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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS SOCIAIS

TEORIA SOCIOLÓGICA III - PROF. EDUARDO VILAR BONALDI

Roberta Gomes Pedrozo - 19101126

Maio, 2021.

RESENHA

A “escola de Frankfurt” (I): a teoria crítica

HORKHEIMER, Max. Teoria tradicional e teoria crítica. In: Civita, V. (ed.). Os


pensadores - Benjamin, Habermas, Horkheimer, Adorno: textos escolhidos. São Paulo:
Abril.

O Instituto de Pesquisa Social de Frankfurt, financiado por Félix Weil –


doutor pela Universidade de Frankfurt e filho de um milionário empresário judeu, foi
fundado em 1924, período denominado por Hobsbawn como “Era das Catástrofes”
(1914 – 1945). A “escola de Frankfurt” tem como seus principais nomes Adorno,
Horkheimer e Marcuse, autores que buscaram reler o marxismo no século XX
baseando-se em diferentes correntes intelectuais e suas interpretações (tais como teorias
burguesas e tradicionais, pesquisa empírica, psicanálise e marxistas contemporâneos
como W. Benjamin e Lukács).

O contexto político da época era de crescimento do capitalismo


monopolista, em detrimento do capitalismo liberal com ideais de autonomia. Além disso,
ascensão da ciência e da tecnologia representava um controle cada vez maior sobre as
forças naturais, porém a miséria também crescia. Na “Grande Depressão” de 1929 o
desemprego atingiu números inéditos. Os novos conhecimentos científicos foram base
para extermínio em massa ao contribuírem para o desenvolvimento de bombardeios,
câmaras de gás, bombas nucleares e outras ferramentas de violência.
Diante disso, pode-se dizer que o capitalismo estabeleceu condições
favoráveis para a superação da escassez e a superação do problema de controle sobre
forças naturais, mas não as utilizou para a emancipação do homem. Perante ao sistema
capitalista, o homem é impotente, alienado e desumanizado. A sociedade é convertida
em mero objeto de sistema onde sua função é fazer parte e alimentar as configurações
de acumulação de capital, favorecendo somente quem detém poder [capital].

“A teoria tradicional”, capítulo do livro “Os Pensadores: Benjamin,


Horkheimer, Adorno E Habermas” (1983), aborda o resgate da razão objetiva, ou seja,
da racionalidade filosófica, destinada a discutir sobre finalidades e sentidos da
experiência humana. O texto consagra a razão subjetiva enquanto instrumento de ajuste
da realidade capitalista.

Um dos temas abordados é a relação entre ciência o capitalismo,


apresentando codependência. O progresso científico contribui para a reprodução da
ordem capitalista assim como depende do mesmo – social e economicamente. “O
cientista e sua ciência estão atrelados ao aparelho social, suas realizações constituem um
momento da autopreservação e da reprodução contínua do existente, independentemente
daquilo que imaginam a respeito disso” (p. 131).

No que diz respeito as concepções de indivíduo e sociedade, a “teoria


crítica” parte do entendimento de que a sociedade capitalista surgiu a partir de um fator
externo que obrigou os indivíduos a adaptarem-se em busca de sobrevivência social e
econômica. Sendo assim, a ideia de liberdade individual não passa de ideologia; uma
falsa crença sobre a realidade sustentada pelo capital e inserida nos contextos de
mercado de trabalho, filosofia política, entre outros. Na escola de Frankfurt a sociedade
é vista como um mecanismo comandado pelo capital, em detrimento da influência e do
controle da sociedade. “(…) a sociedade é comparável com processos naturais extra-
humanos, meros mecanismos, porque as formas culturais baseadas em luta e opressão
não é a prova de uma vontade autoconsciente e unitária. Em outras palavras: este mundo
não é o deles, mas sim o mundo do capital”. (p. 138).

Posto isso, pode-se afirmar que, diferentemente de outras correntes


sociológicas, a teoria crítica não formula uma definição de ação social que tem como
objetivo substanciar as dimensões sociais – micro e macro. Ela argumenta que as
ligações entre a sociedade e o capitalismo são postas em um contexto onde o indivíduo
é impotente e alienado em relação ao sistema capitalista.
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A sociedade, porém, não está condenada a exercer esse papel para
sempre. Se a “teoria tradicional” reproduz essa ordem opressora, a “teoria crítica” é uma
ferramenta para transformá-la. A partir daí o texto assume um caráter de manifesto
emancipatório da teoria crítica, onde o mensageiro é o intelectual e o receptor é o
proletariado. A divergência insurgente entre a mobilização política e a classe dominante
seria um processo que auxiliaria a formação coletiva se consciência crítica que, por sua
vez, os levaria a superação de suas falsas crenças e a superação de ideais reformistas.
Assim sendo, a teoria crítica afirma-se enquanto ferramenta da práxis revolucionária.

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