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DESFIBRILADORES E CARDIOVERSORES
(prof. Dr. Sérgio Santos Mühlen, CCE)
ÍNDICE
I. INTRODUÇÃO ............................................................................................ 2
II. HISTÓRICO ................................................................................................. 3
III. DESFIBRILADORES E CARDIOVERSORES .................................... 4
III.1. Diagrama em blocos ......................................................................... 5
• Carga de energia ............................................................................. 5
• Descarga ......................................................................................... 5
• Fontes de alimentação .................................................................... 5
• Armazenamento de energia ............................................................ 5
• Controle ........................................................................................... 5
• Sincronizador e monitor de ECG ..................................................... 5
• Circuitos geradores de pulso ........................................................... 6
• Pás/eletrodos ................................................................................... 7
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I. INTRODUÇÃO
O coração é um órgão contrátil oco, cuja principal função é bombear o sangue, mantendo-o
em circulação permanente por todo o corpo. Suas paredes são constituídas
essencialmente por músculos (o miocárdio), que formam quatro câmaras contráteis: os
átrios (esquerdo e direito), e os ventrículos (esquerdo e direito). Átrios e ventrículos de
um mesmo lado se comunicam através de válvulas, de modo que o sangue é bombeado
sempre em um único sentido (entra pelos átrios e sai pelos ventrículos). As câmaras da
direita e da esquerda não têm comunicação direta, formando duas bombas independentes
e com bombeamento síncrono. O "coração direito" bombeia para os pulmões o sangue que
retorna dos diversos órgãos, e o "coração esquerdo" bombeia o sangue que vem dos
pulmões para todos os órgãos do corpo, inclusive o próprio coração.
Assim como outras fibras musculares, as fibras que compõem o miocárdio contraem-se em
decorrência de estímulos externos, em particular estímulos elétricos. Nas contrações
normais, este estímulo inicial aparece na região do átrio direito chamada nódulo sino-
atrial (SA), que é o marca-passo natural do coração, propaga-se por um caminho bem
determinado através do miocárdio, resultando em uma contração ordenada, primeiro dos
átrios e em seguida dos ventrículos, o que garante um bombeamento eficiente do sangue.
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(hiperexcitabilidade, isquemia resultante de infarto), ou acidentes (choques elétricos,
intoxicação por determinadas drogas, etc.). A fibrilação é diagnosticada por ausência de
pulso arterial e pela substituição do traçado do ECG (eletrocardiograma) por uma forma de
onda flutuante de alta freqüência, ou onda de fibrilação. Raramente a fibrilação ventricular é
revertida espontaneamente, o que exige ação imediata da equipe médica, com
equipamento adequado e operacional. Quanto mais rápida for a desfibrilação, maiores as
chances de sobrevivência do paciente; para cada minuto que passa depois de instalada a
fibrilação ventricular, a probabilidade de sobrevivência cai em 10%.
II. HISTÓRICO
1936: Ferrie realizou desfibrilação transtorácica em carneiros usando corrente alternada
diretamente da rede de alimentação;
1947: Beck relatou a 1ª desfibrilação em ser humano bem sucedida, também com aplicação
direta de corrente alternada (60 Hz) durante cirurgia;
1956: Zoll desenvolveu o primeiro desfibrilador de corrente alternada com aplicação clínica;
1961: Lown foi o responsável pela 1ª desfibrilação usando pulso de corrente contínua
sincronizado com o ECG (cardioversão);
1970: Advento dos desfibriladores externos com detecção automática de fibrilação ventricular;
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III. DESFIBRILADORES E CARDIOVERSORES
ESPERA
FONTE c.c. CARGA DESCARGA
} } }
(com display)
CONTROLE ARMAZENAMENTO
MANUAL DE ENERGIA
Cardioversor
MONITOR DE
} SINCRONIZADOR
ECG
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• Carga de energia: durante o período de carga do capacitor (de no máximo 10 s), o
equipamento armazena energia, da rede ou de baterias. O início da carga é comandado
normalmente por um botão localizado no painel e/ou nas pás de aplicação do pulso
desfibrilatório. A quantidade de energia armazenada é medida em Joules (1 J = 1 W.s), e
normalmente os equipamentos dispõem de um indicador visual e/ou audível do nível da
carga, informando ao operador que o equipamento está pronto para a descarga.
• Controle: através dos circuitos de controle se faz o ajuste da carga que será aplicada ao
paciente, ajustando-se o nível de tensão de carga do capacitor. Após o comando de
CARGA, e antes do comando de DESCARGA, o equipamento permanece no estado de
ESPERA, ou “stand-by”.
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• O sincronizador é um circuito que detecta a onda R do ECG (momento de contração dos
ventrículos, ou sístole) e libera a descarga desfibrilatória solicitada pelo operador logo
após esta detecção, em um intervalo de tempo inferior a 30 ms.
Senóides amortecidas
resultantes de diferentes
valores de R, L e C.
Tempo (ms)
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Circuito básico de um desfibrilador com onda senoidal amortecida:
Transformador paciente
elevador
Alimentação
elétrica
Auto-transformador
variável
Uma vez completada a descarga, a chave volta para a posição 1 (CARGA) ou para a
posição de ESPERA, (não indicada nesta figura), e o processo pode ser repetido se
necessário.
A energia armazenada no capacitor não é necessariamente igual à energia entregue ao
paciente durante a desfibrilação, porque ocorrem perdas no circuito de descarga e nos
eletrodos, principalmente na interface eletrodo-pele. Os equipamentos comerciais devem
especificar a energia que seria entregue a uma carga resistiva de 50 Ω, que simula a
impedância do paciente.
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Em ambos os casos, é importante assegurar um bom contato entre as superfícies
(eletrodos e paciente) para evitar que parte da energia seja dissipada nesta interface
(provocando queimaduras na pele), e deixe de atravessar o miocárdio. No caso de
descarga transtorácica, o ideal é aplicar um gel condutivo nas pás e apoiá-las firmemente
contra o peito do paciente.
Eletrodo
Discos
isolantes
Chave de
disparo
Eletrodo
Chave de Cabo
disparo condutor
Cabo Discos
condutor isolantes
©Sérgio S. Muhlen. Proibida a reprodução total ou parcial sem a autorização expressa do autor.
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• Desfibriladores externos automáticos: São uma evolução natural dos modelos acima, e sua
operação requer apenas que o usuário aplique os eletrodos no paciente e ative o equipamento.
©Sérgio S. Muhlen. Proibida a reprodução total ou parcial sem a autorização expressa do autor.
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Este capta e analisa a atividade elétrica do coração e determina se o pulso desfibrilatório
é necessário; se sim, o equipamento automaticamente carrega e aplica a descarga. Este
tipo de equipamento é voltado principalmente para pacientes com arritmias crônicas, e para
uso domiciliar.
• Cardioversores: são os modelos mais comuns atualmente nos hospitais. Além das
operações realizadas pelos desfibriladores manuais ou semi-automáticos, permitem a
aplicação de pulso desfibrilatório sincronizado com a onda R do ECG (no caso deste ser
detectável). Geralmente estão associados com um monitor de ECG que apresenta o
traçado em uma tela ou display, e muitos modelos incorporam uma pequena impressora
para registrar a seqüência de eventos em papel. Alguns modelos incorporam algoritmos de
interpretação do traçado de ECG para auxiliar o operador nas suas decisões.
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As pás devem ser firmemente pressionadas contra a pele durante a desfibrilação. Quando
forem aplicadas descargas sucessivas, deve ser verificada a presença de quantidades
adequadas de gel nas pás antes de cada descarga. Além de aumentar o risco de
queimaduras, uma aplicação mal feita pode também reduzir a energia entregue ao músculo
cardíaco.
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A energia realmente entregue depende da impedância da carga. Ainda que 50 Ω seja a
carga resistiva padrão utilizada no modelo de impedância transtorácica para testes,
impedâncias reais variam e podem estar na faixa de 25 – 100 Ω. A impedância depende da
qualidade da interface entre o paciente e o eletrodo, bem como do posicionamento e
tamanho dos eletrodos. O curto fechado entre “pontes” de gel e líquidos entre eletrodos
pode diminuir a energia disponível para desfibrilação e aumentar o risco de queimaduras
em pacientes.
Mesmo nos circuitos eletrônicos, é importante verificar limpeza das placas de circuito
impresso, pois a presença de bateria e de grandes capacitores pode representar risco de
corrosão de partes mais delicadas. Os circuitos de alta-tensão também devem ser
verificados, pois podem surgir rupturas nos isolantes, acúmulo de poeira e poluição
condutiva, com conseqüente aumento nas correntes de fuga.
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• Cuidados especiais: as altas-tensões presentes nas pás dos desfibriladores são
extremamente perigosas e potencialmente letais.
• Nunca realize sozinho testes com estes equipamentos, tenha sempre alguém ao lado.
• Nunca toque ou segure as partes condutivas das pás a menos que esteja seguro que o
equipamento está desarmado (descarregado) ou, preferivelmente, desligado.
• Um desfibrilador deve sempre estar disponível para a equipe médica, mesmo durante os
testes e inspeções. Procure então realizar os testes e inspeções próximo à localização
habitual dos equipamentos, ou providencie outro equipamento com o qual a equipe
médica esteja familiarizada.
• Os testes podem descarregar as baterias dos equipamentos. Providencie sempre
baterias carregadas para substituir, se necessário.
• Nunca realize os testes e inspeções de todas as unidades ao mesmo tempo, para não
deixar a equipe médica sem equipamentos no caso de uma emergência.
• Inspeções qualitativas: os itens abaixo devem ser verificados por inspeção visual, e os
resultados incluídos em uma planilha com o histórico do equipamento.
• Caixa, estojo, chassis, painel, tampa;
• Carrinho, suporte de montagem, pedestal ou outro mecanismo de fixação;
• Rodízios do carrinho (no caso de ser este o tipo de suporte);
• Cabo de alimentação, tomada, fixação mecânica do cabo, terminal de aterramento;
• Fusíveis, disjuntores do equipamento (p. ex: térmico), dispositivos de proteção de
sobrecarga;
• Cabos de conexão com as pás, cabos de ECG e de sincronismo com o ECG, e seus
conectores;
• Pás e eletrodos (de todos os tamanhos);
• Chaves e controles (mesmo os redundantes, como chave no painel e nas pás);
• Bateria e seu carregador;
• Indicadores, mostradores luminosos, telas gráficas (de funcionamento normal e alarmes);
• Alarmes e outros sinais audíveis;
• Marcações, avisos, precauções de operação e outras indicações gráficas no corpo do
equipamento;
• Acessórios (cabos, pás, gel, eletrodos);
• Descarga interna da energia armazenada;
• Dispositivos especiais (sincronizador, impressora, etc.).
• Testes quantitativos: estes testes devem ser realizados por pessoal capacitado, de
acordo com as indicações do fabricante, e de preferência seguindo as orientações de
normas técnicas aplicáveis ao equipamento ou as recomendações dos fabricantes dos
instrumentos de medidas utilizados nos testes. Os valores abaixo são apenas
indicativos. Verifique os valores adequados para o seu equipamento.
• Resistência de aterramento (“terceiro pino” da tomada) em relação à caixa ou chassis do
equipamento [< 0,5 Ω];
• Corrente de fuga [< 100 μA chassis, < 10 μA eletrodos];
• Fuga entre eletrodos [< 10 μA isolados, < 50 μA não isolados];
• Continuidade dos cabos e pás;
©Sérgio S. Muhlen. Proibida a reprodução total ou parcial sem a autorização expressa do autor.
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• Calibração de frequência cardíaca [5% ou ± 5 bpm, a 60 bpm e 120 bpm];
• Alarmes de frequência cardíaca [5% ou ± 5 bpm, a 40 bpm e 120 bpm];
• Limitação interna da energia com pás (internas ou pediátricas) [< 50 J];
• Indicação de energia armazenada ou entregue [15% ou ± 4 J, a > 250 J];
• Manutenção da energia armazenada depois de 60 segundos [< 15%];
• Tempo de carga máxima (para carga a bateria) [< 15 segundos na 10ª carga].
• Manutenção preventiva: além dos itens listados acima, deve-se ter em mente que em
desfibriladores e cardioversores, os componentes mais críticos são as baterias, o circuito
de alta-tensão (capacitor, comutador, cabos de aplicação e pás), e os conectores. Por essa
razão, inspeções diárias da carga na bateria e ao menos uma descarga (aplicada em um
analisador de desfibriladores) é aconselhável.