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Consumo Alimentar
Alimentação Brasileira Inquéritos Alimentares Nacionais
Revisão Textual:
Prof.ª Dr.ª Selma Aparecida Cesarin
Alimentação Brasileira
Inquéritos Alimentares Nacionais
OBJETIVOS
DE APRENDIZADO
• Compreender a importância da aplicação de inquéritos alimentares para o estudo do consumo
alimentar de indivíduos e populações;
• Conhecer os principais inquéritos de abrangência nacional, para interpretar adequadamente os
dados e utilizar as informações nas diversas condutas nutricionais.
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Inquéritos Alimentares Nacionais
Contextualização
Como é a alimentação da população brasileira? Variada, multicultural, farta, tradicional,
moderna, carente...
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sabendo-se que a concretização de estudos de avaliação do consumo alimentar, em nível
nacional, seja complexa (MENEZES; OSÓRIO, 2009; SANTANA; SARTI, 2019).
Para este momento, as principais questões são: quais são os conceitos e os objetivos
dos Inquéritos Alimentares? De que forma as pesquisas de avaliação do consumo ali-
mentar podem fornecer informações para as tomadas de decisão em relação à saúde dos
indivíduos? Como podemos utilizar essas informações em nossa prática profissional?
Bons estudos!
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Inquéritos Alimentares Nacionais
A citação acima continua atual, diante dos acontecimentos que ocorreram e ainda
presenciamos na história brasileira.
Sendo assim, não é possível avaliar o consumo alimentar ou determinar o padrão ali-
mentar, seja da população, seja de um indivíduo, de forma isolada. Isso porque seria um
olhar “supostamente isolado”, pois tanto a população quanto um indivíduo pertencem a
um contexto, um tempo, uma cultura etc., ou seja, são componentes sociais.
O número médio de filhos por mulher em idade reprodutiva passou de 6,3 para 1,8,
em 1940 e 2012, respectivamente. Por outro lado, a taxa de mortalidade infantil no
primeiro ano de vida reduziu de 124 óbitos para cada mil nascidos vivos, em 1960,
para 16 em 2010, e alcançou o objetivo do milênio antes do tempo previsto (2015).
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Em relação ao consumo alimentar, quando os dados das pesquisas nacionais de 1970,
1980 e 1990, foram comparados, observou-se aumento no consumo de refrigerantes,
biscoitos, embutidos e refeições industrializadas em 425%, 218%, 173% e 77% respec-
tivamente. Por outro lado, reduziu-se o consumo de ovos, gordura animal, peixes, raízes
e tubérculos em 83%, 63%, 38% e 33%, respectivamente. O consumo médio de sal no
Brasil (12g/dia) alcançou o dobro da recomendação da Organização Mundial de Saúde
(OMS) (SOUZA et al., 2017).
Figura 1
Fonte: PARADELLA, 2018
Entre 2014 e 2015, conforme VIGITEL (2014) e IBGE (2016), a prevalência de exces-
so de peso entre adolescentes foi de 23,7% nos meninos e 23,8% nas meninas, enquan-
to 52,5% dos adultos brasileiros estavam acima do peso e 17,9% obesos.
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Pode-se destacar como mudanças positivas nos últimos anos o aumento da prática
de atividade física em 18% (2009/2014) e a redução de 19,3% no número de pessoas
que assistiam televisão três ou mais horas por dia (2006/2014), além da tendência à
estabilização da obesidade nos últimos três anos (2012-2014).
Importante!
Quando utilizamos dados populacionais provenientes de Inquéritos Alimentares para avaliar
adequações nutricionais, comparamos esses dados às recomendações nutricionais por meio
de análise estatística. Por outro lado, quando obtemos informações sobre o consumo alimen-
tar de um indivíduo, a comparação deve ser feita com base nas necessidades nutricionais espe-
cíficas. Para ambos os casos, as referências são as DRIs (Dietary Reference Intakes).
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Conceitos e Objetivos
dos Inquéritos Alimentares
Os hábitos alimentares, num conceito ampliado, estão intimamente relacionados aos
aspectos culturais, antropológicos, socioeconômicos e psicológicos no contexto em que as
pessoas estão inseridas. Neste cenário, a análise do consumo alimentar tem papel decisivo
e não se restringe à mera quantificação dos nutrientes consumidos. Muito pelo contrário,
busca-se, em conjunto com o indivíduo, a identificação dos determinantes demográficos,
sociais, culturais, ambientais e cognitivo emocionais da alimentação cotidiana para que
sejam estabelecidos planos alimentares mais adequados à realidade, o que resultará em
melhor adesão ao tratamento nutricional (FISBERG; MARCHIONI; COLUCCI, 2009).
Figura 3
Fonte: Getty Images
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Principais Investigações
Nacionais Sobre Alimentação
Os primeiros inquéritos nutricionais no país foram realizados nas décadas de 1930
e 1940, coordenados por Josué de Castro. Em 1946, foram analisados os hábitos ali-
mentares e o estado nutricional dos brasileiros, nas diferentes áreas geográficas, con-
siderando as suas causas naturais, os fenômenos sociais e a estrutura econômica que
condicionavam o tipo de alimentação dos diferentes grupos populacionais, identificando
claramente as áreas de fome no país.
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Josué de Castro foi autor de vários livros que discutem a fome como uma questão política,
também representou o Brasil em vários órgãos internacionais, como a FAO, mas acabou
sendo exilado pela ditadura militar. No filme Josué de Castro – Cidadão do Mundo é pos-
sível conhecer um pouco mais sobre vida e a obra do médico pernambucano e intelectual
engajado em um dos maiores e eternos problemas da humanidade: a fome.
Disponível em: https://youtu.be/LFzNVo8KIKg
Fornecer informações
48.470 domicílios; sobre a composição dos Peso (kg)
Aquisição domiciliar
POF - 2002/03 orçamentos domésticos e
182.333 pessoas. de alimentos. Altura (cm)
as condições alimentares e
nutricionais da população.
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as características socioeconômicas, alimentares e nutricionais, identificando a situação
das famílias em risco nutricional nas diferentes regiões e classes sociais do país.
Apesar de sua abrangência, o ENDEF (1974/75) não forneceu dados sobre a divisão
dos alimentos entre os membros da família, não permitindo, portanto, conclusões sobre
a adequação nutricional dos indivíduos (MENEZES; OSÓRIO, 2009).
A primeira Pesquisa de Orçamento Familiar (POF, 1961/63) foi realizada pela Fun-
dação Getúlio Vargas, em áreas urbanas e rurais das regiões Sul, Sudeste e Nordeste
do Brasil.
A segunda POF (1987/88), conduzida pelo IBGE, investigou nove regiões metropo-
litanas: São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Porto Alegre, Belo Horizonte, Fortaleza,
Recife, Salvador, Belém, além das cidades de Goiânia e Brasília, e teve como objetivo
pesquisar as despesas referentes aos gastos com alimentação, habitação, ves-
tuário etc., considerando como unidade de consumo a família que realizou um
conjunto de despesas comuns e visando à atualização dos índices de preços ao
consumidor do IBGE.
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Da mesma maneira que a POF (1961/63), sua metodologia, de custo mais baixo,
comparada à do ENDEF (1974/75), não contemplou a obtenção dos dados de
consumo alimentar de forma direta.
Importante!
Limitações metodológicas da POF (1987/88): não consideração do consumo alimentar
proveniente da autoprodução ou obtido por doações, não realização de inferências sobre
o consumo alimentar individual e a não avaliação do estado nutricional dos indivíduos
por meio de dados antropométricos e bioquímicos.
A POF de 2002/03 (IBGE, 2004), realizada pelo IBGE em parceria com o Ministério
da Saúde, traça o perfil das condições de vida da população brasileira, a partir da análise
do orçamento doméstico familiar, investigando os hábitos de consumo, a alocação de
gastos e a distribuição dos rendimentos.
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Figura 4 – Exemplo de Gráficos da POF
Fonte: Adaptado de IBGE, 2009
Em Síntese
As edições anteriores da POF (1987/88; 1995/96; 2002/03) trouxeram informações sobre
a disponibilidade de alimentos para consumo nos domicílios. A edição de 2008/09,
além dos dados de disponibilidade, avaliou o consumo alimentar individual de uma
sub amostra da população. É importante ressaltar que a POF é um inquérito domiciliar,
o que significa que a coleta dos dados acontece nos domicílios que são selecionados a
partir de processo de amostragem. É o inquérito de maior frequência para efeitos com-
parativos, embora a metodologia tenha sofrido alterações ao longo do tempo.
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A Escala Brasileira de Insegurança Alimentar – EBIA é uma escala psicométrica – cujo ob-
jetivo é estabelecer uma relação de função entre estímulos ambientais (físicos, sociais) e o
comportamento do indivíduo, que avalia de maneira direta uma das dimensões da seguran-
ça alimentar e nutricional em uma população, por meio da percepção e experiência com a
fome. Disponível em: https://bit.ly/2Yg3fIf
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em 2006, para 20,3% em 2019 (variação positiva de 72%). Isso significa que dois em
cada 10 brasileiros estão obesos. Considerando o excesso de peso, metade dos brasilei-
ros está nesta situação (55,4%) (BRASIL, 2019).
Tabela 2 – Comparativo 2006-20019 VIGITEL – Frequência anual dos indicadores do Vigitel que
apresentam variação temporal estatisticamente significativa. População adulta (≥ 18 anos), de
ambos os sexos, das capitais dos 26 estados brasileiros e do Distrito Federal (2006-2019)
Indicadores 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019
% de fumantes 15,7 15,6 14,8 14,3 14,1 13,4 12,1 11,3 10,8 10,4 10,2 10,1 9,3 9,8
% de fumantes de ≥ 4,6 4,7 4,6 4,1 4,3 4,0 4,0 3,4 3,0 3,1 2,8 2,6 2,4 2,3
20 cigarros por dia
% de fumantes passivos
* * * 12,7 11,5 11,3 10,2 10,2 9,4 9,1 7,3 7,9 7,6 6,8
no domicílio
% de fumantes passi-
* * * 12,1 10,5 11,2 10,4 9,8 8,9 8,0 7,0 6,7 6,8 6,6
vos no trabalho
% com excesso de peso
42,6 43,4 44,9 45,9 48,2 48,8 51,0 50,8 52,5 53,9 53,8 54,0 55,7 55,4
(IMC ≥ 25 kg/m2)
% com obesidade
11,8 13,3 13,7 14,3 15,1 16,0 17,4 17,5 17,9 18,9 18,9 18,9 19,8 20,3
(IMC ≥ 30kg/m2)
% com consumo
recomendado de frutas * * 20,0 20,2 19,5 22,0 22,7 23,6 24,1 25,2 24,4 23,7 23,1 22,9
e hortaliças
% com consumo
regular de feijão * 66,8 65,6 64,9 65,6 67,6 67,5 66,9 66,1 64,8 61,3 59,5 * 59,7
(≥ 5 dias/semana)
% com consumo regu-
lar de refrigerantes * 30,9 26,4 26,0 26,8 27,5 26,0 23,3 20,8 19,0 16,5 14,6 14,4 15,0
(≥ 5 dias/semana)
% de ativos no lazer * * * 30,3 30,5 31,6 33,5 33,8 35,3 37,6 37,6 37,0 38, 39,0
% de ativos
10,8 10,8 11,3 17,0 17,9 14,8 14,2 12,1 12,3 11,9 14,4 13,4 14,4 14,1
no deslocamento
% de insuficientemente
* * * * * * * 49,4 48,7 47,5 45,1 46,0 44,1 44,8
ativos
% de inativos * * * 15,9 15,3 14,9 14,9 16,2 15,4 16,0 13,7 13,9 13,7 13,9
% com consumo
15,7 16,5 17,2 18,5 18,1 16,5 18,4 16,4 16,5 17,2 19,1 19,1 17,9 18,8
abusivo de álcool
% com diabetes 5,5 5,8 6,2 6,3 6,8 6,3 7,4 6,9 8,0 7,4 8,9 7,6 7,7 7,4
*Dado não disponível para o ano de levantamento.
Nota: as estimativas para a evolução de alguns indicadores poderão apresentar pequenas variações com relação às estimativas divulgadas em relatórios anteriores
do Vigitel em função de aperfeiçoamento metodológicos quanto a fatores de ponderação e imputação de dados faltantes.
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Ao longo da História, como vimos, foram realizados diversos tipos de Inquéritos Alimenta-
res cujas informações são utilizadas para fins comparativos e de análise das mudanças que
vêm ocorrendo em relação aos hábitos e padrões alimentares da população. Considerando
que os procedimentos metodológicos dos inquéritos diferem entre si, quais são os impactos
dessas diferenças na comparação dos dados?
Por fim, foi possível identificar que as pesquisas de avaliação do consumo alimentar são
importantes fontes de informações para o planejamento de ações de promoção da saúde
da população e devem ser sempre acompanhadas pelos profissionais das áreas evolvidas.
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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Leitura
Nossa Experiência na Pesquisa da Balança: O Brasil sob a ótica dos pesquisadores do Estudo Nacional da
Despesa Familiar
https://bit.ly/3iPR928
Pesquisa de Orçamentos Familiares 2008-2009: análise do consumo alimentar pessoal no Brasil
https://bit.ly/3plxiu1
Pesquisa de Orçamentos Familiares 2017-2018: Primeiros Resultados
https://bit.ly/2MlbpMJ
Pesquisa de Orçamentos Familiares 2017-2018: Avaliação Nutricional da Disponibilidade Domiciliar de
Alimentos no Brasil
https://bit.ly/3ojJ4Ug
Relatório Vigitel Brasil 2019
https://bit.ly/2YfD3NT
Sistema de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico
(Vigitel): mudança na metodologia de ponderação
https://bit.ly/3pmFVnV
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Referências
BATISTA FILHO, M.; RISSIN, A. A transição nutricional no Brasil: tendências regionais
e temporais. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 19, supl. 1, p. S181-S191, 2003.
Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-311X200
3000700019&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 03/08/2020.
________. Nossa Experiência na Pesquisa da Balança: O Brasil sob a ótica dos pes-
quisadores do Estudo Nacional da Despesa Familiar (Endef) (1974/1975). Rio de Janeiro:
IBGE, 2014. Disponível em: <https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv89079.
pdf>. Acesso em: 01/08/2020.
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________. Pesquisa de Orçamentos Familiares 2008-2009: análise do consumo ali-
mentar pessoal no Brasil. Rio de Janeiro: IBGE, 2011. Disponível em: <https://bibliote-
ca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv50063.pdf>. Acesso em: 01/08/2020.
________. Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar 2015. Rio de Janeiro: IBGE, 2016.
Disponível em: <https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv97870.pdf>. Aces-
so em: 03/08/2020.
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