Você está na página 1de 14

Questão Social - Prof.

Inês Amaro
da Silva

Pandemia, Periferias e as
Formas Elementares da
Vida Social

Júlia Bracht, Luísa Panno, Gustavo Araujo, Náigon


Negreiros, Camilly Simoes, Luis Eduardo Mello
Sobre o Artigo
Saúde
Escrito por Leonardo Fontes, o artigo tem
Economia
como propósito identificar os principais
(trabalho,
problemas enfrentados pelas periferias renda,
brasileiras durante a pandemia do COVID- segurança
19. O autor analisa em quatro partes alimentar)

distintas, porém conectadas, os principais Educação e


problemas encontrados na pandemia, e seus problemas
também fazendo uma dura crítica às de acesso
políticas de abandono do Estado. Violação de
O autor divide os problemas em: Direitos
Humanos
A Ideia "Democrática" da Pandemia
É importante notarmos que, em primeiro momento, se
tinha uma ideia de que a pandemia e suas
consequências iriam atacar apenas os setores mais
ricos, ou até mesmo que a pandemia seria
"democrática", atacando igualmente as diferentes
classes sociais, todavia, tal pensamento mudou
rapidamente, visto que foram as classes sociais mais
baixas que sofreram as maiores consequências
causadas pelo COVID-19. A vulnerabilidade
socioeconômica, a impossibilidade de praticar o
isolamento social, assim como a dificuldade ao acesso
de informações e a empregos, fez com que os mais
afetados fossem pessoas pobres, em foco aqueles que
moram em periferias.
O Estado, orientado pela vertente
bolsonarista, com aspectos neoliberalistas,
propagava o discurso de “cada um por si”,
citando a inevitabilidade de proliferação do
vírus, amenizando suas consequências na
saúde e na vida social, todavia, usando os
recursos do governo para preservar e ou
mitigar seus efeitos em determinadas
parcelas da população - principalmente o
empresário. Além do abandono do governo
em politicas publicas, houve também uma
propagação de "fake News", apoiadas por
politicos de direita.
A Saúde na Periferia
Janeiro de 2021: Soro prevalência de pessoas
declaradas negras ou pardas, com renda de até R$
2.200 é superior a soro prevalência de pessoas brancas
(37,8% vs 23,2%)
Indivíduos com escolaridade até o ensino fundamental
demonstram uma soro prevalência superior a indivíduos
com ensino superior completo (33,8% vs 19,6%)
Nível de contaminação em pessoas pobres é maior. Entre
Outubro e Janeiro, a taxa de contaminação aumentou de
30,4% para 36,4%
A dificuldade de manter o isolamento social é notada em
casos de pessoas que não tem condições de trabalhar
em casa, ou que não podem deixar de trabalhar. tal
dificuldade é facilitada pela falta de uma rede de
proteção social.
Taxa de mortalidade por COVID-19 é maior em
bairros com menor índice de escolaridade, ou
seja, quanto mais aglomeração familiar, menor
renda e maior concentração de civis, maior a
contaminação e a taxa de mortalidade
Taxa de mortalidade alta em zonas periféricas é
uma consequência direta do descaso com a
saúde publica e o abandono de hospitais
públicos. A taxa de mortalidade em UTI's
privadas é de 30%, já em UTI's públicas taxa é
de 53%.
A Situação Socioeconômica
Perda de trabalho ou redução da renda salarial afeta
principalmente famílias mais pobres. Maiores
vulnerabilidades econômicas se encontram em
trabalhadores domésticos (principalmente mulheres
negras) e trabalhadores “informais”, que não contam
com uma rede de proteção social ou direitos
trabalhistas
Os problemas socioeconômicos enfrentados durante
a pandemia se mesclam com os problemas
encontrados antes do primeiro caso de COVID-19.
Em Setembro/2020, cerca de 14 milhões de pessoas
estavam desempregadas, além disso, 15,3 milhões de
pessoas não procuravam empregos, por conta da
falta de oferta de trabalho, assim como a falta de
trabalho na localidade onde vivem (9,7% são
pessoas pardas ou pretas, 5,9% são pessoas
brancas)
A queda na renda proveniente do trabalho caiu em
27,9% para pessoas de classe social baixa
(Setembro/2020)
A pobreza do Brasil aumenta com as consequências da
pandemia (estimados 6,3 milhões de “novos pobres”).
Todavia, este número aumenta consideravelmente com o
finalização do Auxílio Emergencial (Agosto/2020 cerca
de 9,5 milhões para 27 milhões em Fevereiro/2021)
Fevereiro de 2021: Cerca de 68% dos moradores de
favelas NÃO TINHAM dinheiro para comprar comida em
ao menos um dia da semana (anterior ao levantamento,
feito pelo Instituto Data Favela)
Em 2021, pesquisa feita pela PENSSAN indica que
55,2% brasileiros se encontravam em situação de
insegurança alimentar, e 9% conviviam com a fome.
43,4% milhões de brasileiros não tinham condições
financeiras de abastecer sua alimentação cotidiana, 19
milhões enfrentavam a fome
A Educação e suas Dificuldades
Estudantes que vivem em periferias urbanas são os que mais
sentem os impactos da educação durante a pandemia. Cerca de
55% de estudantes que vivem em favelas no Brasil ficaram sem
estudar durante a pandemia, sendo 34% não conseguiam
participar das atividades online devido a falta de internet, e
21% não estavam recebendo as atividades da escola ou da
faculdade
Falta de internet ou equipamentos adequados se demonstram
um problema. Pelo menos ¼ de brasileiros não têm acesso a
internet. Entre os que têm acesso, 58% realizam o acesso
apenas por celular, porcentual chega a 85% em classes mais
baixas (D e E)
Estudantes de escolas privadas têm cerca de 2,3 equipamentos
a sua disposição, contra 1,6 dentre estudantes de escolas
públicas. Apenas 29% de estudantes de escolas públicas
tinham acesso a computadores (contra 71% de escolas
privadas).
A falta de oferecimento de conteúdos por escolas
e faculdades também afetam estudantes pobres.
Apenas 35% dos alunos de escola pública
afirmaram ter assistência em aulas online (ou até
mesmo conteúdo), com isso, 26% de alunos
pretos não estavam assistindo às aulas, nem
mesmo a distancia (Junho/2020)
A diferença entre pobres e ricos, para atividades
realizadas em casa, é de 224 horas, cerca de 50
dias letivos.
Além do atraso nos estudos, a outra possibilidade
que afeta pessoas periferias é o abandono ou
evasão escolar. 30% dos alunos que estudam em
escolas públicas pensavam em abandonar a escola
após o término da pandemia. O risco de
interrupção escolar é maior em pessoas pretas
(30%) e pardas (27%).
Direitos Humanos e a Pandemia
Violência física, psicológica e sexual contra mulheres e
crianças aumentaram significativamente durante a pandemia,
principalmente pela impossibilidade de realizar denúncias e o
convívio direto com agressores
O abuso do álcool, estresse, aumento da convivência, falta
de dinheiro, sobrecarga da mulher por falta da divisão de
trabalho, foram alguns dos agravantes da violência
Em relação às violações de Direitos Humanos, houve um
aumento de 156,6% nas denúncias, maior parte sendo
relacionada a pandemia de COVID-19. Sendo o grupo mais
atingido pessoas em situações socialmente vulneráveis,
53% das denúncias sendo sobre crise sanitária
Além disso, a violência policial teve um aumento considerável
durante a pandemia. Entre Janeiro e Junho de 2020, cerca
de 3.181 pessoas (79% delas pretas) foram mortas pela
polícia no Brasil, representando 17 mortes por dia.
Ações Comunitárias e Lideranças
Por mais que a fome, a desigualdade social, a violação dos
Direitos Humanos, a dificuldade no acesso a serviços
públicos e a qualidade de ensino não sejam problemas que
começaram na pandemia, o COVID-19 agravou tais
condições, trazendo-os para o centro do debate público e
demonstrando a necessidade de mudanças concretas.

É necessário uma “arena pública" para a discussão de tais


situações, que se tornam problemáticas.

Nos primeiros meses de pandemia, ONG’s recebiam mais


pedidos de informações sobre como acessar os programas
de apoio do governo, todavia, com o passar dos meses, os
pedidos mudaram para apoio alimentar, higiênico, assim
como apoio para a saúde mental e física. Com o Auxílio
Emergencial, algumas preocupações cessaram
momentaneamente, porém não sumiram completamente.
Com o abandono do Estado para solucionar problemas básicos,
movimentos comunitários tomam as rédeas da situação,
ajudando como podem. A Sociedade Santos Mártires distribuiu
cerca de 23.500 mil cestas básicas, 14.500 kits de higiene
básica e limpeza, 100 mil máscaras, 70 mil kits de sabonete e
40 mil frascos de álcool em gel.

A campanha 4G para Estudar é uma das campanhas


responsáveis pela distribuição de Chips de celular para
estudantes e moradores de zonas periféricas, possibilitando o
acesso a internet.

A Rede Sul - Quebrada Presente, formada por proprietários de


pequenos negócios, procuraram formas de construir uma rede
de apoio entre pequenos empreendedores, fornecendo cursos
de formação e catálogos coletivos de produtos e serviços.

A atuação de ONG’s e empresas (pequenas e grandes) na


ajuda durante a pandemia do COVID-19 significava cerca de
69% das doações.
O Sentimento de Esperança
Por mais que as consequências do COVID-19 tenham sido
negativas, o sentimento de comunidade e esperança para a
melhora de condições precárias é um de seus (poucos) impactos
positivos. O senso de comunidade que se iniciou durante a
pandemia é visto como uma possibilidade de melhorar e
consertar situações precárias vividas no cotidiano brasileiro. O
Líder do Morro da Coroa, no RJ, acredita que as comunidades
estão preparadas para quaisquer pandemias que possam,
futuramente, afetar as favelas.

Essa mobilização social tem como uma de suas consequências a


formação de “arenas públicas", espaços sociais que tem como
principal objetivo o debate, visando o bem estar público. Assim
como um novo horizonte para a vivência coletiva, a ampliação
da capacidade de “esperançar” e a obrigação, espontaneidade,
amizade e solidariedade entre moradores das periferias e
pessoas que buscam modos de ajudar.

Você também pode gostar