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Abstract Resumo
1 Universidade Federal de This study analyzed the epidemiological profile Este estudo analisou a magnitude da tubercu-
Mato Grosso do Sul, Campo
Grande, Brasil.
of pulmonary tuberculosis from 2007 to 2010 lose pulmonar no período de 2007 a 2010 em
2 Secretaria de Estado de in municipalities (counties) in Mato Grosso municípios sul-mato-grossenses fronteiriços ao
Saúde de Mato Grosso do Sul, do Sul State, Brazil, that border on Paraguay Paraguai e à Bolívia. Na região de fronteira, as
Campo Grande, Brasil.
3 Faculdade de Medicina de and Bolivia. In the border region, the incidence taxas de incidência (49,1/100 mil habitantes), de
Ribeirão Preto, Universidade rate (49.1/100,000 inhabitants), mortality rate mortalidade (4,0/100 mil) e de abandono do tra-
de São Paulo, Ribeirão Preto,
(4.0/100,000 inhabitants), and treatment drop- tamento (11,3%) foram 1,6, 1,8 e 1,5 vez maiores
Brasil.
4 Universidade Anhanguera, out rate (11.3%) were 1.6, 1.8, and 1.5 times do que na região não fronteiriça. Entre indígenas
Campo Grande, Brasil. higher than in the non-border region. Among da fronteira, as taxas de incidência (253,4/100
5 Universidade Federal do
indigenous individuals in the border region, mil habitantes), mortalidade (11,6/100 mil) e
Piauí, Parnaíba, Brasil.
the rates for incidence (253.4/100,000 inhabit- coinfecção por HIV (1,9/100 mil) foram, respec-
Correspondência ants), mortality (11.6/100,000 inhabitants), and tivamente, 6,4, 3,2 vezes e 1,9 vez maiores do que
M. Marques
Universidade Federal de
HIV/TB co-infection (1.9/100,000 inhabitants) entre os não indígenas nesta região. Estar na
Mato Grosso do Sul. were 6.4, 3.2, and 1.9 times higher than in non- região de fronteira revelou-se fator de proteção
Cidade Universitária s/n, indigenous individuals in this region. Living in contra coinfecção por HIV. Constatou-se asso-
Campo Grande, MS
79070-900, Brasil.
the border regions was inversely associated with ciação entre ser indígena e não abandonar o tra-
marli.marques2008@ HIV/TB co-infection. Indigenous ethnicity was tamento. Conclui-se que a população residente
gmail.com associated statistically with not abandoning TB nesses municípios de fronteira vivencia elevado
treatment. The study concludes that the popu- risco de adoecimento, de morte e de abando-
lation residing in these municipalities along no do tratamento de tuberculose pulmonar, o
the border is exposed to high risk of pulmo- que requer ações diferenciadas de vigilância
nary TB and TB mortality and treatment drop- em saúde.
out, thus requiring special health surveillance
interventions. Tuberculose Pulmonar; Índios Sul-Americanos;
Áreas de Fronteira
Pulmonary Tuberculosis; South American
Indians; Border Areas
Figura 1
Municípios de Mato Grosso do Sul, Brasil, situados na linha da fronteira com Paraguai e Bolívia.
No grupo não indígena foram incluídas as de- casos por 100 mil e dividiu-se o resultado pelo
mais categorias de raça/cor, a saber: branca, ne- total de pessoas/ano de exposição, referente a
gra, amarela, parda e ignorada. No grupo de fron- cada variável analisada e ao período de estudo
teira foram incluídos os casos residentes nos 12 (2007-2010). Para o abandono de tratamento, ex-
municípios fronteiriços ao Paraguai ou à Bolívia. presso em porcentagem, utilizou-se o número
Para o cálculo das taxas de incidência, mor- de casos multiplicado por 100, sendo o resultado
talidade específica e coinfecção por HIV (por dividido pelo total de casos novos de tuberculose
100 mil habitantes), multiplicou-se o número de pulmonar notificados em cada grupo ou região
analisados. Adotou-se um intervalo de 95% de tratamento foi avaliado em todos os casos novos,
confiança (IC95%) para todas as taxas. Para a incluindo aqueles com desfecho ignorado, perfa-
comparação das taxas entre as regiões (fronteira zendo 4% (124/2.981).
e não fronteira) e grupos populacionais (indíge- Embora nos 12 municípios fronteiriços pes-
na e não indígena), utilizou-se o teste qui-qua- quisados vivam apenas 12,5% da população sul-
drado para comparação de proporções e cálculo mato-grossense, neles são registrados aproxima-
de risco relativo com o respectivo IC95%, seguido damente 20% dos casos novos de tuberculose
de análise estratificada de Mantel-Haenszel com pulmonar, mais de 25% dos óbitos por esta causa
cálculo de risco relativo ajustado e IC95%, a fim e abandonos de tratamento, e pouco mais de 4,7%
de verificar confundimento ou interação entre de coinfecção por HIV. Os números absolutos de
estas variáveis. Adotou-se um nível de 5% de sig- casos e as taxas por localidade e grupo popula-
nificância (p ≤ 0,05). cional estão na Tabela 1. Na região de fronteira, as
O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética taxas de incidência (49,1/100 mil hab.), de morta-
em Pesquisa da Universidade Federal de Mato lidade (4,0/100 mil) e de abandono do tratamento
Grosso do Sul e pela Comissão Nacional de Éti- (11,3%) foram, respectivamente, 1,6, 1,8 e 1,5 vez
ca em Pesquisa do Conselho Nacional de Saú- maior do que na região não fronteiriça.
de (CONEP/CNS) (pareceres 141.949/2012 e Na população indígena da região de frontei-
507.049/2013, respectivamente). ra, as taxas de incidência, mortalidade e coinfec-
ção por HIV foram, respectivamente, 6,4, 3,2 e 1,9
vezes maiores do que na população não indígena
Resultados desta região, ao passso que a taxa de abandono
foi 2,5 vezes menor.
De 2007-2010 foram notificados 2.981 casos no- Os intervalos de confiança para as taxas de
vos e 218 óbitos por tuberculose pulmonar em incidência, mortalidade específica e coinfecção
Mato Grosso do Sul. A investigação sorológica de por HIV e para os percentuais de abandono em
HIV foi realizada em 1.951 casos (65,4%), com Mato Grosso do Sul, por região e grupo popula-
resultado positivo em 253 (8,5%). O abandono de cional, estão apresentados na Tabela 2.
Tabela 1
Distribuição de casos, óbitos, coinfecção por HIV e abandono do tratamento da tuberculose pulmonar e taxas médias de incidência, mortalidade específica
e de coinfecção por HIV (por 100 mil habitantes) e percentuais de abandono de tratamento, por região e grupo populacional. Mato Grosso do Sul,
Brasil, 2007-2010.
Nota: dados provenientes do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), Secretaria de Estado de Saúde de Mato Grosso do Sul, 2007-2010;
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) (Censos Demográficos 2000 e 2010).
Tabela 2
Taxas médias de incidência, mortalidade específica e coinfecção por HIV (por 100 mil habitantes), percentuais de abandono do tratamento de tuberculose
pulmonar e intervalos de 95% de confiança (IC95%), por região e grupo populacional. Mato Grosso do Sul, Brasil, 2007-2010.
Nota: dados provenientes do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), Secretaria de Estado de Saúde de Mato Grosso do Sul, 2007-2010;
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) (Censos Demográficos 2000 e 2010).
Tabela 3
Riscos relativos brutos e ajustados das taxas médias de incidência e mortalidade específica, coinfecção por HIV (por 100 mil habitantes) e percentuais de
abandono do tratamento, por região e grupo populacional. Mato Grosso do Sul, Brasil, 2007-2010.
federação que a compõe, tendo o Distrito Federal flitos com populações indígenas. A despeito de
a menor delas (9,7/100 mil) 10. Essa distribuição sua inclusão nas políticas públicas em tempos
heterogênea foi também observada em Mato recentes, apresenta ainda defasagem nos indica-
Grosso do Sul: na região fronteiriça, a incidência, dores de desenvolvimento humano, usualmente
de 49,1/100 mil habitantes, foi 1,6 vez superior à baixos 12.
verificada na região não fronteiriça. Os municípios fronteiriços de Mato Grosso
A faixa de fronteira brasileira configura-se co- do Sul, segundo Peiter 13, caracterizam-se pela
mo pouco desenvolvida, historicamente aban- combinação de elevada incidência de tubercu-
donada pelo Estado e marcada por dificuldades lose e AIDS, e carência de atendimento de saúde
de acesso a bens e serviços públicos, por falta de em ambos os lados da fronteira, com fluxos
coesão social e por inobservância de condições transfronteiriços constantes e/ou presença de
de cidadania 6. Na linha da fronteira internacio- populações indígenas vulneráveis 13.
nal de Mato Grosso do Sul, esse retardo decorre Na Bolívia, a taxa de tuberculose pulmonar
do modelo tradicional e anacrônico de ocupação foi de 59,9/100 mil habitantes em 2010 14, evi-
extensiva, primitiva e predatória de seus recursos denciando o elevado risco de adoecimento da
naturais 11. Peculiaridades territoriais e históri- população que transita, em grande fluxo, entre
cas que remontam ao século XVI fizeram com esse país e o Município de Corumbá, seja com
que a região se mantivesse à margem do con- destino a outras localidades ou para desenvolver
trole estatal até o século XIX, dificultado tanto atividades ocupacionais diárias, aumentando o
pela extensão territorial quanto pela baixa den- risco de propagação. Outro estudo revelou que
sidade populacional, além da existência de con- os bolivianos que passaram a residir e trabalhar
no estado têm alta taxa de adoecimento por tu- culo epidemiológico estabelecido entre 30% dos
berculose, o que contribui para manter elevada a casos, confirmando a propagação interpessoal
taxa nos locais em que passaram a residir 15. da doença. Inúmeros trabalhos apontam maior
No Paraguai, a taxa de incidência de todas as vulnerabilidade dos povos indígenas ao adoeci-
formas de tuberculose foi de 32,8/100 mil habi- mento por tuberculose em comparação com ou-
tantes em 2010; a de incidência de infecção por tros segmentos da população 21,22,23,24,25, o que
HIV, por sua vez, foi de 15,1/100 mil em 2009 14. se agrava frente às condições de pobreza, falta
A influência da situação de fronteira de Mato ou limitação de acesso aos serviços de saúde, uso
Grosso do Sul com o Paraguai se destaca nas ci- abusivo de álcool, deficiências nutricionais e pre-
dades gêmeas de Ponta Porã/Pedro Juan Caballe- sença de comorbidades 26,27.
ro e Coronel Sapucaia/Capitán Bado, não só em Os achados da nossa pesquisa são coerentes
decorrência do livre acesso binacional, das ativi- com uma revisão sobre a tuberculose em indíge-
dades econômicas comuns e do turismo de com- nas empreendida globalmente. Tal estudo reve-
pras em Pedro Juan Caballero, mas também por lou que a carga da tuberculose é elevada e des-
razões de moradia, trabalho e busca de serviços proporcional, com grande variação entre grupos
e de assistência, tanto por brasileiros quanto por e regiões. Os grupos indígenas com maior carga
paraguaios e cidadãos com dupla cidadania 16. da doença estão localizados em pequenas regi-
Esse livre trânsito entre as cidades gêmeas não ões da América Latina 28.
impede que barreiras de acesso aos serviços de Embora a taxa de incidência de tuberculose
saúde dificultem o diagnóstico da tuberculose. pulmonar em Mato Grosso do Sul seja próxima
Na fronteira Brasil/Paraguai/Argentina, Silva- da nacional 11, indicando risco de adoecimento
Sobrinho et al. 17 identificaram vários fatores semelhante na população brasileira e na sul-ma-
dificultantes, incluindo diferenças nos sistemas to-grossense, a avaliação de universos menores
de saúde (com estruturas, processos e resultados e populações distintas evidenciou a região de
diferentes) e aspectos antropológicos específicos fronteira do estado e a população indígena como
das populações envolvidas. sendo a de maior risco de adoecimento e morte
Estudo utilizando dados do suplemento saú- por tuberculose pulmonar.
de da Pesquisa Nacional por Amostra de Domi- Melhorias nas condições sanitárias e das
cílios (PNAD), realizada em 2008, sobre autor- ações do Programa de Controle da Tuberculose
relatos de tuberculose e determinantes sociais reduziram o risco de infecção em muitos países.
para regiões metropolitanas do Brasil, constatou No entanto, o retardo no diagnóstico aumenta a
associação entre renda inferior a meio salário gravidade da doença e potencializa a dissemi-
mínimo por membro da família e ocorrência de nação da infecção na comunidade, elevando a
tuberculose 18. Os autores concluíram que a pri- mortalidade 29,30.
vação e as barreiras de acesso a recursos básicos Segundo a Organização Mundial da Saúde
constituíram os fatores mais importantes para a (OMS) 31, em 2010 a taxa de mortalidade por “to-
ocorrência da doença. das as formas” de tuberculose foi de 2,6/100 mil
Um estudo comparativo entre condições habitantes no Brasil, 4,2/100 mil no Paraguai e
de vida e distribuição da carga da tuberculose 20/100 mil na Bolívia, em contraste com 2,2/100
em bairros de Ribeirão Preto, evidenciou que mil no continente americano. Em vista da pro-
as áreas com maior número de casos coincidi- ximidade geográfica com o Paraguai e a Bolívia,
ram com as de condições de vida baixa e inter- os municípios situados na linha de fronteira fo-
mediária, sugerindo a existência de bolsões de calizados em nosso trabalho apresentaram taxa
pobreza distribuídos nos mais diversos bairros de mortalidade de 4,0/100 mil habitantes que,
do município 19. embora restringindo-se às formas pulmonares,
Outro aspecto relevante diz respeito às ca- aproximaram-se dos verificados no Paraguai.
racterísticas étnicas, visto que Mato Grosso do A mortalidade por tuberculose pulmonar em
Sul abriga a segunda maior população indígena Mato Grosso do Sul (2,3/100 mil habitantes) foi
do país, presente na maioria dos municípios e portanto menor do que a registrada no Brasil pa-
perfazendo 4,3% da população da linha de fron- ra todas as formas da doença no período de 2001
teira e 2,8% nos demais municípios. Verifica-se a 2010, embora superando as taxas de oito esta-
taxa de incidência 6,7 vezes maior do que entre dos brasileiros neste último ano 10.
os não indígenas, havendo associação significati- As discrepâncias observadas entre as taxas da
va entre ser indígena e ter tuberculose pulmonar, região de fronteira e da área de não fronteira e en-
corroborando os achados de Cunha et al. 20 com tre a população indígena e a não indígena foram
base na genotipagem de Mycobacterium tuber- estatisticamente significativas (p < 0,001), indi-
culosis. Esses autores constataram elevada taxa cando que a população sul-mato-grossense está
de transmissão recente nessa população e vín- sujeita a elevado risco de morte por tuberculose,
1,8 vez maior na zona fronteiriça do que nos de- mil). Em 2010, as taxas para todas as formas de
mais municípios e 5,2 vezes maior em indígenas tuberculose foram de 3,2 e 3,7/100 mil em Ma-
do que em não indígenas. Esses resultados são to Grosso do Sul e no Brasil, respectivamente 4.
compatíveis com os obtidos para a população in- Segundo dados da OMS, em 2010 essa taxa foi in-
dígena do Município de São Gabriel da Cachoei- ferior a 1/100 mil no Paraguai, de 4,5/100 mil na
ra, na linha de fronteira com a Colômbia e a Vene- Bolívia e de 3,7/100 mil nas Américas 31. Na linha
zuela, onde a mortalidade por todas as formas de de fronteira pesquisada no presente trabalho, es-
tuberculose alcançou 13,24/100 mil habitantes sa taxa é provavelmente menor, considerando-se
no período de 1997 a 2007 32. Elevadas taxas de que os dados utilizados se restringiram aos casos
mortalidade na população indígena podem ser de tuberculose pulmonar e que no Brasil as for-
atribuídas às condições de vida, principalmente mas extrapulmonares representaram aproxima-
quando é alta a densidade intradomiciliar, além damente 14% dos casos novos 10.
das condições nutricionais e sociossanitárias Em nosso estudo, a maior mortalidade veri-
precárias e das deficiências nas ações de contro- ficada entre residentes na linha de fronteira pa-
le 33,34,35,36. Em muitas localidades de fronteira, rece não decorrer da coinfecção com HIV, cor-
apesar da contiguidade territorial, operam siste- roborando análises estatísticas que indicam que
mas de saúde diferentes 37,38. A implementação morar na região de fronteira constitui fator de
de estratégias de saúde que visem a integrá-los proteção contra esta comorbidade.
é viável no que diz respeito a ações básicas de No entanto, o agravamento das condições
saúde 38, o que contribuiria para reduzir a mor- sociais e econômicas resulta em degradação sig-
talidade decorrente das dificuldades de acesso nificativa das condições de vida, aumentando a
aos serviços de atenção básica. vulnerabilidade e consequentemente o risco de
Os municípios situados na linha da fronteira adoecimento por tuberculose e HIV 40, havendo
internacional de Mato Grosso do Sul merecem a necessidade de que a ocorrência dessa comor-
receber intervenções de programas governamen- bidade na região de fronteira internacional de
tais que não se limitem às ações de controle da Mato Grosso do Sul seja amplamente investigada
doença. Requerem-se programas que resultem entre indivíduos com tuberculose.
em redução das desigualdades sociais, permitin- Ações que visem ao diagnóstico precoce de
do alcançar a diminuição almejada nos indica- HIV e à prevenção do adoecimento por tubercu-
dores da doença, quebrando o ciclo que alimenta lose em populações pobres, com acesso limitado
a pobreza e a exclusão social, tendo-se em vista o a serviços de saúde, não serão bem-sucedidas
impacto negativo exercido pela tuberculose no caso não se aplique uma abordagem integrada
crescimento econômico e no desenvolvimento que busque reduzir as desigualdades sociais sub-
social do estado e da Região Centro-oeste 39. jacentes 41.
A infecção por HIV não só tem contribuído A adesão ao tratamento da tuberculose é
para um crescente número de casos de tubercu- um processo multidimensional, determinado
lose como também tem sido um dos principais pela inter-relação de fatores pertinentes ao indi-
fatores para a elevação da mortalidade entre pa- víduo, à doença, às condições socioeconômicas,
cientes coinfectados 31. ao tratamento propriamente dito, ao sistema de
A testagem do HIV em Mato Grosso do Sul saúde e aos profissionais 31.
alcançou, no período investigado, 60%, variando Embora as taxas de abandono de tratamento
entre os municípios de fronteira de 30% a 100%, em Mato Grosso do Sul tenham superado a meta
com média inferior a 50%. Em dois municípios preconizada pela OMS (máximo de 5%) 3, e mais
que responderam por 58% dos casos de tuber- pronunciadamente na região de fronteira (aban-
culose pulmonar da região, a investigação do dono 1,5 vez maior do que na região não frontei-
HIV foi inferior a 40%. Tanto na linha de fronteira riça), na população indígena verificou-se taxa de
como na região não fronteiriça, a coinfecção por abandono próxima à máxima preconizada.
HIV esteve presente em 2,5/100 mil habitantes O elevado abandono (13,1%) na população
indígenas, índice este obtido em investigação de não indígena da fronteira pode advir de dificul-
mais de 50% dos casos de tuberculose pulmonar dades na adesão ao tratamento, incluindo fatores
registrados entre indígenas. Tal achado é preo- como tabagismo, uso de drogas e bebidas alco-
cupante, e provavelmente se verifique também ólicas, baixa escolaridade, efeitos adversos dos
em outras comunidades indígenas do país, per- agentes quimioterápicos, coinfecção por HIV e
manecendo subdetectado em vista do baixo ín- abandono prévio, além de outras desvantagens
dice de investigação (10%) 25,32. socioeconômicas 42. Na população indígena, a
Apesar dessas variações, a taxa estadual de despeito da precariedade das condições socioe-
coinfecção por HIV foi de 2,7/100 mil habitantes, conômicas e outros agravantes, a cobertura ofe-
embora menor na região de fronteira (1,0/100 recida pela Estratégia Saúde da Família (ESF) e
Resumen Colaboradores
Este estudio examinó la magnitud de la tuberculosis M. Marques contribuiu na concepção do projeto, le-
pulmonar del 2007 al 2010 en los municipios de Ma- vantamento, tabulação, interpretação dos dados, reda-
to Grosso do Sul (Brasil) limítrofes con Paraguay y Bo- ção do artigo e aprovação da versão a ser publicada.
livia. En la región fronteriza, las tasas de incidencia A. Ruffino-Netto participou da concepção do projeto,
(49,1/100.000 habitantes), mortalidad (4,0/100.000) y interpretação dos dados e avaliação crítica do artigo.
abandono del tratamiento (11,3%) fueron 1,6, 1,8 y 1,5 A. M. C. Marques participou da interpretação dos da-
veces más altas que en la región no fronteriza. En la re- dos, redação e revisão crítica do artigo. S. M. O. Andrade
gión fronteriza, las tasas de incidencia (253,4/100.000 contribuiu na concepção do projeto, interpretação dos
habitantes), mortalidad (11,6/100.000) y co-infección dados, redação do artigo e aprovação da versão a ser
por el VIH (1,9/100.000) entre residentes indígenas fue- publicada. B. A. K. Silva e E. R. J. C. Pontes participaram
ron 6,4, 3,2 y 1,9 veces más altas que en la población da reorganização e análise estatística dos dados, bem
no indígena. Vivir en la región fronteriza resultó ser un como da discussão e redação do artigo.
factor protector contra la co-infección por el VIH. Se
identificó asociación entre ser indígena y no abandonar
el tratamiento. Los resultados mostraron que la pobla- Agradecimentos
ción de estos municipios fronterizos está sujeta a un
alto riesgo de enfermedad, muerte y abandono del tra- À Ângela M. Marques pelo apoio nas estimativas popu-
tamiento de la tuberculosis pulmonar, lo que requiere lacionais indígenas. Aos colegas Maria do Socorro N.
acciones de vigilancia de la salud específicas para este Evangelista, Eunice A. T. Cunha e Rivaldo V. Cunha pela
contexto. parceria na execução do projeto. À CNCPT/Ministério
da Saúde pela aprovação do Projeto, parte deste estudo.
Tuberculosis Pulmonar; Indios Sudamericanos; Áreas À Divisão de Acompanhamento de Convênios/UFMS
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Aprovado em 10/Jul/2014