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DESIGUALDADE E IMPACTOS DA COVID-19 NAS ESCOLAS PÚBLICAS

Charles Alves Lima1


Graduado em História pela Faculdade do Sertão do Pajeú (FASP)
charles.cordeiro@outlook.com

DESIGUALDADE E IMPACTOS DA COVID-19 NAS ESCOLAS PÚBLICAS

O conceito “pandemia” foi pela primeira vez empregado por Platão, palavra de
origem grega, formada com o prefixo neutro pan e demos, povo. Platão usou-a no
sentido genérico referindo-se a qualquer episódio capaz de alcançar toda a
população, sua inclusão ao glossário médico ocorreu a partir do século XVIII
(REZENDE,1988).
Ao final do ano de 2019, o mundo tomou conhecimento do surgimento de um
novo vírus biológico, a partir dos pronunciamentos realizados pelas autoridades
chinesas, à Organização Mundial da Saúde (OMS) agilmente classificou o novo
patógeno como nocivos ás populações por seu potencial de contaminação e
letalidade. Em 11 de março de 2020, a COVID-19 foi caracterizada pela OMS como
uma pandemia.
No Brasil, O governo Federal notificou o primeiro caso positivo pela Covid-19
no dia 26 de fevereiro na região do estado de São Paulo, quando um homem que
realizou uma viagem para a Itália, procurou atendimento no Hospital Albert Einstein
na cidade de São Paulo. Alguns dias antes havia sido aprovada a Lei nº 13.979, que
dispõe sobre as medidas de enfrentamento da emergência de saúde pública
decorrente do coronavírus (BARRETO,2020). O feito causado pela pandemia do novo
coronavírus, impôs drásticas modificações na rotina da população mundial,
desafiando autoridades de várias nações adotarem medidas sanitárias de controle
como objetivo de regular as populações. Em conformidade com (BARRETO, 2020, p.
794):
Dentre as medidas básicas de prevenção da Covid-19, recomenda-se o
distanciamento social (horizontal ou vertical) para evitar o contato com o
vírus como medidas individuais e/ou coletivas. Para isto, deve-se evitar
aglomerações, procurar ficar distante de no mínimo de 1 a 2 metros de

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Discente do Curso de Pós-graduação lato sensu em Educação do Campo do Instituto Federal de
Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco (IFPE), Campus Afogados da Ingazeira.
distância de outras pessoas, higienizar as mãos lavando-as frequentemente
com água e sabão ou fazendo uso do álcool em gel, usar máscaras faciais
para evitar respirar as gotículas quando outros falam, espirram, ou espalhar
as suas próprias gotículas e higienizar as superfícies não porosas que se
toca ou usar luvas plásticas, entre outros.

Com os protocolos de segurança impostos a população, o efeito causado pela


pandemia do novo corona vírus, acabou impondo drásticas modificações na rotina da
população mundial, diversas áreas foram atingidas entre elas a educação e
economia.
(PACHECO, 2022) também esclarece que devido à pandemia da COVID-19, as
instituições de ensino brasileiras, públicas e privadas suspenderam as atividades
presenciais, assim as redes de ensino, cada uma ao seu tempo e a sua maneira,
passaram a adotar o chamado “ensino remoto”, substituindo as aulas presenciais,
nas dependências escolares ou acadêmicas, por atividades que fazem uso, por
exemplo, de tecnologias digitais de informação e comunicação.
Nesse retorno à “normalidade”, buscamos aqui refletir sobre a Educação e a
aprendizagem, como essa modalidade de ensino se efetivou em uma nação onde
tem demonstrado que ainda carrega marcas do seu passado violento. Ele traz as
piores práticas de sua formação sócias histórica, as marcas advindas dos velhos
tempos nos novos são bem evidentes quando a questão da desigualdade social está
em pauta. Ainda antes da pandemia, já se sabia sobre o grande esforço que o Brasil
necessitava fazer no campo educacional para reverter os baixos índices de
aprendizagens escolares, a fim de alcançar todos os alunos, em função dos elevados
níveis de desigualdade.
No surgimento, falava-se que a nova doença alcançaria qualquer indivíduo,
sem distinção social, podendo chegar a todos os lares, de norte a sul, dos grandes
centros urbanos às pequenas cidades. No entanto, o tempo mostraria que, no Brasil,
os mais altos índices de óbitos se concentrariam entre pobres, pouco escolarizados e
não-brancos: em 18 de maio de 2020, por exemplo, dos 30 mil óbitos registrados
neste período, 55% deles eram de pretos e pardos, enquanto entre pessoas brancas,
o valor era 38% (CTC/PUC-RIO, 2020, apud PACHECO, 2022 P.02)
.
Com essa análise, ficar em casa e seguir todas as medidas de distanciamento
e higiene também não se apresentaram como alternativas viáveis para uma
significativa parcela da população, consequentemente as populações pobres foram as
mais duramente atingidas, segundo diagnóstico da Organização das Nações Unidas
(ONU):
Os impactos da pandemia da COVID-19 estão caindo desproporcionalmente
nos mais vulneráveis: pessoas que vivem na pobreza, trabalhadores pobres,
mulheres e crianças, pessoas com deficiências e outros grupos
marginalizados [...]. Em regiões com elevadas desigualdades, como é o caso
da América Latina, no médio e longo prazo, os impactos da COVID-19
podem explicitar e aumentar as iniquidades já existentes, seja na renda, no
acesso a serviços ou na concretização de direitos básicos. (ORGANIZAÇÃO
DAS NAÇÕES UNIDAS, 2020)
A desigualdade educacional no Brasil se agravou com a pandemia, atingindo
principalmente estudantes pretos, pobres e de regiões mais afastadas, em que o
abandono escolar, influenciado pela a implementação do ensino remoto e das
diferenças de materiais ofertados para o ensino público e privado, foi uma das
consequências dessa disparidade que mais uma vez se faz presente na questão da
educação brasileira.
Antes da pandemia, os dados sobre a desigualdade educacional e o abandono
escolar já eram preocupantes. Foi o que indicou um mapeamento, elaborado em
2019 pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), o levantamento
divulgado esse apontou que cerca de 623.187 estudantes das redes municipal e
estadual do país abandonaram a escola. Deste total, 329.058 se declararam pretos,
pardos e indígenas. Os maiores índices de abandono foram registrados nas regiões
Norte e Nordeste. Em razão disso esse fenômeno atinge pessoas de grupos
minoritários e está relacionada com a falta de apoio governamental. Essa exclusão é
recorrente com a pandemia ficou mais escancarada e aprofundada, nosso sistema
educacional é excludente e com a falta de apoio governamental e com esse plano de
governo de deixarem pessoas pobres e pretas morrerem à míngua sem educação,
sem acesso a uma escola de qualidade, veremos ainda mais o aprofundamento
dessas desigualdades e aumento nas mazelas sociais.
A pandemia deu margem para o sistema educacional do país aumentar as
disparidades raciais, sociais e locais, sendo um dos problemas estruturais dessa
situação a falta de acesso a internet para assistir as aulas onlines, que
consequentemente gerou um dos maiores problemas na educação, o abandono
escolar. De acordo com uma pesquisa divulgada pelo Datafolha, em janeiro, 4
milhões de estudantes abandonaram a escola durante a pandemia. As principais
motivações foram a dificuldade do acesso remoto às aulas e problemas financeiros,
em que os alunos que lideraram a taxa de abandono pertenciam às classes D e E.
Nesse circunstância, é válida ás seguintes indagações: se no Brasil, país
considerado o sétimo do mundo em desigualdades sociais, muitas famílias não
possuem nem as condições mais básicas de subsistência, de que forma desfrutarão
acesso a aparelhos digitais e internet para acompanhar as aulas? Como foi garantido
o direito à educação em um período prolongado dos estudantes fora das
dependências físicas das escolas? Despuseram das mesmas condições básicas em
seus lares para o estudo? Será que estes alunos obtiveram o apoio integral de sua
família para realizar as atividades propostas? Os pais ou responsáveis poderão ajudar
com a os conhecimentos escolares?
Enfim, há uma longa caminhada que precisa ser feita para que alcancemos um
sistema mais igualitário e mais justo para todos, para que, num cenário de crise,
semelhante ao que vivenciamos no último triênio, todos tenham oportunidades iguais
e todos os direitos garantidos, inclusive o direito à educação.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
REZENDE, Joffre Marcondes de. Epidemia, endemia, pandemia, epidemiologia.
Revista de Patologia Tropical, Goiânia, v. 27, n. 1, p. 153-155, 1998. Disponível
em: https://revistas.ufg.br/iptsp/article/download/17199/10371. Acesso em: 03 maio
2023.

ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICA DE SAÚDE. Organização Mundial de Saúde. COVID-19


(doença causada pelo novo coronavírus). Folha Informativa, 6 abr. 2023.
Disponível em: https://www.paho.org/bra/index.php?
option=com_content&view=article&id=6101:covid19&It e mid=875. Acesso em: 4
abr. 2020.

BARRETO, Jurenice da Silva; AMORIM, Marília Rafaela Oliveira Requião Melo; CUNHA,
Célio da. A PANDEMIA DE COVID-19 E OS IMPACTOS NA EDUCAÇÃO. 2020.

ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE (OPAS). Folha informativa COVID-


19 - Escritório da OPAS e da OMS no Brasil. Brasília, 2020. Disponível em:
https://www.paho.org/pt/covid19. Acesso em 15 ago. 2020.

DE JESUS PEREIRA, Alexandre; NARDUCHI, Fábio; DE MIRANDA, Maria Geralda.


Biopolítica e Educação: os impactos da pandemia do covid-19 nas escolas
públicas. Revista Augustus, v. 25, n. 51, p. 219-236, 2020.

PACHECO, Jéssica Nascimento et al. Desigualdades na educação brasileira


durante a pandemia da covid-19: um estudo sobre o ensino remoto em uma
escola pública de um pequeno município do litoral norte do Rio Grande do Sul. 2022.

DIFERENÇAS sociais: pretos e pardos morrem mais de COVID-19 do que brancos.


CTC/PUC-Rio. Rio de Janeiro, 27 maio 2020. Disponível em:
https://www.ctc.pucrio.br/diferencas-sociais-confirmam-que-pretos-e-pardos-
morrem-mais-de-covid-19-doque-brancos-segundo-nt11-do-nois/. Acesso em: 30
nov. 2020.

PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO. Relatório do


Desenvolvimento Humano 2019. Além do rendimento, além das médias,
além do presente: desigualdade no Desenvolvimento humano do séc. XXI.
New York, 2019.

UNICEF et al. Reprovação, distorção idade-série e abandono escolar. Dados do


Censo Escolar, 2018.

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