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Cadernos de Psicologia DOI: 10.9788/CP2022.

2-05
ISSN eletrônico (inscrição digital a posteriori)

Edição Especial – Covid-19

(Sobre)Vivência e (Re)Existência de Pessoas


em Situação de Rua na Pandemia de COVID-19

Gabrielle Figueiredo Bruno1


Orcid.org/0000-0002-7852-7625
Ana Paula Pereira Nabero1
Orcid.org/0000-0002-4607-0683
Consuelena Lopes Leitão1
Orcid.org/0000-0002-7459-4089
Marck de Souza Torres1
Orcid.org/0000-0002-0717-982X
Breno de Oliveira Ferreira1, *
Orcid.org/0000-0002-0979-3911
Alessandra Aniceto Ferreira de Figueirêdo2
Orcid.org/0000-0003-2156-9055
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
1
Faculdade de Psicologia, Laboratório de Psicologia, Saúde e Sociedade na Amazônia,
Universidade Federal do Amazonas, Manaus, AM, Brasil
2
Pós-graduação em Atenção Psicossocial, Instituto de Psiquiatria, Universidade Federal
do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil

Resumo
O presente estudo teve como objetivo compreender os processos de vulnerabilidade de pessoas em
situação de rua durante a pandemia de COVID-19 na cidade de Manaus, Amazonas, a partir das três
dimensões de Ayres: individual, social e programática. Trata-se de um estudo qualitativo realizado
por meio de entrevistas com dez pessoas em situação de rua acolhidas pelo Centro Pop, em Manaus.
Os resultados apontaram problemáticas pré-existentes ao contexto pandêmico nas três dimensões, e
que se agravaram nesse cenário. As vulnerabilidades presentes no cotidiano dessas pessoas também
interagiram de forma dinâmica, imbricada, de modo que um elemento influenciou ou agonizou outro,
em mais de uma dimensão, simultaneamente. Observou-se dificuldades de aquisição de alimentos,
baixa acessibilidade de informação sobre a doença, limitações em praticar as medidas preventivas, bem

–––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
* Correspondência: Faculdade de Psicologia, Universidade Federal do Amazonas. Av. Anderson de Menezes,
Setor Sul, Coroado. CEP 69080-900, Manaus-AM, Brasil. Fone: (92) 99159-3991. breno@ufam.edu.br.
Agradecimentos: À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e à Fundação de
Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam).

Cadernos de Psicologia, Ribeirão Preto, vol. 2, nº 2, p. 1-15 - Outubro/2022


2 Bruno, G. F., Nabero, A. P. P., Leitão, C. L., Torres, M. S., Ferreira, B. O.,Figueirêdo, A. A.

como experiências de descaso, preconceito e violência sofridas diariamente, às quais o uso abusivo de
substâncias está associado. Ainda, as ações de cuidado oferecidas pela gestão pública para limitar a
disseminação do vírus entre essa população se mostraram escassas, principalmente no que se refere à
saúde mental.
Palavras-chave: análise de vulnerabilidade, COVID-19, pessoas em situação de rua, saúde mental,
equidade em saúde.

(On) Experience and (Re)Existence of Homeless Persons


in the COVID-19 Pandemic

Abstract
The present study aimed to understand the vulnerability processes of homeless people during the
COVID-19 pandemic in the city of Manaus, Amazonas, based on Ayres’ three dimensions: individual,
social and programmatic. This is a qualitative study carried out through interviews with ten homeless
people welcomed by Centro Pop, in Manaus. The results pointed to pre-existing problems in the pandemic
context in the three dimensions, and that worsened in this scenario. The vulnerabilities present in the
daily lives of these people also interacted in a dynamic, imbricated way, so that one element influenced
or agonized another, in more than one dimension, simultaneously. Difficulties in acquiring food, low
accessibility of information about the disease, limitations in practicing preventive measures, as well as
experiences of neglect, prejudice and violence suffered daily, to which substance abuse is associated,
were observed. Still, the care actions offered by public management to limit the spread of the virus
among this population proved to be scarce, especially with regard to mental health.
Keywords: vulnerability analysis, COVID-19, people on the street, mental health, health equity.

(Sobre) Experiencia y (Re)Existencia de la Gente de la Calle


en la Pandemia del COVID-19

Resumen
El presente estudio tuvo como objetivo comprender los procesos de vulnerabilidad de las personas
en situación de calle durante la pandemia de COVID-19 en la ciudad de Manaus, Amazonas, a partir
de las tres dimensiones de Ayres: individual, social y programática. Se trata de un estudio cualitativo
realizado a través de entrevistas con diez personas sin hogar acogidas por el Centro Pop, en Manaus. Los
resultados apuntaron a problemas preexistentes en el contexto de la pandemia en las tres dimensiones, y
que se agudizaron en este escenario. Las vulnerabilidades presentes en la vida cotidiana de estas personas
también interactuaban de manera dinámica, imbricada, de modo que un elemento influía o agonizaba
a otro, en más de una dimensión, simultáneamente. Se observaron dificultades en la adquisición de
alimentos, baja accesibilidad a la información sobre la enfermedad, limitaciones en la práctica de
medidas preventivas, así como experiencias de abandono, prejuicio y violencia sufridas diariamente,
a las que se asocia el abuso de sustancias. Aún así, las acciones de atención ofrecidas por la gestión
pública para limitar la propagación del virus entre esta población resultaron escasas, especialmente en
lo que respecta a la salud mental.
Palabras-clave: análisis de vulnerabilidade, COVID-19, gente en la calle, salud mental, equidad en
salud.

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(Sobre)Vivência e (Re)Existência de Pessoas em Situação de Rua na Pandemia de COVID-19. 3

As pessoas em situação de rua podem ser mesmo entre diferentes áreas de um mesmo
caracterizadas como um grupo populacional município (Werneck & Carvalho, 2020). Nesse
heterogêneo, que não possui moradia conven- contexto, enquanto a desigualdade e os registros
cional, utiliza logradouros públicos, áreas de- de casos e mortes pela doença cresciam no Bra-
gradadas ou unidades de acolhimento como sil, em Manaus, Amazonas, estas preocupações
espaço de moradia e de sustento, de forma se tornavam ainda mais agravantes.
temporária ou permanente (Decreto nº 7.053, O Amazonas está situado na região norte
2009). Muitas vezes, acabam constituindo um do país e é o maior estado do território nacional:
grupo vulnerável, são suscetíveis a algumas do- sua população tem uma estimativa de 4.207.714
enças e comorbidades, e enfrentam diariamente habitantes (IDB, 2020), sendo que a capital,
questões que comprometem sua saúde física e Manaus, contempla 2.219.580 pessoas deste total
mental (Hino et al., 2018). Inseridas em um ce- (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
nário de pandemia, entretanto, sua conjuntura [IBGE], 2021). Tendo em vista a quantidade de
pode se tornar ainda mais preocupante (Paula et habitantes, é necessário destacar que, até julho de
al., 2020). 2021, o Amazonas apresentou uma das maiores
A pandemia de COVID-19, doença taxas de mortalidade da região Norte do Brasil;
causada pelo novo coronavírus denominado e a cidade de Manaus, o maior número de casos
SARS-CoV-2, foi inicialmente apontada pela novos registrados de COVID-19 (Ministério da
Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma Saúde, 2021).
Emergência de Saúde Pública de Importância Os dados são preocupantes para a popula-
Internacional (ESPII), e, em 11 de março, ção amazonense em geral, mas, para pessoas em
declarada como pandemia (WHO, 2020a). A situação de rua, este cenário pode tornar a rea-
partir desse momento, diferentes países tentaram lidade ainda mais preocupante. Segundo o Ins-
identificar e aplicar estratégias para minimizar a tituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA),
transmissão comunitária da doença, como uso em março de 2020, o número de pessoas em si-
de máscaras, testagem, higienização, através da tuação de rua no Brasil era de aproximadamente
utilização de álcool em gel e lavagem das mãos duzentos e vinte e um mil (Natalino, 2020). No
com água e sabão, campanhas de vacinação, que se refere a capital amazonense, não há da-
dentre outras. dos oficiais atualizados, ou consistentes, sobre
Apesar disso, a pandemia de COVID-19 o número da população de rua – no entanto, de
tem deixado rastros imensuráveis. Têm-se gesta- acordo com a última Pesquisa Nacional sobre
do uma verdadeira crise global em âmbitos eco- essa população, realizada em 2008, havia cerca
nômicos, políticos, sociais, ambientais e éticos, de mil e quatro pessoas com mais de 18 anos
comprometendo a segurança e o bem-estar da em situação de rua no Amazonas (Ministério
população de forma geral (Werneck & Carva- do Desenvolvimento Social e Combate à Fome,
lho, 2020). Ainda, ressalta-se a exclusão e invi- 2009).
sibilidade de certos grupos como consequência Não obstante, as pessoas em situação de
da exploração capitalista, demonstrando mais rua estão entre os grupos mais vulneráveis à
claramente como ela se reproduz e se fortalece pandemia de COVID-19, e, sem intervenções
nas formas dominantes de gestão política (Inter- estratégias, planos e ações adequadas, elas são
-American Development Bank [IDB], 2020). expostas a taxas elevadas de infecção e mortali-
No Brasil, um país marcado pela desigual- dade (Tsai & Wilson, 2020). Por esse motivo, a
dade e polarização social, não foi diferente: a existência dessa população pode se tornar ainda
crise trouxe uma reorganização dos serviços de mais desafiadora durante a pandemia, tendo em
saúde, com o intuito de atender a demanda de vista os diferentes processos de vulnerabilida-
prevenção e tratamento, decorrentes do alas- de que começam a atuar simultaneamente nesse
tramento da doença nos estados, cidades e até contexto.

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4 Bruno, G. F., Nabero, A. P. P., Leitão, C. L., Torres, M. S., Ferreira, B. O.,Figueirêdo, A. A.

Para uma população que já enfrenta dificul- O cenário do estudo se deu no Centro de
dades, as quais comprometem sua saúde física Referência Especializado para População em
e mental de maneira cotidiana, quais poderão Situação de Rua (Centro Pop), na cidade de Ma-
ser os resultados da coalisão entre os diferentes naus, Amazonas, cuja instituição é responsável
processos de vulnerabilidade já existentes e os por oferecer equipamento público vinculado à
operantes durante a pandemia de COVID-19, e Proteção Social Especial de Média Complexi-
como isso atuará nas vivências das pessoas em dade da Assistência Social, tendo compromisso
situação de rua? com a garantia da proteção e os direitos de pes-
A fim de investigar este questionamento, soas em situação de rua por meio de interven-
primeiramente se faz necessário delinear o ções sociais (Ministério do Desenvolvimento
próprio conceito de vulnerabilidade, antes de Social e Combate à Fome, 2011).
buscar compreender a dinâmica de seus processos
na vida das pessoas em situação de rua, visto que Participantes
o adoecer nas ruas tem características e processos Participaram dez pessoas em situação de
singulares que podem englobar inúmeros fatores rua, maiores de dezoito anos, sendo oito homens
e áreas de conhecimento (Aristides & Lima, e duas mulheres. Possuíam entre 27 e 54 anos,
2009). Além disso, segundo Ayres em entrevista e em sua maioria, cor/raça preta, ensino funda-
à Castellanos e Baptista (2018), não existe mental incompleto e naturalidade amazonense.
vulnerabilidade em geral, mas sim relacional, O tempo em que viviam na rua variou entre três
havendo sinergias entre vulnerabilidades ao meses e treze anos. Nesse ínterim, houve ainda
invés de uma dada representação de população a observação significativa de que cinco pes-
vulnerável. Nessa perspectiva, é a própria soas ficaram em situação de rua nos últimos
população vulnerabilizada que há de apontar o onze meses, após a emergência da pandemia de
caminho para as relações de vulnerabilização COVID-19. Nesse caso, problemáticas como
existentes. convivência familiar e dificuldade financeira
Assim, tendo em vista os sentidos multidi- perante o cenário pandêmico foram algumas
mensionais do termo, bem como uma tentativa das motivações apontadas. Ainda, nove pessoas
de evitar o seu monolitismo analítico, a pesquisa mencionaram fazer uso abusivo de substâncias
teve o aporte teórico do conceito de vulnerabili- psicoativas, predominantemente o álcool e cra-
dade, proposto por Ayres et al. (2009), a partir de ck, embora o cigarro também tenha sido mencio-
três dimensões: individual, social e programáti- nado por duas pessoas entrevistadas. No que se
ca. A partir dessa perspectiva, o estudo buscou refere ao estado civil, duas eram separadas; cin-
compreender os processos de vulnerabilidade de co solteiras; e três casadas. No âmbito religioso,
pessoas em situação de rua durante a pandemia sete declararam não necessariamente seguir uma
de COVID-19 na cidade de Manaus em abril de religião. Até o momento de finalização do estu-
2021, Amazonas. do, nenhum do(a)s entrevistado(a)s tinha sido
vacinado, mesmo que seis deles apresentassem
Método comorbidades pré-existentes e/ou tivessem ida-
de acima de 50 anos. Como critério de inclusão,
Delineamento os(as) participantes deveriam morar na rua; ter
Trata-se de uma pesquisa de abordagem vivido pelo menos três meses durante a pande-
qualitativa, cujo método escolhido foi o estudo mia em Manaus, Amazonas; não possuir vínculo
de relatos orais, pela razão de viabilizar conexões empregatício formal; e ter mais de 18 anos, res-
entre situações no tempo e no espaço, dentro de ponsabilizando-se pela autorização do Termo de
uma teia de sentidos e em uma dada cultura, num Consentimento Livre e Esclarecido. Como crité-
dado período histórico (Bauer & Gaskell, 2002). rios de exclusão foram desconsiderados aqueles

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que estavam sob efeitos de substâncias psicoati- rado e organizado, a fim de identificar e elencar
vas durante as atividades de campo. diferentes elementos incluídos no aporte teórico
das dimensões de vulnerabilidade (Ayres et al.,
Procedimentos de Coleta de Dados 2009).
As atividades de campo ocorreram entre A saturação das entrevistas ocorreu confor-
janeiro e abril de 2021. Para ter acesso aos me foram identificadas repetições nos relatos
relatos, foi utilizada a entrevista narrativa, sem dos participantes – que foram denominados de
tempo médio pré-estipulado de aplicação, além ‘entrevistado(a)’ e enumerados de acordo com
da coleta de informações sociodemográficas. As a sequência de realização da entrevista (1, 2, 3,
entrevistas foram efetivadas percorrendo fases. etc.), como forma de proteger seu sigilo e priva-
Após ter explicado o contexto da investigação cidade.
em termos amplos para os(as) participantes e ter
obtido o seu consentimento em participar, por Procedimentos Éticos
meio da assinatura do Termo de Consentimento A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de
Livre e Esclarecido (TCLE), foram formulados Ética em Pesquisa da Universidade Federal do
um a um os tópicos ou perguntas disparadoras das Amazonas sob o parecer de nº 4.620.169.
narrativas. A cada tópico, cada pessoa discorria
livremente sobre a questão e a narração, e a Resultados
entrevista só era interrompida quando havia uma
indicação que os temas se esgotavam (“coda”), Os dados despertaram preocupações acerca
isto é, quando o(a) entrevistado(a) se detinha e/ dos riscos de exposição das pessoas em situação
ou dava sinais de que aquela parte da história de rua ao vírus, tendo em vista que a idade
havia terminado. Quando o(a) participante avançada e condições médicas preexistentes são
indicava a “coda”, era questionado sobre algo fatores que acentuam o risco de complicações
a mais que gostaria de contar e, também, novos graves da COVID-19 (WHO, 2020b), havendo
questionamentos sobre os temas previamente maior risco para grupos vulneráveis, como
selecionados eram indicados (Bauer & Gaskell, pessoas que fazem uso abusivo de substâncias
2002). Vale pontuar que foram elaboradas (Dubey et al., 2020), pretos e pardos (Borges
pautas para as entrevistas, com as perguntas & Crespo, 2013) – padrões encontrados no(a)s
disparadoras e os temas a serem utilizados. entrevistado(a)s.
O conceito de vulnerabilidade considera
Análise dos Dados que o processo saúde-doença é decorrente
Para análise de dados encontrados, seguiu- de um conjunto de componentes individuais,
-se a proposta de Gomes e Mendonça (2002) sociais e programáticos, bem como da maior ou
que, em termos de sequência analítico-inter- menor disponibilidade de recursos protetivos a
pretativa, traçaram algumas fases essenciais: essas situações (Ayres, 2014). Reiterando essa
(a) compreensão do contexto; (b) desvenda- perspectiva, Bosi e Guerreiro (2016), relatam que
mento dos aspectos estruturais; e (c) síntese in- a marca da vulnerabilidade é a complexidade, a
terpretativa dos relatos. Foi realizada uma lei- partir da qual vários fatores interdependentes
tura exploratória de todo o material produzido e interatuantes, mesclados e ativos, em cada
e arquivado, bem como categorização das en- grupo ou indivíduo, processam as condições
trevistas com auxílio do programa QSR NVivo de saúde. A partir desta conjuntura complexa
11. Com esse recurso complementar, buscou- e multifacetada, tomando como enfoque o
-se visualizar a rede de categorias (temas), seus objeto deste estudo, a Figura 1 apresenta os
pontos de ligação, bem como a sequência dos processos de vulnerabilidade vivenciados por
segmentos de texto. Todo o material foi estrutu- pessoas em situação de rua durante a pandemia

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6 Bruno, G. F., Nabero, A. P. P., Leitão, C. L., Torres, M. S., Ferreira, B. O.,Figueirêdo, A. A.

de COVID-19, tomando por base os principais podendo ser compreendida, portanto, como uma
dados encontrados. Além disso, evidencia a estratégia de visibilizar esse entrelaçamento de
dinamicidade do processo de vulnerabilização, condições.

Figura 1
Processos de Vulnerabilidade Vivenciados por Pessoas em Situação de Rua durante a Pandemia de
COVID-19

Discussão do a considerar então seu comportamento pesso-


al, atividades, decisões e modo de vida, a fim de
Vulnerabilidade Individual estimar seu risco de exposição e contaminação
A dimensão individual da vulnerabilidade a uma doença. Nesse âmbito, podem ser incor-
parte do princípio de que todos os indivíduos são porados elementos, como: conhecimentos, ati-
suscetíveis a infecções e adoecimentos, passan- tudes, comportamentos, relações familiares e de

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amizade, situação material, situação psicoemo- cotidiano, e os métodos de cuidado empregados


cional, situação física, entre outros (Ayres et al., como forma de se proteger da doença. Nesse
2009). Por meio das entrevistas, alguns destes ínterim, foi relatado o uso do chá de alho e
elementos puderam ser identificados. A baixa quina como um tratamento para sintomas de
acessibilidade de informação acerca da doença, febre e tosse, naquele momento associados à
por exemplo, foi um dos pontos mais signifi- COVID-19, sendo relatada eventual sensação de
cativos apontados, como observado na fala da melhora.
entrevistada: “A gente sabe por que os outros Quando questionado(a)s sobre como as
falam né... Eu não tenho comunicação nenhuma, pessoas de rua estavam se protegendo, foi
moro na rua” (Entrevistada 9). relatado que: “Ninguém faz questão disso não”
Os(as) participantes do estudo relataram (Entrevistado 8), enquanto outros mencionaram
tomar conhecimento acerca do vírus e da “Só máscara mesmo” (Entrevistado 10) como
pandemia de COVID-19 por meio de televisões, forma de se proteger da doença. Apenas um
lojas e restaurantes, quando ainda estavam do(a)s entrevistado(a)s declarou utilizar, além
abertos para funcionamento, ou quando estavam da máscara, o uso de álcool em gel e luvas –
internados em hospitais ou instituições de que eram usados também para trabalhar, não
recuperação. Além disso, relataram depender havendo descarte ou troca dos instrumentos.
principalmente das informações que eram A aplicação incorreta, ou ausência da
oferecidas pelos profissionais do Centro Pop e aplicação de algumas medidas de segurança foi
de outras pessoas em situação de rua. De acordo destacada como uma vulnerabilidade presente
com outros estudos exploratórios realizados no entre o(a)s entrevistado(a)s, sendo manifestada
Brasil, a dificuldade dessa população em acessar a sensação de aprisionamento ao se alojarem
informações sobre o vírus tem sido um fenômeno em instituições de acolhimento (com relação
comum, como foi observado por Werneck e ao distanciamento social), a agonia e falta de ar
Carvalho (2020) no Rio de Janeiro e por Pires et advindos do uso de máscaras.
al. (2021) no Rio Grande do Sul, por exemplo. Ainda quando perguntado(a)s sobre as for-
Ademais, as informações não haviam mas com que têm se protegido do vírus, o álcool
sido dispostas ou compreendidas de forma – enquanto substância psicoativa – foi indicado
esclarecedora pelas pessoas em situação de rua. como um possível elemento de proteção contra
À exemplo, um do(a)s entrevistado(a)s, que o vírus: “O álcool ele queima . . . Aí a doença
mencionou não compreender a necessidade de se não vai pra frente” (Entrevistado 7); “Só o álco-
usar máscaras de proteção: “Mas o que que essa ol mesmo” (Entrevistado 2); e o Entrevistado 6
máscara vai proteger, mano?” (Entrevistado 7). reitera: “É álcool por dentro, por fora, aí o cara
A fragilidade de processos de comunicação fica prevenido ó ‘véio’ . . . porque a vacina do
e a escassez de informações atualizadas e pessoal morador de rua é a bebida, né”.
verídicas é um reflexo da invisibilidade da Além disso, foi apontado que a razão
população em situação de rua e que já se repetiu pela qual algumas pessoas em situação de rua
durante outros surtos de doenças infecciosas demonstravam dificuldade com a aplicação
(Leung et al., 2008), dificultando ainda mais o das medidas de proteção, seria porque estavam
cumprimento de medidas protetivas essenciais intensamente afetadas pela adicção: “É porque
à saúde, recomendadas pela OMS (Nunes et al., tem aqueles que são doentes, que não quer saber
2020). Não obstante, a partir da investigação de nada . . . não respeita ninguém e só quer saber
dessa problemática, foi possível identificar as dele, né, só pensa nele, por causa da droga”
perspectivas desta população acerca das formas (Entrevistado 2).
de contaminação da COVID-19, de acordo com O uso abusivo de álcool e outras drogas
as vivências e observações oriundas de seu já era um fenômeno frequente para as pessoas

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8 Bruno, G. F., Nabero, A. P. P., Leitão, C. L., Torres, M. S., Ferreira, B. O.,Figueirêdo, A. A.

em situação de rua antes do contexto pan- a doença interfere na prática das medidas de
dêmico (Abreu, 2013), e grande parte do(a)s proteção, que por sua vez são influenciadas por
entrevistado(a) relatou um histórico de abuso questões como o abuso de substâncias e insegu-
de substâncias e internações em instituições rança alimentar, acarretando então em proble-
da rede de atenção psicossocial. Além de ser máticas relacionadas à imunidade e o sofrimen-
usado para evitar sentimentos de tristeza, de- to psíquico.
samparo e desconforto, muitas vezes também Contudo, além do comportamento individual
é empregado como substituto para refeições e da pessoa em situação de rua, é necessário
como forma de resistência, como pode ser ob- também compreender esta pessoa em relação
servado em relatos como “Tem gente que não com a sociedade em que está inserida, e como
têm um prato de comida, mas tem a parada da essas relações podem influenciar sua vivência
coca, tá ligado. Isso alivia a fome” (Entrevista- na rua durante a pandemia de COVID-19. Nessa
do 10); e ainda: perspectiva, Ayres et al., (2009) apontam a
O cara já tá lutando contra tudo, o frio, a vulnerabilidade em outro contexto: o social.
fome, a miséria, tá se dopando, muitas
das vezes não é nem porque quer usar, é Vulnerabilidade Social
porque tem que aliviar sua dor, não sabe A vulnerabilidade na dimensão social diz
como . . . As pessoas de fora não sabe o respeito à vida em sociedade, remetendo a as-
tanto que tu sofre, o tanto que tu tá lutando. pectos tais como normas sociais, referências
(Entrevistado 8) culturais, relações de etnia, estigma, discrimi-
Dessa forma, considerando que o registro nação. Integram elementos que não dependem
de sofrimento psíquico associado ao uso abusivo unicamente do sujeito de forma individual, ten-
de álcool e outras drogas têm aumentado após a do em vista seu próprio contexto, e, por esta
pandemia na população em geral (Aragona et al., razão, a sociedade em que está inserido também
2020), não é surpresa que a adicção tenha sido tem papel essencial em suas vivências. Dessa
uma problemática prevalente nesse novo cenário forma, os processos que abrangem esta dimen-
– principalmente porque muitas destas pessoas são auxiliam na melhor compreensão dos dife-
possuem os vínculos familiares fragilizados, e rentes comportamentos, processos e práticas re-
acabam utilizando as substâncias também como lacionadas à exposição dos sujeitos à infecção,
elemento socializador (Bezerra et al., 2015). considerando valores à nível coletivo (Ayres et
Tal uso, combinado com a insegurança ali- al., 2009).
mentar, vivenciada por estes sujeitos cotidiana- O principal exemplo destas relações sociais
mente, tendo que “Contar os dias” (Entrevistado que influenciaram a vida das pessoas em situa-
4) para conseguir marmitas durante a pande- ção de rua durante a pandemia envolvia situa-
mia– em função dos decretos de fechamento do ções de descaso, bem como de preconceito, dis-
comércio, esvaziamento das ruas e redução de criminação e violência – vivências frequentes no
trabalhadores em circulação, que antes contribu- cotidiano de pessoas em situação de rua, e que
íam com doações, pode resultar no comprometi- acabaram por se acentuar durante a pandemia.
mento da imunidade e na acentuação de comor- No que se refere à discriminação e pre-
bidades, tornando-os mais vulneráveis ao vírus conceito vivenciados, as percepções do(a)
(Nunes & Sousa, 2020). s entrevistado(a)s foram de que, por um lado,
Considerando as suscetibilidades discutidas houve um aumento destes processos durante a
acima, pôde-se elencar as possíveis consequên- pandemia; e, por outro (embora menos predomi-
cias vividas por estas pessoas e que atuam de nante), que a situação continuava a mesma – tais
forma dinâmica – a acessibilidade fragilizada experiências, que já eram enfrentadas previa-
às informações essenciais e atualizadas sobre mente, apenas continuaram no novo contexto.

Cadernos de Psicologia, Ribeirão Preto, vol. 2, nº 2, p. 1-15 - Outubro/2022


(Sobre)Vivência e (Re)Existência de Pessoas em Situação de Rua na Pandemia de COVID-19. 9

O Entrevistado 1, por exemplo, comenta que normalidade, assim sendo, tudo o que é tido como
ser preto, soropositivo e morar na rua aumentam diferente e anormal passa a ser estigmatizado
suas experiências com preconceito, e que isto (Goffman, 1975).
não mudou na pandemia: “O preconceito é em Esse processo de estigmatização faz parte de
todo lugar, tanto é preto quanto é pobre, tanto é crenças e valores que circundam a população em
morador de rua quanto soropositivo”. Tais relatos situação de rua; que reforçam o cenário de ex-
trazem a noção central da interseccionalidade, clusão social e reiteram violências e sofrimentos
que diz respeito à sobreposição ou intersecção (Goffman, 1975). Como por exemplo, foi relata-
de identidades sociais e sistemas relacionados de do que dormir na rua (uma questão conjuntural
opressão, dominação ou discriminação, os quais dessa população), tem sido mais difícil e perigo-
interagem de forma dinâmica e influenciam os so devido ao tratamento violento de policiais ao
aspectos do mundo social (Akotirete, 2019). empregar as medidas de segurança – mais espe-
Houve também relatos sobre os olhares da cificamente, o Decreto nº 43.650, de 31 de março
comunidade em geral às pessoas em situação de 2021, que profere restrição de circulação de
de rua durante a pandemia, especificamente pessoas em espaços e vias públicas, das 0h às
de julgamento e até mesmo de medo em se 6h, ressalvados os casos de extrema necessidade,
aproximar. Um corpo marginalizado, sujo e em todos os municípios do estado do Amazonas.
exalando fortes odores parece não coadunar com A dormida ficou pior porque logo no
o ideal de uma “sociedade higienista” que tem começo eles (policiais) pegavam a pessoa
lutado no combate à COVID-19, de modo que e saíam arrastando, batiam na pessoa, a
esses são percebidos como vetores da doença: pessoa tinha que se esconder . . . porque
Às vezes passa muita gente que são mais do a pessoa tá na rua, e logo no começo não
alto nível né, e que tão correndo no meio podia ficar era ninguém na rua. Sofremos
da rua e nós tá jogado num banco, deitado, muito com a pandemia e com a violência.
sujo, e eles passam já olhando assim... Teve (Entrevistada 4)
uma vez que nem estava de máscara . . . aí o Segundo o governo amazonense, o Decreto
cara disse: não, sai daqui, porque tu ‘num’ tem sido uma tentativa de minimizar o impacto
tá de máscara. (Entrevistado 7) da pandemia da COVID-19 nas políticas públi-
Sem comparação, a rejeição. Pensam que cas e estabelecer um modo de proteger a saúde
a gente tá carregando a doença, (somos) e bem-estar dos cidadãos. Contudo, é importan-
rejeitados de várias formas. Já existe uma te indagar quem é considerado cidadão e quem
rejeição normal, aí com mais a doença não o é. Tendo em vista os relatos obtidos, tal
piorou foi mais pra gente . . . Se eles já viam medida não considerou as pessoas em situação
a gente como bicho, agora eles veem como de rua como sujeitos de direitos, retirando-as
se a gente tivesse carregando a doença. forçadamente de seu cenário cotidiano, sem di-
(Entrevistado 8) álogo comunitário e não provendo uma alter-
Ainda, a Entrevistada 9 comenta que é nativa segura e coerente com o habitar na rua,
comum a estigmatização social com pessoas em vivido comumente por essas pessoas.
situação de rua, sendo ele(a)s frequentemente Outro(a)s entrevistado(a)s citaram violên-
rotulados de vagabundos, ladrões e assassinos. cias entre as próprias pessoas em situação de rua,
O estigma caracteriza-se enquanto uma marca, presenciando conflitos entre abrigados dentro
um símbolo atribuído às pessoas. Nesse sentido, das instituições de acolhimento, gerando grande
as pessoas são incluídas em categorizações sofrimento e estresse, reforçando uma postura de
sociais e passam a ter atributos que indicam o desconfiança e vigilância.
que elas são ou podem ser. Logo, a comunidade Falas como esta enfatizam a importância da
em torno dessas pessoas cria uma expectativa assistência ofertada pela rede, que pode ajudar
sobre elas, tomando por referência os padrões de a minimizar fatores de risco, os quais já eram

Cadernos de Psicologia, Ribeirão Preto, vol. 2, nº 2, p. 1-15 - Outubro/2022


10 Bruno, G. F., Nabero, A. P. P., Leitão, C. L., Torres, M. S., Ferreira, B. O.,Figueirêdo, A. A.

predominantes mesmo antes da pandemia. Desta Tais falas abrem espaço para discussão
forma, levanta-se o questionamento: o que acerca da bionecropolítica, ou da política que de-
tem sido feito na oferta de recursos sociais e cide quais vidas poderão seguir vivendo e quais
institucionais para este cuidado? podem morrer, sendo necessário destacar que os
que são marcados para morrer apresentam carac-
Vulnerabilidade Programática terísticas socioeconômicas e sociodemográficas
A vulnerabilidade na dimensão programá- bem específicas – pessoas negras e pobres, por
tica constitui o papel das instituições – sejam exemplo (F. Lima, 2018). Marcações essas pre-
elas de saúde, educação, bem-estar social, ou sentes em grande parte das pessoas em situação
cultural – como elementos que afetam direta- de rua, o que também foi percebido pelo(a)s
mente a situação social de vulnerabilidade, pois entrevistado(a)s.
a saúde depende também de recursos sociais Não obstante, percebe-se que as problemáti-
e da relação Estado-sociedade (Ayres et al., cas que envolvem a inserção da população em si-
2009). Nesse sentido, a dimensão programáti- tuação de rua no sistema produtivo retiram esses
ca pode ser considerada também uma dimensão sujeitos do pacto social, transferindo-lhes a cul-
social, pois parte de um conjunto de relações pa e responsabilidade por sua situação (Mattos
sociais que permitem que os serviços e institui- & Ferreira, 2004). Nessa perspectiva, pode-se
ções funcionem. dizer que as pessoas em situação de rua “mor-
reram” para o Estado, e seus “sintomas” provêm
No entanto, não puderam ser identificadas
de um adoecimento sócio-histórico, de um grupo
medidas efetivas do Governo Federal voltadas
que não tem sido acolhido pelas instituições pú-
especificamente para o cuidado das pessoas em
blicas adequadamente, e que vem sido deixado
situação de rua durante a pandemia, e do Gover-
para travar suas próprias batalhas.
no Estadual amazonense surgiram apenas algu-
Com relação ao acesso da população em
mas iniciativas isoladas, que envolviam prin-
situação de rua aos serviços de saúde, as expe-
cipalmente a adaptação e instalação de abrigos
riências de violência têm tal impacto na vida
temporários e distribuição de itens de higieniza-
destas pessoas, que foi relatado o medo de
ção (Honorato & Oliveira, 2020).
acessar hospitais e Unidades Básicas de Saúde
O(a)s entrevistado(a)s demonstraram insa-
(UBS): “[Medo de] me matarem no hospital,
tisfação com a atual gestão estadual do Amazo-
por tá doente né . . . porque a malandragem tá
nas, identificando fragilidades e insuficiências
demais”. (Entrevistado 9)
nas estratégias públicas voltadas para a popu-
A aparência pessoal e a higiene corporal são
lação em situação de rua mesmo antes do con- alguns dos fatores de estigmatização que preju-
texto pandêmico – e, com exceção do(a)s dois dicam o acesso aos dispositivos sociais e à cons-
entrevistados(a)s que recebiam auxílio emergen- trução de outras possibilidades de projetos de
cial, nenhum dos outros relatou conhecer ou usu- vida. Além disso, o caráter burocrático presente
fruir de serviços públicos que visavam superar nas práticas de saúde pública também dificulta
as dificuldades conjunturais desses sujeitos, nem o acesso dessa população aos serviços de saúde,
antes, nem durante a pandemia. sendo um problema real no cotidiano dessas pes-
Nesse sentido, emergiram comentários soas (S. O. Lima et al., 2020), como descrito no
como: “Faça amor e menos guerra, mas a gente relato: “É mais dificuldade, né, porque tem uns
sabe que não é assim. Morre quem eles querem, que não tem documento... Daí não dão valor pra
vive quem eles querem” (Entrevistado 10); e ele, né, porque é morador de rua, têm preconcei-
“Vejo muito problema no governo, né... Eu não to com morador de rua” (Entrevistada 9).
voto mais, me separei da política, desde que Outros comentários acerca dos obstáculos no
elegeram esse Bolsonaro aí, porque as coisas não acesso aos serviços de saúde incluem o medo de
melhoraram nada” (Entrevistado 1). ser levado para a prisão, medo de ser assassinado

Cadernos de Psicologia, Ribeirão Preto, vol. 2, nº 2, p. 1-15 - Outubro/2022


(Sobre)Vivência e (Re)Existência de Pessoas em Situação de Rua na Pandemia de COVID-19. 11

enquanto dorme e o despreparo dos profissionais Esse distanciamento dos serviços, devido
para lidar como essa população. Possivelmente, a problemáticas pessoais ou administrativas,
por essa razão, alguns do(a)s entrevistado(a)s juntamente à baixa acessibilidade de informações
relataram não ter acessado a unidades de saúde sobre o novo coronavírus, gera incertezas sobre
há anos: dentre o(a)s dez entrevistado(a)s, apenas o curso da doença e a execução prática dos
dois citaram ter utilizado os serviços de saúde atendimentos nos serviços de saúde para essa
nos dias anteriores à entrevista – momento em população.
que foi realizado o teste para COVID-19 – por Além do reconhecimento dessas lacunas na
meio de encaminhamento ofertado pelo Centro qualidade dos serviços públicos amazonenses,
Pop. identificou-se um consenso entre o(a)s entre-
Da mesma forma, percebeu-se que as di- vistado(a)s de que o desencadeamento da
ficuldades no acesso aos serviços públicos se pandemia de COVID-19 não chegou a impactar
aplicam também no âmbito dos recursos tera- suas vidas de forma significativa. Tal fala reflete
pêuticos, o que é preocupante, considerando os a situação de descaso e invisibilidade intrínse-
relatos apresentados e a existência de transtornos cos a conjuntura da população em situação de
mentais graves e/ou persistentes nessa população rua, ao invés da execução de estratégias voltadas
(Tsai & Wilson, 2020). Ao serem perguntado(a) a este grupo.
s sobre saúde mental, os comentários obtidos fo- Nesse âmbito, foi percebida uma sensação
ram “drástica” e “precária”: geral de carência de perspectiva no que se
Eu vejo a situação que tá o nosso país e eu refere às iniciativas públicas – um padrão
sei que eu tenho muita força, por tá lutando sustentado ao longo das entrevistas que se
num lugar que não tem quase nada. Agora seguiram envolvendo a dimensão programática
que tá caminhando a saúde mental aqui, da vulnerabilidade: “Pra mim é como se ela (a
agora que tá engatinhando. São poucas pandemia) nem existisse, pra mim não afetou
pessoas que buscam ajudar, muitos têm nada” (Entrevistada 4).
solução, a grande parte tem solução, mas As pessoas em situação de rua já eram,
não tem apoio. (Entrevistado 8) mesmo antes da pandemia, apagadas ou mesmo
Nesse quesito, apenas um do(a)s entre- maculadas dentro do convívio social. A pan-
vistado(a)s relatou ter acesso a recursos tera- demia trouxe à tona processos de denúncia da
pêuticos, citando ser um privilégio do Centro marginalização. Esses relatos são essenciais para
Pop, que o ajudou imensamente a lidar com compreender o papel das instituições públicas
suas questões pessoais e enfrentar a vivência em oferecer soluções efetivas para tais questões,
na rua. No entanto, foi percebida também por que persistem no contexto de pandemia. Nesse
essas pessoas diferenças entre o atendimento caso, a negligência e a invisibilidade alcançam
dos profissionais, alguns já tendo desistido de tal proporção, que a pandemia sequer chega a
procurar acompanhamento psicossocial devido ser considerada uma urgência, ou uma nova
ao tratamento recebido pelos profissionais de crise de saúde pelos sujeitos entrevistados,
saúde mental. as preocupações do(a)s entrevistado(a)s se
Eu tive o privilégio de passar por algumas relacionam a própria (sobre)vivência na rua,
psicólogas, e infelizmente, infelizmente, especialmente no que se refere à violência e o
existe a diferença de profissional. Tem abuso de substâncias:
psicóloga que consegue abrir a mente Porque a pandemia é algo de saúde, e o
da gente, que é humana, olha pra gente que esse povo passa na rua é algo diário,
como gente... Agora tem outras, meu Deus entendeu. Vou te dar o papo, nós que vive na
do céu... Eu só ‘tava’ indo lá por causa rua mano, nós é carcaça entendeu. Tu acha
dos remédios . . . Sabe, tem um tom de que quem vive na rua tá se preocupando
julgamento. (Entrevistado 8) se vai morrer ou não, se tá com medo de

Cadernos de Psicologia, Ribeirão Preto, vol. 2, nº 2, p. 1-15 - Outubro/2022


12 Bruno, G. F., Nabero, A. P. P., Leitão, C. L., Torres, M. S., Ferreira, B. O.,Figueirêdo, A. A.

morrer, se não ‘tá’ com medo de morrer... ficando ruim de novo, o povo ‘tá’ ficando mais
Nós não tem medo de morrer mais não miserável . . . [O coração] ‘tá’ até se fechando
mano. Ou de corona, ou de faca, ou de bala, de novo” (Entrevistada 4). E que “Antes era um
de soco... Tem gente que quer viver, e luta festival de alimento lá no 28 de agosto, café da
pra viver; infelizmente, a vida é uma luta manhã, almoço e jantar. Agora já diminuiu um
constante. (Entrevistado 10) pouco” (Entrevistado 1).
Tais relatos corroboram os achados de Por fim, as informações obtidas por meio
Carneiro-Júnior et al. (1998) e Fernandes et dessas entrevistas são apenas uma parcela da
al. (2007), que demonstram como a doença realidade das pessoas em situação de rua du-
tende a ser considerada como tal pela rante a pandemia em Manaus, e mesmo assim
população em situação de rua apenas quando já revelam uma conjuntura preocupante e ne-
é aguda, impeditiva de atividades cotidianas gligenciada no âmbito programático. Esse con-
e demandando pronto atendimento. Nesse junto de vulnerabilidades aponta a necessidade
sentido, o(a)s entrevistado(a)s, a partir do que de reestruturação e aplicabilidade de políticas
ouvem e observam no seu dia a dia, elencam públicas, de modo que se possa zelar pela saúde
suas prioridades a partir dos perigos imediatos e dignidade das pessoas em situação de rua,
e conjunturais que encontram na rua – nesse tanto no contexto atual, quanto em cenário pós-
raciocínio, o que o ameaça: um vírus invisível pandemia.
ou a violência na próxima esquina?
Somado a isso, percebe-se que a maioria das Considerações Finais
iniciativas voltadas ao cuidado com as pessoas
em situação de rua partiram de ONGs, igrejas Ainda que os(as) entrevistados(as) repre-
e ações individuais – foi justamente o curso sentem apenas uma pequena parcela da popula-
de ação e efetividade destes dispositivos que ção em situação de rua em Manaus, seus relatos
definiram os modos de subsistência desse grupo refletem uma problemática a nível mundial que
durante a pandemia de COVID-19. Como muitos já se arrastava há anos, mas que visibilizou ain-
dos sujeitos deste grupo contam, principalmente, da mais com as novas formas de vulnerabilida-
com contribuições para se suster, o aumento ou de emergentes durante a pandemia. Foi possível
diminuição destas contribuições acaba por afetar perceber que as vulnerabilidades presentes no
diretamente seu modo de vida, e até mesmo cotidiano dessas pessoas durante a pandemia in-
acentuar os riscos de exposição ao vírus. teragem de forma dinâmica, imbricada, de modo
Além disso, todos os entrevistados relataram que um elemento pode influenciar ou agonizar
obter instrumentos de higiene, como máscaras outro, em mais de uma dimensão, simultanea-
e álcool em gel, por meio de distribuições que mente.
aconteciam em locais como drogarias, mercados A dimensão individual da vulnerabilidade
e afins. A alimentação também era obtida, aponta decisões e comportamentos pessoais que
principalmente, por meio de doações e projetos acentuam a exposição de pessoas em situação
voluntários. Já recursos como água, tanto para de rua ao vírus – como a baixa acessibilidade de
consumo quanto para banho, eram usufruídos informação sobre o vírus ou a aplicabilidade de-
por meio da chuva e de torneiras públicas. ficiente de medidas e instrumentos de segurança.
O(a)s entrevistado(a)s revelaram um au- Processos como o abuso de substâncias, ainda,
mento na sensibilidade e generosidade da po- quando combinados a insegurança alimentar,
pulação na primeira onda da pandemia, chegan- podem resultar em imunidade comprometida,
do a haver um aumento nas doações e projetos bem como agravamento nas demandas emocio-
assistenciais. No entanto, durante a segunda nais, traumas ou transtornos.
onda, observou-se que este auxílio foi reduzi- Considerando o sofrimento emocional
do de forma notória: “’Tava bom... agora ‘tá’ associado à pandemia, o receio de adoecer ou

Cadernos de Psicologia, Ribeirão Preto, vol. 2, nº 2, p. 1-15 - Outubro/2022


(Sobre)Vivência e (Re)Existência de Pessoas em Situação de Rua na Pandemia de COVID-19. 13

morrer, a dificuldade de acessibilidade quanto necessário reconhecer que as novas percepções e


às informações sobre a COVID-19, a sensação necessidades articuladas por essas pessoas para
de desamparo, a estigmatização vivenciada, a (sobre)vivência em tempos de pandemia não
dentre outros processos identificados. Nota-se coincidem com as expectativas da população em
que o cuidado em saúde mental das pessoas em geral, ou dos agentes de saúde ou instituições
situação de rua é uma demanda urgente, embora públicas.
os relatos de acesso aos serviços da rede de Das falas acolhidas neste estudo, destacam-
atenção psicossocial tenham sido escassos. se força, determinação, desejo de autonomia e
No entanto, não há como abordar essas pro- de ser agente de mudança em nível individual
blemáticas sem considerar os aspectos sociais e coletivo. Os indivíduos entrevistados, embora
presentes na vida desses sujeitos; dessa forma, não tenham sido inseridos de forma digna nas
os elementos acima mencionados podem ser dinâmicas sociais e em políticas públicas, lutam
dificultados por contextos de negligência insti- diariamente por sua sobrevivência da forma
tucional, preconceito e discriminação social, e, que podem e conseguem – seja por meio de
não raramente, resultam em casos de violência e arrecadações e doações, métodos de autocuidado
até homicídios. Ainda com relação à vulnerabi- com ferramentas encontradas nas ruas, ou até
lidade na dimensão social, destaca-se o contexto uso abusivo de substâncias, como forma de lidar
de uso abusivo de substâncias psicoativas como com suas emoções e a realidade diária. Afinal,
uma problemática notória na vida das pessoas para esses sujeitos, não se trata de uma (re)
em situação de rua, e processos de estigmatiza- existência, mas sim de resistência.
ção, que, por um lado, culpabilizam esses sujei-
tos por suas mazelas, e, por outro, desresponsa- Contribuição dos autores
bilizam as diferentes instâncias da sociedade de Gabrielle Figueiredo Bruno: concepção
seu cuidado. Entretanto, esse comportamento e projeto; análise e interpretação dos dados,
acaba por reforçar dificuldades pré-existentes, redação do artigo.
como obtenção de acesso à informação, sofri- Ana Paula Pereira Nabero, Consuelena
mento intenso e violação de direitos. Lopes Leitão, Marck de Souza Torres e Ales-
No que diz respeito à vulnerabilidade pro- sandra Aniceto Ferreira de Figueirêdo: redação
gramática, os entrevistados demonstraram in- do artigo e revisão crítica relevante do conteúdo
satisfação com a atual gestão estadual do Ama- intelectual.
zonas, como também com a gestão federal, Breno de Oliveira Ferreira: responsável por
identificando fragilidades e insuficiências nas todos os aspectos do trabalho na garantia da exa-
estratégias públicas voltadas para a população tidão e integridade de qualquer parte da obra.
em situação de rua mesmo antes do contexto
pandêmico, dando visibilidade para a discussão Conflitos de interesse
acerca da bionecropolítica, ou da política que de-
Os autores declaram não haver conflito
cide quais vidas poderão seguir vivendo e quais
de interesses relacionado à publicação deste
podem morrer, em sua maioria, pessoas negras,
manuscrito.
pobres e homens, marcações essas presentes nas
pessoas em situação de rua.
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Cadernos de Psicologia, Ribeirão Preto, vol. 2, nº 2, p. 1-15 - Outubro/2022


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Cadernos de Psicologia, Ribeirão Preto, vol. 2, nº 2, p. 1-15 - Outubro/2022

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