolaridade, classificação final e evolução do quadro. Para
os cálculos de prevalência foi acessado, por meio da plataforma do DATASUS e no Sistema
de Informações sobre Mortalidade (SIM). O cálculo de prevalência (P) dos acidentes ofídicos
na população no período entre 2010 a 2017, foi determinada ao multiplicar a quantidade de
casos do item em análise (I) por cem, logo depois divide-se o resultado pelo número total de
casos.

( Ix 100 )
P=
Númerototaldecasos
19

Os dados foram coletados no dia 28 de maio de 2021. A pesquisa apresenta análise


quantitativa, retrospectiva e descritiva, utilizando como instrumento o Software Microsoft
Excel® 2020. Desse modo para a comparação e avaliação dos dados, foram selecionados
artigos científicos, por meio de leitura de resumos, títulos e, posteriormente, leitura completa,
publicados nas plataformas Scielo, PubVet e Google Acadêmico. As bibliografias foram
escolhidas a partir dos critérios de seleção, que são: objetivo do estudo, ano de publicação,
artigos em língua portuguesa e inglesa e plataforma de publicação. Por se tratar de dados
disponíveis em banco de domínio público, o presente estudo não necessitou da análise do
Comitê de Ética.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

De acordo com o gráfico 1, nota-se que as serpentes do gênero Brotrops possuem as


maiores prevalências de acidentes ofídicos notificados na Bahia nos anos de 2010 a 2017,
com 72,41%, seguido do gênero Crotalus que representa a segunda maior prevalência, com
5,40% dos acidentes. Ademais, as menores prevalências se referem aos gêneros Lachesis e
Micrurus com 0,45% e 1,06%, respectivamente. Durante a pesquisa foi encontrado um
número de 21.240 casos de acidentes ofídicos, sendo que 16.528 notificações foram de
responsabilidade de serpentes dos gêneros Brotrops e Crotalus.
Um estudo foi realizado por Carmo, E. A. et al. (2016) no Hospital Geral Prado
Valadares no município de Jequié na Bahia, referência em atendimento em uma microrregião
composta por 25 municípios baianos. Foram descritas características das internações por
causas externas envolvendo contato com animais no período de 2009 a 2011. Dos 246 casos,
166 (91,2%) dos pacientes moravam em zona rural. Os acidentes ofídicos corresponderam a
205 dos casos (83,3%), porém os gêneros de serpentes não foram especificados. Os acidentes
ocorreram durante todas as estações do ano, com maior incidência no outono.
Estes resultados condizem com os apresentados por Nascimento, L. S; Junior R. C;
Braga J. R. M. (2017), os quais afirmam que os acidentes ofídicos estão majoritariamente
relacionados aos trabalhadores rurais que se encontram mais próximos aos meios naturais e
são submetidos a condições de trabalho que os expõe ao contato direto com serpentes.
Nas áreas urbanas, o acúmulo de resíduos domésticos e seu descarte inadequado
associados à falta de saneamento básico, são fatores que contribuem para a proliferação de
20

roedores, fonte de alimento atrativa para as serpentes (NACIMENTO, L. S; JUNIOR R. C;


BRAGA, J. R. M., 2017).

Gráfico 1 Taxa de prevalência de casos confirmados de Acidentes Ofídicos notificados na


Bahia no período de 2010 a 2017, segundo o tipo de serpente:

Prevalência de casos notificados de Acidentes Ofídicos na


Bahia entre os anos de 2010 a 2017.
Ignorado 16,98%

ñ peçonhenta 3,70%

Lachesis 0,45%

Micrurus 1,06%

Crotalus 5,40%

Brotrops 72,41%
0,00% 10,00% 20,00% 30,00% 40,00% 50,00% 60,00% 70,00% 80,00%

Prevalência de casos notificados de Acidentes por serpentes no Bahia entre os anos de 2010 a
2017
Fonte: Elaborado pelo autor, 2021.

Conforme exposto no gráfico 2, o ano com maior predomínio de casos de acidentes


ofídicos brotrópicos foi o ano de 2010, com uma porcentagem de 15,26%.A menor incidência
foi percebida no ano de 2014 com 10,24%. Além disso, a maior incidência referente ao
acidente crotálico é o ano de 2011 com 16,20% dos casos e a menor é demonstrada no ano de
2013 com 8,01% das notificações.
Mendes, J. S. et al. (2020) descreveram os aspectos epidemiológicos e clínicos de
acidentes ofídicos no município de Vitória da Conquista na Bahia durante o período de 2007 a
2015. Os autores observaram que o maior número de casos foi causado pelo gênero Bothrops,
representando 64,2% (77 casos), seguido pela família Elapidae com 20% (24 casos). Os
gêneros com menor número de casos foram Crotalus 14,2% (17 casos) e Lachesis 1,2% (2
casos). Em 20% dos casos (24 casos) não se obteve informações a respeito da procedência da
serpente.
21

Gráfico 2 Taxa de prevalência de casos confirmados de Acidentes Botrópicos e Crotálicos


notificados na Bahia no período de 2010 a 2017, segundo o ano de notificação:

Prevalência de casos notificados de Acidentes Botrópicos


e Crotálicos na Bahia.
18,00% 14,55% 16,20%
16,00% 15,26% 15,13%
13,50% 12,80% 12,54% 12,12%
14,00% 10,28%
12,42% 12,19% 11,40% 11,53% 11,83%
12,00%
10,24%
10,00% 8,01%
8,00%
6,00%
4,00%
2,00%
0,00%
2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017

Acidentes Botrópicos Acidentes Crotálicos

Fonte: Elaborado pelo autor, 2021.

Em relação à prevalência de casos confirmados de acidentes ofídicos na Bahia, o gráfico


3 mostra que, no período de 2010 a 2017, o município de Itabuna, foi o que revelou maior
número, apresentando 6,68% dos casos em relação a todos os acidentes brotrópicos entre as
cidades baianas. Ademais, de todos os acidentes crotálicos da Bahia, 4,17% das notificações
está presente na cidade de Barreiras. No entanto, as menores notificações brotrópicas são
demonstradas na cidade de Irecê, com 1,63% e as menores notificações crotálicas se refere ao
município de Santana, com 0,09% dos acidentes.
22

Gráfico 3 Taxa de Prevalência de casos confirmados de Acidentes Ofídicos notificados na


Bahia no período de 2010 a 2017, segundo o município de notificação:

Prevalência de notificações de Acidentes Ofídicos na Bahia


no período de 2010 a 2017.

0,53%
Valença 4,10%
3,82%
Santana 1,73%
0,09%
Eunápolis 1,74%
0,80%
St Antônio de Jesus 2,01%
4,17%
Barreiras 2,00%
2,22% Ac. Crotálicos
Salvador 3,41% Ac. Brotró picos
2,49%
Jequié 2,90%
0,44%
Itabuna 6,68%
2,66%
Irecê 1,63%
0,35%
Ilheus 2,94%
0,27%
Ipiaú 2,34%
0,44%
Itamaraju 2,73%
0,00% 1,00% 2,00% 3,00% 4,00% 5,00% 6,00% 7,00% 8,00%

Fonte: Elaborado pelo autor, 2021.

Para Matos, R. R.; Ignotti, E. (2020) os acidentes botrópicos são os mais frequentes
dos acidentes ofídicos, em todos os tipos de biomas. Isto pode ser explicado pelo fato de
serpentes deste gênero ocuparem todos os principais ecossistemas, desde florestas tropicais
até pradarias e habitats secos. Já os acidentes com o gênero Crotalus apresentaram tendência
de aumento em alguns biomas, incluindo o Cerrado. Segundo os autores, tal fato pode ser
decorrente da presença deste gênero, eminentemente, em regiões de campos abertos. O
aumento de suas taxas de ocorrência pode ter relação com degradações florestais que são
substituídas por pastagens ou campos agrícolas.
De acordo com o mapa apresentado na Figura 6, os biomas mais presentes no estado da
Bahia são Cerrado e Caatinga, nos quais segundo o Quadro 1, são encontradas maior número
23

de espécies pertencentes ao gênero Bothrops, sendo as do gênero Micrurus também


encontradas em ambos, porém em menor diversidade de espécies.

Gráfico 4 Taxa de prevalência de casos confirmados de Acidentes Ofídicos notificados na


Bahia no período de 2010 a 2017, segundo o sexo do paciente:

Prevalância dos casos de Acidentes Ofídicos no Bahia no


período de 2010 a 2017.
90,00%
80,00%
70,00%
60,00%
50,00%
40,00%
30,00%
20,00%
10,00%
75,31% 24,69% 77,43% 22,57%
0,00%
BOTHROPS CROTALUS

MASCULINO FEMININO

Fonte: Elaborado pelo autor, 2021.

No Estado da Bahia, no período de 2010 a 2017, houve 16.528 casos confirmados de


acidentes ofídicos. Dentre eles, 15.380 foram acidentes botrópicos. O sexo masculino foi
predominantemente acometido tanto no acidente botrópico (75,31%), quanto no acidente
crotálico (77,43%), enquanto o sexo feminino foi a menor parte afetada nos 2 grupos (Gráfico
4).
No estudo de Mendes, J. S. et al. (2020), do total de número de acidentes, 69,2% dos
pacientes acometidos eram do gênero masculino e 30,8% do gênero feminino. Um total de
105 casos (87,5%) ocorreram na zona rural e 15 casos (12,5%) na zona urbana do município.
Segundo os autores, a provável causa desse padrão de ocorrência é devido ao maior número
de homens exercendo atividades como: caça, pesca, pecuária, colheita e lavra da terra.
(MENDES, J. S. et al., 2020). Carmo, E. A. et al. (2016) acrescentam que há uma estreita
relação entre tais acidentes, ambiente rural e atividades laborais, sobretudo as agropastoris, o
que pode explicar o fato de o maior número de casos ocorrer no sexo masculino, devido a
mão de obra do campo ser realizada majoritariamente por homens.
24

Em relação à variável faixa etária, o gráfico 5 revela que houve maior predominância
em pacientes com idade entre 20 e 39 anos (34%), seguido de 40-59 anos (29,85%). Contudo,
a menor prevalência entre os casos notificados representa 0,11% em crianças entre 1-4 anos.

Gráfico 5 Taxa de prevalência de casos confirmados de Acidentes Botrópicos e Crotálicos


notificados na Bahia no período de 2010 a 2017, segundo a variável Faixa etária:

Prevalência de casos notificados de Acidentes Botrópicos e


Crotálicos na Bahia no período de 2010 a 2017 conforme a
faixa etária dos pacientes
Ignorado 0,01%
≥80 anos 1,09%
70-79 anos 3,15%
65-69 anos 2,90%
60-64 anos 4,58%
40-59 anos 29,85%
20-39 anos 34,00%
15-19 anos 9,73%
10-14 anos 0,52%
5-9 anos 0,33%
1-4 anos 0,11%
<1 ano 1,49%
0,00% 5,00% 10,00% 15,00% 20,00% 25,00% 30,00% 35,00% 40,00%

Fonte: Elaborado pelo autor, 2021.

Referente a variável raça/cor, demonstrou-se que as vítimas dos acidentes que tiveram
uma maior prevalência no número de casos notificados por acidentes botrópicos ou crotálicos
se autodeclararam pardos, com 60,74% dos casos. Já os indivíduos autodeclarados negros
ficaram em 2º lugar, representando 14,74%. A menor porcentagem ficou para a cor/etnia
amarela com 0,70% (Gráfico 6).
25

Gráfico 6 Taxa de prevalência de casos confirmados de Acidentes Botrópicos e Crotálicos,


notificados na Bahia no período de 2010 a 2017, segundo a variável raça/cor:

Prevalância dos casos de Acidentes Botrópicos e


Crotálicos conforme a variável raça/cor dos pacientes

Indígena
Branca Ignorado 0,15% Parda
7,23% Indígena Preta
1,05% Amarela
Amarela 0,70% Branca
Ignorado
Parda
Preta 14,74% 60,74%

Fonte: Elaborado pelo autor, 2021

O gráfico 7 demonstra a variável escolaridade dos pacientes, desse modo foi observado
um maior número de notificações de acidentes botrópicos e crotálicos em pessoas que
cursaram da 1ª a 4ª série incompletas, com 17,45% das notificações, seguido da 5ª a 8ª série
incompletas do ensino fundamental, com 10,85% dos casos.

Gráfico 7 Taxa de prevalência de casos confirmados de Acidentes Botrópicos e Crotálicos,


notificados na Bahia no período de 2010 a 2017, segundo a variável escolaridade:

Prevalência de casos notificados de Acidentes


Botrópicos e Crotálicos, segundo a escolaridade dos
pacientes
NÃO SE APLICA 4,32%
EDUCAÇÃO SUPERIOR COMPLETA 0,22%
EDUCAÇÃO SUPERIOR INCOMPLETA 0,23%
ENSINO MÉDIO COMPLETO 3,08%
ENSINO MÉDIO INCOMPLETO 3,04%
ENSINO FUNDAMENTAL COMPLETO 2,76%
5ª A 8ª SÉRIE INCOMPLETA DO EF 10,85%
4ª SÉRIE COMPLETA DO EF 6,10%
1ª A 4ª SÉRIE INCOMPLETA DO EF 17,45%
ANALFABETO 5,64%
IGNORADO 46,30%

Fonte: Elaborado pelo autor, 2021.


26

Já em relação a classificação final do paciente vítima de acidentes botrópicos e


crotálicos na Bahia, foi revelado que a classificação caracterizada como leve foi a que
prevaleceu, com 45,73% dos casos seguida da classificação moderada, com 39,33%, e a
classificação grave, com 7,45% dos casos. Deste total, 7,48% dos casos não receberam
nenhuma classificação (Gráfico 8).

Gráfico 8 Taxa de prevalência de casos confirmados de Acidentes Botrópicos e Crotálicos


notificados na Bahia no período de 2010 a 2017, conforme a classificação final do paciente:

Prevalência de casos notificados de Acidentes Botrópicos


e Crotálicos, segundo a classificação final dos pacientes
Prevalência de casos notificados

IGNORADO 7,48%

GRAVE 7,45%

MODERADO 39,33%

LEVE 45,73%

Fonte: Elaborado pelo autor, 2021.

No que se concerne a evolução do quadro do paciente, no gráfico 9, foi percebido uma


maior porcentagem entre os pacientes que evoluíram para a cura (83,42%), em seguida, os
indivíduos que não foram registrados sua evolução, com 16%, e os pacientes que vieram a
óbito pelo agravo notificado (0,54%), e os que vieram a óbito por outra causa (0,04%).
No estudo de Nascimento, L. S; Junior R. C; Braga, J. R. M. (2017), a gravidade dos
acidentes foi leve com evolução clínica favorável.
27

Gráfico 9 Taxa de prevalência de casos confirmados de Acidentes Botrópicos e Crotálicos


notificados na Bahia no período de 2010 a 2017, conforme a evolução do quadro do paciente:

Prevalência de casos notificados de Acidentes Bo-


trópicos e Crotálicos, segundo a evolução dos pacien-
tes
IGNORADO; 16,00%
ÓBITO POR OUTRA CAUSA; 0,04%

ÓBITO PELO AGRAVO NOTIFICADO; 0,54%

CURA;
83,42%

Fonte: Elaborado pelo autor, 2021.

Na pesquisa de Nascimento, L. S; Junior R. C; Braga, J. R. M. (2017), a gravidade


dos acidentes foi leve com evolução clínica favorável.

5 CONCLUSÃO

Diante do exposto pôde-se concluir que o gênero de serpente responsável pelo maior
número de acidentes ofídicos no estado da Bahia é o Bothrops, seguido do gênero Micrurus,
que embora haja menor incidência, possui maior letalidade. Em relação às vítimas dos
acidentes, foi observado que em sua maioria estavam adultos de 20 a 59 anos do sexo
masculino, com nível de escolaridade baixo ou desconhecido, pardos e pretos, residentes da
zona rural. A gravidade do quadro da maioria dos acidentes foi classificada como moderada a
leve e em 85% dos casos houve evolução para a cura.
Reforça-se a necessidade do acesso à informação e melhores condições de trabalho
que ofereçam o uso de equipamentos de proteção individual para que estes acidentes sejam
evitados, bem como maior entendimento sobre incidência das espécies de ofídios locais e do
manejo clínico necessário em casos de acidente ofídicos pelos profissionais de saúde.
No tangente a acidentes ofídicos em animais domésticos, animais de grande porte são
mais propícios, pois estão presentes em áreas rurais porém, necessitam de maiores doses de
28

veneno inoculado em comparação a pequenos animais. Dados sobre acidentes ofídicos em


animais domésticos são escassos na Medicina Veterinária.

REFERÊNCIAS

ARAUJO R. A. et al. Práticas Educativas sobre Serpentes de Importância Médica em


Escola da Zona Oeste do Rio de Janeiro. 7º Simpósio de Gestão Ambiental e
Biodiversidade. 2018. Disponível em: <http://itr.ufrrj.br/sigabi/anais>. Acesso em: 05 jun.
2021

CASTRO, I. Estudo da toxicidade das peçonhas crotálicas e botrópicas, no acidente ofídico,


com ênfase a toxicidade renal. O MUNDO DA SAÚDE São Paulo: 2006: out/dez 30 (4):
644-653.

CARMO, E. A. et al. Internações hospitalares por causas externas envolvendo


contato com animais em um hospital geral do interior da Bahia, 2009-2011. Epidemiol. Serv.
Saúde, Brasília, 25(1):105-114, 2016.
Costa, R. S. PLANTAS ANTIOFÍDICAS NO BIOMA CERRADO: UM RELATO SOBRE
O BARBATIMÃO -S tryphnodendron adstringens. Trabalho de Conclusão de Curso de
graduação em Ciências Biológicas ao Centro Universitário de Goiás, Uni – ANHANGÜERA.
Goiânia, 2012.

CUBAS, Z. S.; SILVA, J. C.. R.; CATÃO-DIAS, J. L. Tratado de animais selvagens:


Medicina. Veterinária. 2.ed. São Paulo: Editora GEN/Roca, 2014
DATASUS. Ministério da Saúde. Banco de dados do Sistema Único de Saúde-DATASUS.
Disponível em: http://www2.datasus.gov.br/DATASUS/index.php?area=02. Acesso em: 20
jan. 2021.

GIOVANE M. A. et al. Acidente Ofídico em Cães – Estudo Retrospectivo de Casos


Atendidos no Período de 2005 A 2015 no Hospital Veterinário “Dr. Halim Atique”. São José
do Rio Preto – SP, Brasil. Investigação, 15(4):27-32, 2016.

LEITE, J. E. F, et al, EPIDEMIOLOGIA DOS ACIDENTES OFÍDICOS NOTIFICADOS


EM UM CENTRO DE ASSISTÊNCIA TOXICOLÓGICA DE 2011 A 2015. Revista Baiana
de Saúde Pública, v. 40, n. 4, p. 862-875 out./dez. 2016.

MATOS, R. R.; IGNOTTI, E. Incidência de acidentes ofídicos por gêneros de serpentes nos
biomas brasileiros Ciência & Saúde Coletiva, v. 25, p. 2837-2846, 2020.

MENDES, J. S. et al. Aspectos epidemiológicos dos acidentes ofídicos ocorridos no


município deVitória da Conquista - Bahia, Brasil. Braz. Ap. Sci. Rev., Curitiba, v. 4, n. 3, p.
1607-1625, 2020.
29

NASCIMENTO, L. S; JÚNIOR, R. C.; BRAGA, J. R. M. Perfil Epidemiológico do Ofidismo


no Estado da Bahia – Brasil (2010-2015). Journal of Basic Education, Technical and
Technological. ISSN:2446-4821. Vol.4 N. 2, P.4-6, 2017.

NOBRE, L. C. C. Avaliação das notificações de agravos e doenças relacionados ao trabalho


no sistema de informação de agravos de notificação (SINAN). Bahia, 2015 a 2017. 2019.

OLIVEIRA C. C. et al. ACIDENTE OFÍDICO EM UM CÃO: ACHADOS


HEMATOLÓGICOS, BIOQUÍMICOS, HEMOGASOMÉTRICOS, ELETROLÍTICOS E
URINÁRIOS. Ciência Animal, 27 (2): 99-102, 2017 - Edição Especial (SIMPAVET).

SALDANHA, R. F.; BASTOS, R. R.; BARCELLOS, C. Microdatasus: pacote para download


e pré-processamento de microdados do Departamento de Informática do SUS (DATASUS).
Cadernos de Saúde Pública, v. 35, p. e00032419, 2019.

SAMPAIO, L. C. L. et al. Hepatotoxicidade do veneno botrópico (Bothrops jararaca).


PUBVET, v. 12, p. 133, 2018.

SCHULZ, R. S., et al. TRATAMENTO DA FERIDA POR ACIDENTE OFÍDICO: CASO


CLÍNICO. CuidArt Enfermagem. 2016 jul.-dez.; 10(2):172-179 2016
SILVA, M. J. C. et al. Perfil epidemiológico dos acidentes ofidicos da mesorregião do baixo
Amazonas do estado do Pará, Brasil. Brazilian Journal of Health Review, v. 2, n. 3, p.
1968-1979, 2019.

SOTO, L. A. P. Estudos Estrutura-Função de neurotoxinas isoladas de veneno crotálico e


botrópico análise comparativa da neurotoxicidade e miotoxicidade.Tese de doutorado em
Biologia Funcional e Molecular ao Istituto de Biologia da Universidade Estadual de
Campinas. Campinas, São Paulo: 2005.

SOUZA, F. S. et al. Manejo clínico na emergência para acidentes ofídicos: envenenamentos


podem evoluir para choque anafilático? Brazilian Journal of Health Review, Curitiba, v.4,
n.1, p.1454-1461. 2021.

TOKARNIA, C. H.; PEIXOTO, P. V. A importância dos acidentes ofídicos como causa de


mortes em bovinos no Brasil. Pesq. Vet. Bras. 26(2):55-68. 2006.

Você também pode gostar