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INSEGURANÇA ALIMENTAR ATINGE 70 MILHÕES DE

BRASILEIROS
Relatório da ONU destaca agravamento do problema após pandemia
Vinícius Lisboa | 12-Jul-2023

A subalimentação crônica, nível mais extremo provocado pela insegurança alimentar, atingia
4,7% da população do Brasil entre 2020 e 2022. Isso significa que, em números absolutos, 10,1 milhões
de pessoas sofrem com a fome no país. Os dados estão no relatório global Estado da Segurança
Alimentar e Nutrição no Mundo, divulgado nesta quarta-feira (12) por cinco agências especializadas
das Nações Unidas (ONU).
Um em cada dez brasileiros (9,9%) passava por situação de insegurança alimentar severa entre
2020 e 2022, mostra o estudo. Além disso, quase um terço (32,8%) da população do país está incluído
nas categorias de insegurança alimentar severa ou moderada, o que equivale a 70,3 milhões de
brasileiros. A situação mostra um agravamento no acesso à segurança alimentar no país. Os dados
anteriores, de 2014 a 2016, indicavam percentual de 18,3%.
O estudo classifica a insegurança alimentar severa como um nível de gravidade em que, em
algum momento do ano, as pessoas ficam sem comida e passam fome, o que chega a acontecer, em
casos mais extremos, por um dia inteiro ou mais. Já a fome propriamente dita é uma situação
duradoura, que causa sensação desconfortável ou dolorosa pela energia insuficiente da alimentação.
Por fim, a insegurança alimentar moderada é aquela em que as pessoas enfrentam incertezas
sobre sua capacidade de obter alimentos e são forçadas a reduzir, em alguns momentos do ano, a
qualidade e a quantidade de alimentos que consomem, devido à falta de dinheiro ou outros recursos.
Os dados nacionais fazem parte de um estudo global da Organização das Nações Unidas para
a Alimentação e a Agricultura (FAO), do Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola (Fida),
do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do
Programa Mundial de Alimentos (WFP).

Agravamento
As agências das Nações Unidas alertam que a fome é um problema que se agravou no último
período analisado, com aumento de 122 milhões de pessoas nessa situação. Ao todo, o mundo tem
cerca de 735 milhões de pessoas sofrendo com a fome, contingente que seria o terceiro país mais
populoso do mundo, atrás apenas de Índia e China, e que supera toda a população do continente
europeu.

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Segundo o relatório, a piora na situação está relacionada à pandemia de covid-19 e a repetidos
choques e conflitos, incluindo a guerra na Ucrânia. Com a tendência indicada pelos dados, a ONU alerta
que o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável de acabar com a fome até 2030 não será alcançado.
O diretor-geral da FAO, Qu Dongyu, destacou que a recuperação da pandemia global foi
desigual, e que a guerra na Ucrânia afetou os alimentos nutritivos e as dietas saudáveis.
"Este é o 'novo normal' em que as mudanças climáticas, os conflitos e a instabilidade econômica
estão empurrando os que estão à margem ainda mais longe da segurança. Não podemos adotar uma
abordagem de negócios como sempre", declarou, segundo texto divulgado pela FAO.
Para o presidente do Programa Mundial de Alimentos (WFP), Alvaro Lario, a meta de acabar
com a fome pode ser atingida, mas requer que mais investimentos e vontade política sejam
direcionados para dar escala às soluções que já existem.
"Podemos erradicar a fome se fizermos dela uma prioridade global. Investimentos em
pequenos agricultores e em sua adaptação às mudanças climáticas, acesso a insumos e tecnologias e a
financiamento para montar pequenos agronegócios podem fazer a diferença. Os pequenos produtores
são parte da solução. Com o suporte adequado, eles podem produzir mais alimentos, diversificar a
produção e abastecer os mercados urbanos e rurais -– alimentando áreas rurais e cidades com
alimentos nutritivos e cultivados localmente."

Bilhões de atingidos
Apesar de a fome ser a situação mais extrema indicada pelo relatório, a insegurança alimentar
e os custos de manter uma dieta saudável são outros indicadores que preocupam os autores do estudo.
A insegurança alimentar moderada chegou a 2,4 bilhões de pessoas no período de 2020 a 2022,
enquanto os custos de uma dieta saudável eram inacessíveis para 3,1 bilhões de pessoas, causando
problemas como 148 milhões de crianças menores de 5 anos com baixa estatura e 37 milhões com
excesso de peso.
O relatório mostra ainda o impacto desigual da pandemia e dos choques econômicos globais.
Nos países de baixa renda, a insegurança alimentar severa aumentou de 22,5% para 28%, enquanto
nos países de renda alta, a variação foi de 1,5% para 1,6%.
O continente africano é o mais afetado pela fome e pela insegurança alimentar: uma em cada
cinco pessoas que passa fome no mundo vive nos países da África. A situação é mais grave na África
Oriental e na África Central, regiões onde a fome chega a 28,4% da população.

Plano Brasil Sem Fome


O ministro do desenvolvimento social, Wellington Dias, deu uma declaração após a divulgação
dos dados. Ele destacou que o Brasil havia saído do mapa da fome na década passada, durante os
governos anteriores do seu partido, o PT, mas que retornou a essa estatística a partir de 2016.
“Chegamos no pior momento no ano de 2022. Pessoas em filas do lixo, do osso, enfim. Agora, a
missão do presidente Lula é garantir que possamos novamente tirar o Brasil do mapa da fome”. Dias

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citou o trabalho da Câmara Integrada de Segurança Alimentar e Nutricional na elaboração de um plano
voltado para tirar as pessoas da insegurança alimentar.
“Vamos ter as condições de ter muito em breve o lançamento do Plano Brasil Sem Fome. E o
objetivo é tirar novamente o Brasil do mapa da fome”. Essa câmara integrada é composta por 24
ministérios, integrados com estados, municípios e o setor privado.

LISBOA, Vinícius. Insegurança alimentar atinge 70 milhões de brasileiros. Agência Brasil. Disponível
em: <https://agenciabrasil.ebc.com.br/saude/noticia/2023-07/inseguranca-alimentar-atinge-70-
milhoes-de-brasileiros>. Acesso em: 16 ago. 2023.

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INCLUSÃO SOCIAL: ENTENDA O QUE É, IMPORTÂNCIA,
EXEMPLOS E COMO PROMOVER
Entenda aqui o conceito de inclusão social, conheça os grupos mais afetados pela desigualdade e exemplos
de medidas inclusivas essenciais para a sociedade
CNN | 07-Fev-2023

A inclusão social é um conceito amplo, mas vital para criar e manter ambientes diversos,
harmoniosos e igualitários. Com ela, é possível oferecer às pessoas de todos os grupos étnicos,
culturais e socioeconômicos a abertura necessária para que participem plenamente na sociedade em
que vivem sem barreiras ou preconceitos. Ao longo das últimas décadas, o reconhecimento da
responsabilidade da sociedade em promover a igualdade tem crescido gradativamente, mas ainda
existem demandas quando o assunto é exclusão social. Para entender os avanços e passos necessários
para ampliar a inclusão, essa matéria aborda o cenário no Brasil, além de trazer exemplos de medidas
inclusivas.

O que é inclusão social?


A inclusão social envolve todas as ações tomadas para integrar grupos marginalizados, como
homossexuais, negros e pessoas com deficiência, no meio social.
Por questões históricas, esses grupos enfrentaram uma exclusão do processo de socialização,
que perdura na sociedade atual.
Neste contexto, o objetivo das medidas de inclusão é proporcionar oportunidades iguais para
todos, independentemente de classe social, gênero, raça ou outra circunstância socioeconômica.
Para alcançar esses objetivos, as instituições governamentais desenvolveram estratégias
baseadas no princípio da inclusão social para melhorar a qualidade de vida das pessoas mais
vulneráveis da sociedade.

Quais são os grupos mais afetados pela exclusão social?


Muitas pessoas sofrem com a exclusão social, mas quando analisamos o histórico e a formação
social de países colonizados, como o Brasil, alguns grupos se destacam no processo de marginalização.
Entre eles, os negros e povos indígenas, que foram marginalizados pelas ideologias racistas da
época e pelas consequências do período escravocrata.
A homossexualidade e a transexualidade também sentem os impactos da exclusão social. Com
anos de preconceito e repreensão do sistema legal em muitos países, o grupo LGBTQIA+ como um todo
segue na luta por seus direitos.

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Além deles, pessoas com deficiência ou qualquer tipo de limitação, seja física ou intelectual,
também enfrentam desafios na sociedade. Neste caso, o problema está relacionado às condições de
mobilidade urbana oferecidas.
Falta de rampas de acesso, piso tátil e calçadas esburacadas são alguns exemplos de obstáculos
que atrapalham a mobilidade de quem tem alguma limitação física.
Aqui, se encaixam também questões de acesso à educação para pessoas com deficiência
mental.
Considerando os grupos mais afetados pela exclusão social, a população de baixa renda, bem
como pessoas em situação de rua, tende a ter maior dificuldade de acesso a serviços básicos de
qualidade e oportunidades igualitárias.

Qual é a importância da inclusão social?


A inclusão social é uma questão fundamental na construção de uma sociedade, pois trabalha o
estabelecimento de regras que promovem a igualdade entre todos os grupos, garantindo seus direitos
à educação, saúde, trabalho e outros recursos necessários para suprir suas necessidades.
É um meio de erradicar as barreiras sociais criadas pelo racismo, desigualdades de gênero,
hiatos de classe e deficiência física e mental.
A partir disso, as ações de inclusão buscam combater a segregação social e promover um
ambiente mais harmonioso por meio da democratização dos espaços e serviços.
Esse trabalho também contribui para alcançar melhores resultados em termos de
desenvolvimento socioeconômico, reconhecendo o papel diversificado e minimizando o impacto das
desigualdades existentes no país.

O cenário da inclusão social no Brasil


A inclusão social no Brasil é promovida, em grande parte, por meio de políticas públicas, como
as ações afirmativas.
Um exemplo disso são as cotas raciais, política que reserva um percentual de vagas para negros
em universidades, assim como em bancos e concursos públicos.
Apesar das políticas, um estudo inédito, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística)
divulgou estatísticas sobre deficiência e desigualdade social no país.
Segundo os dados, pessoas com deficiência com 14 anos ou mais representavam 23,8% das
taxas de participação no mercado de trabalho quando o estudo foi realizado. Em comparação, pessoas
sem deficiência apresentaram um índice de 66,3% de presença.
Analisando a situação de outros grupos que enfrentam a exclusão social, é possível observar
alguns avanços, mas também demandas de inclusão. Com a política de cotas, por exemplo, dados do
Censo de Educação Superior mostram um aumento de estudantes negros matriculados no ensino
superior. Em 2010, eram 682.344 alunos, número que subiu para 3.265.715 em 2020.

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Por outro lado, os índices de inclusão social no mercado de trabalho podem melhorar. Segundo
o IBGE, 69% dos cargos de gerência são ocupados por branco, enquanto 29,5% são ocupados por
pretos ou pardos.
O rendimento médio mensal também apresenta uma diferença entre os grupos: em 2021, a
renda de brancos teve uma média de R$3.099 por mês. Para os negros, a média foi de R$1.764.
Esses são alguns exemplos que mostram o resultado positivo de algumas medidas de inclusão,
mas também indicam que é preciso continuar caminhando para alcançar uma sociedade igualitária.

Exemplos de inclusão social


Ao entender a importância da inclusão social, vale destacar alguns exemplos de ações que
podem contribuir neste processo de combate a desigualdade. Os exemplos de medidas inclusivas são
amplos, variando de pequenos atos de empatia no dia a dia a contribuições significativas para o bem-
estar e a autonomia da comunidade. Isso inclui serviços comunitários voluntários, trabalho de
assistência social e foco em políticas públicas eficientes. Essas são apenas algumas das formas pelas
quais os indivíduos podem usar sua participação para promover crescimento positivo e melhoria na
qualidade de vida da população geral. Confira a seguir algumas considerações sobre exemplos de
inclusão em diferentes grupos.

• Inclusão de moradores em situação de rua

Outro grupo afetado pela exclusão social é o de pessoas em situação de rua. No Brasil, o
número de pessoas vivendo essa realidade superou 281 mil em 2022, segundo dados do Ipea (Instituto
de Pesquisa Econômica Aplicada). Entre dezembro de 2021 e maio de 2022, a população em situação
de rua cresceu 16%, de acordo com estudo do Observatório Brasileiro de Políticas Públicas com a
População em Situação de Rua. São diversos os motivos que levam uma pessoa a morar nas ruas, desde
desemprego até o vício em drogas, e é importante oferecer oportunidades e igualdade para que essa
população não viva à margem da sociedade. Neste contexto, alguns exemplos de ações inclusivas são:
programas de assistência social; programas de profissionalização; atuação de ONGs (Organizações
Não Governamentais).

• Inclusão de pessoas com deficiência

Segundo o IBGE, o Brasil tem mais de 17 milhões de pessoas com deficiência, mas, apesar de
representarem boa parte da população, enfrentam dificuldades no dia a dia pela falta de inclusão.
Dentre as medidas inclusivas que podem combater esse cenário, podemos citar: adaptações de
mobilidade urbana; ações de inclusão para pessoas com deficiência intelectual; implementação de
medidas de acessibilidade física e digital.

• Inclusão da população negra

Representando 56% da população brasileira, segundo o IBGE, as pessoas autodeclaradas


pretas ou pardas são um dos grupos mais afetados pela exclusão social, resultado de um processo

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histórico que se iniciou com a escravidão. Para promover a igualdade, algumas ações de inclusão são:
cotas raciais; políticas de combate ao racismo; programas de diversidade nas empresas.

• Inclusão da população LGBTQIA+

Segundo o IBGE, ao menos 2,9 milhões de brasileiros se declararam homossexuais ou


bissexuais no país. Exemplos de medidas de inclusão para esse grupo são: criminalização da LGBTfobia;
políticas e programas de diversidade; programas de assistência psicossocial.

Quais são as leis brasileiras que falam sobre o tema?


As leis brasileiras sobre inclusão são o motivo primordial para um Brasil mais justo. Estas
normas estabelecem a igualdade de direitos para cidadãos de todas as origens e geram importantes
mecanismos de inclusão e assistência. Eles têm o objetivo de proteger grupos vulneráveis de qualquer
discriminação, permitindo-lhes usufruir dos mesmos benefícios da sociedade como todos os outros.
Além da Declaração Universal dos Direitos Humanos e da Constituição Federal, existem outras leis no
Brasil que falam sobre inclusão e buscam promover a igualdade no país, como:

• lei 12.711/2012, a lei de cotas;


• lei 7716/1989, conhecida como Lei do Racismo;
• lei 10.741/2003, que determina o Estatuto do Idoso;
• LBI (Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência).

Existem também os programas sociais, como o Bolsa Família, e medidas como a resolução
175/2013, do Conselho Nacional de Justiça, que garante o direito ao casamento homoafetivo no civil.
Sua importância ressalta o compromisso da nação em promover uma cultura democrática e
livre, em que todos podem desenvolver seus talentos e contribuir com ideias originais para o
enriquecimento do país.

Como promover a inclusão social no Brasil?


Como os dados mostram, o Brasil está caminhando no processo de inclusão, mas tem mais a
percorrer nessa estrada. O problema da desigualdade atinge diversas camadas sociais e, diante disso,
a criação de leis para promover a igualdade e proteger os grupos mais afetados pela exclusão social
tornam-se passos cada vez mais importantes.
Recentemente, por exemplo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sancionou a lei que
equipara injúria racial ao crime de racismo. Com a mudança, os casos de injúria passam a ser
inafiançáveis e imprescritíveis, com penas que variam de 2 a 5 anos de prisão.

CNN. Inclusão Social: entenda o que é, importância, exemplos e como promover. CNN Brasil.
Disponível em: <https://www.cnnbrasil.com.br/politica/inclusao-social/>. Acesso em: 16 ago. 2023.

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ONU-HABITAT: POPULAÇÃO MUNDIAL SERÁ 68% URBANA
ATÉ 2050
Relatório Mundial das Cidades 2022, publicado pelo ONU-Habitat nesta semana, aponta que população
mundial será 68% urbana até 2050.
ONU | 01-Jul-2022

Apesar de uma desaceleração no ritmo da urbanização durante a pandemia, estimativa é que a


população urbana aumente em 2,2 bilhões de pessoas anualmente até 2050.
Lançamento do relatório foi feito durante a 11ª sessão do Fórum Urbano Mundial, a principal
conferência sobre desenvolvimento urbano sustentável, encerrada em 30 de junho em Katowice, na
Polônia.

Cidades podem ser lugares mais equitativos, ecológicos e baseados no conhecimento. Esta é
uma das conclusões do Relatório Mundial das Cidades, documento bianual lançado pelo Programa das
Nações Unidas para Assentamentos Humanos (ONU-Habitat) nesta quarta-feira (30). Dividido em dez
capítulos temáticos, o Relatório compila uma visão abrangente sobre a realidade das cidades, as
tendências da política urbana e as perspectivas do desenvolvimento urbano sustentável.

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Um dos destaques é que, nos últimos dois anos, foi percebida uma desaceleração na velocidade
de urbanização a nível global. Isso porque no início da pandemia de COVID-19 houve uma migração
em grande escala das principais cidades para o campo ou para pequenas cidades em busca de mais
segurança sanitária.
No entanto, essa foi uma resposta de curto prazo que não alterou o curso da urbanização
global: a população urbana continua crescendo, e a previsão é de que cidades em todo mundo tenham
2,2 bilhões de habitantes a mais até 2050. No ritmo atual, a estimativa é que a população urbana passe
de 56% do total global em 2021 para 68% em 2050.
“As cidades sofreram o impacto da pandemia. As áreas urbanas já abrigam 55% da população
mundial, e esse número deve crescer para 68% até 2050. Nosso mundo em rápida urbanização deve
responder efetivamente a essa pandemia e se preparar para futuros surtos de doenças infecciosas",
afirmou o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres.
Para isso, o relatório propõe sugestões sobre o futuro das cidades com base nas tendências,
desafios e oportunidades observados ao longo dos dois anos de pandemia. Com o documento, é
possível olhar para as cidades antecipando a mudança, corrigindo o curso de ação e conhecendo
melhor os diferentes cenários ou possibilidades que o futuro oferece.
Tendência — O relatório também conclui que o futuro da humanidade é inegavelmente
urbano, tornando-se uma poderosa megatendência do século 21. Apesar da alta incidência do vírus nas
áreas urbanas e das dificuldades econômicas criadas pela pandemia, as cidades voltam a ser mais uma
vez focos de oportunidades para pessoas que buscam emprego, educação ou refúgio de conflitos.
“Inúmeros desafios foram expostos e exacerbados pela pandemia, mas a COVID-19 também
trouxe uma sensação de otimismo: a oportunidade de reconstruir de forma diferente. Se aplicarmos as
políticas corretas e tivermos compromisso adequado dos governos, nossas crianças podem herdar um
futuro urbano mais inclusivo, verde, seguro e saudável", afirmou a Diretora Executiva do ONU-
Habitat, Maimunah Mohd Sharif.
“Devemos começar a reconhecer que o status quo anterior a 2020 era, em muitos sentidos, um
modelo insustentável de desenvolvimento urbano. Devemos adotar as melhores práticas aprendidas
em nossas respostas ao COVID-19 e à crise climática”, complementa.
Este novo relatório também exige um maior compromisso dos governos nacionais, regionais e
locais e incentiva uma maior adoção de tecnologias inovadoras e conceitos de vida urbana. O estudo
reafirma a ideia do ONU-Habitat de que alcançar cidades igualitárias e inclusivas implicará em um novo
contrato social na forma de renda básica universal, cobertura de saúde, além de moradia e serviços
básicos para todas as pessoas.
Da mesma forma, o documento também relembra a importância da Nova Agenda Urbana,
criada há cinco anos pelo ONU-Habitat e endossada pela Assembleia Geral da ONU. O documento
fornece uma ampla estrutura para a política urbana poder promover a integração de todos os
elementos em prol do desenvolvimento sustentável.

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Entidades da ONU envolvidas nesta atividade:

Objetivos que apoiamos através desta iniciativa:

ONU. Organização das Nações Unidas. ONU-Habitat: população mundial será 68% urbana até 2050.
Brasil. Disponível em: <https://brasil.un.org/pt-br/188520-onu-habitat-popula%C3%A7%C3%A3o-
mundial-ser%C3%A1-68-urbana-at%C3%A9-2050>. Acesso em: 16 ago. 2023.

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'CONFUNDIR ARTE COM PORNOGRAFIA É RIDÍCULO': A
POLÊMICA EM ESCOLA NOS EUA COM ESTÁTUA NUA DE

MICHELANGELO
Davide Ghiglione| 28-Mar-2023

A diretora de uma escola na cidade de Tallahassee, nos Estados Unidos, foi forçada a pedir
demissão após o ultimato do conselho pedagógico. Hope Carrasquilla foi responsabilizada pela
exibição de imagens da estátua de David, de autoria de Michelangelo, em sala de aula. A nudez da obra
foi classificada como "pornográfica" por um dos pais.
A imagem foi usada em um exercício na aula de artes do 6º ano — que, nos EUA, ensina a
crianças de 11 e 12 anos — da Tallahassee Classical School. Três pais reclamaram que a imagem foi
exibida sem qualquer advertência de que nudez seria mostrada.
Depois da polêmica, a diretora da Galleria dell'Accademia em Florença, na Itália, onde a estátua
é exibida desde 1873, convidou a ex-diretora da escola e os alunos a visitarem a obra. A diretora do
museu, Cecilie Hollberg, defendeu que Hope Carrasquilla deve ser "premiada, e não punida".
"Falar do Renascimento sem mostrar David, um ícone indiscutível da arte e da cultura daquele
período histórico, não faria sentido", afirmou Hollberg.
A estátua de mármore do século 16 é uma das mais famosas da história ocidental. Ela retrata o
heroi bíblico David indo lutar contra Golias armado apenas com um estilingue e sua fé em Deus.

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Vários pais e professores estão planejando protestar contra a saída de Carrasquilla, mas ela
não tem certeza se aceitaria o emprego de volta, caso isso fosse possível.
"Houve tanta polêmica e agitação", disse ela em entrevista à agência Associated Press. "Eu
realmente teria que considerar: 'Isso é realmente o melhor para mim?'"
A polêmica deixou florentinos e especialistas em arte renascentista perplexos.
Hollberg disse estar "impressionada" com a situação e afirmou que pensar que a estátua de
David é pornográfica revela não apenas uma má compreensão da Bíblia, mas da própria cultura
ocidental.
"Não acredito que isso realmente aconteceu, no começo pensei que fosse uma notícia falsa, de
tão improvável e absurdo que era", disse a diretora do museu.
"É preciso fazer uma distinção entre nudez e pornografia. Não há nada de pornográfico ou
agressivo no Davi, ele é um jovem, um pastor, que mesmo segundo a Bíblia não usava roupas
ostentosas, mas queria defender seu povo com o que ele tinha."
O prefeito de Florença, Dario Nardella, também convidou a professora que mostrou aos alunos
a imagem do David para visitar a cidade e suas obras de arte.
"Confundir arte com pornografia é simplesmente ridículo", postou no Twitter. "Arte é
civilização, e quem a ensina merece respeito."
Em entrevista ao site Slate, Barney Bishop, presidente do conselho pedagógico, disse que no
ano passado a diretora enviou um comunicado aos pais avisando que os alunos iriam ver a imagem de
David, mas o mesmo procedimento não foi feito este ano.
Bishop chamou isso de "erro flagrante" e disse que "os pais têm o direito de saber sempre que
seus filhos estão lidando com um tópico ou uma imagem controversa".
Mas, para o historiador de arte e reitor da Universidade para Estrangeiros de Siena, Tomaso
Montanari, "desconcertante" foi a repercussão da imagem nos EUA.
“Primeiro, vem a consternação com a ausência de liberdade educacional, pois ela não deve ser
restringida ou manipulada pelas famílias”, analisa Montanari.
“Por outro lado, do ponto de vista cultural, o mundo ocidental tende a associar o
fundamentalismo e a censura a outras sociedades, acreditando que possui a capacidade de espalhar os
ideais democráticos em todo o mundo."
"Mas esse retrocesso cultural revela claramente a presença de visões fundamentalistas no
Ocidente também."

GHIGLIONE, Davide. A polêmica em escola nos EUA após alunos verem estátua nua de Michelangelo
- BBC News Brasil. BBC News Brasil. Disponível em:
<https://www.bbc.com/portuguese/articles/czq9032de8go>. Acesso em: 16 ago. 2023.

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MULHERES VIVENCIAM CONDIÇÕES PRECÁRIAS DE
TRABALHO COMO ESTRATÉGIA DE REDUÇÃO DE CUSTO
Denominada dumping social, a prática desrespeita recorrentemente a legislação trabalhista, atingindo
mulheres em diversos ofícios; profissionais negras são as mais afetadas segundo estudo
Camilly Rosaboni | 14-Ago-2023

O ambiente de trabalho pode ser bastante árduo para as mulheres. Além das múltiplas jornadas
diárias, muitas profissionais encaram atividades desgastantes em situação de vulnerabilidade, além de
cenários marcados pela desigualdade de gênero, preconceito e com salários inferiores aos de homens.
Na sociedade brasileira, esses problemas são recorrentes e recebem o nome de dumping social. Trata-
se de ações constantes de desrespeito à legislação trabalhista, com especial consequência para as
mulheres. É o que mostra a dissertação de mestrado de Mariane Lima Borges Brasil, pesquisadora em
Direito do Trabalho e Seguridade Social pela Faculdade de Direito (FD) da USP.
Defendida no ano de 2022, a pesquisa é intitulada Dumping social e a condição das mulheres no
mercado de trabalho, e teve a orientação de Paulo Eduardo Vieira de Oliveira, professor associado do
Departamento de Direito do Trabalho e da Seguridade Social da Faculdade de Direito (FD) da USP e
desembargador do Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região (TRT-2). O estudo buscou compreender
os aspectos históricos e conceituais do dumping social, além de seus efeitos na sociedade,
especialmente com mulheres no mercado de trabalho. Para tanto, utilizaram-se de informações da
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua, feita entre 2012 e 2019 pelo IBGE,
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e Departamento Intersindical de Estatística e
Estudos Socioeconômicos (DIEESE).

O dumping social configura a prática recorrente de desrespeito à legislação trabalhista, como


forma de obter vantagem econômica sobre a concorrência, desvalorizando o trabalho humano
e sua dignidade. “Trata-se da ação reiterada de desrespeito trabalhista, visando a reduzir
custos. Isso acarreta problemas não só ao trabalhador, mas também à coletividade como um
todo, pois abarrota o sistema judiciário de processos e prejudica as próprias empresas no
sentido de incorrer em ações desleais no mercado de trabalho”, afirma a pesquisadora. Em
tradução livre, a expressão dumping provém do verbo em inglês to dump e exprime a ação de
rebaixar algo à condição de lixo, despejar, desfazer-se de algo e jogar fora.

Segundo o estudo, a polarização e a feminização dos postos de trabalho são expressivas, ou


seja, é frequente a atribuição de determinadas funções às mulheres, como o trabalho doméstico. “As
profissões mais setorizadas (feminizadas) geralmente são mais precárias”, afirma Mariane. Além disso,

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as mulheres costumam permanecer mais tempo desempregadas em comparação com os homens, em
razão das condições necessárias para aceitar o trabalho, como distância e jornada laboral, para não
atrapalhar as atividades de casa e o cuidado com seus filhos. Em uma projeção para 2023, feita pelo
Ipea, haverá um crescimento na participação feminina no trabalho, porém mais de um terço das
mulheres em idade ativa ainda estarão fora do mercado. Mariane explica esse dado destacando que “a
responsabilidade pelos cuidados – da casa, de filhos, de idosos e da família – recai sobre as mulheres”.
Uma vez empregadas, as mulheres encaram contextos inferiores de trabalho. A pesquisa
mostrou que as profissionais trabalham em ocupações precárias, frequentemente contratadas sem
assinatura na carteira de trabalho e remuneração baixíssima, especialmente na zona rural, além de
enfrentarem dificuldades relacionadas à discriminação de gênero.

O estudo aponta que, em 2019, as mulheres recebiam cerca de 77,7% do rendimento dos
homens (R$ 1.985 frente a R$ 2.555). A situação piora com mulheres negras, que recebem
salários inferiores aos dos homens brancos, das mulheres brancas e dos homens negros.
Mariane apresenta três causas para a diferença de rendimentos: jornadas de trabalho
remunerado menores (em razão das jornadas duplas ou triplas desempenhadas pelas
mulheres); ocupação de postos de trabalho de má qualidade que, por consequência, pagam mal;
e a existência de barreiras para a ascensão profissional das mulheres nos ambientes laborais.
“Diante disso, supõe-se que, caso não sejam adotadas ações especificamente voltadas ao
enfrentamento das desigualdades de gênero, a equiparação não será alcançada nas décadas
finais deste milênio”, reforça Mariane em seu estudo.

Desigualdade histórica
A recorrência do dumping social com mulheres se dá, sobretudo, pelo histórico de desigualdade
presente na sociedade brasileira. “O patriarcado sempre dificultou o acesso feminino aos postos de
trabalho formais, principalmente para mulheres negras, que tiveram suas funções muito atreladas ao
serviço de mão de obra não remunerado, sem contar o histórico escravagista do nosso País. Isso
acarreta preconceito e exclusão de mulheres do mercado de trabalho, ocasionando desigualdade
salarial e cargos inferiores.”
A divisão sexual do trabalho também interferiu no acesso feminino a condições dignas em seus
ofícios. “As tarefas sociais são marcadas e oneradas por uma divisão baseada no papel ocupado por
cada pessoa na sociedade capitalista. A divisão sexual do trabalho confere a todas as mulheres uma
posição semelhante, na qual são atribuídas a elas tarefas das quais os homens são liberados”, afirma
Mariane em seu mestrado. De acordo com a pesquisa, mulheres negras se encontram em maior
desvantagem, representando 39% das pessoas sujeitas a postos de trabalho precários.
Além disso, com o desenvolvimento das indústrias em âmbito internacional, empresas
implantaram políticas que alinhassem sua produção ao menor custo de mão de obra. “As grandes

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indústrias transferiram a maior parte de sua produção para os países periféricos do capital, onde
constataram que a mão de obra é ostensivamente mais barata e alijada de muitos direitos que
regulamentam as relações de trabalho, em comparação aos países de origem de tais empresas”, explica
Mariane em sua pesquisa.

Regulamentação deficiente
Buscando minimizar o quadro internacional do dumping social foi criado, em meados da década
de 1990, pela Organização Social do Trabalho (OIT) um Selo Social para validar a produção feita sem
desrespeito às normas trabalhistas. A prática ainda é pouco utilizada, sofrendo resistência em diversos
países, como o Brasil. “Nosso país e os países emergentes alegam não duvidar da importância da
temática social e trabalhista, mas afirmam que há nelas um grande potencial para o protecionismo
abusivo. O desafio reside em conciliar essas preocupações trabalhistas legítimas, elevando-as como
preocupações primeiras com o comércio mundial”, afirma a pesquisadora.
Mariane explica que existe uma multa por dumping social que pode ser aplicada de forma
judicial pelos magistrados da área trabalhista, ao condenar empresas que violarem recorrentemente
direitos sociais. “Ela possui um perfil pedagógico e seu valor deve ser direcionado a um Fundo de
Amparo ao Trabalhador (FAT), com o objetivo de ser revertida à sociedade que foi lesada.”
Porém, segundo a pesquisadora, com a recente reforma trabalhista feita em 2017 pela Lei
13.467 de 2017, o profissional que não tiver sua solicitação de multa por dumping social atendida, pode
ser condenado e perder o pedido. “Imagine que o trabalhador tenha feito várias solicitações na justiça
do trabalho, como décimo terceiro, horas extras, férias e dumping social, e ele perca alguns desses
pedidos. Nesse caso, ele pode ser condenado em custas judiciais e honorários sucumbenciais”,
exemplifica Mariane.
Ao Jornal da USP, a pesquisadora conta que, ao embasar seu estudo sobre a condição das
mulheres no mercado de trabalho, chamou sua atenção as dificuldades ainda maiores das empregadas
domésticas, em razão do descaso jurídico com a situação. “O trabalho doméstico é fruto de um
processo de escravização, que segue sendo feito majoritariamente por mulheres no Brasil. O grande
problema é que, muitas vezes, os magistrados e as magistradas se tornam imparciais ao lidar com
causas de trabalhadoras domésticas, por se utilizarem dessas mesmas profissionais em suas casas”,
lamenta Mariane.
Ainda a pesquisadora ressalta que sua maior intenção com a pesquisa é, de fato, desinvisibilizar
a condição das mulheres no mercado de trabalho, propondo uma medida judicial cabível, como
condenação por dumping social. “Isso porque, nesse cenário, não é de se espantar que o
reconhecimento e a consequente condenação dessa prática pelo Judiciário Trabalhista sejam míopes:
em geral, tem-se enxergado a configuração de dumping social somente em relação a trabalhadoras e
trabalhadores terceirizados, generalizando a classe, em que pese seus efeitos recaírem de forma mais
acentuada e específica sobre as mulheres. Os tribunais ignoram por completo as facetas de sua

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opressão no mercado de trabalho e do patriarcado em geral, o que também se percebe com os registros
sociais de raça”, avalia.

ROSABONI, Camilly. Mulheres vivenciam condições precárias de trabalho como estratégia de


redução de custo. Jornal da USP. Disponível em: <https://jornal.usp.br/diversidade/mulheres-
vivenciam-condicoes-precarias-de-trabalho-como-estrategia-de-reducao-de-custo/>. Acesso em: 16
ago. 2023.

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